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a expedição de Jacome Ferrer às ilhas Canárias, nesse mesmo ano, e a rede

de comunicações estabelecida através do Egito e da Palestina graças ao uso


de pombos-correio, bem documentada nas crônicas das Cruzadas.20 A
maioria dos soberanos muçulmanos é representada como branca, e parece
que as vestes, os toucados e os animais usados (camelos, cavalos e
elefantes) eram de especial relevância para os cartógrafos como marcadores
simbólicos da identidade — embora não fosse ignorada a cor da pele. No
entanto, há indicações de que os europeus setentrionais viam as coisas de
modo diferente, o que confirma a visão veneziana discutida anteriormente,
já que os venezianos ocupavam uma posição intermediária entre o
Mediterrâneo e a Europa Central. Guilherme de Rubruck, um agente
enviado em 1253 à corte mongol pelo rei francês Luís IX, descrevia os
enviados dos povos de Langa e Solanga que viu na corte de Caracórum
como “homenzinhos castanhos, como os espanhóis”.21 Guilherme de
Rubruck era um excelente observador, equiparado a Marco Polo, e tentou
identificar os diferentes povos com que cruzou registrando detalhes como
os estilos de construção, os hábitos alimentares, o uso de animais, roupas,
códigos de conduta e cerimônias da corte.
A gama de critérios para distinguir os diferentes povos ia muito além da
cor da pele. No entanto, em períodos transitórios, as linhas divisórias entre
etnias com base em crenças religiosas podem ser menos definidas do que
imaginamos: em finais do século XIII, em Lérida, os mudéjares (ou seja,
muçulmanos autorizados a ficar, do árabe mudağğan, ou, literalmente,
domados) vestiam-se como cristãos, enquanto em Valência os mouriscos
(muçulmanos convertidos, ou mouros, como eram chamados na Península
Ibérica) se trajavam como mudéjares, por exemplo nas suas festas de
casamento.22 Esses casos indicam claramente um conformismo relacionado
com a diferente proporção de muçulmanos na população de cada cidade:
enquanto em Lérida os muçulmanos já não eram a maioria, em Valência
continuavam a predominar. Na região ocidental da ilha da Sicília, as cristãs
aparentemente continuaram a seguir o código de vestuário das muçulmanas
durante bastante tempo após a invasão normanda.

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