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unidade

1 Ficha DE ESCRITA
Poesia trovadoresca

NOME:   N.O:   TURMA:   DATA:

Leia a exposição que se segue subordinada ao tema do comportamento da mulher na Idade Média e redija a sua
síntese, construindo um texto entre cento e quarenta e cento e sessenta palavras.

O casal e a mulher
Muitas vezes estereotipada até ao século xiii, a representação do casal nas suas relações quotidianas
clarifica-se nos séculos xiv e xv, em particular nos textos normativos. As injunções1 do cavaleiro de La Tour
Landry2 dirigem-se às mulheres tentadas a não obedecer ao marido, «especialmente diante de terceiros»;
mas, acrescenta ele, «não digo nada, quando estiverdes privadamente face a face podeis bem alargar-vos a
5 dizer ou a fazer mais a vossa vontade, segundo o que pensardes ser conveniente». Assim se definem um

espaço privado e um tempo do privado em que as relações se tornam mais íntimas e mais livres, como se
diante dos outros habitantes da casa fosse conveniente manter uma fachada de correção e de respeito que
não deve desmentir-se, mas que pode permitir-se a liberdade de uma palavra menos controlada.
Os textos normativos em língua vernácula3 dão uma boa medida do encerramento do indivíduo no
10 coletivo, em particular aqueles que, dirigindo-se às mulheres, têm por objetivo a constituição de seres

suscetíveis de cumprir, no seio da comunidade, uma função julgada conveniente. A mulher é assim convidada
a preparar no privado a imagem de si mesma proposta à coletividade e, em particular, a evitar a intrusão
abusiva da sua imagem nos olhares de outrem. Tendo o mau uso do privado (corpo, sono, palavra) em efeito
funesto sobre as engrenagens coletivas, a mulher é uma ferramenta que é necessário preparar com uma
15 regulamentação cuidadosa.

É assim às mulheres que se dirigem aqueles conselhos que, em Le Chastoiement des dames4, dizem
respeito às conveniências e atos de sociabilidade, e, através das fronteiras daquilo a que se pode chamar o
privado, a zona de uma certa liberdade que implica sempre o olhar de uma comunidade alargada. Fragilidade
do estatuto feminino: Robert de Blois não hesita em sublinhar que é bem difícil para as mulheres regularem
20 a sua conduta em sociedade, já que, se se mostram acolhedoras e corteses correm o risco de uma interpretação

abusiva por parte dos homens; se, pelo contrário, faltam aos deveres da cortesia serão classificadas como
orgulhosas. A cada passo é conveniente que a mulher se mostre irrepreensível, que manifeste constantemente
o controlo do seu corpo, porque permanece continuamente exposta aos olhares, e os olhos — sabe-se
—são fonte do mal. Assim, ela deve avaliar as situações onde deve revelar-se, a menos que tenha alguma
25 fealdade a esconder. Mesmo na igreja ela deve saber revelar-se, ao mesmo tempo que testemunha uma

atitude de piedade: não rir, não falar e, sobretudo e sempre, vigiar a errância do seu olhar.
Georges Duby, História da Vida Privada — da Europa Feudal ao Renascimento,
Porto, Círculo de Leitores — Edições Afrontamento, 1990 (com supressões).

(1) injunções: imposições; obrigações.


(2) c avaleiro de La Tour Landry: (c. 1320-1391) nobre francês que escreveu um tratado educacional dirigido às suas
filhas.
(3) língua vernácula: línguas nacionais, próprias dos países, que começaram a ser utilizadas em vez do Latim.
(4) Le Chastoiement des Dames: (c. 1260) escrito por Robert de Blois, consiste num longo poema dividido em vários
capítulos sobre a conduta social das damas.

124 ENTRE NÓS E AS PALAVRAS  •  Português  •  10.o ano  •  Material fotocopiável  •  © Santillana

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