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CACOAL - RO
2010
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UNESC
Faculdades Integradas de Cacoal
Mantidas pela Associação Educacional de Cacoal
CACOAL - RO
2010
UNESC
1
Faculdades Integradas de Cacoal
Mantidas pela Associação Educacional de Cacoal
Aprovado em __/__/____
_______________
Nota
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Profº. Ms. Luís Fernando da Rocha.
(Orientador)
_______________________________
Profº.
(1º Avaliador)
_______________________________
Profº.
(1º Avaliador)
2
Dedico este trabalho, com muito amor e carinho a minha mãe
Clarice Gomes, que sempre me incentivou a aprimorar meus
conhecimentos.
3
RESUMO
Terceiro setor é o conceito dado para designar organizações sem fins lucrativos que
desempenham práticas de caridade e filantropia direcionadas ao bem-estar da
sociedade desfavorecida, em caráter particular e voluntário fora da esfera
governamental. Assim sendo, quando evidenciada de forma adequada, a
contabilidade atribui confiabilidade as instituições pertencentes a este setor, pois por
meio desta, a população é capaz de identificar a eficácia e a limpidez desenvolvida
por elas. Analisando este segmento a presente pesquisa teve como ponto de partida
o aprofundamento no tema da contabilidade desenvolvida no Terceiro Setor, tendo
como objetivo geral evidenciar a relevância da contribuição das informações
contábeis na gestão das entidades deste segmento, dando ênfase a contabilização
dos demonstrativos. Para esta finalidade buscou-se identificar os resultados obtidos
e os procedimentos contábeis adotados pela Entidade Beneficente Sem Fins
Lucrativos Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal – CERNIC,
analisando seus demonstrativos e comprometimento com a evidenciação dos
procedimentos. A metodologia de pesquisa deste trabalho constituiu-se com base
em pesquisa documental, bibliográfica e qualitativa sobre as principais
características dos procedimentos e demonstrativos da contabilidade do Terceiro
Setor, procurando descrever a complexidade do tema e contribuindo no processo de
aprofundamento e entendimento de suas particularidades, além de um levantamento
caracterizado principalmente pela matéria concentrada de um único estudo de caso.
Com relação à legislação vigente e às Normas Brasileiras de Contabilidade,
percebeu-se a necessidade da instituição em se adequar à nova redação da Lei nº
6.404/76, alterada pelas Leis nº 11.638/07 e 11.941/09, além de ter que estabelecer
concordância com alguns aspectos da NBC T 10.19. No entanto tais equívocos não
representam irregularidades quanto ao empenho de seus recursos, mais sim
expressam a não observância quanto às particularidades atribuídas às entidades do
Terceiro Setor, não acarretando a instituição CERNIC qualquer ônus quanto aos
seus propósitos de benefício da sociedade.
3
ABSTRACT
Third sector is the concept given to designate nonprofit organizations that play
practices of charity and philanthropy directed to the welfare of disfavored society, in
particular character and volunteer outside the governmental sphere. Thus, when
properly evidenced, accounting assigns reliability institutions belonging to this sector,
because through this, the population is able to identify the effectiveness and clarity
developed by them. Analyzing at this segment this research had as a starting point to
deepen the theme of accounting developed in the Third Sector, aiming to highlight
the general importance of the contribution of accounting information in managing the
entities in this segment, placing emphasis on accounting statements. To this end we
sought to identify the results and the accounting procedures adopted by the Entity
Charitable Nonprofit Center for Rehabilitation of Child Neurology Cacoal - CERNIC,
checking their statements and commitment to disclosure procedures. The research
methodology of this study was constituted on the basis of documentary research and
qualitative literature on the main features of the procedures and statements of
accounts of the Third Sector, describing the complexity of the issue and contributing
to the process of deepening and understanding of its peculiarities, and a field survey
concentrated mainly characterized by a single case study. With respect to legislation
and Brazilian Accounting Standards, realized the need of the institution to adapt to
the new wording of Law No. 6404/76, amended by Law No. 11638/07 and 11941/09,
besides having to establish agreement with some aspects of NBC T 10.19. But such
mistakes do not represent irregularities as to the commitment of its resources, but
most express the non-compliance as to the particular assigned to the Third Sector
entities, not constitute the institution CERNIC any burden of cost for their purposes of
benefit the society.
4
LISTA DE QUADROS
5
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................8
1.1 OBJETIVO GERAL................................................................................9
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..................................................................9
1.3 PROBLEMATICA.................................................................................10
1.4 JUSTIFICATIVA....................................................................................11
1.5 METODOLOGIA...................................................................................12
1.5.1 ESTUDO DE CASO........................................................................12
1.5.2 PESQUISA DOCUMENTAL...........................................................13
1.5.3 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA.........................................................13
1.5.4 PESQUISA QUALITATIVA..............................................................14
2 TERCEIRO SETOR................................................................................15
2.1 HISTÓRICO NO BRASIL E NO MUNDO.............................................15
2.2 ASSOCIAÇÕES E FUNDAÇÕES........................................................19
2.3 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA APLICADA AO TERCEIRO SETOR......27
2.3.1 BENEFÍCIOS CONCEDIDOS PELO PODER PÚBLICO...............32
3 EVIDENCIAÇÃO DA CONTABILIDADE DO TERCEIRO SETOR..........35
3.1 INTRODUÇÃO À CONTABILIDADE DO TERCEIRO SETOR............35
3.2 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL DO TERCEIRO SETOR......................39
3.3 PATRIMÔNIO SOCIAL E SUA CONTABILIZAÇÃO.............................42
3.3.1 PATRIMÔNIO LÍQUIDO VERSUS PATRIMÔNIO SOCIAL............44
3.4 DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS......................................................45
3.4.1 BALANÇO PATRIMONIAL..............................................................47
3.4.2 DEMONSTRAÇÃO DE SUPERÁVIT OU DÉFICIT DO EXERCÍCIO49
3.4.3 DEMONSTRAÇÃO DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDO
SOCIAL....................................................................................................49
3.4.4 DEMONSTRAÇÃO DO FLUXO DO DISPONÍVEL........................50
3.4.5 NOTA EXPLICATIVA.......................................................................51
3.5 PRESTAÇÃO DE CONTAS..................................................................52
4 ESTUDO DE CASO................................................................................55
6
4.1 CENTRO DE REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA INFANTIL DE
CACOAL - CERNIC....................................................................................55
4.1.1 APRESENTAÇÃO E FINALIDADE DA ENTIDADE.......................55
4.1.2 CAPTAÇÃO DE RECURSOS.........................................................56
4.1.3 EVIDENCIAÇÃO DOS DEMONSTRATIVOS CONTÁBEIS DO
CERNIC...................................................................................................57
4.1.3.1 Balanço Patrimonial.....................................................................57
4.1.3.2 Demonstração do Resultado do Exercício – DRE......................59
4.1.3.3 Demonstração do Superávit ou Déficit Acumulado - DSDA.......61
4.1.3.4 Demonstrações das Origens e Aplicações de Recursos – DOAR62
4.1.3.5 Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido – DMPL...63
4.1.3.6 Notas Explicativas.......................................................................64
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................67
APÊNDICE – A...........................................................................................72
APÊNDICE – B...........................................................................................73
ANEXO - A..................................................................................................74
ANEXO - B.................................................................................................76
ANEXO - C.................................................................................................77
ANEXO - D.................................................................................................78
ANEXO - E.................................................................................................79
7
1 INTRODUÇÃO
8
em toda a legislação que a rege, tornando todo esse processo transparente.
Partindo deste princípio se encontra explicito o papel significativo das
demonstrações contábeis para o terceiro setor, evidenciando sua eficácia e
transparência na elaboração e divulgação dos demonstrativos.
Assim a presente pesquisa trata da relevância da gestão contábil nas
entidades do terceiro setor, com enfoque nos Demonstrativos Contábeis da Entidade
Beneficente Sem Fins Lucrativos Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de
Cacoal, apresentando seus resultados obtidos e identificando os procedimentos
contábeis pertinentes a esta Entidade Sem Fins Lucrativos. Desta forma, ao verificar
os Demonstrativos Contábeis da referida entidade beneficente será possível
identificar as práticas contábeis desenvolvidas e analisar se as mesmas estão
condizentes com a legislação vigente.
9
1.3 PROBLEMATICA
10
1.4 JUSTIFICATIVA
11
1.5 METODOLOGIA
12
Para o desenvolvimento desta pesquisa, argumentou-se as principais
evidenciações e a contribuição das informações contábeis na gestão da Entidade
Beneficente Sem Fins Lucrativos Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de
Cacoal - CERNIC, destacando a contabilização dos demonstrativos pertinentes ao
terceiro setor e seu comprometimento com a evidenciação dos procedimentos
contábeis.
13
Para Lakatos (2001, p.44) a pesquisa a bibliográfica utiliza-se principalmente
das contribuições de vários autores sobre determinada temática de estudo e sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito
sobre determinado assunto. O material consultado nesta pesquisa bibliográfica
abrange grande parte do referencial já tornado público, em relação ao tema da
contabilidade do Terceiro Setor desde publicações avulsas, revistas, livros,
pesquisas, monografias, dissertações e teses.
Deste modo as publicações dos autores mencionadas nas referências
bibliográficas ajudaram a conhecer o que foi produzido de importante sobre o objeto
da pesquisa, implicando no próprio desenvolvimento, reunindo os fragmentos
encontrados e os inserido no fluxo do texto.
14
2 TERCEIRO SETOR
15
Na década final do regime militar no Brasil as entidades sem finalidade de
lucro se fortaleceram no país devido à redemocratização da sociedade, direcionando
melhorias significativas para todos, alcançando na década de 1980 um considerável
avanço em relação ao papel desenvolvido por elas.
Entretanto a garantia da execução das ações sociais e sobrevivência das
organizações ficaram extremamente dependentes dos fundos das entidades
internacionais.
Vários foram os benefícios que essas instituições trouxeram para as
sociedades do chamado terceiro mundo, dentre eles destacou-se os fundos
endereçados as populações excluídas, ao meio ambiente e o desenvolvimento de
movimentos sindicais.
Apesar de haver um bom entendimento entre as organizações internacionais
e os agentes prestadores de contas, não havia uma preocupação maior com relação
às questões contábeis como princípios, regras e práticas, pois a legislação brasileira
era extremamente voltada às entidades do segundo setor.
Com o fortalecimento das entidades do terceiro setor o interesse na
divulgação e implantação de seus ideais expandiu-se por todo o país, o que motivou
o Estado e a Sociedade a exigir o planejamento e controle dos recursos aplicados
por elas.
A política monetária rígida implantada na economia mundial no começo dos
anos 1980, como forma de adequação recessiva ao segundo choque do petróleo
repercutiu fortemente sobre as instituições internacionais, que aliadas às questões
de miséria na África e continentes vizinhos, levaram as ONGs a mudarem seu foco
de interesse para essas regiões e desenvolverem no Brasil, um país em
desenvolvimento, a linha de ação conhecida como auto-sustentabilidade.
De acordo com o Manual de procedimentos contábeis e prestação de contas
das entidades de interesse social (2008, p.19) elaborado pelo CFC, esta linha de
ação para auto-sustentabilidade significa “capacitar os dirigentes de organizações
sociais para a gestão institucional, captação de fundos e continuidade da missão
institucional”.
Com o afastamento das entidades não governamentais internacionais, as
entidades sem fins lucrativos no país passaram a desencadear o projeto de auto-
sustentabilidade e direcionaram suas atenções aos fundos públicos, investimentos
de empresas privadas e campanhas por doações, desenvolvendo deste modo à
16
relação de parceria com os outros dois setores da economia.
Assim questões como o cumprimento dos aspectos legais institucionais
internos, evidenciação dos demonstrativos contábeis não apenas como exigência
legal, mas como instrumento auxiliar para tomadas de decisões e prestação de
contas perante a sociedade foram enfrentada com mais ênfase por essas
organizações no nosso país.
Araújo (2006, p.20) relata que após a reforma do Estado, iniciada no
Governo de Collor, no início da década de 1990, e continuada no Governo Fernando
Henrique, tendo como pano de fundo o neoliberalismo, surgiram diversas
necessidades de mudanças, a privatização ou desestatização de algumas atividades
foi uma das principais ocorridas. Deste modo o Estado passou a exigir da sociedade
maior participação para a consecução de objetivos e a execução de tarefas que
anteriormente competiam exclusivamente a ele.
Após essa reforma surgiram então às conhecidas OS – Organizações
Sociais e as OSCIPs - Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público que
seriam regulamentadas mais tarde pelo Estado. Tais organizações são efetivamente
do terceiro setor, ou seja, associações e fundações, e estão atreladas a concessão
de um título público fornecido pelo Estado exclusivamente para as entidades que
reúnem as condições impostas pela concedente, não significando, no entanto o
surgimento de uma nova categoria ou modalidade de organização do terceiro setor.
De acordo com Vargas (2008, p.23), durante o ano de 1997 houve a rodada
de interlocução política, cujo tema era o Marco Legal do Terceiro Setor no Brasil. E
nesse acontecimento além de serem considerados novos atores sociais as ONGs,
trouxeram para a esfera pública novas formas de atuações, valores, formas de ver a
realidade social e a política brasileira e, conseqüentemente, novas percepções de
qual deveria ser o papel das organizações da sociedade civil nesse contexto.
Com a promulgação da Lei Federal nº 9.637, de 15 de maio de 1998,
denominada Lei das OSs, o Poder Executivo pode qualificar as organizações sociais
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, cujas atividades fossem
dirigidas ao ensino, à pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico, à
proteção e preservação do meio ambiente, à cultura e à saúde.
Conforme ensinamento de Merenge e Barbosa (2001, p.34 apud Araújo
2006, p. 21), organização social não significa uma nova forma, ou um novo tipo de
organização do terceiro setor, mas tão somente que esse título é conferido por um
17
ato formal de reconhecimento do poder público.
No ano de 1999 foi promulgada a Lei nº 9.790, intitulada de Lei das OSCIPs,
considerada o marco do Terceiro Setor no Brasil ou tão somente denominada de Lei
do Terceiro Setor, e que apresentou uma caracterização específica das entidades de
interesse social perante o Estado. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 3.100,
de 30 de junho de 1999.
A Lei nº 9.790/99 qualifica as pessoas jurídicas de direito privado, sem fins
lucrativos, como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público e institui e
disciplina o Termo de Parceria, distinguindo claramente as instituições que podem
ou não obter fundos públicos, fixando exigências quanto à adoção de práticas de
gestão administrativa em observância dos princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade, economicidade e da eficiência.
Mencionando a pesquisa As Fundações Privadas e Associações Sem Fins
Lucrativos no Brasil, elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, a
Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais - ABONG e o Grupo
de Institutos, Fundações e Empresas - GIFE, feito a partir do Cadastro Central de
Empresas - CEMPRE mostra que, em 2005, existiam 338 mil Fundações Privadas e
Associações sem Fins Lucrativos - Fasfil em todo o País. Entre elas, 35,2% atuavam
na defesa dos direitos e interesses dos cidadãos, 24,8% eram instituições religiosas
e 7,2% desenvolviam ações de saúde e educação e pesquisa.
De acordo com a mesma pesquisa a distribuição das Fasfil no território
nacional tende a acompanhar a distribuição da população, contudo na região norte
foram encontradas 4,8% das organizações contra 8,0% da população. Por
finalidade, concentravam-se no sudeste as entidades de religião sendo 57,9% e de
saúde 49,0%. No nordeste predominavam as instituições de defesa dos direitos e
interesses dos cidadãos 38,9%. De 2002 a 2005, o número de Fasfil cresceu 22,6%,
enquanto entre 1996 e 2002 esse crescimento foi de 157,0%. Esses resultados
sinalizam uma desaceleração no crescimento dessas instituições em todo o país.
O Quadro 1 contém a evolução das entidades constantes no CEMPRE.
18
Quadro 1 – Evolução das entidades constantes no Cadastro Central
Entidades constantes no CEMPRE Números absolutos Variação (%) de Empresas -
CEMPRE, em números absolutos e variação percentual Brasil - 1996/2005.
19
III – as fundações;
IV – as organizações religiosas;
V – os partidos políticos.
[...]
§ 2º As disposições concernentes às associações aplicam-se,
subsidiariamente, às sociedades que são objeto do Livro II da Parte
Especial deste Código.
20
dissolução.
21
O Quadro 2 apresenta algumas formas de associações.
Quadro 2 – Formas de Associações
Associações Filantrópicas Reúnem voluntários que prestam assistência social as
crianças, idosos e pessoas carentes. Seu caráter é
basicamente de assistência social.
Associações de pais e mestres Representam a organização da comunidade escolar com
vistas a obtenção de melhores condições de ensino e
integração da comunidade com a escola. Em algumas
escolas se responsabilizam por parte da gestão escolar.
Associações em defesa da Vida Normalmente são organizadas para defender pessoas
em condições marginais na sociedade ou que não estão
em condições de superar suas próprias limitações.
Associações de meninos de rua, aidéticos, crianças com
necessidades especiais. Ex: APAE, Alcoólicos anônimos,
etc.
Associações Culturais, Desportivas e Organizadas por pessoas ligadas ao meio artístico, tem
Sociais. objetivos educacionais e de promoção de temas
relacionados às artes e questões polêmicas da sociedade
tais como racismo, gênero ou violência... fazem parte
deste grupo ainda os clubes esportivos e sociais.
Associações de Consumidores Organizações voltadas para o fortalecimento dos
consumidores frente aos comerciantes, a indústria e a
governo.
Associações de Classe Representam os interesses de determinada classe
profissional e/ou empresarial. Ex: Associações
comerciais, FIEMG.
Associações de Produtores Incluem-se as associações de produtores, de pequenos
proprietários rurais, de artesãos, que se organizam para
realização de atividades produtivas e ou defesa de
interesses comuns e representação política.
FONTE: SEBRAE – Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas (2010).
Araújo (2006, p.16), descreve os passos para a constituição de uma
associação. Para o mesmo existem seis passos fundamentais para que se constitua
tal pessoa jurídica de direito privado, sendo a Assembléia Geral de Criação da
Organização, a Aprovação dos Estatutos, a Eleição dos Membros da Diretoria, a
Posse dos Membros da Diretoria, a Lavratura das Atas das Reuniões e o Registro
dos Atos Constitutivos.
A Assembléia Geral de Criação da Organização basicamente refere-se à
reunião de interessados na criação da organização, onde são definidos os aspectos
que irão nortear a associação como missão, objetivos, principais atividades, entre
outros.
Esta Assembléia Geral deverá ser presidida por um membro interessado
escolhido entre os membros presentes, devendo ser secretariada por outro membro
presente também escolhido entre os presentes, que irá transcrever para a ata de
22
criação todos os acontecimentos e decisões ocorridas durante a reunião.
Ao término deste primeiro passo dá-se seguimento a constituição com a
Aprovação dos Estatutos e a Eleição e posse dos Membros da Diretoria, devendo
ser transcrito em ata de fundação da organização o resultado da votação e
conseqüentemente a criação da associação.
Ainda de acordo com Araújo (2006, p.16), a posse dos membros eleitos da
diretoria deve acontecer de maneira formal, onde o presidente da assembléia deverá
assinar o livro ata.
Em relação aos outros dois últimos passos, destaca-se que todas as atas de
reuniões devem ser lavradas em livro de atas apropriado, que conterá termos de
abertura e de encerramento e deverá ser registrada no órgão competente como
cartório de registro de títulos e documentos ou no Fórum Judicial e assinada em
conjunto com o presidente da sessão e todos os demais membros que dela
participarem.
Do Registro dos Atos Constitutivos Araújo (2006, p.17) relata que a
organização somente poderá ser reconhecida pelos órgãos públicos de direito, após
o registro de seu instrumento constitutivo o Estatuto em suas respectivas unidades.
Deste modo a associação deverá manter registro no Cartório de Registro de
Pessoas Jurídicas ou no Fórum Judicial, Inscrição na Receita Federal para obtenção
de número de CNPJ, Inscrição no cadastro da Prefeitura e solicitação de Alvarás,
Inscrição no Cadastro Estadual, Inscrição na Secretaria da Educação ou outras
conforme a natureza da organização, entre outros.
Finalizada a fase de inscrição do seu estatuto, em forma pública ou
particular, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, considera-se legalmente a
existência da pessoa jurídica, ou seja, é neste momento que a associação adquire
capacidade jurídica, tornado-se sujeito de direitos e obrigações.
Algumas atividades direcionadas a interesses de ordem pública, são
obrigadas a obter autorização estatal para sua constituição. No Brasil, constata-se o
23
direito de liberdade de associação para fins lícitos, sendo exigida autorização
apenas em casos específicos previstos em lei, tais como as atividades financeiras.
Após sua constituição legal as associações podem funcionar por meio de
órgãos definidos no estatuto, e são estes órgãos que praticam os atos judiciais e
extrajudiciais em nome da associação. Deste modo é o estatuto que regula os
direitos e deveres da associação, bem como de seus associados.
Em se tratando de Fundações Szazi (2003, p.37 apud Araújo, 2006, p.17),
menciona que é “um patrimônio destinado a servir, sem intuito de lucro, a uma causa
de interesse público determinada, que adquire personificação jurídica por seu
instituidor”. Ou seja, a fundação pode ser criada apenas por um indivíduo que
destine um patrimônio para esse fim, mesmo que por meio de testamento,
diferentemente das demais pessoas jurídicas existentes no ordenamento jurídico do
Brasil.
Ao se analisar essa questão pode-se definir fundação como um apanhado
de bens, dotado de personalidade jurídica própria, que por intermédio de seu
instituidor, pessoa física ou jurídica, lhe atribuiu uma finalidade social. Ela é
constituída em benefício dos seus destinatários, em um local permanente ou em
uma receita ou renda vitalícia, ou ainda com uma perpetuidade de qualquer outro
modo garantida.
Diferentemente das associações às fundações obedecem a critérios mais
rigorosos para sua constituição, funcionamento e extinção. Sua instituição pode ser
realizada por pessoa jurídica ou física, por meio de ato inter vivos ou mortis causa,
como mencionado anteriormente. Assim como as associações é necessário que
todos os seus atos sejam registrados no registro competente.
Inicialmente para sua criação a lei impõe alguns requisitos previstos nos
artigos 62 a 64 do Código Civil Brasileiro (Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002).
De acordo com os referidos artigos para criar uma fundação, o seu instituidor fará,
por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o
fim a que se destina, e declarando, se quiser a maneira de administrá-la.
Paes (2004, p.222 apud Araújo, 2006, p.19) afirma que “a Escritura Pública
ou o Testamento é formalidade indispensável – e primeiro requisito essencial – para
a constituição de uma fundação”.
No que se refere aos fins, à fundação somente poderá constituir-se para fins
religiosos, morais, culturais ou de assistência. No caso de insuficiência de bens para
24
constituição de uma fundação, estes deverão ser destinados à outra fundação que
se proponha a finalidade igual ou semelhante, se de outro modo não dispuser o
instituidor. Observa-se o art. 65 do Código Civil Brasileiro, in verbis:
25
Já nos casos de extinção das fundações, de acordo com o art. 69 do Código
Civil Brasileiro pode ocorrer pelo vencimento do prazo da sua existência ou por meio
de decisão judicial, por se tornar ilícita, impossível ou inútil a sua finalidade. Tal
extinção será promovida pelo órgão do Ministério Público ou qualquer interessado,
incorporando o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou
no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que proponha o fim igual ou
semelhante.
A dissolução convencional é aquela que ocorre por deliberação dos seus
integrantes. A dissolução também poderá ocorrer por determinação legal ou por
meio de ato governamental que casse a autorização para o seu funcionamento.
Enfatiza-se que tanto no caso das fundações como no das associações é de
suma importância que sejam observadas as legislações que trata do assunto,
principalmente o Código Civil Brasileiro por tratar das regras e dos poderes de
subscrever escritura pública ou testar tais entidades.
Ao se analisar essas informações constatam-se algumas diferenças
existentes entre as duas pessoas jurídicas de direito privado. De acordo com Pace
(2009, p.60), tais instituições são possuidoras de importantes diferenças jurídicas
entre si, sendo que as associações podem ser constituídas por pessoas, ter ou não
ter patrimônio com uma finalidade definida pelos associados, e esta finalidade pode
ser alterada pelos associados, sendo seu registro e administração mais simples e
sua criação se dá por intermédio de decisão em assembléia com transcrição em ata
e elaboração de estatuto.
No entanto as fundações apresentam maior complexidade em sua forma,
pois são constituídas com patrimônio aprovado previamente pelo Ministério Público,
sendo sua finalidade religiosa, moral, cultural ou de assistência, definida pelo
instituidor de forma perene, e o mesmo também defini as regras para deliberações e
a fiscalização pertence ao Ministério Público. Seus registros e administração são
mais burocráticos, sendo constituída por escritura pública ou testamento, e todos os
seus registros ficam condicionados a prévia aprovação do Ministério Público.
As associações são pessoas jurídicas tem por fator preponderante as
pessoas que as compõem enquanto que as fundações são entes jurídicos que tem
como fator preponderante o patrimônio.
Conforme demonstrado no Quadro 3 é possível discernir de maneira clara as
principais diferenças entre as associações e as fundações:
26
Quadro 3 – Diferenças entre Associação e Fundação
Associações Fundações
Fins próprios (dos sócios) Fins alheios (do instituidor)
27
vieram a exigir uma redefinição legal das entidades de utilidade pública. Desde
então uma série de benefícios fiscais, foram elaborados, para auxiliar essas
instituições, o que transformou tal título antes honorífico, em instrumento para a
concessão de subvenções.
A Constituição Federal de 1988, em seu art.150 foi vedado à União, aos
Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios sem prejuízo de outras garantias
asseguradas ao contribuinte, instituir imposto sobre patrimônio, renda ou serviços
dos partidos políticos, inclusive suas fundações, das entidades sindicais dos
trabalhadores, das instituições de educação e de assistência social, sem fins
lucrativos, atendidos os requisitos da lei.
No ano de 1993 foi promulgada a Lei nº 8.742, que dispõe sobre a
organização da Assistência Social e por este motivo é denominada Lei Orgânica da
Assistência Social. Em seu art. 18 tal lei atribui ao Conselho Nacional de Assistência
Social a competência de normatizar as ações e regular a prestação de serviços de
natureza pública e privada no campo da assistência social e a apreciar o relatório
anual que conterá a relação de entidades e organizações de assistência social
certificadas como beneficentes e encaminhá-lo para conhecimento dos Conselhos
de Assistência Social dos Estados, Municípios e do Distrito Federal.
De acordo com Leite (2003, p.03), no ano de 1994 das 180.000 fundações e
associações formalmente constituídas no país, cerca de 40.000 possuíam registro
junto ao Conselho Nacional de Assistência Social, 6.400 tinham o título de utilidade
pública federal, e 3.000, o certificado de entidade filantrópica.
Após a promulgação das Leis supracitadas as entidades consideradas sem
finalidade de lucro, gozam de vários benefícios, desde que cumpram as
qualificações exigidas.
Alguns exemplos de qualificações e obtenções de benefícios para este tipo
de organização é o Registro Civil e Inscrição de CNPJ das instituições com a qual
são isentas de Imposto de Renda, Registro no CNAS, que possibilita o acesso a
recursos federais como subvenções e convênios, a obtenção do Título de Utilidade
Pública Federal, isentando-se do Imposto de Importação e possibilitando doações de
pessoas físicas dedutíveis do Imposto de Renda e o Certificado de Filantropia,
condição cumulativa com o Título de Utilidade Pública Federa e Estadual ou
Municipal, para a isenção da Contribuição Patronal da Previdência Social.
De acordo com Leite (2003, p.05) em julho de 1997 o Conselho da
28
Comunidade Solidária iniciou um processo de negociação sobre o marco legal do
terceiro setor, envolvendo vários representantes do Governo Federal e das
organizações civis sem fins lucrativos. Assim no decorrer de várias conversações
surgiu um projeto coordenado pela Casa Civil da Presidência da República e
encaminhado no ano de 1998 a Presidência da República, que enfatizava a
importância do fortalecimento do Terceiro Setor e defendia a simplificação dos
procedimentos de registros, a desburocratização e o fim do não reconhecimento
legal de vários tipos de organizações.
Deste modo em 23 de março de 1999 entrou em vigor no Brasil a Lei nº
9.790, apresentando em sua forma uma maior nitidez à qualificação das
organizações, concedendo título pelo poder público às entidades, e não mais as
condicionando a critérios subjetivos como ocorria com a Lei nº 91/35.
Ferrarezi (2000, p.15), aponta que essa legislação anterior, Lei nº 91/35 que
não foi revogada, se preocupa excessivamente com documentos e registros
contábeis para a obtenção da qualificação e realização de convênios, ou seja, para
ter acesso a determinados incentivos fiscais e realizar convênios com o governo, as
organizações da sociedade civil precisam superar várias barreiras burocráticas,
sucessivas e cumulativas, em diferentes instâncias governamentais.
A Lei 9.790/99 disciplinou os procedimentos para a qualificação institucional
das entidades da sociedade civil como OSCIP e buscou desta forma amortizar os
custos operacionais e dinamizar a consumação de parcerias com os governos, com
base em critérios de eficácia e eficiência, além de constituições mais adequadas de
responsabilização.
Ainda no âmbito da Lei 9.790/99 Ferrarezi (2000, p.17) ressalta que a lei
criou o Termo de Parceria, novo instrumento jurídico de fomento e gestão das
relações de parceria entre as OSCIPs e o Estado, com o objetivo de imprimir maior
agilidade gerencial aos projetos e realizar o controle pelos resultados, com garantias
de que os recursos estatais sejam utilizados de acordo com os fins públicos.
O Termo de Parceria instituído pela Lei 9.790/99, assim considerado o
instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades
qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público possibilitou
a formação de vínculo de cooperação entre essas duas entidades, para promover a
execução das atividades de interesse público previstas.
O Quadro 4 apresenta comparações em relação aos principais aspectos da
29
Lei 9.790/99 e a legislação anterior, ainda vigente.
30
por Registro por Simples Apostila ou Termo
Aditivo. Também são considerados
legítimos os adiantamentos feitos pela OSCIP à
conta bancária do Termo de Parceria em casos
de atrasos nos repasses de recursos.
A Lei incentiva à escolha de parceiros por meio Não é previsto.
de concurso de projetos.
Avaliação e responsabilização pelo uso dos recursos públicos
A ênfase do controle se concentra no alcance de O controle se concentra, prioritariamente, na
resultados. forma de aplicação dos recursos.
São imputadas punições severas para o uso Os mecanismos de responsabilização pelo uso
indevido de recursos: além das punições indevido dos recursos são basicamente
aplicáveis no caso dos convênios, prevê-se devolução e multa.
também a indisponibilidade e o seqüestro dos
bens dos responsáveis.
Uma Comissão de Avaliação – composta por Não é prevista uma Comissão para avaliar
representantes do órgão estatal parceiro, do resultados alcançados.
Conselho de Política Pública e da OSCIP –
avalia o Termo de Parceria e verifica o
desempenho global do projeto em relação aos
benefícios obtidos para a população-alvo.
Acima de R$ 600 mil, a OSCIP deve contratar Não está prevista a realização de auditoria
auditoria independente para avaliar o Termo de independente.
Parceria, cujo custo pode ser incluído no valor do
próprio Termo de Parceria.
Lembrete:
Criados por lei, os Conselhos de Políticas Públicas são compostos por representantes da sociedade
civil e dos governos, para deliberar e realizar o controle sobre determinadas políticas públicas
(saúde, criança e adolescente, meio ambiente, assistência social, educação, desenvolvimento
agrário etc.).
Controle social e transparência
É vedada a participação de OSCIPs em Essa proibição se refere apenas ao uso dos
campanhas de interesse político-partidário ou recursos públicos para campanhas de interesse
eleitoral, independentemente da origem os político-partidário ou eleitoral.
recursos (públicos ou próprios).
Os Conselhos de Políticas Públicas são Não está previsto essa atuação.
consultados antes da celebração dos Termos de
Parceria e participam da Comissão de Avaliação
dos resultados.
Qualquer cidadão pode requerer, judicial ou Não está previsto essa atuação.
administrativamente, a perda da qualificação de
uma entidade como OSCIP, desde que
amparado por evidências de erro ou fraude.
Exige a adoção de práticas gerenciais que Não está previsto essa atuação.
coíbam o favorecimento pessoal em processos
decisórios.
A OSCIP deve criar um Conselho Fiscal, como Não está previsto essa atuação.
primeira instância de controle interno.
A OSCIP deve dar publicidade ao seu relatório Não está previsto essa atuação.
de atividades e às suas demonstrações
financeiras.
É livre o acesso às informações referentes às Não está previsto essa atuação.
OSCIPs junto ao Ministério da Justiça.
Prestação de contas de recursos estatais repassados
A prestação de contas do Termo de Parceria é É obrigatória a obediência à IN/STN n° 1/97 ou à
mais simples do que a dos convênios, devendo IN/STN n° 3/93, que exigem a apresentação de
ser feita diretamente ao órgão parceiro, por meio vários documentos e relatórios físico-financeiros.
de: relatório da execução do objeto do Termo de
Parceria contendo comparação entre as metas e
os respectivos resultados; demonstrativo da
31
receita e da despesa realizadas; extrato da
execução física e financeira publicado.
FONTE: FERRAREZI, 2000, p. 07.
Com relação à estrutura patrimonial, assim como as demais entidades
privadas, a Lei nº 6.404/1976, denominada Lei das Sociedades por Ações é à base
da contabilidade do terceiro setor. No entanto, algumas adaptações devem ser
realizadas com relação a algumas contas que são utilizadas por essas
organizações.
De acordo com os Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de
Contabilidade (2008, p.251) publicadas pelo Conselho Federal de Contabilidade –
CFC, para as Entidades Sem Finalidade de Lucro as demonstrações contábeis
devem ser elaboradas de acordo com a NBC T 10 - Aspectos Contábeis de
Entidades Diversas em observância da NBC T 3 - Conceito, Conteúdo, Estrutura e
Nomenclatura das Demonstrações Contábeis, NBC T 6 - Da Divulgação das
Demonstrações Contábeis e NBC T 19.4 - Incentivos Fiscais, Subvenções,
Contribuições, Auxílios e Doações Governamentais.
Estas normas reconhecem que essas entidades são diferentes das demais e
recomendam a adoção de terminologias específicas para as contas de Lucros ou
Prejuízos, Capital e para a denominação da Demonstração do Resultado, com a
finalidade de adequação dessas terminologias ao contexto das referidas entidades.
Além das referidas Normas Brasileiras de Contabilidade e suas
Interpretações Técnicas e Comunicados Técnicos, editados pelo Conselho Federal
de Contabilidade, aplica-se também as entidades do terceiro setor os Princípios
Fundamentais de Contabilidade.
32
instituições e conceder alguns benefícios para incentivar a criação de Entidades de
Fins Filantrópicos e em alguns casos passou a propiciar a manutenção de algumas
já existentes.
De acordo com o Manual de Procedimentos Contábeis para Fundações e
Entidades de Interesse Social (2008, p.37), os principais benefícios concedidos são
a imunidade e a isenção de impostos, contribuições e a possibilidade do
reconhecimento de recursos públicos, por meio de convênios, contratos, subvenções
sociais e termos de parceria.
A imunidade encontra-se prevista na Constituição Federal e a Isenção é
concedida por lei. Em países que possui uma alta carga tributária, esses benefícios
constituem uma importante fonte de recursos para entidades sem fins lucrativos.
No que se refere às entidades de interesse social, a Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988 em seu art. 150, estabelece a seguinte
vedação, in verbis:
33
entidade será obrigada a recolher todos os tributos devidos a partir do exercício da
ocorrência do não-atendimento de requisito legal.
Em se tratando de isenção o Manual de Procedimentos Contábeis para
Fundações e Entidades de Interesse Social (2008, p.40), relata que é a
inexigibilidade temporária do tributo, devido previsão em lei, mesmo com a
ocorrência do fato gerador, e em tese, da obrigação tributária.
Desta forma as isenções podem alcançar todos os tipos de impostos, taxas
ou contribuições e cada esfera de governo legisla sobre a isenção dos tributos de
sua competência. Além dos casos de imunidades e isenções já comentados, têm-se
também as leis de incentivos fiscais, que cumprem papel relevante de fomento as
atividades desempenhadas pelo terceiro setor.
Segundo Souza (2004, p.301 apud Araújo, 2006, p.40) a repercussão
tributária destes casos, na maioria das vezes, não recai sobre as próprias entidades
do terceiro setor, mais sim sobre aquelas que com ele se relacionam por ocasiões
de investimento em suas atividades, como os casos de dedução para efeitos do
cálculo do Imposto de Renda.
Nos casos de concessão de registros e títulos por entidades do Primeiro
Setor, o intuito é perfilhar a relevância do trabalho desenvolvido pelas Entidades de
Fins Filantrópicos e lhes proporcionar os benefícios já mencionados como as
imunidade e isenção de tributos e a possibilidade do reconhecimento de recursos
públicos, por meio de convênios, contratos, subvenções sociais, auxílios, doações e
termos de parceria.
Observa-se que na legislação atual existem quatro títulos principais que
podem ser concedidos pelo Poder Público, sendo eles o Título de Utilidade Pública
Federal, conferido pelo Ministro da Justiça, por meio de Decreto, desde que atenda
aos requisitos exigidos pelo Decreto nº 50.517/61, o Registro de entidade
beneficente de assistência social concedido pelo CNAS, o Certificado de Entidade
de Fins Filantrópicos previsto pela Lei nº 8.742/93 e o Título de Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP regulado pela Lei nº 9.790/99.
34
3 EVIDENCIAÇÃO DA CONTABILIDADE DO TERCEIRO SETOR
35
Terceiro setor é o conceito dado para designar organizações sem fins
lucrativos que desempenham práticas de caridade e filantropia direcionadas ao bem-
estar da sociedade desfavorecida, em caráter particular e voluntário fora da esfera
governamental.
De acordo com a Cartilha do Terceiro Setor desenvolvida pela Ordem dos
Advogados do Brasil a expressão “Terceiro Setor” tem origem no termo inglês Third
Sector, no entanto essa expressão tem gerado muita controvérsia dentro e fora do
mundo acadêmico, inclusive no tocante a sua abrangência.
O atual cenário econômico passou a exigir, cada vez mais, um
comportamento diferenciado para as estratégias de crescimento das organizações
do Terceiro Setor, tanto no que se refere ao direcionamento de suas ações sociais,
quanto na sua organização interna.
Por se tratar de uma organização sem fins lucrativos não significa dizer que
a mesma não tem por fim gerar lucros, pois tais instituições tendem seus lucros
obtidos a auto-sustentabilidade e não distribuindo os dividendos entre seus
dirigentes como ocorre no segundo setor.
Por dependerem em sua maior parte, da solidariedade de particulares, existe
nessas instituições uma carência de recursos, necessitando assim uma maior
eficiência em sua gestão, onde o objetivo maior é a maximização dos benefícios
gerados com cada real angariado.
Outros recursos financeiros utilizados pelas entidades que compõem o
Terceiro Setor são, normalmente, provenientes de interações com o governo
municipal, estadual ou federal, empresas privadas nacionais e internacionais dos
diversos segmentos da economia, bem como doações de pessoas físicas ou
jurídicas que podem abranger recursos monetários ou outros tipos de recursos
necessários à instituição em particular.
Para tornar evidentes tais recursos é indispensável uma contabilidade eficaz,
assim sendo gerenciada de forma transparente e direcionada a melhor aplicação em
prol da sociedade. Quanto maior a transparência neste tipo de entidade maior são
as possibilidades de obtenção de recursos tendo em vista que os incentivos fiscais e
tributários utilizam desses mecanismos para classificar e até mesmo auxiliar as
organizações, na realização de seus objetivos.
Tendo como principais fontes de receitas as doações, subvenções e
contribuições, e por gozarem de benefícios fiscais, as entidades sem fins lucrativos
36
assumem o encargo da prestação de contas, sendo essa apresentada ao próprio
órgão deliberativo, ao Ministério Público (fundações de direito privado e
associações), aos órgãos governamentais (que as declararam de utilidade pública),
ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS (se beneficiadas com a isenção da
contribuição Patronal), ao Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS (para
concessão ou renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência
Social), aos parceiros (se OSCIP), aos convenientes, aos doadores e principalmente
à sociedade.
As organizações do Terceiro Setor têm a necessidade e a obrigação de
serem fidedignas nos seus procedimentos administrativos, principalmente nas
prestações de contas e na aplicação de recursos a elas destinados.
Alguns requisitos são de suma importância para que se constate a definição
de uma entidade como sendo de interesse social, tais características básicas são
mencionadas no Manual de procedimentos contábeis e prestação de contas das
entidades de interesse social (2008, p.23):
37
título público, suas funções sociais são cumpridas com o apoio do Estado e
formulados a partir de um termo de parceria entre o setor público e o setor privado.
Por esse e outros motivos no âmbito de funcionalidade e procedimentos
para constituição de uma organização do terceiro setor ressalta-se a contabilidade,
que por meio de tratamento contábil e demonstrações financeiras, diferencia das
demais empresas essas organizações.
No Terceiro Setor a contabilidade serve como um importante instrumento de
divulgação do patrimônio, seu controle, suas ações sociais desenvolvidas, enfim,
suas mutações sociais e patrimoniais. Assim o patrimônio poderá ser um
instrumento de divulgação e controle das transformações sociais oferecidas e
praticadas pela entidade do Terceiro Setor.
Para que a contabilidade possa trazer resultados e agregar valores à
entidade, tornam-se necessárias algumas adequações ao sistema administrativo e à
postura da gestão administrativa, com isso, a entidade deverá se certificar de alguns
pontos de controle que inferem na informação contábil.
De acordo com Olak (2000, p.1 apud Araújo, 2006, p.15) existem três
elementos que caracterizam a nova postura da gestão administrativa do Terceiro
Setor e esses elementos poderiam ser denominados como a tríade da gestão das
entidades sem finalidade de lucro, são elas a transparência indicada por ele como
Accountability, os relatórios de avaliação entendidos aqui como o desempenho da
entidade e os instrumentos de comunicação representados pelos relatórios
contábeis.
Segundo Araújo (2006, p.16) o termo Accountability deve ser empregado
como a obrigação de prestação de contas, e o termo transparência deve ser
utilizado como essência do termo disclosure, que trata da forma de apresentação
dos relatórios da gestão.
Em conjunto a esses aspectos é notória a necessidade de profissionais para
essas instituições que tenham qualificação suficiente para assegurarem à sociedade
a prestação de contas e evidenciação que são exigidas as mesmas. Pois ao
contrário do século passado as organizações sem finalidade de lucro passaram a
ocupar não apenas pessoal voluntário, mas também a contratar remuneradamente
profissionais competentes com o propósito de gerenciar seus recursos, de forma a
maximizar seus rendimentos e reinvesti-los na organização, para beneficiar
adequadamente a sociedade.
38
3.2 ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL DO TERCEIRO SETOR
39
e devem ser aplicadas às entidades do terceiro setor, também denominadas em
alguns casos como sendo entidades de fins não econômicos, estes critérios vão
desde a escrituração até a forma e estrutura das demonstrações contábeis.
Ao se aplicar tais critérios relativos à escrituração contábil o maior
beneficiário das informações fornecidas é o próprio doador, ou financiador de suas
atividades, pois o mesmo confia aos gestores dessas instituições recursos para que
sejam usufruídos pela sociedade, e demandam que lhes seja prestado contas
desses recursos.
Desta forma se constata a limpidez desses demonstrativos, que vinculados à
divulgação eficaz transforma-se em condições essenciais para a obtenção de
vantagens em relação a outras organizações concorrentes na procura por recursos.
O Quadro 5 resume as principais alterações que as entidades sem finalidade
de lucro devem considerar quando elaboram suas demonstrações contábeis.
40
Mencionando o art. 14 da Lei 9.718/98 e art. 246 do Decreto nº 3.000/99,
estão obrigados a manter escrituração completa, ou seja, apuração do Lucro Real as
pessoas jurídicas que autorizadas pela legislação tributária, usufruam de benefícios
fiscais relativos à isenção ou redução de impostos, deste modo toda e qualquer
instituição do terceiro setor que almeje usufruir de tais benefícios estará sujeito a
esta legislação.
Algumas contas possuem funções específicas no controle de recursos
financeiros de entidades de interesse social, como o caso das contas “Bancos conta
movimento” e “Aplicação de Liquidez Imediata”, que registram os recursos
financeiros da entidade, sendo estes recursos de terceiros, entidades conveniadas
ou contratantes, parceiras, entre várias outros.
De acordo com a alínea III, § 3º art. 170 do Decreto nº 3.000/99 para o gozo
de imunidade fiscal as instituições de educação e assistência social que preste seus
serviços sem finalidade de lucro estão obrigadas a manter escrituração completa de
suas receitas e despesas em livros revestidos das formalidades que assegurem a
respectiva exatidão.
Ainda de acordo com os artigos supracitados deve-se conservar em boa
ordem, pelo prazo de cinco anos, contado da data de emissão, os documentos que
comprovem a origem de suas receitas e a efetivação de suas despesas, assim como
a realização de quaisquer outros atos ou operações que venham a modificar sua
situação patrimonial, apresentando anualmente Declaração de Rendimentos.
Para Hoog (2007, p.41), a falta da escrita contábil regular implica
juridicamente a presunção da verdade alegada pela parte contrária (CC/2002, art.
1.112), podendo caracterizar crime falimentar, ineficácia de prova jurídica e a
impossibilidade de proteção de contas dos administradores.
Para a abertura da escrituração contábil toda e qualquer entidade terá por
base o instrumento de constituição da empresa que depende de sua natureza
jurídica, ou seja, a Declaração de Firma Individual, o Contrato Social ou a Ata de
Assembléia de Constituição.
41
3.3 PATRIMÔNIO SOCIAL E SUA CONTABILIZAÇÃO
De acordo com Peyon (2004 apud ASSAF NETO et. al, 2005), todas as
doações realizadas a favor de entidades do terceiro setor acumulam-se no
patrimônio social, seja recebida em ativo permanente ou as periódicas que formam a
receita não operacional.
Mencionando Laffin, Borba e Cruz (2002, p.136), para que se possa dispor
de maneira adequada dos bens ou serviços das organizações do terceiro setor,
decorrente das atividades, faz-se necessário o controle patrimonial por meio de
processos de escrituração previstos pela contabilidade.
Apesar das singularidades existentes entre a contabilização das entidades
42
sem fins de lucro e as demais instituições, algumas particularidades são destacadas.
Os Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de Contabilidade (2008, p.251),
prevêem na NBC T 10.19 – Entidades Sem Finalidade de Lucros onde se transcreve
as substituições a serem aplicadas na elaboração das demonstrações contábeis das
entidades do terceiro setor, in verbis:
43
investidos em ativo permanente e a segunda é equivalente a Lucros (Reserva de
Lucros) e Prejuízos acumulados, ou seja, acumula os resultados obtidos na
operação da empresa. Desta forma nota-se que o capital próprio é oriundo de
doações ou resultado da própria operação, sendo possível afirmar que existe o custo
de oportunidade do capital próprio, apesar de não haver distribuição de resultados,
porque há necessidade de atrair investidores para organização.
Em relação aos valores do superávit ou déficit do exercício das entidades
sem fins lucrativos a os Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de
Contabilidade (2008, p.249) transcrevem a NBC T 10.19, que por sua vez relata que
os referidos valores devem ser registrados na conta Superávit ou Déficit do
Exercício, enquanto não aprovado pela assembléia dos associados e após a sua
aprovação, deve ser transferido para a conta Patrimônio Social.
Para Araújo (2006, p.55), as contas que compõem os grupos do balanço
patrimonial das organizações do terceiro setor não guardarão grandes diferenças,
em termos de nomenclaturas, das demais organizações, observando-se apenas as
particularidades de cada organização individualmente quando da elaboração de
seus planos de contas.
44
p.62), salientam que com relação às empresas, o patrimônio líquido contém
elementos que caracterizam diversos interesses como direitos residuais no caso de
liquidação, distribuições de dividendos e participações, porém no caso das
instituições do terceiro setor, os interesses são diversos diversificando entre a
atenção voltada para o uso dos ativos colocados à disposição delas na consecução
dos objetivos sociais, à necessidade de reposição desses ativos e as possíveis
limitações quanto à continuidade normal das atividades.
Conforme transcrito nos Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de
Contabilidade (2008, p.251), a conta Patrimônio Social é integrante do grupo
Patrimônio Líquido em substituição da conta Capital. Deste modo, assim como para
entidades do segundo setor, a estrutura das instituições do terceiro setor é instituída
pelo art. 178 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.941/09, possuindo algumas
contas com nomenclaturas e terminologias especificadas por tipo de atividade, tais
como educação, saúde, assistência social, técnico – cientifico entre outros, e seus
registros contábeis devem evidenciar as doações, subvenções e contribuições
patrimoniais.
Ainda de acordo com os Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de
Contabilidade (2008, p.251), compõe o Patrimônio Social o subgrupo superávit
acumulado que registra a confrontação periódica de receitas e despesas, sendo o
respectivo saldo credor transferido para esta conta, para aplicação nas atividades
objeto da entidade ou o subgrupo déficit acumulado que sendo eventual saldo
devedor o transfere para esta conta, até futura amortização pelos associados ou por
superávits de exercícios subseqüentes.
45
na tomada de decisões e avaliações por parte dos usuários em geral.
Os Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de Contabilidade (2008,
p.250) destacam para as demonstrações contábeis do Terceiro Setor as NBC T 10.4
- Fundações, NBC T 10.18 – Entidades Sindicais e Associações de Classe e NBC T
10.19 – Entidades Sem Finalidade de Lucro, além das normas convencionais NBC T
1 – Estrutura para a Elaboração e apresentação das Demonstrações Contábeis,
NBC T 3 – Conceito, Conteúdo, Estrutura e Nomenclatura das Demonstrações
Contábeis e NBC T 6 - Da Divulgação das Demonstrações Contábeis.
Em muitos pontos a estruturação das referidas demonstrações não divergem
na estrutura em relação às demais instituições, como é citado na NBC T 10.19.3:
46
complementares.
Mencionando o Manual de Procedimentos Contábeis e Prestação de Contas
das Entidades de Interesse Social (2008, p.79), as demonstrações contábeis das
Entidades de Interesse Social apresentam terminologias específicas diferentes das
entidades de fins lucrativos e a elas é obrigatória a apresentação do Balanço
Patrimonial, Demonstração do Superávit ou Déficit do Exercício, Demonstração das
Origens e Aplicações de Recursos – DOAR (Com o advento da Lei nº 11.638/07,
que altera dispositivos da Lei nº 6.404/76, essa demonstração foi substituída pela
Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC) e a Demonstração das Mutações do
Patrimônio Social - DMPS.
Além das demonstrações convencionais acima evidenciadas, a entidade
poderá elaborar outras demonstrações de natureza gerencial, como a Demonstração
do Fluxo do Disponível e Demonstração de Informações Sociais.
47
obrigações para com terceiros, resultantes de eventos ocorridos que
exigirão ativos para a sua liquidação;
A letra “b” foi alterada pela Resolução CFC nº 1.049, de 7 de outubro de
2005.
c) o Patrimônio Líquido compreende os recursos próprios da Entidade, e
seu valor é a diferença positiva entre o valor do Ativo e o valor do Passivo.
Quando o valor do Passivo for maior que o valor do Ativo, o resultado é
denominado Passivo a Descoberto. Portanto, a expressão Patrimônio
Líquido deve ser substituída por Passivo a Descoberto.
A letra “c” foi alterada pela Resolução CFC nº 1.049, de 7 de outubro de
2005.( Princípios Fundamentais e Normas Brasileiras de Contabilidade,
2008, p.139).
48
3.4.2 DEMONSTRAÇÃO DE SUPERÁVIT OU DÉFICIT DO EXERCÍCIO
49
natureza e valor, havidas no patrimônio líquido da entidade, num determinado
período de tempo.
Esta demonstração evidencia a mutação do patrimônio líquido de modo
geral, ou seja, a mesma deve descriminar os saldos no início do período, os ajustes
de exercícios anteriores, as reversões e transferências de reservas e lucros, os
aumentos e reduções de capital, destinações do lucro líquido do exercício do
período entre outras funções.
Para Nascimento e Olak (2000, p.11 apud ARAÚJO, 2006, p.57), esta
demonstração tem a finalidade de explicar como e por que as diversas contas do
patrimônio líquido se modificam durante o período, além de denominar tal
demonstrativo como Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido Social -
DMPS.
Assim como nas demais citadas, a DMPL em entidades sem fins lucrativos
deve ter as palavras lucro ou prejuízo substituído por superávit ou déficit.
50
Entidades de Interesse Social (2008, p.77), a Demonstração do Fluxo do Disponível
apresenta a movimentação ocorrida nas contas do disponível da entidade,
evidenciando de onde vieram os recursos financeiros e onde foram aplicados. De
acordo com o referido manual pelo método indireto é feita uma conciliação entre o
superávit/déficit do exercício social e as contrapartidas da movimentação ocorrida
nas contas do disponível (caixa, bancos e aplicações financeiras de liquidez
imediata) e pelo método direto são demonstradas todas as contas que tiveram
contrapartida com as contas do disponível.
Araújo (2006, p.59) afirma que a elaboração da DFC pelas entidades sem
finalidade de lucro é perfeitamente viável e útil, pois o conhecimento dos fluxos
financeiros de uma instituição permite aos gestores um planejamento financeiro, o
que facilita na decisão de busca por recursos para a manutenção de suas
atividades.
51
econômica, financeira, legal, física e social, bem como os critérios utilizados na
elaboração das demonstrações contábeis e eventos subseqüentes ao balanço.
Para Araújo (2006, p.59), as notas explicativas devem conter informações
sobre as práticas contábeis não explicitadas nas outras demonstrações, mas que
impactam a análise da situação econômica financeira da organização.
No Manual de Procedimentos Contábeis e Prestação de Contas das
Entidades de Interesse Social (2008, p.76) são exemplos de informações que podem
ser divulgadas nas notas explicativas:
Deste modo entende-se que as notas explicativas devem ser utilizadas pelas
do terceiro setor para aumentar o poder informativo das demonstrações contábeis e
devem ser consideradas como parte integrante das demonstrações contábeis, como
requerido pelas Normas Brasileiras de Contabilidade.
52
entidades, segundo as competências de cada órgão e autoridade, na periodicidade
estabelecida no estatuto social ou na lei.
Tal formalidade é considerada uma das principais obrigações dos
administradores das organizações do terceiro setor, necessariamente, ao próprio
órgão deliberativo da entidade, e ao Poder Público por meio dos diversos órgãos
governamentais, de acordo com a natureza jurídica, títulos e certificados que pleiteia
ou possui.
Cada prestação de contas deve ser composta pelos elementos exigidos
pelos órgãos interessados e autoridades, de acordo com os atos normativos que
regem a entidade e a atuação de cada um deles.
O Novo Código Civil atribui ao Ministério Público o velamento das fundações
de direito privado, conforme disposto no art. 66 e o art. 50 e sujeitam as associações
à fiscalização do Ministério Público, visto que cabe a este intervir nos casos de
abuso da personalidade jurídica.
O Manual de Procedimentos Contábeis e Prestação de Contas das
Entidades de Interesse Social (2008, p.79), oferece algumas sugestões para
instituição do processo de prestações de contas normalmente exigidos, sendo estes
o relatório de atividades, demonstrações contábeis, informações bancárias,
inventário patrimonial, Declaração de Informações Econômico-Fiscais de Pessoa
Jurídica – DIPJ, Relação Anual de Informações Sociais – RAIS, Parecer do
Conselho Fiscal, Parecer e relatório de auditoria independente e cópia de convênio,
contrato e Termo de Parceiro.
De acordo com o art. 4° da Lei n° 91, de 28/8/1935, as organizações
declaradas de utilidade pública ficam obrigadas a apresentar todos os anos, exceto
por motivos de ordem superior reconhecido, a critério do Ministério da Justiça,
relação circunstanciada dos serviços que houverem prestado à coletividade.
O Decreto nº 60.931, de 04 de julho de 1967 que modifica o Decreto nº
50.517, que regulamentou a Lei nº 91 em seu art. 5° especifica que as entidades
declaradas de utilidade pública, salvo por motivo de força maior devidamente
comprovada, a critério da autoridade competente, ficam obrigadas a apresentar, até
o dia 30 de abril de cada ano, ao Ministério da Justiça, relatório circunstanciado dos
serviços que houverem prestado à coletividade no ano anterior, devidamente
acompanhado do demonstrativo da receita e da despesa realizada no período ainda
que não tenham sido subvencionadas.
53
A prestação de contas ao CNAS ocorre no momento em que é solicitada a
concessão ou renovação do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência
Social – CEBAS, nos termos do Decreto n° 7.237/10. De acordo com o art. 3 do
referido decreto, a certificação ou sua renovação serão concedidas à entidade
beneficente que demonstre, no exercício fiscal anterior ao do requerimento relatório
de atividades desempenhadas, destacando informações sobre o público atendido e
os recursos envolvidos.
O art. 11, § 2º do Decreto n° 3.100/99, que regulamenta a lei das OSCIPs,
estabelece que as prestações de contas anuais das OSCIPs serão realizadas sobre
a totalidade das operações patrimoniais e resultados da entidade, e deverão ser
instruídas com os seguintes documentos, in verbis:
54
4 ESTUDO DE CASO
55
O art. 1º do Decreto nº 95.244 de 16 de novembro de 1987, declara o Centro
de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal de Utilidade Pública Federal, nos
termos do artigo 1° da Lei n° 91, de 28 de agosto de 1935, combinado com o artigo
1° do Regulamento aprovado pelo Decreto n° 50.517, de 02 de maio de 1961.
De acordo com a lista nominal das Entidades Certificadas, disponibilizada na
página do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS, extraída do Sistema de
Informação do Conselho Nacional de Assistência Social – SICNAS e emitida pela
Coordenação de Informática do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à
Fome, a instituição CERNIC é uma das poucas entidades do Estado de Rondônia
certificadas, sendo apenas três no município de Cacoal e totalizando dezenove em
todo o Estado.
Mantido por meio de parcerias com a comunidade, Governos Municipal e
Estadual e trabalho voluntário, o CERNIC desenvolve atividades de cerâmica,
música, dança, fisioterapia e ensino básico somente para alunos com deficiência,
promovendo assim ações de prevenção, apoio à família, de defesa de direitos e
prestação de serviços educacionais, clínicos e pré-profissionalizantes. Desta forma
o CERNIC atualmente é um referencial no atendimento as pessoas com
necessidades especiais em Rondônia.
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e Dois Mil, Seiscentos e Setenta e Seis Reais e Quinze Centavos), que segundo o
departamento financeiro da instituição foi utilizado em beneficio da manutenção da
entidade.
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Quadro 6 – Balanço Patrimonial
CERNIC – Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal
04.394.235/0001-66
Encerrado em 31 de dezembro de 2009
ATIVO PASSIVO
ATIVO CIRCULANTE 38.111,41 PASSIVO CIRCULANTE 3.200,67
DISPONÍVEL 26.777,06 VALORES A PAG. A CUR.PRAZO 3.200,67
CAIXA GERAL 726,62 CONTAS A PAGAR 1.480,96
BANCO CONTA MOVIMENTO 2.543,54 OBRIGAÇÕES C/PESSOAL 465,00
APLIC. FINANC. A CUR. PRAZO 23.506,90 OBRIGAÇÕES SOCIAIS 1.188,50
VALORES A REC. A CURTO PRAZO 11.334,35 OBRIGAÇÕES FISCAIS 66,21
ADIANTAMENTOS DIVERSOS 10.001,32
EMPRÉSTIMOS A RECEBER 73,23
SAL. FAMILIA A RECUPERAR 799,48
CHEQUES DEVOLVIDOS 460,32
ATIVO PERMANENTE 361.560,15 PATRIMONIO LÍQUIDO 396.470,89
IMOBILIZADO TÉCNICO 361.560,15 CAPITAL SOCIAL REALIZADO 461.888,80
CONTRUÇÕES E IMOVEIS 369.957,55 CAPITAL SOCIAL SUBSC. 461.888,80
(-) DEPREC. S/CONST. E IMOVEIS -154.942,62 RESULTADOS ACUMULADOS -65.417,91
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS 36.111,67 DEFICIT ACUMULADOS -65.417,91
(-) DEPREC. S/MAQ. EQUIP. -17.560,37
VEÍCULOS 76.725,00
(-) DEPREC. S/VEICULOS -59.173,30
COMPUTADORES E PERIFERICOS 67.601,74
(-) DEPREC. S/COMPUTADORES -46.641,07
EQUIP. DE COMUNICAÇÃO 1.140,00
MOVEIS E UTENSILIOS 78.068,05
REFORMAS E BENFEITORIAS 42.977,47
(-) DEPREC. S/MOVEIS E UTENS. -38.085,75
(-) DEPREC. ACUMULADA 5.381,78
TOTAL DO ATIVO 399.671,56 TOTAL DO PASSIVO 399.671,56
FONTE: Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal, 2009.
De acordo com o art. 178 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.941/09,
a estrutura do Balanço Patrimonial do CERNIC não evidencia a classificação da
conta Ativo Não-Circulante, demonstrando, portanto a classificação dada pela
redação do art. 178 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº 11.638/07.
Ao se analisar os demonstrativos da referida organização nota-se a
evidenciação das aplicações financeiras demonstradas no Balanço Patrimonial, na
parte do Ativo Circulante.
Nas contas do Ativo Imobilizado, constata-se o registro de algumas das
gratuidades oferecidas pelo CERNIC, para o bom desenvolvimento das atribuições
às quais a instituição se propõe a desenvolver.
De acordo com o § 2º do art. 183 da Lei nº 6.404/76, alterada pela Lei nº
11.941/09, na conta Depreciação Acumulada será registrada a diminuição dos
valores dos elementos dos ativos imobilizado e intangível, quando corresponder à
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perda do valor dos direitos que têm por objeto bens físicos sujeitos ao desgaste ou
perda de utilidade por uso, ação da natureza ou obsolescência.
Entretanto devido equivoco ocorrido nos lançamentos das contas do Balanço
Patrimonial da instituição, tal conta expressa um valor de R$ 5.381,78 (Cinco mil,
trezentos e oitenta e um reais e setenta e oito centavos) referente à conta Móveis e
Utensílios, que por este motivo não se encontra redutora. A empresa responsável
pela elaboração dos demonstrativos da instituição, providenciou a retificação dos
dados constantes deste Balanço Patrimonial, ajustando-os de modo a evidenciar a
realidade dos fatos ocorridos no exercício de 2009.
No passivo as contas estão classificadas no grupo do passivo circulante por
se tratarem de obrigações a curto prazo e por não haver contas classificadas no
grupo passivo não-circulante, o mesmo não é evidenciado no demonstrativo.
Figuram no grupo Patrimônio Líquido, duas contas distintas sendo estas
respectivamente à conta Capital Social formado com contribuições em dinheiro ou
em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro e a conta
Resultados Acumulados.
No tocante a conta Capital Social, verifica-se que a mesma não condiz com
o disposto no item 3.2 da NBC T 10.19, a qual especifica que a conta Capital Social
deve ser substituída por Patrimônio Social. No entanto com relação à segunda conta
se constata a mudança da conta Prejuízos Acumulados para Déficit Acumulado, por
se tratar de uma entidade sem fins lucrativos.
A cargo de isenção a referida entidade usufruiu no exercício de 2009 um
total de R$ 32.411,93, referentes ao INSS + SAT + TERCEIROS correspondentes a
folha de pagamento e por esse motivo nada consta em seu Balanço apenas em
notas explicativas.
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Os valores auferidos pela instituição foram, conforme especificado no
Resumo de Práticas Contábeis do CERNIC os seguintes:
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As contas evidenciadas nas despesas operacionais registram as gratuidades
oferecidas pelo CERNIC como as despesas com pessoal, administrativas e
financeiras. Por possuírem um considerável imobilizado técnico, sua despesa com
depreciação é relativamente alta, proporcionando a instituição um déficit anual
elevado.
61
centavos) a instituição compensou novamente seu resultado deduzindo deste déficit
o valor correspondente ao seu superávit acumulado anterior, obtendo desta forma
um saldo final de déficit acumulado de R$ 65.417,91 (Sessenta e cinco mil
quatrocentos e dezessete reais e noventa e um centavos).
Este saldo final encontra-se alocado no Balanço Patrimonial da entidade no
exercício findo em 2009.
62
CCL 51.890,49 34.910,74 16.979,75
FONTE: Centro de Reabilitação Neurológica Infantil de Cacoal, 2009.
No exercício de 2009 o total das origens da instituição foi inferior ao total de
aplicações o que acarretou na redução do capital circulante líquido. Esta variação
também pode ser observada na parte 4 do demonstrativo, que ao comparar os
capitais circulantes líquidos dos exercícios de 2008 e 2009 encontrou a mesma
redução no valor de R$ 16.979,75 (Dezesseis mil novecentos e setenta e nove reais
e setenta e cinco centavos).
Com o advento da Lei nº 11.638/07, que altera dispositivos da Lei nº
6.404/76, a DOAR foi substituída pela Demonstração dos Fluxos de Caixa – DFC,
entretanto de acordo com a legislação vigente a entidade CERNIC não a evidenciou.
Para Reis (2009, p.126) a DMPL tem por objetivo demonstrar as variações
em cada uma das contas integrantes do grupo Patrimônio Líquido, e por este motivo
a mesma engloba a DLPA, no caso das instituições do terceiro setor a DSDA, e
assim a torna dispensável. O CERNIC evidenciou os dois demonstrativos mesmo
não sendo obrigada legalmente o que frisa a intenção de transparência da entidade.
63
4.1.3.6 Notas Explicativas
64
CONSIDERAÇÕES FINAIS
65
ético com relação aos recursos empregados em suas atividades, para que as
informações geradas estejam de acordo com as informações divulgadas.
Com relação às Normas Brasileiras de Contabilidade e legislação vigente,
percebeu-se a necessidade da instituição em se adequar à nova redação da Lei nº
6.404/76, alterada pelas Leis nº 11.638/07 e 11.941/09, além de ter que estabelecer
concordância com a NBC T 10.19, pois conforme evidenciado no presente estudo de
caso alguns demonstrativos encontram-se com estruturas e nomenclaturas
inadequadas para este tipo de entidade.
No entanto tais equívocos não representam irregularidades quanto ao
empenho de seus recursos, mais sim expressam a não observância quanto às
particularidades atribuída às entidades do Terceiro Setor, não acarretando a esta
instituição qualquer ônus quanto aos seus propósitos de benefício da sociedade.
Seguindo estes critérios e por esperar que profissionais do âmbito contábil
sempre procurem o predicado da informação contábil, para que esta evidencie a
verdadeira situação do patrimônio de uma Entidade, acredita-se que a presente
pesquisa servirá de embasamento teórico para futuros pesquisadores que terão com
a utilização deste material, um auxílio para iniciarem novas pesquisas sobre o
assunto ou ainda o utilizem como fonte para direcionar e delinear estudos em
assuntos similares.
É notório que a evidenciação da contribuição das informações contábeis na
gestão das entidades do terceiro setor não se restringe apenas a contabilização dos
demonstrativos, todavia foi necessário limitá-lo para que fossem mais bem
explorados os procedimentos correlatos ao assunto. Deste modo o referencial
teórico adotado para a elaboração da presente pesquisa foi constituído com base
em pesquisa documental e bibliográfica sobre as principais características dos
procedimentos e demonstrativos da contabilidade do Terceiro Setor.
66
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Setor: Aspectos relacionados à Elaboração das Demonstrações Contábeis das
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Revista ABCustos Associação Brasileira de Custos, São Leopoldo, v. 2, n. 2, p.
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67
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BRASIL. Lei nº 91, de 28 de agosto de 1935. Determina regras pelas quaes são as
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68
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BRASIL. Lei nº 11.127, de 28 de junho de 2005. Altera os arts. 54, 57, 59, 60 e 2.031
da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002, que institui o Código Civil, e o art. 192
da Lei no 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, e dá outras providências. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 29 jun. 2005. Disponível em:
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69
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contábeis e prestação de contas das entidades de interesse social. 2. ed.
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contábil das sociedades empresariais: de acordo com o novo Código Civil – Lei
10.406/2002. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2007. 384p.
MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 8. ed. São Paulo: Atlas, 1998.
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criação de valor como contribuição ao planejamento das organizações sem
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SÁ, Antonio Lopes de. Fundamentos da contabilidade geral. 3. ed. Curitiba: Juruá,
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SZAZI, Eduardo... [et al]. Terceiro Setor: Temas polêmicos. 2. ed. São Paulo:
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71
APÊNDICE – A
72
APÊNDICE – B
73
ANEXO - A
74
75
ANEXO - B
76
ANEXO - C
77
ANEXO - D
78
ANEXO - E
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