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RESUMO
ABSTRACT
Introdução
Para que a emigração portuguesa destinada ao Brasil seja entendida com mais
clareza é necessário contextualizar a situação do povo de Portugal nos âmbitos
econômico e social. Sendo assim, neste estudo, serão analisados, de forma
breve, alguns dos motivos que causaram o êxodo português ocorrido em
meados do século XX. De facto, existem poucos estudos sobre a emigração
portuguesa durante esta época e que façam uso de indivíduos reais como
exemplificação e ilustração deste processo. Tais são as grandes razões pelas
quais este foi escolhido como tema para o trabalho aqui apresentado.
Outro motivo é de caráter pessoal. António Alfredo Balina 2, meu avô, é a maior
inspiração para este estudo, já que foi uma pessoa extremamente importante e
presente em minha vida, principalmente durante a infância e o início da
adolescência. Muito do que tenho, sei e sou devo a ele, não somente por ter
fornecido um quarto de meus genes, mas, também, por ter sido um grande
exemplo de superação, persistência, trabalho duro e sucesso. Um típico rapaz
da aldeia, como ele mesmo se denominava, foi para o Brasil ainda jovem,
tentando buscar uma vida melhor. Lá, conquistou, com muita luta, seu pequeno
“império”3 na área do comércio, construiu sua própria família e conseguiu
ascender socialmente. Concluiu os estudos por meio de supletivo, chegando a
se formar no ensino secundário em uma escola pública no Rio de Janeiro. Teve
a oportunidade de estudar no ensino superior privado, no curso de direito, mas
optou por dar preferência ao estudo dos filhos em um curso privado de língua
inglesa.
2
Nasceu no norte de Portugal, em Canelas do Douro, Peso da Régua, no dia 28 de janeiro de
1942, entretanto, foi registrado somente no dia 06 de março do mesmo ano. Filho de
trabalhadores rurais, cresceu em situação de pobreza e completou o quarto ano do ensino
básico em uma escola multisseriada de sua aldeia. Foi morar em Porto, aos doze anos, para
trabalhar em uma casa de pasto. Aos dezesseis foi viver na casa de um tio no Rio de Janeiro.
Trabalhou no comércio desde sua chegada ao Brasil e, após anos, conseguiu abrir e expandir
seu próprio negócio. Casou-se com Eponina Martins, filha de português e brasileira, e teve três
filhos, todos formados no ensino superior. Dez anos após se instalar no Rio de Janeiro, trouxe
sua irmã, Maria Júlia, para viver consigo até o ano de 1989, quando esta voltou para Portugal.
Retornou à sua pátria duas vezes a passeio, junto com seus descendentes. Apesar da
distância nunca deixou de manter contato com a família que permaneceu na terra natal.
3
Pequena rede composta por quatro lojas e uma fábrica de uniformes profissionais, conhecida
como “Uniformes Balina”, atualmente administradas por seus dois filhos mais jovens.
3
O grande escritor Eça de Queirós comentou, certa vez, que “em Portugal a
emigração não é como em toda a parte, a transbordação da população que
sobra; mas a fuga da população que sofre” (1890) 4. De facto, desde o momento
em que esta frase foi publicada o país passava por grandes dificuldades. Por
volta do ano de 1880 se deu uma sucessão de colheitas escassas, além da
enorme concentração fundiária, característica da Península Ibérica. Essas são,
portanto, as geratrizes mais famosas da grave crise econômico-social de
Portugal do final do século XIX. Há estudiosos, como Eulália Maria Lobo
(2001)5, que explicam a difícil situação que o país vivia.
5
LOBO, Eulália Maria L. Imigração portuguesa no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2001.
4
7
Ver anexo I.
8
Ver anexo II.
5
9
ANICETO, Afonso. As forças Armadas e a Grande Guerra. Nação e Defesa. Lisboa, v. 139, p.
53 – 63, ago. 2014.
6
seus próprios negócios depois de fazerem sua jornada pelo Oceano Atlântico.
Em paralelo às oportunidades econômicas apresentadas pelo Brasil estava o
exemplo vivo de muitos portugueses que conseguiram se libertar das
condições desagradáveis que viviam em sua terra natal ao se mudarem para
uma nova vida nos trópicos. Segundo Scott (2015) 10, para que os motivos que
levaram ao processo vivido pelos imigrantes sejam entendidos, é necessário
apresentar uma série de fatores de expulsão e atração que começaram em
meados do século XIX, tanto no Brasil quanto em Portugal.
A decisão e a partida
Como explicado durante a introdução, este breve estudo teve a oportunidade
de contatar a família Balina, cujo patriarca foi um caso típico da imigração
portuguesa para o Rio de Janeiro, ocorrida neste referido caso em 1958. Ao ser
questionada sobre como foi feita a decisão de seu pai de vir para o Brasil, a
filha mais velha de António Balina contou11:
Como meu pai contava, a minha avó, a mãe dele, tinha um irmão que
já tinha imigrado para o Brasil trinta anos antes. Eles mantinham
contato por carta, como era comum na época, e minha avó tinha
sempre a noção de que esse meu tio, de todos os irmãos, era quem
estaria melhor de vida. Ela pediu a ele que enviasse para o filho dela
uma carta de chamada, porque na época o Brasil só recebia
imigrantes com essa tal carta. Pelo que sei, ela é um documento onde
duas pessoas que estão no brasil, brasileiras ou imigrantes com
residência no país e com documentação regularizada, se
responsabilizavam por dois anos, pelas atitudes e por dar emprego e
casa a esse imigrante que está sendo chamado. A minha avó
contundentemente pedia a esse meu tio avô que fizesse essa carta
de chamada, solicitando que meu pai viesse para o Brasil, porque ela
encarava que essa seria uma maneira de ele romper com aquela
situação de dificuldade de vida e de uma pobreza bastante grande.
Seria a quebra daquela situação que a família vivia já há várias
gerações. Então ela conseguiu que esse tio enviasse a carta e,
também, por querer uma vida melhor ou por entender que os pais é
10
SCOTT, Ana Sílvia. Os portugueses. São Paulo: Editora Contexto, 2010.
11
Entrevista concedida por BALINA, Jacqueline Martins. [out. 2020]. Entrevistador: Maria
Gabriela Balina do Amaral, Rio de Janeiro.
8
que diziam aquilo que devia ser feito, meu pai aceitou e decidiu vir
para o Brasil sozinho com apenas dezesseis anos.
Pode-se perceber que, a partir da leitura dos tópicos anteriores, a situação de
miséria vivida de forma constante pela maior porção da população e o exemplo
dos conterrâneos que haviam se deslocado anteriormente, foram os grandes
motivos pelos quais a o fluxo migratório Portugal – Brasil ocorreu tão
intensamente. Era, de facto, a famosa busca por uma vida melhor.
12
CHAVES, Luiz Antônio da Costa. Buscando a árvore das patacas no além-mar: um breve
panorama da emigração portuguesa no Brasil e um pequeno exercício de história e memória.
In: Silva, Leonardo Santana da. História Social: Tradições e modernidades: ensaios
interdisciplinares sobre economia, cultura e política como formas de linguagens, identidades e
práticas de poder. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015. P. 85 – 118.
13
Idem.
9
14
BRASIL, Rio de Janeiro, RJ. Decreto de Lei nº 406, de 4 de maio de 1938. Dispõe sobre a
entrada de estrangeiros no território nacional. “Diário Oficial da União”. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1930-1939/decreto-lei-406-4-maio-1938-348724-
publicacaooriginal-1-pe.html, consultado em 18/11/2020>.
15
CHAVES, Luiz Antônio da Costa. Buscando a árvore das patacas no além-mar: um breve
panorama da emigração portuguesa no Brasil e um pequeno exercício de história e memória.
In: Silva, Leonardo Santana da. História Social: Tradições e modernidades: ensaios
interdisciplinares sobre economia, cultura e política como formas de linguagens, identidades e
10
16
Ver anexo III.
17
Ver anexo IV.
18
Ver anexo V.
19
Ver anexo VI
11
Conclusão
Para os que chegavam ao novo país nesta época a maior parte dos empregos
oferecidos encontrava-se nas zonas rurais e, para quem nelas se fixava, não
era permitido abandonar o trabalho no campo por, no mínimo, quatro anos.
Com a intenção de facilitar o contato inicial entre possíveis patrões e
empregados foram criadas casas de hospedagem e sistemas de
encaminhamento de trabalhadores, que podiam ser financiados tanto pelo
governo quanto pela iniciativa privada. No âmbito internacional, foram
concretizados tratados bilaterais entre Brasil e Portugal relativos à imigração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUEIRÓS, Eça de. O governo e a imigração. In: ___. Uma campanha alegre –
volume I. Lisboa: A Editora, 1890. P. 90 – 101.
ANEXOS