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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Instituto de Filosofia, Sociologia e Política


Curso de Relações Internacionais

Resenha Crítica

Título : Resenha Crítica – Formação Econômica do Brasil

Celso Furtado

Pelotas, 2021

Ana Roberta Rodrigues


O Autor Celso Monteiro Furtado é natural de Pombal (PB), nascido em
26 de julho de 1920. Em 1944 formou-se pela Faculdade Nacional de Direito da
Universidade Federal do Rio de Janeiro e logo após integrou a Força
Expedicionária Brasileira, na Itália, durante a II Guerra Mundial. Junto ao
“Grupo Misto”, elaborou a base do Plano de Metas do Governo JK. Em 1962 foi
Ministro do Planejamento no governo João Gulart e em 1986 foi Ministro da Cultura no
Governo José Sarney.
Por conta do golpe de 1964, foi exilado e perdeu seus direitos políticos durante
10 anos. Assim, viajou para os Estados Unidos onde foi pesquisador graduado do
Centro de Estudos do Desenvolvimento da Universidade de Yale. Celso Furtado falece
no Rio de Janeiro, no dia 20 de novembro de 2004.
Seu livro “Formação Econômica do Brasil”, dividido em 36 capítulos é
considerado uma obra clássica da historiografia econômica brasileira pela sua leitura de
fácil compreensão, e é caracterizado por muitos economistas como um dos livros mais
importantes que já haviam lido.
No primeiro capítulo de sua obra é exposto a ocupação econômica das terras
americanas, descrevendo a chegada dos europeus. De acordo com o autor, tal
ocupação não se deu por motivos demográficos como teria ocorrido na Grécia, mas sim
por um caráter agroexportador. Com a possibilidade de ouro e outras pedras preciosas
no território brasileiro, o interesse de outros países como Holanda, Inglaterra e França
cria uma pressão sobre Espanha e Portugal, o que incentiva a colonização das terras
americanas. Destaca-se que antes da descoberta de metais preciosos o território não
possuia grande valor econômico, e, para cobrir os custos dessa colonização, foi
necessário a exploração agrícola nas terras americanas.
Apesar do alto custo de transporte, é iniciado a produção de açúcar, especiaria
bastante apreciada pela Europa à época. Assim, Veneza perde o seu monopólio na
produção açucareira. E com auxílio dos flamengos, que eram encarregados do
refinamento do produto e venda na Europa, Portugal teve êxito no desevolvimento da
produção no território brasileiro. Para garantir os lucros e poder aumentar a sua
produtividade, é utilizada a mão de obra dos escravos africanos.
Enquanto isso, a Espanha mantinha-se concentrada na extração de metais
preciosos, causando uma alta na inflação e um déficit na balança do país. De acordo
com o autor, caso as colonias espanholas tivessem seguido o caminho da produção
agrícola, estes teriam tido ainda mais êxito que Portugal por conta da sua maior
densidade populacional, mão de obra índigena com maiores conhecimentos agrícolas, e
a maior proximidade com o continente europeu, o que barateava os custos com
transporte.
Como o controle marítimo europeu da época estava nas mãos da
Holanda, e assim permaneceu até 1730, os portugueses dependiam destes
para a exportação de sua produção. Após a absorção de Portugal pela
Espanha, e sua guerra com a Holanda, a exportação dos produtos foi
fortemente abalada.
Diante disso, o Brasil passa a ser ocupado também pela Holanda, que
aprende todas as técnicas de produção açucareira, e com seus conhecimentos
prévios no setor de refinamento, a Holanda se torna concorrente de Portugal.
Tal acontecimento traz enormes prejuízos econômicos aos portugueses, com a
desvalorização da sua moeda, que os leva a fazer vários empréstimos com a
Inglaterra.
No Capítulo 5, Celso expõe que devido às guerras entre a Inglaterra e
França, o Caribe acaba sendo invadido por estes países com sistema da
pequena propriedade, onde as terras da população seriam pagas por trabalhos
futuros. Os ingleses possuiam maior interesse em ocupar tais terras devido aos
problemasde cunho religioso e político que ocorriam no seu próprio território, e,
devido a isso, foram criadas companhias que financiavam as viagens da
Inglaterra ao Caribe. Assim, era necessário a produção agrícola no novo
território, e, devido ao clima favorável, foi incentivado o plantio de algodão,
fumo e café, além da produção de anil.
Com o sucesso nas vendas dos produtos, foi preciso um aumento na
mão de obra, e este foi feito por meio do sequestro de adultos e crianças, além
daqueles que cometiam crimes e compravam sua liberdade trabalhando nas
terras. Por fim, boa parte dos colonos acabou migrando para as colônias da
América do Norte, onde exportavam trigo para o Caribe. Além do trigo, as
colônias norte americanas passaram a exportar animais e madeira, além de
realizar a destilação de bebidas como o rum. Junto a isso, deu-se início
também à industrialização naval no território.
Em seguida, de acordo com Furtado o sucesso dos produtos tropicais foi
tanto que fez-se necessário também o aumento da mão de obra, e então foram
introduzidos os serviços da escravidão africana. Assim, surge duas
modalidades de produção: uma baseada na mão de obra escrava com alta
escala de produção, e outra com pequenas propriedas usando a mão de obra
europeia.
Durante os séculos XVI e XVII Portugal precisava que a produção
brasileira desse certo após tantas adversidades, visto que apesar dos grandes
lucros recebidos, esses valores não foram investidos no aumento e melhoria
dos engenhos, mas sim para custear as vaidades e artigos de luxo dos
senhores.
Enquanto isso, no interior do país ocorriam os avanços da pecuária. Ali,
os animais eram criados especialmente por colonos com menos acesso ao
capital. Em contrapartida, após as baixas nas vendas do açúcar, também
aumenta-se a procura por metais preciosos no território, apesar de não tão
lucrativo quando a produção açucareira. O século XVIII é então caracterizado
pelo fracasso econômico do Brasil.
Como forma de reverter a situação da época, inicia-se a produção
cafeeira no território brasileiro, além da imigração de escravos europeus dentro
da Amazônia que visava a produção de especiarias como o cacau. Apesar de
ter tido um bom retorno e um grande aumento no número de exportações, o
café também teve seus momentos de crise em 1929, quando os Estados
Unidos reduziu tanto sua exportação exportação produto brasileiro que
governadores da época tiveram de estocar e queimar o café como tentativa de
equilíbrio de preço.
Por fim, destaca-se que durante os séculos o Brasil passou por diversas
crises econômicas e inflacionárias, tendo sido necessários os mais vários
planos econômicos para regularizar a situação. Ademais, o livro do autor Celso
Furtado traz um enorme valor histórico e de conhecimento imprescindível para
futuros graduados e/ou público em geral com interesse na história da economia
brasileira.

REFERENCIA
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. 34º Edição. São
Paulo:
Companhia das Letras, 2007

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