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Oficina de História I
Resenha do texto “ Saúde e enfermidades femininas nos escritos médicos (séculos
XIII e XIV) ”
Rio de Janeiro
2016
SANTOS, Dulce O. Amarante dos. “Saúde e enfermidades femininas nos
escritos médicos (Séculos XIII e XIV) ”, Territórios & Fronteiras, Volume 6,
Número 2, Páginas 7-20, 2013
Por causa da falta de estudos anatômicos, pode-se perceber que a maior parte dos
saberes divulgados desde a antiguidade até o século XIV são baseados no
imaginário dos homens de como deveria ser o interior de seus corpos, já que a
religião proibia expressamente a dissecação de cadáveres humanos, mesmo que
fosse para o engrandecimento da ciência. Muitos dos preceitos inquestionáveis da
época medieval nasceram como concepções distintas e possuíam caráter
contraditório entre si, além de terem sido fortemente influenciados pela tradição
religiosa, pois a Igreja financiava os estudos, que circulavam principalmente nos
ambientes monásticos. Eram a explicação fictícia de sintomas reais.
Por exemplo, acreditava-se que o útero era um órgão móvel e que esse movimento
seria a causa de dores e enjoos nas mulheres, processo atualmente conhecido
como cólica. A menstruação era o fluido seminal feminino que possuía um caráter
impuro, sendo considerado a causa de inúmeras doenças exclusivas das mulheres,
e precisaria ser purgado pelo corpo uma vez por mês. Esse fluido poderia ser
transformado em alimento pelo organismo por meio do movimento do útero até as
mamas onde ocorreriam processos que alteram a temperatura deste líquido,
tornando-o próprio para o consumo de um recém-nascido, na forma de leite
materno.
Datam desta época medieval as maiores tensões entre médicos laicos e religiosos
já vistas, pois a visão laica utilizava-se da perspectiva da natureza e destinava-se à
preservação da saúde sem as restrições atribuídas à visão religiosa, apesar de
ambas englobarem o mesmo assunto. Um grande exemplo é a recomendação de
práticas sexuais feita comumente por médicos não religiosos para tratar de dores
ligadas ao útero feminino. Essa recomendação era criticada e condenada pela
Igreja, que sugeria outras práticas terapêuticas ou, até mesmo, que as mulheres
simplesmente aguentassem o desconforto causado por seu próprio corpo.
A ética médica da Idade Média propunha que o papel social do profissional da área
da saúde deveria ser voltado completamente para a cura e a valorização cristã da
vida, condenando os que, em troca de dinheiro, provocavam a morte e a interrupção
da gravidez. Entretanto, era muito comum a circulação oral de receitas
contraceptivas atribuídas às parteiras ou às prostitutas (consideradas as detentoras
do conhecimento para impedir a concepção da vida).