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Largamente utilizada no mundo todo, a borracha é um material de enorme 

importância
econômica e estratégica. Os transportes, a indústria química, a engenharia e a indústria
elétrica e eletrônica são grandes consumidores de borracha. As borrachas podem ser naturais,
extraídas sobretudo da seringueira Hevea brasilensis, e sintéticas, obtidas principalmente a
partir de derivados de petróleo. 

A borracha é um polímero, o que significa que é um produto composto por moléculas


formadas a partir de uma mesma unidade estrutural repetidas um grande número de vezes e
ligadas quimicamente entre si. Existem três classes de polímeros: das borrachas, dos plásticos
e das fibras sintéticas. O polímero que forma a borracha natural é o cis-1,4-poliisopreno. Tipos
diferentes de borracha são formados por diferentes polímeros. 

Em seu processamento industrial, as borrachas recebem vários aditivos, alguns inertes, outros


de reforço de estrutura, e alguns que conferem cor, odor e resistência, entre diferentes
características. Cada ingrediente desempenha uma função específica com o correspondente
impacto nas propriedades, na processabilidade e no preço do produto final. Para obter os
resultados que deseja, a indústria da borracha segue uma formulação conhecida como
“receita”. O resultado final da mistura terá as características predeterminadas. 

A borracha natural é produzida principalmente em países em desenvolvimento ou


subdesenvolvidos; a Ásia produz 85% da borracha natural comercializada no mundo, e seus
principais países produtores são Tailândia, Indonésia, Malásia, China, Índia e Vietnam. Depois
dos asiáticos vêm os países africanos como maiores produtores. O Brasil produz apenas 1% da
borracha natural consumida no mundo, com 108 mil toneladas em 2008, de acordo com o
International Rubber Study Group. O maior consumo da borracha natural está concentrado em
países desenvolvidos ou em processo de industrialização, como China, Estados Unidos, Japão e
Índia. 

A indústria automobilística é a maior consumidora de borrachas, mas outros setores


produtivos também se destacam, como os de calçados, mineração e siderurgia,
eletroeletrônicos e eletrodomésticos, de entretenimento (para fabricação de brinquedos,
máscaras, balões), saúde (para produção de luvas cirúrgicas, preservativos, tubos cirúrgicos,
bicos de mamadeira), indústria petroquímica, construção civil e saneamento.

 
 
Borracha natural

A borracha natural (NR) é obtida por coagulação do látex principalmente de árvores do


gênero Hevea brasiliensis  (seringueira). O polímero da borracha natural é o cis-1,4-
poliisopreno. A borracha natural é um elastômero natural, o que significa que ela é um
polímero que tem como principal característica a elasticidade. Além
do polímero, estão presentes na borracha natural várias outras substâncias químicas, como
proteínas, substâncias resinosas e umidade, que lhe conferem alguns aspectos indesejados
como, por exemplo, o odor.  

 A seringueira leva aproximadamente 7 anos até atingir a idade de produção, e pode continuar
a fornecer látex durante vários anos. A coleta e o processamento do látex requerem
considerável mão de obra. O látex é obtido fazendo-se incisões na árvore e o líquido se
acumula em pequenas tigelas que devem ser recolhidas com freqüência para evitar a
putrefação e a contaminação. O látex recolhido é levado para unidades de processamento,
onde é coado e recebe o preservativo NH 3 (amônia). A borracha é separada por um processo
conhecido como coagulação, que ocorre quando se adicionam ácidos ou sais ao látex; a
borracha se separa do líquido na forma de uma massa branca, pastosa, que é moída e
calandrada para remover contaminantes e secar. A borracha comercial é vendida em fardos,
sendo suficientemente estável para ser estocada por anos.

Existem diversos tipos de borracha natural, cujas características dependem do método de


obtenção. Normalmente, os tipos de borracha natural obtidos via látex apresentam
melhor qualidade, mas são mais caros. A borracha natural é mais elástica, chegando a atingir
alongamento de 900% em relação ao comprimento inicial. A flexibilidade e a
resiliência (capacidade de voltar à forma original) são outras características da borracha
natural. 

A faixa de temperatura que o produto de borracha natural suporta vai de -20°C a +70°C. A
borracha natural perde suas qualidades quando em contato com derivados de petróleo, como
solventes, óleos, combustíveis e lubrificantes, ozônio, radiação solar (UV) e quando exposta às
intempéries, como variação de temperatura, gases, poeira e umidade. Suas principais
aplicações são em pneus e na indústria automobilística, em peças técnicas, como buchas, bicos
de mamadeiras e chupetas, solados e indústria calçadista, construção civil, artigos médico-
hospitalares, artigos esportivos e adesivos.

Vulcanização
  

Antes da
descoberta da
vulcanização,
em 1839, a
borracha natural
já era utilizada
para a
fabricação de
muitos
produtos, como
luvas, calçados e
capas
impermeáveis. A
borracha, no
entanto,
apresentava
vários inconvenientes que inviabilizavam seu uso em larga escala: era difícil de ser moldada, os
produtos ficavam moles e pegajosos no calor, rígidos e sem flexibilidade no frio, tinham baixa
resistência à luz e aos líquidos, e para piorar, adquiriam odores desagradáveis com o passar do
tempo. Com tantos problemas, os produtos de borracha passaram a ser rejeitados pelos
consumidores. A descoberta da vulcanização por Charles Goodyear (foto), nos Estados Unidos,
revolucionou a indústria desse material. “A borracha crua tratada com enxofre, acima do seu
ponto de fusão transforma a borracha de um estado original plástico a um outro elástico, com
características dimensionais estáveis e com habilidade de suportar variações na temperatura”
escreveu Goodyear, ao relatar sua descoberta, depois de anos de pesquisas. A palavra
vulcanização faz referência a Vulcano, deus do fogo na mitologia romana. Submetida a altas
temperaturas, a borracha reage com o enxofre para produzir um produto que contém uma
rede de ligações cruzadas entre as cadeias poliméricas. O cruzamento entre as moléculas se dá
por pontes de dissulfeto, como mostra a figura abaixo.
 

Durante a vulcanização, as moléculas da borracha são ligadas umas às outras e formam uma
rede tridimensional de macromoléculas por meio (1941)/Wikimedia Commons

de ligações cruzadas entre elas, o que reduz a Vulcanização de pneus em fábrica


 
mobilidade e o movimento. O artefato de borracha norte-americana
adquire, então, uma forma fixa, não mais moldável, porém, ainda flexível e elástica. O material
não amolece em temperaturas elevadas ou congela no frio, e torna-se mais resistente
quimicamente.  

O próprio processo de vulcanização passou por uma longa evolução. No início eram
necessárias grandes quantidades de enxofre e tempos de cura relativamente longos e os
produtos adquiriam uma coloração indesejada. A grande evolução aconteceu com o
desenvolvimento de aceleradores, no início do século XX, que aumentaram a velocidade da
vulcanização. O nível de enxofre pôde ser reduzido sem prejuízo para as propriedades físicas
do vulcanizado, e obteve-se maior resistência ao envelhecimento. Produtos vulcanizados
transparentes ou coloridos foram obtidos. Se o processo de vulcanização durava até 5 horas
quando foi descoberto, hoje o tempo passou para apenas alguns minutos, dependendo do tipo
de acelerador e das características desejadas para o produto final. 

Existem processos de vulcanização sem enxofre que usam peróxidos orgânicos, óxidos
metálicos e substâncias bifuncionais, como a resina p-quinona-dioxima, a trietilenotetramina,
e a hexametilenodiamina.

  

Borrachas sintéticas

As borrachas sintéticas são materiais elastoméricos que possuem capacidade de retornar à


forma original quando submetidos a um esforço ou deformação externa, ou seja, são produtos
com grande elasticidade. Foram desenvolvidas nas primeiras décadas do século XX nos Estados
Unidos e na Alemanha, como substitutas da borracha natural.

As borrachas sintéticas têm como base os copolímeros (polímeros derivados de mais de uma
espécie de monômero) de estireno e butadieno. A primeira borracha sintética foi a SBR –
elastômero de estireno-butadieno - que não tinha todas as propriedades da borracha natural,
mas custava muito menos. Assim como a borracha natural, a borracha sintética também pode
ser submetida à vulcanização. Estados Unidos, China e Japão são os principais produtores e
consumidores de borrachas sintéticas no mundo, enquanto Rússia, Alemanha, Brasil, França e
Coréia do Sul são importantes consumidores.

 
 

Tipos de borracha sintética

 Leia mais sobre as borrachas sintéticas SBR, BR, EPDM, NBR, SBCs, PTE   e borrachas especiais.

 
 

 
 

Fabricação 

A fabricação de artefatos de borracha normalmente é feita em quatro etapas: mistura das


matérias-primas, moldagem ou conformação da massa, vulcanização e acabamento.

Os compostos de borracha geralmente são formulados a partir da mistura da matéria-prima


base (borrachas natural ou sintética) e aditivos químicos, como agentes de vulcanização
(geralmente enxofre), aceleradores de reação de vulcanização (catalisadores), plastificantes,
cargas minerais, pigmentos e outros produtos auxiliares. A moldagem pode ser realizada por
processos de injeção, extrusão ou prensagem. A vulcanização ocorre, normalmente, entre
150°C e 180°C. Com a vulcanização, o material passa do estado plástico para o elástico, e
adquire características definidas e estáveis de dureza, resistência mecânica e elasticidade,
entre outras.

A presença do profissional da química é fundamental na indústria de borrachas. Ele atua no


desenvolvimento da formulação da borracha, no controle de qualidade das matérias-primas e
dos produtos, e durante todo o processo industrial.

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