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Biossíntese de Lípidos

Cláudia Cid

Bioquímica do Metabolismo

Introdução

A síntese de ácidos gordos é uma via metabólica que possui um conjunto de


reações endergónicas e redutoras e ocorre principalmente no citosol do fígado.
O agente redutor da via é o NADPH e o ATP é a fonte de energia metabólica.

Biossíntese de lípidos

O processo inicia-se com a formação irreversível do precursor da síntese, o


malonil-CoA, que resulta da carboxilação de acetil-CoA através da acetil-CoA
carboxilase com o consumo de ATP.A acetil-CoA carboxilase possui um duplo
processo catalítico: o da biotina carboxilase, que promove a carboxilação do
resíduo de biotina no local ativo da enzima numa reação dependente de ATP, e
o da transcarboxilase, que transfere o CO2 da biotina para a acetil-CoA
formando por fim a malonil-CoA.

Seguidamente, no processo de elongação da cadeia carbonada, catalisada


pela ácidos gordos sintetase, esta enzima irá promover um conjunto de 4
reações: a) condensação; b) redução do grupo carbonilo; c) desidratação e d)
redução da ligação dupla. Este conjunto de reações culmina na elongação em
2 carbonos da cadeia do ácido gordo em formação e o processo repete-se até
se atingir a extensão de 16 carbonos referente ao ácido palmítico. A ácidos
gordos sintetase é um centro multienzimático que funciona como um
homodímero composto por 7 sítios ativos que estão presentes em diferentes
domínios, seis enzimas e uma molécula transportadora de grupos acilo, a ACP.
A ACP (Acil Carrier Protein), representada por uma cadeia polipeptídica de
resíduos associada a um grupo prostético, 4-fosfopantetaína, faz a ligação
entre as enzimas do produto em síntese sendo nesta enzima onde os ácidos
gordos se associam ao longo da síntese. A ácidos gordos sintetase ainda
contém uma tioesterase que permite a clivagem entre o ácido gordo final e a
ACP.

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Na primeira etapa do processo de elongação, a condensação, envolve os
grupos acetil e malonil ativados para formar β-cetoacil, com a libertação de
CO2, através da enzima β-acetoacetil-ACP sintetase, em que então o grupo
acetil é transferido do grupo -SH da cisteína da enzima para o grupo malonil da
ACP. O CO2 é apenas transiente na ligação covalente durante a síntese de
ácidos gordos sendo removido com cada unidade de 2 carbonos que são
adicionados. Na segunda etapa, a redução do grupo carbonilo, o β-cetoacil
formado na primeira etapa irá sofrer redução do seu grupo carbonilo para
formar β-hidroxiacil pela β-acetoacil-ACP redutase tendo como dador de
eletrões o NADPH. Na seguinte e terceira etapa, a desidratação, as moléculas
de H2O são removidas do β-hidroxiacil formando uma ligação dupla no produto
da reação, o enoil através da enzima β-hidroxiacil-ACP-desidratase. Por fim, na
última e quarta etapa, a redução da ligação dupla, em que a dupla ligação do
enoil será reduzida (saturada) em acil pela ação da enoil-ACP-redutase, com
novamente o NADPH como dador de eletrões.

A acil-ACP saturada, de 4 carbonos, marca o fim de um ciclo por meio do


complexo ácido gordo sintetase. Com 7 ciclos de condensação redução
produziremos o grupo palmitoil de 16 carbonos, ainda ligado a ACP. A
elongação da cadeia pelo complexo da ácidos gordos sintetase parará neste
ponto libertando o palmitato da ACP.

“Shuttle” do Citrato

Para que possa ocorrer a síntese de ácidos gordos é necessária a existência


de acetil-CoA no citosol. A síntese de acetil-CoA ocorre na matriz da
mitocôndria e, portanto, é fundamental o transporte de acetil-CoA através das
membranas mitocondriais. A membrana interna da mitocôndria é impermeável
à acetil-CoA, mas é permeável ao citrato e por isso o transporte é efetuado por
um “shuttle” do citrato que durante o processo também garante a síntese de
NADPH/H+ que é extremamente necessário ao processo de elongação da
cadeia. Na matriz mitocondrial, na reação do ciclo de Krebs, forma-se citrato
resultante da reação entre a acetil-CoA e o oxaloacetato catalisada pela
enzima citrato sintetase, o citrato atravessa a membrana no transportador de
citrato e é clivado pela citrato liase formando novamente a acetil-CoA e

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oxaloacetato, com gasto de ATP. Desta forma já temos a acetil-CoA para poder
ser utilizada para a síntese de lípidos de novo.

Regulação da síntese de ácidos gordos

Esta via é um processo bastante regulado sendo


mais ativo no estado pós-prandial onde a acetil-CoA
carboxilase é particularmente regulada tal como se
pode observar na figura 1 e o citrato funciona como
um regulador alostérico como se pode observar na
figura 2.

Figura 1. Regulação da
Figura 2. Regulação
acetil-CoA carboxilase
Alostérica do citrato

Efeitos adversos da biossíntese de lípidos

Uma dieta com uma densidade energética elevada como uma alimentação rica
em gorduras saturadas (gorduras de origem animal, óleo de coco) e açucares
monoinsaturados (glicose, frutose) ativará a lipogénese de novo para a
formação de ácidos gordos saturados e esse excesso pode contribuir para a
acumulação de gordura que está relacionado com o excesso de peso, elevados
níveis de colesterol e LDLs o que favorece o quadro inflamatório da síndrome
metabólica. A suplementação de ácidos gordos polinsaturados como ω-3 do
tipo EPA (ácido eicosapentaenoico) e DHA (ácido docosaexaenoico) mostrou-
se eficaz na diminuição dos triglicerídeos e LDLs.

Bibliografia

- Apontamentos/Slides das aulas

- Lehninger principles of biochemistry, 6th Editions

- Effects of fatty acids on the Metabolic Syndrome: a literature review (pesquisa:


“síntese de ácidos gordos e síndrome metabólica”)

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