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O território fortalezense já foi alvo de disputa entre holan-

deses e portugueses. O nome da cidade é derivado da


Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, nome dado
pelos portugueses ao Forte de Schoonenborch, construí-
do pelos invasores dos Países Baixos.

Em termos populacionais, a cidade possui mais de 2,6


milhões de habitantes. É a maior cidade em população do
Ceará, a segunda do Nordeste e a quinta do Brasil.

A economia de Fortaleza é caracterizada pela administra-


ção pública, comércio e serviços, principalmente ativida-
des turísticas. A cidade conta ainda com muitas indús-
trias.

Fortaleza é dividida administrativamente em 12 subprefei-


turas, compostas por 121 bairros.

A cultura local é marcada pelos festejos juninos e pelas


festas de Carnaval. A cidade é conhecida ainda pela qua-
lidade dos seus humoristas.

Localização de Fortaleza:
Fortaleza é a capital do estado nordestino do Ceará. Está
 País: Brasil.
localizada nas margens do Oceano Atlântico, em uma
zona de clima tropical, marcada pela elevada umidade. O  Unidade federativa: Ceará.
início do povoamento da cidade está atrelado ao Forte de
Schoonenborch, construído por holandeses, mas tomado  Região intermediária: Fortaleza.
por portugueses, que garantiram a posse da região.
 Região imediata: Fortaleza.
A cidade de Fortaleza foi fundada oficialmente em 13 de
abril de 1726, e a população local foi formada pelos colo-  Região metropolitana: Região metropolitana de
nizadores europeus, pelos descendentes de indígenas e Fortaleza.
africanos e também pela intensa migração interna pre-
 Municípios limítrofes: Caucaia, Maracanaú, Paca-
sente no território cearense.
tuba, Itaitinga, Eusébio e Aquiraz.
A economia local é bastante diversificada, com importan-
tes atividades secundárias e terciárias. O território forta-
lezense é muito procurado por turistas, em razão da pre- Geografia de Fortaleza
sença de belas praias e da rica cultura local. Os trabalhos
artesanais e a culinária típica são marcas da cidade. O  Área total: 312,353 quilômetros quadrados.
município conta com uma infraestrutura urbana desen-
 População total: 2.686.612 habitantes.
volvida, sendo um dos principais polos de comércio e
logística do litoral nordestino. A sua estrutura governa-  Densidade demográfica: 7.786,44 habitantes /
mental está baseada nos Três Poderes. quilômetro quadrado.

 Gentílico: fortalezense.

RESUMO  Clima: tropical.

A cidade de Fortaleza está localizada no Nordeste do  Altitude: 16 metros.


Brasil, mais precisamente no litoral do estado do Ceará,
em uma região de clima tropical e vegetação litorânea.  Fuso horário: UTC-3.
mas para a própria cidade. A orientação pouco usual do
armamento chamou a atenção inclusive do viajante an-
glo-português Henry Koster, registrada em 1811 no livro
Viagens ao Nordeste do Brasil. “Notei que a peça de maior
forçada estava voltada para a Vila. A que estava montada
Erguido às margens do Riacho Pajeú, Forte Schoonen-
para o mar não tinha sequer calibre suficiente para atingir
borch foi a segunda tentativa holandesa de colonização
um navio no ancoradouro comum”.
do Ceará e lançou bases para a cidade de Fortaleza. No
local fica atualmente a 10ª Região Militar, em frente à Para o historiador Antônio Luiz Macêdo e Silva Filho, na
Catedral. obra Fortaleza: Imagens da Cidade (2004), não é exagero
imaginar que o posicionamento do armamento “expres-
sava um modo repressivo de manter a ordem social, inti-
midando o surgimento de rebeliões e ondas de descon-
tentamento popular”. Ele explica: “No Brasil colonial, tra-
dicionalmente se atribui a ereção de bastiões militares à
defesa territorial dos ataques navais de concorrentes
europeus”.

Mantida com poucas alterações estruturais pelos portu-


gueses a partir de 1654 - com a exceção de reformas de
manutenção e da construção de uma pequena capela -, a
fortaleza veio a ser totalmente remodelada apenas em
1812, após o desmoronamento de parte da antiga estrutu-
ra. Na área arruinada, o engenheiro Silva Paulet traçou
novo alicerce do forte: quadrado, com 90 metros de lado e
baluartes em cada ponta – formato próximo do mantido
atualmente.
Era 10 de abril de 1649 quando o comandante holandês
Matias Beck ergueu, à margem esquerda da foz do Riacho A nova fortaleza foi construída com mão de obra voluntá-
Pajeú, uma cerca de pau-a-pique sobre um monte isolado. ria e escrava, chegando a ter, em 1816, vinte e sete peças
A posição estratégica, com vista panorâmica para as hos- de artilharia. Em 1910, o forte foi desarmado, passando a
tis terras do Ceará, seria fortificada com estacas de car- funcionar como monumento histórico. Atualmente, funci-
naúba dias depois e batizada de Forte Schoonenborch. ona no espaço a 10ª Região Militar do Exército Brasileiro,
Estava plantado símbolo de ocupação que, séculos mais que mantém museu e agenda de visitação ao monumen-
tarde, viria a identificar e batizar a vila de Fortaleza. to.
Era a 2ª tentativa de colonização do Ceará feita pelos O Schoonenborch não foi o primeiro forte, nem mesmo a
holandeses, que voltavam à região com 298 homens cin- primeira fortificação holandesa no território que hoje é
co anos após serem expulsos por indígenas do antigo Fortaleza. Mas foi, conforme explica o professor João
forte São Sebastião (atual Barra do Ceará). O receio de Marcos Alves, da Universidade Estadual Vale do Acaraú
novos ataques por terra era tão grande que, durante anos, (UVA), marco em torno do qual a cidade se desenvolveu -
toda a expedição neerlandesa operou de dentro da fortifi- o Centro cresceu ao redor da atual 10ª Região Militar, não
cação, desenhada pelo engenheiro inglês Richard Carr e da Barra do Ceará. Por isso, para o historiador Raimundo
erguida com parapeito e paliçada em formato de polígono Girão, com respaldo de pesquisadores como Câmara Cas-
pentagonal. cudo, o 10 de abril de 1649 demarca a fundação de Forta-
leza. Ele não ignorava as experiências anteriores, na Barra
Cinco anos depois da criação do forte, 1654, os portugue-
do Ceará, que remontam a 1603. Porém, o entendimento
ses voltariam a controlar a região, alterando o nome da
era de que a "velocidade inicial" para desenvolver Fortale-
fortificação – que fazia referência ao governador holan-
za foi o Schoonenborch. Por isso, Girão defendia que o
dês de Pernambuco, Walter van Schoonenborch – para
aniversário de Fortaleza fosse comemorado em 10 de
Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Quando a ocu-
abril.
pação é elevada à condição de Vila, em 13 de abril de
1726, o povoado já carregava no nome a referência à an- O assunto rendeu intensa polêmica intelectual no começo
tiga edificação holandesa e tinha ela como “centro”. da década de 1960. O historiador Ismael Pordeus defen-
dia a comemoração do aniversário de Fortaleza a partir da
O receio de ataques por terra, no entanto, continuava o
fundação do Forte de São Sebastião, fundado em 20 de
mesmo, com os principais canhões da paliçada voltados
janeiro de 1612, por Martim Soares Moreno. Por trás da
não para o mar, como costume em ocupações portuárias,
controvérsia estava uma questão de fundo: a ideia de
uma cidade de origem portuguesa, portanto católica, ou Sebastião (GARRIDO, 1940:42). Foi batizado como Fort
holandesa e protestante. Schoonenborch, em homenagem ao governador neerlan-
dês de Pernambuco, ficando guarnecido por quarenta
Em meio às divergências, o aniversário de Fortaleza não homens e artilhado com onze peças de ferro (BARRETTO,
foi fixado oficialmente nem numa data nem na outra. Es- 1958:89). De pequenas dimensões, Matias Beck determi-
colheu-se 13 de abril de 1726, quando ocorreu uma forma- nou posteriormente a sua ampliação e reforço das obras
lidade: a transformação do povoado que já existia em vila, de defesa, de acordo com a planta do mesmo engenheiro
por decisão do rei de Portugal. Caar, o que foi iniciado a 19 de agosto de 1649 (BARRET-
TO, 1958:89).

Após a capitulação neerlandesa em Pernambuco, em


janeiro de 1654, assumiu o comando deste forte o Capi-
tão-mor Álvaro de Azevedo Barreto, que o rebatizou com o
nome de Forte de Nossa Senhora da Assunção, proce-
dendo-lhe reparos e iniciando a construção de uma pe-
quena ermida sob invocação dessa Santa (GARRIDO,
1940:43). O comando do forte foi assumido em 1655 por
Domingo de Sá Barbosa. Na ocasião, o governador da
Capitania do Maranhão, André Vidal de Negreiros (1606-
1680), ao qual se subordinava a Capitania do Ceará, in-
formou à Coroa Portuguesa o estado dessa fortificação,
pedindo para reedificá-la. A Carta Régia de 27 de julho de
1656 autorizou a levantar, no lugar deste forte em ruínas,
Dado o abandono do Fortim de São Sebastião, segunda um novo de pedra e cal ou mesmo de madeira de lei, o
tentativa de fixação dos colonizadores portugueses, uma que não foi executado. Desse modo, apenas foram sendo
nova posição defensiva na costa do Ceará foi erguida, por efetuados pequenos reparos na estrutura de faxina, a
neerlandeses, no contexto dos neerlandeses no Brasil cada novo comando, a saber:
(1630-1654).[2]
 Manoel Carvalho Fialho (1662);
Com o intuito de descobrir e explorar minas de prata, cuja  João Tavares de Almeida (1666);
existência fora anteriormente sugerida por Martim Soares  Bento Correia de Figueiredo (16??)
Moreno, partiu do Recife, a 20 de março de 1649, uma  João de Barros Braga (16??)
expedição da Companhia Neerlandesa das Índias Ociden-  Sebastião Sá (1684) (GARRIDO, 1940:43)
tais (WIC), sob o comando de Matias Beck, integrada por
indígenas nativos do Ceará.[3] O forte foi reedificado em 1698, mas ainda em madeira e
com pequenas dimensões.
Tendo chegado ao Ceará a 3 de abril, como primeiro ato
desta nova tentativa colonizadora, surgiu a necessidade Uma planta apresentada pelo Sargento-mor Engenheiro
da construção de um forte, que servisse como abrigo para Diogo da Silveira Veloso para nova edificação do forte em
as tropas, o aparato administrativo e todo o material ne- pedra e cal (1708) não foi aprovada, tendo lugar uma re-
cessário.[4] forma em 1716. O mesmo ocorreu anos mais tarde (1729)
quando uma comissão de engenheiros, integrada pelo
Feito o reconhecimento do local do abandonado Fortim mesmo Diogo da Silveira Velloso se manifestou contrária
de São Sebastião, na altura da atual Barra do Ceará, con- à edificação de uma obra de pedra e cal, optando por pe-
cluiu-se que não era o mais adequado à defesa, tendo quenos reparos a serem feitos, substituindo a carnaubeira
Beck optado por nova localização, no monte Marajaitiba, à por outra madeira mais resistente, procedendo-se a me-
margem esquerda da foz do riacho Marajaitiba (riacho lhorias em 1745 (GARRIDO, 1940:43; BARRETTO,
dos Catolé, em tupi-guarani).[4] 1958:90).

Com traçado de autoria do engenheiro inglês Richard Em 1749, a praça estava guarnecida por duas companhi-
Carr,[5] as tropas de Matias Beck limparam o terreno a 9 as (dois capitães, dois alferes, dois artilheiros e duzentos
de abril de 1649, erguendo uma cerca de pau-a-pique do e quarenta soldados), e artilhada com cinco peças de
dia 10 ao dia 22 do mesmo mês, deixando por instalar o bronze (uma de 8 libras, duas de 5, e duas de 2), e sete
portão e concluir duas baterias (GARRIDO, 1940:42). Inici- peças de ferro (cinco de 10 e duas de 3). No governo de
almente de madeira (estacas de carnaúba) e terra, sua Mountari (1756), iniciou-se a construção de um reduto de
planta apresentava a forma de um polígono pentagonal, madeira e terra apiloada, mais tarde artilhado com doze
cercado com parapeito e paliçada (BARRETTO, 1958:89), peças (Reduto da Prainha). Em 1782 as defesas do forte
aproveitando material e artilharia do antigo Fortim de São
ainda não haviam sido reconstruídas, situação que perdu- Os povos originários dos Países Baixos invadiram Forta-
rava ainda em 1790 (BARRETTO, 1958:90-91). leza em dois momentos distintos: em 1637, sendo expul-
sos pelas tribos indígenas da região poucos anos depois;
Em comunicação de 29 de outubro de 1799, o governador e em 1649, sendo combatidos por portugueses até deixa-
da Capitania do Ceará, Bernardo de Manoel de Vasconce- rem a região cinco anos depois. Na segunda invasão, foi
los, reclamou do estado de ruína da fortificação, relacio- construído pelos holandeses o Forte de Schoonenborch.
nando a sua reduzida guarnição (um comandante, ele Após o completo domínio português, o nome do referido
próprio, um tenente, um sargento, um furriel, um cabo, um forte foi alterado para Fortaleza de Nossa Senhora da
tambor e 22 soldados) e artilharia (uma peça de bronze de Assunção. A partir de então, desenvolveu-se o povoamen-
calibre 7 libras e sete de ferro, uma de calibre 9 libras, to urbano da cidade. O nome do município, Fortaleza, é
uma de 8, quatro de 6 e uma de 5, todas em mau estado). justamente uma referência ao forte histórico da cidade,
Deste período, existe planta, tirada pelo Comandante do construído pelos holandeses e dominado por portugueses
Corpo de Artilheiros Tenente Francisco Xavier Torres nas disputas empreendidas pela posse das terras do lito-
(Planta da Fortaleza da Vila de Nossa Senhora de Assun- ral cearense durante o período do Brasil Colônia.
ção e do Reduto de S. Luís na ponta de Mucuripe, c. 1800.
Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:49). Em O Forte de Schoonenborch foi construído por holandeses
1802 foi erguido um quartel (BARRETTO, 1958:91). durante o segundo período de ocupação do litoral cearen-
se pelos colonizadores dos Países Baixos. [1]
Este forte, à sombra do qual progrediu, no século XVIII, a
Vila de São José de Riba-Mar, futura capital com o nome O crescimento urbano do povoado culminou na sua ele-
Fortaleza, desmoronou em 1812. Foi sucedido pela Forta- vação em vila, mais precisamente em 1726, e, posterior-
leza de Nossa Senhora da Assunção. mente, em cidade, em 1823. O incremento populacional
da cidade de Fortaleza se deu, prioritariamente, em razão
VISÃO GERAL SOBRE do intenso fluxo de imigrantes internos do estado do Cea-
A HISTÓRIA DE FORTALEZA rá, que fugiam da seca, característica do interior do esta-
do. Mais recentemente, os processos de urbanização e de
industrialização resultaram em uma elevada concentra-
ção de população no território fortalezense, reconhecida
como a capital brasileira com o maior percentual de den-
sidade demográfica. Logo, a cidade se tornou o principal
polo político, econômico e turístico do Ceará e umas das
principais cidades do Brasil.

O processo de ocupação de Fortaleza, quando comparado


às demais capitais litorâneas nordestinas, foi tardio, prin-
cipalmente em razão da dificuldade dos portugueses em
dominar os índios, povos tradicionais da região, como os
potiguaras. A ocupação efetiva do atual território fortale-
zense se deu somente em 1612, por meio da fundação do
primeiro forte da cidade, chamado de Forte de São Sebas-
tião. Porém, a ocupação militar portuguesa não impediu a
continuidade do conflito com os indígenas, bem como a
invasão de tropas estrangeiras na região, mais precisa-
mente dos holandeses.
Uma lápide comemorativa, colocada na muralha externa
Norte quando da inauguração da fortaleza, reza, em latim:

"Informem montem me derisere carinae, Nunc arcem


magnum respectu pavescunt:
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção localiza-se à Hic me Sampaius, sexto regnante Joanne,
margem esquerda da foz do riacho Pajeú, sobre o monte Fundavit pulchram; Pauleti refulget.
Marajaitiba, na cidade de Fortaleza, no litoral do estado Armis me fortem civilia dona
brasileiro do Ceará. Atualmente abriga a sede da 10ª Re- Muris me fortem reddunt stipendia Regis."
gião Militar do Exército Brasileiro. Sua construção data de
1649, pelos holandeses que deram o nome de Forte "Ano de 1817. As naus escarneciam de mim quando eu
Schoonemborch, depois retomado pelos portugueses que era um monte informe: agora que sou uma grande fortale-
passaram a denominar de "Fortaleza de Nossa Senhora za, de longe tomam-se de respeito. Aqui, reinando D. João
da Assunção". Embora a cidade de Fortaleza tenha se VI, Sampaio me fundou bela, o engenho de Paulet res-
expandido a partir desse forte, o seu marco zero fica na plandece. Os donativos dos cidadãos me tornaram forte
Praia da Barra do Ceará. pelas muralhas, e dos dispêndios reais me fazem forte
pelas armas."[4]
Antecedentes
O mesmo autor indica que, à época (1958), essa lápide se
Toda a costa cearense sofreu muito com as ameaças e encontrava no Museu do Estado do Ceará.
invasões holandesas na época do descobrimento. O pri-
meiro forte a ser levantado nessa mesma área foi o de No contexto da Revolução Pernambucana de 1817, numa
São Sebastião, a pedido de Martim Soares Moreno, que das celas desta fortificação esteve detida Bárbara de
veio com sua tropa de Natal, com a finalidade de proteger Alencar, líder revolucionária em Crato, no Ceará, conside-
as terras. Devido a sua pouca estrutura, ele foi derrubado rada localmente como a primeira prisioneira política da
pouco tempo depois. História do Brasil.

Foi justamente quando se iniciou uma nova fortaleza, Em 1821, o Governador Francisco Alberto Rubim solicitou
erguida pelos holandeses em 1649 e batizada de Forte 200$000 réis para a conclusão de suas obras, o que ocor-
Schoonenborch. Os domínios dessas terras permanece- reu no ano seguinte (17 de agosto de 1822). BARRETTO
ram até 1812, quando a Coroa Portuguesa retomou a Pro- (1958) informa que a sua artilharia foi aumentada para
víncia do Ceará e rebatizou a fortaleza de Fortaleza de trinta e uma peças de diferentes calibres a partir de 1829.
Nossa Senhora da Assunção.
O Mapa anexo ao Relatório do Ministério da Guerra de
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção 1847 aponta-lhe a ruína, dando-a como artilhada com
vinte peças. GARRIDO (1940) informa que recebeu repa-
Desmoronado o Forte de Nossa Senhora da Assunção ros em 1856. No ano seguinte, classificada como fortifi-
(1812), o governador da então Província do Ceará, Manuel cação de 2ª Classe (11 de fevereiro de 1857), encontrava-
Inácio de Sampaio e Pina Freire, deu início, no local, a uma se artilhada com trinta e duas peças: vinte e seis de alma
nova estrutura para a defesa daquela Capital. A pedra lisa (quatro de calibre 25 libras, duas de 18, nove de 12,
fundamental foi lançada a 12 de outubro de 1812, em cinco de 6, e seis de 3), e 6 de bronze La Hitte, raiadas,
homenagem ao aniversário do "sereníssimo Senhor Prín- calibre 12. Foi avaliada em 125:000$000 réis (3 de março
cipe da Beira, o senhor D. Pedro de Alcântara". de 1858). Sofreu reparos no contexto da Questão Christie
(1862-1865), em 1875, em 1883 (5:000$000 réis), e em
A planta, de autoria do Tenente-coronel Engenheiro Antó-
1886, quando foi novamente considerada como de 2ª
nio José da Silva Paulet, que dirigiu a sua construção,
classe.
apresenta a forma de um quadrado com 90 metros de
lado, com baluartes nos vértices, sob a invocação, respec- Entre 1846 e 1857 foram-lhe erguidos novos prédios, os
tivamente, de Nossa Senhora da Assunção (nordeste), quais sediaram diversas unidades militares como o 11º e
São José (sudeste), Dom João (noroeste) e Príncipe da o 15º batalhões de Infantaria, a Escola Militar do Ceará, o
Beira (sudoeste). Artilhada inicialmente com cinco peças, 22º e o 23º batalhões de Caçadores, entre outras.
foi custeada com fundos públicos (20:362$390 réis) e
doações particulares (16:113$267 réis), afora doações de Do século XX aos nossos dias
materiais e serviços, de voluntários e de escravos. GAR-
RIDO reporta que, em 1816, a fortaleza encontrava-se Fachada do edifício sede da 10.ª Região Militar
artilhada com vinte e sete peças.
No início da República Velha, em 1895 apresentava duas
baterias dispostas em andares e uma bateria a cavaleiro.
Também conhecida como Forte da Tartaruga, encontrava- Cruzando o Ceará no decorrer do Setecentos, a economia
se bem conservada (1906), e desarmada (1910). À época pecuarista, a despeito de sua baixa produtividade e pe-
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi guarnecida, quena rentabilidade, atribuiu sentido à ocupação e deu
entre 1917 e 1918, pela 1ª Bateria Independente do 3º forma e conteúdo à capitania.
Distrito de Artilharia de Costa, sob o comando do Capitão
Bernardino Chaves. BARRETTO (1958) complementa que A instalação dos boiadeiros aliada à da Igreja - domesti-
o quartel contíguo à fortaleza, que abrigava a guarnição, cando a população indígena que resistia à expansão do
foi ocupado pela 46ª Bateria Independente, mais tarde 46ª criatório - e à participação do Estado português - com a
Bateria de Costa. À época (1958), sediava o Quartel- fundação das vilas significou a possibilidade de capitali-
general da 10ª Região Militar, função que conserva desde zação em torno da atividade comercial da pecuária.
então.
O território cearense - como meio natural e base material
Museu e Phanteon do General Sampaio da existência - não se apresentou nada favorável à fixa-
ção dos primeiros conquistadores2. A conquista aconte-
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, atualmente ceu de forma bastante violenta. Somente passado o medo
funcionando como sede do Comando da 10ª Região Mili- da região, os desbravadores construíram suas fazendas e
tar, é um dos pontos turísticos mais conhecidos da capi- levaram suas famílias para o sertão3. O medo era resul-
tal cearense, tendo como destaques a própria história da tante da adversidade climática e da resistência indígena.
Fortaleza, o Museu e Phanteon do General Sampaio (Pa- Durante o século XVIII, a seca manifestou-se por cinco
trono da Arma de Infantaria), a prisão onde esteve Bárba- vezes por todo o Nordeste: 1721-1725; 1736-1737; 1745-
ra de Alencar e ainda a estátua de Martim Soares Moreno. 1746; 1777-1778; e 1791-17934. A Guerra dos Bárbaros5
O forte pode ser visitado mediante agendamento prévio foi apenas um dos capítulos da sangrenta conquista6.
junto à Comunicação Social da Região Militar. A visita é Além do embate com os índios, as brigas entre os sesmei-
feita na companhia de um militar que aborda tópicos de ros também coloriram de sangue a colonização.
interesse sobre o monumento, nomeadamente a praça de
armas, a cela onde esteve detida Bárbara de Alencar e a Toda a ocupação e a fixação encontraram apoio no sis-
capela do forte. tema de sesmarias. Os primeiros sesmeiros não só foram
os primeiros donos da terra como também ocuparam
13 de abril de 1726 - Fortaleza é elevada à categoria de postos militares e funções de ordenanças nas câmaras
Vila... das vilas fundadas7.

Durante o primeiro século de colonização portuguesa, a A análise das justificativas das concessões demonstra
capitania do Ceará não despertou o interesse de seu do- que a atividade criatória foi a principal responsável pela
natário, dom Antônio Cardoso de Barros. Somente em ocupação da capitania. Das 2472 datas solicitadas entre
1603, o fidalgo Pero Coelho de Sousa desembarcou na foz 1679 e 1824, 90,85% tinham como justificativa a necessi-
do rio Ceará, erguendo em suas margens um pequeno dade de terra para a pecuária8.
forte e dando início a um povoado, que não se desenvol-
veu. Em 1612, Martim Soares Moreno, que havia acompa- Sobre o lugar de alguns primeiros aldeamentos no Ceará
nhado Coelho naquela expedição, retornou ao local. Re-
Até o ano de 1700, identificamos quatro aldeamentos sob
cuperou o forte que estava abandonado e construiu a
os cuidados dos Clérigos do Hábito de São Pedro; além
Capela de Nossa Senhora do Amparo. Foi esse capitão
da missão dos jesuítas na serra da Ibiapaba, definitiva-
português, Martim, que serviu de inspiração para um dos
mente instalada por volta de 1695. Não nos foi possível
personagens centrais do romance "Iracema", de José de
determinar suas durações. Dos quatro, dois estavam loca-
Alencar, que pretende narrar justamente as origens.
lizados na Ribeira do Jaguaribe e dois nas proximidades
A ocupação do território e os agentes econômicos da futura vila de Fortaleza. Em 1696, os índios paiacus
foram reunidos na Aldeia de Nossa Senhora da Madre de
No final do século XVII e nos primeiros anos do século Deus (Aldeia Velha), a meia légua20 do monte Arerê, atual
XVIII, após as decisões régias portuguesas1 de no Brasil Itaiçaba, na Ribeira do Jaguaribe, sob a ação do clérigo
reservar a faixa litorânea nordestina unicamente para a João da Costa21. Em 1697, os índios jaguaribaras e ana-
produção do açúcar, os criadores de gado, com suas boi- cés foram aldeados em Parnamirim, a sete léguas de For-
adas, partiram em direção à capitania do Maranhão em taleza, pelo clérigo João Leite de Aguiar22. No ano se-
busca de novas pastagens. A expulsão da pecuária impli- guinte, em 1698, Nobre faz referência a um aldeamento
cou uma primeira separação geoeconômica no Nordeste nas proximidades da futura vila de Nossa Senhora da
brasileiro. Enquanto a atividade açucareira desenvolveu- Assumpção, sob a atenção do também clérigo João Alva-
se no próximo e rico litoral, ao criatório restou o longínquo res da Encarnação23. Em 1699, o clérigo padre João da
e pobre sertão. Costa cria um novo aldeamento (Aldeia Nova) na Aldeia
de Nossa Senhora da Montanha, localizada a 14 léguas Em 17 de fevereiro de 1777, D. Tomás da Encarnação
da antiga Aldeia Velha. Costa e Lima, bispo de Pernambuco, apresentou ao rei de
Portugal D. José I uma relação de todas as igrejas paro-
As primeiras capelas quiais que pertenciam ao bispado pernambucano - que se
estendia desde a foz do São Francisco até Fortaleza, no
Em alguns casos, após o erguimento das fazendas de
Ceará, fazendo limite com o do Pará, a oeste, e com o
gado, os sesmeiros requeriam permissão ao bispado de
arcebispado da Bahia, ao sul -, abrangendo várias capita-
Pernambuco31 para construção de uma ermida, onde
nias. Segundo D. Tomás da Encarnação, todas as capelas
poderiam ouvir as missas celebradas por capelães. A
do bispado ou eram de engenhos necessárias para a ce-
permissão significava assistência religiosa. As ermidas
lebração do Santo Sacrifício da Missa e administração
eram construídas em terras doadas32por um ou mais de
dos Sacramentos aos trabalhadores dos mesmos, ou são
um proprietário de terra, contribuindo para a formação do
edificadas pelos povos circunvizinhos com patrimônio
patrimônio eclesiástico na capitania cearense. Juntamen-
competente, nas distancias grandes das suas Matrizes
te com a fixação dos boiadeiros, a Igreja reafirmava, as-
para o referido fim dos Sacramentos e Santo Sacrifício,
sim, sua presença no território instalando-se nas terras
conservando-se nelas hum Sacerdote com licença do
oferecidas.
próprio Paroco, sem alguns encargos de encapelados.
Nobre assevera que, muito provavelmente, "excluídas a do
O desenho das vilas cearenses no início do século XIX
Forte de Nossa Senhora da Assumpção e as das aldeias
dos missionários"33, a capela dedicada à Nossa Senhora A reconstituição gráfica da organização espacial proposta
do Ó cujo patrimônio fora doado pela família Montes na pelos portugueses por meio dos dados fornecidos no
ribeira do rio Salgado, no lugar da futura matriz de Nossa Termo de Demarcação, demonstra que, entre as vilas fun-
Senhora da Expectação do Icó, foi a primeira a erigir-se no dadas no Ceará, a única executada de modo fiel à legisla-
Ceará. A Carta Régia fundacional da Vila de Nossa Senho- ção foi a vila de índio Monte-mor o Novo d'América57,
ra da Expectação do Icó, de 1736, determinou a criação de verdadeira expressão pombalina na capitania cearense.
uma "nova Villa no Icó junto aonde se acha a Igreja Ma- Nem mesmo nas duas principais vilas do Ceará setecen-
triz"34. tista - a vila do Icó e a vila do Aracati, que ocupam posi-
ções estratégicas para as atividades em torno da pecuá-
Por volta de 1793, Manuel da Cunha Pereira, o capitão
ria - os desígnios urbanísticos portugueses foram implan-
comandante da Ribeira do Jaguaribe, pediu licença à rai-
tados com tanta fidelidade.
nha D. Maria I para edificar uma ermida em homenagem a
Nossa Senhora das Dores, em sua fazenda chamada Bo-
A despeito das diretrizes urbanísticas da Carta Régia da
queirão, localizada na freguesia das Russas35. O docu-
Vila de Santa Cruz do Aracati, que propunham a instala-
mento expressa os procedimentos que provavelmente
ção da praça fundacional um quilômetro ao norte do anti-
todos os detentores de terra, durante o século XVIII, devi-
go povoado do porto das Barcas, e dos problemas relaci-
am ter seguido ao requerer ao bispado de Pernambuco a
onados à salubridade pública resultantes da presença das
construção das primeiras capelas no território cearense.
salgadeiras das carnes cearenses, o Aracati desenvolveu-
A requisição implicava na doação de terras para o orago
se no entorno da antiga povoação, onde já moravam os
correspondente à igreja, contribuindo para o patrimônio
envolvidos com a atividade econômica da pecuária; ou
religioso da capitania do Ceará.
seja, o abate, a salga e comercialização do charque.
As freguesias
No início do século XIX, a vila não passava de uma longa
Além da construção das ermidas e capelas, e sua eleva- rua entrecortada por becos e travessas. Ela foi descrita
ção à condição de igreja matriz, o bispo de Pernambuco pelos viajantes Henry Koster58e George Gardner59, e
cuidou de ordenar a demarcação dos limites das fregue- desenhada, em 1813, por Antonio José da Silva Paulet,
sias cearenses, que seriam frequentemente percorridas engenheiro-mor do Reino, e, em 1825, por João Bloem,
por padres visitadores angariando fundos para os cofres capitão do Imperial Corpo de Engenheiros. Tanto na des-
portugueses. crição como nos desenhos, o Aracati não passava de
comprida rua, sem presença de praça central. Também
Em sua grande maioria, as vilas foram fundadas onde já não se encontravam, na área determinada para a praça, a
existiam paróquias, o que confirma a precedência da or- Casa de Câmara e Cadeia tampouco a Igreja Matriz60.
ganização religiosa quanto à organização político-
administrativa37. Durante o século XVIII, o número de Na Planta do porto e da Vila do Aracati elaborada por Sil-
freguesias superou o número de vilas criadas no Ceará. A va Paulet em 1813, e na Planta da Barra e rio de Jaguari-
capitania alcançou o século XIX com 17 freguesias e 14 be, do engenheiro João Bloem, de 1825, que contém em
vilas. detalhe o desenho do Aracati, a vila não passa de uma
longa rua - que congregava as do Pelourinho, das Flores e
de Santo Antônio - paralela ao rio Jaguaribe. Margear o rio campado, na maioria das vezes desprovido de sombra, -
foi, ainda na primeira metade do século XVIII, uma das na extremidade oposta ao ancoradouro. Durante a segun-
primeiras prerrogativas das ordenações régias. As demais da metade do século XVIII, o seu caráter simbólico de
ruas presentes nos livros de aforamentos do século XVIII centro cívico, marco número um de demarcação da vila ou
não são demarcadas; excetuando-se um pequeno trecho de onde todo o restante se origina e por analogia "centro
da rua Direita, em um espaço compreendido entre a Igreja do mundo, do berço da vida e da civilização"61, que a
dos Prazeres e a do Rosário dos Pretos, na rua do Piolho. presença do pelourinho só reforçava esvai-se completa-
mente. E esvai-se por não ocupar uma posição central na
O desenho de Paulet apresenta uma vila bastante alinha- vila, por continuar no extremo sul do Aracati, pela transfe-
da, reta e sem interrupções, não chegando às minúcias rência do pelourinho para outra praça no norte da vila,
dos becos e travessas que cortavam a rua principal em onde estava a Casa de Câmara e Cadeia, e pelo sentido
toda a sua extensão, tampouco expressando os vazios aglutinador do espaço setentrional do núcleo, onde se
das quadras e a falta de alinhamento de certos trechos. davam a produção da carne salgada, as transações co-
Já o risco de Bloem se aproxima mais da realidade. O merciais, e onde se concentraram os setores mais abas-
alinhamento não é tão rigoroso, sendo demarcados os tados, a maioria dos seus sobrados, e os edifícios institu-
espaços vazios entre as quadras, ou no meio delas, e as cionais representativos do poder público e religioso; e
várias transversais que cortavam a rua principal. Do lado tudo isto nas proximidades do porto.
nascente, podem-se contar cinco travessas e, já quase no
extremo norte da vila, uma área livre com um ponto cen- Em agosto de 1836, o inglês Gardner deixou o Aracati em
tral dentro do alinhamento das quadras, que acreditamos direção ao Icó. Segundo o viajante, o núcleo consistia de
ser a nova praça do Pelourinho, onde, defronte, estava a "três ruas principais", que corriam no sentido norte-sul,
Casa de Câmara e Cadeia, após sua retirada dali onde cortadas por outras menores. A principal rua era larga e
outrora fora pensado o lugar da praça. No poente, identifi- tinha "algumas lojas bem sortidas"62. O espaço do Icó foi
cam-se sete pequenas ruas transversais e, também, mais descrito sem qualquer referência à praça idealizada há
para o norte, mas ainda no alinhamento da rua principal e cem anos pelos portugueses63.
antes da última quadra, uma área livre, sem uma clara
definição se era uma praça ou não, mas certamente ainda Primórdios da organização do espaço territorial e das
desocupada. O desenho de Paulet traz somente a Igreja vilas cearenses: a falta de investimento
Matriz de Nossa Senhora do Rosário; e o de Bloem, além
dessa, outra que acreditamos ser a do Rosário dos Pre- Para a organização espacial do território das vilas criadas,
tos. Em ambos não são representadas a Igreja do Bom- foram fundamentais as relações estabelecidas entre elas.
fim, a Igreja dos Prazeres e a capela para Nosso Senhor Contudo, como a produtividade e a rentabilidade da pecu-
dos Navegantes, aforada no início do século XIX, na tra- ária continuaram pequenas por todo o século, não houve
vessa que ligava a rua de Santo Antônio e a Matriz. razão nem justificativa econômica suficientemente forte
para um investimento técnico e de capital, por parte dos
Comparando-se o que, nos desenhos de Paulet e Bloem, portugueses, para adequar plenamente as especificidades
se apresenta como construído não só com a área da vila - locais às suas necessidades lusitanas, ou vice-versa.
apreendida pela localização das ruas listadas nos termos Também logo se desfez o sonho do eldorado de minas de
de cordeação (alinhamento) do Livro de Aforamentos de prata e de ouro no sertão.
1775 - mas também com os limites estabelecidos pela
medida de n. 10 do provimento de 1780 - que determinava Além da inexistência de razões econômicas, também não
uma poligonal de crescimento do núcleo em decorrência houve motivos geopolíticos que justificassem maiores
da extrema dispersão que a sua materialidade construída investimentos tecnológicos na capitania, fossem relativos
apresentava cerca de trinta anos após a sua fundação -, à sua defesa ou às instalações de suas vilas. Primeiro,
conclui-se que ela, com exceção de sua rua principal, con- porque a soberania portuguesa na região, desde a expul-
tinuava inteiramente dispersa no início do século XIX, sem são dos holandeses em 1654, já não era ameaçada por
uma definição clara de seu arruamento, a ponto de não estrangeiros; depois, porque, já no Tratado das Tordesi-
serem as demais ruas levadas em consideração nos de- lhas, a zona sertaneja do Nordeste do Brasil - e, em nosso
senhos dos engenheiros. caso, o atual território do estado do Ceará já pertencia a
Portugal. Além disso, a caminho da região amazônica, era
Também no desenho de ambos não há sinal da praça, bem mais fácil alcançar-se o Maranhão e o Pará por mar,
demonstrando que ela não foi formalmente estruturada, e vindo diretamente de Lisboa, do que cruzando o sertão.
que a condição, periférica e residual, da área idealizada
para sua locação no extremo sul da vila manteve-se no Não é difícil afirmar que o Ceará, ocupando uma posição
decorrer dos anos. A praça nunca deixou de ser um gran- periférica no conjunto dos interesses econômicos e geo-
de areal - como se denomina no Ceará um grande des- políticos portugueses, ficou à margem das ações que
envolveram investimentos tecnológicos com vistas à le de Portugal sobre a região e com as desigualdades
adequação das capitanias e de suas vilas às ações lusi- sociais existentes. O acontecimento da Revolução Per-
tanas ordenadoras do espaço. Não é à toa que, até o final nambucana estava diretamente relacionado com os des-
do século XVIII, têm-se notícias de somente quatro enge- dobramentos da transferência da Corte portuguesa para o
nheiros na capitania cearense, e que eles quase nada Brasil.
propuseram.
Antecedentes
O espaço como síntese de múltiplas ações
Semelhantemente à Inconfidência Mineira e à Conjuração
Os vaqueiros e boiadeiros não foram apenas os primeiros Baiana, a Revolução Pernambucana teve caráter separa-
desbravadores, mas os futuros sesmeiros, proprietários tista e defendia o sistema republicano. No entanto, essa
de terras e das fazendas de gado, e, em alguns casos, revolta foi o único movimento dos três que conseguiu
futuros representantes do Estado português no território superar a fase conspiratória e deflagrar, de fato, a revolu-
cearense. Eles se estabeleceram às margens dos rios, ção, chegando, inclusive, a tomar o poder de Pernambuco
onde o mínimo de pastagem para as boiadas era possível. e instalar um governo provisório.
Junto com os fazendeiros, os representantes da Igreja
chegam ao Ceará ou fixando-se nos efêmeros aldeamen- A Revolução Pernambucana foi resultado das insatisfa-
tos ou como párocos itinerantes que, de capela em cape- ções locais que já existiam havia um certo tempo e que
la, difundiram os princípios contrarreformistas, sempre foram aumentadas com a transferência da Corte portu-
procurando apaziguar a população indígena, que resistia guesa para o Brasil. Essa mudança ocorreu em 1807 e
ao avanço da atividade criatória. Mas os representantes 1808 por causa da invasão de Portugal pelas tropas napo-
da Igreja não cumpriram apenas um papel catequético: leônicas.
muitos religiosos tornaram-se ainda proprietários de terra,
donos de boiadas e construíram suas próprias fazendas O descontentamento com a presença da Corte portugue-
de gado. Por quase todo o século XVIII, a Igreja esteve, sa no Brasil era explicado pelo aumento dos impostos,
também, intimamente associada ao Estado lusitano, dan- realizado para manter os luxos da família real portuguesa
do suporte ideológico à conquista. e para financiar as campanhas militares que eram trava-
das na Cisplatina. Além disso, D. João VI também havia
O Estado, ao fixar-se no território cearense, elegeu lugares nomeado portugueses a cargos públicos importantes,
estratégicos onde outrora havia as primeiras fazendas e a principalmente no exército, prejudicando as elites locais.
Igreja já havia se implantado - para uma melhor capitali-
zação da economia pecuarista. Na maioria das vezes, o Essa insatisfação pernambucana com o domínio portu-
lugar da vila fundada durante o século XVIII pelos lusita- guês, no entanto, era antigo. No começo do século XIX,
nos já fora o lugar de uma fazenda de gado ou de uma em 1801, uma conspiração foi denunciada e desmontada
pequena ermida. Somente após sua emancipação política pelas autoridades portuguesas. Conhecida como Conspi-
em relação à capitania de Pernambuco fora a capitania ração dos Suassunas, ela já evidenciava a existência de
cartografada pelos engenheiros do Reino e por um padre um alto grau de descontentamento com a Corte naquela
Visitador. A rede urbana, do início do século XIX, seguiu capitania.
os caminhos naturais do sertão, trilhados primeiramente
pela população indígena, mas também pelos vaqueiros, A Revolução Pernambucana foi um movimento que se
pelos representantes da Igreja e, por fim, pelo próprio inspirou nos ideais liberais difundidos à época pelo Ilumi-
Estado português. nismo. A presença dos ideais iluministas na região deveu-
se à existência de uma loja maçônica conhecida como
A conquista e a fixação foram pautadas por uma rede de Areópago de Itambé. Além disso, esses ideais liberais
consensos e intrigas97. Os diversos agentes uniram-se eram largamente propagados na comunidade eclesiástica
das mais diversas formas e em tempos diferenciados, local a partir do Seminário de Olinda.
transformando o espaço. Alternam-se Estado e Igreja,
Igreja e fazendeiros, fazendeiros e Estado, o Estado e os A Revolução Pernambucana
índios, marcando suas presenças no território, alterando
lentamente, por todo o século XVIII, a paisagem natural do A Revolução Pernambucana iniciou-se no dia 6 de março
sertão e do litoral do Ceará. de 1817, com a morte do brigadeiro português Manoel
Joaquim Barbosa de Castro. O brigadeiro português foi
A Revolução Pernambucana de 1817: Foi um movimento morto quando estava cumprindo as ordens do governador
que aconteceu na Capitania de Pernambuco durante o local de prender o capitão José de Barros Lima, denuncia-
período colonial. Esse movimento de caráter separatista e do por participar de uma conspiração. Barros Lima reagiu
republicano manifestou a insatisfação local com o contro- à voz de prisão, o que resultou na morte de Castro.
Após esse evento, a revolta espalhou-se por Recife e le- gurou poderes absolutistas. Além dessa oposição ao arbí-
vou à tomada da cidade pelos revolucionários. O gover- trio do imperador, a confederação pretendia implantar o
nador da capitania de Pernambuco abrigou-se em um regime republicano. As tropas imperiais conseguiram
forte local, o Forte do Brum, e logo embarcou para a cida- abafar o movimento e matar seus líderes.
de do Rio de Janeiro. Após conquista de Pernambuco, os
revolucionários instalaram um Governo Provisório. A Confederação do Equador foi um movimento revolucio-
nário iniciado em Pernambuco, em 1824, e que se espa-
Esse Governo Provisório aprovou uma série de medidas lhou para outras províncias nordestinas, como Rio Grande
que foram colocadas em vigor: foi proclamada a Repúbli- do Norte, Paraíba e Ceará. Os revoltosos se opuseram à
ca na Capitania de Pernambuco, decretada a liberdade de forma autoritária com que a Constituição de 1824 fora
imprensa e credo, instituído o princípio dos três poderes e elaborada e publicada pelo imperador Dom Pedro II. Além
aumentado o soldo dos soldados. Todas essas mudanças disso, a Confederação pretendia implantar o regime repu-
iam em direção dos ideais liberais, apesar disso, os revo- blicano.
lucionários optaram por manter a instituição da escravi-
Antecedentes da Confederação do Equador
dão.
Logo após a proclamação da independência do Brasil, foi
Esse fato explicava-se pela quantidade de grandes fazen- convocada uma Assembleia Constituinte, em 1823, com o
deiros que haviam aderido ao movimento. A abolição do intuito de elaborar a primeira Constituição brasileira. Na
trabalho escravo não era do interesse dessa classe e, abertura dos trabalhos da assembleia, o imperador Dom
além disso, a defesa dos “direitos iguais” por grande parte Pedro I fez um discurso e afirmou que a Constituição de-
dos revolucionários partia muito de um ponto de vista veria ser “digna do Brasil e de mim mesmo”, uma clara
elitista, que tendia a ignorar os interesses da massa popu- demonstração de que o texto constitucional deveria se-
lar e dos menos favorecidos. guir as vontades do monarca. Ao votarem os poderes do
imperador, os Constituintes decidiram pela limitação, o
Os grandes nomes da Revolução Pernambucana foram que provocou violenta reação de Dom Pedro, ordenando o
Domingos José Martins, José Barros Lima, Padre João fechamento da Assembleia e a prisão dos constituintes.
Ribeiro e Cruz Cabugá, entre outros. Cruz Cabugá, inclusi-
ve, foi enviado em missão diplomática aos Estados Uni- Em 1824, Dom Pedro I outorgou a Constituição do império
dos durante a revolução. Com 800 mil dólares em mãos, brasileiro que lhe garantiu amplos poderes por meio da
Cabugá tinha a tarefa de comprar armas e contratar mer- criação do Poder Moderador. Ao fechar a assembleia e
cenários, além de obter o apoio do governo americano ao elaborar uma Constituição sem nenhuma discussão, ele
movimento pernambucano. mostrou os perigos do seu autoritarismo. Contudo, o Nor-
deste não aceitaria a centralização do poder político de
A duração da Revolução Pernambucana foi razoavelmen- forma passiva. Os pernambucanos decidiram pegar em
te curta. A reação portuguesa foi intensa, e uma frota foi armas para lutar contra o autoritarismo do governo cen-
enviada do Rio de Janeiro com o objetivo de bloquear a tral.
cidade de Recife. Também foram enviados soldados por
terra da Bahia com a missão de invadir essa cidade. A O Nordeste atravessava um momento crítico nos primei-
derrota dos revolucionários aconteceu oficialmente no dia ros anos do Brasil independente. Desde a crise do açúcar,
20 de maio de 1817. logo após a expulsão dos holandeses, no século XVII, que
a economia da região não conseguia se desenvolver ple-
A repressão ordenada por D. João VI foi violenta, com os namente como nos tempos coloniais. A crise econômica
principais nomes da Revolução Pernambucana sendo se associou aos problemas sociais e disputas de poderes
severamente punidos. Domingos José Martins, por exem- dentro das províncias. A alta carga tributária também
plo, foi arcabuzado (fuzilado). Outros envolvidos, além de desagradou aos nordestinos.
arcabuzados, foram martirizados e muitos ainda ficaram
Enquanto o Brasil se tornava uma monarquia, as antigas
presos por anos.
colônias espanholas se tornavam republicanas, tal qual
os Estados Unidos, que haviam se tornado referência no
A confederação do Equador
processo emancipatório. Ao seguir o caminho oposto,
alguns grupos das províncias decidiram organizar movi-
A Confederação do Equador foi um movimento revolucio- mentos armados para derrubar o monarca autoritário e
nário que se iniciou em Pernambuco e logo alcançou ou- implantar a república no Brasil. Contudo, o governo cen-
tras províncias vizinhas. Os revoltosos se levantaram tral estava decidido a enviar suas tropas e usar todas as
contra o governo central por causa do autoritarismo de forças disponíveis para abafar essas revoltas.
Dom Pedro I ao fechar a Assembleia Constituinte de 1823
e impor uma Constituição, no ano seguinte, que lhe asse-
Motivos da Confederação do Equador: belecido. Frei Caneca e Cipriano Barata eram entusiastas
da ampliação dos direitos políticos e de reformas sociais,
 Crise econômico-social; o que contrariava interesses das demais lideranças.
 Altos impostos;
 Autoritarismo de Dom Pedro. Dom Pedro I pediu empréstimos à Inglaterra para financi-
ar as tropas que lutaram contra a Confederação do Equa-
Líderes da Confederação do Equador: dor. As discordâncias entre seus líderes fizeram com que
o movimento se enfraquecesse, facilitando a vitória das
 Frei Joaquim do Amor Divino, mais conhecido como tropas imperiais. Os revoltosos foram presos, condenados
Frei Caneca, foi o líder mais conhecido da revolta. e alguns executados, como Frei Caneca.
Nascido em 20 de agosto de 1779, no Recife (PE), ele
participou tanto da Confederação do Equador como da Consequências da Confederação do Equador:
Revolução Pernambucana, em 1817, na qual os per-
nambucanos se levantaram contra a presença da famí- Com a derrota da Confederação do Equador, Dom Pedro I
lia real portuguesa no Rio de Janeiro. Frei Caneca era conseguiu impor sua força nas províncias nordestinas,
jornalista e fundou o periódico Tiphys Pernambucano, mas não o suficiente para pacificar a região, pois os ide-
que divulgou os ideais dos revoltosos. As tropas impe- ais republicanos ainda permaneceriam e motivariam ou-
riais o prenderam e ele foi julgado e condenado à mor- tras revoltas durante o Período Regencial. A revolta em
te, apesar dos apelos para que se preservasse a sua Pernambuco mostrou também que a imprensa tinha po-
vida. No dia 13 de janeiro de 1825, Frei Caneca estava der de difundir ideias e motivar rebeliões contra o império.
no Forte das Cinco Pontas para ser enforcado, porém
os três carrascos se recusaram a executar o líder re-
belde. A Comissão Militar ordenou então o seu fuzila-
mento. Seu corpo foi deixado em frente ao Convento
das Carmelitas, dentro de um caixão de pinho. Os pa-
dres o recolheram e enterraram.

 Cipriano Barata foi jornalista e um dos líderes da Con-


federação do Equador. Tal qual Frei Caneca, Cipriano
Barata também foi jornalista e colaborou na divulga-
ção dos ideais da Confederação do Equador. Nascido
em Salvador, em 26 de setembro de 1762, Barata este-
ve presente nas revoltas ocorridas no Brasil durante o
período anterior à independência, como a Conjuração
Baiana (1798) e a Revolução Pernambucana (1817).
Ele se uniu a Frei Caneca e se tornou um dos líderes da
Confederação do Equador. Ao contrário do religioso,
Barata foi preso na Fortaleza do Brum, no Recife, em
1825. Ele foi solto e manteve sua atividade jornalística
até sua morte em 1º de julho de 1838.

O autoritarismo de Dom Pedro I se mostrou na outorga da


Constituição de 1824 e, em Pernambuco, na deposição do
governador da província Manuel de Carvalho Paes. Essa
deposição foi o estopim para que as lideranças do movi-
mento iniciassem a revolta contra o governo central. Logo
outras províncias nordestinas, como Rio Grande do Norte,
Ceará e Paraíba, aderiram à Confederação do Equador. O
nome era uma referência à linha imaginária homônima
que passava próxima à região do conflito.

Enquanto lutavam contra o império, os revoltosos não se


mostraram dispostos a nenhuma negociação e implanta-
ram um novo governo que aboliu a escravidão e criou
uma Constituição liberal republicana. O movimento ra-
chou quando algumas lideranças se afastaram por causa
da radicalização das medidas adotadas pelo poder esta-
considerada uma grande cidade resultante da moderniza-
ção, desde que se constitua centro de produção e difusão
de inovações, além de ser uma aglomeração (AMO-
RA,1999:33).

Amora também distingue entre desenvolvimento da me-


O crescimento da cidade de Fortaleza tornou-se visível, trópole e metropolização, apoiada em Ascher, que identi-
em termos de sua malha urbana e de verticalização dos fica na metropolização um processo que transcende a
seus solos, durante os anos 1970, quando a Região Me- metrópole. O desenvolvimento da metrópole se faz não só
tropolitana de Fortaleza (RMF) foi constituída oficialmen- pela concentração populacional, mas pelo dinamismo das
te. Notava-se uma crescente disparidade na distribuição atividades e volume de riquezas. Lembra ainda, o que
da população no território cearense, colocando a Capital observa Ledo, quanto à região metropolitana, que inclui
em primazia absoluta, pelo avançado processo de expan- mais de uma cidade e possui um núcleo principal.
são urbana e concentração demográfica, embora em rela-
ção às metrópoles nacionais, tais como Rio de Janeiro e Para Santos, também citado por Amora, uma região me-
São Paulo, houvesse um distanciamento negativo, pondo tropolitana compreende áreas onde diversas cidades inte-
em dúvida sua natureza de metrópole. ragem com freqüência e intensidade, mostrando uma
interdependência funcional baseada em infra-estrutura
Na literatura local, encontram-se diversas opiniões ques- urbana e na divisão do trabalho (AMORA,1999:34)
tionando a criação da RMF, argumentando que tal região
ainda não estaria plenamente constituída, portanto, não Desses conceitos apreende-se a noção de forma e conte-
justificando a força de um decreto nesse sentido. Entre- údo de uma metrópole e de uma região metropolitana,
tanto, esses mesmos estudiosos reconheciam a existên- bem como se percebe o fenômeno de metropolização
cia de uma aglomeração urbana, sobre a forma de «ma- enquanto processo inerente ao crescimento e à aglome-
crocefalia», determinada essencialmente pelo intenso ração urbana da metrópole. Por aglomeração urbana en-
processo de migração do interior para a capital, muitas tendendo-se a concentração de pessoas e atividades, que
vezes diretamente proveniente das áreas rurais. torna o espaço físico relativamente reduzido, com ten-
dências à verticalização e, simultaneamente, à expansão
O aprofundamento desse questionamento é o que este para territórios vizinhos, extrapolando fronteiras (MA-
ensaio procura desenvolver, buscando, primeiramente, os TOS,1998:1).
elementos históricos de explicitação da organização es-
pacial do território cearense, em particular da RMF, a par- A migração, por sua vez, é um fenômeno social conceitu-
tir das relações sociais e dos deslocamentos internos da ado de diferentes maneiras conforme corrente teórica
população (colonos brancos, índios e negros); em segui- interpretativa, mas esses conceitos possuem elementos
da, destacando a componente migratória na compreen- comuns de mensuração no espaço e no tempo, pois no
são das novas espacialidades no início dos processos de geral se referem a um "movimento de pessoas através de
industrialização e urbanização. uma fronteira específica para fixar residência", durante
determinado intervalo de tempo, variável conforme fonte
A expansão da cidade de Fortaleza é vista até o início dos dos dados, Censo Demográfico ou pesquisa direta (SEA-
anos 70, pouco antes da criação formal da RMF, instituída DE, 1993:4).
por Lei Complementar n.º14/73, compreendendo os mu-
Os migrantes são as pessoas que se submeteram a esses
nicípios de Fortaleza, Caucaia, Maranguape, Pacatuba e
movimentos migratórios, por vontade própria ou não, mui-
Aquiraz.
tas vezes distinguindo-se da população natural, como não
naturais, podendo ser quanto ao tempo de residência,
Antecedendo as análises empíricas, apresenta-se os con-
categorizado como recentes (de até dez anos de residên-
ceitos de metrópole e metropolização; migrante e migra-
cia) ou antigos (com mais de dez anos).
ção; concluindo com aspectos sobre a urbanização e a
industrialização, para fundamentar as discussões e sub- Sobre a urbanização e a industrialização, adotou-se o
sidiar a interpretação dos dados. pensamento de Lefebvre, que a primeira vista surpreende
um duplo processo para depois admitir se tratar de único:
Na percepção de Ledo, citado por Amora, a metrópole
contém diversificação funcional elevada, tanto econômica "Temos à nossa frente um duplo processo ou, se preferir,
quanto cultural e é centro organizador de extensa região um processo com dois aspectos: industrialização e urba-
ou de um país, sem coincidir necessariamente com uma nização, crescimento e desenvolvimento, produção eco-
capital política-administrativa. Amora faz uma reflexão nômica e vida social. Os dois aspectos deste processo,
deste conceito e argumenta que uma metrópole pode ser inseparáveis, têm uma unidade, e no entanto o processo é
conflitante. Existe, historicamente, um choque violento Em geral, esse fato é considerando uma desvantagem
entre a realidade urbana e a realidade industrial...este que explica o "atraso" na conquista do território com efei-
processo dialético, longe de ser elucidado, está também tos no atual desenvolvimento estadual, relativamente a
longe de ter terminado[...]"(LEFEBVRE, 1991: 9) outros estados nordestinos. Sem entrar no mérito da
questão, pode-se afirmar que essa leitura é feita segundo
Em seguida, Lefebvre faz uma ponderação sobre Atenas e a ótica de dominação portuguesa. Para os índios, naturais
suas situações problemas que parece muito apropriada dessa região, entretanto, pode-se supor que veio a tempo.
para uma reflexão de Fortaleza no período histórico em Além de adiar o confronto e ter melhores condições de se
apreço (anos 60 do século XX): organizarem para o embate pelas terras, houve chance de
manterem relação com outros europeus, mais tranqüilas e
"[...]o núcleo organizacional da cidade continua muito
proveitosas, que se constituíram fatores determinantes
forte. Seus arredores de bairros recentes e de semifave-
na reorganização do território indígena, conforme se terá
las, povoadas com pessoas sem raízes e desorganizadas,
oportunidade de detalhar em seguida.
lhe conferem um poder exorbitante. A gigantesca aglome-
ração quase informe permite aos detentores dos centros A relação comercial entre os povos indígenas sediados ao
de decisão os piores empreendimentos públicos. Tanto norte do Ceará e os franceses que se estabeleceram no
mais que a economia desse país depende estreitamente Maranhão, durante 20 anos, entre o final do século XVI e
deste circuito: especulação com a terra, ‘criação’ de capi- início do seguinte, incomodou a Metrópole Portuguesa.
tais por este caminho, investimento de capitais na cons- Ao ponto de adotar estratégia de ocupação da Serra da
trução e assim por diante. Circuito frágil que pode se Ibiapaba, para conter a entrada dos franceses em territó-
romper a todo instante, que define um tipo de urbaniza- rio cearense e ao mesmo tempo deter o processo de or-
ção sem industrialização(grifo nosso)[...]" (LEFEBVRE, ganização indígena. As investidas iniciais dos portugue-
1991:9-10) ses ao reduto dos nativos, entretanto, fracassaram, dando
margem a que outras nações indígenas viessem a com-
Após avaliar várias cidades européias, o filósofo conclui
por esse locus de refúgio e posteriormente de resistência
quanto ao processo de implosão-explosão da cidade sob
(PINHEIRO, 2000: 38).
fenômeno urbano, de conteúdo e forma similar ao proces-
so de metropolização anteriormente conceituado, acres- A maioria dos registros de migrações desse período de
centando sobre o modo de viver urbano: povoamento se constitui de informações sobre população
branca e se detém na relação subsidiária da economia
"Atualmente, portanto, aprofunda-se um processo induzi-
pecuária à canavieira, reportando-se ao aspecto extensivo
do que se pode chamar de a ‘implosão-explosão’ da cida-
da pecuária e a adequação das áreas sertanejas a ativi-
de o fenômeno urbano se estende sobre uma grande par-
dade. Pinheiro traz outros elementos para a discussão, ao
te do território, nos grandes países industriais[...]Esse
tratar do processo de resistência da população natural
território está encerrado num tecido urbano cada vez
(índios) ao projeto do colono português, de convergência
mais cerrado, não sem diferenciações locais e sem am-
na disputa pelas terras, além de fazer referências sobre a
pliação da divisão (técnica e social) do trabalho para as
mobilidade das populações indígenas no território nacio-
regiões, aglomerações e cidades[...]as concentrações
nal com o avanço da atividade pecuária.
urbanas tornam-se gigantescas; as populações se amon-
toam atingindo densidades inquietantes [...]as pessoas se
O foco da análise quando centrado nos migrantes baianos
deslocam para as periferias distantes, residenciais ou
e pernambucanos, faz com que se defenda as primeiras
produtivas[...]O tecido urbano[...]é suporte de um ‘modo
ocupações no território cearense no sentido do sertão
de viver’ mais ou menos intenso ou degradado: a socie-
para o litoral. Compõem essa corrente ideológica histori-
dade urbana[...]trazidos pelo tecido urbano, a sociedade e
adores renomados como Capistrano de Abreu e seu se-
a vida urbana penetram nos campos[...]"(LEFEBVRE, 1991:
guidores, João Brígido, por exemplo. Quando a atenção se
10-11). Outros conceitos referentes a urbanização são
volta para o sentido da defesa do território, seja contra
retirados de RÉMY e VOYÉ (1997), abordados no decorrer
franceses, ou seus aliados indígenas, a explicação para o
das análises.
início da ocupação é dada no sentido litoral-sertão. Para
Primeiras migrações e redefinição do território indígena dirimir o impasse, outros resguardam a segunda tese,
se dá pelo tradicionalismo nos documentos históricos tomando por recurso a temporalidade, isto é argumentam
sobre a ocupação do Ceará se referir a um processo de que até 1678 somente era habitado pontos litorâneos,
conquista tardio, no final do século XVII, introduzido pela além disso a primeira Vila criada teria sido a de Aquiraz,
pecuária, quando a economia açucareira se estendera também situada no litoral, em 1699. Ao sul do estado, no
pelo litoral da Paraíba à Bahia, com centro em Pernambu- Cariri o povoamento somente se tornara regular nas pri-
co no início do século XVI. meiras décadas do século XVIII. A Vila do Crato teria sido
instituída em 1764 (PINHEIRO, 2000: 38).
Novamente, sem aprofundar a questão, apenas chaman- Por exemplo, índios da Aldeia de Paupina (Messejana)
do para o centro do debate o conflito entre colonos mi- solicitavam sesmarias de uma légua quadrada, quando
grantes e nativos, pode-se argüir sobre os movimentos seus antepassados foram possuidores de léguas e léguas
populacionais e sua determinação na organização do de terras, que se estendiam da Serra da Pacatuba a Jere-
território. Do mesmo modo que, a partir da capitulação rahu e até o Cocó.
indígena perante os colonos percebe-se o início de um
processo social de formação de uma classe de pessoas O confronto entre os nativos e os colonizadores passou
destituídas de poder e representação, empobrecida, vio- por diversas modalidades de violência simbólica, inter-
lentada, que passaria a se deslocar constantemente no mediadas por representantes do Estado e da Igreja luso-
território, fixando-se em áreas restritas, de difíceis aces- brasileira, mas foi materializada nos sistemas de relação
sos e fora do interesse da pecuária. estabelecidos na catequese e no aldeamento. O antago-
nismo entre os modos de vida e a dominação aos interes-
Vários movimentos populacionais, considerado como ses do colonizador faziam-se presente no processo de
"migração"(1) interna, realizados pelos índios em seu pró- evangelização, que tentava justificar e persuadir a favor
prio território foram forçados. Pode-se dizer que de uma da lógica mercantil de produção, trabalho e mercado, uso
população natural se transformaram em migrantes, por e propriedade da terra, acumulação de riquezas e posição
força da violência simbólica (sobre seu modo de vida, sua social, completamente contrária à cultura indígena.
autoestima e identidade) e de violência física (contra a
sua vida). Começou quando saíram expulsos das faixas Ao mesmo tempo, o trabalho dos missionários desmorali-
litorâneas e se embrenharam nas serras, que além de zava os valores e crenças indígenas, ao considerar as
serem ambientes naturais propícios ao esconderijo torna- práticas religiosas e curativas do pajé, por exemplo, como
ram-se locus de confronto com os portugueses. As pri- sendo de superstição e charlatanismo. O sistema político
meiras "migrações" indígenas inter-regional provieram do de decisão dos anciãos também foi abolido, ridicularizado
litoral da Bahia, no início do século XVII. Entretanto, novo e subjugado, pela cultura européia, como se fosse soci-
fluxo de migrantes ocorreu em meados desse mesmo almente inferior, mesmo que reconhecido como mais
século, formado pelas nações fugitivas do território per- democrático relativamente ao regime metropolitano de
nambucano, aliadas dos holandeses, quando se deu a poder centralizado e déspota do Capitão-mor e outros
expulsão dos mesmos da Capitania de Pernambuco (PI- representantes da Coroa Portuguesa.
NHEIRO, 2000: 17 e 39).
O território para os índios tinha um significado para além
A resistência indígena à conquista européia no território da ótica utilitarista do mercantilismo europeu. Possibilita-
cearense permitiu à manutenção de parte de suas terras va a sobrevivência, tinha valor simbólico diferente, no qual
originais, que ficou circunscrita, inicialmente, a algumas se definia a própria identidade das nações. A terra era
ribeiras e, depois somente as áreas serranas. Segundo fator de integridade física e sociocultural. Sua expropria-
Pinheiro a restrição do povo indígena se deu por três me- ção corroborou para dominação portuguesa, mas antes
canismos simultâneos: extermínio, aldeamento e expul- justificou o prolongado movimento de resistência armada
são para áreas não ocupadas por "colonizadores" (PI- adotado pelos índios, que se estendeu de 1603 a 1720 e
NHEIRO, 2000: 28). só findou com seu extermínio ou etnocídio.

Na forma de violência física, percebe-se que o extermínio O primeiro aldeamento indígena, na Serra da Ibiapaba, se
aconteceu ao longo do processo de colonização, com deu quase dois séculos após o descobrimento do Brasil,
episódio grotesco registrado durante ano de 1699, com as em 1691. Mas logo foi seguido de outros igualmente im-
atrocidades cometidas (400 mortos e 300 prisioneiros portantes, por sua dimensão e resistência, em 1696, os
escravizados) pelos bandeirantes paulistas contra os dos tapuias dos jaguaribaras e tapuias dos paiacus, am-
paiacus, que habitavam o Vale do Jaguaribe (Bezerra e bos localizados no Vale do Jaguaribe, área de extensão
citado por Pinheiro). Ainda assim, a resistência indígena da pecuária. Pinheiro faz questão de frisar que o aldea-
armada permaneceu por duas décadas, tendo sido venci- mento "foi essencial para consolidar a conquista portu-
da em 1720, quando o desrespeito à ordem régia(2) con- guesa e redefinir o espaço cearense" (PINHEIRO,
sistiu no segundo momento de expropriação do seu terri- 2000:37).
tório e parte das nações indígenas estava subjugada à
cultura do colonizador. Ou seja, percebe-se o enfraqueci- A organização territorial do Estado do Ceará iniciou-se
mento da resistência indígena, quando os próprios índios com única unidade administrativa- Comarca, dado que o
submetem-se às exigências da metrópole e solicitam sistema de impostos(3) não requeria aparato burocrático
terras, que foram suas, utilizando os mesmos argumentos estatal e evoluiu para o sistema de Ribeiras, que acompa-
do colono branco em detrimento de seu próprio povo, face nhava as bacias dos rios, tal como as atividades econô-
às condições materiais de pauperização a que chegaram.
micas e os aldeamentos indígenas. No desdobramento, lência física foi naturalizada, o estigma e o preconceito
as unidades evoluíram para Vilas e Municípios. denegriram a imagem dos nativos e dos seus descenden-
tes perante a sociedade, que ainda hoje permanece como
Cabe destacar, que a transformação das Aldeias indíge- cultura inferior. Remanescentes dos originais índios cea-
nas em Vilas teve a mesma finalidade daquelas Vilas cri- renses encontram-se na população dos tabebas e tre-
adas para fins de controle social no contexto de desen- membés, cujos territórios não foram demarcados, que
volvimento da economia algodoeira, que necessitava de vivem em condições insalubres e de extrema miséria.
relações de trabalho regulares e subordinadas, subme-
tendo a população livre- de indígenas, mestiça(4), cafuza Questiona-se, finalmente, se esse grupo social não se
e mulata(5)- a código de postura e regime de trabalho constituiu historicamente o segmento da população pro-
controlados por feitor. Foram transformadas em Vilas os pensa à emigração, menos por seus antecedentes como
aldeamentos de Parangaba, Messejana, Caucaia, Baturité, povo sedentário e mais por sua relação social enquanto
Pacajus, Viçosa do Ceará e Miranda (atual Crato). Assim excluídos do sistema produtivo (como trabalhadores e
como foram criadas as vilas de controle social em Quixe- como proprietários dos meios de produção) e dos siste-
ramobim, Sobral, São Bernardo das Russas (atual Russas) mas de poder e representação política e social. Acredita-
e São João do Príncipe (atual denominação de Tauá). se que passaram a compor um grupo social vulnerável ao
fenômeno da seca, que impulsionou levas de emigrantes-
Em seqüência na organização do território, a criação dos retirantes e flagelados- do interior para a Capital.
dezoito primeiros municípios(6) passou-se na seguinte
ordem: Aquiraz (criado em 1699, incluindo a Vila de Paca- Imigração negra e mulata provoca reorganização no terri-
jus), Fortaleza (1725, incluindo as Vilas de Parangaba e tório cearense:
Messejana), Icó (1735), Aracati (1747), Viçosa do Ceará
(1758); Caucaia (1759), Baturité (1763), Crato (1764), Rus- Na revisão da literatura de ficção sobre o sertão nordesti-
sas e Quixeramobim (1766), Sobral (1772), Granja (1776), no brasileiro, Ivone Barbosa oferece novos elementos que
Guaraciaba do Norte (1791), Tauá (1801), Jardim (1814), reforçam o questionamento levantado a respeito desse
Lavras da Mangabeira (1816), Jucás e Itapipoca (1823) grupo social vulnerável.
(IPLANCE; 2000).
A visão dominante do colonizador é reproduzida na litera-
Percebe-se desse período de formação das Vilas, que tura, quando:
Aracati, Icó e Sobral, apresentam-se como centros comer-
ciais e de serviços de apoio a atividade do campo. Aracati "[...]se observa é que se desenvolveu todo um esforço de
se destacando por seu contato direto com o mercado interpretação historiográfica e literária para justificar, ou
nacional e com a Metrópole Portuguesa. Sobral, ao cana- simplesmente legitimar, o processo de ocupação pela
lizar a produção do Piauí. Icó, por sua localização estraté- pecuária, como um preenchimento de vazios demográfi-
gica na rota das boiadas e comércio da carne salgada, do cos e não como usurpação do espaço territorial indígena,
centro-sul do Estado, inclusive da Paraíba. conforme têm apontado estudos recentes"(BARBOSA,
2000: 65).
Fortaleza à época não participava dessa atividade eco-
nômica, mas por ser a Capital e concentrar as atividades Mais do que uma questão ideológica, a negação do índio
político-administrativas, começa a ser palco de alguns remete para sua condição social de excluído. Barbosa se
investimentos públicos que vieram a beneficiar mais o referenda em Barreiro, para fazer alusão ao fato de "uma
local que ao território cearense. A maioria dos aldeamen- recusa deliberada da presença indígena no espaço serta-
tos indígenas (Parangaba, Messejana, Caucaia e Pacajus) nejo" que em conjunto com outros grupos étnicos fazem
ficavam nas adjacências de Fortaleza, e, posteriormente, parte do grupo dos excluídos: "a desqualificação dos indi-
fizeram parte da periferia da região metropolitana. víduos que compunham as camadas pobres da popula-
ção, que por essa razão não tinham um lugar reservado
Para concluir essa fase histórica, é importante chamar na sociedade colonial [...]"(BARBOSA, 2000: 65).
atenção para o intenso processo de representação social
porque passou essa população nativa. De donos da terra, É muito comum a referência pejorativa a população "va-
foram primeiro considerados "invasores", "gentios", "bár- gabunda de aventureiros", sendo explicada por Barbosa
baros" e "preguiçosos", para depois se tornarem em "vadi- por se constituir um segmento composto de índios "redu-
os", "facínoras" e "vagabundos", e transformados social- zidos, vencidos e mestiçados", além de negros fugitivos,
mente em escravos. Isto apenas por resistirem a expro- aforrados, mulatos e brancos pobres. A submissão desse
priação de seu território, por lutarem contra a degradação grupo da população teve valor fundamental para o patri-
de suas representações coletivas e de suas condições arcalismo da sociedade sertaneja, não apenas econômi-
materiais de sobrevivência. Do mesmo modo que a vio- co, mas em termos de poder do senhores de fazenda. É o
que conclui Barbosa a respeito do valor simbólico de do- Os índios e seus descendentes, juntamente com os ne-
minação, representado pela posse de escravos, que eram gros, certamente, formaram a classe dos submissos dos
mais numerosos no sertão que no agreste e na marinha, pobres, "vagabundos", volantes sem terra e dos escravos,
segundo Capistrano de Abreu, citado por Barbosa tendo em vista que o preconceito de cor e de etnia junta-
(2000:72). Eurípedes Funes resgata toda uma experiência va-se ao preconceito social de classe.
social dos negros no Ceará e encontra em grupos étnicos
miscigenados (pretos, mulatos e pardos) marcas da sua Como os índios, a população negra foi violentada física e
sociabilidade, no mundo do trabalho, mas sobretudo na simbolicamente, bem como resistiu e procurou estraté-
cultura e nas lutas contra a discriminação e o preconceito gias de superação dessas condições. Uma delas seria a
(FUNES, 2000:104). mobilidade espacial, que muitas vezes engrossava as
correntes migratórias intraestaduais e inter-regionais, na
A imigração negra começou atraída pela a suposta exis- medida em que representava possibilidades de invisibili-
tência de terras desocupadas que poderiam ser aprovei- dade da sua condição de cativo e de refúgio. As constata-
tadas pela pecuária. Diz-se suposta porque conforme ções de Funes são ilustrativas a respeito:
visto, ao mesmo tempo em que se produzia a negação do
índio produzia-se também uma "fartura de terras", embora "Aproveitando-se da complexidade da região, os escravos
essas terras tenham sido tomadas a fogo e sangue de ao evadirem das propriedades de seus senhores tinham
seus nativos. Trabalhadores livres, escravos e prepostos como opção ir para os centros urbanos. Nesse sentido,
de proprietários de terras residentes em outras Capitani- havia uma grande mobilidade espacial praticada pelos
as, alguns negros se introduziram no espaço cearense na cativos em fuga, que procuravam passar por libertos, mis-
condição de vaqueiro outros como agregados das fazen- turando-se às camadas populares um tanto matizadas,
das. O fluxo maior de imigrantes aconteceu, entretanto, onde o mulato podia passar por um tapuia, por um curi-
durante os dois períodos de maior surto da lavoura algo- boca, por um cafuzo.[...] Francisco, mulato, 21 anos, fugiu
doeira: meados do século XVIII e meados do século XIX. de Cascavel e ‘presume-se que tenha procurado para o
Norte, ou tenha-se misturado com os imigrantes e embar-
Em junho de 1804, os dados populacionais indicavam um cado para o Pará ou Amazonas’, onde a possibilidade de
contigente total de 77.369 habitantes no Ceará, com pre- manter a invisibilidade de sua condição social era bem
dominância de pretos e pardos (61 %) sobre os brancos maior.[...]" (FUNES, 2000:126 E 127)
(39 %) e que na sua maioria (74%) viviam na condição de
livre (7). Cerca de 70 anos depois, em 1872, a população Verifica-se na citação anterior que os escravos juntavam-
residente no Ceará foi elevada em oito vezes o número de se às camadas populares, supõe-se que fizessem não
habitantes do início do século, chegara a 721.983 pesso- apenas para se manterem invisível, mas também por uma
as (8). Verifica-se nesse último ano a presença absoluta e questão de identidade e de proteção social. Os locais
relativa dos pardos (50 % do total da população), que so- escolhidos para refúgio de um número maior de evadidos
mados aos pretos e caboclos chegaram a 63%, perfazen- eram de preferência as serras, antigos aldeamentos indí-
do um contigente de 453.120 pessoas. Os brancos de- genas e de forma mais isoladas as periferias urbanas,
cresceram relativamente (37%), embora em termos abso- notadamente de Fortaleza. É o que dá para perceber de
lutos houvessem incrementado quase na mesma propor- outras passagens no artigo de Funes:
ção que da população total, pois passaram de 30.336
pessoas para 268.863. "No Ceará, há fortes indícios de quilombos na Serra do
Pereiro, onde se refugiavam os escravos do Ceará e das
Esses dados expressam a evolução da força de trabalho províncias vizinhas- Rio Grande do Norte, Paraíba, Per-
do homem livre pobre, que foi incrementada não só pela nambuco e mesmo da Bahia- e, ainda, na Serra Grande,
imigração, mas também pelo crescimento vegetativo. A para onde corriam os escravos cearenses e do Piauí e
população cativa africana declinou consideravelmente e Maranhão. Vários deles foram apreendidos no município
segundo Artur Ramos, citado por Eurípedes Funes, man- de Viçosa. Mesmo na periferia de Fortaleza são identifi-
teve-se nesse patamar de 4% da população até 1883/ cados vários lugares de ‘acoutamento’ de escravos fugi-
1884. dos como em Tauape e Parangaba"(FUNES, 2000:128 e
129).
Sobre os índios não há um registro sequer nas estatísti-
cas históricas, mesmo nas oficiais, tal como o censo. Com a libertação dos escravos aumentou a mobilidade
Será que todos foram miscigenados? Haveria possibilida- espacial, mas esta não veio acompanhada de mobilidade
des do cruzamento de índios com brancos ou apenas social, ao contrário reforçou o grupo social dos excluídos.
com pretos, formando os caboclos? Quantos deles ou dos Novamente, Funes oferece elementos para essa consta-
seus descendente mantiveram-se cativos? Silêncio abso- tação:
luto, repete-se mais uma vez a negação do povo nativo.
"[...]o processo abolicionista, não só no Ceará, permite ao 2,73%, mas a Comarca dos Inhamuns era cerca da metade
cativo recuperar a sua liberdade, ser homem livre; mas da população da Comarca de Icó, representando apenas
vem acompanhado de uma série de medidas controlado- 6,5% do total dos cearenses. Ou seja na ordem decrescen-
ras, que colocam esse indivíduo no seu (in)devido lugar, te de população situavam-se: Fortaleza com 7%; Lavras
fecha-lhe todas as possibilidades de ascensão social e da Mangabeira com 5,5%; Aracati e Crato com, respecti-
direitos à cidadania. É colocado à margem da sociedade, vamente, 4%; Sobral com 3,8% e Icó com 2,7%. (BRA-
reforçando o distanciamento social, político e econômico SIL;1997).
entre a população negra (morena) e branca (galega). Ter-
mos que nos fazem refletir sobre a construção de uma Se em todo o Estado há atualmente apenas dois núcleos
ideologia racista, que faz desaparecer do nosso processo de população indígena, os negros conseguiram delimitar
histórico outras etnias, negros e indígenas, e outras histó- território em pelo menos seis localidades, antigos lugares
rias"(FUNES, 2000:132). de concentração dessa população (Aquiraz, Tauá, Cariri,
Tururu) ou de refúgio (Serra Grande, Iracema), a partir das
A escassez das estatísticas limitam a análise da distri- informações divulgadas por Funes:
buição da população negra no território cearense. Durante
o século XIX, dispõe-se apenas de dois momentos: "[...] Temos hoje no Ceará vários núcleos de população
1804(9), 1813(10) com informações segundo grupos étni- negra nos centros urbanos, bem como comunidades ne-
cos e municípios. Esses dados são suficientes para se gras rurais, entre elas: Conceição dos Caetanos, em Turu-
perceber que os negros vieram concentrar mais popula- ru; Bastiões, em Iracema; Goiabeiras, em Aquiraz; Colibri,
ção nas antigas Vilas formadas a partir do aldeamento em Tauá;. Comunidades similares são encontradas nas
indígenas e aquelas de criadas com a finalidade de con- regiões do Cariri e da Serra Grande"(FUNES,2000:132).
trole social, enumeradas anteriormente, assim como a
força de trabalho livre e escrava foi mobilizada para áreas Migrações para Fortaleza acentuam periferização urbana
de expansão do capital agrícola investido no algodão e/ou e social
na pecuária.
A primeira reflexão a respeito das migrações que se dese-
Em 1804, constatava-se por exemplo: Crato (antiga vila ja fazer está posto no seguinte questionamento: Será que
indígena) concentrava 30% da população preta e parda essa população livre (branca, indígena e negra), mas ex-
dos 47.033 pessoas residentes no Ceará; Sobral e Icó cluída socialmente, sem terra, sem trabalho, sem proteção
(centros de produção pecuária e algodoeira) detinham social e com fome, via como solução o roubo e o saque,
15% e 11%, respectivamente; São João do Príncipe (antiga para realizar sua segurança alimentar, de reprodução
vila de controle social) com 11% dos pretos e pardos. Na simples? Ou a emigração para Fortaleza, que possui ou-
data seguinte, em 1813, aparecem como principais con- tras atividades que a da economia agrícola seria a alter-
centrações negras os municípios de Crato e Jardim, que nativa a considerar para uma mobilidade social? Ou am-
juntos correspondiam a 52% do total de 59.371 pretos e bas as decisões, em diferentes momentos e circunstanci-
mulatos; seguidos de Fortaleza (13%) e Aquiraz (10%), as podem serem tomadas?
condizendo com o depoimento de Funes a respeito da
mobilidade espacial da população negra para Capital. Das análises anteriores apreende-se que os determinan-
tes da migração são diversos. Entende-se que o fenôme-
Os dados de 1860 estão agrupados, mas através deles no da migração é eminentemente social e determinado
verifica-se um processo de crescimento populacional por condições históricas de processos e conflitos nas
acentuado para Fortaleza, inclusive de escravos, iniciando relações de poder. Questões de ordem estrutural são im-
um processo de disparidade da Capital em relação aos portantes, mas isoladamente não revelam a real dimen-
demais municípios cearenses. Fortaleza contava com são dos movimentos populacionais no espaço. Fatores
35.373 habitantes totais, representando 7% da população conjunturais e crises periódicas abalam uma relação so-
estadual, que era estimada em 504.419 pessoas. A Co- cial estabelecida em bases frágeis, sempre com prejuízo
marca de Fortaleza, incluindo Maranguape e Aquiraz, que das pessoas mais submissas, ou destituídas de poder,
se consistiam no embrião da RMF, possuía contingente mas ainda assim não revelam a dinâmica populacional no
populacional expressivo, de cerca de 64 mil habitantes ou espaço.
13% da população estadual. No município de Icó residiam
pouco mais de 13 mil pessoas, o equivalente a 2,7% do Explicitar, no momento os fatores determinantes da mi-
total e sua Comarca com 12,0% do total tinha quase o gração interna não é o objeto desse ensaio. Se houve a
mesmo porte da Comarca de Fortaleza, cujo destaque necessidade de reflexão a respeito foi apenas para exa-
estava no Município de Lavras da Mangabeira cujo per- minar a ordem qualitativa da migração para Fortaleza,
centual de população chegara a 5,51%. Tauá apresentava dado que em termos quantitativos é possível a mensura-
contingente populacional pouco maior do que Icó com ção a partir da década de 40 do século XX.
As estatísticas mostram uma crescente concentração de migrante foi responsável por 90% do incremento popula-
população nesta cidade, decorrente da migração da popu- cional de Fortaleza entre 1960/70.
lação interiorana, como se verá a seguir. É preciso consi-
derar entretanto, a participação da mobilidade espacial de Mas o que é interessante ressaltar é a qualidade dessa
grupos da população pobre na formação das periferias migração do interior para a Capital, pois incrementava a
urbanas, tal como concluiu Funes a respeito dos negros: distribuição da população pobre, que se aglomerava nos
espaços juntos com os naturais diante das limitadas pos-
"[...] No Ceará, em particular na cidade de Fortaleza, há um sibilidades de sobrevivência, ocupando-se precariamente,
aumento considerável daqueles indivíduos sujeitos à quanto a remuneração e a proteção social, caso comum
condição de agregados e empregados domésticos. É o das empregadas domésticas e das professoras primárias,
momento em que o negro vê legitimar sua exclusão soci- que representavam 55% da PEA.
al. Consegue a condição de livre; mas lhe é negado o di-
reito à cidadania. Excluído vai se aquilombando nas peri- A periferização da cidade na forma de núcleos de favelas
ferias, nas favelas, nas frentes de expansão, enclausuran- é a mais contundente prova de que a «bela e moderna
do-se no seu mundo rural, constituindo sua identidade a capital» não era suficiente para todos, ou não possuía
partir de sua historicidade.[...]"(FUNES,2000:132). condições de abrigar tantos cearenses. Datam de 1930-
1955 os principais núcleos de favelas que ainda hoje têm
Nas primeiras duas décadas do século XX, o processo de expressão ou reminiscência: Cercado do Zé Padre (1930);
crescimento populacional de Fortaleza torna-se bastante Pirambu (1932); Mucuripe (1933); Lagamar (1933); Morro
visível no contexto estadual, cujo incremento populacio- do Ouro (1940); Praça da Graviola (1940); Varjota (1945),
nal foi de cerca de 63%, passando de 48,4 mil habitantes Meireles (1950); Papoquinho (1950); Campo do América
em 1900, para 78,5mil em 1920. A migração desse perío- (1952); Estrada de Ferro (1954). Chama atenção ainda,
do não chegou a ser registrada, mas nos anos seguintes que de uma amostra de 1.000 habitantes residentes em
(entre 1920/40) teve forte impacto no crescimento popu- favelas de Fortaleza, nos anos 60, constatou-se a incidên-
lacional de Fortaleza, haja vista o incremento de 101,7mil cia de 827 migrantes, um índice de 82,7%. (SILVA 1997: 29
pessoas, sendo 55% (56,2 mil pessoas) decorrente da e IJPNS: 1967).
migração.
A migração registrada por pesquisa em 1961 foi predomi-
Em 1940, a população migrante correspondia a metade da nante de mulheres (61%), que procederam, principalmen-
população economicamente ativa- PEA em Fortaleza, te, das regiões litorâneas e serranas (Paracuru, Urubure-
estimada em 112,5 mil. A cidade passou a ter uma popu- tama Ibiapaba, Baturité). Portanto de áreas supostamente
lação total de 180 mil habitantes, um contigente bastante menos vulneráveis às secas pelas disponibilidades pluvi-
expressivo, comparável com a contagem populacional ométricas e hídricas. Entretanto, também eram áreas
feita em 1996 para Juazeiro do Norte, cidade interiorana originariamente de refúgio, aldeamento e formação de
de maior expressão populacional no interior, cuja popula- Vilas indígenas. O que leva a supor, a existência e prolife-
ção foi registrada em torno de 189 mil pessoas (IJPNS: ração de pobreza, sem condições de reprodução simples
1967 e IPLANCE:2000). da população enquanto força de trabalho. Quase metade
desses migrantes (36%) passou por outras localidades
Na década seguinte, em 1950, vê-se reduzir o fluxo migra- antes de chegar à Capital, 52% foram provenientes de
tório para Fortaleza, que foi politicamente desviado pela outras cidades interiorana. A maior parte dos migrantes
migração inter-regional. Os migrantes fizeram parte de (45%) chegou a Fortaleza nos anos 50, residindo menos
17% da população total residente, sobretudo corresponde- de 10 anos na Capital, contudo foi expressivo o contin-
ram a metade do incremento populacional do período gente de migrantes que continuaram residindo em Forta-
1940/50 e um quarto da PEA de 1950. Em 1960 e 1970, leza, desde os anos 40 com cerca de vinte anos (23%),
percebe-se o aprofundamento das disparidades intraes- mesmo aqueles que chegaram nos anos 30 (14%) (IJPNS:
tadual. 1967).

Fortaleza concentrava cerca de 15% da população do A subdivisão de dois fluxos de migração (campo-cidade e
estado evoluiu para 20%. Em relação à população urbana, cidade-cidade) leva a inferir sobre a fragilidade dos de-
a concentração na Capital evoluiu de 53 para 60%. Nota- mais núcleos urbanos do Ceará, relativamente à Capital.
se que o crescimento populacional de Fortaleza perma- Percebe-se que os pequenos núcleos urbanos, chamados
nece expressivo pela continuidade do processo migrató- de cidade por força política-administrativa, não conse-
rio. O total de migrantes na população de Fortaleza que guiam absorver a população proveniente do campo, que
estava representado em 32%, em 1960, incrementou para consequentemente migrava diretamente para a Capital.
36%, em 1970, com o agravante de que essa população Reforça a inferência a respeito da mobilidade espacial
dos pobres e da provável junção à mesma classe social,
quando os pesquisadores indagaram aos migrantes sobre dos quando provenientes do próprio Estado em Salvador (
as dificuldades para exercerem uma atividade ocupacio- 20%) e sobretudo em Fortaleza (39%).
nal e para se instalarem em termos de moradia em Forta-
leza nota-se que os migrantes foram amparados inicial- Conclui-se também que os diferenciais intraestaduais e
mente por parentes e amigos, numa rede de solidariedade interregionais posicionam Fortaleza numa situação inferi-
e apenas 37% tiveram certa dificuldade de ocupação e orizada que remete à sua expansão capitalista, conside-
21% de instalação(IJPNS: 1967). rando a relação entre migração e mobilidade do capital,
tal qual concluem os pesquisadores:
Percebe-se, por outro lado, que os primeiros assentamen-
tos na Capital não eram satisfatórios, pois a mobilidade "...observa-se que o tamanho e a distribuição da popula-
espacial neste período fazia parte da vida de número sig- ção sobre o espaço refletem, em grande parte, a evolução
nificativo de migrantes e naturais. A vontade de mudar-se da organização econômica e, portanto, que as realoca-
estava claramente explicitada no desejo de 3% dos mi- ções espacial e setorial das atividades econômicas são
grantes e nativos. Por sua vez, apenas 31% dos migrantes os principais determinantes da direção, intensidade e
e 24% dos naturais residiram em único bairro de Fortale- características das migrações internas. Nesta perspecti-
za. A grande maioria havia residido em pelo menos dois va, as migrações não podem ser avaliadas simplesmente
bairros (33% dos migrantes e 28% dos naturais), assim em termos de sua suposta deterioração do meio social
como eram expressivos os índices dos que residiram em nos lugares de destino senão, organicamente, em termos
três (21% dos migrantes e 32% dos naturais) e quatro de todo o processo de deslocamento populacional. Assim
bairros (migrantes 10% e naturais 8%)(IJPNS: 1967). os movimentos migratórios são estruturalmente molda-
dos pelo processo de acumulação de capital que penetra
Finalmente, e ainda conforme Souza, a população favela- e se reproduz em espaços diferenciados de forma desi-
da em Fortaleza expandiu consideravelmente, sendo gual." ( MARTINE e PELIANO, 1978: 5-6)
constituída essencialmente de pessoas pobres e migran-
tes. As informações da SUDEC utilizadas pela pesquisa- Reflexões sobre a Metrópole e Metropolização de Fortale-
dora para 1970, indicavam uma população de 223mil pes- za
soas em 73 vilas marginais, distribuídas em todas as zo-
nas da cidade, mas se concentrando no litoral e ao sul de Em 1970, Fortaleza não se comparava economicamente a
Fortaleza. Comparando com as informações pesquisadas metrópoles nacionais, porém ela se mostrava em patamar
pelo IJPNS, em 1967, nota-se uma triplicação da popula- médio da realidade regional e no nível local e microrregio-
ção favelada, que na época era estimada em 59.300 pes- nal colocava-se em patamar superior acima de vários
soas, distribuídas em 16 núcleos de favelas (SOUZA, outras cidades e núcleos urbanos.
1978:88-89).
De acordo com estudos do IBGE, citados por Souza, Forta-
O estudo de Martine e Peliano, em 1970, sobre migrações leza teria, em 1972, uma área de influência relativa a ou-
em regiões metropolitanas, sugere que havia intensa mo- tros 52 centros regionais, perfazendo um raio de ação de
bilidade desses migrantes nas Regiões Metropolitanas e 400 mil quilômetros quadrados de área e uma cobertura
calcularam a taxa de retenção dos migrantes que se mos- populacional para quase 7 milhões de pessoas residentes
travam mais seletivos, mais qualificados para permanece- no Ceará, Maranhão e Piauí. (SOUZA, 1978:74)
rem em cada uma delas. No comparativo entre Salvador e
Fortaleza vamos encontrar nuanças que sugerem melhor Em termos urbanos do Estado, Souza se refere a um outro
retenção e, portanto, maior seletividade de homens mi- estudo de sua autoria, no qual identifica uma rede de cen-
grantes em Fortaleza e de mulheres em Salvador. tros regionais composta de: três centros de abrangência
regional (Sobral, Crato-Juazeiro, Iguatu); dezoito centros
Um diferencial em termos de renda também vai ocorrer secundários; e trinta e cinco centros locais, que juntos
entre o tipo de migração: inter-regional, interestadual e perfaziam, em 1970, uma população de 1.460hab., ou
intraestadual. Constata-se que a estrutura de mercado de 32,5% da população estadual. (SOUZA, 1978:74)
trabalho do sudeste, por exemplo é bem mais diferencia-
da e possibilita melhores vantagens para os migrantes As relações mantidas por Fortaleza no espaço interno e
interregionais que o mercado de trabalho nordestino. externo ao território cearense remetem para uma subordi-
Apenas para referendar essas conclusões, apresenta-se o nação: da Capital em relação aos grandes centros nacio-
percentual de migrantes interregionais em São Paulo com nais, ou ao contrário das pequenas localidades em rela-
menos de um salário mínimo (9%) quando em Salvador o ção a Fortaleza. Deste modo, a inter-relação que caracte-
migrante proveniente de outro Estado neste grupo de rizaria melhor uma metrópole parece ser a principal carac-
renda chegava a 14% e em Fortaleza a 30%, havendo uma terística que Fortaleza ainda não apresentava nesses
concentração maior de migrantes baixamente remunera- inícios dos anos 70, quando foi institucionalizada como
metrópole. Mas não apenas esta característica faltava classes bastante visível entre o leste (rico e dominante) e
para cidade vir a ser uma metrópole conforme se pode o oeste (pobre e subordinado).
apreender das considerações teóricas a seguir.
Por outro lado, as considerações relativas a uma urbani-
Na perspectiva da diversificação funcional poder-se-ia zação sem industrialização definidas por Lefebvre tam-
argumentar a favor da metrópole de Fortaleza caso as bém parecem aplicar-se a realidade de Fortaleza do início
relações fossem vistas de dentro para fora, das microrre- dos anos 70, embora já exista uma tendência daquilo que
giões interioranas com os Estados vizinhos mais pobres. ele chamou de implosão-explosão, de uma sociedade
Quanto ao papel de produtora de inovações não há o que urbana que perpassa pelo tecido urbano para o campo,
salientar positivamente, salvo na difusão dessas inova- embora muito a princípio. De modo que, sem dispor para o
ções e na medida em que as mesmas foram repassadas momento de elementos suficientes para concluir sobre a
por centros produtores do sudeste do país. metropolização, pode-se atestar, sem sombra de dúvida
que Fortaleza estava em pleno processo de constituição
Sem dispor de muitos elementos quanto à metropoliza- de uma Metrópole.
ção, pode-se escusar de aplicar o termo cidade para as
demais sedes municipais do entorno de Fortaleza, na A respeito da migração nesse processo tem-se a consta-
medida em que não figuraram historicamente como cida- tar que, a migração avoluma a expansão urbana e social
des nem como centros urbanizados, salvo pela localiza- para periferia e conduz a aglomeração urbana em favelas.
ção de grandes conjuntos habitacionais entre Caucaia e Percebe-se que os pobres apresentam uma alta mobilida-
Fortaleza, bem como do eixo ferroviário Fortaleza- de espacial para além da mobilidade do trabalho, por sua
Maracanaú, que determinou localização industrial e uma condição de excluído social e politicamente. Os desloca-
aproximação populacional, mas com bastantes vazios em mentos não são tão espontâneos como aparecem nas
cada um dos casos. De qualquer modo, não se trata de explicações neoclássicas, nem só determinados por atra-
uma inter-relação, mas uma espécie de "invasão". ção do mercado de trabalho, conforme estruturalistas,
mas tem um componente de violência que restringe a
Desse modo, pode-se concordar com Amora, quando con- manutenção de um território, lugar de conflito e de exercí-
clui que, no momento da institucionalização da RMF em cio de poder.
1973, "Fortaleza não se enquadrava rigorosamente na
definição de metrópole, nem se constituía uma área me-
tropolitana no sentido genérico desse conceito." Salvo, se
naquele momento histórico, o interesse político houvesse
priorizado diferentes categorias de metrópoles, pois "os
efeitos diferenciados da modernização geraria também
metrópoles diferenciadas até mesmo dentro de um mes-
mo país. Daí a construção do conceito de metrópoles
incompletas e de metrópoles completas" (AMORA,1999:
35).

Observou-se para o caso de Fortaleza um período não-


urbanizado no qual a Vila sequer participava da divisão
social do trabalho existente. Enquanto Aracati, Sobral e
Icó revelava características de cidade de alta mobilidade,
de trabalho intelectual, fonte de inovações, relacionadas
com a ordem distante e simultaneamente fazendo acon-
tecer na ordem próxima. Noutro momento, é a vez de For-
taleza despontar com características urbanas, verificou-
se inclusive uma rede hierárquica de centros formada
pelas oligarquias agrárias de suporte a hegemonia de
Fortaleza. A função administrativa reforçando a política-
militar.

Com a política nacional de centralização do poder, a cida-


de se aglomera e começa a transcender o seu centro, a
partir de sua função comercial, como centro distribuidor
do produto nacional industrializado, subdividindo-se em
duas grandes áreas de valor da terra, uma separação de
NA BELLE EPOQUE

A euforia europeia, principalmente da França, influenciou


a Fortaleza do fim do século XIX para início do século XX.
Foi neste período, denominado de Belle Époque, que ocor-
Com o declínio do ciclo da pecuária no final do século reram mudanças urbanas e urbanísticas que remodela-
XVIII, tem início um novo ciclo que transformaria a eco- ram a cidade e afetaram o modo de viver da população.
nomia do Ceará e, consequentemente, a de Fortaleza: o do
algodão, também chamado de ouro branco. Até então, a Foram criadas também as grandes avenidas e dado um
cotonicultura era uma atividade secundária, praticada novo direcionamento urbano. O Passeio Público, por
paralelamente à pecuária. Sua produção destinava-se exemplo, é um dos símbolos da “Belle Époque” de Forta-
basicamente ao mercado do Recife. Mas com o advento leza, caracterizada pelos desfiles elegantes. Embora na
da Revolução Industrial, na Inglaterra, que impulsionou a Europa, essa fase tenha terminado com a I Guerra Mundi-
fabricação de tecidos, a demanda por algodão cresceu al, aqui, o período se estendeu até os anos 1920.
acentuadamente. E o Ceará passou a produzi-lo em larga
escala. Desde o final do século XVIII, o algodão do Ceará fazia
parte da agenda de produtos exportados pelo Brasil. A
“A Inglaterra não demorou a consumir o algodão brasilei- vila, aos poucos, foi sendo dotada de infraestrutura e ser-
ro. (...) Ao porto de Mucuripe chegavam mais navios, na viços para atender às transações comerciais diretas com
maioria britânicos, em busca da pluma. (...) Vinham carre- Lisboa, iniciadas em 1804. Durante o século XIX, com o
gados de escravatura, açúcar, farinha, cachaça e outros avanço da indústria têxtil na Europa, aumentou conside-
gêneros de consumo”, diz Raimundo Girão, em Geografia ravelmente a demanda pelo produto. A partir de meados
Estética de Fortaleza, sobre o período. Com o fluxo co- do século XIX, a queda na produção de outros fornecedo-
mercial decorrente do algodão, surgiram os primeiros res e a Guerra da Secessão (1861-64) nos Estados Unidos,
estabelecimentos de negócios estrangeiros em Fortaleza. poderoso concorrente, contribuíram para expandir signifi-
A cidade passou a receber, então, os mais variados produ- cativamente a indústria algodoeira cearense e para dina-
tos importados. “O melhor que esta (Fortaleza) usa, come mizar o comércio de sua capital. O processo de hegemo-
e veste vem agora das Ilhas Britânicas. Lojas e armazéns nia urbana de Fortaleza se iniciou, portanto, na primeira
importantes ostentam os nomes, nas tabuletas e facha- metade do século XIX e se completa na segunda metade.
das, gravados em língua inglesa”, diz Girão.
A centralização do poder político e administrativo iniciada
O ciclo do algodão marca o início do processo de indus- no primeiro Reinado e que marcou todo o período imperial
trialização em Fortaleza, no final do século XIX, com a privilegiou as capitais das províncias. Este fato e a con-
inauguração da Fábrica de Tecidos Progresso. Na segun- centração de um volume maior da produção para o co-
da metade do século XIX, o algodão representava aproxi- mércio externo favoreceram o crescimento econômico de
madamente metade do valor das exportações do Ceará. Fortaleza e contribuíram para que a maior parte de inves-
timentos governamentais em edificações, infraestrutura e
“O algodão foi muito importante para a economia local, serviços se fixasse na capital. Na primeira gestão do cea-
sobretudo durante a Guerra Civil dos Estados Unidos (lí- rense José Martiniano de Alencar, entre 1834 e 1837,
der no mercado de algodão)”, diz Rui Martinho. Porém, quando implantou a Assembleia Legislativa (1835), o pro-
com o fim da guerra, os Estados Unidos recuperaram a gresso econômico e político-administrativo do Ceará ga-
liderança no mercado mundial, e a produção cearense nhou forte impulso. Em 1835, foi criado o Banco Provinci-
entrou em declínio. al do Ceará, com capitais privados (extinto em 1851).
Como legado, o ciclo do algodão deixou, por exemplo, a
Estrada de Ferro de Baturité, que cortava o Ceará de norte
a sul, de Fortaleza ao Crato, reforçando a Capital como
centro exportador e de captação de recursos estrangei-
ros.

Sem a mesma pujança do ciclo do algodão, outras cultu-


ras ocupariam a pauta de exportações do porto de Forta-
leza, como o café, a cera de carnaúba e o óleo de oiticica.
Mas o alto custo da produção local acabaria inviabilizan-
do as exportações desses produtos.
Alencar estimulou a construção de açudes de pedra e cal; mente afetadas (os flagelados), bem como as classes
importou o primeiro engenho a vapor da província e incen- políticas locais.
tivou o cultivo e a fabricação do chá, café e açúcar. A fim
de suprir a falta de braços para a lavoura, organizou uma Um exemplo na área social foram as ações durante a
Companhia de Trabalhadores cujos salários seriam pagos Grande Seca de 1877–1879. Nesta, o governo do império
pelos próprios agricultores e mandou buscar colonos incentivou a migração de uma grande parte da população
estrangeiros – trabalhadores agrícolas e especializados do Ceará para a Amazônia e outras regiões. Com esta
nos ofícios de ferreiro, pedreiro, carpina e factura de es- campanha, os migrantes cearenses agilizaram o primeiro
tradas. Também solicitou ao governo imperial o envio de Ciclo da Borracha.
cinco “professores dignos deste nome” para residir nas
Essa campanha se repete na seca de 1943, desta vez
cinco primeiras localidades da Província, isto é, Fortaleza,
coordenada e centralizada por uma instância federal, o
Aracati, Icó, Crato e Sobral.
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a
A administração de Alencar foi muito benéfica para o Amazônia — SEMTA (ver: Soldados da Borracha), com o
progresso de Fortaleza. Ele dotou a capital com ilumina- apoio financeiro dos Acordos de Washington, e assim
ção a azeite; fez o reserva tório do Pajeú; construiu chafa- agilizou o segundo ciclo da Borracha.
rizes, uma aguada pública para as lavadeiras de roupa,
Como exemplo da ações na área de engenharia temos a
uma ponte de pedra e cal sobre o riacho do Pajeú, facili-
iniciativa de D. Pedro II, que depois da seca de 1877 envia
tando o acesso ao bairro da Prainha, onde se encontrava
uma equipe de engenheiros para a região nordestina para
a Alfândega; abriu poços (Cacimba do Povo, próximo ao
estudar as possibilidades de projetos de engenharia com
Colégio das Órfãs); mandou construir estradas “da capital
a intenção de amenizar as consequências das secas. Os
para Mecejana e d’ahi para Aracati, Icó e Crato; e ainda da
resultados desses estudos, realizados por engenheiros
capital para Soure, Maranguape, Baturité, e Sobral” e fazer
brasileiros e ingleses, indicaram a construção de barra-
estudos para o melhoramento do porto.
gens ou açudes. Um bom exemplo disto é o projeto da
Alencar determinou a plantação de árvores de ambos os construção do Açude do Cedro, uma obra que foi iniciada
lados das estradas para sombreá-las e que nenhuma ti- pelo primeiro governo republicano de Deodoro da Fonseca
vesse menos de 32 a 40 palmos de largura, aproximada- e finalizada na gestão de Afonso Pena.
mente 7 e 8 metros. Estas estradas, ligando as regiões
A criação do Instituto de Obras Contra as Secas (IOCS),
produtoras de algodão e de culturas de subsistência, faci-
atual Departamento Nacional de Obras Contra a Seca
litaram o deslocamento da produção para a capital, cola-
(DNOCS), em 1909 por Nilo Peçanha é uma das respostas
borando para o desenvolvimento do seu comércio. Visan-
governamentais ao fenômeno da seca.
do a orientar o crescimento da cidade e dar instrumentos
à administração para agir legalmente e com desembara- Os campos de concentração no Ceará, os "currais do go-
ço, Alencar aprovou a lei nº 36 de 05.10.1837, que permi- verno", foram reações governamentais executadas nas
tia a desapropriação por utilidade Municipal e Provincial. secas de 1915 e 1932 no estado do Ceará.
O botânico Freire Alemão, em 3 de maio de 1859, descre- A seca de O Quinze:
ve em diário as conversas com o Sr. Franklin de Lima,
quando ressalta o papel do futuro senador Alencar para o A seca de 1915 foi o cenário para obras escritas como o
desenvolvimento da província: “Diz que a cidade era in- livro O Quinze, de Rachel de Queiroz, bem com para a im-
significante, sem estabelecimento, mas que na adminis- plantação do primeiro campo de concentração no Ceará,
tração do senador Alencar tudo prosperou muito, princi- no Alagadiço, ao oeste de Fortaleza.
palmente com o estabelecimento dum banco provincial;
que antes dele não havia dinheiro, era tudo miséria; que No Alagadiço, estima-se um ajuntamento de 8 mil pesso-
com a criação do banco apareceram edifícios e muito as, cuidadas com alguma comida e sob a vigília de solda-
prosperou a cidades. Foi Alencar o que deu impulso à dos.
cultura da cana e fabrico do açúcar, etc.
A razão para o uso desta estratégia foi os temores de
As secas e os governos brasileiros invasões e saques dos flagelados da seca em Fortaleza —
isso já acontecera na seca de 1877, quando sertanejos
Os períodos de estiagem com grave carestia (fome gene- famintos invadiram a capital cearense, aterrorizando a
ralizada) que fazem parte do clima do Nordeste brasileiro população urbana.
despertaram (e despertam) a atenção dos governantes
desde a época do Império de D. Pedro II. E, por sua vez, Esse campo foi desfeito e as vítimas foram dispersadas
estes reagiram com planos e projetos nas áreas de enge- em 18 de dezembro do mesmo ano.
nharia, social e política, tentando assim amenizar as con-
sequências das secas tanto para as populações direta-
Durante essa seca, muitos cearenses também migraram Os registros históricos e os jornais da época descrevem
para a Amazônia. as construções como acampamentos, onde milhares de
famílias do semiárido eram obrigadas a viver em condi-
A seca de 1932: ções sub-humanas: amontoadas, quase sem comida, em
um espaço insalubre, cercado e custodiado por guardas.
Na seca de 1932 o nordeste brasileiro sofria com as con-
As autoridades estaduais chamavam de “campo de con-
sequências da estiagem, mas também vivia um momento
centração”, uma denominação que ainda não era associ-
histórico próprio dentro da era de Getúlio Vargas; Lam-
ada ao horror do nazismo alemão.
pião e seu bando centralizavam as atenções dos políti-
cos; as oligarquias políticas do Nordeste mudavam de Os primeiros foram construídos durante a grande seca de
nomes: Padre Cícero ainda tinha influência política e mi- 1915 e voltaram posteriormente, durante um ano, em
lagrosa para os sertanejos e a irmandade do Caldeirão de 1932. No total, foram sete campos estrategicamente es-
Santa Cruz do Deserto atraia centenas de flagelados para tabelecidos perto das vias ferroviárias que os agricultores
os arredores de Crato, no Ceará. do sertão cearense usavam para fugir para Fortaleza,
capital do estado que hoje sofre sua pior seca em um
Com o temor da intensa invasão de flagelados para Forta-
século.
leza — e para outras grandes cidades do Ceará — a estra-
tégia dos Currais do Governo mais uma vez foi implanta- As autoridades os vendiam como uma espécie de prote-
da, só que desta vez não somente em Fortaleza, mas ção para milhares de “flagelados”, mas as crônicas suge-
também em cidades com alguma estrutura básica e com rem que apenas buscavam evitar que se repetisse o epi-
estações de trens. Além dos campos de concentração na sódio vivido na seca de 1877, quando mais de 100 mil
capital da Terra da Luz, um no já conhecido Alagadiço e camponeses famintos triplicaram a população da capital
um outro no noroeste da capital, no Pirambu (ou Campo que, nos anos 1930, vivia na modernidade e riqueza de
do Urubu como ficou conhecido), foram instalados outros sua Belle Epoque.
em Crato, em Cariús, Ipu, Quixadá, Quixeramobim e Sena-
dor Pompeu. Os agricultores, de fato, acabaram batizando esses luga-
res como “currais do governo” porque se sentiam tratados
Os sertanejos ali alojados recebiam algum cuidado e co- como o gado que haviam perdido na seca. “Os campos de
mida, e podiam trabalhar nas frentes de obras, sempre concentração funcionavam com uma prisão”, observa a
sob a vigilância de soldados. historiadora Kenia Sousa Rios no livro Isolamento e po-
der: Fortaleza e os campos de concentração na seca de
Estima-se que cerca de 73 000 flagelados foram confina-
1932.
dos nesses campos onde as condições eram desumanas,
o que resultou em inúmeras mortes. Ainda durante essa “Os que chegavam lá não podiam ir embora. Só tinham
seca, flagelados cearenses foram enviados para o comba- permissão para se deslocar quando eram convocados
te nas trincheiras da Revolução de 1932 em São Paulo. para trabalhar na construção de ruas ou em obras de me-
lhoramento urbano em Fortaleza, ou quando eram trans-
feridos de campo”, explica.

Os únicos vestígios deste episódio sinistro da história


brasileira estão em Senador Pompeu, um humilde municí-
pio em pleno sertão, a 300 km da capital. Lá ainda estão
de pé as carcaças dos prédios onde os guardas faziam o
controle ou dos armazéns onde se guardava a comida,
mas estão todos completamente abandonados.

Última testemunha:

Carmela Gomez Pinheiro, filha de um dos vigias do cam-


po, hoje tem 96 anos, mas sua memória é muito boa.
Carmela Gomez Pinheiro, 96 anos, filha de um dos vigias do campo, relem- “Quatro ou cinco pessoas morriam todos os dias, inclusi-
bra: "barrigas inchavam" ve crianças. Todos de maus-tratos ou de fome”, conta em
sua residência, uma casa humilde em Senador Pompeu.
Quase ninguém no Brasil lembra ou sequer conhece esta
“A fome era muito grande (...) Não havia o que comer, nem
história, mas ela existiu. No início do século 20, quando o
pão, e as pessoas ficavam doentes e suas barrigas incha-
Nordeste vivia - como nos dias de hoje - terríveis secas, as
vam”, recorda, com alguma dificuldade para falar.
autoridades construíram “campos de concentração” para
evitar que os agricultores famintos do Ceará migrassem
em massa para a capital.
Mesmo que esta tragédia seja desconhecida para milhões Quando a seca criou os ‘campos de concentração’ no ser-
de brasileiros, não ficou completamente esquecida. Em tão do Ceará
Senador Pompeu se celebra anualmente a Caminhada da
Seca em homenagem a essas vítimas, um memorial idea-
lizado em 1982 pelo padre italiano Albino Donati.

Ano após ano, a grande romaria termina no “Cemitério da


Barragem”, que foi criado em torno das valas comuns,
onde os habitantes dizem que estão enterradas mais de
mil pessoas. Em torno de uma cruz, dezenas de garrafas
de água são hoje o testemunho das oferendas populares
ao falecidos sedentos.

Cinco anos do pior cenário do século:

O crânio de uma vaca jaz exposto sob o sol escaldante do


sertão. Ao seu lado, um bezerro se decompõe encostado
em um arbusto ressecado. É a imagem da desolação no
Nordeste do Brasil, que vive sua pior seca em um século.
É neste local empoeirado que pecuaristas do semiárido
cearense deixam seus animais mortos.

Em meio a cactos e arbustos, contam-se ao menos trinta


esqueletos de vacas, burros e cabras. “A maioria dos ani-
mais morreu de sede ou porque o alimento não foi sufici- Ela tirava um níquel da bolsa e passava adiante, em passo
ente. Infelizmente, essa é a realidade, é o resultado destes ligeiro, fugindo da promiscuidade e do mau cheiro do
cinco anos de seca”, conta Kerginaldo Pereira, um agricul- acampamento.
tor de 30 anos, que deixou uma de suas vacas e vendeu
No romance O Quinze, a escritora Rachel de Queiroz (For-
três bezerros e dez ovelhas “esqueléticas” porque não
taleza, 1910) narra a seca histórica de 1915 que castigou
conseguia mantê-las.
o Nordeste brasileiro e descreve parte do que foram os
Ainda que a seca acompanhe a história desta região cas- chamados campos de concentração da seca. Embora não
tigada, a memória coletiva não registra outra seca pior ou fossem campos de extermínio, como logo depois seriam
mais longa que a atual. A explicação dada pelos climato- criados na Alemanha, os campos de concentração espa-
logistas é que uma série de fatores combinaram-se per- lhados pelo Ceará no início do século XX tinham ao me-
versamente: a predominância do fenômeno El Niño no nos um objetivo equivalente ao nazista: isolar dos demais
Pacífico, o aquecimento do Atlântico Norte e as mudan- a população indesejada, a “gente imunda” que tentava
ças climáticas, que no Ceará se traduziram em aqueci- sobreviver à seca do sertão fugindo para a capital.
mento de 1,3° Celsius nos últimos 50 anos.
Desses campos, que no século passado confinaram a
Desde 2012, praticamente não chove no sertão. Prova fome, a miséria e doenças, pouca coisa sobrou. É o muni-
disso é que quilômetros de sua vegetação - a caatinga - cípio de Senador Pompeu, uma cidadezinha de quase
está desmatada e escura, como se tivesse acontecido um 30.000 habitantes, a 270 quilômetros de Fortaleza, o úni-
grande incêndio. Os rios e açudes que abasteciam as co que ainda guarda ruínas daquela época. E se antes era
populações rurais não estão em situação melhor. As au- símbolo da pobreza, hoje o local se prepara para ser tom-
toridades consideram que as represas trabalham com 6% bado como patrimônio histórico. A oficialização deve
de sua capacidade, mas algumas literalmente evapora- ocorrer com toda pompa e cerimônia até o final do mês
ram. na Prefeitura da cidade.

A dramática situação traz, muitas vezes, uma difícil esco-


lha para os moradores da região: conseguir água para os
animais ou para as pessoas.
sociais", ao chegar no casarão que era a sede da antiga
administração da companhia. “A comida era uma mão
cheia de farinha, rapadura, sal, café torrado no sangue de
boi para aumentar a quantidade de ferro e, às vezes, uma
bolacha”, diz, sob um sol fortíssimo, em meio às ruínas.

Vestiam-se com sacas de farinha, os cabelos lhes eram


raspados e viviam submetidos a condições de higiene e
limpeza extremamente precárias. Assim, morriam aos
montes, de fome, sede e doenças. Os flagelados da seca
viviam tão à margem da sociedade, que nem mesmo seus
O primeiro campo surgiu em Fortaleza em 1915. Naquele cadáveres se misturavam aos demais. Por isso, a poucos
momento, a capital cearense ostentava uma elite de inte- quilômetros da casa da administração fora construído um
lectuais e empresários que ainda colhiam os frutos do cemitério somente para essas vítimas. “Não se mistura-
boom da exportação de algodão do século anterior. Mas vam os demais mortos da cidade”, conta Alves.
junto a essa eufórica burguesia, chegavam à cidade tam-
Mas, com o tempo, as almas dessas vítimas foram consi-
bém retirantes da fome, potencializada pela grande seca
deradas divinas. “Até hoje vem gente aqui no cemitério
de 1877. O crescimento de habitantes elevou Fortaleza à
pagar promessa”, conta Alves, apontando para o muro
sétima maior população urbana no país na virada do sé-
branco de doer os olhos sob a luz do sol. “Todo ano vem
culo XIX para o XX. E com isso, vieram também medidas
uma pessoa aqui e pinta este muro em pagamento de
higienistas.
alguma promessa". As almas da barragem, como são
Na zona oeste da cidade, o governador Benjamin Liberato chamados os que morreram naquele local, são louvadas
Barroso construiu o primeiro campo, chamado Alagadiço. em um evento anual realizado em homenagem a elas, a
Em tese, a proposta inicial era abrigar os refugiados dan- Caminhada das Almas, uma romaria que ocorre todo mês
do-lhes mínimas condições de sobrevivência. Durou o ano de novembro desde 1982.
todo de 1915, até ser desativado em dezembro. Mas essa
De longe, Senador Pompeu é um município comum do
não seria o fim da história. Uma nova estiagem acometeu
interior. A linha do trem que ainda está ativada cruza o
o Nordeste em 1932 e desta vez, outros sete campos fo-
centro comercial da cidade e as pessoas caminham pelas
ram espalhados estrategicamente em rotas de migração
ruas de paralelepípedo. As ruínas que sobraram dos 12
pelo Estado do Ceará, impedindo assim a chegada à capi-
casarões construídos pela companhia inglesa ficam afas-
tal. Eram instalados próximos às linhas férreas, por onde
tadas da cidade, em uma espécie de morro que tem vista
os retirantes tentavam chegar a Fortaleza. Nas estações
para o que somente na década de 1980 se tornou o açude
de trem, eles eram encaminhados para os campos, com a
Patu.
promessa de trabalho. Sem nenhuma outra opção, se-
guiam a rota. O período em que os campos existiram foi curto, de ape-
nas um ano - do início de 1932 ao início de 1933, quando
Frederico de Castro Neves, professor de História da Uni-
voltou a chover. Mas a conta deixada foi grande. Pela
versidade Federal do Ceará (UFC), lembra que, além da
dificuldade de encontrar registros oficiais, é difícil preci-
proximidade às ferrovias, os campos eram instalados
sar a quantidade de pessoas que morreram naquela épo-
sempre ao redor de alguma obra estrutural, o que atraía a
ca. O professor Frederico de Castro Neves calcula que em
mão-de-obra. “O campo estava vinculado a uma obra pú-
janeiro de 1933, quando havia sobrado somente quatro
blica, a uma situação de trabalho”, explica. E Senador
dos sete campos, 90.000 pessoas viviam espalhadas por
Pompeu era um dos municípios que obedeciam a essa
eles. “O maior de todos foi o de Buriti, no sul do Estado, na
arquitetura. Ali, a companhia inglesa Norton Griffiths &
região do Crato. Ali chegou a ter 60.000 pessoas”, diz.
Company se estabeleceu na década de 1920 para cons-
Mas a historiadora Kênia Sousa Rios, também da UFC,
truir a barragem do açude Patu. As obras foram interrom-
relata no livro Isolamento e poder – Fortaleza e os Cam-
pidas na década seguinte e sobraram somente as cons-
pos de Concentração na seca de 1932 (Imprensa Universi-
truções, como a casa da administração, o ambulatório,
tária) que somente no campo de Ipu, a oeste do Estado,
estação de trem e a casa das máquinas, hoje, as poucas
houve registros de mais de 1.000 mortos entre 1932 e
ruínas que restaram dessa história.
1933.
Era ao redor dessa estrutura que viviam, em espécies de
Castro Neves ressalta porém, que, apesar do nome como
barracas, os flagelados da seca. “Aqui nesta janela, era
ficou conhecida essa história, não é possível comparar os
onde eles faziam filas por um punhado de comida”, expli-
campos de concentração do Ceará aos da Alemanha.
ca Valdecy Alves, um advogado nascido em Senador
“Depois da Segunda Guerra Mundial, quando foi revelado
Pompeu e que se autointitula "militante dos movimentos
o que acontecia na Alemanha nazista, a expressão ficou
muito contaminada como um campo de extermínio”, diz.
“Mas Senador Pompeu não é igual a Auschwitz. Aqui, a
pessoa recebia uma assistência, que era precária, discutí-
vel, mas era uma assistência médica”, afirma. “As pesso-
as não eram carregadas para o campo, debaixo de violên-
A pouco mais de 100 anos da queda da oligarquia Noguei-
cia, embora houvesse uma tentativa de manter aquelas
ra Accioly, depois de 16 anos encastelado no governo do
pessoas ali no isolamento”, pondera.
Ceará (1896-1912). No dia 24 de janeiro de 1912, a popu-
O tombamento do local como patrimônio histórico se lação de Fortaleza, impossibilitada de derrotar o oligarca
junta ao lançamento de um filme, reforçando a importân- pela via eleitoral em razão do controle fraudulento das
cia de Senador Pompeu na história da seca do Brasil. O eleições pela oligarquia, conseguiu depô-lo através das
longa Currais, de Sabina Colares e David Aguiar, mistura armas. Foram três dias de luta na cidade, com tiroteios,
documentário com ficção para contar, por meio de seis trincheiras, barricadas, praças depredadas, bondes vira-
personagens, as histórias dos campos de concentração. dos, fábricas incendiadas e centenas de mortos.

Discurso de Vargas Essa inédita revolta popular armada em Fortaleza foi a


explosão de uma indignação crescente contra o autorita-
O número de flagelados em "campos de concentração" rismo e desmandos da oligarquia aciolina. Para se manter
cearenses entre 1932 e 1933 ainda é objeto de discus- no poder por tanto tempo, a oligarquia contou com o
sões, assim como o número de mortes. De acordo com apoio político do Governo Federal e de coronéis do Interior
jornais da época, 73.918 mil flagelados foram abrigados (a “política dos governadores”), e usou e abusou da fraude
nos campos, sendo 16.221 deles no do Patu. eleitoral, voto de cabresto, nepotismo, desvios de verbas.
Ademais, espancou adversários, empastelou jornais opo-
Segundo Castro Neves, em janeiro de 1933, apenas quatro sicionistas e reprimiu trabalhadores, como foi o caso em
dos sete campos continuavam em operação, com 90 mil que a polícia disparou contra os catraieiros que ousaram
pessoas ainda espalhadas por eles. "O maior de todos foi fazer greve a 3/1/1904, matando sete e ferindo 40.
o de Buriti, no sul do estado, na região do Crato. Ali che-
gou a ter 60 mil pessoas", disse o professor ao jornal El A partir dessa chacina, a oposição política à oligarquia
País. cresceu na Capital reunindo oligarquias dissidentes, pro-
fissionais liberais, comerciantes, populares e intelectuais
A historiadora Kênia Sousa Rios, também da UFC, relata como Rodolfo Teófilo, João Brígido e Antônio Sales.
que somente no campo de Ipu, a oeste do Estado, houve
registros de mais de mil mortos entre 1932 e 1933. De O decisivo apoio do “salvacionismo” (1911), campanha
acordo com informações da época, o campo chegou a encetada por militares e civis para moralizar a política
abrigar 6.507 flagelados. brasileira e “salvar” os estados do arbítrio das oligarquias
então no poder (e em seu lugar entronizar oligarquias
No entanto, com base em um discurso que Getúlio Vargas dissidentes), encorajou a oposição a lançar o militar sal-
fez na capital cearense em setembro de 1933, quando os vacionista Franco Rabelo às eleições de 1912 para o go-
campos já tinham sido desmantelados e o governo pas- verno estadual, contra o candidato indicado por Accioly.
sou a priorizar frentes de trabalho, o advogado Valdecy
Alves estima que o número total de flagelados nos cam- A campanha pró-Rabelo galvanizou a insatisfação da
pos tenha sido muito maior. população citadina e a mobilizou através de comícios,
cordéis e panfletos. Duas grandes passeatas foram reali-
"No período mais agudo da estiagem, em Dezembro do zadas (as primeiras da história cearense) com milhares
ano findo [1932], elevou-se a 260 mil o número de operá- de acompanhantes: as das moças e das crianças. Na
rios diretamente empregados nas obras contra as secas, primeira (dia 14/1/12), nenhuma repressão ocorreu, mas
sendo 236 mil, na Inspetoria, e 24 mil, na Rede de Viação na passeata das crianças (21/1/12), surpreendentemente,
Cearense [...] Organizaram-se, além disso, neste Estado, a cavalaria policial investiu sobre a massa, pisoteando,
'campos de concentração', por onde transitou mais de um atirando e matando uma criança. Foi o estopim: na noite
milhão de pessoas, atendidas com serviços profícuos de desse dia, 21, iniciou-se tiroteio entre populares e polícia
higiene e assistência", disse Vargas em seu discurso. que só terminaria no dia 24 com a deposição de Accioly. A
vitória foi intensamente festejada na cidade.
Segundo o historiador Frederico Castro Neves, foi o horror
provocado pelos campos de concentração alemães, cons- Franco Rabelo foi eleito, mas, dois anos depois foi depos-
truídos a partir de 1933 e cuja existência foi divulgada to por intervenção federal no Estado. Daí em diante, ape-
após o fim da guerra, que desencorajou a construção de sar de continuarem a existir grupos oligárquicos no Ceará,
novas instalações desse tipo no Ceará após a Segunda não houve mais oligarquia monolítica no Estado.
Guerra mundial.
A sedição de Juazeiro: tal configuração. O conhecido Arraial Moura Brasil, em
que pesem todos os problemas referentes aos baixíssi-
Em 1914, o sertão nordestino foi novamente abalado por mos níveis de condições de vida, não apresentava um
uma grande revolta popular de caráter religioso, ocorrida quadro, no que diz respeito à ameaça à vida dos seus
em Juazeiro do Norte, interior do estado do Ceará, e lide- ocupantes, tão terrível como os que se verificam na maio-
rada pelo padre Cícero Romão Batista. Ao contrário do ria das atuais áreas de risco.
que ocorreu em Canudos, onde a população sertaneja
lutou em defesa da posse da terra e de sua comunidade O que ocorria é que, de uma forma geral, as favelas ante-
contra os interesses dos coroneis locais, os sertanejos de riores a esse período ocupavam praças, ruas (os chama-
Juazeiro pegaram em armas para derrubar do poder o dos “becos de prefeitura”) e terrenos de propriedades de
governador do estado do Ceará. O povo de Juazeiro, po- instituições governamentais. O percentual de terrenos
rém, lutou em defesa de uma causa que não era sua, pois privados ocupados era extremamente baixo, enquanto
a revolta popular foi preparada pelos coroneis da região que a ocupação de encostas e áreas alagáveis, também
com o objetivo de retomar o governo do Ceará. não era tão significativo. Nas décadas de 80 e 90, estabe-
leceu-se na cidade uma situação em que a demanda por
Conflito entre as oligarquias: moradia se ampliou, em progressão geométrica, que con-
tinua nos dias de hoje, por força das migrações, as quais
Para entender as causas da Revolta ou Sedição de Jua-
o município não tem como controlar.
zeiro, é preciso levar em consideração a luta entre as oli-
garquias pela conquista do poder político. Em 1910, os No passado, tínhamos na favela, como questão relevante
Estados de São Paulo e Minas Gerais romperam com a a insegurança social. Os risco relativos às condições am-
política do "café-com-leite" porque não chegaram a um bientais ocorriam em escala reduzida. A situação con-
acordo sobre a sucessão presidencial. As oligarquias de temporânea é a da ocorrência das favelas em áreas onde
São Paulo uniram-se às da Bahia, e juntas apresentaram a os seus ocupantes correm risco, não só de perdas mate-
candidatura do baiano Rui Barbosa. Minas Gerais, por sua riais, como das próprias vidas, ao ocuparem margens de
vez, se uniu ao Rio Grande do Sul e lançou como candida- recursos hídricos, encostas, etc., por estarem sujeitas a
to o marechal Hermes da Fonseca, que venceu as elei- alagamentos e deslizamentos de terra.
ções. Ao assumir a presidência, Hermes da Fonseca pro-
curou alterar a correlação de poder das forças políticas, A questão fundamental a ser discutida, como pano de
beneficiando as pequenas oligarquias. Veja mais em: fundo continua sendo a da transferência em larga escala,
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia- de contingentes populacionais do interior do Estado para
brasil/revolta-de-juazeiro-povo-pega-em-armas-sob- Fortaleza, gerando um processo de urbanização cuja in-
ordens-do-padre-cicero.htm?cmpid=copiaecola tensidade pode ser medida pelos seguintes indicadores:

O povo em fúria: a revolta urbana de 1925 em Fortaleza. A população de nossa capital, em 1960 era de pouco mais
de 500.000 habitantes, atingindo hoje cerca de 2.300.000
Em 1925, a população trabalhadora de Fortaleza se revol- habitantes; enquanto o Estado do Ceará nesse período,
tou contra as medidas postas em prática pela companhia apenas duplicou sua população, Fortaleza quadruplicou,
inglesa Light and Power, que explorava o serviço de passando a concentrar 30% da população total do Estado.
transporte público por bondes e produção de energia elé- Segundo dados oficiais, Fortaleza tem, hoje, um déficit
trica. Essas medidas envolviam a elevação das tarifas e habitacional da ordem de 160.000 unidades. Cerca de
mudanças no sistema de transporte (veículos de primeira 31% da população de Fortaleza, vivem em favelas. O nú-
e segunda classe e alteração nos horários). O protesto mero dessas áreas é hoje superior a 600, abrigando cerca
popular durou vários dias, alterando o cotidiano urbano. O de 700.000 pessoas. As áreas de risco já somam 92, abri-
presente artigo analisa os sujeitos envolvidos na revolta e gando cerca de 17.000 famílias.
as conexões desse episódio com o processo de amplia-
ção – populacional e espacial – do ambiente urbano, de- A cada dia o problema do desequilíbrio demográfico se
ficiência dos serviços públicos, aumento do custo de vida agrava, prejudicando, particularmente Fortaleza, que re-
que atingia a classe trabalhadora e sua luta pelo direito a cebe, diariamente, em torno de 46 famílias. A concentra-
cidade. ção populacional que se registra em Fortaleza, em relação
ao restante do Estado ressalta quando se constata que a
A Favelização de Fortaleza: segunda maior cidade do Estado, em tamanho de popula-
ção não chega a 10% da população de nossa cidade.
No período anterior a 1980 tínhamos algumas favelas,
talvez não chegando a duas dezenas, em sua quase tota- Ao longo dos últimos 20 anos, a partir de 1984, ocorreu
lidade não localizadas nas chamadas áreas de risco. O acentuada explosão dos aglomerados urbanos subnor-
Lagamar era, praticamente, a mais significativa área sujei- mais (favelas) em Fortaleza, em muito decorrente da crise
ta a inundações. As demais nem de longe apresentavam geral na economia do Estado, no início desse período.
Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer a exis-
tência de uma certa permissividade em relação à ocupa-
ção dessas áreas quando se verifica que, em menos de
duas décadas, essas ocorrências foram multiplicadas por
mais de 30 vezes. Registre-se, ainda que com o advento
Se na "Belle Époque", entre 1860 e 1930, os europeus ins-
do processo eletivo direto, nas capitais, as elites políticas
piraram profundas mudanças no cotidiano, cultura e cos-
estaduais e municipais não conseguiram, e isso é realida-
tumes da população de Fortaleza, nos anos 1940 e 1950,
de até os dias atuais, estabelecer um padrão de convivên-
os norte-americanos tiveram forte influência nas trans-
cia administrativa saudável que assegurasse consistên-
formações ocorridas na Capital. Eram tempos de guerra e
cia e adequabilidade aos processos de decisão sobre
pós-guerra. No Brasil, a Era Getúlio Vargas ditava os ru-
projetos e sobre alocação de recursos para esses proje-
mos do País entre 1930 e 1945, na Velha República, e
tos.
depois, de1951 seguindo até 1954, com a sua morte. Os
O contexto político atual, de mudança de administração acontecimentos do período impactaram a vida dos brasi-
municipal propicia maior reflexão sobre a cidade. No nos- leiros e, em particular, a dos fortalezenses.
so entendimento o enfrentamento do problema deve ser
Sobre esse período da História do Brasil, o jornalista, his-
encarado em duas vertentes.
toriador e escritor Lira Neto, autor da biografia do ex-
Reforço das políticas públicas estaduais para fortaleci- presidente Getúlio Vargas, explica as contradições e os
mento das redes de infra-estrutura, da rede de equipa- pontos obscuros em volta do líder brasileiro, considerado
mentos de suporte humano - educação, saúde, assistên- um mito. Em "Getúlio", no terceiro e último volume da
cia social, lazer - e da rede de atividades econômicas das obra, Lira reconstitui os acontecimentos políticos e pes-
cidades de porte médio, assegurando a elas atratividade soais mais importantes dos anos finais do ex-presidente.
mínima capaz de reter significativamente fluxos migrató- O lançamento ocorreu na noite da última sexta-feira, no
rios oriundo de áreas rurais que hoje terminam na RMF; 2. teatro Nadir Papi Saboia, na Faculdade Farias Brito.
Processo de desobstrução das áreas de risco, através da
Acontecimentos
remoção das populações nelas residentes, observando
rigidamente os seguintes critérios: a - preservação das Um dos períodos de maior relevância da história do Brasil
relações sociais e de trabalho existentes, o que determina também mexeu com a população cearense. Um dos mo-
a relocação nas proximidades dos assentamentos exis- vimentos mais marcantes e que pode ser comparado às
tentes, e junto a eixos de transporte de qualidade, e aos manifestações do ano passado foi o Dia do Quebra-
equipamentos de suporte humano; b - Assentamentos quebra. Quando, em 18 de agosto de 1942, em represália
apoiados em concepção urbanística e arquitetônica de ao afundamento de navios brasileiros por submarinos
qualidade, visando minimizar, para o Poder Público, os alemães e italianos, estudantes e população em geral
custos com terreno e infra-estrutura. saíram às ruas.
Infelizmente tais critérios não vêm sendo observados. "Os manifestantes quebraram, incendiaram e depredaram
Reconhecemos que gerir o crescimento urbano harmoni- todos os estabelecimentos de alemães, japoneses e itali-
zando interesses conflitantes é uma arte que requer, aci- anos e exigiram que o Brasil entrasse em guerra, o que
ma de tudo, disposição para parcerias, perseverança e ocorreu depois que Getúlio percebeu que os aliados esta-
elevado espírito público. Conflitos ideológicos-adminis- vam levando vantagem", conta o jornalista e historiador
trativos não podem e não devem se sobrepor à melhor Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez.
solução para os problemas urbanos, que dizem respeito a
todos os cidadãos. A Segunda Guerra Mundial deixou vestígios em Fortaleza
e coincidiu com uma série de transformações por que a
Recuso-me, a acreditar que as soluções definitivas não cidade passava nos anos 1940.
estão disponíveis. Estão sim, mas passam pela otimiza-
ção do uso dos recursos públicos, pela ação permanente, A dinamização do conhecimento tecnológico, as mudan-
mas embutida de uma visão planejada de futuro, e pela ças no ordenamento urbano, o crescimento populacional
abertura para parcerias com agentes públicos e privados. e os costumes são algumas alterações elencadas pelo
professor e historiador Eustáquio Alvarenga Júnior.

Em 20 anos, a população dobrou, passando de 78.536


habitantes, em 1920, para 180 mil, em 1940, segundo
censos oficiais. Em 1952, a população chegava a 270 mil
pessoas. "Os bondes deixaram de circular em 1947, pas-
sando o ônibus a ser o principal transporte público da
cidade a partir de 1950. Nessa época também os primei-
ros sinais luminosos (semáforos) foram instalados", co- de Davi emolduram discretamente nomes de famílias
menta. como Cohn, Kligmann, Schwarrz, Heymann e Goldsch-
midt. No mesmo plano, no lado norte do cemitério, está o
Deslocamentos bloco dos ex-combatentes; apesar da infraestrutura mo-
desta, o local é de destaque, rente à rua principal do cemi-
As classes econômicas mais abastadas foram deixando o
tério. "Naquela época, ingleses e também foram sepulta-
Centro - que passou a ser zona comercial - ocupando a
dos em Fortaleza", informa.
Jacarecanga, em menor escala, a região do Benfica, ao
sul do Centro, e vencendo a "barreira" representada pelo EUA instalaram base militar no Estado
riacho Pajeú, áreas da Praia de Iracema e Aldeota, ao les-
te. "Ficava cada vez mais explícita a segregação espacial Com a entrada do Brasil na II Guerra Mundial, em 1942, os
e de classes dentro da cidade. No lado leste de Fortaleza, Estados Unidos fizeram acordos com o Governo Vargas
os setores mais ricos, e no lado oeste, o reverso, onde para instalarem bases militares nas cidades de Belém,
moravam os mais pobres", explica o professor. Natal, Recife, Fernando de Noronha e Fortaleza. No início
de 1943, eles iniciaram a construção de sua base na capi-
Com a chegada dos soldados norte-americanos, o Estoril, tal cearense, na área onde hoje se encontra o Bairro do
antigo Clube dos Oficiais, se tornou um dos point da lazer Pici.
da cidade. A orla do bairro, o Ceará Country Club, o Clube
Iracema, praças, sorveterias e cinemas também eram Com a guerra, os hábitos também se modificaram.
espaços onde os americanos se distinguiam do típico
cearense e faziam sucesso entre as mulheres. "Em guerra, Quem tinha carro passou a andar de bonde devido à eco-
contam muito o prestígio da farda, da língua e da moeda, nomia de combustíveis, a quantidade de veículos nas ruas
e as moças que namoravam esses soldados eram cha- diminuiu consideravelmente e muitas filas se formavam
madas de garota cola-cola", ressalta o historiador. para comprar alimento.

Segundo ele, outro reflexo se deu nos colégios católicos Havia, inclusive aqui, iniciativa pública para recolher pe-
que, em vez de priorizar o francês como segunda língua, ças que formavam as chamadas Pirâmides de Metal que,
optaram pelo inglês. O aposentado João Pereira, de 75 fundidas, serviriam de base para a fabricação de arma-
anos, lembra que falar o idioma dos americanos dava mentos. Fora isso, muitos trabalhadores faziam hora ex-
status aos mais jovens. "A gente tinha mais "pose" com tra sem nenhuma remuneração. Ao mesmo tempo, Forta-
as garotas falando pelo menos alguma coisa em inglês", leza se deparava com a chegada dos soldados norte-
rememora. americanos. Os pesquisadores Estimam que, entre 1943 e
1946, um total de 50 mil americanos tenham passado por
Com efeito, analisa a socióloga Maria Selma Pereira, esse aqui.
período, momento iniciante do mundo contemporâneo, é
marcado por um intenso fluxo de mudanças que não só Ligação do Getúlio com o Ceará era muito forte
produziu transformações de ordem urbana, política e eco-
Na trajetória do Vargas, ele esteve algumas vezes no Cea-
nômica, como também afetou profundamente o cotidiano
rá. Qual a relação dele com o Estado?
e a subjetividade das pessoas, alterando comportamen-
tos e condutas, modos de perceber e de sentir. "Essa Ele tinha no Ceará fortes parceiros políticos, como ex-
também é constatada influência está na moda, na gastro- líderes do PTB e do PSD. Em duas ocasiões marcantes,
nomia, na arquitetura que ainda hoje podemos observar quando era presidente em 1940 e quando foi candidato
na nossa cultura". em 1950, ele esteve em Fortaleza. A população o recebeu
com euforia. Quando ele fechou acordo com os Estados
Patrimônio
Unidos para a cessão de bases militares, Fortaleza foi
Essas transformações não estão só nos costumes ou escolhidas como uma delas, por sua posição estratégica
tradições, salienta Nirez, elas vieram com a dança, como para os aliados.
o Charleston, o Lindy hop, o Ragtime, o Blues e o Fox ou
Sobre a decisão da entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundi-
com a música com o blues e o jazz, como também no
al, Vargas titubeou e foi forçado a se decidir. Como anali-
patrimônio ainda observado na cidade, como por exemplo
sa o fato?
as edificações do Excelsius Hotel, do Museu do Ceará, do
Palácio do Comércio, dos Correios, do Edifício Diogo. Naquele momento, a Alemanha era um grande parceiro
econômico do Brasil. A gente comprava maquinário e
Segundo ele, há outros traços históricos menos contro-
vendia grãos, matéria-prima e até armas. Quando se dá o
versos. Um deles está no Cemitério São João Batista,
bloqueio marítimo pelos ingleses e a guerra começa a
onde ainda se observam espaços reservados para jazigos
virar, com os aliados obtendo grandes vitórias, o Getúlio
de judeus mortos durante a guerra. Nos túmulos, estrelas
analisa que está na hora de reavaliar a situação. Com seu
pragmatismo, ele tenta obter os benefícios dessa nova
situação e o Brasil, por ter uma posição geográfica muito
cobiçada, passa a barganhar com os aliados para receber
condições para implantar a Usina Siderúrgica de Volta
Redonda, impulsionado a industrialização do País.
“Indústria da seca” é um termo utilizado para designar a
Para muitos, Getúlio representou um avanço para o seu estratégia de alguns políticos que aproveitam a tragédia
tempo, modernizando o País, principalmente na questão da seca na região nordeste do Brasil para ganho próprio.
dos direitos trabalhistas e da indústria. Para outros, usava O termo começou a ser usado na década de 60 por Antô-
o marketing político como ninguém. Afinal, o que ele re- nio Callado que já denunciava no Correio da Manhã os
presentou para o Brasil? problemas da região do semi-árido brasileiro.

É preciso compreender Getúlio em todas as suas dimen- Os problemas sociais no chamado “polígono da seca” são
sões. Ele foi uma figura controvérsia. Não só modernizou bastante conhecidos por todos, mas nem todos sabem
o País com leis trabalhistas como foi o criador de várias que não precisava ser assim. A seca em si, não é o pro-
empresas como a Petrobras, Eletrobras, o BNDES e o blema. Países como EUA que cultivam áreas imensas e
Banco do Nordeste. Por outro, principalmente no período com sucesso em regiões como a Califórnia, onde chove
de 1937 a 1945, governou com mão-de-ferro, perseguiu sete vezes menos do que no polígono da seca, e Israel,
adversários, censurou a imprensa. É preciso analisá-lo que consegue manter um nível de vida razoável em um
não só com devoção, mas também não apenas com ne- deserto, são provas disso.
gação.
A seca é um fenômeno natural periódico que pode ser
contornada com o monitoramento do regime de chuvas,
implantação de técnicas próprias para regiões com es-
cassez hídrica ou projetos de irrigação e açudes, além de
outras alternativas. Estes últimos, porém, são frequente-
mente utilizados para encobrir desvios de verbas em pro-
jetos superfaturados ou em troca de favores políticos.

Os “industriais da seca” se utilizam da calamidade para


conseguir mais verbas, incentivos fiscais, concessões de
crédito e perdão de dívidas valendo-se da propaganda de
que o povo está morrendo de fome. Enquanto isso, o pou-
co dos recursos que realmente são empregados na cons-
trução de açudes e projetos de irrigação, torna-se inútil
quando estes são construídos em propriedades privadas
de grandes latifundiários que os usam para fortalecer seu
poder ou então, quando por falta de planejamento ade-
quado, se tornam imensas obras ineficazes.

O Açude do Cedro, em Quixadá (CE), é frequentemente


utilizado como referência para descrever este tipo de em-
preendimento da indústria da seca: com capacidade para
aproximadamente 126 milhões de m³, foi construído em
pedra talhada à mão, com esculturas e barras de ferro
importadas, mas que chegou a secar completamente no
período de 1930 a 1932, durante um dos piores períodos
de seca enfrentados pela região, ou seja, quando mais se
precisava dele. Mais uma obra faraônica, na longa história
de projetos faraônicos da indústria da seca. É claro que
hoje a obra constitui um patrimônio histórico e cultural
importante, mas é como distribuir talheres de prata para
quem não tem o que comer.

E a história se repete. A transposição do Rio São Francis-


co é um dos pontos principais da campanha do governo
atual e é uma questão mais que polêmica. De um lado
estão aqueles que defendem que a obra é legítima e pode-
rá acabar com a seca do nordeste (senão todo, pelo me-
nos grande parte dele). E de outro aqueles que defendem
que a obra é mais um fruto da indústria da seca e que
além de não resolver o problema, ainda pode agravá-lo ao
alterar todo regime hídrico da região e pôr em risco um
Há 57 anos, o Brasil sofreu um golpe militar que impôs
dos patrimônios naturais mais importantes do Brasil co-
uma ditadura de 21 anos no País. A luta pela volta da
locando em risco a sobrevivência do próprio rio.
democracia não terminou com o fim da ditadura, segue
Assim a situação segue. Perpetuada antes pelo fenômeno viva para lembrar que é preciso resistir à política do es-
político da chamada “indústria da seca” do que pelo fe- quecimento e fortalecer a democracia brasileira. Com-
nômeno natural da “seca” em si, a tragédia que atinge prometida com esta causa, a Secretaria da Proteção So-
grande parte da região nordeste brasileira e parte da regi- cial, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos
ão norte de Minas Gerais costuma ser utilizada (e super- (SPS) realiza na próxima quarta-feira (31), às 16h, a 3ª
valorizada) para justificar a fome e o subdesenvolvimento Marcha do Silêncio que este ano será transmitida pelo
econômico e social da região que são, nada mais, do que canal da SPS no youtube (youtube.com/spsceará).
o reflexo de uma administração duvidosa que faz fracas-
O encontro terá a participação da titular da SPS, Socorro
sar qualquer tentativa de reverter este quadro com o intui-
França e da secretária-executiva de Justiça, Cidadania e
to de fazer perdurar o modelo de poder vigente.
Direitos Humanos, Lia Gomes, além de anistiados políti-
cos e seus familiares, parlamentares e gestores públicos.

A secretária Socorro França ressalta que o encontro é


para lembrar que a memória não entra em quarentena.
“Nós seguimos firmes neste propósito de manter viva a
memória de todas as mulheres e homens que lutaram
para que o nosso País pudesse ser livre e democrático.
Quando você pune crimes como estes, sinaliza para a
sociedade que isso não será mais tolerado e isso é impor-
tante para fortalecer a nossa democracia. Nós acredita-
mos na justiça social e na força deste movimento”, desta-
ca Socorro França.

Lúcia Alencar, da Coordenadoria de Políticas Públicas de


Direitos Humanos da SPS, reforça que é preciso que a
justiça brasileira reinterprete a Lei da Anistia urgentemen-
te. “Como podemos ser signatários de vários tratados
internacionais e permitir que torturadores fiquem impu-
nes. Tortura é um crime internacional, de lesa-humani-
dade que não tem a menor condição de ser considerado
anistiável. Neste encontro nós convidamos a todos que
participem, assistam de suas casas e reivindiquem co-
nosco justiça pelos desaparecidos e torturados na Dita-
dura Militar deste país”, frisa a educadora, que também
lembra que as pessoas podem se manifestar em casa,
seja com fotos de desaparecidos políticos, declamando
poemas ou músicas e postando em suas redes sociais
com a #ReinterpretaJáSTF.

Participam do encontro a médica, professora da Faculda-


de de Medicina da UFC e expresa política, Helena Serra
Azul; o deputado estadual e presidente da Comissão Direi-
tos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa, Re-
nato Roseno; a deputada federal Luizianne Lins; a coor-
denadora do grupo Memória e Verdade da Procuradoria
Federal dos Direitos dos Cidadãos do Ministério Público
Federal, Eugênia Augusta Gonzaga Fávero; a coordenado-
ra de Direitos Humanos da SPS, Amanda Freire; Valter
Pinheiro do Comitê Memória, Verdade e Justiça Ceará; a
diretora e pesquisadora teatral Herê Aquino; a vereadora
Larissa Gaspar; o escritor e teatrólogo Ricardo Guilherme;
o músico Cainã Cavalcante; e o representante do coletivo
Aparecidos Políticos, Alexandre Mourão.

to de fazer perdurar o modelo de poder vigente. O objetivo deste artigo é analisar as políticas culturais
implementadas pelo governo do Ceará nos anos 90, época
de atuação do grupo político auto-denominado de “gera-
ção das mudanças” que propõe “modernizar” o Estado. A
“modernização” da cultura assume sua face mais elabo-
rada na busca de implantação de uma indústria cultural,
tendo como carrochefe um pólo audiovisual. As discus-
sões situam-se em um campo de questões que envolve o
papel econômico da cultura em seu processo mundial de
mercantilização. O que possibilita transcender uma pos-
sível qualificação do trabalho como “estudo regional”. Até
porque fica cada vez mais difícil operar, especialmente na
produção cultural, com as dicotomias universal/regional,
centro/periferia em tempos de intensificação da globali-
zação através das novas tecnologias de comunicação.

Desde 1987, o Ceará vem sendo governado por um grupo


político autodenominado de “geração das mudanças”. O
início de tudo remonta aos jovens empresários que as-
sumem em 1978 a direção do Centro Industrial Cearense
(CIC). A partir daquele momento, iniciam uma atuação que
transformará o CIC de órgão técnico num importante fó-
rum de discussão sobre questões sociais, econômicas e
políticas, convidando debatedores de renome, muitos de
oposição ao regime militar (Celso Furtado, D. Hélder Câ-
mara, Henfil, entre outros) para discutir temas de interes-
se regional e nacional. As promoções do CIC ganham uma
ampla cobertura na imprensa local e nacional, projetando
os empresários cearenses para além das fronteiras do
estado.

Com o passar do tempo, o grupo do CIC vai assumindo


posições cada vez mais políticas. Em 1984, engaja-se na
campanha pelas diretas-já e depois no movimento
prócandidatura de Tancredo Neves. Como situa Isabela
Martin, o resultado destas tomadas de posição é que
“cristalizou a função política e pretensamente não corpo-
rativa da entidade e clarificou aos jovens empresários que
o ingresso na política partidária seria inevitável”

Como consequência, o grupo lança um candidato próprio


ao governo do estado nas eleições de 1986.

O escolhido, Tasso Jereissati, foi presidente do CIC entre


1981-1983. Candidato pelo PMDB, tem como principal
opositor o coronel Adauto Bezerra (PFL), representante
típico das forças tradicionais da política cearense. A
campanha de Jereissati utiliza essa identificação do con-
corrente com a “tradição” para se colocar como o oposto:
o candidato “moderno”, detentor do poder de trazer a
“modernidade” e a “modernização” a um dos estados
mais pobres do país. Discurso de opostos que ganha a
mídia e dá o tom da campanha.
Toda a estratégia de Jereissati é organizada a partir do Banco Mundial. Por outro lado, os críticos do discurso
slogan da mudança utilizando um forte e sofisticado es- oficial ”mudancista” situam o “novo Ceará” de Tasso Je-
quema publicitário, tido mesmo como marco na instaura- reissati e Ciro Gomes como mera “criação da mídia” que
ção de um “padrão midiático publicitário” na política bra- limita-se a dar uma roupagem moderna às velhas práticas
sileira. Espetacularização, a política passa para a esfera de autoritarismo. De fato, uma análise mais detalhada
da “sedução” mostra que a “profunda” reforma administrativa buscada
pelo “projeto mudancista” é, de um modo geral, pouco
A estratégia acaba por se mostrar vitoriosa: Jereissati é inovadora. Ela limitou-se à substituir, extinguir e/ou fundir
eleito com 52,3% do total de votos válidos. Uma vez no órgãos e moralizar, de forma autoritária, a política de pes-
poder, o grupo do CIC incorpora alguns políticos profissi- soal objetivando o equilíbrio das finanças públicas.
onais em seus quadros, com destaque para o então depu-
tado estadual Ciro Ferreira Gomes, que torna-se líder do Se os governos Tasso-Ciro-Tasso representam um grande
governo na Assembleia Legislativa. O “projeto mudancis- passo na superação do clientelismo patrimonialista e
ta”, apoiado por este grupo de empresários e políticos, criam condições para o exercício da cidadania, ao restrin-
incluindo parcela da intelectualidade local, e forte inves- gir as transformações da administração pública a ques-
timento em publicidade, acaba por alcançar a hegemonia tões financeiras e moralizadoras, acabam por perder “a
na política estadual. À vitória de Tasso em 1986, seguem- oportunidade de realizar uma verdadeira reforma do esta-
se as eleições de Ciro Gomes para a prefeitura de Fortale- do”.
za em 1988 e para o governo do Estado em 1990, bem
como o retorno de Tasso em 1994 e 1998. O “projeto mudancista” tem se mostrado, até agora, pro-
fundamente excludente, como demonstram os baixos
A força do discurso que sustenta o grupo em todos esses índices sociais, apesar do expressivo crescimento da
anos é o da “modernização” da administração pública, do economia cearense.
fim do clientelismo e da superação dos baixos índices
sócioeconômicos no estado. Linda Gondim aponta que “a
própria ascensão ao poder, calcada no discurso empresa-
rial da eficiência, constitui o cerne da novidade trazida à
cena política do Ceará pelos ‘jovens empresários’”

O que é também notado por Francisco de OLIVEIRA:

“A novidade consiste em empresários que querem fazer a


política enquanto empresários, e imprimem à política as
características da atividade empresarial”

Gerenciando o setor público guiado por valores e referên-


cias de gestão do setor privado, preocupado com a auste-
ridade financeira e fiscal e implementando uma relação
entre Estado e economia onde o primeiro atua como indu-
tor da segunda, os governos Tasso-Ciro-Tasso trazem
mudanças significativas nos índices econômicos e alcan-
çamgrande popularidade. Para Rejane Carvalho, tal con-
texto sugere “a força de um grupo político, continuamente
realimentada por campanhas publicitárias, no controle do
mercado da política estadual”

Como resultado de todo este investimento, na primeira


metade da década de 90 o estado passa a simbolizar a
eficiência e a moralização do uso de recursos públicos.
Nas palavras de Maria Amélia Mamede: “O Ceará é con-
frontado com o país – o primeiro em marcha para a mo-
dernidade: o segundo, na contramão da modernidade. É
esta condição diferenciada que torna a parte (Ceará)
exemplo modelar para o todo (País)”

O alcance desta imagem não é apenas o Brasil, mas tam-


bém o exterior, onde o governo do estado tem bom trânsi-
to com os órgãos financiadores, principalmente com o
que por sua vez estava incluída na mesorregião Metropo-
litana de Fortaleza.

O município tem como limites o Oceano Atlântico ao nor-


te; Maracanaú, Itaitinga e Pacatuba ao sul; Caucaia a
Fortaleza é um município brasileiro, capital do estado do oeste e Eusébio e Aquiraz a leste. Com 314,930 km², For-
Ceará, situado na região Nordeste do país. Distante 2 285 taleza é uma das menores capitais do país em área terri-
km de Brasília, capital federal, a cidade desenvolveu-se às torial. É, ainda, a capital estadual brasileira mais próxima
margens do riacho Pajeú, e sua toponímia é uma alusão do continente europeu, distando 5 608 km de Lisboa. O
ao Forte Schoonenborch, o qual deu origem ao município, meio ambiente de Fortaleza tem características seme-
construído pelos holandeses durante sua segunda per- lhantes às de outras cidades de litoral do Brasil. O clima é
manência no local, entre 1649 e 1654. O lema de Fortale- quente, com temperatura anual média de 26 °C. A vegeta-
za, presente em seu brasão, é a palavra em latim Fortitu- ção predominante é de mangue e restinga. Seu relevo é
dine, que, em português, significa "força, valor, coragem". de planície litorânea e de tabuleiros pré-litorâneos. O terri-
tório possui altitude média de dezesseis metros. O Parque
Está localizada no litoral Atlântico, a uma altitude média
Ecológico do Cocó destaca-se por ser a maior área verde
de dezesseis metros, com 34 km de praias. Fortaleza
da cidade e um dos maiores parques urbanos da América
possui 313,140 km² de área e 2 643 247 habitantes esti-
Latina.
mados em 2018, além da maior densidade demográfica
entre as capitais do país, com 8 390,76 hab/km². É a mai- Antes da deriva continental, a área onde Fortaleza surgiu
or cidade do Ceará em população e a quinta do Brasil. A era contígua à da cidade de Lagos, no Golfo da Guiné, na
Região Metropolitana de Fortaleza é a sexta mais populo- Nigéria. O atual litoral das duas cidades surgiu há 150
sa do Brasil e a primeira do Norte e Nordeste, com 4 051 milhões de anos, no Jurássico Superior.
744 habitantes em 2017. É a cidade nordestina com a
maior área de influência regional e possui a terceira maior ECOLOGIA E MEIO AMBIENTE
rede urbana do Brasil em população, atrás apenas de São
Paulo e do Rio de Janeiro. Parque Ecológico do Cocó, considerado um dos maiores
parques urbanos da América Latina, é a mais importante
Fortaleza foi em 2018 a nona cidade mais rica do país em área verde da cidade.
PIB e a 1ª mais rica do Nordeste, com 67 bilhões de reais.
Possui, ainda, a terceira região metropolitana mais rica A vegetação de Fortaleza é tipicamente litorânea. As
das regiões Norte e Nordeste. É importante centro indus- áreas de restinga encontram-se nas regiões de dunas
trial e comercial do Brasil, com o oitavo maior poder de próximas às fozes dos rios Ceará, rio Cocó e rio Pacoti,
compra municipal da nação. No turismo, a cidade alcan- nos leitos dos quais há ainda mata de mangue. Nas de-
çou as marcas de segundo destino mais desejado do mais áreas verdes da cidade, já não existe vegetação na-
Brasil e quarta cidade brasileira que mais recebe turistas tiva, constituindo-se de vegetação variada, árvores frutífe-
de acordo com o Ministério do Turismo. ras mais comumente. A cidade abriga sete unidades am-
bientais de conservação.
É sede do Banco do Nordeste, da Transnordestina Logís-
tica e do DNOCS. A BR-116, a mais importante rodovia do São elas o Parque Natural Municipal das Dunas de Sabia-
país, começa em Fortaleza. O município faz parte do Mer- guaba, a Área de Proteção Ambiental da Sabiaguaba, o
cado Comum de Cidades do Mercosul. Parque Ecológico da Lagoa da Maraponga, o Parque Eco-
lógico do Cocó, a Área de Proteção Ambiental do Estuário
Batizada de Loira Desposada do Sol pelos versos do poe- do Rio Ceará, a Área de Proteção Ambiental do Rio Pacoti
ta Paula Ney, a metrópole cearense é a terra natal de bra- e o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio.
sileiros de grande renome como o ex-presidente Castelo
Branco e Dom Hélder Câmara, assim como Juvenal Gale- Há, ainda na cidade, a Área de Relevante Interesse Ecoló-
no, Alberto Nepomuceno, Gustavo Barroso, Casimiro Mon- gico do Sítio Curió, que protege o último enclave de Mata
tenegro Filho, José de Alencar, Karim Aïnouz, Maurício Atlântica na zona urbana.
Peixoto e Rachel de Queiroz. É a capital brasileira mais
próxima da Europa, a 5 608 km de Lisboa, em Portugal. O rio Cocó e seu leito, além de formarem a maior área de
mangue de Fortaleza, instituíram o Parque Ecológico do
De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, Cocó, o maior parque do município, que conta com área
instituída pelo IBGE, o município pertence às Regiões estimada em 1 512,30 hectares. Há, entretanto, entraves
Geográficas Intermediária e Imediata de Fortaleza. Até na demarcação e regulamentação do local, que, em decor-
então, com a vigência das divisões em microrregiões e rência disso, não existe do ponto de vista legal.
mesorregiões, fazia parte da microrregião de Fortaleza,
O rio Cocó faz parte da bacia dos rios do litoral leste cea- cio da Luz e a Igreja do Rosário, o mais antigo templo de
rense e tem comprimento total de cerca de 50 km em sua Fortaleza, com origens datadas em 1730.
área principal. O parque está inserido na área de maior
sensibilidade ambiental da cidade, onde é possível identi- Outros espaços públicos notórios são o Parque Rio Bran-
ficar formações geoambientais como planície litorânea, co, o Parque Pajeú, o Parque da Liberdade e a Praça Por-
planície fluviomarinha e superfície dos tabuleiros litorâ- tugal. Em 2011, Fortaleza possuía cerca de quinhentas
neos. O manguezal do rio Cocó abriga espécies de molus- praças e quatrocentos espaços públicos destinados a
cos, crustáceos, peixes, répteis, aves e mamíferos. O par- áreas verdes.
que conta com estrutura de visitação, com guias, trilhas
ecológicas e equipamentos e eventos de educação ambi- LITORAL
ental e ecoturismo. O rio Coaçu, afluente do rio Cocó, for-
Praia das Fontes
ma em seu leito a lagoa da Precabura.
O litoral de Fortaleza tem extensão de 34 quilômetros,
A APA do rio Pacoti tem em seu curso d'água original o
com um total de quinze praias. Tem como limites a foz
maior rio da Grande Fortaleza, com 150 km, que estende-
dos rios Ceará, ao norte, e Pacoti, ao sul. A Praia da Barra
se, para além da capital, aos municípios do Eusébio e
do Ceará, localizada na foz do rio de mesmo nome, detém
Aquiraz.
significante importância para a história da cidade, pois foi
O outro grande rio de Fortaleza também integrante de onde o açoriano Pero Coelho de Sousa construiu a primei-
APA, o rio Ceará, desemboca na Barra do Ceará e marca a ra fortificação da história do município.
divisa com o município de Caucaia. O rio Maranguapinho,
Na Praia de Meireles, há a avenida Avenida Beira Mar, que
o maior afluente do rio Ceará, nasce na Serra de Maran-
se estende até o Mucuripe. Nela, está a principal concen-
guape e tem extensão de 34 quilômetros, dos quais 17
tração de hotéis de luxo da cidade. O clube Náutico Atléti-
estão na área de Fortaleza. Já o Parque da Pedra da Risca
co Cearense é um dos marcos da região, em frente ao
do Meio é notório pelos seus conjuntos de arrecifes, pelas
qual acontece, todos os dias, Feira de Artesanato da Bei-
atividades de mergulho e por ser objeto de pesquisas
ra-Mar.
científicas, além de ser a única unidade de conservação
marinha do Ceará. A Volta da Jurema é o local mais nobre do litoral de Forta-
leza, onde é possível embarcar em passeios de veleiro e
Entre as lagoas, as maiores são a da Parangaba, conheci-
iate pelo mar da cidade, por meio dos quais são percorri-
da pela feira de variedades que acontece em suas imedi-
dos outros pontos importantes da orla, como o Cais do
ações, e a da Messejana, onde está a maior estátua de
Porto e o Parque Eólico Praia Mansa.
Iracema de Fortaleza, com altura equivalente à de um
prédio de quatro andares. Fortaleza também abriga as Praia do Futuro
lagoas do Opaia, Maraponga, Porangabussu e Sapiranga,
esta última, parte de uma reserva ecológica protegida O bairro do Mucuripe é famoso por sua comunidade de
particular. pescadores e pela composição de Belchior que retrata o
ethos do jangadeiro e da jangada enquanto símbolos do
Entre os riachos, o mais importante é o Pajeú, às margens Ceará. Há na região, ainda, um movimentado mercado de
do qual a cidade se assentou. Restam somente duas peixes e mariscos e a mais antiga estátua de Iracema e
áreas verdes às margens do Pajeú: a primeira no bosque Martim da cidade, inaugurada em 1965. Logo após a Pon-
do Palácio do Bispo, sede da prefeitura, no Centro, e a ta do Mucuripe, está a Praia do Titãzinho, que é famosa
segunda no Parque Pajeú, também na região central de por ser o principal local para a prática do surfe na cidade
Fortaleza. Os outros são o riacho Maceió e riacho Jacare- e por ser celeiro de talentos nacionais do esporte como
canga. Tita Tavares, tetracampeã brasileira.

Entre as praças e logradouros, as mais importantes, pa- A Praia do Futuro é outro famoso ponto da orla de Forta-
trimônio não só paisagístico mas também cultural, são a leza, com uma longa extensão ocupada por robusta estru-
Praça do Ferreira, considerada o "coração" da cidade, e a tura turística, sobretudo barracas de praia e restaurantes
Praça dos Mártires, ambas palco das manifestações so- especializados em frutos do mar, considerada uma das
ciais históricas e movimentos intelectuais, esta última cinco praias mais movimentadas do Brasil. Já o Parque
dotada de dezenas de árvores centenárias, entre baobás, Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, cerca de 10
oiticicas e timboúvas. milhas náuticas, ou 50 minutos, distante do Porto do Mu-
curipe, é reconhecido como um dos melhores lugares do
A Praça dos Leões construída em 1887, é outro logradou-
país para a prática do mergulho.
ro histórico, e abriga em seus limites, além das estátuas
de leões a partir das quais seu nome foi cunhado, o Palá-
CLIMA era a de pessoas entre 45 a 59 anos, sendo 430 373
(24,040%) aptas a votar.
Fortaleza possui clima tropical semiúmido (tipo As, se-
gundo a classificação climática de Köppen-Geiger), com Em 2010, a população era composta por 1 403 292 pardos
temperatura média compensada anual em torno dos 27 (57,23%), 901 816 brancos (36,78%), 110 811 negros
°C. Sem ter exatamente definidas as estações do ano, há (4,52%), 33 161 amarelos (1,35%) e 3 071 indígenas
a estação das chuvas, de janeiro a junho (verão e outono) (0,13%). Do montante populacional do município, 2 291
e a estação seca, de agosto a dezembro (inverno e prima- 687 pessoas (93,45%) eram naturais do Ceará e, desse
vera), sendo julho um mês de transição entre as duas total, 1 715 123 (69,94%) nasceram em Fortaleza.
estações. O índice pluviométrico anual é superior a 1 600
Considerando-se a região de nascimento, os habitantes
milímetros (mm), concentrados entre fevereiro e maio,
vindos da região Nordeste do país foram estimados em 2
sendo o pico observado em março e abril.
374 029 (96,81%), 37 700 (1,54%) eram oriundos da região
Sua localização, entre serras próximas, faz com que as Sudeste, 17 257 (0,70%), da região Norte, 5 716 (0,23%), da
chuvas de outono ocorram com mais frequência na cida- região Sul e 6 404 (0,26%), da região Centro-Oeste.
de e entorno do que no resto do estado.
Entre os naturais de outras unidades da federação, Piauí
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia era o estado com maior presença, com 21 384 pessoas
(INMET), desde 1931 a menor temperatura registrada em (0,88%), seguido por São Paulo, com 21 384 residentes
Fortaleza foi de 17,7 °C 17 de agosto de 1935, enquanto a (0,87%), e pelo Maranhão, com 16 532 habitantes residen-
maior atingiu 35,2 °C nos dias 11 de janeiro de 1935, 25 de tes no município (0,67%).
dezembro de 1937 e 28 de fevereiro de 1938.[59] O maior
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 225,8
de Fortaleza é considerado alto pelo Programa das Na-
mm em 6 de maio de 1949. Acumulados iguais ou superi-
ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com valor
ores a 150 mm também foram observados em 1° de maio
de 0,754, composto pelos fatores renda (0,749), longevi-
de 1974 (198 mm), 26 de abril de 1970 (196,1 mm), 29 de
dade (0,824) e educação (0,695). A cidade possui todos os
janeiro de 2004 (180,6 mm), 30 de abril de 1963 (170 ,7
indicadores acima da média nacional segundo o PNUD.
mm) e 7 de março de 2004 (162,5 mm). Desde 1961, o
mês de maior precipitação foi abril de 2001, com 758,5 Em 2010, 86,2% da população vivia acima da linha de po-
mm acumulados. breza, 8,6% encontrava-se na linha da pobreza e 5,2% es-
tava abaixo[71] Já o coeficiente de Gini, que mede a desi-
DEMOGRAFIA gualdade social, era de 0,627, sendo 1,00 é o pior número
e 0,00 é o melhor.
No censo de 2010 do IBGE, Fortaleza era composta por 2
452 185 habitantes, fazendo do município o mais populo- A participação dos 20% da população mais rica da cidade
so do estado do Ceará e o segundo entre as regiões Norte no rendimento total municipal era de 66,6%, ou seja, 23,5
e Nordeste do país. O município detém, ainda, a maior vezes superior à dos 20% mais pobres, que era de 2,8%.
densidade demográfica do Brasil, com 7 786,4 hab/km².
De acordo com o mesmo censo, 1 304 267 habitantes REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA
eram mulheres, equivalendo a 53,19% da população, e 1
147 918, homens, representando 46,81% do total. Todos A Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi criada no
viviam em zona urbana e não existia zona rural no muni- dia 8 de junho de 1973. Naquele ano, era o sétimo maior
cípio. Da população total naquele ano, 554 737 habitantes aglomerado urbano do Brasil, com 1 070 114 habitantes
(22,62%) tinham menos que 15 anos, 1 736 138 habitan- recenseados em 1970. Nos censos de 1980, 1991 e 2000,
tes (70,80%) tinham de 15 a 64 anos e 161 310 pessoas permaneceu na mesma posição.
(6,58%) possuíam mais de 65.
No censo de 2010, atingiu o total de 3 615 767 habitantes.
Já a esperança de vida ao nascer era de 74,4 anos e a Em 2014, era a oitava maior região metropolitana do país,
taxa de fecundidade total por mulher era de 1,6. Em 2015, e terceira entre as regiões Norte e Nordeste, abrigando 3
foram estimados 2 591 188 habitantes. Fortaleza possui 818 380 pessoas. É, ainda, tida como o 128ª maior aglo-
uma área de influência regional que forma a terceira mai- merado urbano do mundo.
or rede urbana do Brasil, com população de 20 573 035
em 2008. É constituída por dezenove municípios: Aquiraz, Cascavel,
Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Hori-
De acordo com dados fornecidos pelo site do TSE, em zonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Paca-
março de 2019, 324 803 (18,15%) habitantes tinha idade tuba, Paracuru, Paraipaba, Pindoretama, São Gonçalo do
acima de 60 anos, enquanto a maior faixa demográfica Amarante, São Luís do Curu e Trairi.
IMIGRANTES Em 2014, cerca de 16% da população de Fortaleza morava
em favelas. As frequentes secas e o decorrente êxodo
Vista parcial da Zona Sul de Fortaleza, com destaque para rural do interior do estado do Ceará agravam o problema
o bairro Cambeba da favelização. No início da década de 1980, existiam 147
áreas do tipo na cidade e, em 2014, esse número evoluiu
No começo do século XX, houve um momento marcante para 509. A capital é a principal contribuinte do total de
de imigração estrangeira na cidade, com destaque para 533 favelas existentes no estado, que está na sétima co-
os portugueses. Várias famílias de origem sírio-libanesa locação nacional nesse índice.
também constituíram forte comunidade em Fortaleza
nessa época, além de espanhóis, italianos, ingleses, fran- O controle de defesa civil municipal tem priorizado o le-
ceses. vantamento de inteligência acerca das chamadas "áreas
de risco", que são locais propensos a sofrerem alagamen-
Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi movimen- tos, inundações e outras situações críticas. Em 2015,
tada com a presença de militares americanos, chegando a existiam em Fortaleza 89 áreas nessa categoria.
receber um consulado desse país.
RELIGIÃO
De acordo com estudo de 2011, pardos e brancos de For-
taleza, que constituem a maior parte da população, apre- Mesmo tendo surgido a partir de ocupação protestante
sentaram ancestralidade predominante europeia (maior holandesa e sido estabelecida como vila em função de
que 70%) e menor contribuição africana e indígena. uma fortificação e não de uma missão religiosa, o Catoli-
cismo mostrou-se dominante em Fortaleza desde o início
De acordo com um estudo genético de 2015, a população
de sua história.
de Fortaleza tem a seguinte composição genética: 48,9%
de contribuição europeia, 35,4% de contribuição indígena Segundo censo de 2010, 1 664 521 pessoas, 67,88% da
e 15,7% de contribuição africana. população fortalezense, seguiam o Catolicismo Apostóli-
co Romano, 523 456 (21,35%) eram adeptas do protestan-
Motivados pelo turismo de lazer, grupos de portugueses,
tismo, 31 691 (1,29%) representavam o Espiritismo e 162
italianos, espanhóis e de vários outros países da Europa
985 (6,65%) não possuíam religião alguma.
têm migrado para Fortaleza. No censo do ano 2000, no
Ceará existiam 2 562 residentes nascidos em outros paí- Demais religiões, como Umbanda, Candomblé, outras
ses. afro-brasileiras, Espiritualismo, Judaísmo, Hinduísmo,
Budismo, Islamismo, outras orientais, Esoterismo e outras
De acordo com a Delegacia de Imigração da Polícia Fede-
igrejas cristãs como a Mórmon possuíam menor repre-
ral em Fortaleza, em 2013, existiam cerca de 15 014 es-
sentatividade.
trangeiros morando na cidade, denotando a constante de
crescimento do índice ao longo da década de 2000. Além A população de católicos em Fortaleza era maior que a do
disso, um levantamento, feito em 2017, pelo Cônsul Geral índice brasileiro e a de irreligiosos, menor, embora com
dos Estados Unidos para o Nordeste revelou que Fortale- percentual maior que todas as outras religiões não cristãs
za é a cidade da região que concentra o maior número de somadas.
norte-americanos, entre visitantes e moradores.
A Arquidiocese de Fortaleza, Sé Metropolitana da respec-
FAVELAS E ÁREAS DE RISCO tiva Província Eclesiástica, pertence ao Conselho Episco-
pal Região Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos
Embora tenha diminuído ao longo dos anos 2000, a desi- do Brasil (CNBB) e tem como arcebispo Dom José Antô-
gualdade de renda continua marcante em Fortaleza, com nio Aparecido Tosi Marques. Foi criada em 1853, por de-
um coeficiente de Gini de 0,61. Em 2010, os 20% mais creto de Dom Pedro II, e oficializada enquanto diocese por
pobres da cidade detinham apenas 2,83% da renda total Pio IX no ano seguinte. À época, representava quase todo
do município. o território da província do Ceará. Foi elevada à arquidio-
cese em 1915, e hoje é organizada em 143 paróquias e
Ampliando-se o espectro para os 80% menos ricos, possu-
áreas pastorais. As paróquias residentes em Fortaleza
íam apenas 33,4% do total. Por sua vez, 3,36% dos habi-
somam mais da metade, com um total de 76, e as demais
tantes permanecia na pobreza extrema e 12,14% na po-
nas cidades adjacentes.
breza, significativo, entretanto, de progresso em relação a
1991, quando esses índices eram de 15,25% e 38,97%, O Seminário da Prainha foi criado em 1864, é uma das
respectivamente. mais tradicionais instituições da Igreja Católica na cidade,
e por ele passaram personalidades como Padre Cícero,
Dom Eugênio Sales, Dom Hélder Câmara e Dom José Frei-
re Falcão, dentre outros. A Catedral Metropolitana São
José, ou Catedral Metropolitana de Fortaleza, localizada cio da Abolição, ocupado pelo governador Camilo Santa-
na Praça Pedro II, no centro histórico da cidade, em arqui- na, do PT, eleito nas eleições gerais no Brasil em 2014.
tetura eclética com predominância de elementos góticos
e românicos, é uma das maiores do Brasil, com capacida- Antes do Abolição, o gabinete do governador ficava loca-
de para cerca de 5 000 pessoas, e demorou quarenta anos lizado no Palácio Bárbara de Alencar, também conhecido
para ter sua construção concluída. como Palácio Iracema, historicamente sede do Clube
Iracema, que foi cedido ao Paço Municipal e hoje abriga
Começou a ser erguida em 1938, no mesmo lugar da anti- órgãos executivos municipais.[104] Ainda na cidade, está
ga Igreja da Sé. Foi inaugurada em 1978 por Dom Aloísio o Centro Administrativo Governador Virgílio Távora, no
Lorscheider. Outro templo de destaque em Fortaleza é a Cambeba, no qual concentram-se a maioria das secretari-
Igreja de Nossa Senhora do Líbano, uma das quatro igre- as de governo e outras instituições administrativas.
jas melquitas no Brasil, erguida pela comunidade sírio-
libanesa radicada na cidade. Fortaleza é também sede regional de diversas instituições
do governo federal. Dentre as instituições militares pre-
Nossa Senhora da Assunção é reconhecida como a pa- sentes na cidade, estão a Base Aérea de Fortaleza, um
droeira da cidade, em homenagem à qual foram batizados importante marco da aviação militar durante a Segunda
o Forte e a posterior Fortaleza de Nossa Senhora da As- Guerra Mundial, a Capitania dos Portos do Ceará, a Escola
sunção. de Aprendizes-Marinheiros do Ceará e o Comando da dé-
cima Região Militar. A cidade conta, ainda, com unidades
POLÍTICA da Comitê Internacional da Cruz Vermelha e Unicef. Desde
1996, a cidade é integrante do Mercado Comum de Cida-
A administração do município é feita a partir dos poderes des do Mercosul.
executivo e legislativo. O primeiro alcaide de Fortaleza foi,
no ano da Independência do Brasil, Joaquim Lopes de CIDADES-IRMÃS
Abreu, e primeiro prefeito, no ano seguinte ao da Procla-
mação da República, José Freire Bezerril Fontenelle. Fortaleza tem intercâmbio cultural, econômico e instituci-
onal com as seguintes cidades-irmãs:
O atual e 48.º representante do poder executivo da cidade,
eleito nas eleições municipais no Brasil em 2012, é Rober-  Portugal Ferreira do Alentejo, Portugal
to Cláudio, do PDT, que conquistou um total de 650 607  Cabo Verde Ilha do Sal, Cabo Verde
votos (53,02% dos votos válidos) naquele ano e ocupa o  Portugal Lisboa, Portugal
Palácio do Bispo. O prefeito é auxiliado por sete Secreta-  Estados Unidos Miami Beach, Flórida, Estados
rias Executivas Regionais (SER). Unidos
 Itália Montese, Módena, Itália
O poder legislativo, por sua vez, é constituído pela Câmara
Municipal de Fortaleza, composta por 43 vereadores, elei- Fortaleza enquanto município surgiu a partir da Resolu-
tos para mandatos de quatro anos (em observância ao ção Régia de 9 de março de 1725, como sede no núcleo
disposto no artigo 29 da Constituição), e responsável por do mesmo nome, então elevado à categoria de vila. A
elaborar e votar leis de âmbito municipal fundamentais à instalação do município aconteceu em 13 de abril do ano
administração, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, seguinte, data considerada oficial de sua fundação. A
além de fiscalizar o executivo. O município é, em adição, categoria de cidade foi conferida a Fortaleza pela Resolu-
regido por lei orgânica. ção de 2 de janeiro, Decreto de 24 de fevereiro e Carta de
17 de março de 1823, por meio da qual recebeu também a
Em janeiro de 2015, havia 1 659 091 eleitores em Fortale- denominação de Fortaleza da Nova Bragança.
za (26,457% do total do estado), distribuídos em treze
zonas eleitorais.[100] O número de pessoas ocupadas Fortaleza abriga 121 bairros, 39 Territórios Administrati-
direta e indiretamente na administração pública municipal vos e doze Secretarias Executivas Regionais (SER), que
em 2013 foi respectivamente de 31 318 e 4 950. são suas subprefeituras, órgãos públicos de gestão direta
de cada área.
O município é sede do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, que tem jurisdição sobre todo o território do esta- Qual a minha Regional de Fortaleza?
do, do Ministério Público do Estado do Ceará e da 7ª Re-
gião do Tribunal Regional do Trabalho. Basta procurar na lista abaixo pelo bairro onde mora. O
bairro estará localizado na regional e também no territó-
O fórum responsável pelas varas de justiça da comarca rio.
de Fortaleza é o Fórum Clóvis Beviláqua, que atua sobre
as seis zonas cartoriais nas quais ela é dividida. A cidade
abriga, ainda, a sede do poder executivo estadual, o Palá-
Regional 1  Território 29: José de Alencar, Curió, Guajeru e
Lagoa Redonda
 Território 2: Vila Velha e Jardim Guanabara  Território 30: Coaçu, São Bento e Paupina
 Território 3: Barra do Ceará
 Território 4: Cristo Redentor e Pirambu Regional 7
 Território 5: Carlito Pamplona e Jacarecanga
 Território 6: Jardim Iracema, Floresta e Álvaro  Território 22: Praia do Futuro I e Praia do Futuro II
Weyne  Território 23: Cocó, Cidade 2000 e Manuel Dias
Branco
Regional 2  Território 24: Salinas, Guararapes e Luciano Ca-
valcante
 Território 7: Meireles e Aldeota  Território 25: Edson Queiroz, Sapiranga/Coité e
 Território 8: Varjota, Papicu e De Lourdes Sabiaguaba
 Território 9: Cais do Porto, Mucuripe e Vicente
Pinzón Regional 8
 Território 10: Joaquim Távora, Dionísio Torres e
São João do Tauape  Território 19: Serrinha, Itaperi e Dendê
 Território 20: Dias Macêdo, Boa Vista, Parque Dois
Regional 3 Irmãos e Passaré
 Território 21: Planalto Ayrton Senna e Prefeito Jo-
 Território 11: Quintino Cunha, Olavo Oliveira e An- sé Walter
tônio Bezerra
 Território 12: Padre Andrade e Presidente Ken- Regional 9
nedy
 Território 13: Vila Ellery, Monte Castelo , São Ge-  Território 31: Cajazeiras e Barroso
rardo e Farias Brito  Território 32: Conjunto Palmeiras e Jangurussu
 Território 14: Parque Araxá, Parquelândia, Amadeu  Território 33: Parque Santa Maria, Ancuri e Pedras
Furtado e Rodolfo Teófilo
Regional 10
Regional 4
 Território 34: Parque São José, Novo Mondubim,
 Território 15: José Bonifácio, Benfica e Fátima Canindezinho, Conjunto Esperança, Parque Santa
 Território 16: Damas, Jardim América, Bom Futuro Rosa, Parque Presidente Vargas e Aracapé
e Montese  Território 35: Maraponga, Jardim Cearense, Mon-
 Território 17: Itaoca, Parangaba e Vila Peri dubim e Vila Manoel Sátiro
 Território 18: Parreão, Vila União e Aeroporto
Regional 11
Regional 5
 Território 36: Pici, Bela Vista, Panamericano, Cou-
 Território 39: Granja Lisboa, Granja Portugal, Bom to Fernandes e Demócrito Rocha
Jardim, Siqueira e Bonsucesso  Território 37: Autran Nunes, Dom Lustosa, Henri-
que Jorge, Jóquei Clube e João XXIII
Regional 6  Território 38: Genibaú, Conjunto Ceará I e Conjun-
to Ceará II
 Território 26: Alto da Balança e Aerolândia
 Território 27: Jardim das Oliveiras, Cidade dos Regional 12
Funcionários e Parque Manibura
 Território 28: Parque Iracema, Cambeba e Messe-  Território 1: Centro, Moura Brasil e Praia de Ira-
jana cema
ATIVIDADES ECONÔMICAS DE FORTALEZA pecuaristas se mudaram para outros municípios da região
metropolitana.
No início da década de 2000, dentre as capitais do Nor-
deste, Fortaleza possuía o terceiro maior Produto Interno SETOR SECUNDÁRIO
Bruto (PIB), sendo superada por Recife e Salvador. Forta-
Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do
leza cresceu cerca de R$ 5 bilhões em 2018, chegando a
Amarante, na Grande Fortaleza
R$ 67 bilhões, superando os 3 anos anteriores que foram
marcados pela crise de 2014. A indústria é o segundo setor mais relevante para a eco-
nomia do município. Um montante de 6 876 703 000 reais
Esse crescimento consolidou o município como o mais
foi acrescentado por esse setor ao produto interno bruto
rico da região Nordeste, o nono do país e o oitavo entre as
municipal em 2012. Seu distrito industrial, na Grande For-
capitais. Em 2012, o valor de impostos sobre produtos
taleza, dividido em três polos, conta com mais de cem
líquidos de subsídios a preços correntes era de R$ 6 612
empresas instaladas de setores têxteis, metalurgia e me-
822 000, e o PIB per capita do município, de R$ 17 359,53.
cânica, material elétrico, químico e construção civil, em-
A pujante economia da cidade é refletida no poder de
pregando mais de 16 mil pessoas de forma direta.
compra, o oitavo maior do pais, com potencial de consu-
mo estimado em 42 bilhões de reais em 2014. Outro polo que fomenta a economia fortalezense é o
Complexo Industrial do Pecém, que conta com empresas
A principal fonte econômica do município está centrada
de grande porte dos setores metalmecânico, de constru-
no setor terciário, com seus diversificados segmentos de
ção civil e energia, cujo maior expoente é a Companhia
comércio e prestação de serviços. Em seguida, destaca-
Siderúrgica do Pecém, em construção, planejada para ser
se o setor secundário, com os complexos industriais. Em
de grande competitividade no cenário internacional.
2012, a porcentagem de contribuição de cada setor para a
economia municipal era de 0,07%, 15,8% e 68,8% dos seto- A produção de vestuário e calçados, couros e peles e ali-
res primário, secundário e terciário, respectivamente. mentos, notadamente derivados do trigo, além da extra-
ção de minerais, são os segmentos industriais mais fortes
A riqueza da capital deve-se em boa parte às atividades
da capital. Em 2004, foram estimados pelo IBGE um total
provenientes de toda a região metropolitana, cuja econo-
de 7 860 unidades industriais no município. O Grupo Ed-
mia é a terceira mais forte das regiões Norte e Nordeste e
son Queiroz, conglomerado com diversas empresas nos
cuja população é de quase quatro milhões de habitantes.
setores de agroindústria, mineração, bebidas, eletrodo-
Em 2012, a cidade possuía 69 605 unidades e 64 674 em-
mésticos, comunicação e educação, exerce grande in-
presas e estabelecimentos comerciais atuantes, além de
fluência na economia da cidade e da região.
um montante de 873 746 de pessoal ocupado e 786 521
pessoas assalariadas. No segmento naval, a INACE, sediada em Fortaleza, é
importante fabricante nacional de embarcações, sobretu-
Salários, juntos com outros tipos de remuneração, soma-
do iates de luxo. A Petrobras possui a LUBNOR instalada
vam 17 103 562 reais e o rendimento médio do município
em Fortaleza, que é a menor refinaria da estatal, mas que
era de 2,7 salários mínimos.
tem subprodutos de alto valor agregado, como lubrifican-
SETOR PRIMÁRIO tes finos. Dentre as grandes empresas de alimentos do
Brasil, as maiores do mercado de massas são de Fortale-
A agricultura é o setor de menor relevância econômica de za: M. Dias Branco, maior empresa da América Latina no
Fortaleza. De todo o produto interno bruto da cidade em segmento J. Macedo, quarta maior latina e Grande Moi-
2012, 32 844 000 reais foi o valor adicionado bruto da nho Cearense. No ramo de bebidas, sedia empresas de
agropecuária. atuação nacional, como o Café Santa Clara e Indaiá, além
da Ypióca e da Solar, uma das dez maiores fabricantes da
Em 2013, o município contava com cerca de 2 410 bovi- Coca-Cola no mundo.
nos, 70 caprinos, 101 equinos, 1 120 ovinos e 769 suínos,
além 1 251 vacas ordenhadas, das quais foram produzi- SETOR TERCIÁRIO
dos 1 445 000 litros de leite, e 19 140 galináceos, a partir
dos quais foram produzidos 67 mil dúzias de ovos. Centro de Eventos do Ceará. Com capacidade para 30.000
pessoas, é o segundo maior espaço de eventos do Brasil e
No município, a população é concentrada em totalidade da América Latina.
em área urbana, o que demonstra, portanto, a insignifi-
cância da agricultura para a economia municipal. Devido Fortaleza possui áreas de densa verticalização.
ao desenvolvimento urbano da cidade, em Fortaleza não
Comércio e serviço, enquanto maiores geradores de ri-
há forte agricultura tampouco terras para o plantio. Se
quezas da economia de Fortaleza, adicionaram, em 2012,
houve agricultura no passado, muitos dos agricultores e
29 879 821 000 reais ao PIB fortalezense. A cidade possui
robustos centros de compras, além de abrigar dois dos sedia o Banco Palmas, primeiro banco comunitário do
dez maiores shopping centers do país, o Iguatemi Fortale- Brasil, criado em 1998 no conjunto Palmeiras. Desde
za o RioMar Shopping. 2001, este banco emite a moeda social Palma.

Fortaleza conta com 15 centros comerciais e é a sexta TURISMO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS


capital brasileira em total de área bruta comercial locável.
Contudo, a principal área de compras é historicamente o O Beach Park é considerado o maior parque aquático da
Centro da cidade, que reúne o maior número de estabele- América Latina e recebe anualmente cerca de 1,3 milhão
cimentos e é responsável pelo maior fluxo de negócios. A de visitantes.
Avenida Monsenhor Tabosa é outro corredor comercial
robusto, de cunho predominantemente turístico e de mo- Fortaleza é um dos maiores destinos turísticos do país.
da. Destaca-se também a movimentada área comercial do Segundo o Ministério do Turismo, a capital cearense é o
bairro Montese. segundo destino mais desejado do Brasil e o quarto que
mais recebe visitantes. Grandes portais internacionais de
Regiões periféricas do município têm se desenvolvido turismo e viagens, como o TripAdvisor, e instituições na-
comercialmente e assistido à transformação de bairros cionais, como a Associação Brasileira de Agências de
predominantemente residenciais em bairros comerciais, Viagens, têm apontado a cidade como uma das melhores
sobretudo em decorrência da independência dos setores e mais procuradas do país. A vocação turística da cidade
produtivos dessas regiões e da consequente descentrali- tem estimulado o crescimento de robusta estrutura hote-
zação econômica. leira e principalmente de entretenimento, com destaque
para barracas de praia, lojas de artesanato, parques aquá-
O Centro de Eventos do Ceará tem impulsionado a eco- ticos, clubes, boates e casas de shows, além de ser res-
nomia fortalezense por meio do turismo de negócios. ponsável pelo desenvolvimento de projetos como o Ac-
Com capacidade para 30.000 pessoas, é o segundo maior quario Ceará, terceiro maior aquário do mundo, em cons-
espaço de eventos do Brasil e da América Latina. trução na orla da cidade.

No segmento de medicamentos, é sede das Farmácias Atrações como o parque temático Beach Park, localizado
Pague Menos, maior rede de varejo farmacêutico do Bra- na Grande Fortaleza, a Avenida Beira Mar e seus bares,
sil. restaurantes e clubes de música, as praias do Futuro e
Iracema têm colocado Fortaleza entre os destinos brasi-
A cidade abriga ainda grandes empresas de transporte,
leiros preferidos por europeus. Entre os maiores emisso-
como a Transnordestina da Companhia Siderúrgica Naci-
res de turistas estrangeiros para a capital cearense, estão
onal e a Expresso Guanabara, empresa de viação terrestre
Itália, Estados Unidos, Alemanha, França e Portugal. A
de influência regional. Dentre as empresas que tiveram
cidade dispõe de dezenas de consulados e representa-
suas origens na cidade, destacam-se o Grupo Jereissati,
ções diplomáticas que dão assistência ao turista estran-
controlador da rede de shopping centers Iguatemi e da
geiro.
rede de telecomunicação Oi, e o Grupo Severiano Ribeiro,
hoje denominado Kinoplex, maior rede de cinemas brasi- Fortaleza tem se desenvolvido, ainda, como emergente
leira. eixo de turismo de eventos e de negócios brasileiro. Equi-
pamentos como Centro de Convenções de Fortaleza e o
Os principais produtos de exportação de Fortaleza são
Centro de Eventos do Ceará, segundo maior do Brasil e da
petróleo refinado, que representa 64,55% dessa atividade;
América Latina, têm dando novo destaque à cidade por
coco, castanha e caju, que correspondem a 13,67%; crus-
meio da atração de grandes feiras, congressos, conferên-
táceos, em 4,36%; ceras, em 2,65%; equipamentos elétri-
cias, palestras, seminários, exposições, shows e encon-
cos, em 2,62%; embarcações, em 1,09%; calçados, em
tros nacionais e internacionais. A partir desse novo nicho
0,87%, dentre outros produtos. Em 2014, o valor das ex-
turístico explorado, Fortaleza sediou a Sexta cúpula do
portações do município alcançou 549 milhões de dólares.
BRICS.
Fortaleza possui uma unidade descentralizada do Banco
O desenvolvimento turístico de Fortaleza é promovido não
Central do Brasil, assim como a Bovespa. Bancos que
só pela atração de eventos, mas também pela consolida-
foram extintos, como o BANCESA e o BEC, que foi incor-
ção da agenda de acontecimentos e festividades da cida-
porado pelo Bradesco, tiveram suas origens na cidade,
de, como o Carnaval e seus cortejos de Maracatu, as fes-
que abrigou, ainda, o BICBANCO e o BMC.
tas juninas, o Fortal, considerado a maior micareta indoor
Em 2013, de acordo com o IBGE, a cidade contava com e maior festa de carnaval fora de época do país, e o Ceará
189 agências de instituições financeiras. Fortaleza é a Music, festival de pop rock e música eletrônica. Outro
sede do Banco do Nordeste, o maior banco de desenvol- popular e tradicional evento da cidade, sobretudo entre
vimento regional da América Latina. A cidade também jovens e tribos, é o SANA, um dos maiores eventos brasi-
leiros de cultura japonesa.
INFRAESTRUTURA Em 2013, 90,6% das crianças menores de 1 ano de idade
estavam com a carteira de vacinação em dia. Em 2012,
Sede da Enel Distribuição Ceará, antiga Companhia Ener- foram registrados 37 577 nascidos vivos, e o índice de
gética do Ceará (COELCE), em Fortaleza mortalidade infantil em até cinco anos de idade era de
13,2‰. Do total de crianças menores de dois anos pesa-
Fortaleza contava, em 2010, com 710 066 domicílios, dos das pelo Programa Saúde da Família em 2013, 0,8% apre-
quais 540 358 eram casas, 41 256 faziam parte de vilas sentavam desnutrição.
ou condomínios, 126 113 eram apartamentos e 2 339,
habitações de cômodos ou cortiços. Do total de domicí- Em 2009, a cidade contabilizava um total de 531 estabe-
lios, 502 428 eram próprios, 181 713 eram alugados, 22 lecimentos de saúde, entre hospitais, pronto-socorros e
522 enquadravam-se em imóveis cedidos e 3 403, ocupa- outras entidades, dos quais 105 eram públicos e 426,
dos de outra forma. privados, além de 6 704 leitos hospitalares de internação.

A quase totalidade do município conta com água tratada, Em 2009, Fortaleza contava com o total de 35 hospitais
energia elétrica, esgoto, limpeza urbana, telefonia fixa e gerais, dos quais onze eram públicos, 21 privados, dois
telefonia celular. O serviço de abastecimento de energia filantrópicos, e um sindical. Além disso, contava com 54
elétrica é feito pela Enel Distribuição Ceará, antiga Com- hospitais especializados e oito policlínicas. O total de
panhia Energética do Ceará (COELCE), e, em 2010, segun- médicos atuantes na rede de saúde do município era de
do o IBGE, 707 940 domicílios (99,7% do total) possuíam 13 604, aproximadamente 5,4 para cada mil habitantes.
acesso à rede elétrica, cuja voltagem, em Fortaleza, é de
220 V. Fortaleza conta com 117 unidades de postos de saúde,
três UPAs administradas pelo município e seis adminis-
Há na cidade duas unidades de produção de energia, sen- tradas pelo estado.
do uma experimental de produção de energia eólica, pró-
xima ao Porto do Mucuripe, e a outra de gás natural. O município é a sede de instituições de saúde todos os
três níveis de governo: federal, estadual e municipal. O
O fornecimento de água e a coleta de esgoto da cidade primeiro hospital construído em Fortaleza foi a Santa
são feitos pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará Casa de Misericórdia, fundada em 1861.
(CAGECE), e, em 2008, havia 828 662 unidades consumi-
doras na cidade, nas quais eram distribuídos em média Dentre as principais instituições públicas de saúde da
487 281 m³ de água tratada por dia. cidade, destacam-se o Instituto Doutor José Frota, o mai-
or hospital administrado pela Prefeitura Municipal, e o
Segundo o IBGE, em 2010, 662 543 domicílios eram aten- Hospital Geral de Fortaleza, o maior hospital administrado
didos pela rede geral da companhia (93,3% do total), em- pelo Governo do Estado.
bora 98,7% possuísse água encanada, e 700 132 domicí-
lios (98,6% do total) contavam com escoadouro sanitário Dentre as instituições privadas, as maiores são o Hospital
de uso exclusivo das residências. A coleta de lixo naquele Regional Unimed Fortaleza, Hospital Antônio Prudente,
ano abrangia 701 163 (98,74% do total) domicílios. Hospital Monte Klinikum e Hospital São Mateus.

Em 2014, 4% do lixo coletado na cidade passava por pro- Há, ainda, em Fortaleza, três unidades da Farmácia Popu-
cesso de reciclagem, entretanto, medidas foram tomadas lar do Brasil.
para que o total reciclado chegue a 12%, de forma a incluir
Um dos programas de saúde básica de maior destaque
a cidade no grupo de municípios cumpridores da meta da
em Fortaleza é o Programa de Saúde da Família, dentro
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
do qual a cidade está na terceira colocação no país em
SAÚDE extensão de cobertura, com centenas de equipes distribu-
ídas em dezenas de unidades de atendimento.[178] O
Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, primeiro hospital Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é o
público construído na capital cearense, em 1861 serviço de assistência médica de gravidade do município,
pelo qual são atendidas em média 200 ocorrências diá-
Hospital São Mateus, instituição privada instalada em rias.[179]
1993
Fortaleza é dotada de vários cursos de medicina, porém, o
Os índices de saúde da população fortalezense são me- mais tradicional deles é o da Faculdade de Medicina da
lhores que a média brasileira. Conforme dados de 2010, a Universidade Federal do Ceará, criado em 1948, que ad-
taxa de mortalidade infantil em até um ano de idade era ministra grande estrutura de instituições especializadas
de 15,8‰, contra uma média brasileira de 16,7. de saúde, entre hospitais e clínicas, destacando-se entre
elas o Hospital Universitário Walter Cantídio, líder na Amé-
rica Latina em transplante de fígado.[180] Dentre as fa-
culdades de medicina do país, a Faculdade de Medicina mental, das quais 402 públicas e 730 da rede particular.
da UFC é a 13ª melhor do Brasil, a segunda melhor das Dentre as 308 instituições que forneciam o ensino médio,
regiões Norte e Nordeste e a melhor do Ceará.[181] A gra- 152 pertenciam à rede pública e 156 eram escolas priva-
duação em medicina da UFC é, ainda, uma das mais con- das. Em 2012, o número de matriculados no ensino fun-
corridas do país.[182] damental foi de 342 920 e, no ensino médio, 111 887.

EDUCAÇÃO E CIÊNCIA Estão instaladas na cidade 54 instituições de ensino su-


perior. A primeira delas foi a Faculdade de Direito do Cea-
O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura sedia eventos e rá, criada em 1903. As universidades presentes no muni-
programas de divulgação e popularização de ciência e cípio são a Universidade Federal do Ceará (UFC); a Uni-
tecnologia versidade Estadual do Ceará (UECE), melhor universidade
estadual das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e a
Segundo o ranking universitário da Folha de S. Paulo de Universidade de Fortaleza (UNIFOR), a melhor entre as
2016, a Universidade Federal do Ceará (UFC), cuja sede instituições privadas das regiões Norte e Nordeste, se-
localiza-se em Fortaleza, é a 10ª melhor universidade do gundo o Ranking Universitário da Folha de S. Paulo.
Brasil, 1ª das regiões Norte e Nordeste do país e melhor
universidade do Ceará. A UFC é a melhor universidade do Ceará e das regiões
Norte e Nordeste além de 10ª melhor universidade do
É, ainda, uma das universidades mais procuradas no Sis- Brasil. A graduação de Medicina da UFC foi a mais procu-
tema de Seleção Unificada. rada do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) em todo o
Brasil no ano de 2013.
As Casas de Cultura da Universidade Federal do Ceará
formam o maior programa de extensão universitária em O curso de Medicina da UFC é o melhor do Ceará, 2º me-
ensino de idiomas no país. lhor do Norte e Nordeste e 13º melhor do Brasil.
Em 2010, o nível do fator educação do Índice de Desen- Em Fortaleza, existem várias instituições de pesquisa e
volvimento Humano fortalezense era mediano, não obs- desenvolvimento tecnológico, como a Fundação Cearense
tante seu grande avanço, que passou de 0,367 para 0,695 de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico,
entre 1991 e 2010. Conforme os dados do Atlas do De- Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos,
senvolvimento Humano do Brasil de 2010, os níveis de Rádio-Observatório Espacial do Nordeste (no qual está
escolarização da população adulta de Fortaleza se dividi- localizado o maior radiotelescópio do Brasil), unidade de
am como segue: 8,57% não completaram o ensino fun- pesquisa em agroindústria tropical da Empresa Brasileira
damental ou eram analfabetos, 62,43% tinham o ensino de Pesquisa Agropecuária, dentre outras.
fundamental completo, 45,93% possuíam o ensino médio
completo e 13,73%, o superior completo; todos esses ín- O campus do Pici da Universidade Federal do Ceará, o
dices superiores à média brasileira. maior centro de tecnologia em Fortaleza e um dos melho-
res do país, abriga, além de vários laboratórios e cursos
O fortalezense médio tinha 10,04 anos esperados de es- das áreas de tecnologia, o Parque de Desenvolvimento
tudo, mais que a estimativa cearense, de 9,82. Segundo o Tecnológico Federal (Padetec), o Núcleo de Tecnologia
mesmo estudo, 4,14% das crianças com faixa etária de 5 e Industrial do Ceará (Nutec), o Centro Nacional de Proces-
6 anos não estavam na escola. samento de Alto Desempenho no Nordeste e a sede da
GigaFOR, rede que interliga grande parte das instituições
Em 2010, de acordo com dados da amostra do censo
de desenvolvimento científico da cidade e que faz parte
demográfico, da população total, 783 911 habitantes fre-
do cinturão digital do estado.
quentavam creches e/ou escolas. Desse total, 23 379
frequentavam creches, 73 219 estavam no ensino pré- No bairro da Cidade dos Funcionários, há outro polo de
escolar, 26 319 na classe de alfabetização, 6 443 na alfa- desenvolvimento tecnológico voltado para a tecnologia
betização de jovens e adultos, 362 029 no ensino funda- da informação, que abriga instituições como o Instituto
mental, 125 275 no ensino médio, 22 723 na educação de do Software do Ceará e uma sede do Instituto Atlântico. A
jovens e adultos do ensino fundamental, 27 016 na edu- sede regional do Instituto Nacional da Propriedade Indus-
cação de jovens e adultos do ensino médio, 102 929 em trial para o Norte e o Nordeste fica na capital cearense.
cursos superiores de graduação, 10 152 na especializa-
ção de nível superior, 3 104 em mestrado e 1 324 em cur- Está em construção na Grande Fortaleza o Polo Industrial
sos de doutorado. e Tecnológico da Saúde, que contará com a segunda uni-
dade da Fundação Oswaldo Cruz e Instituto de Tecnologia
Um total de 200 457 habitantes nunca haviam frequenta- em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) do país, uma uni-
do uma instituição de ensino. O município contava, em dade do Centro de Pesquisas Renato Archer, órgão de
2012, com 1 132 escolas que ofereciam ensino funda- pesquisa vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovação, além de empresas privadas, que formarão um contam com parte considerável da audiência fortalezen-
centro nacional de ensino, pesquisa e desenvolvimento se.
em saúde.
TRANSPORTES
Fortaleza é um centro educacional de destaque no ensino
médio e no superior não só do estado do Ceará, mas tam- Em 2013, Fortaleza possuía uma frota de 908 074 veícu-
bém da porção Norte e Nordeste do país. los, dos quais 511 109 automóveis, 229 154 motocicletas,
58 352 camionetes, 31 075 camionetas, 21 479 cami-
Entre as instituições públicas de grande relevância histó- nhões, 15 557 automóveis utilitários, 6 563 ônibus, 6 507
rica ou centenárias que oferecem ensino médio, desta- motonetas, 3 567 caminhões-trator, 3 263 micro-ônibus,
cam-se o Colégio Militar de Fortaleza, o Instituto Federal além de 21 266 outros tipos de veículo.
de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que
também oferece cursos técnicos, graduação e mestra- A densidade de tráfego em horários de pico na cidade é
do[199] e o Liceu do Ceará, que, com 170 anos, é o colégio apontada como a quarta maior do país, com 48% de vias
mais antigo do estado e o terceiro do Brasil.[200] Os colé- congestionadas. A malha cicloviária de Fortaleza é com-
gios privados Farias Brito e Ari de Sá estão entre as vinte posta por 116,4 km, dos quais 78,8 km são ciclovias e 37,6
melhores escolas do país em desempenho no Exame Na- km são ciclofaixas.
cional do Ensino Médio.
O município conta, ainda, com sistema de bicicletas pú-
Fortaleza é nacionalmente reconhecida por obter o maior blicas, o Bicicletar, que possuía 40 estações e 400 unida-
número de aprovações nos vestibulares das escolas mili- des em abril de 2015.Em 2015, a frota de táxis municipal
tares nacionais, tais como o Instituto Tecnológico de Ae- era composta por 4 886 veículos, entre comuns, adapta-
ronáutica (ITA) e o Instituto Militar de Engenharia (IME). dos e de uso especial.

O IDEB dos anos iniciais do ensino público de Fortaleza O acesso terrestre ao município é feito pelas rodovias BR-
em 2019 foi de 6,2, e o dos anos finais foi 5,1. Fortaleza 116, BR-020, BR-222, CE-090, CE-085, CE-065, CE-060, CE-
teve um dos melhores resultados entre as capitais esta- 040 e CE-025, além do Terminal Rodoviário Engenheiro
duais. João Thomé onde se concentram as linhas intermunici-
pais e interestaduais.
COMUNICAÇÕES
O sistema de transporte rodoviário da cidade é regula-
Na área de telefonia, a cidade é reconhecida pelo código mentado pela Empresa de Transporte Urbano de Fortale-
de área (DDD) 85.Seu Código de Endereçamento Postal za (ETUFOR), órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza,
(CEP) estende-se de 60000-001 a 61599-999. enquanto que o trânsito de veículos é fiscalizado pela
Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Ci-
O setor de comunicação em Fortaleza tem como princi- dadania (AMC).
pais atuantes dois grandes conjuntos de empresas, o
Grupo de Comunicação O Povo e o Sistema Verdes Mares, O transporte coletivo realizado por ônibus é denominado
que comandam, respectivamente, os jornais O Povo e Sistema Integrado de Transportes (SIT-FOR), e sua opera-
Diário do Nordeste, ambos entre os cinquenta maiores ção teve início em 1992. O sistema proporciona ao usuá-
jornais do Brasil em volume de circulação. rio opções de deslocamento e acesso às diferentes zonas
da cidade por meio da integração de tarifa única em ter-
Entre outros veículos administrados por esses dois con- minais regionais. A rede SIT-FOR é baseada em três tipos
glomerados, estão a TV Verdes Mares (afiliada à Rede de linhas: as que fazem integração bairro-terminal, as que
Globo), TV Diário, FM 93 e G1 Ceará por parte da Verdes integram o terminal ao centro da cidade ou ainda a outro
Mares, e TV O Povo, Rádio O Povo CBN e Nova Brasil FM terminal.
Fortaleza por parte do O Povo de Comunicação.
Fortaleza possui sete terminais integrados (Antônio Be-
Tais instituições detêm maior popularidade, sobretudo zerra, Papicu, Parangaba, Lagoa, Siqueira, Messejana e
enquanto outras entidades de imprensa como o Sistema Conjunto Ceará) e dois terminais abertos (Praça Coração
Jangadeiro, detentor do portal Tribuna do Ceará, TV Jan- de Jesus e Estação João Felipe). Mais de 1 milhão de
gadeiro (afiliada ao SBT), NordesTV (afiliada à Rede Ban- passageiros por dia utilizam os terminais fechados por
deirantes), a Rede Jangadeiro FM — e sua geradora — e meio de 263 linhas de ônibus regulares, que oferecem 11
Tribuna BandNews FM (afiliada à BandNews FM), e Grupo 000 combinações com rotas que se distribuem por toda a
Cidade de Comunicação, detentor da TV Cidade (afiliada à cidade.
RecordTV), a 89 FM, as rádios AM Cidade e Cidade FM,
Jovem Pan FM Fortaleza (afiliada à Jovem Pan FM), Jo-
vem Pan News Fortaleza e Atlântico Sul FM, que também
São 25 empresas operantes com uma frota de mais de 2 Aeroporto Internacional Pinto Martins
000 ônibus, (sem incluir os ônibus que circulam na região
metropolitana) que realizam, diariamente, quase 20 000 O atual Aeroporto Internacional Pinto Martins, situado no
viagens. Em 2013, começou a operar na cidade o sistema centro geográfico de Fortaleza, a quinze minutos das
de bilhete único, que permite ao usuário utilização ilimita- principais zonas de serviços e da orla de Fortaleza, foi
da de ônibus e vans por meio de tarifa única durante perí- construído entre 1996 e 1998, quando então passou a ser
odo de duas horas sem necessidade de integração por classificado como Internacional.
terminais. Na cidade, estão em fase de implementação,
O aeroporto passa hoje por processo de ampliação, a
ainda, sete linhas de Bus Rapid Transit (BRT), denomina-
partir da qual o número de pontes de embarque aumenta-
das Expresso Fortaleza.
rá de sete para dezesseis e o terminal de passageiros
O primeiro a ser inaugurado foi o corredor expresso Antô- será ampliado de 38 000 m² para 133 000 m².
nio Bezerra/Papicu. Em 2015, iniciou-se em Fortaleza o
Em 2014, o aeroporto tinha capacidade para atender 6,2
processo de climatização de toda a frota de ônibus do
milhões de passageiros por ano, porém, após ampliação,
SIT-FOR. A cidade já conta com 122 km de faixas exclusi-
a capacidade será de 11,2 milhões.
vas de transporte coletivo.
O aeroporto Pinto Martins é o terceiro aeroporto mais
O Metrô de Fortaleza é operado pela empresa de capital
movimentado da Região Nordeste e um dos mais movi-
social Companhia Cearense de Transportes Metropolita-
mentados do país, recebendo, em média, 1 500 aeronaves
nos (Metrofor). Fundada em 2 de maio de 1997, a compa-
internacionais e 65 000 aeronaves domésticas ao ano. Em
nhia é responsável pela administração, construção e pla-
2013, recebeu mais de 5,9 milhões de passageiros.
nejamento metroviários em Fortaleza e sua região metro-
politana. O sistema é capitaneado pelo Governo do Esta- Existem planos, entretanto, para a construção de um se-
do do Ceará e tem como atual presidente Eduardo Hotz. O gundo aeroporto na Região Metropolitana, na zona do
Metrô de Fortaleza iniciou suas operações no dia 15 de Pecém. O novo terminal será destinado ao transporte de
junho de 2012, em operação assistida. cargas e voos internacionais, enquanto o Aeroporto de
Fortaleza manterá os voos domésticos e executivos.
Já a operação comercial se iniciou no dia 1 de outubro de
2014, com cobranças de passagens, esta ficou fixada no Com a construção do Forte Schoonenborch pelos holan-
mesmo valor vigente no Sistema Integrado de Transpor- deses em 1649, nas proximidades do riacho Pajeú, uma
tes de Fortaleza (SIT-FOR), sendo naquela época 2,40. grande estrutura de atracação foi pretendida como porto
por 300 anos. Construções como a Ponte Metálica e a
Atualmente está em funcionamento 18 das 20 estações
Ponte dos Ingleses fizeram parte desse intento. O primei-
projetadas da Linha Sul, em operação comercial, 9 esta-
ro porto da cidade funcionou na região da então Prainha,
ções em caráter de trens metropolitanos da Linha Oeste
hoje Praia de Iracema, porém a estrutura portuária de
(futuramente a ser convertida em um sistema de metropo-
Fortaleza só veio a desenvolver-se de fato com a constru-
litano) é 3 das 10 estações projetas do VLT Parangaba-
ção, na década de 1940, do Porto do Mucuripe, que veio a
Mucuripe, funcionando em caráter experimental sem
transformar a estrutura da cidade.
transporte de passageiros. Possuindo uma extensão pro-
jetada de 69,4 quilômetros distribuídas em 5 linhas, liga- O porto conta com um cais de 1 054 m de extensão, plata-
das por 53 estações, a maior parte em construção ou em forma de atracação exclusiva para petrolíferos, área de
projeto. armazéns tem 6 000 m² e quase 200 000 m² de pátio para
contêineres. Possui, ainda, três moinhos de trigo e está
Fazem parte do sistema as linhas Sul (Central-Chico da
interligado ao sistema ferroviário por um extenso pátio de
Silva ↔ Carlitos Benevides, quase concluída, com algu-
manobras. Já o Terminal Portuário do Pecém, ou Porto do
mas estações ainda inoperantes), Leste (Central-Chico da
Pecém, está localizado na Região Metropolitana de Forta-
Silva ↔ Edson Queiroz, em início de construção), Oeste
leza, no município de São Gonçalo do Amarante.
(Central-Chico da Silva ↔ Caucaia), Mucuripe (Parangaba
↔ Iate, atualmente com 3 estações em fase experimental Por sua localização geográfica, o Porto do Pecém possui
e 70% em construção) e Maranguape (Jereissati ↔ Ma- o menor tempo de trânsito entre o Brasil e os Estados
ranguape). Unidos e a Europa, com médias de seis e sete dias, res-
pectivamente, o que o coloca em posição estratégica de
O sistema foi concebido para integrar-se a dois dos sete
influência regional.
terminais rodoviários da cidade, Parangaba e Papicu, e
para conectar-se ao terminal de passageiros do Porto do Na região, está em processo de configuração um pólo de
Mucuripe e ao Aeroporto Internacional de Fortaleza. Diari- desenvolvimento de segmentos petrolífero, químico, me-
amente, o sistema atualmente transporta 23 mil passa- talmecânico, dentre outros ramos industriais, compondo
geiros.
o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, do qual o geiro. Em 2007, o Ministério do Turismo, em parceria com
Porto do Pecém faz parte. a Prefeitura, iniciou na cidade ações pioneiras para o
combate a esse tipo de delito.
SEGURANÇA PÚBLICA E CRIMINALIDADE
Em 2005, o Assalto ao Banco Central do Brasil em Forta-
Veículos do programa de policiamento comunitário em leza tornou-se o maior furto a um banco no país, alcan-
Fortaleza, o "Ronda do Quarteirão" çando o valor de aproximadamente R$ 164,7 milhões. O
crime foi parcialmente solucionado, com a prisão e con-
A Polícia Militar do Ceará tem várias companhias e postos denação de mais de uma centena de criminosos e recupe-
de patrulhamento na capital, sendo Fortaleza a sede de ração de parte do valor roubado. O ocorrido foi, ainda,
vários grupos e escolas da Polícia Militar. A Polícia Civil transformado no filme Assalto ao Banco Central, de 2011.
divide a cidade em 24 distritos policiais. A Guarda Muni-
cipal de Fortaleza é a instituição que complementa as CULTURA
atividades de segurança pública em Fortaleza, e seu con-
tingente em 2015 era de cerca de 2 500 agentes. Funcio- De acordo com o Plano Diretor de Fortaleza, as Zonas
na em Fortaleza a sede do Centro Integrado de Operações Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico,
de Segurança (CIOPS), órgão estadual de vigilância, con- Histórico, Cultural e Arqueológico são as regiões do Cen-
trole e assistência emergencial cujo sistema congrega tro, Parangaba, Alagadiço Novo/José de Alencar, Benfica,
Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Porangabuçu e Praia de Iracema, que abrigam 1 186 imó-
Municipal, Autarquia Municipal de Trânsito, SAMU, entre veis de interesse de preservação.
outras instituições.
O patrimônio arquitetônico de Fortaleza na forma de bens
Fortaleza tradicionalmente não era uma das capitais mais tombados, contudo, está predominantemente concentra-
violentas do país, mas a criminalidade, aferida através do do no centro da cidade. O Farol do Mucuripe está em ruí-
número de homicídios, tem crescido vertiginosamente na nas. O Ceará e Fortaleza fizeram parte do grupo pioneiro
cidade, conforme o Mapa da Violência realizado pelo Cen- de estados e cidades a adotarem políticas públicas de
tro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos. Em 2012, proteção ao patrimônio imaterial vivo de sua cultura, por
foram cometidos 1 920 homicídios na região metropolita- meio do programa Mestres da Cultura.
na, com uma taxa de 76,8 homicídios por 100 mil habitan-
tes e um aumento de 42,2% em relação ao ano anterior. A vida cultural de Fortaleza é diversificada e fecunda.
Muitos artistas, entre escritores, pintores e cantores utili-
No comparativo entre 2002 e 2012, a violência cresceu zam os palcos e as praças mais movimentadas da cidade
141,1% em Fortaleza, colocando a capital cearense na para estimular a cultura regional. Dentre os teatros, os
quarta posição entre as capitais brasileiras com maior maiores e mais populares são o Teatro José de Alencar,
ascensão de homicídios nesse período. Entre todos os palco dos principais espetáculos da cultura local e uni-
municípios brasileiros, Fortaleza ocupa a 60ª posição. versal,[251] o Teatro São José, o Cine-Teatro São Luiz,
Teatro RioMar e Teatro Via Sul.
O índice de acidentes de trânsito em 2012 foi de 26,1
ocorrências para cada 100 mil residentes, ocupando a 30ª O Museu do Ceará guarda numerosos artefatos da memó-
colocação a nível estadual e a 561ª a nível nacional.[239] ria fortalezense, entre peças de paleontologia, arqueologia
Em relação à ocorrência de suicídios, a taxa foi de 6,8 e antropologia indígena, mobiliário, itens das lutas e revol-
ocorrências a cada 100 mil habitantes, sendo a 53ª maior tas populares, da religiosidade e sobre a produção intelec-
taxa a nível estadual e a 730ª a nível nacional. tual e a irreverência do cearense.

Com o aumento da criminalidade, Fortaleza entrou no O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é o principal
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, espaço cultural de Fortaleza. Neste centro, estão locali-
realizado nos municípios e estados brasileiros em situa- zados o Museu da Cultura Cearense, o Museu de Arte
ção agravante de violência. No final de 2007, foi implan- Contemporânea do Ceará, teatros, um planetário, cinemas,
tado o programa Ronda do quarteirão, que serve de apoio lojas, e espaços para apresentações públicas, além de
à Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia Civil da cidade abrigar, em anexo, a Biblioteca Pública Governador Mene-
por meio do modelo de policiamento comunitário, no qual zes Pimentel, o Porto Iracema das Artes e a Escola de
milhares de policiais se revezam 24 horas na vigilância de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.
122 áreas estratégicas.
Outros exemplos de construções históricas notórias de
A exploração sexual tem se tornado um problema recor- Fortaleza são o Prédio da Alfândega de Fortaleza, o qual
rente em Fortaleza, divulgado pela mídia local, nacional e abriga a CAIXA Cultural de Fortaleza, o Sobrado do Doutor
internacional. A cidade tem sido palco de uma rede de José Lourenço, centro cultural especializado em artes
prostituição, inclusive infantil, com alvo no turista estran- visuais, e o prédio da Estação João Felipe, ponto de parti-
da da estrada de ferro construída na seca de 1877, hoje pelos festivais de poesia, seminários e saraus de jovens
desativado, com planos de uso de suas dependências intelectuais fortalezenses.
para a instalação da Pinacoteca do Ceará.
No cinema, o nome mais tradicional de Fortaleza é Zelito
Tais equipamentos localizam-se no entorno de uma das Viana, diretor de filmes como Villa-Lobos - Uma Vida de
áreas de fundação de Fortaleza, com um patrimônio ar- Paixão e Morte e Vida Severina. Na atualidade, destaca-se
quitetônico ainda preservado, de predominância neoclás- nacionalmente Karim Aïnouz, responsável pela direção de
sica, remanescente da era da economia do algodão nos Madame Satã, O Céu de Suely e Praia do Futuro, e roteiro
tempos da belle époque fortalezense. Apesar de distante de Cidade Baixa, Cinema, Aspirinas e Urubus e Abril Des-
do centro histórico, a Casa de José de Alencar foi o pri- pedaçado, além de ter filmes seus exibidos em eventos
meiro bem tombado de Fortaleza, no ano de 1964. O local como o Festival de Cannes, Festival de Veneza, e na mos-
abriga coleções de arte, pinacoteca, biblioteca e as ruínas tra competitiva pelo Urso de Ouro do Festival de Berlim.
do primeiro engenho a vapor do Ceará, de 1830, marco
inicial da industrialização do estado. Outro atual expoente do cinema nascido em Fortaleza é
Halder Gomes, diretor e roteirista de Cine Holliúdy. Novos
O artesanato cearense tem em Fortaleza seu principal cineastas da cidade têm ganhado espaço, nos últimos
mercado e vitrine. Na cidade, existem vários lugares es- anos, em exibições de destaque como o Festival do Rio. O
pecíficos para comércio de produtos artesanais, tais co- mais tradicional evento de cinema de Fortaleza é o Cine
mo a Central de Artesanato do Ceará (CeArt); Centro de Ceará (Festival Ibero-Americano de Cinema), considerado
Turismo do Ceará (Emcetur), na construção histórica onde um dos principais festivais do país, que acontece no Cine-
funcionou a Cadeia Pública de Fortaleza; a Feira de Arte- Teatro São Luiz.
sanato da Beira-Mar; o Mercado Central de Fortaleza; e o
Polo Comercial da Avenida Monsenhor Tabosa. A diversi- HUMOR
dade do artesanato encontrado em Fortaleza é grande,
sendo mais característicos artigos oriundos do couro, A reflexão presente no Imaginário coletivo acerca do pa-
argila, cipó e madeira, manufaturas de fibra de algodão, pel do humor na identidade do cearense remonta ao fim
cerâmicas, cestarias e trançados com palha de carnaúba, do século XIX, quando Adolfo Caminha e Oliveira Paiva
rendas de bilros, bordados, crochês, entre outros. cunharam o termo Ceará Moleque, em alusão às brinca-
deiras e provocações sociais e políticas da população,
LITERATURA E CINEMA como, por exemplo, o festival de mentiras do dia 1 de
abril, que premiava, no "Cajueiro da Mentira", na Praça do
A principal manifestação literária da história de Fortaleza Ferreira, o maior contador de lorotas do Ceará.
surgiu no final do século XIX, nos cafés da Praça do Fer-
reira, conhecida como Padaria Espiritual, pioneira na di- O Bode Ioiô é outro símbolo da verve fortalezense. O ani-
vulgação de ideias modernas na literatura brasileira que mal ganhou fama na década de 1920 por frequentar luga-
só viriam a ser adotadas nacionalmente no século seguin- res públicos, beber cachaça e, além disso, ter sido candi-
te, na Semana de 22. dato a vereador da cidade. Após sua morte, o caprino foi
empalhado e até hoje está exposto no Museu do Ceará,
As mais principais entidades históricas de alta cultura porém, em 1996, seu rabo foi roubado. Acontecimentos
ainda existentes na cidade são o Instituto do Ceará e a históricos do tipo e a tradição construída por eles ajuda-
Academia Cearense de Letras, primeira academia de le- ram a desenvolver uma indústria do humor na cidade.
tras criada no Brasil, fundadas em 1887 e 1894, respecti- Bares, restaurantes e casas especializadas servem de
vamente. O Instituto do Ceará revelou importantes nomes palco aos humoristas mais aclamados pelo público e as
da historiografia e filosofia nacionais, como Farias Brito e praças atraem palhaços e outros artistas do riso.
Capistrano de Abreu.
Fortaleza é conhecida como capital do humor no país. Os
Entre os escritores fortalezenses ou ligados à Academia shows de humor são um grande pilar do seu apelo turísti-
Cearense de Letras que foram membros ou patronos da co, movimentando três milhões de espectadores ao
Academia Brasileira de Letras, estão Gustavo Barroso, ano.[300] Referências da atualidade como Tom Cavalcan-
Araripe Júnior, José de Alencar, Heráclito Graça, Franklin te e Wellington Muniz, que fazem grande sucesso nacio-
Távora, Clóvis Beviláqua e Rachel de Queiroz, a primeira nalmente, nasceram em Fortaleza. Humoristas de outras
mulher a fazer parte da entidade. cidades e estados fizeram carreira na cidade, como Rena-
to Aragão e Tiririca.
A Casa de Juvenal Galeno é outra histórica instituição
cultural de Fortaleza, que leva o nome de um dos maiores Outro humorista cearense de grande destaque que inici-
poetas nascidos na cidade, Juvenal Galeno. Nesse espa- ou carreira na capital foi Falcão, que ganhou notoriedade
ço cultural, foi criado, em 1969, por Carneiro Portela, o nacional ao aliar o humor à música brega e que, em decor-
Clube dos Poetas Cearenses. A casa se tornou ilustre
rência disso, passou a ser considerado um dos maiores O fruto do mar identitário do litoral do estado é o caran-
ícones desse estilo musical. guejo. Todas as quintas-feiras, acontece a tradicional
"caranguejada", evento no qual restaurantes, bares e bar-
Na Grande Fortaleza, nasceu Chico Anysio, considerado o racas de todo o litoral da cidade servem pratos derivados
maior comediante brasileiro de todos os tempos. do crustáceo, degustado com a ajuda de um martelinho.

MÚSICA O camarão e a lagosta também são iguarias bastante


usadas em pratos como o arroz de camarão ou bobó de
O forró é o gênero musical mais popular na cidade, explo- camarão. No Mercado dos Peixes, no Mucuripe, é possível
rado por várias casas de shows especializadas e forma- comprar uma grande variedade de pescados, que podem
dor de uma robusta indústria de entretenimento em todo ser preparados em restaurantes vizinhos. O mais comum
o estado. Bandas originadas em Fortaleza, como Mastruz é comprar-se camarão e solicitar o preparo ao alho e óleo.
com Leite e Aviões do Forró, foram precursoras e respon-
sáveis pela popularização do forró eletrônico, que promo- Uma forte tradição de Fortaleza é o consumo dessa igua-
veu a revalorização da sanfona no gênero e o aproximou à ria no local, ao entardecer dos finais de semana, acompa-
música pop. O forró pé-de-serra, entretanto, ainda detém nhando o retorno dos jangadeiros após o dia de pesca.
grande influência cultural e destaque comercial na cidade.
Os polos gastronômicos da Varjota, da Praia de Iracema e
Estilos como o rock e suas várias ramificações, blues, da Avenida Beira Mar são as regiões com maior diversi-
jazz, samba, hip hop, entre outras vertentes contemporâ- dade de restaurantes de cozinhas internacionais, com
neas, também fazem parte da produção cultural de Forta- ênfase na árabe,francesa, chinesa, japonesa, italiana,
leza e são frequentes nas noites da cidade. Bandas forta- alemã, portuguesa, espanhola e suíça, além de pizzarias,
lezenses, como Selvagens à Procura de Lei e Cidadão churrascarias, cozinhas contemporânea e regional.
Instigado têm ganhado certa notoriedade ao apresenta-
rem-se em festivais como o Rock in Rio e o Lollapalooza. Há outro polo gastronômico no sul de Fortaleza, na divisa
Outro ritmo musical identitário do fortalezense é a lamba- com o Eusébio, nas "Tapioqueiras", um centro de restau-
da, que obteve bastante sucesso na cidade no final da rantes especializados no preparo da tapioca, outra iguaria
década de 1980. característica da culinária local.

Na MPB, alguns dos nomes que desenvolveram carreira ESPORTES


em Fortaleza foram Fagner, Ednardo, Belchior, Amelinha,
entre outros artistas do movimento Massafeira Livre. A O Estádio Governador Plácido Castelo é o quarto maior do
tradição musical de Fortaleza, no entanto, remonta ao país e foi uma das sedes da Copa das Confederações
compositor Alberto Nepomuceno, um dos maiores nomes FIFA de 2013 e da Copa do Mundo FIFA de 2014
da música erudita do Brasil, pioneiro no desenvolvimento
O esporte mais popular na cidade é o futebol. O Campeo-
do nacionalismo musical do país, e por isso, tido como o
nato Cearense de Futebol, existente desde 1914, tem seus
"fundador da música brasileira".
principais jogos na capital. Os times mais notórios da
O Conservatório Alberto Nepomuceno é uma das princi- cidade e do estado são o Fortaleza Esporte Clube, Ceará
pais escolas de música da cidade. Outra tradicional insti- Sporting Club, e o Ferroviário Atlético Clube.
tuição de ensino musical é a Escola de Música do Ancuri,
Os dois primeiros, os mais tradicionais, disputam a Série
desativada e em processo de revitalização.
A do Campeonato Brasileiro, e são os protagonistas do
Clássico-Rei.
GASTRONOMIA
O Ceará Sporting Club já conquistou o Campeonato Cea-
O Baião de dois, prato de origem cearense, é bastante
rense de Futebol 45 vezes, contra 44 do seu rival Fortale-
comum nos restaurantes da capital.
za Esporte Clube. Já o Ferroviário Atlético Clube é o ter-
A gastronomia de Fortaleza é bastante próxima da culiná- ceiro maior detentor de taças, com 9 títulos.
ria típica nordestina, e, localmente, destacam-se pratos
Em competições nacionais os clubes fortalezenses já se
tradicionais como o baião de dois, geralmente acompa-
destacaram, o Ferroviário foi o primeiro campeão brasilei-
nhado por churrasco de carneiro ou carne de sol.
ro da cidade, ao conquistar o título da Série D do Campe-
Os frutos do mar são outro ingrediente de pratos típicos onato Brasileiro em 2018, no mesmo ano o Fortaleza foi
da cozinha fortalezense, tais como a moqueca de arraia e campeão brasileiro da Série B, os dois clubes são os úni-
as peixadas de cavala e pargo, cujo objetivo original popu- cos campeões nacionais da capital cearense.
larmente conhecido era o de recuperar as forças dos jan-
gadeiros que voltavam do alto-mar.
Além desses títulos, houve também outras campanhas de Alguns dos eventos de atletismo mais importantes do
destaque dos clubes alencarinos em competições nacio- município, que contam com grande participação popular,
nais, o Fortaleza foi duas vezes vice-campeão brasileiro são a Maratona Pão de Açúcar de Revezamento, o Circui-
da Série A em 1960 e 1968 e o Ceará foi uma vez vice- to de Corridas Pague Menos e a Meia Maratona Internaci-
campeão da Copa do Brasil em 1994. onal de Fortaleza, que comemora o aniversário da cidade,
é a maior do Norte e Nordeste do país[341] e reúne tam-
Fortaleza possui dois estádios credenciados pela Confe- bém corredores de países como Portugal, Espanha, Fran-
deração Brasileira de Futebol. O Estádio Governador Plá- ça, Itália, Quênia, Tanzânia e Marrocos.
cido Castelo, mais conhecido como Castelão, com capa-
cidade para cerca de 67 mil pessoas, de propriedade do Está localizado em Fortaleza o Centro de Formação Olím-
Governo do Estado, e o Estádio Presidente Vargas, tam- pica do Nordeste. Como parte da Rede Nacional de Trei-
bém chamado de PV, de propriedade da Prefeitura Muni- namento do Ministério do Esporte criada como legado
cipal, com capacidade para 20.600 pessoas. dos Jogos Olímpicos de 2016, o centro é responsável pela
formação e desenvolvimento esportivo de alto rendimento
Fortaleza foi uma das sedes da Copa das Confederações e, anexo à Arena Castelão, forma o maior complexo espor-
FIFA 2013 e Copa do Mundo FIFA de 2014. Na cidade, tivo do país, com 313 000 m² dedicados a 26 modalidades
foram realizadas seis partidas do campeonato mundial da olímpicas. Além disso, o centro abriga a maior arena in-
FIFA, incluindo dois jogos da seleção brasileira, um da door do país, com capacidade para 21 000 pessoas.
seleção alemã, uma partida das oitavas de final e uma
das quartas de final. FERIADOS MUNICIPAIS
No futebol de salão, a cidade é sede da Confederação São feriados fixos do município os dias 19 de março, dia
Brasileira de Futsal, órgão nacional filado à CONMEBOL e de São José, padroeiro do Ceará; 15 de agosto, dia de
à FIFA. O clube fortalezense Sumov Atlético Clube é he- Nossa Senhora da Assunção, padroeira de Fortaleza; e 25
xacampeão da Taça Brasil e bicampeão sul-americano. de março, dia da libertação dos escravos no Ceará, data
magna do estado. Os feriados móveis do município são a
Etapa brasileira do Circuito Internacional de Windsurf em
Sexta-Feira da Paixão (Sexta-Feira Santa) e o Corpus
Fortaleza
Christi. O aniversário da cidade, no dia 13 de abril, é tido
A maioria dos clubes mantém o futebol como principal como data facultativa.
atividade esportiva, mas apoia e desenvolve outras moda-
Até 2003, era feriado municipal o dia 8 de dezembro, Dia
lidades, como o futebol de salão, voleibol, basquetebol,
de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. A alteração
entre outros. Esportes menos populares têm ganhado
se deu para se declarar feriado, em substituição, a data
notoriedade na cidade, como o críquete, o golfe e sobre-
dedicada à padroeira da cidade segundo a tradição cató-
tudo o rúgbi. Os esportes náuticos e de praia são larga-
lica, Nossa Senhora da Assunção, sueto esse que não
mente praticados e possuem notável tradição, como o
existiu por 36 anos, desde 1967.
surf, Windsurf, vela, sandboard, triatlo, mergulho e kite-
surf, por exemplo.

Muitas etapas de competições nacionais e internacionais


destas modalidades ocorrem em Fortaleza. A atividade
jangadeira é considerada uma pratica esportiva de com-
petição na cidade.

A enseada do Mucuripe e a praia do Náutico recebem


anualmente as corridas do Circuito Cearense de Janga-
das. Há em Fortaleza grande variedade de escolas e aca-
demias de lutas e artes marciais. O automobilismo é pra-
ticado em pistas de kart espalhadas pelo município e no
Autódromo Internacional Virgílio Távora, na Grande Forta-
leza.[339] A cidade sediou o primeiro Red Bull Soapbox
realizado no Brasil, em 2008.
B) a presença portuguesa no Ceará tem a ver com a
ocupação de Pernambuco pelos franceses e do Ma-
ranhão pelos holandeses.
C) o litoral foi intensamente disputado por índios e for-
ças militares de várias potências europeias, e várias
01.Em 1603 ocorreu a primeira tentativa de ocupação do
fortificações foram construídas pelos portugueses e
território do Ceará e do Maranhão, que foi:
holandeses.
A) incentivada pelo governador geral Diogo Botelho.
D) a conquista do litoral cearense foi efetuada por mo-
B) facilitada por Martin leitão.
tivos econômicos, já que o cultivo de cana-de-
C) agilizada por Tomé de Souza depois da introdução
açúcar já estava bastante desenvolvido e o açúcar
do gado.
necessitava ser transportado diretamente para Por-
D) acompanhada por grande número de padres jesuí-
tugal.
tas.
E) a colonização do litoral cearense se deu antes
E) liderada pelo governador geral Diogo de Menezes.
mesmo da colonização da região açucareira per-
nambucana.
02.Sobre o processo de ocupação do território do atual
estado do Ceará, no período colonial, podemos afirmar
05.No Brasil colônia, o gado:
corretamente que:
A) foi uma economia exclusiva do Nordeste, voltada
I. as áreas centrais foram ocupadas economicamente
para o mercado exterior.
antes do litoral.
B) favoreceu a ocupação de extensas áreas, especial-
II. os rios Jaguaribe e Acaraú foram os principais ca-
mente no litoral.
minhos naturais de penetração.
C) prosperou nas serras do Ceará, onde o clima se
III. a pecuária desenvolve-se sobretudo nas regiões
mostrou especialmente favorável.
serranas.
D) contribuiu para a ocupação do interior do Brasil, pa-
IV. os colonizadores, no Ceará, respeitaram as terras
ra o seu comércio e urbanização.
indígenas, evitando exterminá-los.
E) foi o fator responsável pela crise da economia ca-
V. os historiadores do Ceará, sem exceção, afirmam
navieira no Nordeste do Brasil.
que a ocupação do Cariri deu-se como resultado da
expansão da casa da torre.
06.Sobre a economia cearense entre os períodos colonial
e imperial, marque a alternativa correta:
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
A) O trabalho de vaqueiro no Ceará Colonial era ocupa-
A) II e V.
do por homens livres que recebiam salários.
B) I, II e IV.
B) A cultura algodoeira foi responsável pelo povoa-
C) II, III e V.
mento da terra cearense a partir do século XVI.
D) III, IV e V
C) As oficinas de charque e a comercialização da car-
E) I e V.
ne seca fizeram do Cariri a principal região econô-
mica do Ceará Colonial.
03.“... os amores de ‘o guerreiro branco’, com a índia Ira-
D) A predominância da exportação do algodão pelo
cema são temas do imortal romance de José de Alen-
porto de Fortaleza contribuiu para consolidar a capi-
car e deram vulto literário ao capitão aventureiro, fun-
tal como principal centro urbano do Ceará no século
dador do Ceará...”
XIX.
E) O café no Ceará, só foi cultivado nas regiões de So-
Na evolução histórica do Ceará o personagem a que o
bral e Camocim, e não teve nenhuma expressividade
texto se refere é:
na economia exportadora cearense do século XIX.
A) Diogo Botelho.
B) Bernardo Manuel de Vasconcelos.
07.“O couro era o boi. O avanço colonizador ganhava ter-
C) José Martiniano de Alencar.
reno financiando currais onde antes somente pisava o
D) Martin Soares Moreno.
índio bravio. E cada curral iria ser uma fazenda, que se
E) Pero Coelho de Sousa.
garantia jurídicamente com a obtenção da Sesmaria ou
Data”.
04.Sobre o processo de ocupação da costa cearense du- (FONTE: GIRÃO, Raimundo. Pequena História do
rante o século XVII pode-se afirmar corretamente que: Ceará. 4ª ed.Fortaleza: UFC, 1984, p.85-86).
A) os portugueses aliaram-se aos indígenas que habi-
tavam estas terras e construíram fortes apenas pa- Do texto acima, relativo ao período colonial do Ceará,
ra defender os centros comércio de pau-brasil. pode-se concluir que:
I. o desenvolvimento do Ceará colonial foi propiciado B) a principal fonte de receita da Província era a expor-
pelas fazendas de gado. tação de artesanato, principalmente objetos de cou-
II. o Ceará foi conquistado pelos donos de frotas que ro e madeira.
expulsaram os indígenas da região. C) o consumo interno de algodão no Ceará, sobretudo
III. o colono português radicado no Ceará dedicou-se, na produção de tecidos grossos para escravos, im-
unicamente, as tarefas relacionadas com as char- possibilitava, qualquer excedente para exportação.
queadas. D) o charque, produzido inicialmente em Pelotas (RS),
IV. a única função desempenhada pelos escravos cea- logo após sua técnica de produção chegar ao Ceará,
renses foi a de vaqueiro. passou a figurar na pauta das exportações.
V. o povoamento e a colonização do Ceará relacionam- E) dentre os produtos de exportação da Província do
se, diretamente, com a atividade pastoril. Ceará figurava o café, que tinha como principal re-
VI. o ciclo do couro foi responsável não só pela ocupa- gião produtora a Serra de Baturité.
ção dos sertões cearenses, mas também de toda a
faixa litorânea do Nordeste. 10.Sobre a organização política, econômica e social da
capitania do Ceará é correto afirmar:
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: I. a ocupação do espaço geográfico cearense, no pe-
A) I, III e VI. ríodo colonial, deve-se basicamente à atividade pas-
B) I, II e V. toril.
C) II, III e VI. II. nas fazendas de gado, as chamadas “fazendas de
D) III, IV e V. criar”, situadas geralmente nas ribeiras dos rios, gi-
E) IV, V e VI. rava a vida socioeconômica da capitania do Siará
Grande.
08.Nos versos abaixo, de Patativa do Assaré, Fagner can- III. a base do poder local estava concentrada nas mãos
ta: dos proprietários de gado, que se tornaram os pri-
meiros “coronéis” do sertão, impondo a todos (ín-
“ Aquela seca medonha dios escravizados, negros escravos e mestiços) o
Fez tudo se trapaia seu prestigio e mando.
Não nasceu capim no campo IV. as oficinas de carne - as charqueadas – responsá-
Para o gado sustentá veis pela produção da carne de sol, instalavam-se
O sertão esturricó, fez os preferencialmente no litoral cearense, sendo o Ara-
Açudes secá cati o principal escoadouro da produção da carne.
Morreu minha vaca Estrela V. o desenvolvimento da pecuária no sertão favoreceu
Se acabou meu boi Fubá...” o surgimento das primeiras vilas, tais como Cau-
caia, Parangaba, Messejana e Aquiraz.
I. a exuberância da vegetação regional, beneficiada VI. as vilas no Ceará colonial, símbolo do poder local e
pelo clima semi-árido. da municipalidade, continham uma organização po-
II. o flagelo da seca no Nordeste do País. lítico-administrativa assentada no Pelourinho, na
III. o declínio das oficinas de charque no Ceará. Casa da Câmara e Cadeia, no Mercado da Carne e
IV. o êxodo da população rural para as grandes cida- na Capela.
des.
V. a redução dos rebanhos bovinos, durante as estia- ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
gens nordestinas prolongadas. A) I, II, III, IV e VI.
B) I, II e V.
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: C) II, III e V.
A) II e V. D) III, IV e V.
B) I, II e V. E) I e V.
C) II, III e V.
D) III, IV e V. 11.No Brasil Colônia, a pecuária teve um papel decisivo
E) I e V. na:
A) ocupação das áreas litorâneas.
09.Considerando a economia do Ceará, na segunda meta- B) expulsão do assalariado do campo.
de do século XIX, podemos afirmar corretamente: C) formação e exploração dos minifúndios.
A) apesar de o Ceará contar com uma diversidade de D) fixação do escravo na agricultura.
produtos do setor primário, estes não figuravam na E) expansão para o interior.
pauta das exportações.
12."...de sistema econômico de alta produtividade, em A partir da leitura do documento acima, é correto afir-
meados do Século XVII, o Nordeste foi-se transfor- mar que:
mando progressivamente numa economia em que A) a acirrada reação indígena constituiu uma forma de
grande parte da população produzia apenas o neces- resistência à destruição do seu modo de vida.
sário para subsistir. Muitos colonos, à procura de mei- B) o projeto português de colonizar, civilizar e catequi-
os de sobrevivência, migraram para o interior, contri- zar contribuiu para manter a organização tribal.
buindo para a dilatação das fronteiras." C) a ocupação do interior cearense, em virtude da rea-
ção indígena, foi iniciada na segunda metade do sé-
No Brasil, o fenômeno descrito no texto, resultou, indi- culo XVIII.
retamente: D) o domínio do interior cearense pelo colonizador e a
A) do êxito da agroindústria. catequese jesuítica foram realizados de modo a
B) da invasão dos franceses. preservar a cultura indígena.
C) do fracasso das capitanias. E) a Câmara de Aquiraz expressava a preocupação
D) da expansão da pecuária. com a catequese indígena como forma de apazi-
E) da expulsão dos holandeses. guar o conflito entre os colonizadores e os índios.

13.Comparando-se os ciclos da economia colonial brasi- 15.“No princípio era o gado e os homens que o tangiam.
leira, é correto afirmar: Em lenta progressão, vindos do vale do São Francisco, na
I. Os rendimentos decorrentes do ciclo do ouro, no Bahia, do sertão de Pernambuco e de Sergipe, no final do
século XVIII, foram superiores aos produzidos pelo século XVII, aqueles rudes peregrinos da fortuna subiram
ciclo do açúcar, até sua decadência, em função da os contrafortes da Chapada do Araripe e chegaram a um
concorrência antilhana. vale fértil, habitado pelos índios Kariris, no sul do atual
II. A sociedade surgida em função do ciclo açucareiro território cearense. Os desbravadores plantaram vilas,
foi mais hierarquizada e aristocrática do que aquela que se transformariam em cidades, e por causa desse
que teve origem no ciclo do gado, nos sertões do movimento migratório, a colonização do Ceará começou
Nordeste ou caatinga. pelo interior e não pelo litoral. Das numerosas cidades
III. Os investimentos iniciais na economia açucareira que se formaram e dentre as que compõem o triângulo
exigiam a aplicação de menos capitais do que o ne- Crajubar, a última a nascer, em 1872, foi a cidade do Pa-
cessário para a exploração aurífera. dre Cícero Romão Baptista.”
IV. O aumento da pecuária no Rio Grande do Sul deveu-
se em grande parte à necessidade de fornecer ali- O texto refere-se a:
mentos e mulas para os transportes obrigatórios às A) Fortaleza.
atividade do ciclo da mineração ou do ouro. B) Barbalha.
C) Crato.
Está correta ou estão corretas: D) Juazeiro do Norte.
A) Apenas as opções III e IV. E) Maracanaú.
B) Apenas a opção IV.
C) Apenas as opções I, III e IV. 16.Na estrutura administrativa no Brasil colonial, as câ-
D) Apenas as opções I e IV. maras desempenharam importantes funções, tais co-
E) Apenas as opções II e IV. mo, EXCETO:
A) conservação das ruas, limpezas da cidade e arbori-
14.O texto abaixo foi extraído do documento “Represen- zação.
tação da Câmara de Aquiraz ao Rei de Portugal”. B) doação de sesmarias, comando militar e formação
“(...) para a conservação desta capitania será vossa ma- de milícias.
jestade servido destruir estes bárbaros para que fiquemos C) construção de obras públicas: estradas, pontes,
livres de tão cruel jugo; em duas aldeias deste gentio as- calçadas e edifícios.
sistem padres da Companhia que foram já expulsos de D) regulamentação dos ofícios, do comércio, das feiras
outras aldeias do sertão (...) estes religiosos são teste- e mercados.
munhas das crueldades que estes tapuias tem feito nos E) abastecimento de gêneros e cultura da terra.
vassalos de vossa majestade. (...) só representamos a
vossa majestade que missões com estes bárbaros são 17.A administração colonial portuguesa exercia seus po-
escusadas, por que de humano só tem a forma, e quem deres através das Câmaras Municipais. Sobre estas
disser outra coisa é engano conhecido. ” instituições de poder local no Brasil Colônia, podemos
afirmar corretamente que:
(Citado em PINHEIRO, Francisco José. “Mundos em confronto: povos nativos e
europeus na disputa pelo território. ” In SOUSA, Simone de (org.) Uma Nova
História do Ceará. Fortaleza. Edições Demócrito Rocha. 2000. p. 39)
A) tinham funções exclusivas de aplicar as determina- 20.Assinale, entre as opções a seguir, a que apresenta
ções da Coroa, sendo compostas por funcionários uma característica da organização da sociedade colo-
sem qualquer poder de decisão nial brasileira.
B) eram compostas exclusivamente pelos "homens A) Predomínio de uma ampla camada de pequenos
bons", os grandes proprietários de terras, o que ga- proprietários ligados à economia de abastecimento.
rantia a estabilidade econômica e permitia ampla B) Escravidão, que constituía seu principal elemento e
autonomia local na qual se baseava todo o funcionamento da eco-
C) as câmaras detinham poderes limitados à aplicação nomia colonial.
da justiça em casos de crimes comuns e à arreca- C) Servidão indígena, largamente difundida no interior,
dação dos impostos locais, apesar de formada pe- principalmente após a expansão paulista.
los "homens bons" da colônia D) Ausência de um setor social ligado ao comércio,
D) tinham amplos poderes, tanto ao nível político como que era controlado pelos estrangeiros.
administrativo, e eram composta por vereadores E) crescente ampliação das camadas de homens li-
escolhidos em eleições diretas e universais. vres, ocupados em todos os setores da economia
E) no Ceará, a primeira Câmara Municipal surgiu ape- colonial.
nas durante a República Nova e foi em Sobral.
21.Eram DIREITOS dos donatários:
18.A organização da administração colonial, apesar da A) fundar vilas, conceder sesmarias e cobrar impostos;
conhecida diferença entre teoria e prática, estava ori- B) a redízima, a vintena e a transferência da capitania
entada para garantir a conquista e o seu rendimento para outro donatário;
econômico, como mostra(m): C) fundar vilas, a redízima e a transferência da capita-
A) subordinação vertical de todas as regiões e órgãos nia para outro donatário;
ao Governo Geral. D) a redízima, a cobrança de impostos e a venda da
B) crescente desvinculação da metrópole após a cria- capitania para qualquer outro nobre;
ção do Governo Geral. E) fundar vilas, a vintena e a venda da capitania para
C) prevalência das Câmaras Municipais como agentes qualquer outro nobre.
de arrecadação do Erário Régio.
D) concentração nos capitães e governadores das ati- 22.Para responder à questão, analisar as afirmativas que
vidades judiciais em todas as instâncias. seguem, sobre o poder no Brasil Colônia.
E) orientação fiscalista e a preocupação com a defesa I. A administração da Colônia estava baseada num
predominante em todo o período colonial. sistema centralizado e linear de poderes, que su-
bordinava diretamente as Câmaras Municipais ao
19.Quanto aos aspectos políticos e administrativos da Conselho Ultramarino.
vida colonial do Brasil no século XVI, julgue os seguin- II. Havia uma separação entre os poderes da Igreja e
tes itens: do Estado, este último governando de forma absolu-
I. O absolutismo português estendia-se ao Brasil, cen- ta a sociedade colonial através das Ordenações
tralizando o monarca as decisões mais relevantes Manuelinas.
da vida política e administrativa da colônia. III. As enormes distâncias e as dificuldades de comu-
II. O imperador governava diretamente a colônia, sem nicação provocavam uma longa demora nas deci-
delegar poderes a uma burocracia e sem órgãos sões e prejudicavam a eficiência da máquina admi-
executores da política administrativa no Brasil. nistrativa.
III. A criação do governo-geral foi uma forma de garan- IV. A administração local estava a cargo das Câmaras
tir efetivamente a unidade e a centralização admi- Municipais, cuja instalação dependia de autorização
nistrativa da colônia. régia, que agiam conforme os interesses da oligar-
IV. As eleições municipais, em princípio indiretas, eram quia dos "homens bons".
conduzidas pelos “homens bons” reunidos nas câ-
maras. Pela análise das alternativas, conclui-se que somente
estão corretas
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: A) I e II.
A) I e III. B) I e IV.
B) II e III. C) II, III e IV.
C) III e IV. D) II e III.
D) I e IV. E) III e IV.
E) II e IV.
23.O Estado português reproduziu no Brasil duas feições 26.Movimento de ideias republicanas, com participação
metropolitanas, possibilitando uma permanente ten- popular, em reação à concentração de poderes nas
são entre as forças sociais dos poderes locais e as mãos de D.Pedro I. Esse movimento surgiu em Per-
forças de centralização do absolutismo. nambuco (1824) e se estendeu às províncias vizinhas.
Estamos falando da:
As instituições que exerciam a administração local e A) Revolução Pernambucana.
central no Brasil colônia eram, respectivamente: B) Revolução Praieira.
A) vice-reinado e capitania hereditária. C) Guerra dos Mascates.
B) câmara municipal e governo geral. D) Confederação do Equador.
C) capitania geral e província. E) Confederação de Palmares.
D) cabildo e capitania real.
E) apenas na Província do Siará Grande observava-se 27.Finalmente, seguindo um plano já traçado de antemão,
uma descentralização administrativa por parte das em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo e seus ho-
autoridades portuguesas. mens deixavam Salvador, pressionados também pela
esquadra inglesa comandada pelo Almirante Cochrane,
24.“Em 1824 não se tratava da contradição de interesses que veio oficialmente em auxilio a Labatut.
coloniais e metropolitanos. Persistiam aí, não obstante (MENDES JR., p. 159)

tratar-se de país politicamente independente, as mes-


mas condições de privilegiamento não só dos comer- Em relação ao processo histórico cujo desfecho está
ciantes reinóis e seus representantes estabelecidos no descrito no texto anterior, pode-se dizer:
país, como também dos ingleses, cuja penetração no I. No Nordeste brasileiro, particularmente na Bahia, a
Brasil foi determinada pelos acordos de 1810.” disposição do povo até pela luta armada foi decisi-
va para a consolidação da Independência.
Sobre a Confederação do Equador (1824), é correto II. As guerras pela Independência configuram a luta
afirmar que: dos brasileiros contra os representantes do colonia-
A) os descontentamentos contra os estrangeiros em lismo lusitano, ainda presentes em diversas provín-
Recife fez com que as camadas populares lideras- cias do Brasil.
sem o movimento, que, além de republicano, era III. A luta travada pelo povo baiano buscou resgatar o
abolicionista. ideal da Conjuração dos Alfaiates de fazer da Bahia
B) o conflito entre comerciantes portugueses em Reci- uma república independente e democrática.
fe e produtores de açúcar brasileiros em Olinda to- IV. A união de algumas províncias do Norte e Nordeste
mou ares de rebelião contra a monarquia. em torno da Republica do Equador foi decisiva para
C) a dissolução da Assembleia Constituinte pelo Impe- a vitória dos revolucionários.
rador D. Pedro I foi interpretada como um ato de re- V. Os revolucionários de 1823 lutavam por uma consti-
colonização pelas elites senhoriais pernambucanas. tuição que garantisse a soberania do povo, que fos-
D) a recuperação econômica da agro-manufatura do se republicana e que extinguisse a escravidão.
açúcar fazia com que os proprietários pernambuca- VI. O processo de independência do Brasil culminou
nos exigissem maior participação no governo impe- com a implantação da forma de governo monárqui-
rial. co-parlamentarista, inspirada no modelo adotado na
E) o engajamento do Ceará foi determinante para que América Hispânica.
a Confederação do Equador obtivesse sucesso.
Pela análise das alternativas, conclui-se que somente
25.“...a abdicação (...) deu motivo no Ceará a grande júbi- está (ão) correta(s):
los populares. O povo abateu a machado a forca levan- A) I, II, III e V.
tada pelo Sampaio e na qual haviam perecido os márti- B) I e IV. C) II, III e IV.
res de 1817 e 1824...” D) II, III e VI.
E) Apenas II.
O texto contém elementos que identificam a participa-
ção do povo cearense na: 28.Com relação à revolta de Pinto Madeira, no Ceará, em
A) Guerra de Independência e na Cabanagem. 1831-1832, pode-se dizer corretamente:
B) Insurreição Baiana e na Balaiada. A) fez parte de um plano geral, articulado na capital do
C) Revolução Pernambucana e na Confederação do Império, para defender a volta de D. Pedro I ao trono,
Equador. nada tendo a ver com conflitos ou desavenças lo-
D) Revolta Federalista e na Revolta de Felipe dos San- cais ou regionais.
tos. B) significou o aprofundamento das divergências entre
E) Inconfidência Mineira e na Guerra dos Farrapos. os coronéis do sertão cearense, no contexto da ab-
dicação de D. Pedro I.
C) constituiu-se em uma revolta tardia de portugueses A respeito do movimento a que o texto se refere, po-
e colonos descontentes com o processo de inde- demos afirmar corretamente:
pendência do Brasil. I. reunir forças políticas em torno do movimento pró-
D) representou o descontentamento de coronéis do restauração de D.Pedro I.
Cariri cearense contra a política centralizadora do II. caracterizava-se por sua feição liberal à semelhan-
Presidente da Província, José Martiniano de Alen- ça dos movimentos de 1817 e 1824.
car. III. pretendia tão somente alterar a face política do País
E) representou o descontentamento de coronéis do com a Proclamação da República.
Sertão Central cearense contra a política centraliza- IV. concorreu para sua eclosão a rivalidade política en-
dora do Presidente da Província, Senador Pompeu. tre as oligarquias de Crato e Jardim que disputavam
o domínio político do Cariri.
29.A Confederação do Equador, em 1824, se caracterizou
como um movimento de: ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
A) emancipação política de Portugal. A) I e III.
B) oposição à Abertura dos Portos. B) II e III.
C) garantia à política inglesa. C) I e IV.
D) apoio aos atos do imperador. D) III e IV.
E) reação à política imperial. E) II e IV.

30.“Confederação do Equador: Manifesto Revolucionário" 32.Podemos afirmar que tanto na Revolução Pernambu-
Brasileiros do Norte! Pedro de Alcântara, filho de D. João cana de 1817, quanto na Confederação do Equador de
VI, rei de Portugal, a quem vós, após uma estúpida con- 1824:
descendência com os Brasileiros do Sul, aclamastes vos- A) o descontentamento com as barreiras econômicas
so imperador, quer descaradamente escravizar-vos. Que vigentes foi decisivo para a eclosão dos movimen-
desaforado atrevimento de um europeu no Brasil. Acaso tos.
pensará esse estrangeiro ingrato e sem costumes que B) os proprietários rurais e os comerciantes monopo-
tem algum direito à Coroa, por descender da casa de Bra- listas estavam entre as principais lideranças dos
gança na Europa, de quem já somos independentes de fa- movimentos.
to e de direito? Não há delírio igual (... )." C) a proposta de uma república era acompanhada de
um forte sentimento antilusitano.
O texto dos Confederados de 1824 revela um momento D) a abolição imediata da escravidão constituía-se
de insatisfação política contra a: numa de suas principais bandeiras.
A) extinção do Poder Legislativo pela Constituição de E) a luta armada ficou restrita ao espaço urbano de
1824 e sua substituição pelo Poder Moderador. Recife, não se espalhando pelo interior.
B) mudança do sistema eleitoral na Constituição de
1824, que vedava aos brasileiros o direito de se 33.O fuzilamento de Frei Caneca está ligado ao seguinte
candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos fato da História do Brasil:
portugueses. A) Inconfidência Mineira.
C) atitude absolutista de D. Pedro I, ao dissolver a B) Confederação do Equador
Constituinte de 1823 e outorgar uma Constituição C) Revolta dos Canudos.
que conferia amplos poderes ao Imperador. D) A Praieira.
D) liberalização do sistema de mão-de-obra nas dispo- E) Revolução Farroupilha.
sições constitucionais, por pressão do grupo portu-
guês, que já não detinha o controle das grandes fa- 34.A indústria têxtil inglesa demandou, no século XIX,
zendas e da produção de açúcar. quantidades crescentes de algodão. Provedores tradi-
E) restrição às vantagens do comércio do açúcar pelo cionais dessa matéria-prima, como a Índia e o Egito,
reforço do monopólio português e aumento dos tri- foram substituídos pelos Estados Unidos; mas, na dé-
butos contidos na Carta Constitucional. cada de 1860, os conflitos entre o norte e o sul desse
país interromperam o fornecimento. Nessa década, o
31.“A chamada Revolução de 1832, liderada por Joaquim algodão se converteu no principal produto das expor-
Pinto Madeira, Coronel de Milícias, que ocupava o posto tações cearenses.
de Comandante de Armas do Cariri cearense, melhor seria
caracterizada como revolta, pois não traria mudanças Em relação ao cultivo de algodão no Ceará, em 1860, é
profundas ou substanciais na região em que se produziu.” correto afirmar que:
A) realizou-se com a utilização, de forma generalizada,
da mão-de-obra escrava.
B) foram trazidos trabalhadores das áreas de seringais E) Os clubes eram formados por intelectuais descen-
decadentes, criando-se o SEMTA, Serviço Especial dentes dos velhos senhores da cafeicultura e da
de Mobilização de Trabalhadores do Amazonas. borracha, de origem rural e posições liberais.
C) foi realizado com parceiros, escravos e trabalhado-
res livres. 37.”A existência dessas hierarquias sociais nos eventos e
D) realizou-se a abolição prematura da escravidão, e se espaços públicos não foi novidade de fim de século.
ofereceram salários atraentes para os ex-escravos. Constituiu uma mentalidade enraizada no comporta-
E) foi introduzido por imigrantes norte-americanos, mento da cidade, em especial, uma ideia recorrente
provenientes das áreas algodoeiras. entre membros da elite. É muito provável que o final do
século tenha posto a nu as contradições sociais, face a
35.A grande seca de 1876-1879 teve uma magnitude pla- uma Fortaleza que integrava-se ao mercado internaci-
netária. Foi a primeira de três crises de subsistência onal através do algodão. Durante as secas ela recebia
que atingiram o mundo na segunda metade do século levas de migrantes do interior e sua elite queria ter, na
XIX. No Nordeste brasileiro ocorreu, entre 1877 e desprezível e insignificante região econômica de que
1879, um período de seca, sobre o qual se pode afir- fazia parte, uma ilusão moderna”.
mar corretamente que: (PIMENTEL FILHO, José Ernesto. A Aristocratização Provinciana em
Fortaleza: 1840-1890. Recife. Dissert. Mestrado-UFPE, 1995, p.89).
A) despertou, na classe dominante, solidariedade nun-
ca antes vista, pois compartilhou alimentos e habi-
No final do século XIX, Fortaleza passou por um pro-
tação com os flagelados.
cesso de remodelação urbana associada:
B) o período foi caracterizado pela concessão de em-
I. aos interesses das lideranças intelectuais em frear
préstimos para fins sociais, vindos, sobretudo da
“o progresso”, conservando o perfil provinciano da
Europa, e isso minimizou o sofrimento da população
cidade.
nordestina atingida pela seca.
II. aos interesses das elites locais em “civilizar” e “mo-
C) colocou entre as prioridades do governo a realiza-
dernizar” o espaço urbano, dando-lhe feições estéti-
ção das obras públicas necessárias a solucionar os
cas europeias.
problemas das secas futuras.
III. aos interesses de comerciantes em adequar o es-
D) os efeitos agravaram-se pela demora e insuficiência
paço da cidade às necessidades de seus negócios
dos socorros ministrados pelo Estado, que instau-
de importação/exportação.
rou os chamados socorros indiretos, isto é, que os
IV. aos interesses da administração pública em disci-
flagelados deviam trabalhar para receber os socor-
plinar o uso do espaço urbano por uma população
ros.
crescente.
E) as condições sanitárias foram garantidas pela vaci-
V. aos interesses dos artistas locais em preservar o
nação contra a varíola, o que evitou a disseminação
patrimônio arquitetônico colonial da cidade.
desta doença.
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
36.No Ceará, a segunda metade do século XIX foi um pe-
A) I e II.
ríodo de intensa atividade intelectual e política, multi-
B) II e III.
plicando-se os jornais e os clubes literários. Assinale a
C) IV e V.
opção que expressa corretamente alguns aspectos so-
D) III apenas.
ciais dessa efervescência cultural:
E) V apenas.
A) Os clubes eram formados por intelectuais descen-
dentes dos velhos senhores da pecuária e do algo-
38.“O epíteto Ceará Moleque estaria ligado à compulsão
dão, de origem rural e posições conservadoras.
popular pelo deboche e pela sátira, referência a uma
B) Os grêmios literários expressavam a emergência
incorrigível molecagem pública, presente em Fortaleza
dos setores comerciais em Fortaleza, constituindo
a partir do final do século XIX.”
uma elite intelectual ativa e atualizada. (FONTE: PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reforma urbana e
C) As atividades intelectuais eram, em verdade, frutos controle social (1860-1930). Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 2001).

tardios da expansão algodoeira do século XVIII,


quando os senhores de terras se estabeleceram na Em relação aos lugares e usos do termo Ceará Mole-
capital. que, marque a alternativa verdadeira.
D) Os grêmios, apesar de muitos, mantinham poucos A) O epíteto Ceará Moleque é negado pelos historiado-
sócios e uma rarefeita programação cultural, resul- res e memorialistas cearenses.
tado do acanhado porte intelectual de seus mem- B) A citada expressão é lembrada como algo folclórico,
bros. porém, sem nenhuma conotação popular.
C) A disposição popular ao riso e ao escárnio no perío-
do em questão, era privilégio da zona rural e ocorria
distante dos núcleos mais urbanizados.
D) O lugar urbano onde ocorria a propensão ao riso e E) ele é determinado exclusivamente pelas ações das
ao deboche situava-se na Praça do Ferreira, a sede nossas massas populares urbanas.
social do Ceará moleque, onde desfilavam modas e
novidades. 41.“(...) a EFB (Estrada de Ferro Baturité) surge quando o
E) O lugar urbano onde ocorria a propensão ao riso e Ceará via-se incorporando ao mercado internacional
ao deboche situava-se na antiga Ponte dos Ingle- através de seus produtos (...), ora sofre as influencias-
ses, a sede social do Ceará moleque, onde desfila- do mercado externo, ora as consequências da política
vam modas e novidades. nacional e ora interferências de fatores internos quer
históricos, quer naturais”.
39.No reinado de D.Pedro II, o Ceará experimentou grande
progresso em decorrência da introdução, dentre outras Tendo com base o texto acima e os conhecimentos de
melhorias, da: História do Ceará, podemos afirmar:
A) navegação a vapor e de estradas de ferro. I. a EFB procurava atender a demanda de transporte
B) indústria de bens duráveis e da produção açucarei- para o café e o algodão, produzidos no Ceará.
ra. II. na construção da EFB explorava-se a mão de obra
C) lavra de minérios e da pecuária de corte. de flagelados das secas que se abatiam sobre o Ce-
D) criação extensiva de gado e da cultura do algodão. ará.
E) iluminação à gás e da construção de hidrelétricas. III. como o “sertanejo é antes de tudo um forte”, nos
períodos de seca, a produtividade do seu trabalho
40.Em recente publicação, patrocinada pelo Museu do aumentava.
Ceará, o historiador Antonio Luiz Macedo e Silva Filho, IV. a inserção do Ceará no mercado internacional se
no trabalho intitulado “A Cidade e o Patrimônio Histó- fazia com a produção e comercialização de produ-
rico,” afirma: tos primários.
V. a construção da EFB excluía o Ceará do quadro da
“Parecemos hoje condenados a perceber a relevância do divisão internacional do trabalho.
centro [de Fortaleza] somente em termos de patrimônio
edificado ou “museu ao ar livre”, negligenciando a força ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
simbólica de seus espaços e trajetos, o contato com a di- A) I e II.
versidade e a tremenda atualidade insinuada nos usos B) II e III.
dos lugares públicos. ” E acrescenta: “Importa, sim, con- C) IV e V.
siderar o conjunto diversificado de cheiros, sons, vozes, D) III apenas.
imagens, cores, formas e trajetos como expressões de re- E) V apenas.
pertórios culturais, portanto dotadas de sentido e densi-
dade temporal para aqueles que as praticam.” 42.No século passado, o plantio de algodão no Ceará re-
sultou da:
(Fonte: Publicação do Museu do Ceará/Secretaria da Cultura A) necessidade de abastecer as indústrias têxteis pau-
do Estado do Ceará, 2003,p.16 e 17).
listas.
B) demanda gerada pela Revolução Industrial inglesa.
Seguindo as considerações acima apresentadas, acer-
C) necessidade de abastecer as indústrias têxteis nor-
ca do patrimônio histórico de nossa capital, é correto
destinas.
afirmar que:
D) necessidade de aproveitar o grande contingente de
A) ele é plural, sendo constituído pelas edificações de-
escravos na agricultura.
finidoras de diferentes momentos históricos e pelas
E) grande oferta de mão-de-obra assalariada que en-
expressões socioculturais estampadas nas suas
contrava-se no setor industrial cearense.
ruas.
B) o acervo classificado como patrimônio concentrase
43.A consolidação de Fortaleza como centro político,
nos prédios destinados ao uso das autoridades
econômico e administrativo a partir da segunda meta-
constituídas, permanecendo a ação popular como
de do século passado verificou-se por (pelo):
expectadora de um passado distante.
I. Sua condição de centro coletor e exportador de al-
C) o respeito ao legado arquitetônico deixado pelos an-
godão.
tigos habitantes da cidade foi consolidado com a
II. Sediar os principais serviços da administração pú-
valorização do turismo, que renovou a paisagem ur-
blica.
bana, graças à política cultural.
III. Ser a capital da Província e cidade portuária.
D) a valorização do patrimônio edificado e remodela-
IV.Tter sido a primeira vila estabelecida no Ceará.
ção urbana, que beneficiaram o cotidiano da cidade
V. Desenvolvimento do comércio exportador.
é um resultado da globalização.
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: 46.“ESCRAVOS
A) I, II, III e V. Vende uma pessoa chegada há pouco do Norte bonitos
B) II e III. e moços, entre elles notão-se um official de ourives,
C) IV e V. uma bonita crioula, uma parda de 18 a 20 annos com
D) III apenas. habilidades, um preto padeiro e forneiro, um bonito
E) V apenas. pardo de 17 annos, optimo para pagem e mais pretos
moleques; na rua da Alfandega n. 278.”
44.É célebre a frase de Francisco José do Nascimento, o
Dragão do Mar: “Aqui não se embarca mais escravos”. (Fonte: Jornal do Commercio, 1854 apud NOVAIS, Fernando. A História da Vida
Privada no Brasil, v. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 251).

Assinale a alternativa que se relaciona corretamente


O anúncio acima, publicado num Jornal do Rio de Ja-
com o contexto político cearense em que esta frase foi
neiro, indica que os referidos escravos eram oriundos
proferida.
de uma Província do Norte, classificação onde se inse-
A) A proibição do tráfico de escravos havia sido decre-
ria o Ceará, que participou do comércio negreiro inter-
tada recentemente no Ceará, abrindo espaço paraas
provincial, em virtude:
manifestações dos abolicionistas radicais.
A) da promulgação da Lei do Ventre Livre que proibia a
B) As lutas em torno da abolição dos escravos ganha-
permanência da mão-de-obra escrava nas ativida-
ram grande alcance em face do aumento do número
des agrárias algodoeiras.
de negros que foram trazidos para a Província do
B) da qualificação dos escravos, garantida através da
Ceará após a seca de 1877.
educação ministrada pela Igreja e apoiada pelos
C) A campanha abolicionista alcançava seu auge no
abolicionistas locais.
Ceará, conseguindo a adesão dos jangadeiros que
C) do fracasso da campanha desenvolvida por Fran-
faziam o transporte dos escravos dos navios para o
cisco Nascimento, o Dragão do Mar, contra o co-
porto.
mércio de escravos.
D) O tráfico inter-provincial estava levando à falência
D) da proibição do tráfico negreiro internacional e da
comerciantes e fazendeiros cearenses, que decidi-
ausência de atividade produtiva que dependesse
ram impedir pela força o embarque de escravos pa-
sobretudo do trabalho escravo.
ra os navios.
E) do declínio da Sociedade Cearense Libertadora con-
E) A abolição dos escravos no Ceará aconteceu pacifi-
siderada prejudicial aos interesses do intenso tráfi-
camente através de um ato do governo provincial, o
co negreiro existente.
que levou à desmobilização e desmoralização dos
poucos abolicionistas cearenses.
47.Leia com atenção.

45.“Para o ano de 1823, a população do Ceará foi calcula-


“1850 não assinalou no Brasil apenas a metade do século.
da em, aproximadamente, 200.000 habitantes, dos
Foi o ano de várias medidas que tentavam mudar a fisio-
quais 20.000 escravos, ou seja, apenas 10% do total.
nomia do país, encaminhando-o para o que então se con-
Meio século depois o primeiro recenseamento geral do
siderava modernidade. Extinguiu-se o tráfico de escravos,
país, o de 1872, apontou, na província, 641.850 habi-
promulgou-se a Lei de Terras, centralizou-se a Guarda
tantes, sendo os escravos 25.727, o que correspondia
Nacional e foi aprovado o primeiro Código Comercial. Este
a 4% do total.”
trazia inovações e ao mesmo tempo integrava os textos
dispersos que vinham do período colonial. Entre outros
Os dados referentes à utilização da mão-de-obra es-
pontos, definiu os tipos de companhias que poderiam ser
crava na economia cearense do século XIX, contidos
organizadas no país e regulou suas operações. Assim
no texto, podem ser explicados pelo (a):
como ocorreu com a Lei de Terras, tinha como ponto de
A) extinção do tráfego negreiro, que estimulou o des-
referência a extinção do tráfico.”
locamento de parte da mão-de-obra escrava da
economia local para as Províncias do Sul; (FAUSTO, Boris. História do Brasil. 2 ed. São Paulo: USP, 1995, p. 197.)

B) migração de grandes proprietários de terras para


outras Províncias, levando consigo os seus escra- Assinale a opção que expressa corretamente o impac-
vos; to da extinção do tráfico de escravos na estruturação
C) desenvolvimento da cultura algodoeira, que absor- da economia brasileira e cearense.
via mais trabalhadores escravos do que livres; A) A extinção do tráfico foi planejada pelo governo,
D) ocorrência das cheias periódicas, que afetavam através de uma campanha de esclarecimento e de
consideravelmente a produção agrária da Província; imigração, para que não houvesse interrupção na
E) declínio das charqueadas, cuja mão-de-obra predo- produção do café.
minante era constituída de escravos.
B) Apesar de sua importância para a economia açuca- C) a Lei do Ventre Livre (1871) representou uma vitória
reira, o fim do tráfico negreiro pouco representou expressiva do movimento abolicionista, tornando ir-
para a cultura do café, que se havia estabelecido reversível o fim da escravidão.
com base no trabalho livre. D) as sucessivas leis emancipacionistas foram parale-
C) A Lei de Terras representou um impacto muito mai- las à progressiva substituição do trabalho escravo
or, pois alterou as formas de produção agrícola ao por homens livres.
estabelecer que a terra deveria ser propriedade uni- E) a Lei Áurea, iniciativa da própria Coroa, visava a ga-
camente de quem produz. rantir a estabilidade e o apoio dos setores rurais ao
D) A extinção do tráfico de escravos resultou de uma Império.
intervenção do governo inglês, com o objetivo de
estimular a industrialização e o desenvolvimento do
Brasil.
E) Intensificou-se o tráfico interno entre as províncias 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
e incentivou-se a imigração, na tentativa de encon-
trar soluções para atenuar o impacto econômico ge- A A D C D D B A E A
rado pela expectativa do fim da escravidão. 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

48.“...Patrocinio deu ao Ceará o nome de “Terra da Luz”. O E D E A D E C A A B


Imperador aplaudiu comovido; e até Victor Hugo mandou 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
da França sua saudação aos cearenses...”
A A B C C D E B E C
Os fatos a que o texto se refere relacionam-se com a: 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
A) abolição da escravidão em toda a província do Cea-
rá, em 25 de março de 1884. C C B C D B E D A A
B) vitória cearense na luta contra as revoltas provinci- 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
ais no período regencial.
A B A C A D E A B D
C) comemoração da morte de Padre Mororó, herói cea-
rense, em 30 de abril de 1826.
D) proclamação de Tristão Gonçalves como presidente
da província cearense.

49.O Bill Aberdeem na sua relação ao Ceará, aprovado


pelo Parlamento inglês em 1845, foi:
A) uma lei que abolia a escravidão nas colônias ingle-
sas do Caribe e da África.
B) uma lei que autorizava a marinha inglesa a apresar
navios negreiros em qualquer parte do oceano.
C) um tratado pelo qual o governo brasileiro privilegia-
va a importação de mercadorias britânicas.
D) uma imposição legal de libertação dos recémnasci-
dos, filhos de mãe escrava.
E) uma proibição de importação de produtos brasilei-
ros para que não concorressem com os das colô-
nias antilhanas.

50.As Leis Abolicionistas, a partir de 1850, podem ser


consideradas como o nível político da crise geral da
escravidão no Brasil, porque:
A) a Lei Euzébio de Queiroz (1850) proibiu o tráfico
quando a necessidade de escravos já era declinan-
te, face à crise da lavoura.
B) o sucesso das experiências de parceria acelerou a
emancipação dos escravos, crescendo um mercado
de mão-de-obra livre no país.
08.Barra do Ceará é o bairro mais antigo da cidade de
Fortaleza, no estado do Ceará:

O bairro é considerado o berço histórico do estado do


Ceará por ter sido o local onde o Capitão-mor Pero Co-
01.A origem da Cidade data do séc. XVII com a constru-
elho iniciou a colonização do território construindo o
ção do Forte São Sebastião, na foz do Rio Ceará. .Em
Fortim de São Tiago, no ano de 1604.
1654, o Forte é reconquistado pelos portugueses e de-
C E
nominado Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção,
de onde se origina o nome da Cidade.
09.Atualmente, Fortaleza é o núcleo de uma região me-
C E
tropolitana e está entre as dez maiores áreas urbanas
do Brasil. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de
02.A cidade de Fortaleza é a capital do Ceará. A cidade de
Geografia e Estatística), a população estimada em
Fortaleza foi fundada oficialmente em 13 de abril de
2013 é de 2.551.806 habitantes e sua extensão territo-
1726, e a população local foi formada pelos coloniza- 2
rial ocupa quase 315 km .
dores europeus, pelos descendentes de indígenas e
C E
africanos e também pela intensa migração interna
presente no território cearense. ...
10.Com influência da palavra em latim fortis, fortaleza tem
C E
sua origem na palavra em provençal antigo fortalessa,
que evoluiu para fortaleza, devendo assim ser escrita
03.Bem antes de 1726, Fortaleza já existia. O povoado
com s.
data de 1604 quando o português Pero Coelho de Sou-
C E
za lá aportou. Ergueu o Fortim de São Tiago às mar-
gens do rio Ceará e chamou o povoado em volta de
11.Antes da chegada de europeus ao atual Ceará, viviam
Nova Lisboa.
naquela região índios Tupis (Tabajaras e Potiguares) e
C E
Cariris.
C E
04.A história de Fortaleza começou há muitos anos atrás,
quando a cidade surgiu ao redor do Forte de Nossa
12.O Bumba-meu-boi ou Boi-Ceará: são cantos e danças
Senhora da Assunção, construído pelos portugueses.
de culto religioso ao boi, de tradição luso-ibérica; dan-
Ao redor do forte, surgiu um povoado, que deu origem
ça do coco: originada entre os negros; Maracatu: Dan-
à quinta maior cidade brasileira.
ça e música o maracatu de Fortaleza é da linha Baque
C E
Virado ou Nação e é celebrado nos carnavais.
C E
05.Sobre o significado de Fortaleza; substantivo feminino
Característica de forte; força, vigor, robustez: a fortale-
13.Fortaleza possui 121 bairros.
za do atleta. [Militar] Lugar protegido e fortificado usa-
C E
do para proteger uma cidade, território; forte, porém
pode ser titulado como morada do rei.
14.Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção - É a cons-
C E
trução que deu origem à história de Fortaleza. No
mesmo local, no século 17, o forte tinha o nome de
06.Em 1649 os holandeses retornam no Ceará a procura
Schoonenborch, por conta dos períodos de invasão ho-
das minas de prata e construíram, às margens do Rio
landesa.19/01/2010
Pajeú, o Forte Schoonenborch, começando nesse mo-
C E
mento, a história de Fortaleza, sendo responsável por
seu início, o comandante holandês Matias Beck.
15.É a Rua do Rosário, assim, a artéria de nossa Capital
C E
com denominação mais antiga, pois seu nome já figu-
rava em um termo de vereação lavrado em 30 de se-
07.Fortaleza é um município brasileiro, capital do estado
tembro de 1794, sendo que as do Sampaio e Pocinho
do Ceará, situado na região Nordeste do país. .É a mai-
são citadas, pela primeira vez, nas atas da Câmara, em
or cidade do Ceará em população e a quinta do Brasil.
31 de julho e 18 de setembro de 1813, respectivamen-
A Região Metropolitana de Fortaleza é a sexta mais
te.
populosa do Brasil e a primeira do Norte e Nordeste,
C E
com 4 051 744 habitantes em 2017.
C E
16.A data de 13 de abril de 1726 comemora o dia da insta- 23.São parques ambientais urbanos de Fortaleza:
lação da Vila de Fortaleza de Nossa senhora da As-  Parques Urbanos - Fortaleza
sunção da Capitania do Siará Grande, ocorrida há 286  Bosque Presidente Geisel.
anos. Refere a data da carta régia e dependência polí-  Parque Arquiteto Otacílio Teixeira Neto (Bisão)
tica e administrativa do município, seu nascimento  Parque das Iguanas. Parque Linear Adahil Barreto.
oficial. C E
C E
24.De 2013 a 2019, já foram requalificadas mais de 290
17.Na Rua da Palma, que posteriormente recebeu o nome praças na Capital. Somente na área correspondente à
de Major Facundo, existia a Farmácia Teodorico, o es- Secretaria Regional II, a Prefeitura de Fortaleza refor-
tabelecimento comercial mais antigo da cidade, fun- mou e/ou construiu 64 praças.
dado no reinado de Dom João VI. Naqueles tempos C E
remotos era Fortaleza uma cidade ingênua, mas viril.
C E 25.Em Fortaleza, o bairro mais populoso é o Mondubim,
com 76.044 habitantes. Já o que alcançou o maior
18.O Rio Cocó nasce na vertente oriental da Serra da Ara- crescimento populacional, nos últimos dez anos, foi o
tanha e nos seus 50 km de percurso passa por três Dendê, com uma variação de 165%. Já que no último
municípios, Pacatuba, Maracanaú e Fortaleza, para Censo de 2000 ele possuia 2.120 habitantes, e em
desaguar no Oceano Atlântico, nos limites das praias 2010 já somava-se 5.637.
do Caça e Pesca e Sabiaguaba. C E
C E
26.Provavelmente a edificação da Igreja do Rosário é a
19.Cidade de Fortaleza (CE - Brasil) Fortaleza, capital do mais antiga de Fortaleza. Construída inicialmente em
estado do Ceará, população 2.700.000 pessoas [2021] taipa e palha, no segundo quartel do Século XVIII, teve
também chamada de "Terra da Luz", no Brasil é conhe- a capela-mor construída em pedra e cal em 1755, se-
cida como "capital da alegria", um lugar onde sempre guindo-se então os trabalhos até sua conclusão. Foi a
há festa e diversão, belas praias, e uma vida noturna igreja matriz de Fortaleza de 1821 a 1854.
agitada, barzinhos, casa de show e muita música. C E
C E
27.A criação do município de Fortaleza se deu a 13 de
20.O território cearense, na época de seu descobrimento abril de 1726, quando a povoação do Forte foi levada à
pelos europeus, era habitado apenas por dois povos condição de vila. Somente em 1823 o Imperador Dom
selvagens: os tupis e os cariris. Estas duas nações se Pedro I elevou a vila à categoria de cidade.
subdividiam em mais de sessenta tribos que possuíam C E
quase os mesmos costumes dos demais povos selva-
gens que povoavam o Brasil. 28.No entanto, esse protagonismo no mito de origem
C E quixadaense foi dividido com as famílias Queiroz e os
Lemos de Almeida, chamados de “Papaemas”, esta úl-
21.Na aventura colonizadora, nos primeiros anos do sécu- tima apresentada por João Eudes Costa como sendo a
lo XVII, Martim Soares Moreno, auxiliado pelo chefe família mais antiga da cidade.
potiguar Jacaúna, conquistou o Ceará, transformando- C E
o em capitania real. A ocupação do Ceará era facilitada
pela hostilidade dos indígenas e pelo meio ambiente 29.O logradouro mais antigo, inicialmente recebeu o nome
seco e tropical. de Rua D. Afonso, em homenagem a Dom Afonso Pe-
C E dro (23 de fevereiro de 1845-11 de junho de 1847), filho
do Imperador Dom Pedro II, isso em 1857.
22.Em 1799, com o desmembramento do Ceará em rela- C E
ção a Pernambuco, Fortaleza foi conformada como
Capital. ... Em 1823, a vila foi elevada à condição de ci- 30.A Vegetação original de Fortaleza se estabelece no
dade, com nome de Fortaleza de Nova Bragança. A de- mangue desde seus primórdio.
nominação não vingou. C E
C E
31.Em 1799, a Capitania do Ceará foi desmembrada da 42.O município de Fortaleza possui uma extensão geográ-
Capitania de Pernambuco e Fortaleza foi escolhida ca- fica pequena, sendo formado por um relevo plano,
pital. No ano seguinte ao da Independência do Brasil, marcado pela presença de planícies litorâneas. A cida-
Dom Pedro I transformou a vila em cidade de Fortaleza de é banhada pelo Oceano Atlântico, e o seu litoral
de Nova Bragança. possui cerca de 34 quilômetros e está dividido em 15
C E praias. As principais praias de Fortaleza são Iracema,
Futuro, Meireles e Mucuripe. Já os principais cursos de
32.Com mais de 2 km de trilhas interligadas, essa área é água da cidade são o Rio Cocó e o Riacho Pajeú, onde
ideal para quem quer praticar esportes e contemplar a o povoamento urbano fortalezense foi iniciado.
natureza, está situado o parque do Cocó. C E
C E
43.O clima de Fortaleza é tipicamente frio, marcado pelas
33.Fortaleza possui 313,8 km² quilômetros quadrado de altas temperaturas e pela recorrência de chuvas, em
extensão geográfica atual. razão da influência da umidade proveniente do ocea-
C E no. A cidade de Fortaleza é uma das mais úmidas do
estado do Ceará, sendo a constância da chuva um
34.A cidade de Fortaleza, fica situada a 0° 45' 47" de lati- atrativo para os movimentos populacionais que chega-
tude Sul e 380 31' 23" de longitude W. ram à região nos séculos passados. Já a vegetação é
C E tipicamente litorânea, composta por formações de
mangue e restinga.
35.As coordenadas do Forte de Schoonenborch são: 03º C E
43' S, 38º 32' O
C E 44.A cidade de Fortaleza é a maior em termos populacio-
nais do estado do Ceará, com valores absolutos supe-
36.A cidade de Fortaleza está localizada no Noroeste do riores a 2,6 milhões de habitantes. No que toca ao ce-
Brasil, mais precisamente no litoral do estado do Cea- nário nacional, Fortaleza é a quinta maior cidade do
rá, em uma região de clima tropical e vegetação litorâ- Brasil e a segunda do Nordeste do país. A sua região
nea. metropolitana, onde está concentrada grande parte da
C E população cearense, é considerada um dos principais
núcleos urbanos do território brasileiro. Ademais, des-
37.O território fortalezense já foi alvo de disputa entre taca-se ainda a altíssima densidade geográfica da ci-
holandeses e portugueses. O nome da cidade é deriva- dade de Fortaleza, em razão do grande volume absolu-
do da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, nome to de população disposta em um pequeno território.
dado pelos portugueses ao Forte de Schoonenborch, C E
construído pelos invasores dos Países Baixos.
C E 45.O município conta com dados positivos de crescimen-
to populacional. A cidade recebeu muitos imigrantes
38.Em termos populacionais, a cidade possui mais de 1,6 de origem portuguesa e africana. Porém, o seu cresci-
milhões de habitantes. É a maior cidade em população mento populacional foi marcado pela imigração inter-
do Ceará, a segunda do Nordeste e a quinta do Brasil. na, mais precisamente da população interiorana cea-
C E rense para o litoral do estado.
C E
39.A economia de Fortaleza é caracterizada pela adminis-
tração pública, comércio e serviços, principalmente 46.A diversidade cultural fortalezense é resultado dessa
atividades turísticas. A cidade conta ainda com muitas mistura de influências da população local. Os habitan-
indústrias. tes da cidade tem como religiões predominantes o ca-
C E tolicismo e o protestantismo. Na atualidade, a cidade
possui um índice de desenvolvimento humano alto, po-
40.Fortaleza é dividida administrativamente em 12 sub- rém apresenta elevados níveis de desigualdade social
prefeituras, compostas por 121 bairros. entre a sua população.
C E C E

41.A cultura local é marcada pelos festejos juninos e pe-


las festas de Carnaval. A cidade é conhecida ainda pe-
la qualidade dos seus humoristas.
C E
47.A cidade de Fortaleza possui uma economia muita 52.Em termos de estrutura de serviços, Fortaleza é o prin-
dinâmica e diversificada, sendo o principal centro eco- cipal centro de saúde e educação do estado do Ceará.
nômico do estado do Ceará e um dos principais do No município, há uma ampla rede de estabelecimentos
Nordeste brasileiro. A economia fortalezense está ba- de saúde e, também, universidades e centros de pes-
seada no setor terciário, principalmente na administra- quisa, além das escolas que compõem a rede de ensi-
ção pública, no comércio e nos serviços. A cidade pos- no obrigatório brasileiro. A cidade conta com centros
sui grandes centros comerciais e é um importante en- de ciência e tecnologia, como o Núcleo de Tecnologia
treposto de transações de comércio do litoral nordes- Industrial do Ceará e uma das sedes nacionais do Ins-
tino. Já no que toca aos serviços, para além dos ofere- tituto Nacional da Propriedade Industrial. Em termos
cidos nas áreas de saúde, educação e logística, Forta- culturais, há uma diversidade de equipamentos, entre
leza é um dos principais centros do turismo de praia teatros, cinemas e centro culturais, como o Centro
do Brasil. Dragão do Mar de Arte e Cultura.
C E C E

48.Em segundo plano econômico, o setor secundário — as 53.A cidade de Fortaleza possui uma cultura muito pobre
indústrias — também é muito importante para a eco- e pouco diversificada, notadamente marcada pelos
nomia fortalezense. A cidade conta com vários centros elementos da região nordestina, sendo um dos princi-
industriais, com destaque para a indústria têxtil, ali- pais polos de produção cultural do Brasil. No municí-
mentícia, bebidas e beneficiamento de produtos primá- pio, destacam-se:
rios. Assim como Fortaleza, a região metropolitana da C E
cidade é um importante polo industrial do estado do
Ceará. 54.No que toca às manifestações culturais, há uma infini-
C E dade de eventos que marcam a grande diversidade
cultural da cidade. Notadamente, o Carnaval e as Fes-
49.O setor primário da economia, caracterizado pelas tas Juninas são os principais festejos fortalezenses. A
atividades agropecuárias, é predominante no municí- cidade é conhecida ainda como centro formador de
pio, em razão, dentre outros motivos, da indisponibili- humoristas, artistas locais que utilizam do humor para
dade de terras para o estabelecimento de cultivos a realização de apresentações culturais.
agrícolas. A prática agropecuária local é estritamente C E
voltada para a subsistência.
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50.A infraestrutura da cidade de Fortaleza é bastante


desenvolvida, principalmente em termos de eixos de
transporte e telecomunicações, já que a cidade é um 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
dos principais centros logísticos e de negócios do lito-
ral nordestino. O município conta com estrutura de ve- C C C C E C C C C E
tores rodoviários, metroviários, além de aquaviários e 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
aeroviários. Os principais equipamentos de transporte
são o Aeroporto Internacional Pinto Martins e o Termi- C C C C C E C C C C
nal Portuário do Pecém, este localizado na região me- 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
tropolitana de Fortaleza.
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31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
51.A cidade conta com uma distribuição satisfatória de
energia, comunicações e saneamento básico. Porém, o C C C C C E C E C C
crescimento urbano exacerbado culminou na presença 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50
de zonas de ocupação irregulares, onde o acesso aos
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serviços básicos é deficitário. A cidade de Fortaleza é
dividida administrativamente em 12 subprefeituras, 51 52 53 54 ― ― ― ― ― ―
compostas por 121 bairros.
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