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Localização de Fortaleza:
Fortaleza é a capital do estado nordestino do Ceará. Está
País: Brasil.
localizada nas margens do Oceano Atlântico, em uma
zona de clima tropical, marcada pela elevada umidade. O Unidade federativa: Ceará.
início do povoamento da cidade está atrelado ao Forte de
Schoonenborch, construído por holandeses, mas tomado Região intermediária: Fortaleza.
por portugueses, que garantiram a posse da região.
Região imediata: Fortaleza.
A cidade de Fortaleza foi fundada oficialmente em 13 de
abril de 1726, e a população local foi formada pelos colo- Região metropolitana: Região metropolitana de
nizadores europeus, pelos descendentes de indígenas e Fortaleza.
africanos e também pela intensa migração interna pre-
Municípios limítrofes: Caucaia, Maracanaú, Paca-
sente no território cearense.
tuba, Itaitinga, Eusébio e Aquiraz.
A economia local é bastante diversificada, com importan-
tes atividades secundárias e terciárias. O território forta-
lezense é muito procurado por turistas, em razão da pre- Geografia de Fortaleza
sença de belas praias e da rica cultura local. Os trabalhos
artesanais e a culinária típica são marcas da cidade. O Área total: 312,353 quilômetros quadrados.
município conta com uma infraestrutura urbana desen-
População total: 2.686.612 habitantes.
volvida, sendo um dos principais polos de comércio e
logística do litoral nordestino. A sua estrutura governa- Densidade demográfica: 7.786,44 habitantes /
mental está baseada nos Três Poderes. quilômetro quadrado.
Gentílico: fortalezense.
Com traçado de autoria do engenheiro inglês Richard Em 1749, a praça estava guarnecida por duas companhi-
Carr,[5] as tropas de Matias Beck limparam o terreno a 9 as (dois capitães, dois alferes, dois artilheiros e duzentos
de abril de 1649, erguendo uma cerca de pau-a-pique do e quarenta soldados), e artilhada com cinco peças de
dia 10 ao dia 22 do mesmo mês, deixando por instalar o bronze (uma de 8 libras, duas de 5, e duas de 2), e sete
portão e concluir duas baterias (GARRIDO, 1940:42). Inici- peças de ferro (cinco de 10 e duas de 3). No governo de
almente de madeira (estacas de carnaúba) e terra, sua Mountari (1756), iniciou-se a construção de um reduto de
planta apresentava a forma de um polígono pentagonal, madeira e terra apiloada, mais tarde artilhado com doze
cercado com parapeito e paliçada (BARRETTO, 1958:89), peças (Reduto da Prainha). Em 1782 as defesas do forte
aproveitando material e artilharia do antigo Fortim de São
ainda não haviam sido reconstruídas, situação que perdu- Os povos originários dos Países Baixos invadiram Forta-
rava ainda em 1790 (BARRETTO, 1958:90-91). leza em dois momentos distintos: em 1637, sendo expul-
sos pelas tribos indígenas da região poucos anos depois;
Em comunicação de 29 de outubro de 1799, o governador e em 1649, sendo combatidos por portugueses até deixa-
da Capitania do Ceará, Bernardo de Manoel de Vasconce- rem a região cinco anos depois. Na segunda invasão, foi
los, reclamou do estado de ruína da fortificação, relacio- construído pelos holandeses o Forte de Schoonenborch.
nando a sua reduzida guarnição (um comandante, ele Após o completo domínio português, o nome do referido
próprio, um tenente, um sargento, um furriel, um cabo, um forte foi alterado para Fortaleza de Nossa Senhora da
tambor e 22 soldados) e artilharia (uma peça de bronze de Assunção. A partir de então, desenvolveu-se o povoamen-
calibre 7 libras e sete de ferro, uma de calibre 9 libras, to urbano da cidade. O nome do município, Fortaleza, é
uma de 8, quatro de 6 e uma de 5, todas em mau estado). justamente uma referência ao forte histórico da cidade,
Deste período, existe planta, tirada pelo Comandante do construído pelos holandeses e dominado por portugueses
Corpo de Artilheiros Tenente Francisco Xavier Torres nas disputas empreendidas pela posse das terras do lito-
(Planta da Fortaleza da Vila de Nossa Senhora de Assun- ral cearense durante o período do Brasil Colônia.
ção e do Reduto de S. Luís na ponta de Mucuripe, c. 1800.
Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:49). Em O Forte de Schoonenborch foi construído por holandeses
1802 foi erguido um quartel (BARRETTO, 1958:91). durante o segundo período de ocupação do litoral cearen-
se pelos colonizadores dos Países Baixos. [1]
Este forte, à sombra do qual progrediu, no século XVIII, a
Vila de São José de Riba-Mar, futura capital com o nome O crescimento urbano do povoado culminou na sua ele-
Fortaleza, desmoronou em 1812. Foi sucedido pela Forta- vação em vila, mais precisamente em 1726, e, posterior-
leza de Nossa Senhora da Assunção. mente, em cidade, em 1823. O incremento populacional
da cidade de Fortaleza se deu, prioritariamente, em razão
VISÃO GERAL SOBRE do intenso fluxo de imigrantes internos do estado do Cea-
A HISTÓRIA DE FORTALEZA rá, que fugiam da seca, característica do interior do esta-
do. Mais recentemente, os processos de urbanização e de
industrialização resultaram em uma elevada concentra-
ção de população no território fortalezense, reconhecida
como a capital brasileira com o maior percentual de den-
sidade demográfica. Logo, a cidade se tornou o principal
polo político, econômico e turístico do Ceará e umas das
principais cidades do Brasil.
Foi justamente quando se iniciou uma nova fortaleza, Em 1821, o Governador Francisco Alberto Rubim solicitou
erguida pelos holandeses em 1649 e batizada de Forte 200$000 réis para a conclusão de suas obras, o que ocor-
Schoonenborch. Os domínios dessas terras permanece- reu no ano seguinte (17 de agosto de 1822). BARRETTO
ram até 1812, quando a Coroa Portuguesa retomou a Pro- (1958) informa que a sua artilharia foi aumentada para
víncia do Ceará e rebatizou a fortaleza de Fortaleza de trinta e uma peças de diferentes calibres a partir de 1829.
Nossa Senhora da Assunção.
O Mapa anexo ao Relatório do Ministério da Guerra de
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção 1847 aponta-lhe a ruína, dando-a como artilhada com
vinte peças. GARRIDO (1940) informa que recebeu repa-
Desmoronado o Forte de Nossa Senhora da Assunção ros em 1856. No ano seguinte, classificada como fortifi-
(1812), o governador da então Província do Ceará, Manuel cação de 2ª Classe (11 de fevereiro de 1857), encontrava-
Inácio de Sampaio e Pina Freire, deu início, no local, a uma se artilhada com trinta e duas peças: vinte e seis de alma
nova estrutura para a defesa daquela Capital. A pedra lisa (quatro de calibre 25 libras, duas de 18, nove de 12,
fundamental foi lançada a 12 de outubro de 1812, em cinco de 6, e seis de 3), e 6 de bronze La Hitte, raiadas,
homenagem ao aniversário do "sereníssimo Senhor Prín- calibre 12. Foi avaliada em 125:000$000 réis (3 de março
cipe da Beira, o senhor D. Pedro de Alcântara". de 1858). Sofreu reparos no contexto da Questão Christie
(1862-1865), em 1875, em 1883 (5:000$000 réis), e em
A planta, de autoria do Tenente-coronel Engenheiro Antó-
1886, quando foi novamente considerada como de 2ª
nio José da Silva Paulet, que dirigiu a sua construção,
classe.
apresenta a forma de um quadrado com 90 metros de
lado, com baluartes nos vértices, sob a invocação, respec- Entre 1846 e 1857 foram-lhe erguidos novos prédios, os
tivamente, de Nossa Senhora da Assunção (nordeste), quais sediaram diversas unidades militares como o 11º e
São José (sudeste), Dom João (noroeste) e Príncipe da o 15º batalhões de Infantaria, a Escola Militar do Ceará, o
Beira (sudoeste). Artilhada inicialmente com cinco peças, 22º e o 23º batalhões de Caçadores, entre outras.
foi custeada com fundos públicos (20:362$390 réis) e
doações particulares (16:113$267 réis), afora doações de Do século XX aos nossos dias
materiais e serviços, de voluntários e de escravos. GAR-
RIDO reporta que, em 1816, a fortaleza encontrava-se Fachada do edifício sede da 10.ª Região Militar
artilhada com vinte e sete peças.
No início da República Velha, em 1895 apresentava duas
baterias dispostas em andares e uma bateria a cavaleiro.
Também conhecida como Forte da Tartaruga, encontrava- Cruzando o Ceará no decorrer do Setecentos, a economia
se bem conservada (1906), e desarmada (1910). À época pecuarista, a despeito de sua baixa produtividade e pe-
da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) foi guarnecida, quena rentabilidade, atribuiu sentido à ocupação e deu
entre 1917 e 1918, pela 1ª Bateria Independente do 3º forma e conteúdo à capitania.
Distrito de Artilharia de Costa, sob o comando do Capitão
Bernardino Chaves. BARRETTO (1958) complementa que A instalação dos boiadeiros aliada à da Igreja - domesti-
o quartel contíguo à fortaleza, que abrigava a guarnição, cando a população indígena que resistia à expansão do
foi ocupado pela 46ª Bateria Independente, mais tarde 46ª criatório - e à participação do Estado português - com a
Bateria de Costa. À época (1958), sediava o Quartel- fundação das vilas significou a possibilidade de capitali-
general da 10ª Região Militar, função que conserva desde zação em torno da atividade comercial da pecuária.
então.
O território cearense - como meio natural e base material
Museu e Phanteon do General Sampaio da existência - não se apresentou nada favorável à fixa-
ção dos primeiros conquistadores2. A conquista aconte-
A Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, atualmente ceu de forma bastante violenta. Somente passado o medo
funcionando como sede do Comando da 10ª Região Mili- da região, os desbravadores construíram suas fazendas e
tar, é um dos pontos turísticos mais conhecidos da capi- levaram suas famílias para o sertão3. O medo era resul-
tal cearense, tendo como destaques a própria história da tante da adversidade climática e da resistência indígena.
Fortaleza, o Museu e Phanteon do General Sampaio (Pa- Durante o século XVIII, a seca manifestou-se por cinco
trono da Arma de Infantaria), a prisão onde esteve Bárba- vezes por todo o Nordeste: 1721-1725; 1736-1737; 1745-
ra de Alencar e ainda a estátua de Martim Soares Moreno. 1746; 1777-1778; e 1791-17934. A Guerra dos Bárbaros5
O forte pode ser visitado mediante agendamento prévio foi apenas um dos capítulos da sangrenta conquista6.
junto à Comunicação Social da Região Militar. A visita é Além do embate com os índios, as brigas entre os sesmei-
feita na companhia de um militar que aborda tópicos de ros também coloriram de sangue a colonização.
interesse sobre o monumento, nomeadamente a praça de
armas, a cela onde esteve detida Bárbara de Alencar e a Toda a ocupação e a fixação encontraram apoio no sis-
capela do forte. tema de sesmarias. Os primeiros sesmeiros não só foram
os primeiros donos da terra como também ocuparam
13 de abril de 1726 - Fortaleza é elevada à categoria de postos militares e funções de ordenanças nas câmaras
Vila... das vilas fundadas7.
Durante o primeiro século de colonização portuguesa, a A análise das justificativas das concessões demonstra
capitania do Ceará não despertou o interesse de seu do- que a atividade criatória foi a principal responsável pela
natário, dom Antônio Cardoso de Barros. Somente em ocupação da capitania. Das 2472 datas solicitadas entre
1603, o fidalgo Pero Coelho de Sousa desembarcou na foz 1679 e 1824, 90,85% tinham como justificativa a necessi-
do rio Ceará, erguendo em suas margens um pequeno dade de terra para a pecuária8.
forte e dando início a um povoado, que não se desenvol-
veu. Em 1612, Martim Soares Moreno, que havia acompa- Sobre o lugar de alguns primeiros aldeamentos no Ceará
nhado Coelho naquela expedição, retornou ao local. Re-
Até o ano de 1700, identificamos quatro aldeamentos sob
cuperou o forte que estava abandonado e construiu a
os cuidados dos Clérigos do Hábito de São Pedro; além
Capela de Nossa Senhora do Amparo. Foi esse capitão
da missão dos jesuítas na serra da Ibiapaba, definitiva-
português, Martim, que serviu de inspiração para um dos
mente instalada por volta de 1695. Não nos foi possível
personagens centrais do romance "Iracema", de José de
determinar suas durações. Dos quatro, dois estavam loca-
Alencar, que pretende narrar justamente as origens.
lizados na Ribeira do Jaguaribe e dois nas proximidades
A ocupação do território e os agentes econômicos da futura vila de Fortaleza. Em 1696, os índios paiacus
foram reunidos na Aldeia de Nossa Senhora da Madre de
No final do século XVII e nos primeiros anos do século Deus (Aldeia Velha), a meia légua20 do monte Arerê, atual
XVIII, após as decisões régias portuguesas1 de no Brasil Itaiçaba, na Ribeira do Jaguaribe, sob a ação do clérigo
reservar a faixa litorânea nordestina unicamente para a João da Costa21. Em 1697, os índios jaguaribaras e ana-
produção do açúcar, os criadores de gado, com suas boi- cés foram aldeados em Parnamirim, a sete léguas de For-
adas, partiram em direção à capitania do Maranhão em taleza, pelo clérigo João Leite de Aguiar22. No ano se-
busca de novas pastagens. A expulsão da pecuária impli- guinte, em 1698, Nobre faz referência a um aldeamento
cou uma primeira separação geoeconômica no Nordeste nas proximidades da futura vila de Nossa Senhora da
brasileiro. Enquanto a atividade açucareira desenvolveu- Assumpção, sob a atenção do também clérigo João Alva-
se no próximo e rico litoral, ao criatório restou o longínquo res da Encarnação23. Em 1699, o clérigo padre João da
e pobre sertão. Costa cria um novo aldeamento (Aldeia Nova) na Aldeia
de Nossa Senhora da Montanha, localizada a 14 léguas Em 17 de fevereiro de 1777, D. Tomás da Encarnação
da antiga Aldeia Velha. Costa e Lima, bispo de Pernambuco, apresentou ao rei de
Portugal D. José I uma relação de todas as igrejas paro-
As primeiras capelas quiais que pertenciam ao bispado pernambucano - que se
estendia desde a foz do São Francisco até Fortaleza, no
Em alguns casos, após o erguimento das fazendas de
Ceará, fazendo limite com o do Pará, a oeste, e com o
gado, os sesmeiros requeriam permissão ao bispado de
arcebispado da Bahia, ao sul -, abrangendo várias capita-
Pernambuco31 para construção de uma ermida, onde
nias. Segundo D. Tomás da Encarnação, todas as capelas
poderiam ouvir as missas celebradas por capelães. A
do bispado ou eram de engenhos necessárias para a ce-
permissão significava assistência religiosa. As ermidas
lebração do Santo Sacrifício da Missa e administração
eram construídas em terras doadas32por um ou mais de
dos Sacramentos aos trabalhadores dos mesmos, ou são
um proprietário de terra, contribuindo para a formação do
edificadas pelos povos circunvizinhos com patrimônio
patrimônio eclesiástico na capitania cearense. Juntamen-
competente, nas distancias grandes das suas Matrizes
te com a fixação dos boiadeiros, a Igreja reafirmava, as-
para o referido fim dos Sacramentos e Santo Sacrifício,
sim, sua presença no território instalando-se nas terras
conservando-se nelas hum Sacerdote com licença do
oferecidas.
próprio Paroco, sem alguns encargos de encapelados.
Nobre assevera que, muito provavelmente, "excluídas a do
O desenho das vilas cearenses no início do século XIX
Forte de Nossa Senhora da Assumpção e as das aldeias
dos missionários"33, a capela dedicada à Nossa Senhora A reconstituição gráfica da organização espacial proposta
do Ó cujo patrimônio fora doado pela família Montes na pelos portugueses por meio dos dados fornecidos no
ribeira do rio Salgado, no lugar da futura matriz de Nossa Termo de Demarcação, demonstra que, entre as vilas fun-
Senhora da Expectação do Icó, foi a primeira a erigir-se no dadas no Ceará, a única executada de modo fiel à legisla-
Ceará. A Carta Régia fundacional da Vila de Nossa Senho- ção foi a vila de índio Monte-mor o Novo d'América57,
ra da Expectação do Icó, de 1736, determinou a criação de verdadeira expressão pombalina na capitania cearense.
uma "nova Villa no Icó junto aonde se acha a Igreja Ma- Nem mesmo nas duas principais vilas do Ceará setecen-
triz"34. tista - a vila do Icó e a vila do Aracati, que ocupam posi-
ções estratégicas para as atividades em torno da pecuá-
Por volta de 1793, Manuel da Cunha Pereira, o capitão
ria - os desígnios urbanísticos portugueses foram implan-
comandante da Ribeira do Jaguaribe, pediu licença à rai-
tados com tanta fidelidade.
nha D. Maria I para edificar uma ermida em homenagem a
Nossa Senhora das Dores, em sua fazenda chamada Bo-
A despeito das diretrizes urbanísticas da Carta Régia da
queirão, localizada na freguesia das Russas35. O docu-
Vila de Santa Cruz do Aracati, que propunham a instala-
mento expressa os procedimentos que provavelmente
ção da praça fundacional um quilômetro ao norte do anti-
todos os detentores de terra, durante o século XVIII, devi-
go povoado do porto das Barcas, e dos problemas relaci-
am ter seguido ao requerer ao bispado de Pernambuco a
onados à salubridade pública resultantes da presença das
construção das primeiras capelas no território cearense.
salgadeiras das carnes cearenses, o Aracati desenvolveu-
A requisição implicava na doação de terras para o orago
se no entorno da antiga povoação, onde já moravam os
correspondente à igreja, contribuindo para o patrimônio
envolvidos com a atividade econômica da pecuária; ou
religioso da capitania do Ceará.
seja, o abate, a salga e comercialização do charque.
As freguesias
No início do século XIX, a vila não passava de uma longa
Além da construção das ermidas e capelas, e sua eleva- rua entrecortada por becos e travessas. Ela foi descrita
ção à condição de igreja matriz, o bispo de Pernambuco pelos viajantes Henry Koster58e George Gardner59, e
cuidou de ordenar a demarcação dos limites das fregue- desenhada, em 1813, por Antonio José da Silva Paulet,
sias cearenses, que seriam frequentemente percorridas engenheiro-mor do Reino, e, em 1825, por João Bloem,
por padres visitadores angariando fundos para os cofres capitão do Imperial Corpo de Engenheiros. Tanto na des-
portugueses. crição como nos desenhos, o Aracati não passava de
comprida rua, sem presença de praça central. Também
Em sua grande maioria, as vilas foram fundadas onde já não se encontravam, na área determinada para a praça, a
existiam paróquias, o que confirma a precedência da or- Casa de Câmara e Cadeia tampouco a Igreja Matriz60.
ganização religiosa quanto à organização político-
administrativa37. Durante o século XVIII, o número de Na Planta do porto e da Vila do Aracati elaborada por Sil-
freguesias superou o número de vilas criadas no Ceará. A va Paulet em 1813, e na Planta da Barra e rio de Jaguari-
capitania alcançou o século XIX com 17 freguesias e 14 be, do engenheiro João Bloem, de 1825, que contém em
vilas. detalhe o desenho do Aracati, a vila não passa de uma
longa rua - que congregava as do Pelourinho, das Flores e
de Santo Antônio - paralela ao rio Jaguaribe. Margear o rio campado, na maioria das vezes desprovido de sombra, -
foi, ainda na primeira metade do século XVIII, uma das na extremidade oposta ao ancoradouro. Durante a segun-
primeiras prerrogativas das ordenações régias. As demais da metade do século XVIII, o seu caráter simbólico de
ruas presentes nos livros de aforamentos do século XVIII centro cívico, marco número um de demarcação da vila ou
não são demarcadas; excetuando-se um pequeno trecho de onde todo o restante se origina e por analogia "centro
da rua Direita, em um espaço compreendido entre a Igreja do mundo, do berço da vida e da civilização"61, que a
dos Prazeres e a do Rosário dos Pretos, na rua do Piolho. presença do pelourinho só reforçava esvai-se completa-
mente. E esvai-se por não ocupar uma posição central na
O desenho de Paulet apresenta uma vila bastante alinha- vila, por continuar no extremo sul do Aracati, pela transfe-
da, reta e sem interrupções, não chegando às minúcias rência do pelourinho para outra praça no norte da vila,
dos becos e travessas que cortavam a rua principal em onde estava a Casa de Câmara e Cadeia, e pelo sentido
toda a sua extensão, tampouco expressando os vazios aglutinador do espaço setentrional do núcleo, onde se
das quadras e a falta de alinhamento de certos trechos. davam a produção da carne salgada, as transações co-
Já o risco de Bloem se aproxima mais da realidade. O merciais, e onde se concentraram os setores mais abas-
alinhamento não é tão rigoroso, sendo demarcados os tados, a maioria dos seus sobrados, e os edifícios institu-
espaços vazios entre as quadras, ou no meio delas, e as cionais representativos do poder público e religioso; e
várias transversais que cortavam a rua principal. Do lado tudo isto nas proximidades do porto.
nascente, podem-se contar cinco travessas e, já quase no
extremo norte da vila, uma área livre com um ponto cen- Em agosto de 1836, o inglês Gardner deixou o Aracati em
tral dentro do alinhamento das quadras, que acreditamos direção ao Icó. Segundo o viajante, o núcleo consistia de
ser a nova praça do Pelourinho, onde, defronte, estava a "três ruas principais", que corriam no sentido norte-sul,
Casa de Câmara e Cadeia, após sua retirada dali onde cortadas por outras menores. A principal rua era larga e
outrora fora pensado o lugar da praça. No poente, identifi- tinha "algumas lojas bem sortidas"62. O espaço do Icó foi
cam-se sete pequenas ruas transversais e, também, mais descrito sem qualquer referência à praça idealizada há
para o norte, mas ainda no alinhamento da rua principal e cem anos pelos portugueses63.
antes da última quadra, uma área livre, sem uma clara
definição se era uma praça ou não, mas certamente ainda Primórdios da organização do espaço territorial e das
desocupada. O desenho de Paulet traz somente a Igreja vilas cearenses: a falta de investimento
Matriz de Nossa Senhora do Rosário; e o de Bloem, além
dessa, outra que acreditamos ser a do Rosário dos Pre- Para a organização espacial do território das vilas criadas,
tos. Em ambos não são representadas a Igreja do Bom- foram fundamentais as relações estabelecidas entre elas.
fim, a Igreja dos Prazeres e a capela para Nosso Senhor Contudo, como a produtividade e a rentabilidade da pecu-
dos Navegantes, aforada no início do século XIX, na tra- ária continuaram pequenas por todo o século, não houve
vessa que ligava a rua de Santo Antônio e a Matriz. razão nem justificativa econômica suficientemente forte
para um investimento técnico e de capital, por parte dos
Comparando-se o que, nos desenhos de Paulet e Bloem, portugueses, para adequar plenamente as especificidades
se apresenta como construído não só com a área da vila - locais às suas necessidades lusitanas, ou vice-versa.
apreendida pela localização das ruas listadas nos termos Também logo se desfez o sonho do eldorado de minas de
de cordeação (alinhamento) do Livro de Aforamentos de prata e de ouro no sertão.
1775 - mas também com os limites estabelecidos pela
medida de n. 10 do provimento de 1780 - que determinava Além da inexistência de razões econômicas, também não
uma poligonal de crescimento do núcleo em decorrência houve motivos geopolíticos que justificassem maiores
da extrema dispersão que a sua materialidade construída investimentos tecnológicos na capitania, fossem relativos
apresentava cerca de trinta anos após a sua fundação -, à sua defesa ou às instalações de suas vilas. Primeiro,
conclui-se que ela, com exceção de sua rua principal, con- porque a soberania portuguesa na região, desde a expul-
tinuava inteiramente dispersa no início do século XIX, sem são dos holandeses em 1654, já não era ameaçada por
uma definição clara de seu arruamento, a ponto de não estrangeiros; depois, porque, já no Tratado das Tordesi-
serem as demais ruas levadas em consideração nos de- lhas, a zona sertaneja do Nordeste do Brasil - e, em nosso
senhos dos engenheiros. caso, o atual território do estado do Ceará já pertencia a
Portugal. Além disso, a caminho da região amazônica, era
Também no desenho de ambos não há sinal da praça, bem mais fácil alcançar-se o Maranhão e o Pará por mar,
demonstrando que ela não foi formalmente estruturada, e vindo diretamente de Lisboa, do que cruzando o sertão.
que a condição, periférica e residual, da área idealizada
para sua locação no extremo sul da vila manteve-se no Não é difícil afirmar que o Ceará, ocupando uma posição
decorrer dos anos. A praça nunca deixou de ser um gran- periférica no conjunto dos interesses econômicos e geo-
de areal - como se denomina no Ceará um grande des- políticos portugueses, ficou à margem das ações que
envolveram investimentos tecnológicos com vistas à le de Portugal sobre a região e com as desigualdades
adequação das capitanias e de suas vilas às ações lusi- sociais existentes. O acontecimento da Revolução Per-
tanas ordenadoras do espaço. Não é à toa que, até o final nambucana estava diretamente relacionado com os des-
do século XVIII, têm-se notícias de somente quatro enge- dobramentos da transferência da Corte portuguesa para o
nheiros na capitania cearense, e que eles quase nada Brasil.
propuseram.
Antecedentes
O espaço como síntese de múltiplas ações
Semelhantemente à Inconfidência Mineira e à Conjuração
Os vaqueiros e boiadeiros não foram apenas os primeiros Baiana, a Revolução Pernambucana teve caráter separa-
desbravadores, mas os futuros sesmeiros, proprietários tista e defendia o sistema republicano. No entanto, essa
de terras e das fazendas de gado, e, em alguns casos, revolta foi o único movimento dos três que conseguiu
futuros representantes do Estado português no território superar a fase conspiratória e deflagrar, de fato, a revolu-
cearense. Eles se estabeleceram às margens dos rios, ção, chegando, inclusive, a tomar o poder de Pernambuco
onde o mínimo de pastagem para as boiadas era possível. e instalar um governo provisório.
Junto com os fazendeiros, os representantes da Igreja
chegam ao Ceará ou fixando-se nos efêmeros aldeamen- A Revolução Pernambucana foi resultado das insatisfa-
tos ou como párocos itinerantes que, de capela em cape- ções locais que já existiam havia um certo tempo e que
la, difundiram os princípios contrarreformistas, sempre foram aumentadas com a transferência da Corte portu-
procurando apaziguar a população indígena, que resistia guesa para o Brasil. Essa mudança ocorreu em 1807 e
ao avanço da atividade criatória. Mas os representantes 1808 por causa da invasão de Portugal pelas tropas napo-
da Igreja não cumpriram apenas um papel catequético: leônicas.
muitos religiosos tornaram-se ainda proprietários de terra,
donos de boiadas e construíram suas próprias fazendas O descontentamento com a presença da Corte portugue-
de gado. Por quase todo o século XVIII, a Igreja esteve, sa no Brasil era explicado pelo aumento dos impostos,
também, intimamente associada ao Estado lusitano, dan- realizado para manter os luxos da família real portuguesa
do suporte ideológico à conquista. e para financiar as campanhas militares que eram trava-
das na Cisplatina. Além disso, D. João VI também havia
O Estado, ao fixar-se no território cearense, elegeu lugares nomeado portugueses a cargos públicos importantes,
estratégicos onde outrora havia as primeiras fazendas e a principalmente no exército, prejudicando as elites locais.
Igreja já havia se implantado - para uma melhor capitali-
zação da economia pecuarista. Na maioria das vezes, o Essa insatisfação pernambucana com o domínio portu-
lugar da vila fundada durante o século XVIII pelos lusita- guês, no entanto, era antigo. No começo do século XIX,
nos já fora o lugar de uma fazenda de gado ou de uma em 1801, uma conspiração foi denunciada e desmontada
pequena ermida. Somente após sua emancipação política pelas autoridades portuguesas. Conhecida como Conspi-
em relação à capitania de Pernambuco fora a capitania ração dos Suassunas, ela já evidenciava a existência de
cartografada pelos engenheiros do Reino e por um padre um alto grau de descontentamento com a Corte naquela
Visitador. A rede urbana, do início do século XIX, seguiu capitania.
os caminhos naturais do sertão, trilhados primeiramente
pela população indígena, mas também pelos vaqueiros, A Revolução Pernambucana foi um movimento que se
pelos representantes da Igreja e, por fim, pelo próprio inspirou nos ideais liberais difundidos à época pelo Ilumi-
Estado português. nismo. A presença dos ideais iluministas na região deveu-
se à existência de uma loja maçônica conhecida como
A conquista e a fixação foram pautadas por uma rede de Areópago de Itambé. Além disso, esses ideais liberais
consensos e intrigas97. Os diversos agentes uniram-se eram largamente propagados na comunidade eclesiástica
das mais diversas formas e em tempos diferenciados, local a partir do Seminário de Olinda.
transformando o espaço. Alternam-se Estado e Igreja,
Igreja e fazendeiros, fazendeiros e Estado, o Estado e os A Revolução Pernambucana
índios, marcando suas presenças no território, alterando
lentamente, por todo o século XVIII, a paisagem natural do A Revolução Pernambucana iniciou-se no dia 6 de março
sertão e do litoral do Ceará. de 1817, com a morte do brigadeiro português Manoel
Joaquim Barbosa de Castro. O brigadeiro português foi
A Revolução Pernambucana de 1817: Foi um movimento morto quando estava cumprindo as ordens do governador
que aconteceu na Capitania de Pernambuco durante o local de prender o capitão José de Barros Lima, denuncia-
período colonial. Esse movimento de caráter separatista e do por participar de uma conspiração. Barros Lima reagiu
republicano manifestou a insatisfação local com o contro- à voz de prisão, o que resultou na morte de Castro.
Após esse evento, a revolta espalhou-se por Recife e le- gurou poderes absolutistas. Além dessa oposição ao arbí-
vou à tomada da cidade pelos revolucionários. O gover- trio do imperador, a confederação pretendia implantar o
nador da capitania de Pernambuco abrigou-se em um regime republicano. As tropas imperiais conseguiram
forte local, o Forte do Brum, e logo embarcou para a cida- abafar o movimento e matar seus líderes.
de do Rio de Janeiro. Após conquista de Pernambuco, os
revolucionários instalaram um Governo Provisório. A Confederação do Equador foi um movimento revolucio-
nário iniciado em Pernambuco, em 1824, e que se espa-
Esse Governo Provisório aprovou uma série de medidas lhou para outras províncias nordestinas, como Rio Grande
que foram colocadas em vigor: foi proclamada a Repúbli- do Norte, Paraíba e Ceará. Os revoltosos se opuseram à
ca na Capitania de Pernambuco, decretada a liberdade de forma autoritária com que a Constituição de 1824 fora
imprensa e credo, instituído o princípio dos três poderes e elaborada e publicada pelo imperador Dom Pedro II. Além
aumentado o soldo dos soldados. Todas essas mudanças disso, a Confederação pretendia implantar o regime repu-
iam em direção dos ideais liberais, apesar disso, os revo- blicano.
lucionários optaram por manter a instituição da escravi-
Antecedentes da Confederação do Equador
dão.
Logo após a proclamação da independência do Brasil, foi
Esse fato explicava-se pela quantidade de grandes fazen- convocada uma Assembleia Constituinte, em 1823, com o
deiros que haviam aderido ao movimento. A abolição do intuito de elaborar a primeira Constituição brasileira. Na
trabalho escravo não era do interesse dessa classe e, abertura dos trabalhos da assembleia, o imperador Dom
além disso, a defesa dos “direitos iguais” por grande parte Pedro I fez um discurso e afirmou que a Constituição de-
dos revolucionários partia muito de um ponto de vista veria ser “digna do Brasil e de mim mesmo”, uma clara
elitista, que tendia a ignorar os interesses da massa popu- demonstração de que o texto constitucional deveria se-
lar e dos menos favorecidos. guir as vontades do monarca. Ao votarem os poderes do
imperador, os Constituintes decidiram pela limitação, o
Os grandes nomes da Revolução Pernambucana foram que provocou violenta reação de Dom Pedro, ordenando o
Domingos José Martins, José Barros Lima, Padre João fechamento da Assembleia e a prisão dos constituintes.
Ribeiro e Cruz Cabugá, entre outros. Cruz Cabugá, inclusi-
ve, foi enviado em missão diplomática aos Estados Uni- Em 1824, Dom Pedro I outorgou a Constituição do império
dos durante a revolução. Com 800 mil dólares em mãos, brasileiro que lhe garantiu amplos poderes por meio da
Cabugá tinha a tarefa de comprar armas e contratar mer- criação do Poder Moderador. Ao fechar a assembleia e
cenários, além de obter o apoio do governo americano ao elaborar uma Constituição sem nenhuma discussão, ele
movimento pernambucano. mostrou os perigos do seu autoritarismo. Contudo, o Nor-
deste não aceitaria a centralização do poder político de
A duração da Revolução Pernambucana foi razoavelmen- forma passiva. Os pernambucanos decidiram pegar em
te curta. A reação portuguesa foi intensa, e uma frota foi armas para lutar contra o autoritarismo do governo cen-
enviada do Rio de Janeiro com o objetivo de bloquear a tral.
cidade de Recife. Também foram enviados soldados por
terra da Bahia com a missão de invadir essa cidade. A O Nordeste atravessava um momento crítico nos primei-
derrota dos revolucionários aconteceu oficialmente no dia ros anos do Brasil independente. Desde a crise do açúcar,
20 de maio de 1817. logo após a expulsão dos holandeses, no século XVII, que
a economia da região não conseguia se desenvolver ple-
A repressão ordenada por D. João VI foi violenta, com os namente como nos tempos coloniais. A crise econômica
principais nomes da Revolução Pernambucana sendo se associou aos problemas sociais e disputas de poderes
severamente punidos. Domingos José Martins, por exem- dentro das províncias. A alta carga tributária também
plo, foi arcabuzado (fuzilado). Outros envolvidos, além de desagradou aos nordestinos.
arcabuzados, foram martirizados e muitos ainda ficaram
Enquanto o Brasil se tornava uma monarquia, as antigas
presos por anos.
colônias espanholas se tornavam republicanas, tal qual
os Estados Unidos, que haviam se tornado referência no
A confederação do Equador
processo emancipatório. Ao seguir o caminho oposto,
alguns grupos das províncias decidiram organizar movi-
A Confederação do Equador foi um movimento revolucio- mentos armados para derrubar o monarca autoritário e
nário que se iniciou em Pernambuco e logo alcançou ou- implantar a república no Brasil. Contudo, o governo cen-
tras províncias vizinhas. Os revoltosos se levantaram tral estava decidido a enviar suas tropas e usar todas as
contra o governo central por causa do autoritarismo de forças disponíveis para abafar essas revoltas.
Dom Pedro I ao fechar a Assembleia Constituinte de 1823
e impor uma Constituição, no ano seguinte, que lhe asse-
Motivos da Confederação do Equador: belecido. Frei Caneca e Cipriano Barata eram entusiastas
da ampliação dos direitos políticos e de reformas sociais,
Crise econômico-social; o que contrariava interesses das demais lideranças.
Altos impostos;
Autoritarismo de Dom Pedro. Dom Pedro I pediu empréstimos à Inglaterra para financi-
ar as tropas que lutaram contra a Confederação do Equa-
Líderes da Confederação do Equador: dor. As discordâncias entre seus líderes fizeram com que
o movimento se enfraquecesse, facilitando a vitória das
Frei Joaquim do Amor Divino, mais conhecido como tropas imperiais. Os revoltosos foram presos, condenados
Frei Caneca, foi o líder mais conhecido da revolta. e alguns executados, como Frei Caneca.
Nascido em 20 de agosto de 1779, no Recife (PE), ele
participou tanto da Confederação do Equador como da Consequências da Confederação do Equador:
Revolução Pernambucana, em 1817, na qual os per-
nambucanos se levantaram contra a presença da famí- Com a derrota da Confederação do Equador, Dom Pedro I
lia real portuguesa no Rio de Janeiro. Frei Caneca era conseguiu impor sua força nas províncias nordestinas,
jornalista e fundou o periódico Tiphys Pernambucano, mas não o suficiente para pacificar a região, pois os ide-
que divulgou os ideais dos revoltosos. As tropas impe- ais republicanos ainda permaneceriam e motivariam ou-
riais o prenderam e ele foi julgado e condenado à mor- tras revoltas durante o Período Regencial. A revolta em
te, apesar dos apelos para que se preservasse a sua Pernambuco mostrou também que a imprensa tinha po-
vida. No dia 13 de janeiro de 1825, Frei Caneca estava der de difundir ideias e motivar rebeliões contra o império.
no Forte das Cinco Pontas para ser enforcado, porém
os três carrascos se recusaram a executar o líder re-
belde. A Comissão Militar ordenou então o seu fuzila-
mento. Seu corpo foi deixado em frente ao Convento
das Carmelitas, dentro de um caixão de pinho. Os pa-
dres o recolheram e enterraram.
Na forma de violência física, percebe-se que o extermínio O primeiro aldeamento indígena, na Serra da Ibiapaba, se
aconteceu ao longo do processo de colonização, com deu quase dois séculos após o descobrimento do Brasil,
episódio grotesco registrado durante ano de 1699, com as em 1691. Mas logo foi seguido de outros igualmente im-
atrocidades cometidas (400 mortos e 300 prisioneiros portantes, por sua dimensão e resistência, em 1696, os
escravizados) pelos bandeirantes paulistas contra os dos tapuias dos jaguaribaras e tapuias dos paiacus, am-
paiacus, que habitavam o Vale do Jaguaribe (Bezerra e bos localizados no Vale do Jaguaribe, área de extensão
citado por Pinheiro). Ainda assim, a resistência indígena da pecuária. Pinheiro faz questão de frisar que o aldea-
armada permaneceu por duas décadas, tendo sido venci- mento "foi essencial para consolidar a conquista portu-
da em 1720, quando o desrespeito à ordem régia(2) con- guesa e redefinir o espaço cearense" (PINHEIRO,
sistiu no segundo momento de expropriação do seu terri- 2000:37).
tório e parte das nações indígenas estava subjugada à
cultura do colonizador. Ou seja, percebe-se o enfraqueci- A organização territorial do Estado do Ceará iniciou-se
mento da resistência indígena, quando os próprios índios com única unidade administrativa- Comarca, dado que o
submetem-se às exigências da metrópole e solicitam sistema de impostos(3) não requeria aparato burocrático
terras, que foram suas, utilizando os mesmos argumentos estatal e evoluiu para o sistema de Ribeiras, que acompa-
do colono branco em detrimento de seu próprio povo, face nhava as bacias dos rios, tal como as atividades econô-
às condições materiais de pauperização a que chegaram.
micas e os aldeamentos indígenas. No desdobramento, lência física foi naturalizada, o estigma e o preconceito
as unidades evoluíram para Vilas e Municípios. denegriram a imagem dos nativos e dos seus descenden-
tes perante a sociedade, que ainda hoje permanece como
Cabe destacar, que a transformação das Aldeias indíge- cultura inferior. Remanescentes dos originais índios cea-
nas em Vilas teve a mesma finalidade daquelas Vilas cri- renses encontram-se na população dos tabebas e tre-
adas para fins de controle social no contexto de desen- membés, cujos territórios não foram demarcados, que
volvimento da economia algodoeira, que necessitava de vivem em condições insalubres e de extrema miséria.
relações de trabalho regulares e subordinadas, subme-
tendo a população livre- de indígenas, mestiça(4), cafuza Questiona-se, finalmente, se esse grupo social não se
e mulata(5)- a código de postura e regime de trabalho constituiu historicamente o segmento da população pro-
controlados por feitor. Foram transformadas em Vilas os pensa à emigração, menos por seus antecedentes como
aldeamentos de Parangaba, Messejana, Caucaia, Baturité, povo sedentário e mais por sua relação social enquanto
Pacajus, Viçosa do Ceará e Miranda (atual Crato). Assim excluídos do sistema produtivo (como trabalhadores e
como foram criadas as vilas de controle social em Quixe- como proprietários dos meios de produção) e dos siste-
ramobim, Sobral, São Bernardo das Russas (atual Russas) mas de poder e representação política e social. Acredita-
e São João do Príncipe (atual denominação de Tauá). se que passaram a compor um grupo social vulnerável ao
fenômeno da seca, que impulsionou levas de emigrantes-
Em seqüência na organização do território, a criação dos retirantes e flagelados- do interior para a Capital.
dezoito primeiros municípios(6) passou-se na seguinte
ordem: Aquiraz (criado em 1699, incluindo a Vila de Paca- Imigração negra e mulata provoca reorganização no terri-
jus), Fortaleza (1725, incluindo as Vilas de Parangaba e tório cearense:
Messejana), Icó (1735), Aracati (1747), Viçosa do Ceará
(1758); Caucaia (1759), Baturité (1763), Crato (1764), Rus- Na revisão da literatura de ficção sobre o sertão nordesti-
sas e Quixeramobim (1766), Sobral (1772), Granja (1776), no brasileiro, Ivone Barbosa oferece novos elementos que
Guaraciaba do Norte (1791), Tauá (1801), Jardim (1814), reforçam o questionamento levantado a respeito desse
Lavras da Mangabeira (1816), Jucás e Itapipoca (1823) grupo social vulnerável.
(IPLANCE; 2000).
A visão dominante do colonizador é reproduzida na litera-
Percebe-se desse período de formação das Vilas, que tura, quando:
Aracati, Icó e Sobral, apresentam-se como centros comer-
ciais e de serviços de apoio a atividade do campo. Aracati "[...]se observa é que se desenvolveu todo um esforço de
se destacando por seu contato direto com o mercado interpretação historiográfica e literária para justificar, ou
nacional e com a Metrópole Portuguesa. Sobral, ao cana- simplesmente legitimar, o processo de ocupação pela
lizar a produção do Piauí. Icó, por sua localização estraté- pecuária, como um preenchimento de vazios demográfi-
gica na rota das boiadas e comércio da carne salgada, do cos e não como usurpação do espaço territorial indígena,
centro-sul do Estado, inclusive da Paraíba. conforme têm apontado estudos recentes"(BARBOSA,
2000: 65).
Fortaleza à época não participava dessa atividade eco-
nômica, mas por ser a Capital e concentrar as atividades Mais do que uma questão ideológica, a negação do índio
político-administrativas, começa a ser palco de alguns remete para sua condição social de excluído. Barbosa se
investimentos públicos que vieram a beneficiar mais o referenda em Barreiro, para fazer alusão ao fato de "uma
local que ao território cearense. A maioria dos aldeamen- recusa deliberada da presença indígena no espaço serta-
tos indígenas (Parangaba, Messejana, Caucaia e Pacajus) nejo" que em conjunto com outros grupos étnicos fazem
ficavam nas adjacências de Fortaleza, e, posteriormente, parte do grupo dos excluídos: "a desqualificação dos indi-
fizeram parte da periferia da região metropolitana. víduos que compunham as camadas pobres da popula-
ção, que por essa razão não tinham um lugar reservado
Para concluir essa fase histórica, é importante chamar na sociedade colonial [...]"(BARBOSA, 2000: 65).
atenção para o intenso processo de representação social
porque passou essa população nativa. De donos da terra, É muito comum a referência pejorativa a população "va-
foram primeiro considerados "invasores", "gentios", "bár- gabunda de aventureiros", sendo explicada por Barbosa
baros" e "preguiçosos", para depois se tornarem em "vadi- por se constituir um segmento composto de índios "redu-
os", "facínoras" e "vagabundos", e transformados social- zidos, vencidos e mestiçados", além de negros fugitivos,
mente em escravos. Isto apenas por resistirem a expro- aforrados, mulatos e brancos pobres. A submissão desse
priação de seu território, por lutarem contra a degradação grupo da população teve valor fundamental para o patri-
de suas representações coletivas e de suas condições arcalismo da sociedade sertaneja, não apenas econômi-
materiais de sobrevivência. Do mesmo modo que a vio- co, mas em termos de poder do senhores de fazenda. É o
que conclui Barbosa a respeito do valor simbólico de do- Os índios e seus descendentes, juntamente com os ne-
minação, representado pela posse de escravos, que eram gros, certamente, formaram a classe dos submissos dos
mais numerosos no sertão que no agreste e na marinha, pobres, "vagabundos", volantes sem terra e dos escravos,
segundo Capistrano de Abreu, citado por Barbosa tendo em vista que o preconceito de cor e de etnia junta-
(2000:72). Eurípedes Funes resgata toda uma experiência va-se ao preconceito social de classe.
social dos negros no Ceará e encontra em grupos étnicos
miscigenados (pretos, mulatos e pardos) marcas da sua Como os índios, a população negra foi violentada física e
sociabilidade, no mundo do trabalho, mas sobretudo na simbolicamente, bem como resistiu e procurou estraté-
cultura e nas lutas contra a discriminação e o preconceito gias de superação dessas condições. Uma delas seria a
(FUNES, 2000:104). mobilidade espacial, que muitas vezes engrossava as
correntes migratórias intraestaduais e inter-regionais, na
A imigração negra começou atraída pela a suposta exis- medida em que representava possibilidades de invisibili-
tência de terras desocupadas que poderiam ser aprovei- dade da sua condição de cativo e de refúgio. As constata-
tadas pela pecuária. Diz-se suposta porque conforme ções de Funes são ilustrativas a respeito:
visto, ao mesmo tempo em que se produzia a negação do
índio produzia-se também uma "fartura de terras", embora "Aproveitando-se da complexidade da região, os escravos
essas terras tenham sido tomadas a fogo e sangue de ao evadirem das propriedades de seus senhores tinham
seus nativos. Trabalhadores livres, escravos e prepostos como opção ir para os centros urbanos. Nesse sentido,
de proprietários de terras residentes em outras Capitani- havia uma grande mobilidade espacial praticada pelos
as, alguns negros se introduziram no espaço cearense na cativos em fuga, que procuravam passar por libertos, mis-
condição de vaqueiro outros como agregados das fazen- turando-se às camadas populares um tanto matizadas,
das. O fluxo maior de imigrantes aconteceu, entretanto, onde o mulato podia passar por um tapuia, por um curi-
durante os dois períodos de maior surto da lavoura algo- boca, por um cafuzo.[...] Francisco, mulato, 21 anos, fugiu
doeira: meados do século XVIII e meados do século XIX. de Cascavel e ‘presume-se que tenha procurado para o
Norte, ou tenha-se misturado com os imigrantes e embar-
Em junho de 1804, os dados populacionais indicavam um cado para o Pará ou Amazonas’, onde a possibilidade de
contigente total de 77.369 habitantes no Ceará, com pre- manter a invisibilidade de sua condição social era bem
dominância de pretos e pardos (61 %) sobre os brancos maior.[...]" (FUNES, 2000:126 E 127)
(39 %) e que na sua maioria (74%) viviam na condição de
livre (7). Cerca de 70 anos depois, em 1872, a população Verifica-se na citação anterior que os escravos juntavam-
residente no Ceará foi elevada em oito vezes o número de se às camadas populares, supõe-se que fizessem não
habitantes do início do século, chegara a 721.983 pesso- apenas para se manterem invisível, mas também por uma
as (8). Verifica-se nesse último ano a presença absoluta e questão de identidade e de proteção social. Os locais
relativa dos pardos (50 % do total da população), que so- escolhidos para refúgio de um número maior de evadidos
mados aos pretos e caboclos chegaram a 63%, perfazen- eram de preferência as serras, antigos aldeamentos indí-
do um contigente de 453.120 pessoas. Os brancos de- genas e de forma mais isoladas as periferias urbanas,
cresceram relativamente (37%), embora em termos abso- notadamente de Fortaleza. É o que dá para perceber de
lutos houvessem incrementado quase na mesma propor- outras passagens no artigo de Funes:
ção que da população total, pois passaram de 30.336
pessoas para 268.863. "No Ceará, há fortes indícios de quilombos na Serra do
Pereiro, onde se refugiavam os escravos do Ceará e das
Esses dados expressam a evolução da força de trabalho províncias vizinhas- Rio Grande do Norte, Paraíba, Per-
do homem livre pobre, que foi incrementada não só pela nambuco e mesmo da Bahia- e, ainda, na Serra Grande,
imigração, mas também pelo crescimento vegetativo. A para onde corriam os escravos cearenses e do Piauí e
população cativa africana declinou consideravelmente e Maranhão. Vários deles foram apreendidos no município
segundo Artur Ramos, citado por Eurípedes Funes, man- de Viçosa. Mesmo na periferia de Fortaleza são identifi-
teve-se nesse patamar de 4% da população até 1883/ cados vários lugares de ‘acoutamento’ de escravos fugi-
1884. dos como em Tauape e Parangaba"(FUNES, 2000:128 e
129).
Sobre os índios não há um registro sequer nas estatísti-
cas históricas, mesmo nas oficiais, tal como o censo. Com a libertação dos escravos aumentou a mobilidade
Será que todos foram miscigenados? Haveria possibilida- espacial, mas esta não veio acompanhada de mobilidade
des do cruzamento de índios com brancos ou apenas social, ao contrário reforçou o grupo social dos excluídos.
com pretos, formando os caboclos? Quantos deles ou dos Novamente, Funes oferece elementos para essa consta-
seus descendente mantiveram-se cativos? Silêncio abso- tação:
luto, repete-se mais uma vez a negação do povo nativo.
"[...]o processo abolicionista, não só no Ceará, permite ao 2,73%, mas a Comarca dos Inhamuns era cerca da metade
cativo recuperar a sua liberdade, ser homem livre; mas da população da Comarca de Icó, representando apenas
vem acompanhado de uma série de medidas controlado- 6,5% do total dos cearenses. Ou seja na ordem decrescen-
ras, que colocam esse indivíduo no seu (in)devido lugar, te de população situavam-se: Fortaleza com 7%; Lavras
fecha-lhe todas as possibilidades de ascensão social e da Mangabeira com 5,5%; Aracati e Crato com, respecti-
direitos à cidadania. É colocado à margem da sociedade, vamente, 4%; Sobral com 3,8% e Icó com 2,7%. (BRA-
reforçando o distanciamento social, político e econômico SIL;1997).
entre a população negra (morena) e branca (galega). Ter-
mos que nos fazem refletir sobre a construção de uma Se em todo o Estado há atualmente apenas dois núcleos
ideologia racista, que faz desaparecer do nosso processo de população indígena, os negros conseguiram delimitar
histórico outras etnias, negros e indígenas, e outras histó- território em pelo menos seis localidades, antigos lugares
rias"(FUNES, 2000:132). de concentração dessa população (Aquiraz, Tauá, Cariri,
Tururu) ou de refúgio (Serra Grande, Iracema), a partir das
A escassez das estatísticas limitam a análise da distri- informações divulgadas por Funes:
buição da população negra no território cearense. Durante
o século XIX, dispõe-se apenas de dois momentos: "[...] Temos hoje no Ceará vários núcleos de população
1804(9), 1813(10) com informações segundo grupos étni- negra nos centros urbanos, bem como comunidades ne-
cos e municípios. Esses dados são suficientes para se gras rurais, entre elas: Conceição dos Caetanos, em Turu-
perceber que os negros vieram concentrar mais popula- ru; Bastiões, em Iracema; Goiabeiras, em Aquiraz; Colibri,
ção nas antigas Vilas formadas a partir do aldeamento em Tauá;. Comunidades similares são encontradas nas
indígenas e aquelas de criadas com a finalidade de con- regiões do Cariri e da Serra Grande"(FUNES,2000:132).
trole social, enumeradas anteriormente, assim como a
força de trabalho livre e escrava foi mobilizada para áreas Migrações para Fortaleza acentuam periferização urbana
de expansão do capital agrícola investido no algodão e/ou e social
na pecuária.
A primeira reflexão a respeito das migrações que se dese-
Em 1804, constatava-se por exemplo: Crato (antiga vila ja fazer está posto no seguinte questionamento: Será que
indígena) concentrava 30% da população preta e parda essa população livre (branca, indígena e negra), mas ex-
dos 47.033 pessoas residentes no Ceará; Sobral e Icó cluída socialmente, sem terra, sem trabalho, sem proteção
(centros de produção pecuária e algodoeira) detinham social e com fome, via como solução o roubo e o saque,
15% e 11%, respectivamente; São João do Príncipe (antiga para realizar sua segurança alimentar, de reprodução
vila de controle social) com 11% dos pretos e pardos. Na simples? Ou a emigração para Fortaleza, que possui ou-
data seguinte, em 1813, aparecem como principais con- tras atividades que a da economia agrícola seria a alter-
centrações negras os municípios de Crato e Jardim, que nativa a considerar para uma mobilidade social? Ou am-
juntos correspondiam a 52% do total de 59.371 pretos e bas as decisões, em diferentes momentos e circunstanci-
mulatos; seguidos de Fortaleza (13%) e Aquiraz (10%), as podem serem tomadas?
condizendo com o depoimento de Funes a respeito da
mobilidade espacial da população negra para Capital. Das análises anteriores apreende-se que os determinan-
tes da migração são diversos. Entende-se que o fenôme-
Os dados de 1860 estão agrupados, mas através deles no da migração é eminentemente social e determinado
verifica-se um processo de crescimento populacional por condições históricas de processos e conflitos nas
acentuado para Fortaleza, inclusive de escravos, iniciando relações de poder. Questões de ordem estrutural são im-
um processo de disparidade da Capital em relação aos portantes, mas isoladamente não revelam a real dimen-
demais municípios cearenses. Fortaleza contava com são dos movimentos populacionais no espaço. Fatores
35.373 habitantes totais, representando 7% da população conjunturais e crises periódicas abalam uma relação so-
estadual, que era estimada em 504.419 pessoas. A Co- cial estabelecida em bases frágeis, sempre com prejuízo
marca de Fortaleza, incluindo Maranguape e Aquiraz, que das pessoas mais submissas, ou destituídas de poder,
se consistiam no embrião da RMF, possuía contingente mas ainda assim não revelam a dinâmica populacional no
populacional expressivo, de cerca de 64 mil habitantes ou espaço.
13% da população estadual. No município de Icó residiam
pouco mais de 13 mil pessoas, o equivalente a 2,7% do Explicitar, no momento os fatores determinantes da mi-
total e sua Comarca com 12,0% do total tinha quase o gração interna não é o objeto desse ensaio. Se houve a
mesmo porte da Comarca de Fortaleza, cujo destaque necessidade de reflexão a respeito foi apenas para exa-
estava no Município de Lavras da Mangabeira cujo per- minar a ordem qualitativa da migração para Fortaleza,
centual de população chegara a 5,51%. Tauá apresentava dado que em termos quantitativos é possível a mensura-
contingente populacional pouco maior do que Icó com ção a partir da década de 40 do século XX.
As estatísticas mostram uma crescente concentração de migrante foi responsável por 90% do incremento popula-
população nesta cidade, decorrente da migração da popu- cional de Fortaleza entre 1960/70.
lação interiorana, como se verá a seguir. É preciso consi-
derar entretanto, a participação da mobilidade espacial de Mas o que é interessante ressaltar é a qualidade dessa
grupos da população pobre na formação das periferias migração do interior para a Capital, pois incrementava a
urbanas, tal como concluiu Funes a respeito dos negros: distribuição da população pobre, que se aglomerava nos
espaços juntos com os naturais diante das limitadas pos-
"[...] No Ceará, em particular na cidade de Fortaleza, há um sibilidades de sobrevivência, ocupando-se precariamente,
aumento considerável daqueles indivíduos sujeitos à quanto a remuneração e a proteção social, caso comum
condição de agregados e empregados domésticos. É o das empregadas domésticas e das professoras primárias,
momento em que o negro vê legitimar sua exclusão soci- que representavam 55% da PEA.
al. Consegue a condição de livre; mas lhe é negado o di-
reito à cidadania. Excluído vai se aquilombando nas peri- A periferização da cidade na forma de núcleos de favelas
ferias, nas favelas, nas frentes de expansão, enclausuran- é a mais contundente prova de que a «bela e moderna
do-se no seu mundo rural, constituindo sua identidade a capital» não era suficiente para todos, ou não possuía
partir de sua historicidade.[...]"(FUNES,2000:132). condições de abrigar tantos cearenses. Datam de 1930-
1955 os principais núcleos de favelas que ainda hoje têm
Nas primeiras duas décadas do século XX, o processo de expressão ou reminiscência: Cercado do Zé Padre (1930);
crescimento populacional de Fortaleza torna-se bastante Pirambu (1932); Mucuripe (1933); Lagamar (1933); Morro
visível no contexto estadual, cujo incremento populacio- do Ouro (1940); Praça da Graviola (1940); Varjota (1945),
nal foi de cerca de 63%, passando de 48,4 mil habitantes Meireles (1950); Papoquinho (1950); Campo do América
em 1900, para 78,5mil em 1920. A migração desse perío- (1952); Estrada de Ferro (1954). Chama atenção ainda,
do não chegou a ser registrada, mas nos anos seguintes que de uma amostra de 1.000 habitantes residentes em
(entre 1920/40) teve forte impacto no crescimento popu- favelas de Fortaleza, nos anos 60, constatou-se a incidên-
lacional de Fortaleza, haja vista o incremento de 101,7mil cia de 827 migrantes, um índice de 82,7%. (SILVA 1997: 29
pessoas, sendo 55% (56,2 mil pessoas) decorrente da e IJPNS: 1967).
migração.
A migração registrada por pesquisa em 1961 foi predomi-
Em 1940, a população migrante correspondia a metade da nante de mulheres (61%), que procederam, principalmen-
população economicamente ativa- PEA em Fortaleza, te, das regiões litorâneas e serranas (Paracuru, Urubure-
estimada em 112,5 mil. A cidade passou a ter uma popu- tama Ibiapaba, Baturité). Portanto de áreas supostamente
lação total de 180 mil habitantes, um contigente bastante menos vulneráveis às secas pelas disponibilidades pluvi-
expressivo, comparável com a contagem populacional ométricas e hídricas. Entretanto, também eram áreas
feita em 1996 para Juazeiro do Norte, cidade interiorana originariamente de refúgio, aldeamento e formação de
de maior expressão populacional no interior, cuja popula- Vilas indígenas. O que leva a supor, a existência e prolife-
ção foi registrada em torno de 189 mil pessoas (IJPNS: ração de pobreza, sem condições de reprodução simples
1967 e IPLANCE:2000). da população enquanto força de trabalho. Quase metade
desses migrantes (36%) passou por outras localidades
Na década seguinte, em 1950, vê-se reduzir o fluxo migra- antes de chegar à Capital, 52% foram provenientes de
tório para Fortaleza, que foi politicamente desviado pela outras cidades interiorana. A maior parte dos migrantes
migração inter-regional. Os migrantes fizeram parte de (45%) chegou a Fortaleza nos anos 50, residindo menos
17% da população total residente, sobretudo corresponde- de 10 anos na Capital, contudo foi expressivo o contin-
ram a metade do incremento populacional do período gente de migrantes que continuaram residindo em Forta-
1940/50 e um quarto da PEA de 1950. Em 1960 e 1970, leza, desde os anos 40 com cerca de vinte anos (23%),
percebe-se o aprofundamento das disparidades intraes- mesmo aqueles que chegaram nos anos 30 (14%) (IJPNS:
tadual. 1967).
Fortaleza concentrava cerca de 15% da população do A subdivisão de dois fluxos de migração (campo-cidade e
estado evoluiu para 20%. Em relação à população urbana, cidade-cidade) leva a inferir sobre a fragilidade dos de-
a concentração na Capital evoluiu de 53 para 60%. Nota- mais núcleos urbanos do Ceará, relativamente à Capital.
se que o crescimento populacional de Fortaleza perma- Percebe-se que os pequenos núcleos urbanos, chamados
nece expressivo pela continuidade do processo migrató- de cidade por força política-administrativa, não conse-
rio. O total de migrantes na população de Fortaleza que guiam absorver a população proveniente do campo, que
estava representado em 32%, em 1960, incrementou para consequentemente migrava diretamente para a Capital.
36%, em 1970, com o agravante de que essa população Reforça a inferência a respeito da mobilidade espacial
dos pobres e da provável junção à mesma classe social,
quando os pesquisadores indagaram aos migrantes sobre dos quando provenientes do próprio Estado em Salvador (
as dificuldades para exercerem uma atividade ocupacio- 20%) e sobretudo em Fortaleza (39%).
nal e para se instalarem em termos de moradia em Forta-
leza nota-se que os migrantes foram amparados inicial- Conclui-se também que os diferenciais intraestaduais e
mente por parentes e amigos, numa rede de solidariedade interregionais posicionam Fortaleza numa situação inferi-
e apenas 37% tiveram certa dificuldade de ocupação e orizada que remete à sua expansão capitalista, conside-
21% de instalação(IJPNS: 1967). rando a relação entre migração e mobilidade do capital,
tal qual concluem os pesquisadores:
Percebe-se, por outro lado, que os primeiros assentamen-
tos na Capital não eram satisfatórios, pois a mobilidade "...observa-se que o tamanho e a distribuição da popula-
espacial neste período fazia parte da vida de número sig- ção sobre o espaço refletem, em grande parte, a evolução
nificativo de migrantes e naturais. A vontade de mudar-se da organização econômica e, portanto, que as realoca-
estava claramente explicitada no desejo de 3% dos mi- ções espacial e setorial das atividades econômicas são
grantes e nativos. Por sua vez, apenas 31% dos migrantes os principais determinantes da direção, intensidade e
e 24% dos naturais residiram em único bairro de Fortale- características das migrações internas. Nesta perspecti-
za. A grande maioria havia residido em pelo menos dois va, as migrações não podem ser avaliadas simplesmente
bairros (33% dos migrantes e 28% dos naturais), assim em termos de sua suposta deterioração do meio social
como eram expressivos os índices dos que residiram em nos lugares de destino senão, organicamente, em termos
três (21% dos migrantes e 32% dos naturais) e quatro de todo o processo de deslocamento populacional. Assim
bairros (migrantes 10% e naturais 8%)(IJPNS: 1967). os movimentos migratórios são estruturalmente molda-
dos pelo processo de acumulação de capital que penetra
Finalmente, e ainda conforme Souza, a população favela- e se reproduz em espaços diferenciados de forma desi-
da em Fortaleza expandiu consideravelmente, sendo gual." ( MARTINE e PELIANO, 1978: 5-6)
constituída essencialmente de pessoas pobres e migran-
tes. As informações da SUDEC utilizadas pela pesquisa- Reflexões sobre a Metrópole e Metropolização de Fortale-
dora para 1970, indicavam uma população de 223mil pes- za
soas em 73 vilas marginais, distribuídas em todas as zo-
nas da cidade, mas se concentrando no litoral e ao sul de Em 1970, Fortaleza não se comparava economicamente a
Fortaleza. Comparando com as informações pesquisadas metrópoles nacionais, porém ela se mostrava em patamar
pelo IJPNS, em 1967, nota-se uma triplicação da popula- médio da realidade regional e no nível local e microrregio-
ção favelada, que na época era estimada em 59.300 pes- nal colocava-se em patamar superior acima de vários
soas, distribuídas em 16 núcleos de favelas (SOUZA, outras cidades e núcleos urbanos.
1978:88-89).
De acordo com estudos do IBGE, citados por Souza, Forta-
O estudo de Martine e Peliano, em 1970, sobre migrações leza teria, em 1972, uma área de influência relativa a ou-
em regiões metropolitanas, sugere que havia intensa mo- tros 52 centros regionais, perfazendo um raio de ação de
bilidade desses migrantes nas Regiões Metropolitanas e 400 mil quilômetros quadrados de área e uma cobertura
calcularam a taxa de retenção dos migrantes que se mos- populacional para quase 7 milhões de pessoas residentes
travam mais seletivos, mais qualificados para permanece- no Ceará, Maranhão e Piauí. (SOUZA, 1978:74)
rem em cada uma delas. No comparativo entre Salvador e
Fortaleza vamos encontrar nuanças que sugerem melhor Em termos urbanos do Estado, Souza se refere a um outro
retenção e, portanto, maior seletividade de homens mi- estudo de sua autoria, no qual identifica uma rede de cen-
grantes em Fortaleza e de mulheres em Salvador. tros regionais composta de: três centros de abrangência
regional (Sobral, Crato-Juazeiro, Iguatu); dezoito centros
Um diferencial em termos de renda também vai ocorrer secundários; e trinta e cinco centros locais, que juntos
entre o tipo de migração: inter-regional, interestadual e perfaziam, em 1970, uma população de 1.460hab., ou
intraestadual. Constata-se que a estrutura de mercado de 32,5% da população estadual. (SOUZA, 1978:74)
trabalho do sudeste, por exemplo é bem mais diferencia-
da e possibilita melhores vantagens para os migrantes As relações mantidas por Fortaleza no espaço interno e
interregionais que o mercado de trabalho nordestino. externo ao território cearense remetem para uma subordi-
Apenas para referendar essas conclusões, apresenta-se o nação: da Capital em relação aos grandes centros nacio-
percentual de migrantes interregionais em São Paulo com nais, ou ao contrário das pequenas localidades em rela-
menos de um salário mínimo (9%) quando em Salvador o ção a Fortaleza. Deste modo, a inter-relação que caracte-
migrante proveniente de outro Estado neste grupo de rizaria melhor uma metrópole parece ser a principal carac-
renda chegava a 14% e em Fortaleza a 30%, havendo uma terística que Fortaleza ainda não apresentava nesses
concentração maior de migrantes baixamente remunera- inícios dos anos 70, quando foi institucionalizada como
metrópole. Mas não apenas esta característica faltava classes bastante visível entre o leste (rico e dominante) e
para cidade vir a ser uma metrópole conforme se pode o oeste (pobre e subordinado).
apreender das considerações teóricas a seguir.
Por outro lado, as considerações relativas a uma urbani-
Na perspectiva da diversificação funcional poder-se-ia zação sem industrialização definidas por Lefebvre tam-
argumentar a favor da metrópole de Fortaleza caso as bém parecem aplicar-se a realidade de Fortaleza do início
relações fossem vistas de dentro para fora, das microrre- dos anos 70, embora já exista uma tendência daquilo que
giões interioranas com os Estados vizinhos mais pobres. ele chamou de implosão-explosão, de uma sociedade
Quanto ao papel de produtora de inovações não há o que urbana que perpassa pelo tecido urbano para o campo,
salientar positivamente, salvo na difusão dessas inova- embora muito a princípio. De modo que, sem dispor para o
ções e na medida em que as mesmas foram repassadas momento de elementos suficientes para concluir sobre a
por centros produtores do sudeste do país. metropolização, pode-se atestar, sem sombra de dúvida
que Fortaleza estava em pleno processo de constituição
Sem dispor de muitos elementos quanto à metropoliza- de uma Metrópole.
ção, pode-se escusar de aplicar o termo cidade para as
demais sedes municipais do entorno de Fortaleza, na A respeito da migração nesse processo tem-se a consta-
medida em que não figuraram historicamente como cida- tar que, a migração avoluma a expansão urbana e social
des nem como centros urbanizados, salvo pela localiza- para periferia e conduz a aglomeração urbana em favelas.
ção de grandes conjuntos habitacionais entre Caucaia e Percebe-se que os pobres apresentam uma alta mobilida-
Fortaleza, bem como do eixo ferroviário Fortaleza- de espacial para além da mobilidade do trabalho, por sua
Maracanaú, que determinou localização industrial e uma condição de excluído social e politicamente. Os desloca-
aproximação populacional, mas com bastantes vazios em mentos não são tão espontâneos como aparecem nas
cada um dos casos. De qualquer modo, não se trata de explicações neoclássicas, nem só determinados por atra-
uma inter-relação, mas uma espécie de "invasão". ção do mercado de trabalho, conforme estruturalistas,
mas tem um componente de violência que restringe a
Desse modo, pode-se concordar com Amora, quando con- manutenção de um território, lugar de conflito e de exercí-
clui que, no momento da institucionalização da RMF em cio de poder.
1973, "Fortaleza não se enquadrava rigorosamente na
definição de metrópole, nem se constituía uma área me-
tropolitana no sentido genérico desse conceito." Salvo, se
naquele momento histórico, o interesse político houvesse
priorizado diferentes categorias de metrópoles, pois "os
efeitos diferenciados da modernização geraria também
metrópoles diferenciadas até mesmo dentro de um mes-
mo país. Daí a construção do conceito de metrópoles
incompletas e de metrópoles completas" (AMORA,1999:
35).
Última testemunha:
O povo em fúria: a revolta urbana de 1925 em Fortaleza. A população de nossa capital, em 1960 era de pouco mais
de 500.000 habitantes, atingindo hoje cerca de 2.300.000
Em 1925, a população trabalhadora de Fortaleza se revol- habitantes; enquanto o Estado do Ceará nesse período,
tou contra as medidas postas em prática pela companhia apenas duplicou sua população, Fortaleza quadruplicou,
inglesa Light and Power, que explorava o serviço de passando a concentrar 30% da população total do Estado.
transporte público por bondes e produção de energia elé- Segundo dados oficiais, Fortaleza tem, hoje, um déficit
trica. Essas medidas envolviam a elevação das tarifas e habitacional da ordem de 160.000 unidades. Cerca de
mudanças no sistema de transporte (veículos de primeira 31% da população de Fortaleza, vivem em favelas. O nú-
e segunda classe e alteração nos horários). O protesto mero dessas áreas é hoje superior a 600, abrigando cerca
popular durou vários dias, alterando o cotidiano urbano. O de 700.000 pessoas. As áreas de risco já somam 92, abri-
presente artigo analisa os sujeitos envolvidos na revolta e gando cerca de 17.000 famílias.
as conexões desse episódio com o processo de amplia-
ção – populacional e espacial – do ambiente urbano, de- A cada dia o problema do desequilíbrio demográfico se
ficiência dos serviços públicos, aumento do custo de vida agrava, prejudicando, particularmente Fortaleza, que re-
que atingia a classe trabalhadora e sua luta pelo direito a cebe, diariamente, em torno de 46 famílias. A concentra-
cidade. ção populacional que se registra em Fortaleza, em relação
ao restante do Estado ressalta quando se constata que a
A Favelização de Fortaleza: segunda maior cidade do Estado, em tamanho de popula-
ção não chega a 10% da população de nossa cidade.
No período anterior a 1980 tínhamos algumas favelas,
talvez não chegando a duas dezenas, em sua quase tota- Ao longo dos últimos 20 anos, a partir de 1984, ocorreu
lidade não localizadas nas chamadas áreas de risco. O acentuada explosão dos aglomerados urbanos subnor-
Lagamar era, praticamente, a mais significativa área sujei- mais (favelas) em Fortaleza, em muito decorrente da crise
ta a inundações. As demais nem de longe apresentavam geral na economia do Estado, no início desse período.
Por outro lado, não se pode deixar de reconhecer a exis-
tência de uma certa permissividade em relação à ocupa-
ção dessas áreas quando se verifica que, em menos de
duas décadas, essas ocorrências foram multiplicadas por
mais de 30 vezes. Registre-se, ainda que com o advento
Se na "Belle Époque", entre 1860 e 1930, os europeus ins-
do processo eletivo direto, nas capitais, as elites políticas
piraram profundas mudanças no cotidiano, cultura e cos-
estaduais e municipais não conseguiram, e isso é realida-
tumes da população de Fortaleza, nos anos 1940 e 1950,
de até os dias atuais, estabelecer um padrão de convivên-
os norte-americanos tiveram forte influência nas trans-
cia administrativa saudável que assegurasse consistên-
formações ocorridas na Capital. Eram tempos de guerra e
cia e adequabilidade aos processos de decisão sobre
pós-guerra. No Brasil, a Era Getúlio Vargas ditava os ru-
projetos e sobre alocação de recursos para esses proje-
mos do País entre 1930 e 1945, na Velha República, e
tos.
depois, de1951 seguindo até 1954, com a sua morte. Os
O contexto político atual, de mudança de administração acontecimentos do período impactaram a vida dos brasi-
municipal propicia maior reflexão sobre a cidade. No nos- leiros e, em particular, a dos fortalezenses.
so entendimento o enfrentamento do problema deve ser
Sobre esse período da História do Brasil, o jornalista, his-
encarado em duas vertentes.
toriador e escritor Lira Neto, autor da biografia do ex-
Reforço das políticas públicas estaduais para fortaleci- presidente Getúlio Vargas, explica as contradições e os
mento das redes de infra-estrutura, da rede de equipa- pontos obscuros em volta do líder brasileiro, considerado
mentos de suporte humano - educação, saúde, assistên- um mito. Em "Getúlio", no terceiro e último volume da
cia social, lazer - e da rede de atividades econômicas das obra, Lira reconstitui os acontecimentos políticos e pes-
cidades de porte médio, assegurando a elas atratividade soais mais importantes dos anos finais do ex-presidente.
mínima capaz de reter significativamente fluxos migrató- O lançamento ocorreu na noite da última sexta-feira, no
rios oriundo de áreas rurais que hoje terminam na RMF; 2. teatro Nadir Papi Saboia, na Faculdade Farias Brito.
Processo de desobstrução das áreas de risco, através da
Acontecimentos
remoção das populações nelas residentes, observando
rigidamente os seguintes critérios: a - preservação das Um dos períodos de maior relevância da história do Brasil
relações sociais e de trabalho existentes, o que determina também mexeu com a população cearense. Um dos mo-
a relocação nas proximidades dos assentamentos exis- vimentos mais marcantes e que pode ser comparado às
tentes, e junto a eixos de transporte de qualidade, e aos manifestações do ano passado foi o Dia do Quebra-
equipamentos de suporte humano; b - Assentamentos quebra. Quando, em 18 de agosto de 1942, em represália
apoiados em concepção urbanística e arquitetônica de ao afundamento de navios brasileiros por submarinos
qualidade, visando minimizar, para o Poder Público, os alemães e italianos, estudantes e população em geral
custos com terreno e infra-estrutura. saíram às ruas.
Infelizmente tais critérios não vêm sendo observados. "Os manifestantes quebraram, incendiaram e depredaram
Reconhecemos que gerir o crescimento urbano harmoni- todos os estabelecimentos de alemães, japoneses e itali-
zando interesses conflitantes é uma arte que requer, aci- anos e exigiram que o Brasil entrasse em guerra, o que
ma de tudo, disposição para parcerias, perseverança e ocorreu depois que Getúlio percebeu que os aliados esta-
elevado espírito público. Conflitos ideológicos-adminis- vam levando vantagem", conta o jornalista e historiador
trativos não podem e não devem se sobrepor à melhor Miguel Ângelo de Azevedo, conhecido como Nirez.
solução para os problemas urbanos, que dizem respeito a
todos os cidadãos. A Segunda Guerra Mundial deixou vestígios em Fortaleza
e coincidiu com uma série de transformações por que a
Recuso-me, a acreditar que as soluções definitivas não cidade passava nos anos 1940.
estão disponíveis. Estão sim, mas passam pela otimiza-
ção do uso dos recursos públicos, pela ação permanente, A dinamização do conhecimento tecnológico, as mudan-
mas embutida de uma visão planejada de futuro, e pela ças no ordenamento urbano, o crescimento populacional
abertura para parcerias com agentes públicos e privados. e os costumes são algumas alterações elencadas pelo
professor e historiador Eustáquio Alvarenga Júnior.
Segundo ele, outro reflexo se deu nos colégios católicos Havia, inclusive aqui, iniciativa pública para recolher pe-
que, em vez de priorizar o francês como segunda língua, ças que formavam as chamadas Pirâmides de Metal que,
optaram pelo inglês. O aposentado João Pereira, de 75 fundidas, serviriam de base para a fabricação de arma-
anos, lembra que falar o idioma dos americanos dava mentos. Fora isso, muitos trabalhadores faziam hora ex-
status aos mais jovens. "A gente tinha mais "pose" com tra sem nenhuma remuneração. Ao mesmo tempo, Forta-
as garotas falando pelo menos alguma coisa em inglês", leza se deparava com a chegada dos soldados norte-
rememora. americanos. Os pesquisadores Estimam que, entre 1943 e
1946, um total de 50 mil americanos tenham passado por
Com efeito, analisa a socióloga Maria Selma Pereira, esse aqui.
período, momento iniciante do mundo contemporâneo, é
marcado por um intenso fluxo de mudanças que não só Ligação do Getúlio com o Ceará era muito forte
produziu transformações de ordem urbana, política e eco-
Na trajetória do Vargas, ele esteve algumas vezes no Cea-
nômica, como também afetou profundamente o cotidiano
rá. Qual a relação dele com o Estado?
e a subjetividade das pessoas, alterando comportamen-
tos e condutas, modos de perceber e de sentir. "Essa Ele tinha no Ceará fortes parceiros políticos, como ex-
também é constatada influência está na moda, na gastro- líderes do PTB e do PSD. Em duas ocasiões marcantes,
nomia, na arquitetura que ainda hoje podemos observar quando era presidente em 1940 e quando foi candidato
na nossa cultura". em 1950, ele esteve em Fortaleza. A população o recebeu
com euforia. Quando ele fechou acordo com os Estados
Patrimônio
Unidos para a cessão de bases militares, Fortaleza foi
Essas transformações não estão só nos costumes ou escolhidas como uma delas, por sua posição estratégica
tradições, salienta Nirez, elas vieram com a dança, como para os aliados.
o Charleston, o Lindy hop, o Ragtime, o Blues e o Fox ou
Sobre a decisão da entrada do Brasil na 2ª Guerra Mundi-
com a música com o blues e o jazz, como também no
al, Vargas titubeou e foi forçado a se decidir. Como anali-
patrimônio ainda observado na cidade, como por exemplo
sa o fato?
as edificações do Excelsius Hotel, do Museu do Ceará, do
Palácio do Comércio, dos Correios, do Edifício Diogo. Naquele momento, a Alemanha era um grande parceiro
econômico do Brasil. A gente comprava maquinário e
Segundo ele, há outros traços históricos menos contro-
vendia grãos, matéria-prima e até armas. Quando se dá o
versos. Um deles está no Cemitério São João Batista,
bloqueio marítimo pelos ingleses e a guerra começa a
onde ainda se observam espaços reservados para jazigos
virar, com os aliados obtendo grandes vitórias, o Getúlio
de judeus mortos durante a guerra. Nos túmulos, estrelas
analisa que está na hora de reavaliar a situação. Com seu
pragmatismo, ele tenta obter os benefícios dessa nova
situação e o Brasil, por ter uma posição geográfica muito
cobiçada, passa a barganhar com os aliados para receber
condições para implantar a Usina Siderúrgica de Volta
Redonda, impulsionado a industrialização do País.
“Indústria da seca” é um termo utilizado para designar a
Para muitos, Getúlio representou um avanço para o seu estratégia de alguns políticos que aproveitam a tragédia
tempo, modernizando o País, principalmente na questão da seca na região nordeste do Brasil para ganho próprio.
dos direitos trabalhistas e da indústria. Para outros, usava O termo começou a ser usado na década de 60 por Antô-
o marketing político como ninguém. Afinal, o que ele re- nio Callado que já denunciava no Correio da Manhã os
presentou para o Brasil? problemas da região do semi-árido brasileiro.
É preciso compreender Getúlio em todas as suas dimen- Os problemas sociais no chamado “polígono da seca” são
sões. Ele foi uma figura controvérsia. Não só modernizou bastante conhecidos por todos, mas nem todos sabem
o País com leis trabalhistas como foi o criador de várias que não precisava ser assim. A seca em si, não é o pro-
empresas como a Petrobras, Eletrobras, o BNDES e o blema. Países como EUA que cultivam áreas imensas e
Banco do Nordeste. Por outro, principalmente no período com sucesso em regiões como a Califórnia, onde chove
de 1937 a 1945, governou com mão-de-ferro, perseguiu sete vezes menos do que no polígono da seca, e Israel,
adversários, censurou a imprensa. É preciso analisá-lo que consegue manter um nível de vida razoável em um
não só com devoção, mas também não apenas com ne- deserto, são provas disso.
gação.
A seca é um fenômeno natural periódico que pode ser
contornada com o monitoramento do regime de chuvas,
implantação de técnicas próprias para regiões com es-
cassez hídrica ou projetos de irrigação e açudes, além de
outras alternativas. Estes últimos, porém, são frequente-
mente utilizados para encobrir desvios de verbas em pro-
jetos superfaturados ou em troca de favores políticos.
to de fazer perdurar o modelo de poder vigente. O objetivo deste artigo é analisar as políticas culturais
implementadas pelo governo do Ceará nos anos 90, época
de atuação do grupo político auto-denominado de “gera-
ção das mudanças” que propõe “modernizar” o Estado. A
“modernização” da cultura assume sua face mais elabo-
rada na busca de implantação de uma indústria cultural,
tendo como carrochefe um pólo audiovisual. As discus-
sões situam-se em um campo de questões que envolve o
papel econômico da cultura em seu processo mundial de
mercantilização. O que possibilita transcender uma pos-
sível qualificação do trabalho como “estudo regional”. Até
porque fica cada vez mais difícil operar, especialmente na
produção cultural, com as dicotomias universal/regional,
centro/periferia em tempos de intensificação da globali-
zação através das novas tecnologias de comunicação.
Entre as praças e logradouros, as mais importantes, pa- A Praia do Futuro é outro famoso ponto da orla de Forta-
trimônio não só paisagístico mas também cultural, são a leza, com uma longa extensão ocupada por robusta estru-
Praça do Ferreira, considerada o "coração" da cidade, e a tura turística, sobretudo barracas de praia e restaurantes
Praça dos Mártires, ambas palco das manifestações so- especializados em frutos do mar, considerada uma das
ciais históricas e movimentos intelectuais, esta última cinco praias mais movimentadas do Brasil. Já o Parque
dotada de dezenas de árvores centenárias, entre baobás, Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, cerca de 10
oiticicas e timboúvas. milhas náuticas, ou 50 minutos, distante do Porto do Mu-
curipe, é reconhecido como um dos melhores lugares do
A Praça dos Leões construída em 1887, é outro logradou-
país para a prática do mergulho.
ro histórico, e abriga em seus limites, além das estátuas
de leões a partir das quais seu nome foi cunhado, o Palá-
CLIMA era a de pessoas entre 45 a 59 anos, sendo 430 373
(24,040%) aptas a votar.
Fortaleza possui clima tropical semiúmido (tipo As, se-
gundo a classificação climática de Köppen-Geiger), com Em 2010, a população era composta por 1 403 292 pardos
temperatura média compensada anual em torno dos 27 (57,23%), 901 816 brancos (36,78%), 110 811 negros
°C. Sem ter exatamente definidas as estações do ano, há (4,52%), 33 161 amarelos (1,35%) e 3 071 indígenas
a estação das chuvas, de janeiro a junho (verão e outono) (0,13%). Do montante populacional do município, 2 291
e a estação seca, de agosto a dezembro (inverno e prima- 687 pessoas (93,45%) eram naturais do Ceará e, desse
vera), sendo julho um mês de transição entre as duas total, 1 715 123 (69,94%) nasceram em Fortaleza.
estações. O índice pluviométrico anual é superior a 1 600
Considerando-se a região de nascimento, os habitantes
milímetros (mm), concentrados entre fevereiro e maio,
vindos da região Nordeste do país foram estimados em 2
sendo o pico observado em março e abril.
374 029 (96,81%), 37 700 (1,54%) eram oriundos da região
Sua localização, entre serras próximas, faz com que as Sudeste, 17 257 (0,70%), da região Norte, 5 716 (0,23%), da
chuvas de outono ocorram com mais frequência na cida- região Sul e 6 404 (0,26%), da região Centro-Oeste.
de e entorno do que no resto do estado.
Entre os naturais de outras unidades da federação, Piauí
Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia era o estado com maior presença, com 21 384 pessoas
(INMET), desde 1931 a menor temperatura registrada em (0,88%), seguido por São Paulo, com 21 384 residentes
Fortaleza foi de 17,7 °C 17 de agosto de 1935, enquanto a (0,87%), e pelo Maranhão, com 16 532 habitantes residen-
maior atingiu 35,2 °C nos dias 11 de janeiro de 1935, 25 de tes no município (0,67%).
dezembro de 1937 e 28 de fevereiro de 1938.[59] O maior
O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M)
acumulado de precipitação em 24 horas chegou a 225,8
de Fortaleza é considerado alto pelo Programa das Na-
mm em 6 de maio de 1949. Acumulados iguais ou superi-
ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com valor
ores a 150 mm também foram observados em 1° de maio
de 0,754, composto pelos fatores renda (0,749), longevi-
de 1974 (198 mm), 26 de abril de 1970 (196,1 mm), 29 de
dade (0,824) e educação (0,695). A cidade possui todos os
janeiro de 2004 (180,6 mm), 30 de abril de 1963 (170 ,7
indicadores acima da média nacional segundo o PNUD.
mm) e 7 de março de 2004 (162,5 mm). Desde 1961, o
mês de maior precipitação foi abril de 2001, com 758,5 Em 2010, 86,2% da população vivia acima da linha de po-
mm acumulados. breza, 8,6% encontrava-se na linha da pobreza e 5,2% es-
tava abaixo[71] Já o coeficiente de Gini, que mede a desi-
DEMOGRAFIA gualdade social, era de 0,627, sendo 1,00 é o pior número
e 0,00 é o melhor.
No censo de 2010 do IBGE, Fortaleza era composta por 2
452 185 habitantes, fazendo do município o mais populo- A participação dos 20% da população mais rica da cidade
so do estado do Ceará e o segundo entre as regiões Norte no rendimento total municipal era de 66,6%, ou seja, 23,5
e Nordeste do país. O município detém, ainda, a maior vezes superior à dos 20% mais pobres, que era de 2,8%.
densidade demográfica do Brasil, com 7 786,4 hab/km².
De acordo com o mesmo censo, 1 304 267 habitantes REGIÃO METROPOLITANA DE FORTALEZA
eram mulheres, equivalendo a 53,19% da população, e 1
147 918, homens, representando 46,81% do total. Todos A Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) foi criada no
viviam em zona urbana e não existia zona rural no muni- dia 8 de junho de 1973. Naquele ano, era o sétimo maior
cípio. Da população total naquele ano, 554 737 habitantes aglomerado urbano do Brasil, com 1 070 114 habitantes
(22,62%) tinham menos que 15 anos, 1 736 138 habitan- recenseados em 1970. Nos censos de 1980, 1991 e 2000,
tes (70,80%) tinham de 15 a 64 anos e 161 310 pessoas permaneceu na mesma posição.
(6,58%) possuíam mais de 65.
No censo de 2010, atingiu o total de 3 615 767 habitantes.
Já a esperança de vida ao nascer era de 74,4 anos e a Em 2014, era a oitava maior região metropolitana do país,
taxa de fecundidade total por mulher era de 1,6. Em 2015, e terceira entre as regiões Norte e Nordeste, abrigando 3
foram estimados 2 591 188 habitantes. Fortaleza possui 818 380 pessoas. É, ainda, tida como o 128ª maior aglo-
uma área de influência regional que forma a terceira mai- merado urbano do mundo.
or rede urbana do Brasil, com população de 20 573 035
em 2008. É constituída por dezenove municípios: Aquiraz, Cascavel,
Caucaia, Chorozinho, Eusébio, Fortaleza, Guaiúba, Hori-
De acordo com dados fornecidos pelo site do TSE, em zonte, Itaitinga, Maracanaú, Maranguape, Pacajus, Paca-
março de 2019, 324 803 (18,15%) habitantes tinha idade tuba, Paracuru, Paraipaba, Pindoretama, São Gonçalo do
acima de 60 anos, enquanto a maior faixa demográfica Amarante, São Luís do Curu e Trairi.
IMIGRANTES Em 2014, cerca de 16% da população de Fortaleza morava
em favelas. As frequentes secas e o decorrente êxodo
Vista parcial da Zona Sul de Fortaleza, com destaque para rural do interior do estado do Ceará agravam o problema
o bairro Cambeba da favelização. No início da década de 1980, existiam 147
áreas do tipo na cidade e, em 2014, esse número evoluiu
No começo do século XX, houve um momento marcante para 509. A capital é a principal contribuinte do total de
de imigração estrangeira na cidade, com destaque para 533 favelas existentes no estado, que está na sétima co-
os portugueses. Várias famílias de origem sírio-libanesa locação nacional nesse índice.
também constituíram forte comunidade em Fortaleza
nessa época, além de espanhóis, italianos, ingleses, fran- O controle de defesa civil municipal tem priorizado o le-
ceses. vantamento de inteligência acerca das chamadas "áreas
de risco", que são locais propensos a sofrerem alagamen-
Durante a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi movimen- tos, inundações e outras situações críticas. Em 2015,
tada com a presença de militares americanos, chegando a existiam em Fortaleza 89 áreas nessa categoria.
receber um consulado desse país.
RELIGIÃO
De acordo com estudo de 2011, pardos e brancos de For-
taleza, que constituem a maior parte da população, apre- Mesmo tendo surgido a partir de ocupação protestante
sentaram ancestralidade predominante europeia (maior holandesa e sido estabelecida como vila em função de
que 70%) e menor contribuição africana e indígena. uma fortificação e não de uma missão religiosa, o Catoli-
cismo mostrou-se dominante em Fortaleza desde o início
De acordo com um estudo genético de 2015, a população
de sua história.
de Fortaleza tem a seguinte composição genética: 48,9%
de contribuição europeia, 35,4% de contribuição indígena Segundo censo de 2010, 1 664 521 pessoas, 67,88% da
e 15,7% de contribuição africana. população fortalezense, seguiam o Catolicismo Apostóli-
co Romano, 523 456 (21,35%) eram adeptas do protestan-
Motivados pelo turismo de lazer, grupos de portugueses,
tismo, 31 691 (1,29%) representavam o Espiritismo e 162
italianos, espanhóis e de vários outros países da Europa
985 (6,65%) não possuíam religião alguma.
têm migrado para Fortaleza. No censo do ano 2000, no
Ceará existiam 2 562 residentes nascidos em outros paí- Demais religiões, como Umbanda, Candomblé, outras
ses. afro-brasileiras, Espiritualismo, Judaísmo, Hinduísmo,
Budismo, Islamismo, outras orientais, Esoterismo e outras
De acordo com a Delegacia de Imigração da Polícia Fede-
igrejas cristãs como a Mórmon possuíam menor repre-
ral em Fortaleza, em 2013, existiam cerca de 15 014 es-
sentatividade.
trangeiros morando na cidade, denotando a constante de
crescimento do índice ao longo da década de 2000. Além A população de católicos em Fortaleza era maior que a do
disso, um levantamento, feito em 2017, pelo Cônsul Geral índice brasileiro e a de irreligiosos, menor, embora com
dos Estados Unidos para o Nordeste revelou que Fortale- percentual maior que todas as outras religiões não cristãs
za é a cidade da região que concentra o maior número de somadas.
norte-americanos, entre visitantes e moradores.
A Arquidiocese de Fortaleza, Sé Metropolitana da respec-
FAVELAS E ÁREAS DE RISCO tiva Província Eclesiástica, pertence ao Conselho Episco-
pal Região Nordeste da Conferência Nacional dos Bispos
Embora tenha diminuído ao longo dos anos 2000, a desi- do Brasil (CNBB) e tem como arcebispo Dom José Antô-
gualdade de renda continua marcante em Fortaleza, com nio Aparecido Tosi Marques. Foi criada em 1853, por de-
um coeficiente de Gini de 0,61. Em 2010, os 20% mais creto de Dom Pedro II, e oficializada enquanto diocese por
pobres da cidade detinham apenas 2,83% da renda total Pio IX no ano seguinte. À época, representava quase todo
do município. o território da província do Ceará. Foi elevada à arquidio-
cese em 1915, e hoje é organizada em 143 paróquias e
Ampliando-se o espectro para os 80% menos ricos, possu-
áreas pastorais. As paróquias residentes em Fortaleza
íam apenas 33,4% do total. Por sua vez, 3,36% dos habi-
somam mais da metade, com um total de 76, e as demais
tantes permanecia na pobreza extrema e 12,14% na po-
nas cidades adjacentes.
breza, significativo, entretanto, de progresso em relação a
1991, quando esses índices eram de 15,25% e 38,97%, O Seminário da Prainha foi criado em 1864, é uma das
respectivamente. mais tradicionais instituições da Igreja Católica na cidade,
e por ele passaram personalidades como Padre Cícero,
Dom Eugênio Sales, Dom Hélder Câmara e Dom José Frei-
re Falcão, dentre outros. A Catedral Metropolitana São
José, ou Catedral Metropolitana de Fortaleza, localizada cio da Abolição, ocupado pelo governador Camilo Santa-
na Praça Pedro II, no centro histórico da cidade, em arqui- na, do PT, eleito nas eleições gerais no Brasil em 2014.
tetura eclética com predominância de elementos góticos
e românicos, é uma das maiores do Brasil, com capacida- Antes do Abolição, o gabinete do governador ficava loca-
de para cerca de 5 000 pessoas, e demorou quarenta anos lizado no Palácio Bárbara de Alencar, também conhecido
para ter sua construção concluída. como Palácio Iracema, historicamente sede do Clube
Iracema, que foi cedido ao Paço Municipal e hoje abriga
Começou a ser erguida em 1938, no mesmo lugar da anti- órgãos executivos municipais.[104] Ainda na cidade, está
ga Igreja da Sé. Foi inaugurada em 1978 por Dom Aloísio o Centro Administrativo Governador Virgílio Távora, no
Lorscheider. Outro templo de destaque em Fortaleza é a Cambeba, no qual concentram-se a maioria das secretari-
Igreja de Nossa Senhora do Líbano, uma das quatro igre- as de governo e outras instituições administrativas.
jas melquitas no Brasil, erguida pela comunidade sírio-
libanesa radicada na cidade. Fortaleza é também sede regional de diversas instituições
do governo federal. Dentre as instituições militares pre-
Nossa Senhora da Assunção é reconhecida como a pa- sentes na cidade, estão a Base Aérea de Fortaleza, um
droeira da cidade, em homenagem à qual foram batizados importante marco da aviação militar durante a Segunda
o Forte e a posterior Fortaleza de Nossa Senhora da As- Guerra Mundial, a Capitania dos Portos do Ceará, a Escola
sunção. de Aprendizes-Marinheiros do Ceará e o Comando da dé-
cima Região Militar. A cidade conta, ainda, com unidades
POLÍTICA da Comitê Internacional da Cruz Vermelha e Unicef. Desde
1996, a cidade é integrante do Mercado Comum de Cida-
A administração do município é feita a partir dos poderes des do Mercosul.
executivo e legislativo. O primeiro alcaide de Fortaleza foi,
no ano da Independência do Brasil, Joaquim Lopes de CIDADES-IRMÃS
Abreu, e primeiro prefeito, no ano seguinte ao da Procla-
mação da República, José Freire Bezerril Fontenelle. Fortaleza tem intercâmbio cultural, econômico e instituci-
onal com as seguintes cidades-irmãs:
O atual e 48.º representante do poder executivo da cidade,
eleito nas eleições municipais no Brasil em 2012, é Rober- Portugal Ferreira do Alentejo, Portugal
to Cláudio, do PDT, que conquistou um total de 650 607 Cabo Verde Ilha do Sal, Cabo Verde
votos (53,02% dos votos válidos) naquele ano e ocupa o Portugal Lisboa, Portugal
Palácio do Bispo. O prefeito é auxiliado por sete Secreta- Estados Unidos Miami Beach, Flórida, Estados
rias Executivas Regionais (SER). Unidos
Itália Montese, Módena, Itália
O poder legislativo, por sua vez, é constituído pela Câmara
Municipal de Fortaleza, composta por 43 vereadores, elei- Fortaleza enquanto município surgiu a partir da Resolu-
tos para mandatos de quatro anos (em observância ao ção Régia de 9 de março de 1725, como sede no núcleo
disposto no artigo 29 da Constituição), e responsável por do mesmo nome, então elevado à categoria de vila. A
elaborar e votar leis de âmbito municipal fundamentais à instalação do município aconteceu em 13 de abril do ano
administração, como a Lei de Diretrizes Orçamentárias, seguinte, data considerada oficial de sua fundação. A
além de fiscalizar o executivo. O município é, em adição, categoria de cidade foi conferida a Fortaleza pela Resolu-
regido por lei orgânica. ção de 2 de janeiro, Decreto de 24 de fevereiro e Carta de
17 de março de 1823, por meio da qual recebeu também a
Em janeiro de 2015, havia 1 659 091 eleitores em Fortale- denominação de Fortaleza da Nova Bragança.
za (26,457% do total do estado), distribuídos em treze
zonas eleitorais.[100] O número de pessoas ocupadas Fortaleza abriga 121 bairros, 39 Territórios Administrati-
direta e indiretamente na administração pública municipal vos e doze Secretarias Executivas Regionais (SER), que
em 2013 foi respectivamente de 31 318 e 4 950. são suas subprefeituras, órgãos públicos de gestão direta
de cada área.
O município é sede do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, que tem jurisdição sobre todo o território do esta- Qual a minha Regional de Fortaleza?
do, do Ministério Público do Estado do Ceará e da 7ª Re-
gião do Tribunal Regional do Trabalho. Basta procurar na lista abaixo pelo bairro onde mora. O
bairro estará localizado na regional e também no territó-
O fórum responsável pelas varas de justiça da comarca rio.
de Fortaleza é o Fórum Clóvis Beviláqua, que atua sobre
as seis zonas cartoriais nas quais ela é dividida. A cidade
abriga, ainda, a sede do poder executivo estadual, o Palá-
Regional 1 Território 29: José de Alencar, Curió, Guajeru e
Lagoa Redonda
Território 2: Vila Velha e Jardim Guanabara Território 30: Coaçu, São Bento e Paupina
Território 3: Barra do Ceará
Território 4: Cristo Redentor e Pirambu Regional 7
Território 5: Carlito Pamplona e Jacarecanga
Território 6: Jardim Iracema, Floresta e Álvaro Território 22: Praia do Futuro I e Praia do Futuro II
Weyne Território 23: Cocó, Cidade 2000 e Manuel Dias
Branco
Regional 2 Território 24: Salinas, Guararapes e Luciano Ca-
valcante
Território 7: Meireles e Aldeota Território 25: Edson Queiroz, Sapiranga/Coité e
Território 8: Varjota, Papicu e De Lourdes Sabiaguaba
Território 9: Cais do Porto, Mucuripe e Vicente
Pinzón Regional 8
Território 10: Joaquim Távora, Dionísio Torres e
São João do Tauape Território 19: Serrinha, Itaperi e Dendê
Território 20: Dias Macêdo, Boa Vista, Parque Dois
Regional 3 Irmãos e Passaré
Território 21: Planalto Ayrton Senna e Prefeito Jo-
Território 11: Quintino Cunha, Olavo Oliveira e An- sé Walter
tônio Bezerra
Território 12: Padre Andrade e Presidente Ken- Regional 9
nedy
Território 13: Vila Ellery, Monte Castelo , São Ge- Território 31: Cajazeiras e Barroso
rardo e Farias Brito Território 32: Conjunto Palmeiras e Jangurussu
Território 14: Parque Araxá, Parquelândia, Amadeu Território 33: Parque Santa Maria, Ancuri e Pedras
Furtado e Rodolfo Teófilo
Regional 10
Regional 4
Território 34: Parque São José, Novo Mondubim,
Território 15: José Bonifácio, Benfica e Fátima Canindezinho, Conjunto Esperança, Parque Santa
Território 16: Damas, Jardim América, Bom Futuro Rosa, Parque Presidente Vargas e Aracapé
e Montese Território 35: Maraponga, Jardim Cearense, Mon-
Território 17: Itaoca, Parangaba e Vila Peri dubim e Vila Manoel Sátiro
Território 18: Parreão, Vila União e Aeroporto
Regional 11
Regional 5
Território 36: Pici, Bela Vista, Panamericano, Cou-
Território 39: Granja Lisboa, Granja Portugal, Bom to Fernandes e Demócrito Rocha
Jardim, Siqueira e Bonsucesso Território 37: Autran Nunes, Dom Lustosa, Henri-
que Jorge, Jóquei Clube e João XXIII
Regional 6 Território 38: Genibaú, Conjunto Ceará I e Conjun-
to Ceará II
Território 26: Alto da Balança e Aerolândia
Território 27: Jardim das Oliveiras, Cidade dos Regional 12
Funcionários e Parque Manibura
Território 28: Parque Iracema, Cambeba e Messe- Território 1: Centro, Moura Brasil e Praia de Ira-
jana cema
ATIVIDADES ECONÔMICAS DE FORTALEZA pecuaristas se mudaram para outros municípios da região
metropolitana.
No início da década de 2000, dentre as capitais do Nor-
deste, Fortaleza possuía o terceiro maior Produto Interno SETOR SECUNDÁRIO
Bruto (PIB), sendo superada por Recife e Salvador. Forta-
Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do
leza cresceu cerca de R$ 5 bilhões em 2018, chegando a
Amarante, na Grande Fortaleza
R$ 67 bilhões, superando os 3 anos anteriores que foram
marcados pela crise de 2014. A indústria é o segundo setor mais relevante para a eco-
nomia do município. Um montante de 6 876 703 000 reais
Esse crescimento consolidou o município como o mais
foi acrescentado por esse setor ao produto interno bruto
rico da região Nordeste, o nono do país e o oitavo entre as
municipal em 2012. Seu distrito industrial, na Grande For-
capitais. Em 2012, o valor de impostos sobre produtos
taleza, dividido em três polos, conta com mais de cem
líquidos de subsídios a preços correntes era de R$ 6 612
empresas instaladas de setores têxteis, metalurgia e me-
822 000, e o PIB per capita do município, de R$ 17 359,53.
cânica, material elétrico, químico e construção civil, em-
A pujante economia da cidade é refletida no poder de
pregando mais de 16 mil pessoas de forma direta.
compra, o oitavo maior do pais, com potencial de consu-
mo estimado em 42 bilhões de reais em 2014. Outro polo que fomenta a economia fortalezense é o
Complexo Industrial do Pecém, que conta com empresas
A principal fonte econômica do município está centrada
de grande porte dos setores metalmecânico, de constru-
no setor terciário, com seus diversificados segmentos de
ção civil e energia, cujo maior expoente é a Companhia
comércio e prestação de serviços. Em seguida, destaca-
Siderúrgica do Pecém, em construção, planejada para ser
se o setor secundário, com os complexos industriais. Em
de grande competitividade no cenário internacional.
2012, a porcentagem de contribuição de cada setor para a
economia municipal era de 0,07%, 15,8% e 68,8% dos seto- A produção de vestuário e calçados, couros e peles e ali-
res primário, secundário e terciário, respectivamente. mentos, notadamente derivados do trigo, além da extra-
ção de minerais, são os segmentos industriais mais fortes
A riqueza da capital deve-se em boa parte às atividades
da capital. Em 2004, foram estimados pelo IBGE um total
provenientes de toda a região metropolitana, cuja econo-
de 7 860 unidades industriais no município. O Grupo Ed-
mia é a terceira mais forte das regiões Norte e Nordeste e
son Queiroz, conglomerado com diversas empresas nos
cuja população é de quase quatro milhões de habitantes.
setores de agroindústria, mineração, bebidas, eletrodo-
Em 2012, a cidade possuía 69 605 unidades e 64 674 em-
mésticos, comunicação e educação, exerce grande in-
presas e estabelecimentos comerciais atuantes, além de
fluência na economia da cidade e da região.
um montante de 873 746 de pessoal ocupado e 786 521
pessoas assalariadas. No segmento naval, a INACE, sediada em Fortaleza, é
importante fabricante nacional de embarcações, sobretu-
Salários, juntos com outros tipos de remuneração, soma-
do iates de luxo. A Petrobras possui a LUBNOR instalada
vam 17 103 562 reais e o rendimento médio do município
em Fortaleza, que é a menor refinaria da estatal, mas que
era de 2,7 salários mínimos.
tem subprodutos de alto valor agregado, como lubrifican-
SETOR PRIMÁRIO tes finos. Dentre as grandes empresas de alimentos do
Brasil, as maiores do mercado de massas são de Fortale-
A agricultura é o setor de menor relevância econômica de za: M. Dias Branco, maior empresa da América Latina no
Fortaleza. De todo o produto interno bruto da cidade em segmento J. Macedo, quarta maior latina e Grande Moi-
2012, 32 844 000 reais foi o valor adicionado bruto da nho Cearense. No ramo de bebidas, sedia empresas de
agropecuária. atuação nacional, como o Café Santa Clara e Indaiá, além
da Ypióca e da Solar, uma das dez maiores fabricantes da
Em 2013, o município contava com cerca de 2 410 bovi- Coca-Cola no mundo.
nos, 70 caprinos, 101 equinos, 1 120 ovinos e 769 suínos,
além 1 251 vacas ordenhadas, das quais foram produzi- SETOR TERCIÁRIO
dos 1 445 000 litros de leite, e 19 140 galináceos, a partir
dos quais foram produzidos 67 mil dúzias de ovos. Centro de Eventos do Ceará. Com capacidade para 30.000
pessoas, é o segundo maior espaço de eventos do Brasil e
No município, a população é concentrada em totalidade da América Latina.
em área urbana, o que demonstra, portanto, a insignifi-
cância da agricultura para a economia municipal. Devido Fortaleza possui áreas de densa verticalização.
ao desenvolvimento urbano da cidade, em Fortaleza não
Comércio e serviço, enquanto maiores geradores de ri-
há forte agricultura tampouco terras para o plantio. Se
quezas da economia de Fortaleza, adicionaram, em 2012,
houve agricultura no passado, muitos dos agricultores e
29 879 821 000 reais ao PIB fortalezense. A cidade possui
robustos centros de compras, além de abrigar dois dos sedia o Banco Palmas, primeiro banco comunitário do
dez maiores shopping centers do país, o Iguatemi Fortale- Brasil, criado em 1998 no conjunto Palmeiras. Desde
za o RioMar Shopping. 2001, este banco emite a moeda social Palma.
No segmento de medicamentos, é sede das Farmácias Atrações como o parque temático Beach Park, localizado
Pague Menos, maior rede de varejo farmacêutico do Bra- na Grande Fortaleza, a Avenida Beira Mar e seus bares,
sil. restaurantes e clubes de música, as praias do Futuro e
Iracema têm colocado Fortaleza entre os destinos brasi-
A cidade abriga ainda grandes empresas de transporte,
leiros preferidos por europeus. Entre os maiores emisso-
como a Transnordestina da Companhia Siderúrgica Naci-
res de turistas estrangeiros para a capital cearense, estão
onal e a Expresso Guanabara, empresa de viação terrestre
Itália, Estados Unidos, Alemanha, França e Portugal. A
de influência regional. Dentre as empresas que tiveram
cidade dispõe de dezenas de consulados e representa-
suas origens na cidade, destacam-se o Grupo Jereissati,
ções diplomáticas que dão assistência ao turista estran-
controlador da rede de shopping centers Iguatemi e da
geiro.
rede de telecomunicação Oi, e o Grupo Severiano Ribeiro,
hoje denominado Kinoplex, maior rede de cinemas brasi- Fortaleza tem se desenvolvido, ainda, como emergente
leira. eixo de turismo de eventos e de negócios brasileiro. Equi-
pamentos como Centro de Convenções de Fortaleza e o
Os principais produtos de exportação de Fortaleza são
Centro de Eventos do Ceará, segundo maior do Brasil e da
petróleo refinado, que representa 64,55% dessa atividade;
América Latina, têm dando novo destaque à cidade por
coco, castanha e caju, que correspondem a 13,67%; crus-
meio da atração de grandes feiras, congressos, conferên-
táceos, em 4,36%; ceras, em 2,65%; equipamentos elétri-
cias, palestras, seminários, exposições, shows e encon-
cos, em 2,62%; embarcações, em 1,09%; calçados, em
tros nacionais e internacionais. A partir desse novo nicho
0,87%, dentre outros produtos. Em 2014, o valor das ex-
turístico explorado, Fortaleza sediou a Sexta cúpula do
portações do município alcançou 549 milhões de dólares.
BRICS.
Fortaleza possui uma unidade descentralizada do Banco
O desenvolvimento turístico de Fortaleza é promovido não
Central do Brasil, assim como a Bovespa. Bancos que
só pela atração de eventos, mas também pela consolida-
foram extintos, como o BANCESA e o BEC, que foi incor-
ção da agenda de acontecimentos e festividades da cida-
porado pelo Bradesco, tiveram suas origens na cidade,
de, como o Carnaval e seus cortejos de Maracatu, as fes-
que abrigou, ainda, o BICBANCO e o BMC.
tas juninas, o Fortal, considerado a maior micareta indoor
Em 2013, de acordo com o IBGE, a cidade contava com e maior festa de carnaval fora de época do país, e o Ceará
189 agências de instituições financeiras. Fortaleza é a Music, festival de pop rock e música eletrônica. Outro
sede do Banco do Nordeste, o maior banco de desenvol- popular e tradicional evento da cidade, sobretudo entre
vimento regional da América Latina. A cidade também jovens e tribos, é o SANA, um dos maiores eventos brasi-
leiros de cultura japonesa.
INFRAESTRUTURA Em 2013, 90,6% das crianças menores de 1 ano de idade
estavam com a carteira de vacinação em dia. Em 2012,
Sede da Enel Distribuição Ceará, antiga Companhia Ener- foram registrados 37 577 nascidos vivos, e o índice de
gética do Ceará (COELCE), em Fortaleza mortalidade infantil em até cinco anos de idade era de
13,2‰. Do total de crianças menores de dois anos pesa-
Fortaleza contava, em 2010, com 710 066 domicílios, dos das pelo Programa Saúde da Família em 2013, 0,8% apre-
quais 540 358 eram casas, 41 256 faziam parte de vilas sentavam desnutrição.
ou condomínios, 126 113 eram apartamentos e 2 339,
habitações de cômodos ou cortiços. Do total de domicí- Em 2009, a cidade contabilizava um total de 531 estabe-
lios, 502 428 eram próprios, 181 713 eram alugados, 22 lecimentos de saúde, entre hospitais, pronto-socorros e
522 enquadravam-se em imóveis cedidos e 3 403, ocupa- outras entidades, dos quais 105 eram públicos e 426,
dos de outra forma. privados, além de 6 704 leitos hospitalares de internação.
A quase totalidade do município conta com água tratada, Em 2009, Fortaleza contava com o total de 35 hospitais
energia elétrica, esgoto, limpeza urbana, telefonia fixa e gerais, dos quais onze eram públicos, 21 privados, dois
telefonia celular. O serviço de abastecimento de energia filantrópicos, e um sindical. Além disso, contava com 54
elétrica é feito pela Enel Distribuição Ceará, antiga Com- hospitais especializados e oito policlínicas. O total de
panhia Energética do Ceará (COELCE), e, em 2010, segun- médicos atuantes na rede de saúde do município era de
do o IBGE, 707 940 domicílios (99,7% do total) possuíam 13 604, aproximadamente 5,4 para cada mil habitantes.
acesso à rede elétrica, cuja voltagem, em Fortaleza, é de
220 V. Fortaleza conta com 117 unidades de postos de saúde,
três UPAs administradas pelo município e seis adminis-
Há na cidade duas unidades de produção de energia, sen- tradas pelo estado.
do uma experimental de produção de energia eólica, pró-
xima ao Porto do Mucuripe, e a outra de gás natural. O município é a sede de instituições de saúde todos os
três níveis de governo: federal, estadual e municipal. O
O fornecimento de água e a coleta de esgoto da cidade primeiro hospital construído em Fortaleza foi a Santa
são feitos pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará Casa de Misericórdia, fundada em 1861.
(CAGECE), e, em 2008, havia 828 662 unidades consumi-
doras na cidade, nas quais eram distribuídos em média Dentre as principais instituições públicas de saúde da
487 281 m³ de água tratada por dia. cidade, destacam-se o Instituto Doutor José Frota, o mai-
or hospital administrado pela Prefeitura Municipal, e o
Segundo o IBGE, em 2010, 662 543 domicílios eram aten- Hospital Geral de Fortaleza, o maior hospital administrado
didos pela rede geral da companhia (93,3% do total), em- pelo Governo do Estado.
bora 98,7% possuísse água encanada, e 700 132 domicí-
lios (98,6% do total) contavam com escoadouro sanitário Dentre as instituições privadas, as maiores são o Hospital
de uso exclusivo das residências. A coleta de lixo naquele Regional Unimed Fortaleza, Hospital Antônio Prudente,
ano abrangia 701 163 (98,74% do total) domicílios. Hospital Monte Klinikum e Hospital São Mateus.
Em 2014, 4% do lixo coletado na cidade passava por pro- Há, ainda, em Fortaleza, três unidades da Farmácia Popu-
cesso de reciclagem, entretanto, medidas foram tomadas lar do Brasil.
para que o total reciclado chegue a 12%, de forma a incluir
Um dos programas de saúde básica de maior destaque
a cidade no grupo de municípios cumpridores da meta da
em Fortaleza é o Programa de Saúde da Família, dentro
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
do qual a cidade está na terceira colocação no país em
SAÚDE extensão de cobertura, com centenas de equipes distribu-
ídas em dezenas de unidades de atendimento.[178] O
Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, primeiro hospital Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) é o
público construído na capital cearense, em 1861 serviço de assistência médica de gravidade do município,
pelo qual são atendidas em média 200 ocorrências diá-
Hospital São Mateus, instituição privada instalada em rias.[179]
1993
Fortaleza é dotada de vários cursos de medicina, porém, o
Os índices de saúde da população fortalezense são me- mais tradicional deles é o da Faculdade de Medicina da
lhores que a média brasileira. Conforme dados de 2010, a Universidade Federal do Ceará, criado em 1948, que ad-
taxa de mortalidade infantil em até um ano de idade era ministra grande estrutura de instituições especializadas
de 15,8‰, contra uma média brasileira de 16,7. de saúde, entre hospitais e clínicas, destacando-se entre
elas o Hospital Universitário Walter Cantídio, líder na Amé-
rica Latina em transplante de fígado.[180] Dentre as fa-
culdades de medicina do país, a Faculdade de Medicina mental, das quais 402 públicas e 730 da rede particular.
da UFC é a 13ª melhor do Brasil, a segunda melhor das Dentre as 308 instituições que forneciam o ensino médio,
regiões Norte e Nordeste e a melhor do Ceará.[181] A gra- 152 pertenciam à rede pública e 156 eram escolas priva-
duação em medicina da UFC é, ainda, uma das mais con- das. Em 2012, o número de matriculados no ensino fun-
corridas do país.[182] damental foi de 342 920 e, no ensino médio, 111 887.
O IDEB dos anos iniciais do ensino público de Fortaleza O acesso terrestre ao município é feito pelas rodovias BR-
em 2019 foi de 6,2, e o dos anos finais foi 5,1. Fortaleza 116, BR-020, BR-222, CE-090, CE-085, CE-065, CE-060, CE-
teve um dos melhores resultados entre as capitais esta- 040 e CE-025, além do Terminal Rodoviário Engenheiro
duais. João Thomé onde se concentram as linhas intermunici-
pais e interestaduais.
COMUNICAÇÕES
O sistema de transporte rodoviário da cidade é regula-
Na área de telefonia, a cidade é reconhecida pelo código mentado pela Empresa de Transporte Urbano de Fortale-
de área (DDD) 85.Seu Código de Endereçamento Postal za (ETUFOR), órgão da Prefeitura Municipal de Fortaleza,
(CEP) estende-se de 60000-001 a 61599-999. enquanto que o trânsito de veículos é fiscalizado pela
Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Ci-
O setor de comunicação em Fortaleza tem como princi- dadania (AMC).
pais atuantes dois grandes conjuntos de empresas, o
Grupo de Comunicação O Povo e o Sistema Verdes Mares, O transporte coletivo realizado por ônibus é denominado
que comandam, respectivamente, os jornais O Povo e Sistema Integrado de Transportes (SIT-FOR), e sua opera-
Diário do Nordeste, ambos entre os cinquenta maiores ção teve início em 1992. O sistema proporciona ao usuá-
jornais do Brasil em volume de circulação. rio opções de deslocamento e acesso às diferentes zonas
da cidade por meio da integração de tarifa única em ter-
Entre outros veículos administrados por esses dois con- minais regionais. A rede SIT-FOR é baseada em três tipos
glomerados, estão a TV Verdes Mares (afiliada à Rede de linhas: as que fazem integração bairro-terminal, as que
Globo), TV Diário, FM 93 e G1 Ceará por parte da Verdes integram o terminal ao centro da cidade ou ainda a outro
Mares, e TV O Povo, Rádio O Povo CBN e Nova Brasil FM terminal.
Fortaleza por parte do O Povo de Comunicação.
Fortaleza possui sete terminais integrados (Antônio Be-
Tais instituições detêm maior popularidade, sobretudo zerra, Papicu, Parangaba, Lagoa, Siqueira, Messejana e
enquanto outras entidades de imprensa como o Sistema Conjunto Ceará) e dois terminais abertos (Praça Coração
Jangadeiro, detentor do portal Tribuna do Ceará, TV Jan- de Jesus e Estação João Felipe). Mais de 1 milhão de
gadeiro (afiliada ao SBT), NordesTV (afiliada à Rede Ban- passageiros por dia utilizam os terminais fechados por
deirantes), a Rede Jangadeiro FM — e sua geradora — e meio de 263 linhas de ônibus regulares, que oferecem 11
Tribuna BandNews FM (afiliada à BandNews FM), e Grupo 000 combinações com rotas que se distribuem por toda a
Cidade de Comunicação, detentor da TV Cidade (afiliada à cidade.
RecordTV), a 89 FM, as rádios AM Cidade e Cidade FM,
Jovem Pan FM Fortaleza (afiliada à Jovem Pan FM), Jo-
vem Pan News Fortaleza e Atlântico Sul FM, que também
São 25 empresas operantes com uma frota de mais de 2 Aeroporto Internacional Pinto Martins
000 ônibus, (sem incluir os ônibus que circulam na região
metropolitana) que realizam, diariamente, quase 20 000 O atual Aeroporto Internacional Pinto Martins, situado no
viagens. Em 2013, começou a operar na cidade o sistema centro geográfico de Fortaleza, a quinze minutos das
de bilhete único, que permite ao usuário utilização ilimita- principais zonas de serviços e da orla de Fortaleza, foi
da de ônibus e vans por meio de tarifa única durante perí- construído entre 1996 e 1998, quando então passou a ser
odo de duas horas sem necessidade de integração por classificado como Internacional.
terminais. Na cidade, estão em fase de implementação,
O aeroporto passa hoje por processo de ampliação, a
ainda, sete linhas de Bus Rapid Transit (BRT), denomina-
partir da qual o número de pontes de embarque aumenta-
das Expresso Fortaleza.
rá de sete para dezesseis e o terminal de passageiros
O primeiro a ser inaugurado foi o corredor expresso Antô- será ampliado de 38 000 m² para 133 000 m².
nio Bezerra/Papicu. Em 2015, iniciou-se em Fortaleza o
Em 2014, o aeroporto tinha capacidade para atender 6,2
processo de climatização de toda a frota de ônibus do
milhões de passageiros por ano, porém, após ampliação,
SIT-FOR. A cidade já conta com 122 km de faixas exclusi-
a capacidade será de 11,2 milhões.
vas de transporte coletivo.
O aeroporto Pinto Martins é o terceiro aeroporto mais
O Metrô de Fortaleza é operado pela empresa de capital
movimentado da Região Nordeste e um dos mais movi-
social Companhia Cearense de Transportes Metropolita-
mentados do país, recebendo, em média, 1 500 aeronaves
nos (Metrofor). Fundada em 2 de maio de 1997, a compa-
internacionais e 65 000 aeronaves domésticas ao ano. Em
nhia é responsável pela administração, construção e pla-
2013, recebeu mais de 5,9 milhões de passageiros.
nejamento metroviários em Fortaleza e sua região metro-
politana. O sistema é capitaneado pelo Governo do Esta- Existem planos, entretanto, para a construção de um se-
do do Ceará e tem como atual presidente Eduardo Hotz. O gundo aeroporto na Região Metropolitana, na zona do
Metrô de Fortaleza iniciou suas operações no dia 15 de Pecém. O novo terminal será destinado ao transporte de
junho de 2012, em operação assistida. cargas e voos internacionais, enquanto o Aeroporto de
Fortaleza manterá os voos domésticos e executivos.
Já a operação comercial se iniciou no dia 1 de outubro de
2014, com cobranças de passagens, esta ficou fixada no Com a construção do Forte Schoonenborch pelos holan-
mesmo valor vigente no Sistema Integrado de Transpor- deses em 1649, nas proximidades do riacho Pajeú, uma
tes de Fortaleza (SIT-FOR), sendo naquela época 2,40. grande estrutura de atracação foi pretendida como porto
por 300 anos. Construções como a Ponte Metálica e a
Atualmente está em funcionamento 18 das 20 estações
Ponte dos Ingleses fizeram parte desse intento. O primei-
projetadas da Linha Sul, em operação comercial, 9 esta-
ro porto da cidade funcionou na região da então Prainha,
ções em caráter de trens metropolitanos da Linha Oeste
hoje Praia de Iracema, porém a estrutura portuária de
(futuramente a ser convertida em um sistema de metropo-
Fortaleza só veio a desenvolver-se de fato com a constru-
litano) é 3 das 10 estações projetas do VLT Parangaba-
ção, na década de 1940, do Porto do Mucuripe, que veio a
Mucuripe, funcionando em caráter experimental sem
transformar a estrutura da cidade.
transporte de passageiros. Possuindo uma extensão pro-
jetada de 69,4 quilômetros distribuídas em 5 linhas, liga- O porto conta com um cais de 1 054 m de extensão, plata-
das por 53 estações, a maior parte em construção ou em forma de atracação exclusiva para petrolíferos, área de
projeto. armazéns tem 6 000 m² e quase 200 000 m² de pátio para
contêineres. Possui, ainda, três moinhos de trigo e está
Fazem parte do sistema as linhas Sul (Central-Chico da
interligado ao sistema ferroviário por um extenso pátio de
Silva ↔ Carlitos Benevides, quase concluída, com algu-
manobras. Já o Terminal Portuário do Pecém, ou Porto do
mas estações ainda inoperantes), Leste (Central-Chico da
Pecém, está localizado na Região Metropolitana de Forta-
Silva ↔ Edson Queiroz, em início de construção), Oeste
leza, no município de São Gonçalo do Amarante.
(Central-Chico da Silva ↔ Caucaia), Mucuripe (Parangaba
↔ Iate, atualmente com 3 estações em fase experimental Por sua localização geográfica, o Porto do Pecém possui
e 70% em construção) e Maranguape (Jereissati ↔ Ma- o menor tempo de trânsito entre o Brasil e os Estados
ranguape). Unidos e a Europa, com médias de seis e sete dias, res-
pectivamente, o que o coloca em posição estratégica de
O sistema foi concebido para integrar-se a dois dos sete
influência regional.
terminais rodoviários da cidade, Parangaba e Papicu, e
para conectar-se ao terminal de passageiros do Porto do Na região, está em processo de configuração um pólo de
Mucuripe e ao Aeroporto Internacional de Fortaleza. Diari- desenvolvimento de segmentos petrolífero, químico, me-
amente, o sistema atualmente transporta 23 mil passa- talmecânico, dentre outros ramos industriais, compondo
geiros.
o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, do qual o geiro. Em 2007, o Ministério do Turismo, em parceria com
Porto do Pecém faz parte. a Prefeitura, iniciou na cidade ações pioneiras para o
combate a esse tipo de delito.
SEGURANÇA PÚBLICA E CRIMINALIDADE
Em 2005, o Assalto ao Banco Central do Brasil em Forta-
Veículos do programa de policiamento comunitário em leza tornou-se o maior furto a um banco no país, alcan-
Fortaleza, o "Ronda do Quarteirão" çando o valor de aproximadamente R$ 164,7 milhões. O
crime foi parcialmente solucionado, com a prisão e con-
A Polícia Militar do Ceará tem várias companhias e postos denação de mais de uma centena de criminosos e recupe-
de patrulhamento na capital, sendo Fortaleza a sede de ração de parte do valor roubado. O ocorrido foi, ainda,
vários grupos e escolas da Polícia Militar. A Polícia Civil transformado no filme Assalto ao Banco Central, de 2011.
divide a cidade em 24 distritos policiais. A Guarda Muni-
cipal de Fortaleza é a instituição que complementa as CULTURA
atividades de segurança pública em Fortaleza, e seu con-
tingente em 2015 era de cerca de 2 500 agentes. Funcio- De acordo com o Plano Diretor de Fortaleza, as Zonas
na em Fortaleza a sede do Centro Integrado de Operações Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico,
de Segurança (CIOPS), órgão estadual de vigilância, con- Histórico, Cultural e Arqueológico são as regiões do Cen-
trole e assistência emergencial cujo sistema congrega tro, Parangaba, Alagadiço Novo/José de Alencar, Benfica,
Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Guarda Porangabuçu e Praia de Iracema, que abrigam 1 186 imó-
Municipal, Autarquia Municipal de Trânsito, SAMU, entre veis de interesse de preservação.
outras instituições.
O patrimônio arquitetônico de Fortaleza na forma de bens
Fortaleza tradicionalmente não era uma das capitais mais tombados, contudo, está predominantemente concentra-
violentas do país, mas a criminalidade, aferida através do do no centro da cidade. O Farol do Mucuripe está em ruí-
número de homicídios, tem crescido vertiginosamente na nas. O Ceará e Fortaleza fizeram parte do grupo pioneiro
cidade, conforme o Mapa da Violência realizado pelo Cen- de estados e cidades a adotarem políticas públicas de
tro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos. Em 2012, proteção ao patrimônio imaterial vivo de sua cultura, por
foram cometidos 1 920 homicídios na região metropolita- meio do programa Mestres da Cultura.
na, com uma taxa de 76,8 homicídios por 100 mil habitan-
tes e um aumento de 42,2% em relação ao ano anterior. A vida cultural de Fortaleza é diversificada e fecunda.
Muitos artistas, entre escritores, pintores e cantores utili-
No comparativo entre 2002 e 2012, a violência cresceu zam os palcos e as praças mais movimentadas da cidade
141,1% em Fortaleza, colocando a capital cearense na para estimular a cultura regional. Dentre os teatros, os
quarta posição entre as capitais brasileiras com maior maiores e mais populares são o Teatro José de Alencar,
ascensão de homicídios nesse período. Entre todos os palco dos principais espetáculos da cultura local e uni-
municípios brasileiros, Fortaleza ocupa a 60ª posição. versal,[251] o Teatro São José, o Cine-Teatro São Luiz,
Teatro RioMar e Teatro Via Sul.
O índice de acidentes de trânsito em 2012 foi de 26,1
ocorrências para cada 100 mil residentes, ocupando a 30ª O Museu do Ceará guarda numerosos artefatos da memó-
colocação a nível estadual e a 561ª a nível nacional.[239] ria fortalezense, entre peças de paleontologia, arqueologia
Em relação à ocorrência de suicídios, a taxa foi de 6,8 e antropologia indígena, mobiliário, itens das lutas e revol-
ocorrências a cada 100 mil habitantes, sendo a 53ª maior tas populares, da religiosidade e sobre a produção intelec-
taxa a nível estadual e a 730ª a nível nacional. tual e a irreverência do cearense.
Com o aumento da criminalidade, Fortaleza entrou no O Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura é o principal
Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania, espaço cultural de Fortaleza. Neste centro, estão locali-
realizado nos municípios e estados brasileiros em situa- zados o Museu da Cultura Cearense, o Museu de Arte
ção agravante de violência. No final de 2007, foi implan- Contemporânea do Ceará, teatros, um planetário, cinemas,
tado o programa Ronda do quarteirão, que serve de apoio lojas, e espaços para apresentações públicas, além de
à Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia Civil da cidade abrigar, em anexo, a Biblioteca Pública Governador Mene-
por meio do modelo de policiamento comunitário, no qual zes Pimentel, o Porto Iracema das Artes e a Escola de
milhares de policiais se revezam 24 horas na vigilância de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho.
122 áreas estratégicas.
Outros exemplos de construções históricas notórias de
A exploração sexual tem se tornado um problema recor- Fortaleza são o Prédio da Alfândega de Fortaleza, o qual
rente em Fortaleza, divulgado pela mídia local, nacional e abriga a CAIXA Cultural de Fortaleza, o Sobrado do Doutor
internacional. A cidade tem sido palco de uma rede de José Lourenço, centro cultural especializado em artes
prostituição, inclusive infantil, com alvo no turista estran- visuais, e o prédio da Estação João Felipe, ponto de parti-
da da estrada de ferro construída na seca de 1877, hoje pelos festivais de poesia, seminários e saraus de jovens
desativado, com planos de uso de suas dependências intelectuais fortalezenses.
para a instalação da Pinacoteca do Ceará.
No cinema, o nome mais tradicional de Fortaleza é Zelito
Tais equipamentos localizam-se no entorno de uma das Viana, diretor de filmes como Villa-Lobos - Uma Vida de
áreas de fundação de Fortaleza, com um patrimônio ar- Paixão e Morte e Vida Severina. Na atualidade, destaca-se
quitetônico ainda preservado, de predominância neoclás- nacionalmente Karim Aïnouz, responsável pela direção de
sica, remanescente da era da economia do algodão nos Madame Satã, O Céu de Suely e Praia do Futuro, e roteiro
tempos da belle époque fortalezense. Apesar de distante de Cidade Baixa, Cinema, Aspirinas e Urubus e Abril Des-
do centro histórico, a Casa de José de Alencar foi o pri- pedaçado, além de ter filmes seus exibidos em eventos
meiro bem tombado de Fortaleza, no ano de 1964. O local como o Festival de Cannes, Festival de Veneza, e na mos-
abriga coleções de arte, pinacoteca, biblioteca e as ruínas tra competitiva pelo Urso de Ouro do Festival de Berlim.
do primeiro engenho a vapor do Ceará, de 1830, marco
inicial da industrialização do estado. Outro atual expoente do cinema nascido em Fortaleza é
Halder Gomes, diretor e roteirista de Cine Holliúdy. Novos
O artesanato cearense tem em Fortaleza seu principal cineastas da cidade têm ganhado espaço, nos últimos
mercado e vitrine. Na cidade, existem vários lugares es- anos, em exibições de destaque como o Festival do Rio. O
pecíficos para comércio de produtos artesanais, tais co- mais tradicional evento de cinema de Fortaleza é o Cine
mo a Central de Artesanato do Ceará (CeArt); Centro de Ceará (Festival Ibero-Americano de Cinema), considerado
Turismo do Ceará (Emcetur), na construção histórica onde um dos principais festivais do país, que acontece no Cine-
funcionou a Cadeia Pública de Fortaleza; a Feira de Arte- Teatro São Luiz.
sanato da Beira-Mar; o Mercado Central de Fortaleza; e o
Polo Comercial da Avenida Monsenhor Tabosa. A diversi- HUMOR
dade do artesanato encontrado em Fortaleza é grande,
sendo mais característicos artigos oriundos do couro, A reflexão presente no Imaginário coletivo acerca do pa-
argila, cipó e madeira, manufaturas de fibra de algodão, pel do humor na identidade do cearense remonta ao fim
cerâmicas, cestarias e trançados com palha de carnaúba, do século XIX, quando Adolfo Caminha e Oliveira Paiva
rendas de bilros, bordados, crochês, entre outros. cunharam o termo Ceará Moleque, em alusão às brinca-
deiras e provocações sociais e políticas da população,
LITERATURA E CINEMA como, por exemplo, o festival de mentiras do dia 1 de
abril, que premiava, no "Cajueiro da Mentira", na Praça do
A principal manifestação literária da história de Fortaleza Ferreira, o maior contador de lorotas do Ceará.
surgiu no final do século XIX, nos cafés da Praça do Fer-
reira, conhecida como Padaria Espiritual, pioneira na di- O Bode Ioiô é outro símbolo da verve fortalezense. O ani-
vulgação de ideias modernas na literatura brasileira que mal ganhou fama na década de 1920 por frequentar luga-
só viriam a ser adotadas nacionalmente no século seguin- res públicos, beber cachaça e, além disso, ter sido candi-
te, na Semana de 22. dato a vereador da cidade. Após sua morte, o caprino foi
empalhado e até hoje está exposto no Museu do Ceará,
As mais principais entidades históricas de alta cultura porém, em 1996, seu rabo foi roubado. Acontecimentos
ainda existentes na cidade são o Instituto do Ceará e a históricos do tipo e a tradição construída por eles ajuda-
Academia Cearense de Letras, primeira academia de le- ram a desenvolver uma indústria do humor na cidade.
tras criada no Brasil, fundadas em 1887 e 1894, respecti- Bares, restaurantes e casas especializadas servem de
vamente. O Instituto do Ceará revelou importantes nomes palco aos humoristas mais aclamados pelo público e as
da historiografia e filosofia nacionais, como Farias Brito e praças atraem palhaços e outros artistas do riso.
Capistrano de Abreu.
Fortaleza é conhecida como capital do humor no país. Os
Entre os escritores fortalezenses ou ligados à Academia shows de humor são um grande pilar do seu apelo turísti-
Cearense de Letras que foram membros ou patronos da co, movimentando três milhões de espectadores ao
Academia Brasileira de Letras, estão Gustavo Barroso, ano.[300] Referências da atualidade como Tom Cavalcan-
Araripe Júnior, José de Alencar, Heráclito Graça, Franklin te e Wellington Muniz, que fazem grande sucesso nacio-
Távora, Clóvis Beviláqua e Rachel de Queiroz, a primeira nalmente, nasceram em Fortaleza. Humoristas de outras
mulher a fazer parte da entidade. cidades e estados fizeram carreira na cidade, como Rena-
to Aragão e Tiririca.
A Casa de Juvenal Galeno é outra histórica instituição
cultural de Fortaleza, que leva o nome de um dos maiores Outro humorista cearense de grande destaque que inici-
poetas nascidos na cidade, Juvenal Galeno. Nesse espa- ou carreira na capital foi Falcão, que ganhou notoriedade
ço cultural, foi criado, em 1969, por Carneiro Portela, o nacional ao aliar o humor à música brega e que, em decor-
Clube dos Poetas Cearenses. A casa se tornou ilustre
rência disso, passou a ser considerado um dos maiores O fruto do mar identitário do litoral do estado é o caran-
ícones desse estilo musical. guejo. Todas as quintas-feiras, acontece a tradicional
"caranguejada", evento no qual restaurantes, bares e bar-
Na Grande Fortaleza, nasceu Chico Anysio, considerado o racas de todo o litoral da cidade servem pratos derivados
maior comediante brasileiro de todos os tempos. do crustáceo, degustado com a ajuda de um martelinho.
13.Comparando-se os ciclos da economia colonial brasi- 15.“No princípio era o gado e os homens que o tangiam.
leira, é correto afirmar: Em lenta progressão, vindos do vale do São Francisco, na
I. Os rendimentos decorrentes do ciclo do ouro, no Bahia, do sertão de Pernambuco e de Sergipe, no final do
século XVIII, foram superiores aos produzidos pelo século XVII, aqueles rudes peregrinos da fortuna subiram
ciclo do açúcar, até sua decadência, em função da os contrafortes da Chapada do Araripe e chegaram a um
concorrência antilhana. vale fértil, habitado pelos índios Kariris, no sul do atual
II. A sociedade surgida em função do ciclo açucareiro território cearense. Os desbravadores plantaram vilas,
foi mais hierarquizada e aristocrática do que aquela que se transformariam em cidades, e por causa desse
que teve origem no ciclo do gado, nos sertões do movimento migratório, a colonização do Ceará começou
Nordeste ou caatinga. pelo interior e não pelo litoral. Das numerosas cidades
III. Os investimentos iniciais na economia açucareira que se formaram e dentre as que compõem o triângulo
exigiam a aplicação de menos capitais do que o ne- Crajubar, a última a nascer, em 1872, foi a cidade do Pa-
cessário para a exploração aurífera. dre Cícero Romão Baptista.”
IV. O aumento da pecuária no Rio Grande do Sul deveu-
se em grande parte à necessidade de fornecer ali- O texto refere-se a:
mentos e mulas para os transportes obrigatórios às A) Fortaleza.
atividade do ciclo da mineração ou do ouro. B) Barbalha.
C) Crato.
Está correta ou estão corretas: D) Juazeiro do Norte.
A) Apenas as opções III e IV. E) Maracanaú.
B) Apenas a opção IV.
C) Apenas as opções I, III e IV. 16.Na estrutura administrativa no Brasil colonial, as câ-
D) Apenas as opções I e IV. maras desempenharam importantes funções, tais co-
E) Apenas as opções II e IV. mo, EXCETO:
A) conservação das ruas, limpezas da cidade e arbori-
14.O texto abaixo foi extraído do documento “Represen- zação.
tação da Câmara de Aquiraz ao Rei de Portugal”. B) doação de sesmarias, comando militar e formação
“(...) para a conservação desta capitania será vossa ma- de milícias.
jestade servido destruir estes bárbaros para que fiquemos C) construção de obras públicas: estradas, pontes,
livres de tão cruel jugo; em duas aldeias deste gentio as- calçadas e edifícios.
sistem padres da Companhia que foram já expulsos de D) regulamentação dos ofícios, do comércio, das feiras
outras aldeias do sertão (...) estes religiosos são teste- e mercados.
munhas das crueldades que estes tapuias tem feito nos E) abastecimento de gêneros e cultura da terra.
vassalos de vossa majestade. (...) só representamos a
vossa majestade que missões com estes bárbaros são 17.A administração colonial portuguesa exercia seus po-
escusadas, por que de humano só tem a forma, e quem deres através das Câmaras Municipais. Sobre estas
disser outra coisa é engano conhecido. ” instituições de poder local no Brasil Colônia, podemos
afirmar corretamente que:
(Citado em PINHEIRO, Francisco José. “Mundos em confronto: povos nativos e
europeus na disputa pelo território. ” In SOUSA, Simone de (org.) Uma Nova
História do Ceará. Fortaleza. Edições Demócrito Rocha. 2000. p. 39)
A) tinham funções exclusivas de aplicar as determina- 20.Assinale, entre as opções a seguir, a que apresenta
ções da Coroa, sendo compostas por funcionários uma característica da organização da sociedade colo-
sem qualquer poder de decisão nial brasileira.
B) eram compostas exclusivamente pelos "homens A) Predomínio de uma ampla camada de pequenos
bons", os grandes proprietários de terras, o que ga- proprietários ligados à economia de abastecimento.
rantia a estabilidade econômica e permitia ampla B) Escravidão, que constituía seu principal elemento e
autonomia local na qual se baseava todo o funcionamento da eco-
C) as câmaras detinham poderes limitados à aplicação nomia colonial.
da justiça em casos de crimes comuns e à arreca- C) Servidão indígena, largamente difundida no interior,
dação dos impostos locais, apesar de formada pe- principalmente após a expansão paulista.
los "homens bons" da colônia D) Ausência de um setor social ligado ao comércio,
D) tinham amplos poderes, tanto ao nível político como que era controlado pelos estrangeiros.
administrativo, e eram composta por vereadores E) crescente ampliação das camadas de homens li-
escolhidos em eleições diretas e universais. vres, ocupados em todos os setores da economia
E) no Ceará, a primeira Câmara Municipal surgiu ape- colonial.
nas durante a República Nova e foi em Sobral.
21.Eram DIREITOS dos donatários:
18.A organização da administração colonial, apesar da A) fundar vilas, conceder sesmarias e cobrar impostos;
conhecida diferença entre teoria e prática, estava ori- B) a redízima, a vintena e a transferência da capitania
entada para garantir a conquista e o seu rendimento para outro donatário;
econômico, como mostra(m): C) fundar vilas, a redízima e a transferência da capita-
A) subordinação vertical de todas as regiões e órgãos nia para outro donatário;
ao Governo Geral. D) a redízima, a cobrança de impostos e a venda da
B) crescente desvinculação da metrópole após a cria- capitania para qualquer outro nobre;
ção do Governo Geral. E) fundar vilas, a vintena e a venda da capitania para
C) prevalência das Câmaras Municipais como agentes qualquer outro nobre.
de arrecadação do Erário Régio.
D) concentração nos capitães e governadores das ati- 22.Para responder à questão, analisar as afirmativas que
vidades judiciais em todas as instâncias. seguem, sobre o poder no Brasil Colônia.
E) orientação fiscalista e a preocupação com a defesa I. A administração da Colônia estava baseada num
predominante em todo o período colonial. sistema centralizado e linear de poderes, que su-
bordinava diretamente as Câmaras Municipais ao
19.Quanto aos aspectos políticos e administrativos da Conselho Ultramarino.
vida colonial do Brasil no século XVI, julgue os seguin- II. Havia uma separação entre os poderes da Igreja e
tes itens: do Estado, este último governando de forma absolu-
I. O absolutismo português estendia-se ao Brasil, cen- ta a sociedade colonial através das Ordenações
tralizando o monarca as decisões mais relevantes Manuelinas.
da vida política e administrativa da colônia. III. As enormes distâncias e as dificuldades de comu-
II. O imperador governava diretamente a colônia, sem nicação provocavam uma longa demora nas deci-
delegar poderes a uma burocracia e sem órgãos sões e prejudicavam a eficiência da máquina admi-
executores da política administrativa no Brasil. nistrativa.
III. A criação do governo-geral foi uma forma de garan- IV. A administração local estava a cargo das Câmaras
tir efetivamente a unidade e a centralização admi- Municipais, cuja instalação dependia de autorização
nistrativa da colônia. régia, que agiam conforme os interesses da oligar-
IV. As eleições municipais, em princípio indiretas, eram quia dos "homens bons".
conduzidas pelos “homens bons” reunidos nas câ-
maras. Pela análise das alternativas, conclui-se que somente
estão corretas
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: A) I e II.
A) I e III. B) I e IV.
B) II e III. C) II, III e IV.
C) III e IV. D) II e III.
D) I e IV. E) III e IV.
E) II e IV.
23.O Estado português reproduziu no Brasil duas feições 26.Movimento de ideias republicanas, com participação
metropolitanas, possibilitando uma permanente ten- popular, em reação à concentração de poderes nas
são entre as forças sociais dos poderes locais e as mãos de D.Pedro I. Esse movimento surgiu em Per-
forças de centralização do absolutismo. nambuco (1824) e se estendeu às províncias vizinhas.
Estamos falando da:
As instituições que exerciam a administração local e A) Revolução Pernambucana.
central no Brasil colônia eram, respectivamente: B) Revolução Praieira.
A) vice-reinado e capitania hereditária. C) Guerra dos Mascates.
B) câmara municipal e governo geral. D) Confederação do Equador.
C) capitania geral e província. E) Confederação de Palmares.
D) cabildo e capitania real.
E) apenas na Província do Siará Grande observava-se 27.Finalmente, seguindo um plano já traçado de antemão,
uma descentralização administrativa por parte das em 2 de julho de 1823, Madeira de Melo e seus ho-
autoridades portuguesas. mens deixavam Salvador, pressionados também pela
esquadra inglesa comandada pelo Almirante Cochrane,
24.“Em 1824 não se tratava da contradição de interesses que veio oficialmente em auxilio a Labatut.
coloniais e metropolitanos. Persistiam aí, não obstante (MENDES JR., p. 159)
30.“Confederação do Equador: Manifesto Revolucionário" 32.Podemos afirmar que tanto na Revolução Pernambu-
Brasileiros do Norte! Pedro de Alcântara, filho de D. João cana de 1817, quanto na Confederação do Equador de
VI, rei de Portugal, a quem vós, após uma estúpida con- 1824:
descendência com os Brasileiros do Sul, aclamastes vos- A) o descontentamento com as barreiras econômicas
so imperador, quer descaradamente escravizar-vos. Que vigentes foi decisivo para a eclosão dos movimen-
desaforado atrevimento de um europeu no Brasil. Acaso tos.
pensará esse estrangeiro ingrato e sem costumes que B) os proprietários rurais e os comerciantes monopo-
tem algum direito à Coroa, por descender da casa de Bra- listas estavam entre as principais lideranças dos
gança na Europa, de quem já somos independentes de fa- movimentos.
to e de direito? Não há delírio igual (... )." C) a proposta de uma república era acompanhada de
um forte sentimento antilusitano.
O texto dos Confederados de 1824 revela um momento D) a abolição imediata da escravidão constituía-se
de insatisfação política contra a: numa de suas principais bandeiras.
A) extinção do Poder Legislativo pela Constituição de E) a luta armada ficou restrita ao espaço urbano de
1824 e sua substituição pelo Poder Moderador. Recife, não se espalhando pelo interior.
B) mudança do sistema eleitoral na Constituição de
1824, que vedava aos brasileiros o direito de se 33.O fuzilamento de Frei Caneca está ligado ao seguinte
candidatar ao Parlamento, o que só era possível aos fato da História do Brasil:
portugueses. A) Inconfidência Mineira.
C) atitude absolutista de D. Pedro I, ao dissolver a B) Confederação do Equador
Constituinte de 1823 e outorgar uma Constituição C) Revolta dos Canudos.
que conferia amplos poderes ao Imperador. D) A Praieira.
D) liberalização do sistema de mão-de-obra nas dispo- E) Revolução Farroupilha.
sições constitucionais, por pressão do grupo portu-
guês, que já não detinha o controle das grandes fa- 34.A indústria têxtil inglesa demandou, no século XIX,
zendas e da produção de açúcar. quantidades crescentes de algodão. Provedores tradi-
E) restrição às vantagens do comércio do açúcar pelo cionais dessa matéria-prima, como a Índia e o Egito,
reforço do monopólio português e aumento dos tri- foram substituídos pelos Estados Unidos; mas, na dé-
butos contidos na Carta Constitucional. cada de 1860, os conflitos entre o norte e o sul desse
país interromperam o fornecimento. Nessa década, o
31.“A chamada Revolução de 1832, liderada por Joaquim algodão se converteu no principal produto das expor-
Pinto Madeira, Coronel de Milícias, que ocupava o posto tações cearenses.
de Comandante de Armas do Cariri cearense, melhor seria
caracterizada como revolta, pois não traria mudanças Em relação ao cultivo de algodão no Ceará, em 1860, é
profundas ou substanciais na região em que se produziu.” correto afirmar que:
A) realizou-se com a utilização, de forma generalizada,
da mão-de-obra escrava.
B) foram trazidos trabalhadores das áreas de seringais E) Os clubes eram formados por intelectuais descen-
decadentes, criando-se o SEMTA, Serviço Especial dentes dos velhos senhores da cafeicultura e da
de Mobilização de Trabalhadores do Amazonas. borracha, de origem rural e posições liberais.
C) foi realizado com parceiros, escravos e trabalhado-
res livres. 37.”A existência dessas hierarquias sociais nos eventos e
D) realizou-se a abolição prematura da escravidão, e se espaços públicos não foi novidade de fim de século.
ofereceram salários atraentes para os ex-escravos. Constituiu uma mentalidade enraizada no comporta-
E) foi introduzido por imigrantes norte-americanos, mento da cidade, em especial, uma ideia recorrente
provenientes das áreas algodoeiras. entre membros da elite. É muito provável que o final do
século tenha posto a nu as contradições sociais, face a
35.A grande seca de 1876-1879 teve uma magnitude pla- uma Fortaleza que integrava-se ao mercado internaci-
netária. Foi a primeira de três crises de subsistência onal através do algodão. Durante as secas ela recebia
que atingiram o mundo na segunda metade do século levas de migrantes do interior e sua elite queria ter, na
XIX. No Nordeste brasileiro ocorreu, entre 1877 e desprezível e insignificante região econômica de que
1879, um período de seca, sobre o qual se pode afir- fazia parte, uma ilusão moderna”.
mar corretamente que: (PIMENTEL FILHO, José Ernesto. A Aristocratização Provinciana em
Fortaleza: 1840-1890. Recife. Dissert. Mestrado-UFPE, 1995, p.89).
A) despertou, na classe dominante, solidariedade nun-
ca antes vista, pois compartilhou alimentos e habi-
No final do século XIX, Fortaleza passou por um pro-
tação com os flagelados.
cesso de remodelação urbana associada:
B) o período foi caracterizado pela concessão de em-
I. aos interesses das lideranças intelectuais em frear
préstimos para fins sociais, vindos, sobretudo da
“o progresso”, conservando o perfil provinciano da
Europa, e isso minimizou o sofrimento da população
cidade.
nordestina atingida pela seca.
II. aos interesses das elites locais em “civilizar” e “mo-
C) colocou entre as prioridades do governo a realiza-
dernizar” o espaço urbano, dando-lhe feições estéti-
ção das obras públicas necessárias a solucionar os
cas europeias.
problemas das secas futuras.
III. aos interesses de comerciantes em adequar o es-
D) os efeitos agravaram-se pela demora e insuficiência
paço da cidade às necessidades de seus negócios
dos socorros ministrados pelo Estado, que instau-
de importação/exportação.
rou os chamados socorros indiretos, isto é, que os
IV. aos interesses da administração pública em disci-
flagelados deviam trabalhar para receber os socor-
plinar o uso do espaço urbano por uma população
ros.
crescente.
E) as condições sanitárias foram garantidas pela vaci-
V. aos interesses dos artistas locais em preservar o
nação contra a varíola, o que evitou a disseminação
patrimônio arquitetônico colonial da cidade.
desta doença.
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
36.No Ceará, a segunda metade do século XIX foi um pe-
A) I e II.
ríodo de intensa atividade intelectual e política, multi-
B) II e III.
plicando-se os jornais e os clubes literários. Assinale a
C) IV e V.
opção que expressa corretamente alguns aspectos so-
D) III apenas.
ciais dessa efervescência cultural:
E) V apenas.
A) Os clubes eram formados por intelectuais descen-
dentes dos velhos senhores da pecuária e do algo-
38.“O epíteto Ceará Moleque estaria ligado à compulsão
dão, de origem rural e posições conservadoras.
popular pelo deboche e pela sátira, referência a uma
B) Os grêmios literários expressavam a emergência
incorrigível molecagem pública, presente em Fortaleza
dos setores comerciais em Fortaleza, constituindo
a partir do final do século XIX.”
uma elite intelectual ativa e atualizada. (FONTE: PONTE, Sebastião Rogério. Fortaleza Belle Époque: reforma urbana e
C) As atividades intelectuais eram, em verdade, frutos controle social (1860-1930). Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 2001).
48.Em segundo plano econômico, o setor secundário — as 53.A cidade de Fortaleza possui uma cultura muito pobre
indústrias — também é muito importante para a eco- e pouco diversificada, notadamente marcada pelos
nomia fortalezense. A cidade conta com vários centros elementos da região nordestina, sendo um dos princi-
industriais, com destaque para a indústria têxtil, ali- pais polos de produção cultural do Brasil. No municí-
mentícia, bebidas e beneficiamento de produtos primá- pio, destacam-se:
rios. Assim como Fortaleza, a região metropolitana da C E
cidade é um importante polo industrial do estado do
Ceará. 54.No que toca às manifestações culturais, há uma infini-
C E dade de eventos que marcam a grande diversidade
cultural da cidade. Notadamente, o Carnaval e as Fes-
49.O setor primário da economia, caracterizado pelas tas Juninas são os principais festejos fortalezenses. A
atividades agropecuárias, é predominante no municí- cidade é conhecida ainda como centro formador de
pio, em razão, dentre outros motivos, da indisponibili- humoristas, artistas locais que utilizam do humor para
dade de terras para o estabelecimento de cultivos a realização de apresentações culturais.
agrícolas. A prática agropecuária local é estritamente C E
voltada para a subsistência.
C E