SÍNTESE DE PROCESSOS QUÍMICOS

INDUSTRIAIS
AULA 4
 SÍNTESE DE PROCESSOS

Hierarquia das etapas da síntese (Modelo da Cebola)

Fonte: Notas de Aula da Profa. Caliane Costa

 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

Em processos químicos, normalmente há mais de um componente presente, o que

acarreta invariavelmente em um ou mais processos de separação.

Como separar exige inicialmente uma análise qualitativa do engenheiro, para depois
ser feita a análise quantitativa.
 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

Exemplos de exigências de separação:

1. Corte e solda de metais

 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

Para se cortar e soldar aço com um maçarico, é necessário aquecer este até
temperaturas altas com uma chama a cerca de 2000 oC. O combustível do maçarico
pode ser ou acetileno (etino) ou GLP e o comburente é, naturalmente, oxigênio.
Porém, se for utilizado ar atmosférico, para cada mol de oxigênio utilizado na
combustão existem cerca de 3,5 mols de nitrogênio na composição deste ar.
Normalmente, o nitrogênio pode ser considerado como inerte nas reações de
combustão, o que resulta em:

• Diminuição da velocidade de reação

• Redução da temperatura da chama da combustão, pois o nitrogênio “rouba” boa
parte da energia liberada para elevar a temperutara deste

Mesmo que se consiguesse aumentar a temperatura da chama até temperaturas altas,

a presença de nitrogênio passa a causar outros problemas, pois este deixaria de ser
um inerte, resultando em reações paralelas que geram subprodutos indesejáveis
(NOx’s).
 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

2. Produção de etanol

Comumente, o etanol é produzido pela fermentação de açúcar por leveduras em

dornas de fermentação. O produto gerado é conhecido como vinho fermentado.
 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

O vinho fermentado contém, além de uma mistura etanol e água, as próprias

leveduras. É necessário separá-las e depois purificar ao máximo o vinho
deslevedurado, retirando a água do etanol.

Por meio de colunas de destilação, é produzido o etanol hidratado que pode ter até
cerca de 88% de pureza.
 PROCESSOS DE SEPARAÇÃO

O etanol anidro usado como combustível em carros é produzido a partir do etanol

hidratado em outros processos de separação, uma vez que a mistura água-etanol
possui um ponto de azeótropo que impossibilita uma maior separação pela destilação.
 ETAPA DE SEPARAÇÃO

Então surge a primeira dúvida quanto ao processo de separação:

A separação deve ser feita antes ou depois da reação?

No exemplo do corte do aço, a separação do nitrogênio deve ser feita antes, senão
não se pode obter uma chama com temperatura alta suficiente para o corte.

No exemplo da produção de etanol, a separação só pode ser feita depois, pois as

leveduras fazem parte do processo reativo, e a água é necessária para as leveduras se
desenvolverem.

Note que neste segundo exemplo, deve se tomar cuidado onde se estoca as leveduras
(cuba), pois se houver outros microorganismos presentes no meio de reação, estes
competirão com as leveduras pelo açúcar podendo compremeter todo o processo
produtivo.
 PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA

Foi visto aqui duas situações em que a matéria-prima deve ser purificada:
• O oxigênio deve estar puro para ser usado para maçaricos, para evitar que o
nitrogênio “roube” o calor da reação
• Ambientes de crescimento de leveduras devem ser controlados, inclusive com uso
de antiobióticos, para evitar a presença de microorganismos competidores

Em quais situações a matéria-prima deve ser processada para que a reação possa
ocorrer?

As seguintes heurísticas sugerem este processamento quando:

• Se deve evitar a presença de componentes tóxicos ou perigosos presentes na
matéria-prima ou a formação destes componentes na etapa de reação;
• A exigência de pureza dos produtos acabados é alta;
• A presença de inertes ou reagentes indesejados gera tamanhos de reatores
excessivos ou até inviabiliza a reação.
 PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA

Outro exemplo de processo que exige etapas de preparo de matéria-prima:

No processo de produção de cloreto áurico (AuCl3), a matéria-prima muitas vezes é o

minério de ouro não processado, que possui impurezas como chumbo e prata. Devem
ser realizadas etapas anteriores para a separação do ouro do chumbo e da prata.

Dentre os 3 metais citados, o menos reativo é o ouro. O processo Miller consiste em

reagir este minério com gás cloro (Cl2) que reagirá primeiro com a prata e o chumbo (e
outros metais presentes):

2 Ag + Cl2  2 AgCl
Pb + Cl2  PbCl2

Após a remoção das impurezas do minério, o ouro reage também com gás cloro em
uma etapa posterior em ambiente aquoso para a formação da solução de cloreto
áurico.

A água deve ser desmineralizada para evitar contaminação de outros metais

dissolvidos!
 PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA

Dois dos reagentes mais comumente utilizados em processos químicos, oxigênio e

água, devem ser avaliados com critério qual o grau de pureza a ser utilizado. O ar
atmosférico contém mais nitrogênio que oxigênio, e água de rios ou chuvas contém
impurezas. Quando um processo químico requerer um desses reagentes, deve ser
avaliado o uso de oxigênio puro ou água tratada (destilada, deionizada,
desmineralizada).
 PREPARAÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA
Além de etapas de separação, a preparação da matéria-prima pode envolver outros
tipos de operações unitárias para que a reação possa ocorrer:

• Aquecimento (ou resfriamento)

• Diluição (ou concentração)
• Dissolução
• Pressurização (ou despressurização)
• Preparo mecânico

Exemplo, na fabricação de celulose, a etapa de reação é a digestão da madeira pelo

licor branco (Na2S + NaOH) formando as fibras e o licor negro (Na2SO4 + Na2CO3). Para
ocorrer a digestão, se a madeira não for processada adequadamente, sendo cortadas
em cavacos, não é possível ocorrer a digestão.
 PURIFICAÇÃO DOS PRODUTOS

Após a etapa da reação, quase sempre são necessárias etapas de separação.

Os principais motivos são:

• Separação dos produtos dos co-produtos e subprodutos

• Reaproveitamento dos reagentes
• Recuperação de solventes e/ou catalisadores

Além do exemplo da fermentação, há outros já mencionados em aulas anteriores:

• Síntese de benzeno – deve se separar primeiro o hidrogênio e o metano do

benzeno e tolueno, para depois se separar o benzeno do tolueno
• Síntese de cloreto de vinila – deve-se separar primeiro o gás cloro não reagido e
também o cloreto de hidrogênio, ambos componentes corrosivos, e depois separar
o cloreto de vinila do eteno
 TIPOS DE SEPARAÇÃO

Como separar as bolas azuis das vermelhas? Duas perguntas devem ser respondidas:
como elas estão misturadas e quais as diferenças entre estes dois tipos de bola.
 TIPOS DE SEPARAÇÃO

O tipo de separação a ser usado depende muito de como é a mistura. Os principais

tipos de mistura são:

• Suspensões (sólido-líquido ou gás-sólido)

• Soluções (sólido-líquido)
• Misturas (gás-líquido)
• Misturas (duas fases iguais)

Naturalmente, o tipo de separação vai depender das características dos componentes

misturados. Esses componentes terão pelo menos uma propriedade físico-química no
qual diferirão:

• Estado físico
• Volatilidade
• Densidade
• Tamanho de moléculas ou partículas
• Reatividade com componentes externos
• Afinidade com componentes externos
 SEPARAÇÃO DE SUSPENSÕES

Filtração – a corrente fluida atravessa um elemento filtrante que retém as partículas

sólidas. O filtrado é o fluido separado dos sólidos, enquanto a torta são os sólidos
retido. Note que o grau de pureza do filtrado ou da torta depende da eficiência do
filtro. Filtros normalmente geram tortas com alto teor de sólidos. Exige um
procedimento de limpeza do elemento filtrante.
 SEPARAÇÃO DE SUSPENSÕES

Decantação – a separação ocorre pela diferença de densidade entre o sólido e o

fluido. Em caso de suspensões líquidas, o sólido decantado pode conter alto teor de
líquido. Para evitar grandes volumes de decantadores, podem-ser adicionados ao
decantador componentes que aglutinem as partículas sólidas acelerando o processo.
Muitas vezes o sólido separado contém alto teor de líquido.
 SEPARAÇÃO DE SUSPENSÕES

Centrifugação – como a decantação, separa os sólidos do fluido por diferença de

densidade, porém o fluido percorre a centrífuga (ou ciclone) em alta velocidade em
uma trajetória circular, fazendo com que a acelaração centrífuga resulte na separação
do sólido do fluido. O sólido separado tem teor de líquido menor que aquele
resultante da decantação.
 SEPARAÇÃO DE SUSPENSÕES

Heurísticas para escolha de métodos de separação para de suspensões:

Se o que se deseja obter é o fluido purificado:

1. Se os sólidos suspensos forem mais densos que o fluido, os processos de

decantação e centrifugação são recomendados.
2. Se os sólidos suspensos forem menos densos, o processo de filtração é
recomendado por exclusão.
3. Se os sólidos suspensos não formarem flocos facilmente, os processos de
decantação e centrifugação são recomendados só se pela ação de um agente
floculador o problema de floculação for mitigado.
4. Se os sólidos suspensos forem grandes o suficiente, pode-se usar um processo de
gradeamento para reter esses sólidos.
5. A decantação é recomendada para suspensões com baixos teores de sólidos
suspensos.
6. Para gases com altos teores de sólidos suspensos, o uso de um ciclone é
recomendado.
 SEPARAÇÃO DE SUSPENSÕES

Heurísticas para escolha de métodos de separação para de suspensões:

Se o que se deseja obter é o sólido suspenso:

1. Se o teor de sólidos suspensos for baixo, é recomendado mais de uma etapa de

separação para se obter os sólidos.
2. A etapa final de separação deve ser de filtração (filtro-prensa, filtro tambor).
3. A remoção completa de um líquido do sólido deve ser feita por processo de
secagem.
 EXEMPLO 1

Tratamento de efluentes – efluente contaminado é tratado em uma lagoa aeróbia

onde bactérias degradam compostos orgânicos dissolvidos na presença de oxigênio
gerando água e dióxido de carbono. Só que o efluente tratado passa a conter lodo
aeróbio (aglomeração de bactérias ou outro microrganismo). Como separar o efluente
do lado aeróbio?

Sabendo que o efluente é o produto final desejado e este contém baixo teor de lodo,
que é mais denso que a água, o efluente deve passar por um decantador, que faz uso
de um agente floculante, que retira o lodo em uma suspensão concentrada com cerca
de 2% de lodo. Parte do lodo decantado é recirculado para a lagoa aeróbia, afinal o
lodo é um reagente, e parte deve passar por mais etapas de separação para se retirar
mais efluente. Note que para esta corrente de lodo decantado, o produto desejado é
o lodo desaguado. Primeiro, usa-se uma centrífuga para se retirar boa parte do
efluente da suspensão concentrada resultado no lodo centrifugado, que é uma
suspensão ainda mais concentrada. A filtração é o processo final que resultará em
uma torta com o mínimo de efluente possível, mas mesmo assim úmido. Se for
desejável obter o lodo seco, será necessária uma etapa de secagem.
 EXEMPLO 1

Tratamento de efluentes – efluente contaminado é tratado em uma lagoa aeróbia

onde bactérias degradam compostos orgânicos dissolvidos na presença de oxigênio
gerando água e dióxido de carbono. Só que o efluente tratado passa a conter lodo
aeróbio (aglomeração de bactérias ou outro microrganismo). Como separar o efluente
do lado aeróbio?
Efluente
Efluente
Tratado Efluente clarificado
contaminado
Digestão Decantação
+ lodo
aeróbio
(<1% peso)

Recirculação Efluente tratado

+ lodo aeróbio
Lodo desaguado (2% em peso)
(60% em peso)
Lodo
centrifugado Efluente
Filtração Centrifugação
Efluente
(25% em
peso)
 SEPARAÇÃO DE SOLUÇÕES

Precipitação e Cristalização – a precipitação ocorre quando se altera alguma condição

da solução (temperatura, pH) ou se adiciona algum outro componente a esta solução
resultando na alteração da constante de dissolução do sólido e consequentemente
uma condição no qual o sólido se torna menos solúvel ou insolúvel. A cristalização
pode ser feita ou por super-resfriamento ou por supersaturação. Em ambos casos,
ocorre a nucleação de cristais dos sólidos dissolvidos que passam a crescer de
tamanho e a precipitar. Na precipitação, o sólido precipitado tem estrutura amorfa,
enquanto na cristalização, como diz o nome, esse precipitado tem estrutura cristalina.
 SEPARAÇÃO DE SOLUÇÕES

Evaporação – pela adição de (bastante) energia, o solvente é evaporado resultando

em uma solução concentrada ou até mesmo no soluto sólido. Muitos sistemas de
evaporadores são formados por vários efeitos no qual a energia do vapor do solvente
gerado em um efeito é utilizada em outro efeito para evaporar parte do solvente.
 SEPARAÇÃO DE SOLUÇÕES

Osmose – a solução atravessa uma membrena semi-permeável que permite a

passagem do solvente mas não a do soluto. Utilizada quando a separação exige a
diluição da solução, como em tratamento de água e dessalinização. Não usa tanta
energia quanto o processo de evaporação, mas resulta em altos custos de
manutenção.
 TIPOS DE SEPARAÇÃO

Extração Líquido-Líquido – a solução entra em contato com um segundo solvente,

imiscível com o solvente da mistura a ser separada. O soluto é transferido de uma
solução líquida para o segundo solvente.
 SEPARAÇÃO DE SOLUÇÕES

Heurísticas para escolha de métodos de separação para de soluções:

Se o que se deseja obter é o líquido purificado:

1. Processos com alto dispêndio energético, como evaporação e secagem, devem ser
evitados.
2. Caso o soluto seja extramemente solúvel, métodos como osmose ou até extração
líquido-líquido devem ser analisados.

Se o que se deseja obter é o soluto purificado:

1. Antes de se precipitar ou cristalizar o soluto, a solução deve estar livre de sólidos

suspensos.
2. Na presença de um outro soluto, este deve ser precipitado ou cristalizado antes da
separação do soluto principal.
3. Usar um processo de concentração da solução, como evaporação, antes de se
precipitar o soluto.
4. Para se obter o soluto puro, uma etapa final de secagem deverá ser prevista.
 EXEMPLO 2

Produção de açúcar – a moagem da cana de açúcar gera o caldo de cana que é rico em
glicose e contém também sólidos suspensos. Como fazer para obter açúcar a partir do
caldo?

Deve se notar que o caldo da cana moída contém um quantidade considerável de

sólidos suspensos que devem ser retirados. O caldo deve passar primeiro por um
decantador (ou clarificador) para retirar estes sólidos suspensos. Os sólidos
decantados são filtrados posteriormente para que possam ser aproveitados como
combustível de caldeira. O caldo clarificado é uma solução relativamente diluída e o
próximo passo deve ser o de se concentrar esta solução, o que é efeito em um
evaporador de múltiplos estágios. A solução concentrada, conhecida como xarope,
passa por um cristalizador a vácuo, onde também ocorre evaporação de água residual,
concentrando o xarope. Para finalizar o processo de produção de açúcar, o xarope
concentrado é centrifugado para se retirar o máximo de água antes da etapa final que
é a secagem.
 EXEMPLO 2

Produção de açúcar – a moagem da cana de açúcar gera o caldo de cana que é rico em
glicose e contém também sólidos suspensos. Como fazer para obter açúcar a partir do
caldo?
 EXERCÍCIOS
1. Um efluente industrial contém os seguintes contaminandes suspensos e dissolvidos:

Componente Tipo de mistura Característica

A Dissolvido
B Dissolvido
C Suspenso
D Suspenso
E Dissolvido
Mais solúvel a altas temperaturas
Mais solúvel a baixas temperaturas
Mais denso que o líquido
Menos denso que o líquido
Extremamente solúvel

Para cada componente listado a seguir, faça um diagrama de blocos único para se
obter este componente puro:
• Componente A
• Componente C
• Efluente tratado

2. Considere o processo de síntese de ácido acético a partir da oxidação de etanol.

Faça o diagrama de blocos completo de todas as etapas envolvendo reação e
separação.
C2H5OH + O2  CH3COOH + H2O