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Universidade Presbiteriana

Neurociência
Aplicada à
Educação e
Aprendizagem 3
módulo

Neurociências e Intervenções
Preventivas
Trilha 8 Prevenção na velhice
Sumário

1 Introdução ao estudo da trilha de aprendizagem p. 4


2 O envelhecimento p. 5
3 Osteoporose e risco de quedas p. 13
4 Síntese p. 21
5 Referências p. 24
4
Introdução ao
estudo da trilha de
aprendizagem

Nesta trilha, estudaremos em maiores detalhes algumas


questões relativas à velhice, alguns de seus principais
fatores de risco e problemas característicos dessa etapa do
ciclo de vida. Mais especificamente, compreenderemos os
aspectos que envolvem o processo de envelhecimento, muito
marcado por perdas físicas, cognitivas e sociais, podendo
afetar a saúde e qualidade de vida dos indivíduos idosos.
Nesse sentido, devido a maior debilidade física, muitos
idosos são afetados por quedas, podendo sofrer fraturas
graves. O risco de quedas se torna ainda maior quando os
idosos têm osteoporose, um quadro marcado pela perda de
massa óssea, deixando-os mais vulneráveis a fraturas. Outro
quadro que os idosos são mais propensos a apresentar é a
Doença de Alzheimer, caracterizada por declínio cognitivo
afetando a memória, outras funções cognitivas, a autonomia e
funcionalidade dos indivíduos.

Além de compreendermos melhor os fatores de risco e


características desses problemas, estudaremos também
intervenções precoces para esses quadros de saúde. Assim,
com esta última trilha, concluiremos o estudo de intervenções
preventivas destinadas a diferentes problemas de diferentes
faixas etárias.

Espera-se que, ao final desta trilha e ao concluir este


componente, vocês estejam preparados para identificar
alguns dos principais fatores de risco e de proteção que
exercem influências no desenvolvimento humano, e que
estejam capacitados a atuar de forma preventiva, propondo
intervenções adequadas e efetivas para cada problema a ser
prevenido.
5
O envelhecimento

Envelhecimento

A velhice pode ser definida como a última fase de vida,


iniciada a partir dos 60 anos de idade para indivíduos de
países em desenvolvimento e a partir dos 65 anos para
indivíduos de países desenvolvidos. A entrada na velhice
demarca direitos e acessos especiais para indivíduos nessa
faixa etária. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE, 2019), o Brasil tem mais de 28 milhões de
pessoas idosas, isto é, com mais de 60 anos, representando
13% da população do país. Estima-se que essa população
cresça mais a cada ano, o que torna evidente a necessidade
de atenção especial para as necessidades dessa população.

! O envelhecimento pode ser considerado um fenômeno


multidimensional, uma vez que esse processo envolve
aspectos biológicos, sociais, psicológicos, culturais e
existenciais. Trata-se de um processo natural que pode
ou não incluir adoecimentos; entretanto, de modo geral, a
velhice tende a fazer com que os indivíduos repensem suas
vidas, de modo que os sujeitos modificam a relação com sua
própria história, com o tempo e com o mundo.

A velhice é marcada também tanto por ganhos, isto é,


acúmulo de experiências, conhecimentos e sabedoria,
quanto por perdas, sejam elas físicas, cognitivas ou sociais.
É esperado que na velhice haja um declínio da saúde física,
como redução da visão, audição, flexibilidade e aumento
da fragilidade; redução de habilidades cognitivas, como da
memória e capacidades visoespaciais; bem como perdas
sociais, marcadas muitas vezes pela aposentadoria, pela
saída dos filhos de casa ou, até mesmo, morte de amigos
e parentes. Essas mudanças podem levar a restrições no
convívio social, viuvez e solidão, afastamento das atividades
6 laborais e produtivas, reduções na renda financeira, abalos
no senso de utilidade, perda de papéis sociais valorizados,
declínio dos padrões de beleza valorizados e do vigor físico,
aparecimento de doenças e perda da perspectiva de futuro.
Todos esses aspectos, sejam biológicos, psicológicos ou
sociais, podem impactar significativamente na qualidade de
vida dos indivíduos, vindo a contribuir para o surgimento de
resultados negativos.

Assim, vamos estudar então alguns fatores de risco para


alguns quadros que frequentemente acometem os indivíduos
idosos e formas de preveni-los, seja para evitar seu
surgimento e/ou seu agravamento, visando a minimização dos
danos e maximização de resultados positivos de saúde.

Transtorno Neurocognitivo (TNC)

Segundo o Manual de Diagnóstico Estatístico de Transtornos


Mentais (DSM-5), o transtorno neurocognitivo (TNC)
frequentemente acomete idosos. O TNC é caracterizado
por uma série de prejuízos cognitivos e funcionais, sendo
que ele pode ser categorizado em TNC Leve e TNC Maior.
Ambos os subtipos de TNC implicam em declínio em um ou
mais dos seguintes domínios cognitivos: atenção, funções
executivas, aprendizagem e memória, linguagem, habilidades
perceptomotoras ou cognição social. Enquanto o declínio na
TNC Leve é considerado pequeno, o declínio na TNC Maior é
considerado significativo. Os critérios diagnósticos para cada
quadro são apresentados na Tabela 1.

TNC Leve TNC Maior

Preocupação do indivíduo, de um Preocupação do indivíduo, de um


informante com conhecimento ou do informante com conhecimento ou do
clínico, de que ocorreu declínio na função clínico, de que há declínio significativo na
cognitiva. função cognitiva.

Tabela 1 - Critérios
Prejuízo substancial no desempenho
Prejuízo pequeno no desempenho
diagnósticos para cognitivo, de preferência documentado
cognitivo, de preferência documentado
por teste neuropsicológico padronizado
o TNC Leve e o por teste neuropsicológico padronizado
ou outra avaliação quantificada.
ou por outra investigação clínica
quantificada.
TNC Maior. Fonte:
Elaborado pelo autor.
7 Dessa maneira, os déficits cognitivos no TNC Leve não
interferem significativamente na capacidade de autonomia
dos indivíduos, assim, embora possa haver necessidade de
maior esforço e estratégias compensatórias, os indivíduos
com TNC Leve são capazes de continuar realizando suas
atividades diárias apesar do declínio cognitivo. Assim,
geralmente, sujeitos com TNC Leve relatam que a realização
das tarefas estão mais difíceis ou demandam mais tempo
e esforço ou estratégias compensatórias. Já os déficits
cognitivos no TNC Maior impactam significativamente
a vida dos indivíduos, interferindo na sua autonomia e
independência diária. Dessa forma, sujeitos com TNC Maior
precisam de apoio para a conclusão de tarefas diárias.
Ressalta-se ainda que a gravidade do TNC ocorre em um
contínuo, assim, é difícil estabelecer limiares precisos para
diferenciar a TNC Leve e a TNC Maior.

Ambos os graus de TNC podem ter diversos subtipos,


conforme apresentado na Figura 1.

Doença de
Alzheimer

Múltiplas Infecção por


etiologias HIV

Outra
condição
médica
TNC Doença de
Parkinson

Lesão cerebral Doença de


traumática Huntington

Figura 1 - Diferentes Doença


subtipos de TNC. vascular
Fonte: Elaborado
pelo autor.
8 Estima-se que 7% dos idosos com idades entre 65 e 74 anos
sejam acometidos pela Doença de Alzheimer (DA), 53% dos
idosos com idades entre 75 e 84 anos e 40% dos idosos
com 85 anos ou mais. Também se estima que a prevalência
desse quadro quase dobre quando o indivíduo ultrapassa dos
65 anos. Esses dados, portanto, evidenciam a importância
de uma adequada prevenção e tratamento da Doença de
Alzheimer.

Doença de Alzheimer (DA)

Os critérios para diagnóstico da Doença de Alzheimer são os


mesmos para o TNC Leve e Maior, sendo que o surgimento
dos sintomas é insidioso e sua progressão é gradual. A
Doença de Alzheimer pode ser classificada entre provável
ou possível. Para ser considerada provável, deve haver
evidências de mutação em alguns dos genes causadores da
doença - amiloide (APP), presenilina 1 (PSEN1) ou presenilina
2 (PSEN2) – comprovados com a realização de testes
genéticos ou histórico familiar, e a presença das seguintes
características: (I) prejuízo claro na memória e aprendizagem,
(II) declínio progressivo e gradual nas capacidades cognitivas,
e (III) ausência de evidências de que a causa dos prejuízos
se deva a outras doenças ou acidentes. Caso esses três
aspectos estiverem presentes, porém não houver evidências
de alterações genéticas, o quadro deve ser considerado como
possível.

A progressão da Doença de Alzheimer pode ser dividida em


três estágios, sendo eles o estágio inicial, intermediário e
tardio. O estágio inicial é caracterizado por esquecimentos,
perda da noção de tempo e os indivíduos podem se perder
em lugares que lhes são familiares; o estágio intermediário
é marcado por esquecimentos de eventos recentes e nomes
de pessoas familiares, maior dificuldade com a comunicação,
e os indivíduos podem se perder dentro de casa, apresentar
mudanças de comportamento e questionamentos repetitivos,
sendo necessária maior necessidade de ajuda com os
cuidados pessoais; já no estágio tardio, os indivíduos
9 podem apresentar inconsciência da hora e do lugar em que
estão, dificuldades para se locomover, não reconhecimento
de parentes e amigos próximos, mudanças mais bruscas
de comportamento, podendo incluir agressão e maior
necessidade de assistência nos cuidados pessoais.

+ Dica de filme: “Para Sempre Alice”, do ano de 2016, dirigido


por Richard Glatzer e Wash Westmoreland. Nesse filme, é
possível verificar alguns aspectos da progressão da Doença
de Alzheimer e como ela impacta a vida não apenas do
sujeito que a apresenta, mas também de seus parentes.

Alguns dos principais fatores de risco para a Doença de


Alzheimer são identificados nos âmbitos biológicos –
histórico familiar, sexo feminino, idades avançadas e presença
de outras doenças, como hipertensão, diabetes e obesidade
–, psicológicos – presença de depressão e ansiedade –,
comportamentais – tabagismo, alcoolismo, não realização de
atividades físicas, alimentação pouco saudável – e ambientais
– baixa escolaridade e nível socioeconômico, contribuindo
para uma menor reserva cognitiva e menores chances de
acesso a serviços educacionais ou de saúde de qualidade.

Sabe-se também que indivíduos com a Doença de Alzheimer


apresentam alterações cerebrais, como a grande perda
sináptica e morte de neurônios no córtex cerebral e no
hipocampo, região cerebral relacionada à memória. Além
disso, indivíduos com a doença apresentam degeneração nos
neurônios colinérgicos, relacionados ao neurotransmissor
da acetilcolina, sendo este crucial na propagação do impulso
nervoso.
10

Figura 2 - À
esquerda, cérebro
saudável; à direita,
cérebro com Doença
de Alzheimer, no
qual é possível notar
a redução cerebral.
Fonte: MANSEL;
FROSS; ROSE
([s./d.], p. 9).

Intervenções preventivas

A fim de prevenir o declínio cognitivo e risco de demências,


a Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu um
guia com recomendações sobre práticas e hábitos de vida
que a população pode implementar. De modo geral, as
orientações visam o estabelecimento de um estilo de vida
balanceado, visando a promoção de saúde. Nesse sentido,
recomenda-se que, para prevenção do declínio cognitivo,
sejam realizadas intervenções com atividades físicas e
intervenções nutricionais, priorizando uma alimentação com
estilo mediterrâneo, isto é, priorizando o consumo de frutas,
vegetais, grãos, peixes e laticínios com baixo teor de gordura,
bem como de alimentos com vitamina D e ômega-3. A OMS
também recomenda intervenções para parar de fumar e
reduzir a ingestão de álcool para populações que apresentam
esse hábito. O guia também evidencia a importância
do envolvimento em atividades sociais e cuidados de
saúde, visando o controle de peso, hipertensão diabetes
e depressão. Finalmente, intervenções que estimulem as
habilidades cognitivas também são recomendadas.
11 Nesse sentido, podem ser implementadas intervenções
! denominadas de Treinos cognitivos ou Reabilitação
cognitiva. O Treino cognitivo tem o objetivo de manter ou
melhorar habilidades cognitivas específicas, evitando o
declínio dessas habilidades, assim, as intervenções são
realizadas em ambientes estruturados e controlados, sendo
que as atividades podem ocorrer individualmente ou em
grupo. Já a Reabilitação cognitiva visa auxiliar os pacientes
a manterem sua relativa autonomia diária, portanto, as
atividades costumam ser realizadas individualmente e
focam-se na realização de tarefas cotidianas que devem ser
realizadas pelos indivíduos, sendo que a implementação
desta intervenção deve ocorrer em ambientes reais
(MIOTTO, 2015).

Estudos também têm investigado possíveis benefícios de


intervenções medicamentosas como uma forma de prevenção
à Doença de Alzheimer. Nesse sentido, as revisões de Szekely
e colaboradores (2004) e de Wang e colaboradores (2015)
concluíram que drogas anti-inflamatórias não esteroides
apresentam indícios de efetividade na redução de risco
para Alzheimer, entretanto, os estudos ressaltam que mais
pesquisas sobre o tema devem ser feitas, a fim de que uma
maior compreensão sobre a questão seja obtida, até porque
a quantidade de estudos incluídos em ambas as revisões
foi limitada, sendo que Szekely e colaboradores (2004)
incluíram apenas 11 estudos e Wang e colaboradores (2015)
incluíram 18 estudos em sua revisão. Em concordância com
as recomendações da OMS, a revisão sistemática de Hill e
colaboradores (2019) também encontrou evidências, ainda
que pequenas, mas significativas de que uma alimentação
rica em frutas, legumes e grãos inteiros, com suplementação
fólica, de vitamina D e ômega-3, bem como redução de
consumo de alimentos com alto teor glicêmico e alto teor de
gordura saturada, auxilia na prevenção do Alzheimer.

Assim, quando falamos em prevenção da Doença de


Alzheimer, devemos ter em mente a importância de um
estilo de vida equilibrado e saudável. Sabemos também
12 que não há uma cura para a doença, porém os tratamentos
disponíveis, farmacológicos ou não farmacológicos, podem
oferecer grandes benefícios ao evitar a progressão acelerada
da doença, priorizando a estimulação cognitiva dos pacientes
e a manutenção de sua autonomia, bem como ao trabalhar
com os familiares do paciente, fornecendo apoio psicológico
e orientações, uma vez que, devido ao quadro debilitante
da doença, os familiares costumam sofrer juntamente com
o paciente, havendo grande sobrecarga emocional. Nesse
sentido, é importante que eles recebam informações sobre a
doença e sejam orientados sobre como lidar com situações
diárias, a fim de que possam auxiliar adequadamente seus
parentes acometidos pela doença e, quando possível,
intervenções nas quais se proporcionem trocas de vivências
com outras pessoas em situações semelhantes também são
recomendadas. Evidencia-se assim, a importância de um
tratamento multiprofissional, uma vez que a doença pode
impactar diversas áreas da vida do paciente, bem como
daqueles que o cercam.
13
Osteoporose e risco de
quedas

Osteoporose

! Como vimos no início desta trilha, o envelhecimento é


marcado por uma série de mudanças, sendo que uma das
mais evidentes se refere ao declínio físico dos indivíduos
idosos. Nesse sentido, um quadro frequentemente
identificável entre os idosos é a osteoporose. A osteoporose
é caracterizada pela redução da massa óssea e deterioração
da microarquitetura do tecido ósseo. Com esse quadro, a
fragilidade do osso aumenta e os sujeitos, juntamente com
alguns riscos ambientais que serão estudados, tornam-se
mais suscetíveis a quedas e fraturas.

Sabemos que 99% do cálcio presente no corpo humano pode


ser encontrado nos ossos e este componente é fundamental
para fornecer rigidez ao esqueleto. O osso humano está em
contínuo processo de reabsorção e formação. Esse processo
é conhecido como remodelagem óssea. Os osteoblastos
e osteoclastos – células ósseas – realizam essa atividade
de remodelagem óssea, sendo que os osteoblastos são
responsáveis pela sintetização dos componentes da matriz
óssea, enquanto os osteoclastos são responsáveis pela
remodelação, promovendo escavações na superfície dos
ossos. Dessa forma, quando os osteoclastos criam cavidades
excessivamente profundas, de modo que os osteoblastos não
são capazes de preencher as cavidades formadas, surge a
osteoporose.
14

Figura 3 - Estágios
de agravamento da
osteoporose, na qual
se pode observar a
redução da massa
óssea. Fonte:
LABORATOIRES
SERVIER (2019).

Alguns dos principais fatores de risco envolvidos na


osteoporose são: ser do sexo feminino; apresentar baixa
massa óssea prévia; histórico familiar de osteoporose;
envelhecimento; e menopausa antes dos 40 anos de idade,
uma vez que esta promove a diminuição de estrógenos e
acelera a perda óssea. Outros fatores menos associados à
osteoporose envolvem: amenorreia primária ou secundária em
mulheres, isto é, ausência de menstruação; hipogonadismo
primário ou secundário em homens, ou seja, produção de
testosterona reduzida; perda de peso após os 25 anos ou IMC
baixo (< 19); dieta pobre em cálcio; hábitos como tabagismo,
alcoolismo e sedentarismo; doenças ou uso de medicamentos
que favorecem a perda óssea; e imobilização física por longos
períodos.

Estima-se que a osteoporose acometa 1 em cada 4


mulheres e 1 em cada 8 homens acima de 50 anos. Em
mulheres que já atingiram a menopausa, a prevalência gira em
torno de 15% a 33%. Também se estima que a osteoporose
seja responsável por cerca de 85% das fraturas devido a
quedas em idosos. Geralmente, as fraturas na população
idosa ocorrem nos punhos, vértebras, quadril ou fêmur.
Especificamente as fraturas no quadril e fêmur tendem a
apresentar as piores consequências; 50% dos idosos com
esse tipo de lesão ficam incapacitados de andar normalmente
sem auxílio, 25% necessitam de cuidados de longa duração
15 e entre 10% e 20% acabam falecendo nos 6 meses seguintes
à fratura. Dessa forma, fica evidente a necessidade de
prevenção a este quadro.

Entretanto, antes de abordarmos a prevenção à osteoporose,


veremos como a associação deste quadro com o risco de
quedas pode levar a diversos prejuízos para os idosos.

Risco de quedas

Além da osteoporose, outros fatores muitas vezes referentes


à inadequação do ambiente físico também podem contribuir
para um risco aumentado de queda em idosos e eventuais
consequências negativas advindas das quedas.

Outras
Declínio físico: consequências
-Perda da negativas:
Figura 4 - Processo Processo de massa óssea e
Inadequação
do ambiente
Risco
elevado Lesões e -Imobilização
envelhecimento muscular e perda fraturas -Dependência e
de acúmulo de do equilíbrio
físico para quedas
perda da autonomia
postural -Maior isolamento
fatores de risco na e depressão

velhice, favorecendo
quedas e demais
consequências
negativas. Fonte:
Elaborado pelo autor.

! Assim, além destes, outros fatores de risco para quedas


envolvem: idades avançadas, sexo feminino, doenças
crônicas, sistema neuromuscular prejudicado, uso de
diversos medicamentos concomitantemente, histórico
prévio de quedas e ambiente físico inadequado. A
inadequação do ambiente físico refere-se à presença de
obstáculos que podem atrapalhar a locomoção dos idosos,
sendo estes representados muitas vezes por escadas, pisos
lisos e escorregadios, tapetes soltos ou com as bordas
dobradas, baixa iluminação no ambiente, objetos nos locais
de passagem, uso de calçados inadequados, assentos
16 baixos, como em cadeiras, vaso sanitário ou cama, e boxe ou
banheira sem barras de apoio.

Estima-se que 30% de idosos com 65 anos ou mais


sofram quedas a cada ano, essa porcentagem sobe
para 32% a 42% em idosos com mais de 70 anos e para
50% em idosos com mais de 80 anos. Uma série de
consequências negativas podem surgir em decorrência de
quedas. Mais de um quarto dos idosos que sofrem quedas
passam a apresentar redução em sua funcionalidade após
o evento; por volta de 5% das quedas resultam em fraturas;
as quedas também estão associadas a 12% das mortes entre
idosos, sendo a 5ª causa de morte mais frequente na velhice
e 1ª devido a fatores externos. Embora mulheres apresentem
um risco cerca de três vezes maior para quedas, de modo
geral, os homens apresentam maior mortalidade devido a
quedas.

Dessa maneira, ao prevenir quedas em idosos, previnem-se


também outras eventuais consequências negativas e, até
mesmo, a mortalidade nessa população.

Prevenção

Como vimos, a osteoporose é um quadro que pode aumentar


o risco de ocorrência de resultados indesejáveis, como
maior susceptibilidade a fraturas, que, por sua vez, podem
incapacitar a autonomia dos idosos. Nesse sentido, é
importante que ela seja prevenida.

De modo geral, quando falamos em prevenção à osteoporose,


as principais intervenções estudadas e recomendadas
envolvem a prática de atividades físicas e uma nutrição
adequada.

A revisão de Santos e Borges (2010) identificou que os


exercícios que apresentaram melhores indícios de benefícios
na prevenção da osteoporose foram atividades aeróbicas,
de alto impacto e intensidade. Assim, atividades físicas
17 que expõem os ossos a episódios de estresse controlados e
adequados propiciam maior rigidez e fortalecimento ósseo.
Portanto, práticas esportivas como futebol ou corridas
de velocidade, quando combinadas com exercícios de
fortalecimento muscular, tendem a prevenir a perda de
massa óssea, aumentar a aptidão física e reduzir efeitos da
menopausa.

Em relação ao tratamento da osteoporose, o mesmo estudo


verificou melhores evidências de que exercícios de extensão
isométrica de tronco, exercícios em cadeia cinética aberta
e exercícios de coordenação e equilíbrio promovem os
melhores resultados. Os exercícios de extensão isométrica
de tronco melhoram a densidade óssea das vértebras e
fortalecem a musculatura das costas, diminuindo o risco
de fraturas nas vértebras; os exercícios em cadeia cinética
aberta foram efetivos para o fortalecimento dos músculos
da coxa, prevenindo fraturas no fêmur; e exercícios de
coordenação e equilíbrio foram efetivos na promoção de
equilíbrio dinâmico e estático, prevenindo também quedas e
consequentes eventuais fraturas.

Essas atividades físicas, quando realizadas de 2 a 3 vezes por


semanas com duração de 30 a 60 minutos por sessão, foram
suficientes para apresentar evidências de que são efetivas na
prevenção ou tratamento da osteoporose.
18

Figura 5 - Extensão
isométrica do
tronco, exercício
de cadeira cinética
aberta e exercício
de coordenação e
equilíbrio. Fonte:
GRAY (2016);
EVERKINETIC (2010);
VÍLCHEZ (2008).

Intervenções nutricionais também têm sido estudadas


para a prevenção e tratamento da osteoporose (HEJAZI et
al., 2020). Nesse sentido, o cálcio, por ser um dos principais
componentes ósseos, deve ser consumido adequadamente.
Além disso, a vitamina D é fundamental para garantir a
absorção de cálcio pelo organismo, isso porque essa
vitamina é uma precursora de um hormônio necessário para a
manutenção, crescimento e desenvolvimento do tecido ósseo.
Sabe-se ainda que o consumo adequado desses nutrientes
durante a juventude tem um importante papel na prevenção
19 do quadro quando mais velhos, uma vez que no final da
adolescência alcança-se o pico máximo da densidade óssea,
funcionando como uma reserva para o futuro.

! Uma das principais formas naturais de obtenção de cálcio


refere-se ao consumo de alimentos como: leite e derivados,
tofu, vegetais com folhas verde-escuras, como mostarda
e espinafre, por exemplo, legumes como a soja ou a batata
doce, nozes e peixes como sardinha e salmão. Além disso,
atualmente também dispomos de alimentos ou suplementos
muitas vezes enriquecidos com cálcio que também podem
auxiliar na absorção deste nutriente.

Ressalta-se, entretanto, que, embora o consumo de cálcio


e vitamina D sejam os tratamentos de primeira linha para
prevenção e tratamento da osteoporose, e apesar de seus
benefícios, essa intervenção não deve ser considerada
como uma terapia única. Além disso, como o processo
de remodelamento ósseo é lento, os efeitos benéficos do
consumo adequado de cálcio são observados apenas em
longo prazo, geralmente entre 6 e 18 meses (BEDANI & ROSSI,
2005).

Além de a prevenção à osteoporose também funcionar


indiretamente como prevenção ao risco de quedas, outras
estratégias também podem ser efetivas para evitar esse
evento e suas consequências adversas.

Nesse sentido, o estudo de Falsarella, Gasparotto e Coimbra


(2014) apresenta as principais intervenções para prevenção
de quedas em idosos de acordo com seu nível de evidências
de efetividade. Assim, as intervenções com maiores níveis
de evidência que devem ser recomendadas envolvem
modificações e adaptações no ambiente doméstico visando
a redução de obstáculos, incorporação de exercícios físicos
para aumento de força física, equilíbrio, flexibilidade e maior
desenvoltura para caminhar, suplementação de vitamina D
e, quando necessário, realizar intervenções específicas por
profissionais de saúde. Intervenções com um menor nível
20 de evidências, que podem ser recomendadas, envolvem a
retirada ou redução da dosagem de medicamentos quando
possível.
21
Síntese

Nesta trilha, pudemos estudar mais sobre o processo de


envelhecimento, suas principais características e principais
fatores de risco que podem se apresentar nessa etapa
do ciclo de vida, favorecendo a ocorrência de resultados
indesejáveis. Vimos que, naturalmente, os idosos apresentam
declínios na cognição e saúde física, entretanto, quando
esses declínios ocorrem de forma mais acelerada que o
normal, eles podem levar a quadros debilitantes de saúde.

Nesse sentido, vimos que o declínio nas habilidades


cognitivas, especialmente na memória, pode levar ao
surgimento da Doença de Alzheimer. Por outro lado, um
dos declínios físicos comuns entre idosos refere-se à perda
de massa óssea, aumentando o risco de osteoporose. A
osteoporose, por sua vez, juntamente com riscos ambientais,
como a disposição de objetos em passagens, pisos lisos e
escorregadios, tapetes, falta de apoios em banheiros etc.
podem aumentar significativamente o risco de quedas e
consequentes fraturas.

Tanto a Doença de Alzheimer quanto a osteoporose e


quedas em idosos são quadros que podem debilitar
significativamente a autonomia e independência desses
indivíduos, de forma que muitos acabam necessitando de
auxílio de familiares ou profissionais para realizarem suas
tarefas diárias. Fica evidente, portanto, a relevância da
prevenção a tais quadros e estes, quando constatados,
devem ser tratados para prevenir o agravamento das
consequências negativas.

Dessa maneira, vimos que uma das principais formas de


prevenção à Doença de Alzheimer envolve o estabelecimento
de hábitos saudáveis de vida, com uma dieta balanceada e
prática de atividades físicas, por exemplo. Treinos cognitivos,
22 reabilitação cognitiva e medicamentos também são
intervenções viáveis para o Alzheimer. Além de intervenções
desenvolvidas com os próprios pacientes, também são
recomendadas intervenções com seus familiares para que
eles recebam informações relevantes sobre a doença e sejam
orientados sobre a melhor forma de lidar com ela.

Já em relação à prevenção da osteoporose e quedas em


idosos, vimos que as principais estratégias envolvem
intervenções nutricionais, priorizando um consumo
adequado de cálcio e vitamina D, bem como intervenções
baseadas em atividades físicas. Essas formas de intervenção
favorecem o aumento da densidade de massa óssea e rigidez
dos ossos, reduzindo assim as chances de osteoporose.
Com ossos menos frágeis, reduz-se também o risco de
fraturas decorrentes de eventuais quedas. Assim, além
de a prevenção e tratamento à osteoporose funcionarem
também como prevenção a quedas e fraturas em idosos,
outra intervenção preventiva a esta questão envolve também
a adaptação de ambientes físicos, priorizando a remoção de
obstáculos que podem atrapalhar a locomoção dos idosos,
reduzindo o risco de tropeços e quedas.

Lembrem-se ainda de assistir à videoaula, ouvir a entrevista


no audioblog e realizar a atividade de fixação desta trilha.

Ao concluirmos a oitava e última trilha, concluímos também


este componente! Nele, pudemos estudar o que é prevenção,
sua importância para nossas vidas e analisar algumas formas
de prevenção para problemas típicos de cada etapa do ciclo
de vida. Sempre que intervimos precocemente, evitamos a
progressão dos problemas e aumentamos as chances de
recuperação ou de agravamento dos quadros, obtendo os
melhores resultados de saúde possíveis.

Assim, esperamos que vocês estejam mais capacitados


para identificar possíveis fatores de risco, que favorecem
o surgimento ou agravamento de resultados indesejáveis,
e também os possíveis fatores protetores, que atenuam os
23 riscos e promovem melhores resultados de saúde, para, com
base nesses conhecimentos, proporem intervenções efetivas
em suas práticas profissionais!
24
Referências

Bibliografia básica

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual


diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5.
5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

SLOBODA, Z.; PETRAS, H. Defining Prevention Science. 1ª


ed. Springer, 2014. (Chapter 5 Stressors and Vulnerabilities in
Middle and Old Age: Opportunities for Prevention)

Bibliografia complementar

BEDANI, R.; ROSSI, E. O consumo de cálcio e a osteoporose.


Semina: Ciências Biológicas e da Saúde, v. 26, n. 1, p.
3-14, 2005. Disponível em: <https://www.researchgate.
net/publication/277072823_O_consumo_de_calcio_e_a_
osteoporose>. Acesso em: 13 set. 2021.

EVERKINETIC. Leg Extension. Wikimedia Commons, 2010.


Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/
File:Leg-extensions-1-672x1024.png>. Acesso em: 13 set.
2021.

FALSARELLA, G.; GASPAROTTO, L.; COIMBRA, A. Quedas:


conceitos, frequências e aplicações à assistência ao idoso.
Revisão da literatura. Rev. bras. geriatr. gerontol. v. 17,
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GRAY, J. Trunk Extension Exercise Progressions.


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