Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Henry Mintzberg
Bstrutura e Dinâmica
· das Organizações
•
•
•
•
•
•
•
~estão ~ Inovação) :
Publicações Dom Quixote
Ciências de Gestão •
•
Como é que as organizações se estruturam? 4
Esta questão é respondida de uma maneira lõgica em
Estrutura e Dinâmica das Organizações.
Uma síntese da literatura empirica nesta área, apoiada
por numerosos exemplos e ilustrações, fornece imagens que
produzem uma teoria.
O autor introduz cinco configurações de estrutura bási·
cas - a Estrutura Simples, a Burocracia Mecanicista, a Buro·
cracia Profissional, a Estrutura Divisionalizada, e a Adhocra·
cia. Escrito num estilo dinâmico, este livro revela que a
estrutura parece estar na raiz de muitas questões acerca das
organizações e o parqué do actual funcionamento delas.
HemyMintzberg, que possui o Ph.D.
da Sloan School do Massachusetts Ins-
titute of Technology, é professor na
faculty of Management, Mcgill Univer-
sity em Montreal, Canadá, e é. conhe- .
cido pela sua investigação em trabalho
empresarial, decisão estratégica e for-
mação estratégica. O Dr. Minztberg
escreveu numerosos artigos para
publicações na área empresarial.
Ganhou o prémio McKinsey pelo
melhor artigo da Harvard Business
Reviewde 1975.
COLECÇÃO GESTÃO & INOVAÇÃO
SÉRIE CIÊNCIAS DE GESTÃO
Títulos Publicados:
COMPREENDER O CONSUMIDOR
Bernard Dubois
a publicar:
A GESTÃO DAS TECNOLOGIAS
Jean Michel Ribaull. Bruno Martinet, Daniel l.ebidols
SÉRIE MACROTENDÊNCIAS
Titulas publicados:
MANUAL DE PROSPECTIVA ESTRATÉGICA -
- Da Antecipação à Acção
Michel Godet
A publicar:
THE EUROPEAN CHALENGERS POST - 1992
Alexis Jacquesmin and David Wright
A publicar:
~ gKrlg:r~~~b?Ã'f E PREVENTIVA DO EMPREGO
Dominique Thieny, Chrtstian Sauret
Colecção «Gestão e Inovação»
Série «Ciências de Gestão»
Colecção dirigida pelos professores do [SCTE - Instituto
Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa:
ESTRUTURA E DINÂMICA
DAS ORGANIZAÇÕES
ISBN: 972-20-1147-2
íNDICE
PREFÁCIO. II
NOTA AO LEITOR ......... ............................ . 15
Capítulo I - A essência da estrutura 19
Escrevo antes de tudo para mim próprio. É assim que eu consigo aprender.
Escrevi este livro porque estou profundamente interessado no modo como as orga-
nizações formulam as suas estratégias e pensei que primeiro tinha que aprender
como é que elas se estruturam. Por conseguinte, comecei a coligir toda a litera-
tura relacionada com este assunto, tanto quanto me foi possível fazê-lo , para
depois poder explicar como é qu", as organizações se estruturam.
A tarefa não se revelou fácil. E por ser uma tarefa linear que se toma d ifícil
escrever; este livro contém mais ou menos umas 175 000 palavras dispostas
umas a seguir às outras, numa sequência line,ar única. Mas o mundo nâo é linear,
em particular, o mundo das organizações. E a resultante de fluxos complexos
que se combinam uns com os outros - paralelos, circulares, recíprocos.
Comecei com duas caixas cheias de papéis, contendo mais de duas centenas
de artigos e de extractos de obras. Se eu tivesse querido fazer um «manual»
- pelo menos, no sentido tradicional do termo - ter-me-ia contentado em ter
feito uma revisão desta literatura, agrupando os artigos por «escolas de pensa-
mento» e então fazendo uma exposição detalhada sobre cada uma delas, sem me
preocupar demasiadamente com as incoerências. Mas esta não foi a minha inten-
ção. O que eu queria era responder a esta questão: como é que as organizações
se estruturam a si mesmas? Como tal, foi necessário extrair dos artigos e obras,
as peças e os bocados úteis, e depois fundi-los numa resposta única. Por outras
palavras, o que eu queria realizar era uma síntese, de maneira precisa, uma sín-
tese da literatura que descreva precisamente o que é que as organizações fazem
e que é fundada na investigação empírica.
Comecei então a ler e a acumular as notas em fichas, até que uma pilha de
fichas atingisse mais de 30 centímetros de espessura. Depois, tentei coligir todos
estes elementos num todo coerente que constituiu um primeiro esboço deste
livro - esta sequência linear única. Nenhum trabalho me frustrou mais do que
este, como o podem testemunhar todos os que se aventuraram a descer até à minha
cave durante esses meses sombrios. (Uma boa parte desta frustração pode ser
atribuída à massa considerável das investigações que complicam inutilmente um
assunto já de si muito complexo - os estudos feitos à distância, que confundem
as percepções vagas de dimensões vagas, com o mundo real das organizações,
PREFÁCIO 13
Henry Mintzberg
16 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÓES
Gosto de pensar neste livro não como um snack americano, nem como um
smorgasbord sueco, mas sim como um banquete francês. O que eu quero dizer
é que este livro não pode ser consumido a correr, nem os seus mui variados pra-
tos podem ser saboreados aleatoriamente. Devem ser provados na ordem espe-
cífica apresentada. Para reiterar o ponto acenruado no prefácio, este livro não é
uma revisão da literatura mas sim uma síntese das descobertas da investigação.
Este livro foi escrito para todos os que estão interessados na estruturação das
organizações - os gestores que gerem as ditas organizações, os especialistas na
sua capacidade de consultores dos gestores, os professores que se dedicam à inves-
tigação neste domínio, e os estudantes que anseiam por compreender como é que
as organizações funcionam. Tentei escrever este livro na crença de que mesmo
a mais dificil das questões pode ser tomada compreensível para o noviço sem
que perca nada da sua riqueza para o especialista. E claro que isto não significa
que todos os leitores tenham os mesmos gostos e os mesmos apetites. Satisfazer
todas estas diferenças é o objectivo desta nota.
Primeiro que tudo vamos fazer uma breve revisão. Este banquete consiste em
vinte e dois capítulos, aglomerados em quatro secções. A primeira secção con-
siste na introdução - os aperitivos - que compreende desde o capítulo 1 até ao
capítulo 3: o primeiro trata dos cinco mecanismos básicos de coordenação nas
organizações; o segundo trata das cinco partes básicas da organização; e o ter-
ceiro aborda os cinco sistemas fundamentais de fluxos nas organizações.
Estes três capítulos são seguidos pela «análise» do livro - que engloba desde
o capítulo 4 até ao capítulo 16 - e que está dividida em duas secções. Aqui o
fenómeno da organização estrutural é analisado minuciosamente, cada elemento
por si. Na realidade, o leitor é exposto a todos os gostos que constituem um ban-
quete sobre a estrutura das organizações. Segue-se uma discussão sobre os nove
parâmetros de concepção, desde o capitulo 4 até ao capítulo 11. Os primeiros
quatro destes capitulos - Especialização dos Postos de Trabalho (capitulo 4);
Formalização do Comportamento (capítulo 5); Formação e Socialização (capi-
tulo 6); e Agrupamentos das Unidades (capítulo 7) - consistem em pratos clás-
sicos servidos mais ou menos numa maneira clássica. A dimensão da unidade
(a que geralmente se chama «amplitude de controlQ»), discutida no capítulo 8,
NOTA AO LEITOR 17
Note-se que esta leitura rápida foi facilitada pela utilização dos caracteres
gordos (como estes) para todas as frases que se consideram como essenciais
e que tomadas no seu conjunto, servem para resumir todas as questões prin-
cipais deste livro. Recomendamos como um mínimo absoluto, para a pessoa
conhecedora neste domínio, a leitura de todas estas frases-chave nos primeiros
dezasseis capítulos que oferecem um sentido do fio do argumento e o respectivo
vocabulário necessário para apreciar os últimos seis capítulos. O virar das pági-
nas, a fim de ler estas frases, também expõe o leitor aos diagramas, que são
muito numerosos para que possamos explicar com uma certa precisão os fenó -
menos não-lineares, e que permitem que estes leitores explorem os parágrafos
correspondentes à volta de elementos novos e inesperados. Contudo, estas fra-
ses por si só, não são suficientes para os leitores que se iniciam neste domínio.
Para estes, estas frases só servem para realçar as questões principais (não se inciui,
neste livro, outro sumário), permitindo-lhes talvez apenas o não ter que usar os
marcadores amarelos .
E agora, bom apetite!
20 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
se intitulava presidente de Ceramics Limited, dedicava agora cada vez mais tempo
aos seus clientes; de facto, por essa altura, era mais provável encontrá-Ia ves-
tida com um vestido de um costureiro da moda, do que enfiada num par de
jeans. Assim decidiu nomear a Sr. a Bisque, gerente do estúdio, para que se ocu-
passe inteiramente com a supervisão e coordenação do trabalho das cinco assis-
tentes que fabricavam a cerâmica.
A empresa continuou a crescer. E mais uma vez ocorreram grandes mudan-
ças, quando um consultor em organização foi chamado. Seguindo os seus con-
selhos, o estúdio foi completamente reorganizado em quatro linhas de produção
- cada assistente encarregando-se apenas de uma só tarefa dentro de cada linha
de produção (potes, cinzeiros, vasos de suspensão para plantas e animais de
cerâmica) - a primeira preparava o barro, a segunda moldava, a terceira buri-
lava o barro e assim por diante. Consequentemente, a produção tomou a forma
de quatro linhas de produção. Cada pessoa seguia um conjunto de normas pre-
cisas, elaboradas de antemão, que asseguravam a coordenação de todo o traba-
lho exigido. Claro que Ceramics Limited deixou de vender para lojas de artesa-
nato; a Sr. 3 Raku passou a aceitar só encomendas por grosso, e a maioria das
vendas destinavam-se a redes de armazéns.
Mas a ambição da Sr.' Raku não tinha limites, e logo que teve a oportuni-
dade de diversificar, não hesitou. Primeiro foram azulejos de cerâmica, depois
acessórios para casa de banho e finalmente tijolos de argila. A empresa foi sub-
sequentemente dividida em três divisões - produtos de consumo, produtos de
construção civil, e produtos industriais.
A Sr.' Raku trabalhava agora num escritório no quinquagésimo quinto andar
da sua «Torre da Cerâmica», onde coordenava as actividades das divisões, revendo
os resultados cada trimestre e actuando pessoalmente quando as taxas de cres-
cimento e de lucro não atingiam os números desejados. Um dia, a Sr.' Raku
estava sentada à sua secretária a examinar os orçamentos quando, ao olhar para
os arranha-céus vizinhos, teve uma súbita inspiração e decidiu mudar o nome da
sua companhia para Ceramico.
A Sr.' Raku tinha um estúdio de cerâmica na cave da sua casa. Esta activi-
dade envolvia um número de tarefas diferenciadas - a preparação do barro, o
moldar dos potes, o trabalhá-los quando ainda meio-secos, a preparação e apli-
cação dos vidrados e a cozedura no forno. A coordenação destas tarefas não
apresentava qualquer problema: a Sr.' Raku encarregava-se de tudo.
Mas a ambição e o sucesso das cerâmicas da Sr. a Raku causavam um pro-
blema: as encomendas excediam a sua capacidade de produção. Por conseguinte,
a Sr. a Raku contratou a Sr. a Bisque, que tinha imenso interesse em aprender a
fazer cerâmica. O que significava que a Sr.' Raku tinha agora de dividir o tra-
balho entre elas. Mas como as lojas de artesanato queriam cerâmicas feitas pela
Sr.' Raku, foi decidido que a Sr.' Bisque preparasse o barro e os vidrados e que
a Sr.' Raku fizesse o resto. Tudo isto requeria uma certa coordenação do traba-
lho, de facto, um problema mínimo, quando só duas pessoas trabalham num
estúdio de cerâmica: bastava-lhes comunicarem de maneira informal.
Estas disposições funcionaram lindamente, tão bem que, passado pouco tempo,
a Sr,a Raku foi mais uma vez atolada em encomendas. Tomou-se então necessã-
rio contratar mais assistentes: mas desta vez, a Sr. a Raku decidiu contratá-las
directamente da escola de cerâmica local, prevendo o dia em que as mesmas
teriam que moldar os potes. Assim, embora a Sr.' Bisque tivesse levado um
certo tempo a aprender, as três novas assistentes, logo desde o princípio, sabiam
exactamente o que fazer e adaptaram-se muito bem; mesmo com cinco pessoas,
a coordenação não apresentava quaisquer problemas.
Mas quando se contrataram duas novas assistentes, os problemas de coorde-
nação começaram a surgir. Um dia a Sr.' Bisque tropeçou num balde de vidrado
e quebrou cinco potes; noutro dia a Sr." Raku abriu o forno e apercebeu-se de
que os vasos de suspensão para plantas tinham sido todos, por engano, vidrados
com cor-de-rosa ciclamen. Nesse momento, deu-se conta que sete pessoas a tra-
balhar num pequeno estúdio não conseguiam coordenar todo o trabalho através
do simples mecanismo de comunicação informal. (Existem 21 possíveis permu-
tas ou canais de comunicação, pelos quais duas pessoas podem comunicar,
extraídas de um grupo de sete pessoas, se tomarmos os membros dois a dois.)
Para agravar a situação, acrescentava-se o facto de que a Sr.' Raku, que agora
22 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
truções e controla as suas acções, como indicado na figura l-I (b). Com efeito,
um cérebro coordena várias mãos, como no caso do supervisor do estúdio de
cerâmica ou no caso do remador de popa que marca a cadência das remadas na
canoa de guerra.
Consideremos a estrutura do futebol americano. Aqui a divisão do trabalho é
bastante acentuada; temos onze jogadores seleccionados de acordo com o traba-
lho que desempenham em campo, e também com a sua respectiva localização e
até mesmo com os seus atributos físicos. O ágil halfback' posiciona-se por
detrás da linha de aglomeração dos jogadores e leva a bola; o jogador norrnal-
G Gestor G
QO~---. .I((O O o
Operacional Operacional
(c) Estandardização
Figura 1.1
OS CINCO MECANISMOS OE COORDENAÇÃO
I Haljback, jogador que assume a posição no sentido ofensivo de uma equipa de futebol ame-
ricano que requer uma corrida sistemática com a bola. (N. T.)
A ESSÊNCIA DA ESTRUTURA 21
o ajustamento mútuo
A supervisão directa
I Esta tipologia reflecte em parte, as conclusões de Simon (I957), March e Simon (1958) e
Galbraith (1973).
2 Para uma exposição teórica detalhada acerca dos diversos modos de coordenação de acções
por parte de decisores independentes, ver Lindblom (1965, capítulos 2-5). O capítulo 14 do mesmo
livro também examina como o ajustamento mútuo pode por vezes conseguir uma melhor coorde-
nação do que a supervisão directa ou certas formas de estandardização.
24 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
vam as bases de tartes debaixo e por cima do recheio. Claro que existem outros
postos de trabalho estandardizados que proporcionam uma maior margem de mano-
bra: pode exigir-se a um comprador que obtenha pelo menos três propostas para
todas as compras que excedam 10 000 dólares, mas, por outro lado, este é livre
de desempenhar o seu trabalho como bem lhe aprouver.
A estandardização
O trabalho também pode ser coordenado por outros meios, que não apenas
pelo ajustamento mútuo ou pela supervisão directa. Pode ser estandardizado. «A
coordenação das diversas partes é incorporada no programa (de trabalho) desde
a concepção, e a necessidade de comunicação contínua é consequentemente
reduzida.» (March e Simon, 1958, pág. 162.) A coordenação começa no estira-
dor, por assim dizer, antes mesmo do trabalho começar. Os trabalhadores na
linha de montagem de automóveis e os cirurgiões que trabalham numa sala de
operações não precisam de se preocupar com a coordenação com os colegas em
circunstâncias normais - sabem exactamente o que esperar dos colegas e proce-
dem de acordo com esse conhecimento .
A figura l-I (c) mostra quais são os três tipos fundamentais de estandardi-
zação, dentro das organizações. Os processos de trabalho propriamente ditos, os
resultados do trabalho, assim como as qualificações dos operacionais - podem,
todos eles, ser concebidos de maneira a observar padrões pré-determinados.
/ :S:~ ~ . .~~.
Estandardização
~mento
t.1irtoo
_ _ _......._
-- -.......... /""""
Oirecta
~
"'''""''''
EstandardIZação
das Qualificações
Figura 1.2
OS MECANISMOS DE COORDENAÇÂO: UM CONTÍNUO IRREGULAR
DE COMPLEXIDADE
I Emery e Trist (I960) sustentam que um grupo de trabalho só é eficaz se for capaz de gerar
a sua própria coordenação interna, (i. é, se utilizar ajustamento mútuo). «A tarefa primordial de
gestão de uma organização, no seu conjunto, é referir o sistema global ao seu ambiente e não ape-
nas à regulação interna per se)). (pág. 93). A minha posição é diferente: sou da opinião de que
enquanto certas unidades se devem apoiar no ajustamento mútuo, não existe nenhuma sem um mínimo
de supervisão directa.
A ESSÊNCIA DA ESTRUTURA 25
o adiar da introdução da função de direcção para além do estádio óptimo ... con-
duz ao declínio da eficiência do sistema ... A energia dos membros do grupo, em vez
de ser consagrada à tarefa principal, é cada vez mais consagrada à tarefa de manter
O grupo unido ... (pág. 88).
I O mesmo se pode dizer a respeito de operações muito mais complexas, como uma operação
de coração aberto, que durou cinco horas, observada do principio ao fim por Gosselin (1978) - e
na qual mal se observou qualquer comunicação infonnaJ entre os cirurgiões cardiovasculares e o
anestesista.
28 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
cano, uma rede completamente automática mas a que faltava um sistema efectivo
de supervisão: «Os diversos sistemas estavam ligados tecnologicamente por razões
de economia, não estando previstos dispositivos, no caso de avaria, para manter
operacionais os diversos sistemas independentemente do todo, pois os sistemas
embora autónomos eram interdependentes.» (Pág. 73.) O resultado foi o famoso
corte total de electricidade de 1965, que mergulhou a região em total escuridão.
No geral, para além da dimensão mínima, a maioria das organizações, sem-
pre que podem, parecem apoiar-se na estandardização. Nos outros casos, utili-
zam, de maneira parcialmente permutável, a supervisão directa e o ajustamento
mútuo. O primeiro destes mecanismos falha logo que o trabalho de organização
se torna demasiado complexo para ser gerido por um só cérebro. E o segundo
falha, sempre que existe um desacordo demasiado importante entre os operacio-
nais que devem regular a sua actividade pelo ajustamento mútuo, daí resultando
a necessidade do estabelecimento de um supervisor.'
A Literatura
1 Estas conclusões inspiram-se em Galbraith (1973), embora tenham sido adaptadas com ligei-
ras modificações. Galbraith afirma que as organizações tentam primeiro usar regras e procedimen-
tos, depois a referência hierárquica e, em seguida, o planeamento, à medida que a informação aumenta.
No caso de O planeamento falhar, Galbraith afirma que a organização pode escolher um de dois
caminhos: ou elimina a necessidade de interdependências entre as tarefas através da criação de
recursos folgados, alargamento dos prazos, ou unidades autónomas, ou aumenta a capacidade de estru-
tura para processar informação através da utilização de sofisticados Sistemas de Informação de
Gestão (SrG), ou através da criação de relações laterais - mecanismos de ajustamento mútuo tais
como «elementos de ligaçãQ)), grupos de trabalho e estruturas matriciais.
30 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Um defeito
Contudo, este livro não começa imediatamente com a literatura sobre a estru-
turação das organizações. Isto deve-se a um defeito grave na literatura relevante.
A maior parte da literatura contemporânea não relaciona a descrição da
estrutura de uma organização com o seu funcionamento. Raramente se diz
ao leitor o que se passa realmente no interior da estrutura, como é que os pro-
cessos de trabalho, de informação e de decisão funcionam, de facto, dentro da
organização. Assim, temos Conrath (1973) que concluiu depois de fazer uma
pesquisa exaustiva da literatura que abordasse a ligação entre os fluxos de
comunicação e a estrutura da organização:
I /
" ""''''''''
(cap. 1)
Componentes Bâsicas
{cap. 2)
de Rum
(cap. 3)
Figura 1.3
UMA VISTA DE CONJUNTO CONCEPTUAL DO LIVRO
A ESSÊNCIA DA ESTRUTURA 31
plexos que têm lugar dentro das organizações. Podemos tirar algumas informa-
ções resultantes desta investigação, logo que tivermos um sistema conceptual.
Mas é preciso observar que esta investigação não é de grande utilidade quando
se trata de elaborar este sistema conceptual.
A literatura sofre assim de um defeito que é corolário do primeiro: as con-
clusões são muitas vezes formuladas para organizações inteiras quando clara-
mente só se aplicam a parte das mesmas. Não podemos, por exemplo, dizer que
uma empresa é «descentralizada» somente porque o poder de tomar decisões passa
do director-geral aos directores das divisões: o grau de descentralização, obvia-
mente, também depende do que acontece abaixo do nível de director de divisão.
Do mesmo modo, descobrir que uma organização utiliza grupos de trabalho para
introduzir novos produtos, não é o mesmo que descrever a estrutura geral da
organização mas somente uma parte muito limitada da mesma.
Tudo isto serve para dizer que muitas vezes as conclusões da investigação
não se relacionam de todo com o «contexto» (de que tipo de organização se
trata, a que parte da organização se aplicam); assim como não se referem às
relações entre a estrutura e o funcionamento da organização. Como resultado, o
leitor, por vezes, considera estas conclusões como desligadas da realidade e sem
verdadeira substância. Quando elaborei o primeiro esboço deste livro, depois de
ter lido mais de 200 livros e artigos, não tinha a certeza absoluta do que era a
estrutura. Achei-me a titubear à procura de um quadro de referência.
Finalmente, antes de chegar ao ponto de tirar as minhas próprias conclusões,
senti a necessidade de coligir uma série de organigramas que descreviam as
organizações, muitas das quais eu conhecia intimamente, a fim de criar um con-
texto pessoal que pudesse integrar todos os materiais conceptuais que tinha lido.
o esboço da obra
Este livro foi concebido para tentar evitar o problema que acabámos de men-
cionar, de modo a assegurar que o leitor possa pôr em contexto tudo o que tem
lido sobre a estrutura. Como tal, a primeira secção não trata da estrutura das
organizações, mas sim de como é que as organizações funcionam. A literatura
não é muito rica neste domínio, mas é importante passar ao papel, desde o ini-
cio, tudo o que sabemos sobre o funcionamento das organizações, de molde a
lançar os alicerces da teoria que se segue.
A secção I é constituída por dois capítulos. O primeiro debruça-se sobre as
cinco partes básicas das organizações contemporâneas - o centro operacional,
o vértice estratégico, a linha hierárquica, a tecnoestrutura e o pessoal de apoio
- e discute as relações entre estes elementos. O segundo capítulo descreve os
cinco sistemas de fluxos que atravessam estes elementos de base - com efeito,
existem cinco teorias que tentam explicar o funcionamento da organização:
como um sistema de autoridade formal, como um sistema de fluxos de infor-
mação regulada, como um sistema de comunicação informal, como um sistema
de constelações de trabalho e como um sistema de processos de decisão ad hoc.
Estes sistemas são considerados como complementares: cada um descreve uma
parte do funcionamento das organizações; quando combinados uns com os
outros, dão uma ideia da complexidade do sistema total.
34 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Vértice
Estratégico
Centro Operacional
Figura 2.1
AS CINCO COMPONENTES BÂSICAS DA ORGANIZAÇÂO
Acabamos por ter uma organização que consiste num centro de operacionais,
que executam o trabalho básico de produção dos produtos e dos serviços, e numa
componente administrativa de gestores e analistas, que assumem uma parte da
responsabilidade dos operacionais pela coordenação do trabalho. Isto conduz à
descrição conceptual da organização apresentada na figura 2-1. Esta figura será
repetidamente utilizada através do livro, algumas vezes de forma sobreposta para
CAPíTULO 2
AS CINCO COMPONENTES BÁSICAS
DA ORGANIZAÇÃO
sistindo em (I) oferecer conselho, dar sugestões e intervir com capacidade consultora
na formulação dos objectivos, dos regulamentos e dos procedimentos que gover-
nam as operações centrais da organização - em suma, as relacionadas com a passa-
gem das decisões à prática; e (2) o desempenho de serviços específicos de apoio à
linha hierárquica, por exemplo, a elaboração de sistemas de orçamento e o recrutamento
do pessoal operacional, «o que pode implicar a tornada de decisões, a pedido da
linha hierárquica» (pág. 348). Corno iremos ver mais tarde, esta distinção entre «ope-
racional» e «funcional» mantém-se de pé nalguns tipos de estruturas e soçobra nou-
tros. Não obstante, a distinção entre «operacional» e «funcional» tem urna certa uti-
lidade e mantê-Ia-emos, embora numa forma de certo modo modificada. Usaremos
o termo stajJ ou funcional quando nos referirmos à tecnoestrutura e às funções de
apoio, ou seja, todos os grupos apresentados de cada lado da figura 2-1. O termo
linha ou operacional refere-se à parte central da figura 2-1, incluindo todos os ges-
tores no fluxo da, autoridade fonnal, que vão desde o vértice estratégico até ao cen-
tro operacional. E de notar que esta definição não menciona o poder de decidir ou
de aconselhar. Corno veremos mais adiante, a função principal do pessoal de apoio
não é a de aconselhar; desempenha funções distintas e torna as suas próprias deci-
sões, embora estas só indirectamente se relacionem com as funções do centro operacio-
nal. O chefe da cozinha da cantina da empresa pode estar empenhado num determinado
processo de produção (comida), mas nada tem a ver com a actividade central da
empresa. Paralelamente, o poder de aconselhar de que a tecnoestrutura dispõe, é,
por vezes, semelhante ao poder de decidir, mas situa-se no exterior do fluxo de
autoridade fonual (linha hierárquica), que controla e dirige o centro operacional.]
Antes de prosseguirmos com uma descrição mais detalhada de cada uma das
cinco partes básicas da organização, parece-nos útil introduzir neste ponto algu-
mas das ideias conceptuais mais importantes de James D. Thompson (1967).
Para Thompson: «A incerteza parece ser um dos problemas fundamentais ine-
rentes às organizações complexas, sendo a essência do processo administrativo
a necessidade de ultrapassar essa mesma incerteza.» (Pág. 159.)
Thompson descreve a organização como se fosse um «centro técnico», equi-
valente ao nosso centro operacional, e também corno um grupo de «unidades de
I Procuramos evitar neste texto outras utilizações do tenno stajJ, que têm outros significados com-
pletamente distintos. Os chiej~ 01 staff (chefes do estado-maior) militares são, na realidade, gestores
situados no vértice estratégico; os médicos do staffhospitalar não passam de operacionais. Também,
a introdução da distinção LinhalStaff neste contexto, não significa que possamos varrer todos os pro-
blemas para debaixo da carpete, apenas para frisar bem a distinção entre os que estão envolvidos
directamente e os que estão envolvidos perifericamente, na actividade central das organizações. Segundo
a nossa definição, as funções de produção e de vendas numa empresa industrial típica, constituem
nitidamente actividades de linha (operacional), ao passo que a investigação de marketing e as rela-
ções públicas constituem claramente actividades de staff (funcional). Debater se o departamento de
engenharia pertence à linha ou staff - servirá o centro operacional indirectamente ou é parte integral
do mesmo? - depende da importância que se atribui ao departamento de engenharia dentro de uma
empresa particular. Existe uma área cinzenta entre linha e staif; quando esta é estreita, usamos esta
distinção em relação a muitas organizações; quando é lata, descartamo-la explicitamente.
AS CINCO COMPONENTES BÁSICAS DA ORGANIZAÇÃO 39
~ Fluxo de Trabalho
(a) Conjugação de Comunidade
o Tarefa
Figura 2.2
CONJUGAÇOES DE TRABALHO DE COMUNIDADE,
SEQUENCIAL E RECÍPROCA
AS CINCO COMPONENTES BÁSICAS DA ORGANIZAÇÃO 41
«comité» executivo (porque o seu mandato é global, mesmo que os seus mem-
bros representem interesses específicos); noutras, representa o conselho de
direcção - dois ou três indivíduos que partilham o trabalho do director-geral.
O vértice estratégico tem como função assegurar que a organização cum-
pra a sua missão eficazmente, assim como a servir as necessidades de todas
as pessoas que controlam on que de qualquer maneira exerçam poder sobre
as organizações (tais como, os proprietários, as agências dos governos, os sin-
dicatos dos funcionários, os grupos de pressão, etc.). Isto impõe três conjuntos
de deveres. Sendo o primeiro, o da supervisão directa que já foi discutido. Cabe
aos quadros dirigentes do vértice estratégico e da linha hierárquica escolher até
que ponto a organização se pode apoiar neste mecanismo de coordenação. Entre
os papéis desempenhados pela gestão (Mintzberg, 1973a), que estão associados
à supervisão directa, temos: a afectação dos recursos, incluindo a concepção da
própria estrutura, a atribuição de pessoas e de recursos a tarefas, a emissão de
ordens e a autorização das decisões mais importantes efectuadas pelos funcio-
nários; a resolução das perturbações no trabalho que implica a resolução dos
conflitos, o tratamento das excepções e dos problemas que sobem a linha hie-
rárquica para resolução; o controlo, que implica a revisão das actividades dos
empregados; a disseminação, que implica a transmissão da informação aos empre-
gados; e a direcção, que diz respeito ao preenchimento dos postos dentro da
organização, à remuneração e à motivação dos funcionários. Essencialmente, a
supervisão directa ao nível do vértice estratégico assegura que a organização no
seu todo funcione sem atritos, como uma só unidade integrada.
, Mas a gestão de uma organização não se limita apenas à supervisão directa.
E por isso que, mesmo as organizações com uma necessidade mínima de super-
visão directa, por exemplo, as organizações muito pequenas que podem utilizar
apenas o ajustamento mútuo, ou as organizações profissionais que podem utili-
zar apenas a formação profissional formal, mesmo assim precisam de gestores.
O segundo conjunto de deveres do vértice estratégico diz respeito à gestão
das condições de fronteira da organização - i. é, às suas relações com o ambiente
exterior. Os quadros do vértice estratégico passam uma grande parte do seu
tempo a actuar no papel de porta-vozes, informando as pessoas influentes no
ambiente, sobre as actividades da organização; no papel de ligação, desenvol-
vendo contactos a alto nível para a organização; e no papel de monitor, obtendo
as informações necessárias do exterior e servindo também de ponto de contacto
entre a organização e aqueles que procuram influenciar os objectivos da mesma;
no papel de negociador, quando devem concluir acordos importantes com o
exterior; e, por vezes, mesmo num papel simbólico, no desempenho de funções
de figura de proa, ao desempenhar tarefas cerimoniais, como o acolhimento de
clientes importantes . (Alguém definiu uma vez o gestor, meio a brincar, como o
funcionário que recebe as visitas para que os outros funcionários possam conti-
nuar com o seu trabalho.)
O terceiro conjunto de deveres relaciona-se com o desenvolvimento da estra-
tégia da organização . A estratégia pode ser vista como uma força mediadora
entre a organização e o ambiente exterior. A formulação da estratégia implica,
assim, a interpretação do ambiente e o desenvolvimento de padrões consistentes
nos fluxos das decisões organizacionais «<estratégias») para fazer face aos pro-
blemas levantados pelo ambiente. Por conseguinte, ao gerir as condições de
AS CINCO COMPONENTES BÁSICAS DA ORGANIZAÇÃO 43
o centro operacional
O vértice estratégico
1 A discussão que se segue, incide apenas nos quadros do vértice estratégico; o trabalho do
segundo grupo de pessoas é considerado como parte integrante do trabalbo dos quadros.
46 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Figura 2.3
A CADEIA HIERÂRQUICA DE COMANDO NO EXÉRCITO AMERICANO
A linha hierárquica
1 A discussão anterior sobre os papéis desempenhados pelos gestores foi tirada de Mintzberg
(1973a) e sobre a formulação de estratégia, de Mintzberg (1978).
48 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
para uma nova fábrica. Com efeito, cada quadro intermédio assegura a ligação
com os outros quadros, com os analistas, com os quadros dos departamentos de
apoio logístico, e com as pessoas estranbas à organização cujo trabalho se rela-
ciona com o trabalho da sua própria unidade. Além disso, o quadro intermédio
assim como o quadro dirigente, está empenhado na formulação da estratégia
para a sua própria unidade, embora esta estratégia seja, claro está, afectada sig-
nificativamente pela estratégia da organização global.
Regra geral, o quadro intermédio desempenba todos os papéis de gestão do
quadro dirigente, mas só no contexto da gestão da sua própria unidade (Mintzberg,
1973a). Deve servir de símbolo (de figura de proa) à sua unidade e deve ser um
líder para os seus membros; deve também desenvolver uma rede de contactos;
controlar o ambiente e as actividades da sua unidade e transmitir parte da infor-
mação que recebe à sua própria unidade, aos níveis superiores da hierarquia, e
para fora da cadeia de comando (linha hierárquica); realizar a afectação dos
recursos dentro da sua própria unidade; negociar com pessoas fora da organiza-
ção; tomar a iniciativa de mudanças estratégicas; e lidar com as excepções e
com os conflitos .
Superiofes
®
Pessoal de Apoio
AnalislaS~
~_ _- _.....
-
"" - (Funções Logísticas)
'''~
médIO ~ Outros Quadros
""""'"'"
Subordinados
Figura 2.4
QUADRO HIERÁRQUICO
Entre o teu povo, escolherás os homens mais avisados, tementes a Deus, íntegros.
desinteressados, os quais irás colocar à cabeça do teu povo, como chefes de milha-
res, chefes de centenas, chefes de cinquentenas e chefes de dezenas. Estes chefes jul-
garão o povo em todas as estações do ano. E s6 trarão à tua presença os litígios mais
importantes, mas julgarão eles próprios os casos de menor importância. O que será
mais fácil para ti e eles partilharão contigo este pesado fardo. Se fizeres isso , de
acordo com os comandos de Deus, serás capaz de levar a cabo a tua tarefa e toda
esta gente poderá voltar para a sua casa em paz (Êxodo 18:21-24).
A tecnoestrutura
Presidente
. Stalb do
PresKlente",-:..-_-...
Planeamento
Estratégico
Relações PUblicas
Contabilidade
Relaç6eslabofais
Fonnação
Investigação & Desenvolvimento
V,P.
Investigação Operacional Mar-
keting Definição de Preços
Processamento
PlanifICaÇão da Produção
de salários
Regiooais
Métodos de Trabalho Fábricas de Vendas
Agentes
de Compras
"""",,'
de Máqllinas
&pedidores
Figura 2.5
ALGUNS MEMBROS E ALGUMAS UNIDADES
DAS VÁRIAS PARTES DA EMPRESA INDUSTRIAL
AS CINCO COMPONENTES BÁSICAS DA ORGANIZAÇÃO 51
I As tabelas e o texto de Woodward neste ponto são de facto bastante confusos, em parte,
devido a erros na paginação. Os dados citados acima baseiam-se na figura 18, pág. 60, que parece
ter o título que pertence à figura 17 e que parece relacionar-se com a figura 7 na pág. 28 , e não
com a figura 8, como Woodward afirma.
56 ESTRUTURA E DrNÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Figura 3.1
O FLUXO DE AUTORIDADE FORMAL
I Ptiffner e Sherwood apresentam cinco estratos sucessivos na «pirâmide dos postos de traba-
lhO) (que é realmente a nossa cadeia de autoridade formal): a rede sociométrica. o sistema de con-
tratos funcionais. a grelha de centros de decisão, a estrutura do poder, e os canais de comuni cação.
58 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
constata no seu estudo muito incisivo sobre as relações informais numa fábrica
americana, a estrutura formal restringe e condiciona a estrutura infonnal funda-
mentalmente de três maneiras: «Em primeiro lugar, a estrutura formal ordena em
grande medida a direcção que a estrutura informal toma. Em seguida, forma o
carácter das defesas que a estrutura informal cria a fim de fazer face à primeira.
E em último lugar, a estrutura formal quer esteja muito ou pouco apagada, pre-
sente numa névoa de contradições, exige pelo menos uma conformidade de fachada
aos seus preceitos.» (Pág. 237 .)
ver para o papel. Contudo, não se deve rejeitar o organigrama e sim colocá-lo
no seu devido contexto: este transmite-nos algumas ideias úteis, embora esconda
outras. O organigrama é como se fosse um mapa. Um mapa é absolutamente
necessário para achar as cidades e as estradas que as ligam entre si, mas nada
nos diz sobre as relações sociais e económicas das regiões. Paralelamente, embora
os organigramas não apresentem relações informais, representam uma ima-
gem precisa da divisão do trabalho, mostrando num relance (1) que posi-
ções existem na organização, (2) como é que estas se agrupam em unidades,
e (3) como é que a autoridade formal flui eutre elas (com efeito, o organi-
grama descreve a utilização da supervisão directa). Van de Ven (1976a, pág. 70)
refere-se apropriadamente ao organigrama como uma (<configuração de esque-
letO» da organização.
Embora, a autoridade formal represente um aspecto muito limitado de uma
organização complexa, temos de estudá-la e entendê-la se quisermos compreen-
der a fundo o funcionamento das organizações. Como Melville Dalton (1959)
Figura 3.2
O FLUXO DE ACTIVIDADES REGULADA S
60 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Figura 3.4
UM SISTEMA DE FLUXO DE TRABALHO ALTAMENTE REGULADO
(ehapplc c Sayles, 1961, pág. 30)
r Ver Argyris (l966) para uma boa descrição da influência do cliente sobre o ritmo do trabalho.
,--- ~--,
II , - I~
CooseiIIO
\
t ~~,
de Admilistraçao
I ( 4- \
I I I
,,
1 I I
I I
\
Á
I ,- v ~-'
: ,-
( Df
r -,
""""
do DesenYOlvimento
1 ( \. V
1 , \o
,,
1 I
1 \ ~
\ ,- ,/ I Direcção
'--- I ~:.. _ ~ das Operações
-
:
I,,: Coolro
l.)< de Regulação
.. D
Divisões
í) t\
( ri) I ~ f-(I (
~
\'
~n I
Direcção í) t\
~ >-(1 ,)
da DMs.Io -
~ (
k-~
~
(
"1
U ~ 1\ do
(l- II ~ I ~)
1\ R
HI
~
TI
I
~t\
11~41 ( 1)
( ~
• • ~ Figura 3.3
UMA REPRESENTAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO COM UM SISTEMA DE FLUXOS
REGULADOS (Beer, 1972, pág. 199)
62 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Conselho de
l Cholo
»
Cootabiista
Financeira
I
"
M~"_o , ~
'rodo",
CUstos de Produção
I """"
de Produção I
orçarrlenlo do
"" artamento ..
Planificação
Chefe de
I ContabHisla
I Avaliação dos Custos do Departamento
I Departamento I
"'--
I
Cllstos do
CI./Slos
Chefe dos
Administrativos I Relatórios l?eri6dicos de Produção
I """'"""
-"'"""""
do'
"'"'"
Cartões
I
de Trabalho
l Administrativos
I
I Recibos, Pagamentos, etc. I
I
""""".. I
R"""'• "
I
Relatório
Fnanceiro do_
Figura 3.6
UMA ILUSTRAÇÂO DOS FLUXOS REGULADOS DE CONTROLO (Palerson, 1969, pág. 49)
~
~
;I:
~O
z
~ê: :;;
5 );
o O
t:ó:::2"'!'l
(\I n _.
~ Z~
:... » ~
"'0'"
~[T1Ül
. <
-g. »-
'!" ~
wO
-~'". O
'"...;O
'"
g
~
~ No/a : Os números que figuram nas flechas representam as percentagens das transferências lotais das tarefas.
O S6 se indK:am as percentagens superadas ou iguais a 0,9.
64 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Dalton define o formal ou oficial como «tudo o que é planeado e que cons-
titui o objecto de um acordo>' e o informal ou não oficial como «os laços espon-
tâneos e flexíveis entre os membros da organização, orientados pelos sentimen-
tos e interesses pessoais indispensáveis ao funcionamento da parte formal da
organização, mas que são demasiadamentemente fluidos para que sejam com-
pletamente contidos dentro do quadro formal>, (pág. 219). Por conseguinte, embora
I Boulding (l962) nota que, oficiosamente, a recolha de informação pode igualmente ser uma
função interna, mas não oficial, cujo objectivo é o de verificar a informação fo rmal que sobe ao
mesmo tempo que vai sendo filtrada pela hierarquia. March e Simon (1958, pág. 167) também
observam que as outras tarefas rotineiras ligadas à informação: a transmissão de infonnação (por
exemplo, o serviço de mensageiro), a preparação dos relatórios (por exemplo, guarda-livros), e o
da retenção da informação (por exemplo, arquivos).
Comité Executivo
1. Determina as previsões de vendas e os custos
2. Determina o nivel de lucro previsto
3. Determina os preços
4. Determina os orçamentos administrativos
5. Exerce o controlo sobre o vice-presidente
de produção e o director geral de vendas
Vendedores
Contramestres 1. Realiza as previsões de vendas pI o seu território
1. Influencia os custos variáveis de produção 2. Exerce esforços de venda
2. Requer revisões das normas de produção 3. Negoceia a sua cota de vendas com o direc-
tor do distrito
-
Figura 3.7
UM SISTEMA REGULADO DE DECISÃO (Bonini, 1967, Pág. 31)
68 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÚES
Figura 3.8
O FLUXO DA COMUNICAÇÃO INFORMAL
(adaptado de pfiffner e Sherwood, 1960, pág. 291)
70 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
ajustamento mútuo, nem que seja só para fazer face a mudanças inesperadas.
Tivemos recentemente um bom exemplo do que acabámos de afirmar, no corte
dramático de electricidade que afectou o sistema de distribuição de electrici-
dade no Nordeste americano. Mesmo em sistemas muito simples e muito está-
veis, não se podem utilizar padrões e normas para regular todos os requisitos
do trabalho. O melhor exemplo disto é a greve de zelo, uma das artimanhas
favoritas que os trabalhadores utilizam quando o seu trabalho é muito estan-
dardizado (por exemplo, a separação da correspondência nos correios cen-
trais). Aqui os trabalhadores seguem as normas à risca, o que resulta no caos
absoluto. Sendo a mensagem, a seguinte: é praticamente impossível impor um
sistema completamente regulado sem nenhum recurso à comunicação informal.
As organizações humanas não podem simplesmente funcionar como se fossem
máquinas. (Demos o exemplo, um pouco mais atrás, das instruções de monta-
gem de um brinquedo para crianças, que nos oferece um exemplo de fácil
compreensão. E surpreendente verificar como é dificil explicar a um leigo, por
escrito e de maneira compreensível uma tarefa que é tão simples, quando esta
tarefa é facilmente explicada por uma pessoa que a conhece bem e que se encon-
tra mesmo ao nosso lado).
A todos os níveis de gestão, todos os estudos confirmam que os gestores
situados a todo e qualquer nível favorecem o sistema informal de comunica-
ção e os contactos verbais, em vez dos documentos da comunicação formal
(dedicando de 65 a 80 por cento do seu tempo a contactos verbais), e consa-
grando quase tanto tempo (cerca de 45 por cento em média) a contactos tanto
fora da cadeia de autoridade formal como dentro dela. Os canais regulados
são muitas vezes vagarosos e não oferecem grande confiança, e as informa-
ções que transmitem são muitas vezes muito limitadas. A informação soJI
(macia), intangível e de natureza especulativa, é simplesmente ignorada pelo
sistema formal de informação, apesar de existirem a seu favor provas de peso
de que os gestores necessitam deste tipo de informação. E o sistema formal
de informação, porque deve primeiro documentar e depois agregar os dados
factuais, torna-se muitas vezes demasiado vagaroso para o gestor, ou seja, dá
o alarme de que as portas do estábulo estão abertas muito depois da vaca ter
fugido. Além disso, a agregação progressiva da informação no sistema formal
de informação faz com que o material que acaba por alcançar o vértice estra-
tégico seja tão abstracto e tão vago que a sua utilização se torna assaz limi-
tada na tomada de decisões específi cas. Contrariamente aos documentos
desmaiados, sem cor, do sistema formal de informação, os canais verbais
de comunicação - fora do fluxo regulado - são ricos na informação que
conduzem até ao gestor. O gestor pode <der» as expressões faciais, os ges-
tos e tons de voz no seu interlocutor, daí podendo tirar imediatamente as ila-
ções necessánas.
Daí resulta que os gestores contornam o sistema formal de informação, a fim
de recolherem as suas próprias informações, necessárias à execução do seu
trabalho. Criam as suas próprias redes de contactos informais, que constituem
os seus verdadeiros sistemas de informação. Aguilar (J 967), no seu estudo
sobre as informações externas, chegou à seguinte conclusão: as fontes de
informação pessoal utilizadas pelos gestores excedem as fontes de informa-
ção impessoal quanto à importância atribuída - 71 e 21 por cento respectiva-
A ORGANIZAÇÃO COMO UM SISTEMA DE FLUXOS 69
1 Noutro estudo, também muito detalhado, conduzido pelo Tavistock Jnstitute, ver a análise de
Rice (1953) do trabalho numa fábrica de tecelagem na Índia (e a sequência desse trabalho, reali-
zado por Miller, em 1975). Ambos os estudos realizados pelo Tavistock são excelentes exemplos
de «investigaçào-acção», nos quais os investigadores têm por objectivo não só descrever o sistema
como ao mesmo tempo melhorá-lo.
72 ESTRUTURA E DINÂM ICA DAS ORGANIZAÇÕES
mente. Cita o caso de um sócio muito importante numa firma bancária de inves-
timento, que afirma que a fonte de informação externa principal mais uti li-
zada pelos melhores executivos dentro de uma grande organização é consti-
tuída: «rede informal de contactos que os executivos têm no exterior da
companhia» (pág. 76)'.
A segunda razão para a existência da comunicação informal nas organizações
é de natureza social. As pessoas precisam de se relacionarem umas com as outras
como seres humanos, seja por razões de amizade, seja para ventilarem as suas
tensões (descompressão).
A maior parte da comunicação informal pode ser totalmente independente
do trabalho da organização, como no caso das boas maneiras do dia-a-dia
«<Bom dia»; «Estou bem, muito obrigado») de que Desmond Morris (1967)
fala no Macaco Nu. Qualquer outro tipo de comunicação social é decidida-
mente «disfuncional, interferindo activamente com o trabalho a ser feito. Em
muitas organizações, as pessoas saltam por cima do sistema regulado para
satisfazer as suas próprias necessidades. Deixam transpirar informação de
carácter sensível para fora da organização e retêm para si próprias informa-
ção crítica, que não passam aos seus superiores imediatos . Mas os gestores
também utilizam informação de maneira «disfuncionab). Wilensky (1967), no
seu livro Organiza/ionai lntelligence. constata a existência de sistemas
clandestinos de informação, pelos quais os líderes recolhem informação política
e ideológica sobre os seus subordinados a fim de manterem a sua autori-
dade. (Ironicamente, considera que estes sistemas são especialmente impor-
tantes dentro das organizações mais democráticas, simplesmente porque
os seus líderes precisam de conhecer o estado de espírito das pessoas que os
elegeram).'
Contudo, em muitos casos, a comunicação social passa a ser vital para o sucesso
da organização. O estudo conduzido por Trist e Bamforth demonstra que as
comunicações sociais na mina de carvão eram absolutamente necessárias para
dar segurança aos mineiros que actuavam em condições de trabalho perigosas,
ao passo que a socialização ocorrida dentro dos pubs, ajudava a acertar a coor-
denação dos turnos de trabalho.
Dalton, no seu estudo (1959) descreve com vivacidade as intrigas, as pres-
sões, e as distorções que existem dentro do sistema regulado numa fábrica. O tema
de Dalton é o seguinte: os níveis superiores da organização não conseguem
impor regulamentos contra a vontade dos grupos de nível inferior na hierarquia
da organização. Por vezes, até o contramestre ajudava os trabalhadores a resis-
tirem aos regulamentos impostos pelos escalões superiores hierárquicos.
Só se podem efectuar mudanças através da persuasão e da negociação - essen-
cialmente, através do reconhecimento das relações entre o sistema regulado e o
sistema social.
I Os pontos levantados nos últimos dois parágrafos sobre a utilização da informação formal e
informal por parte dos quadros são desenvolvidos em grande ponnenor, assim como referências à
literatura de investigação, nos capítulos 3 e 4 de «The Nature of Managerial Work» e numa mono-
grafia intitulada «Obstáculos à Utilização da lnformação de Gestão» (Mintzberg, 1973a, 1975). Ver
também o livro de Aguilar, Análise do Ambiente da Iniciativa Privada (1967).
2 Algumas disfunções dos sistemas de fluxos regulados serão discutidas nos capítulos 5 e 18.
74 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Considerar a gestão como uma hierarquia que respeita o organigrama, pode indu-
zir em erro, com resultados desastrosos. Com efeito, a gestão real da organização não
opera pelo fluxo ascendente das informações que passam por filtros sucessivos, e
pelo fluxo descendente de decisões e de instruções que passam por amplificadores
sucessivos (pág. 60).
I Ver também Landsberger (1961-62) para uma discussão mais aturada de «A Dimensão Horizontal
na Burocracia)).
76 ESTRUTURA E DfNÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Tudo isto sugere que os indivíduos dentro das organizações têm tendência a
trabalhar em «cliques», ou em pequenos grupos de colegas, constituídos a par-
tir das relações horizontais e não das relações verticais: nos níveis inferiores,
estes grupos reflectem a especialização funcional ou a relação de proximidade
no fluxo de trabalho; nos níveis de gestão, tendem a ultrapassar as divisões cria-
das pelas especializações e pelas funções.
Numa série de estudos, Thomason (1966, 1967) sustenta esta conclusão com
a descoberta de que a organização consiste numa série de redes de comunicação
distintas, ou «cliques», situadas em níveis diferentes da hierarquia. Thomason
descobriu ainda que cada uma destas redes, serve como ponto focal de infor-
mação especializada: «... a hierarquia no seu conjunto, acaba por se tomar uma
série de redes de comunicação diversas e especializadas por assuntos, estando o
centro desta rede situado no nível da hierarquia, onde o assunto pode ou deve
penetrar» (Thomason, 1967, pág. 29).
Como tal, dispomos agora de uma imagem nítida: os membros da organi-
zação, situados num determinado nível da hierarquia, lidam com as informa-
ções que são de uma natureza diferente das informações tratadas noutros
níveis. Isto passa-se em absoluto contraste com a visão do sistema regulado,
que considera que todos os níveis dentro da hierarquia lidam com o mesmo
tipo de informações, de uma forma que é mais ou menos elaborada ou agre-
gada em função do nível: por exemplo, o vendedor, o director regional de ven-
das e o vice-presidente de marketing; todos eles tratam das informações sobre
marketing, o primeiro trata das vendas específicas, o segundo trata das vendas
semanais e o terceiro trata das vendas trimestrais. Mas as descobertas que aca-
bámos de examinar sugerem outra coisa, e que de facto, os problemas tratados
nos diferentes níveis são fundamentalmente diferentes. Com efeito, a orga-
nização toma a forma de um conjunto de constelações de trabalho, de
«cliques» quase independentes de indivíduos que trabalham sobre as ques-
tões apropriadas ao nível hierárquico onde estão situados. Assim, Landsberger
(1961-62) concluiu no seu estudo sobre os fluxos de comunicação horizontal
nas orgamzações:
... estes fluxos, que se sobrepõem uns aos outros, por assim dizer, podem ser
relativamente independentes e qualitativamente diferentes uns dos outros. Um quadro
dirigente pode, certamente, consagrar uma parte do seu tempo a desempenhar o papel
de árbitro entre os seus subordinados, mas o tempo que passa a resolver os proble-
mas próprios do seu nível com os seus colegas, que são mais ou menos do mesmo
nível, é pelo menos tão importante (pág. 305).
78 ESTRUTURA E OrNÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Figura 3.11
O CONJUNTO DE CONSTELAÇOES DE TRABALHO
lações de trabalho operacionais distintas, cada uma funciona de uma forma rela-
tivamente independente das outras, mas todas elas se alimentam no fluxo de tra-
balho numa conjugação sequencial. A constelação publicitária que vende o espaço
publicitário e a constelação editorial que escreve o material - quando ambas trans-
mitem os seus resultados, vão alimentar a constelação impressora que produz o
jornal, o qual, por sua vez, vai alimentar a constelação de circulação que o dis-
tribui. (Este exemplo provém de um estudo conduzido sob a supervisão do autor
pelos estudantes de gestão na Universidade McGill.' Um certo número de exem-
plos desta natureza serão citados neste livro.)
Constelação
de Publicidade Constelação
Editorial
Constelação
Tipográfica
Constelação
de Circulação
Figura 3.10
QUATRO CONSTELAÇOES DE TRABALHO
NO CENTRO OPERACIONAL DE UM JORNAL
cio ao necessário curso de acção; ou (c) a decisão pode descer a linha hie-
rárquica para que se efectuem mudanças, como quando uma decisão tornada
no vértice estratégico para introduzir urna nova linha de produtos, obriga o
director da fábrica a comprar nova maquinaria e o director das vendas a con-
tratar novo pessoal de vendas. Com efeito, o tipo (a), ou seja as decisões de
excepção são tomadas no interior de uma mesma constelação de trabalho, ao
passo que os tipos (b) e (c) pertencem ao sistema regulado de decisão. Contudo,
deve-se notar, que a mesma decisão de excepção pode corresponder a cada
um dos três tipos que acabámos de identificar. Um responsável de vendas
pode decidir contratar um novo assistente de vendas, porque os seus supe-
riores decidiram introduzir urna nova linha de produtos, e também porque os
seus subordinados começaram a queixar-se de que estavam muito sobrecar-
regados de trabalho, ou porque um assistente de vendas pediu a demissão
(forçando a tomada de uma decisão, própria ao seu nível).
Figura 3.12
O FLUXO DE PROCESSO DE DECISÃO AD HOC
Figura 3.13
O FUNCIONAMENTO DA ORGANIZAÇÂO
Para concluir, reiteramos o ponto de que cada um dos cinco estratos oferece
uma imagem incompleta do funcionamento real de qualquer organização. Mas,
embora nos dêem uma imagem incompleta da organização, cada sistema ajuda
a explicar um dos seus aspectos importantes. E, quando os aglomeramos - como
foi feito na figura 3-13 - estes dão-nos uma ideia da verdadeira complexidade
do funcionamento da organização. É sobre este esquema que podemos começar
agora a construir a nossa descrição da estruturação das organizações.
A ORGANIZAÇÃO COMO UM SISTEMA DE FLUXOS 85
Qual deve ser a dimensão de cada unidade; quantos indivíduos devem estar
sob a alçada de um superior?
Que poder de decisão se deve delegar aos gestores das unidades operacio-
nais na cadeia de autoridade?
Que poder de decisão deve passar dos gestores operacionais aos funcionais
e aos operacionais?
Estas são as questões básicas sobre a concepção estrutural que vamos passar
a debater nesta secção_ Estas questões sugerem um conjunto de nove parâme-
tros de concepção - que são os componentes básicos da estrutura da organiza-
ção - que se podem agrupar em quatro grandes unidades_ Estas unidades encon-
tram-se numa lista na próxima página, tal como os conceitos dos capítulos 1-3 ,
com os quais se encontram estreitamente relacionadas.
o investigador pode testemunhar que a realização destas mudanças não tinha sido
nada fácil para os indivíduos-chave que estavam implicados no processo. Ele pre-
senciou os esforços conscenciosos que estes faziam para repensar as suas práticas
diárias e modificar os seus hábitos de longa data ... Quando se considera a persis-
tência dos comportamentos habituais, que são parte integrante do ego, é notável que
quaisquer mudanças discerníveis possam ter ocorrido de todo (pág. 204).
apresentou o seu famoso exemplo que mostra que já por volta de 1776, «a divi-
são do trabalho já era muitas vezes observada, no ofício do fabricante de
alfinetes>>:
Este argumento é apoiado por Charos et aI. (1977), que descobriram num
estudo sobre centros médicos que os médicos que desempenhavam concorrente-
mente os diferentes papéis de clínico, professor e investigador tendiam a con-
fundir ou a «desfocar» estas tarefas, o que causava um certo detrimento nos seus
desempenhos. I
utilizavam (cirurgia cardiovascular, ou fosse o que fosse), e não nos papéis que desempenhavam.
c ONCEPÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO: A ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHO 93
com que lhe seja dificil relacionar o seu trabalho com o trabalho dos outros.
Como tal, o controlo do trabalho é muitas vezes confiado a um gestor, que pos-
sui a visão de conjunto necessária para coordenar o trabalho, utilizando a
supervisão directa, ou é confiado a um analista que também pode coordenar o tra-
balho, utilizando a estandardização. Consequentemente, os postos de trabalho
têm de ser muitas vezes especializados na dimensão vertical porque são
especializados na dimensão horizontal. Isto é, o simples facto de ter de
desempenhar uma tarefa limitada reduz a perspectiva do trabalhador, como tal
roubando-lhe o controlo da mesma. Assim, esperamos encontrar uma relação
positiva forte entre a especialização horizontal e a especialização vertical: mui-
tos dos postos de trabalho (embora não todos, como iremos ver mais adiante)
tendem a ser especializados nas duas dimensões ou tendem a não ser especia-
lizados de todo.
~-----------------------------------I
ILj~~·~~~J'r_----~
dos
Objectiyos
r------------------ ----...,
1
: -~ 1 rl'-----_P_.d,~__ _'I
I
I
I
I
1
1
I
I
1
I
1
1 I I
1
I ,---- r---,
l
-+-~"-l.:1 I Actividade I
: I Traballo Restrito I I
I I L ________ :J
_
TrabalhoAlargado
Alargamento do trabalho
Num livro mais recente, Big Business and Free Men, Worthy (1959) traça o
desenvolvimento histórico desta mentalidade. Este autor remonta ao nascimento
da fábrica, quando observa que a especialização resultou em parte da escassez
de mão-de-obra. «Esta escassez encorajou a decomposição de trabalhos comple-
xos em trabalhos mais simples que podiam ser aprendidos mais rapidamente
pelos trabalhadores inexperientes e não qualificados, que a indústria era neces-
sariamente obrigada a empregar.» (Esta citação e as seguintes foram tiradas de
Worthy, 1959, págs . 64-71.) Mas esta especialização muito estreita criou pro-
blemas «cruciais» de coordenação e de controlo, que foram dar origem à «ges-
tão, como hoje em dia a conhecemos». Worthy atribui o crédito a Taylor (1856-
-1915), como «um dos teóricos mais precoces e criativos entre todos aqueles que
se preocuparam com os problemas de organização e de controlo». O trabalho de
Taylor - que vai desde a estandardização das matérias-primas até à programa-
ção minuciosa dos processos de trabalho, cobre, com efeito, o planeamento dos
processos de produção em pormenor, desde o princípio até ao fim - Taylor «fez
imenso para levantar a produção do estado de confusão em que a encontrou, e
ao fazê-lo, estabeleceu os alicerces para um aumento fenomenal da produtivi-
dade da indústria americana».
Mas nem tudo era um mar de rosas na fábrica que surgiu. As exortações de
Taylor no sentido da especialização vertical - «é necessário retirar tanto quanto
possível todo o trabalho intelectual da fábrica e passá-lo para os departamen-
tos de planeamento e de organização» - conduziu à criação de postos de tra-
balho que se pareciam o mais possível com máquinas, à medida que os enge-
nheiros procuravam «minimizar as características dos trabalhadores que melhor
os diferenciavam das máquinas». O próprio Taylor «referia-se frequentemente
aos trabalhadores como crianças, e usava muitas vezes analogias com lingua-
gem escolar».
Tudo isto, argumenta Worthy, «foi um desperdício fantástico tanto para a indús-
tria como para a sociedade em gera}», que não foi capaz de utilizar correctamente
o «recurso mais valioso da gestão: o conjunto das capacidades múltiplas e com -
plexas dos indivíduoS». Porque «o próprio significado do trabalho» foi destruído,
os trabalhadores passaram apenas a ser tratados como meios; deixaram de poder
CONCEPÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO: A ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHO 97
1 Nestes tipos de trabalho, é pouco provável que o alargamento vertical do trabalho se possa
realizar sem um certo grau de alargamento horizontal do trabalho.
98 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
o que representa uma unidade natural de trabalho, com toda a latitude para deci-
dir sobre o método e a divisão do trabalho. Na Linha de Montagem dos Automóveis
SAAB na Suécia:
Num hospital da Califórnia para crianças atrasadas mentais, metade das crianças
eram amarradas aos berços para evitar que se magoassem. As crianças mais velhas e
capazes de executar certas tarefas mais simples ajudavam a cuidar das crianças mais
vulneráveis. O seu trabalho era organizado como se fosse uma linha de montagem;
umas não faziam mais nada senão esfregar o chão, outras só mudavam as fraldas,
outras ainda ocupavam-se apenas em dar a comida às outras crianças. Uma nova psi-
quiatria, encarregada de uma casa com umas cem crianças, resolveu mudar a organi-
zação por completo. Desamarrou as crianças, aboliu a linha de montagem, e pôs cada
um dos ajudantes a cargo de três crianç,!s, com a responsabilidade de fazer tudo o
que fosse necessário para cuidar delas. «E o que se passa nas famílias», argumentou
ela: «Não existe uma pessoa só para lavar as fraldas e outra para dar a comida ao bébé.»
Esta mudança na organização alterou por completo a sua atmosfera e as pessoas
dentro dela. Os ajudantes começaram a ter mais interesse no seu trabalho e nas crian-
ças a seu cargo. Desenvolveram um sentimento de orgulho e de responsabilidade pes-
soal. E, os bebés, os pacientes mais vulneráveis, também responderam favoravel-
mente, não só devido à maior liberdade de movimentos que desfrutavam, mas também
por causa das relações mais humanas, mais calorosas e mais complacentes que se
desenvolveram entre eles e os mais velhos a cujos cuidados tinham sido confiados
(págs. 86-87).
lOS estudos de Trist e Bamforth (1951), sobre o trabalho nas minas de carvão britânicas e o
estudo de Rice (1953) sobre o trabalho numa fábrica de têxteis indiana, constituem excepções
notáveis.
100 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
subir na hierarquia de Maslow. A sua necessidade, cada vez maior para uma
realização pessoal, só pode ser satisfeita num trabalho alargado. A equação
continua a mudar.
cal depende, assim como para os postos de trabalho dos operacionais, do seu grau
de complexidade e de profissionalismo. Em geral, espera-se que os funcionais de
apoio nos escalões mais baixos, por exemplo, na cantina, ocupem postos de tra-
balho mais limitados e não-qualificados, sujeitos a um controlo muito apertado,
esperando-se que os funcionais nos níveis superiores, por exemplo no departa-
mento jurídico, ocupem postos de trabalho mais profissionais, especializados na
dimensão horizontal mas não na dimensão vertical. No que diz respeito aos ana-
listas da tecnoestrutura, podemos considerá-los como profissionais, na medida em
que o seu trabalho requer conbecimentos e competências consideráveis. Assim,
espera-se que o seu trabalho seja especializado na dimensão borizontal mas
não na dimensão vertical. Contudo, os funcionários administrativos tecnocráticos
- que aplicam os sistemas rotineiramente - têm tendência a ser menos especiali-
zados, sendo o seu trabalho, por conseguinte, especializado em ambas as dimensões.
Os gestores, seja a que nível for, parece que desempenham um leque básico
de papéis de decisão, de informação e interpessoais. Mas num sentido mais fun-
damental, nenhum verdadeiro posto de gestão é especializado na dimensão hori-
zontal. Os papéis desempenhados pelos gestores são tão variados e tantas per-
mutas são necessárias entre eles no decurso do dia de trabalho, que os postos
de gestão são os menos especializados dentro da organização. Os gestores
não se queixam de tarefas repetitivas nem de aborrecimento no seu trabalho,
queixam-se sim, da falta de oportunidade de se poderem concentrar em proble-
mas específicos. Esta verdade parece aplicar-se tanto aos contramestres como
aos presidentes das organizações.
Contudo, existem diferenças na especialização vertical nos postos de gestão,
de acordo com o respectivo nível na hierarquia. Os gestores que se encontram
mais perto da base - nomeadamente, os supervisores de primeiro plano - estão
muitas vezes sujeitos a controlos apertados, que derivam tanto do peso da cadeia
de autoridade acima deles, como das normas que a tecnoestrutura impõe às suas
unidades. Estes controlos diminuem à medida que se sobe na hierarquia, até se
alcançar o vértice estratégico: aí encontramos os postos de trabalho menos espe-
cializados na organização. O director-geral parece desempenhar um grande número
de papéis, tal como os outros gestores na organização, mas aplica esse leque de
papéis a uma gama vastíssima de problemas. De facto, têm-se feito tentativas
para especializar o trabalho dentro do escritório do director-geral na dimensão
horizontal, por exemplo, fazendo com que um indivíduo se concentre nos pro-
blemas externos e outro nos problemas internos, ou dividindo as responsabili-
dades entre os departamentos operacionais e os departamentos funcionais. Mas
até agora não tem sido possível provar conclusivamente que uma tal especiali-
zação seja realmente mais eficaz a longo prazo, e a maioria das organizações
parece preferir manter o posto do director-geral precisamente como está, i. é, um
posto de trabalho alargado. E claro está, o trabalho do executivo superior é
geralmente o trabalho menos controlado - i. é, o menos especializado na dimen-
são vertical - dentro de toda a organização I
1 Ver Mintzberg (I973a), para uma análise mais desenvolvida e prova dos pontos debatidos nos
dois últimos parágrafos, especialmente sobre as funções normalmente desempenhadas pelos gesto~
res, os padrões diários do trabalho dos gestores a todos os niveis, e a partilha do trabalho a nível
do director~geral.
CONCEPÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO: A ESPECIALIZAÇÃO DO TRABALHO 103
Tabela 4.1
A ESPECIALIZAÇÃO DO POSTO DE TRABALHO POR PARTE DA ORGANIZAÇÃO
Especialização Horizontal
Elevada Baixa
Postos não
Elevada qualificados Certos Postos de Gestão
(Centro operacional de nível mais baixo
Especialização e unidades funcionais)
Vertical
Postos profissionais
Todas os outros
Baixa Centro operacional
e unidades funcionais) Postos de Gestão
CAPíTULO 5
A CONCEPÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO:
A FORMALIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO
I Mais exactamente, «o grau de especificidade das prescrições de papel» e o seu oposto «3 mar-
gem de manobra legítima).
106 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
2. Determinar o volume das vendas previstas para os próximos k meses pelo depar-
tamento de vendas .
3. Inscrever este vo lume no «formulário de quantidade a encomendar» e redigir uma
nota de encomenda para a quantidade obtida pela fórmula (pág. 147).
V. - A gestão de um escritório segue regras gerais, que são mais ou menos está-
veis, mais ou menos exaustivas susceptíveis de ser aprendidas. O conhecimento des-
tas regras representa uma formação técnica especial que os quadros possuem. Compreende
a jurisprudência, ou a gestão administrativa ou gestão de empresas (Gerth e Mills,
1958, págs. 196-198).
A Formalização: que foi definida (de uma maneira mais estreita que neste
capítulo) como «a proporção de regras, procedimentos, instruções e comu-
nicações (que foram) escritos,> (pág. 75).
Pugh et aI., descobriram uma correlação significativa entre certas medidas des-
tas três dimensões, corroborando assim, pelo menos parcialmente, a descrição de
Weber. A correlação entre a especificação dos papéis e a estandardização global
era de O,gO; entre a especialização dos papéis e a formalização global era de
0,68; e entre a estandardização global e a formalização global era de 0,83. Pugh
et aI. foram, por conseguinte, capazes de comprimir as três dimensões num fac-
tor único, virtualmente idêntico ao que nós aqui chamamos de formaJização do
comportamento e que eles intitnlaram de «estruturação de actividades,>:
trabalho dos seus empregados ... os seus comportamentos foram estruturados pelas
especificações ligadas aos papéis especializados que desempenham, pelos procedi-
mentos que têm de cumprir para executar o seu trabalho e pelos documentos com ins-
truções detalhadas a cumprir (pág. 84).
I Na realidade, a centralização não aparece na lista dos cinco pontos de Weber. De facto, deter-
minar se os dois tipos de burocracia existem e, mesmo se Weber concebeu uma estrutura centrali-
zada ou descentralizada, deu origem a numerosos debates que estiveram muito em moda na litera-
tura. Uma réplica do estudo de Astoo, conduzido por Child (1972) sobre uma amostra de organizações
mais homogéneas demonstrou a existência de uma correlação negati va, mais forte entre a centrali-
zação e a estruturação das actividades, o que levou Child a concluir que se pode sustentar valida-
mente que existe um tipo ideal de burocracia, e que este tipo de burocracia é descentralizada.
Voltaremos a este debate no capítulo 11.
A FORMALIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO III
Talvez não exista outro tópico na teoria das organizações que tenha suscitado
uma tão graude paixão como as consequências da formalização extensiva do
comportamento nas organizações . No princípio deste século, antes dos estudos
realizados por Hawthome nos anos 30, os psicólogos industriais preocupavam-
-se, essencialmente, com a fadiga psicológica causada pelo trabalho monótono.
De facto, isto constituiu o ponto fulcral inicial dos próprios estudos de Hawthome.
Mas tomou-se visível que a fadiga não era senão a ponta do iceberg, que o tra-
balho - altamente repetitivo, formalizado e especializado, tanto na dimensão
horizontal como na dimensão vertical - criava uma série de problemas tanto de
ordem psicológica como fisiológica para muitos trabalhadores. Consequentemente,
alguns dos grandes nomes em gestão - Argyris, Bennis, Likert, McGregor
- construíram as suas carreiras sobre a análise aturada das disfunções psicológi-
cas das estruturas altamente formalizadas. Estes investigadores apontam para a
propensão que é inerente ao homem de resistir à formalização e à impessoali-
zação, e mostram que «as patologias» da organização resultam dos excessos come-
tidos nesta direcção. Todos eles, de uma forma ou outra, descrevem um círculo
vicioso, no qual a aplicação das regras suscita a resistência dos trabalhadores, o
que provoca O aparecimento das consequências disfuncionais, tendo-se então de
inventar novas regras para controlar a resistência perdendo os trabalhadores, desse
modo, uma margem de manobra ainda maior no seu trabalho, o que conduz a
um aumento de resistência, e assim por diante. A figura 5-1, mostra um modelo
bem conhecido do círculo vicioso, o círculo de R. K. Merton (que já foi des-
crito por March e Simon, 1958).1 Estas consequências disfuncionais assumem
várias formas: a rigidificação do comportamento, com a rejeição automática de
todas as ideias inovadoras, uma qualidade medíocre de serviços aos clientes,
aumento de absentismo, uma rotação elevada do pessoal, greves e até a subver-
são das operações da própria organização.
I Ver capítulo 3 deste livro para uma exposição dos modelos de Selznick e Gouldner.
A FORMALIZAÇÃO DO COMPORTAMENTO 113
Procura de
Controlo
Insistênaa
na FI8biicIade --------,
I
I
I I
I
I
t I
,, t
I
t I
I
Volume das I
- - - Resutlados Esperados Difiroldades a)I'I1
os Clientes
-----------'
- - - - - Resultados não Esperados
Figura S.l
AS CONSEQUÊNCIAS DA FORMALIZAÇÃO EXCESSIVA DO COMPORTAMENTO:
«O MODELO DE MERTON SlMPLlFfCADO» (como foi apresentado por March e
Simon, 1958, pág. 41)
Pelo facto dessas regras existirem, cada membro da organização encontra-se então
protegido ao mesmo tempo contra a pressão exercida pelos seus superiores e contra
a dos seus subordinados; mas esta protecção também acarreta consequências. Por um
lado, o trabalhador foi completamente privado de iniciativa pessoal, sendo completa-
mente controlado por regras que lhe são impostas do exterior. Por outro lado, está
completamente livre de interferências pessoais, venham de onde vierem (pág. 189).
114 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Queixam-se amargamente do preço elevado que têm de pagar para obter essa
almejada segurança, mas estão em última análise dispostos a pagá-lo. Adaptam-se a
esta situação resmungando sempre mas, mal ou bem, adaptam-se.
Como afirma uma empregada muito céptica e crítica: «Nunca aceitaria outro emprego
e também não o teria feito quando era muito mais nova. Não suportaria estar à mercê
de um patrão» (pág. 55).
... as decisões devem ser tomadas por pessoas que não tenham conhecimento directo
do campo e das variáveis relevantes, e que são obrigadas a apoiar-se na informação
que lhes é dada por subordinados que tal vez tenham um interesse subjectivo em des-
virtuar os dados. Neste sentido, pode afirmar-se que o poder de decisão neste sistema
tende a localizar-se num ponto cego. Os que possuem a necessária informação não
podem decidir, e os que podem decidir não possuem a necessária informação (pág. 51).
deste, ao passo que aqueles que se encontram mais afastados vão ach1ar em con-
dições mais orgânicas. Assim, temos a descoberta de Martin (1956), a que já
aludimos, de que os processos de decisão dos gestores industriais, situados em
quatro níveis da hierarquia, sucessivamente mais elevados - chefe de turno,
chefe de departamento, director de divisão, e o director da fábrica - eram suces-
sivamente menos estruturados.
Podem existir, evidentemente, variações na formalização a um dado nível da
hierarquia, dependendo do trabalho na unidade supervisionada e nas condições
de fronteira a que esta faz face. Assim, Lawrence e Lorsch (1967) observaram
que os postos de gestão na produção eram mais formalizados do que os postos
no departamento de vendas ou de investigação, talvez porque como a função de
produção se preocupa com a estabilização do centro operacional, o departamento
de vendas precisa de se manter flexível para lidar com as variações das exigên-
cias dos clientes; e o departamento de investigação também precisa de flexibili-
dade para porler continuar inovativo. Por outras palavras, um gestor de investi-
gação de baixo escalão opera numa estrutura consideravelmente mais orgânica
do que um gestor industrial de um escalão mais elevado. Como observa Perrow
(1970) ao discutir o estudo de Lawrence e Lorsch:
que este gere cobrem uma área maior do que a área coberta pelos seus subordinados.
Do mesmo modo, visto que o dirigente está mais perto do topo da hierarquia, as res-
trições na tomada de decisões e no direito de ir para a frente sem a autorização adi-
cionai a que os seus subordinados estão sujeitos, não se aplicam ao dirigente
(págs. 305-306).
A formação
o termo jargão «livro de receitas» foi cunhado pelo meu leal pessoal de escritó-
rio, como sendo uma analogia entre a descrição de uma operação e uma receita de
um bolo ...
Os componentes de uma operação complexa, tal como a reparação de uma tetra-
logia de FalIot, pode ser dividida numa sequência de dez ou quinze fases sucessivas,
com dois a cinco elementos essenciais por cada fase. Se cada elemento for simboli-
zado por uma única palavra, as fases essenciais de uma operação podem ser facil-
mente reduzidas a uma série de cadeias de símbolos, que variam de seis a dez
cadeias, contendo trinta a quarenta símbolos. Estes símbolos podem ser aprendidos
de cor de maneira a poderem ser recitados em um ou dois minutos na véspera da ope-
ração. A memorização constitui um aspecto crucial em oposição ao simples folhear
de um caderno de notas, pois permite visualizar uma cadeia de símbolos rapidamente,
como se se recitasse o alfabeto. Quando os elementos essenciais são perfeitamente
memorizados, tomar decisões durante a operação e, particularmente, quando surgem
acontecimentos inesperados, toma-se muito mais fácil (pág. 1182).
A formação dos profissionais exige muito tempo, antes que possam assumir
os seus postos de trabalho. Geralmente, esta formação ocorre fora da organiza-
ção, frequentemente numa universidade. (Existem, claro está, excepções. Por
exemplo, as forças policiais formam geralmente o seu próprio pessoal.) Com
efeito, a própria formação exige muitas vezes a intervenção de pessoas que pos-
suem uma competência particular e extensiva; se a organização não dispõe de
tais pessoas, a formação deve ser feita fora da tecnoestrutura por uma associa-
ção profissional ou uma universidade . Neste processo a organização perde, evi-
dentemente, uma parte do seu controlo, não somente sobre a selecção dos seus
trabalhadores, mas também sobre os métodos que estes utilizam no seu trabalho.
FORMAÇÃO E SOCIALIZAÇÃO 121
A socialização
Santo Agostinho estabeleceu com certa razão como regra única para a conduta cristã:
«Ama Deus, e faz o que muito bem te aprouveL» Isto implica, bem entendido, que se
se amar Deus verdadeiramente só se vai querer fazer as coisas que agradam a Deus.
Igualmente, os padres jesuítas não recebem constantemente memorandos ou chamadas
telefónicas do quartel-general da Sociedade de Jesus. A formação longa e intensiva
que receberam em Roma garante que onde quer que vão mais tarde, e seja qual for o
tempo que levem sem ver um outro padre jesuíta, continuarâo a cumprir as suas obri-
gações pastorais de acordo com as normas estipuladas pela Sociedade (pág. 70).
I Para uma discussão completa das lealdades divididas destes contabilistas nas grandes empre-
que a nossa base de compreensão está em plena expansão, embora tenba ainda
um longo caminbo a percorrer.
A socialização desempenba talvez um papel mais importante nas fileiras da
gestão, já que os gestores são, apesar de tudo, os defensores da ideologia
da organização. Assim, o jovem que acaba de sair da universidade e que foi recen-
temente recrutado, é submetido a um programa de socialização e muitas das
grandes organizações têm uma rotação frequente de gestores. Mais uma vez,
quando os postos de gestão são também sensíveis ou geograficamente remotos
- embaixador, governador de colónia, dirigente de uma subsidiária estrangeira -
estes programas de socialização revestem-se de uma importância especial. Jay
(I 970) dá-nos uma ilustração bastante incisiva:
Como os Romanos e os Jesuítas, o Exército Britânico desenvolve imensos esfor-
ços para assegurar que os comandantes de campo estejam realmente imbuídos do
pensamento que informa o exército como um todo: comissões no estrangeiro, esta-
dias no país, academia militar, e muito mais, asseguram que quando os comandantes
têm de tomar decisões por si próprios, tomam as decisões certas, ou pelo menos as
decisões que o exército aprova (pág. 71).
os mesmos são cumpridos. A profissionalização, por outro lado, é o meio não baseado
na organização que desempenha a mesma função. Sob o ponto de vista da organiza-
ção, qualquer destas técnicas serve, desde que o trabalho seja cumprido (Hall, 1972,
pág. 190).
manobra considerável, muito mais do que nos postos não qualificados. Os pro-
fissionais são obrigados todos os dias a chegar a deliberações importantes, nem
que seja só para determinar quais as competências que devem ser aplicadas a
cada situação. Existe um ponto-chave relacionado com a origem do controlo do
trabalho profissional. O trabalho do empregado não qualificado é programado
pelos analistas dentro da tecnoestrutura da organização; o do profissional, em
grande parte pela associação profissional ou pela escola que frequentou. Como
tal, o trabalho é controlado, mas não pela organização na qual é realizado. A orga-
nização profissional submete assim uma grande parte do seu controlo sobre
a escolha dos trabalhadores, tal como os seus processos de trabalho, às ins-
tituições que se situam no exterior, que os formam e que passam diplomas,
além de estipularem as normas que lhes vão servir de guia na condução do
seu trabalho. O controlo acarreta a lealdade: o profissional tende a identificar-
-se mais com a sua profissão do que com a organização na qual pratica.
Lembre-se que Weber incluía a formação na sua definição de burocracia:
«A gestão de escritório ... geralmente pressupõe uma formação minuciosa e
especializada» e «só se empregam as pessoas que possuem as qualificações para
servir.» Mas acabámos de ver que a formação e a formalização - a última cen-
tral na definição de Weber - são até certo ponto mutuamente exclusivas. Será
que podemos encontrar aqui a explicação da descoberta feita pelos investigado-
res de Aston de dois tipos de burocracia, uma centralizada e outra descentrali-
zada? Quanto à primeira: talvez porque não sendo o trabalho operacional quali-
ficado, o controlo do dia-a-dia passa para a tecnoestrutura; quanto à segunda:
devido à natureza profissional do trabalho, o controlo permanece com os pró-
prios operacionais, e também com as suas associações profissionais. Contudo,
este não é o lugar indicado para responder a esta questão. Basta-nos dizer que,
pela nossa definição, o profissionalismo e a burocracia podem coexistir na
mesma estrutura. No capítulo 5, definimos burocracia como o grau em que o
«comportamento é pré-determinado ou previsível, ou seja, estandardizado» den-
tro da organização. A nossa discussão tomou bem claro que a formação e a
socialização são utilizadas para pré-determinar ou estandardizar o comporta-
mento das organizações, especificamente, as qualificações e conhecimentos que
são essenciais para um certo posto de trabalho. Portanto, quando uma organiza-
ção se apoia fortemente na formação e na socialização ao conceber a sua estru-
tura, podemos chamá-la burocrática. Assim, todas as indicações levam a crer
que existem dois tipos de estrutura burocrática: uma, baseada na formalização
do comportamento (e na estandardização dos processos de trabalho); e, a outra,
baseada na formação e na socialização (e na estandardização das qualificações).
CAPíTULO 7
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA:
O AGRUPAMENTO EM UNIDADES
sivamente (quantos tipos e posições em unidades cada vez maiores) até que a
hierarquia se torna completa. O último passo é, evidentemente, um procedi-
mento que actua de «baixo para cima», que varia desde as tarefas específicas até
à hierarquia global.
o Grupo Aloma-se
um Elemento no Nível
Seguinte do Agrupamento
o Grupo B toma-se
um Elemento no Nível
Seguinte do Agrupamento
,.../ -
Grupo de
"""'
N'''" /
/
/
--,'
I O Grupo de
I Nível Mais
Grupo,"
I Elevado Compreende
Grupos de Grupo de NlveI I Toóos os Membros
Primeiro Nível
mais EJevado \ da Organização
Figura 7. 1
A ORGANIZAÇÂO COM UMA HIERARQUIA DE GRUPOS
(adaptado de Conrath, 1973 , pág. 594)
As consequências do agrupamento
I Consultar Melcber (1976, págs. 117- 144), para uma revisão exaustiva da investigação sobre
as consequências dos factores «espaciais e fisicos» nos processos de agrupamento organizacionais.
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA: O AGRUPAMENTO EM UNIDADES 131
I I I I I I I I
I Moo~ II '00'''", lI AM,"...". II Roo"",. II C'ru,'" I I ,,,,.,,. I I G'_".
Obstetrlcia I I '''" I MédK:a (labs.)
Figura 7.3
O AGRUPAMENTO POR PROCESSOS DE TRABALHO E POR FUNÇOES:
UM CENTRO CULTURAL
I Presidente
I
Relações Públicas
I
I I I I
Imasco
Impenal Imasco Associaled
Food, Financeira
Tobacco Products
lId. li' Lld.'
Figura 7.4
O AGRUPAMENTO POR PRODUTOS; A EMPRESA IMASCO LIMITED
I
I I I
Região Região Região Região
Postal Postal do Postal Postal
Atlântica Quebeque do Ontário do Oeste
Distrito Distrito
Distrito Distrito Distrito Distrito
Postal Postal
Postal Postal Postal Postal
de Nova da
do Quebêc do Ontário do Ontário de Saska-
Brunswick Colúmbia
Este Este Norte tchewan
• P. E. J. Britânica
Director Director Director Director Director Director
Figura 7.5
O AGRUPAMENTO FEITO NUMA BASE GEOGRÁFICA: OS CORREIOS CANADIANOS
(Por volta de 1978.· Reprodução Autorizada)
• As unidades funcionais da sede foram omitidas.
136 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
I Usa-se expressamente o tenno «mercadm~ para referir tanto as organizações com fins lucrati-
vos (business) como as organizações sem fins lucrativos (non-business). Qualquer organização
existe para servir um determinado sector do mercado, quer seja um departamento de polícia que
serve os cidadãos de uma comunidade, quer seja um sistema escolar que serve os estudantes, quer
seja uma empresa industrial que serve os seus clientes.
138 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGAN1ZAÇOES
Os critérios de agrupamento
Tesoureiro
Director-Geral Director Director
de Vendas da Fábrtca Director de Crédito da Fábrica
Responsável
Responsável
das Operações
do Atmazém
da IBM
H ~ f- -l I
Recepção das Correspondentes Correspondentes
Encomendas
no Departamento
do Correio
f- r- Empregados
de Vendas
de Vendas Consolidação
d..
ErtCOmendas
- -- Analistas
de Cré<lito
de Crédito
I ........
I IBM I
~
Armazém
Figura 7.6a
(A) O AGRUPAMENTO PELO FLUXO DE TRABALHO: ANTES (adaptado de e happle e Sayics, 1961 , pág. 23)
VK::e-Presidente Executivo
Te5OIXeiro
•••I
Director cio Crédito Director·Geral Director 00 Crédito
•I Director
I
de Vendas
\ ,
1
1
I
I
I
I
da Fábrica
//
\
\
\ ,, ,
J
•I
I
I
•I ""~ "" "" ""
, J
J I
•I """,,"" ""
\
, J I
"" ""
""
~",,""
RESPONSÁVEL DE UMA UNIDADE OE FLUXO OE TRABAlHO
,\
J
J
""
",,' Responsével
da'_
Responsével
\
J
J",,""
,/
"" da IBM
do Annazém
\ ~~,
\"" I
,/ ""\
J
"" ""
\
Figura 7.6b
(B) O AGRUPAMENTO PELO FLUXO DE TRABALHO: DEPOIS (adaptado de ehapp'e e Sayles, 1961 , pág. 26)
142 ESTRUTURA E DlNÃMrCA DAS ORGANIZAÇOES
r--------------------,
I
I r-------, I
I
I "
• I I I I I
I
I
L_____ .J I
I I
I I Calibragem i' _ ___ .J
I :L_
IL __
11 I "
I I
I
Branqueamento
"
TIngir
I
I
I
I - - - __ .J I
IL ___________________________ J I
r--------------------,
iBro",,,
II
I.
Calibragem..
I.I T""",mlI ,-+-fI-l;C-----'
i I
-T---\l
Branqueamento Tingir
II
I I I
I I
IL ____________________ J IL _____________ J I
(b) Natrual
Figura 7.7
O AGRUPAMENTO «NATURAL» E «NÃO NATURAL» NUMA FABRlQUETA DE TECELAGEM
EM FUNÇÃO DO FLUXO DE TRABALHO (adaptado de Mille" 1959, pág. 257)
I Woodward (1965), descreve esta sequência das actividades de desenvolvimento dos produtos
na produção em série, assinalando a ocorrência de sequências diferentes na produção por unidade
e em contínuo. Os três tipos de produção vão ser discutidos no capítulo 14.
144 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Presic!ente
Secretariado Geral
----
.. .
---------------------------
Director de Relações
Públicas
-------~------~-----------
. .
Director
de Planeamento
AgrupadOS
por Funções
de Trabalho
Figura 7.8
OS NÍVEIS MÚLTIPLOS DE AGRUPAMENTO
NUMA EMPRESA MULTINACIONAL
E como tal Scharpf concluiu que «as fronteiras da organização têm impor-
tância» (pág. 162), e propôs uma reorganização do ministério ao longo das
linhas reais do fluxo de trabalho de elaboração da política normativa.
~
1::
'"
8
~
'"r
·Outras
Enfermarias.
4ik <>
3jj.8
Enfermaria
de Cirurgia
Cardíaca
<>
."
CI" I, C"dl""" ,,, C,Id,d", 10100"'"
;i ,-------, e Torácica Cirurgia de Coração Aberto
O
'"
(:)
UNIDADE
1<>
OE CHOQUE
O
'"
8to
U,:~oa 85~85
132 2
,,",ol"m""
Sal" / '
121 2 --
~
m.,
75 2 ...../ O",,,
'" -, 1W
~22
n .~..". ~0
44 27 Salas
44 O"m
.,_ .
306 ''''p''al de Urgência
1
n
O
L
;;;:''''
'"
30 OE CUIDADOS
-I"' / /
36 ~
ATETERIZAÇÃO
,?/-<>
& 0'''''
g-
el ENFERMARIA
o DE CIRURGIA
[ 150 ~I CAROIACA
-
ENFERMARIA \'Y
p' DE CARDIOLOGIA
'"...,
3" L
809
Doentes com alta
.'
"'!" Camas de observação
~'"
146 ESTRUTURA E DrNÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
As interdependências de escala
o terceiro critério de agrupamento está ligado às economias de escala.
Podem formar-se grupos até se atingir uma dimensão suficiente que permita
que o seu funcionameuto seja eficiente. Por exemplo, cada departamento de
uma fábrica tem necessidade de manutenção; mas isto não justifica necessaria-
mente a criação de um posto operário de manutenção por departamento (quer
dizer, o agrupamento por fluxo de trabalho). Pode dar-se o caso de não baver
trabalho suficiente que justifique a existência de um tal posto por departamento.
Assim, toma-se imperativo criar um departamento de manutenção central para
toda a fábrica.
Esta diligência encoraja, bem entendido, a especialização do processo de tra-
balho: ao passo que o técnico de manutenção de cada departamento teria de ser
pau para toda a obra, os técnicos de um departamento central podem especiali-
zar-se, por exemplo, em manutenção preventiva. Pela mesma ordem de ideias,
também faz sentido económico ter apenas um departamento de informática para
toda a companhia, para que se possa utilizar um computador maior e mais pode-
roso; os departamentos de informática por divisão talvez tenham que utilizar
computadores mais pequenos e menos eficientes.
Esta questão primordial - concentrar ou dispersar os serviços - põe-se em
numerosos casos: será que é necessário agrupar todas as dactilógrafas na mesma
sala ou afectá-las aos utentes individuais? Será que a universidade deve dispor
de uma biblioteca central ou de uma série de bibliotecas satélites anexas a cada
faculdade? Será que a empresa deve possuir um só grupo de planeamento estra-
tégico situado na sede ou um grupo estratégico em cada divisão (ou nas duas)?
Será que deve ter uma central telefónica ou um sistema que permita que o
público ligue directamente para dentro da organização?
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA: O AGRUPAMENTO EM UNIDADES 147
As interdependências sociais
I Para uma discussão sobre os métodos de concentração e dispersão nas unidades funcionais de
informação, consultar Wilensky (I 967, págs. 58-62).
148 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
baixam, de quem é a culpa: do sector de markeling por não ter promovido sufi-
cientemente as vendas ou do sector de produção por ter produzido produtos de má
qualidade? Um sector lança as culpas para cima do outro, sem que ninguém
assuma a responsabilidade pelo resultado global. Parte-se do princípio que alguém
situado algures, num nível superior, deve assumir toda a responsabilidade:
Neste caso, o agrupamento é efectuado numa base de mercado para criar uni-
dades relativamente auto-suficientes que tratam dos fluxos de trabalho diferen-
tes. Idealmente, estas unidades devem conter as interdependências sequenciais e
recíprocas mais importantes; só restam então as interdependências de comuni-
dade: cada unidade extrai os seus recursos e utiliza certos serviços que provêm
da estrutura comum, para a qual, por sua vez, contribui com os seus excedentes
de produção e com os seus lucros. E, uma vez que cada unidade cumpre todas
as funções - que são necessárias para a produção de um série de produtos e de
serviços, assim como para o serviço de clientes ou de regiões - cada unidade
tem tendência a identificar-se com o mercado que serve e o seu grau de desem-
penho pode, como tal, ser medido mais facilmente nestes termos. Por conseguinte,
são os mercados e não os processos que retêm toda a atenção dos membros da
unidade. Encontramos um exemplo disto na obra de Walker e Lorsch já citada:
facilidade. Podemos fechar qualquer unidade de uma cadeia de armazéns, sem que
isso, de um modo geral, afecte gravemente os outros armazéns. Mas fechar um
departamento especializado de um grande armazém pode levá-lo à falência. Existem
cadeias de armazéns que não vendem pão ou leite, mas não existe um único super-
mercado que se possa dar ao luxo de dispensar qualquer um destes artigos.
Contudo, o agrupamento por mercado não é uma panaceia. Kover (1963-
-1964) descreve-nos os efeitos da passagem de uma estrutura por função a uma
estrutura por produto (mercado) numa agência de publicidade, análoga àquela
que já referimos mais atrás, que resultou num decréscimo de comunicações entre
os especialistas da mesma disciplina e também entre o pessoal da agência e os
clientes (que acabavam por ver essencialmente os responsáveis pelas unidades);
cada um sentiu o seu valor profissional diminuir, em parte porque eram julga-
dos por um superior que era um generalista e não por um colega da mesma dis-
ciplina; os que se viam a si próprios como artesãos, começaram a sentir-se des-
contentes com o seu trabalho e a sentirem-se alienados em relação à empresa;
um ano após a reorganização, muitos funcionários começaram a deixar a empresa.
De facto, a reorganização numa estrutura de mercado prejudicou a sua especia-
lização e reduziu aparentemente a qualidade do trabalho especializado.
A estrutura de mercado consome mais recursos que a estrutura funcional - pelo
menos nas unidades básicas quando não na hierarqui a administrativa - porque
tem de multiplicar O pessoal e os equipamentos se nãc quer perder as vantagens
trazidas pela especialização .
denação que diz respeito aos processos e aos métodos é contida dentro da mesma
unidade, ao passo que as interdependências dos fluxos de trabalho acabam por
afectar a coordenação e exigir a participação do director da fábrica .
Coordenação entre
1---_,,/ Trabalhadcres do Processo A
C()()(Oenação
Contramestre
Entre os
5, Processos A e C
do Produto l'
B c
Fluxo
----------------------------~·--doProfurol
I É evidentemente necessário, muitas vezes, escolher entre os agrupamentos por mercado ou por
função. Ver, por exemplo, Stopfor e WeJls ( 1972, capítulos 3 e 4), que apresentam uma discussão
aturada dos agrupamentos por produto (mercado) versus área (geográfico) numa empresa multinacional.
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA; O AGRUPAMENTO EM UNIDADES 155
sidade de maquinaria muito cara, agrupam as suas posições pelo processo de tra-
balho e como tal representam agrupamentos funcionais. Como já verificámos,
nos centros operacionais que são operados por profissionais, as bases de mer-
cado e funcionais que informam os agrupamentos são frequentemente realizadas
simultaneamente: os profissionais são agrupados segundo os seus conhecimen-
tos e qualificações e também segundo os processos de trabalho que empregam,
mas como são escolhidos pelos clientes precisamente nestas bases, os grupos
acabam, com efeito, por ser também baseados no mercado.
Qual é a base mais comum para agrupamento no centro operacional? A inves-
tigação não nos dá uma resposta definitiva neste ponto. Mas a nossa sociedade
é uma sociedade constituída por especialistas, e isto manifesta-se mais clara-
mente nas nossas organizações formais, particularmente nos centros operacio-
nais e nas estruturas funcionais . (Como j á tivemos ocasião de frisar, uma das
funções mais importantes dos gestores é a sua função de generalistas, ou seja,
de ligação do trabalho dos diferentes especialistas.) Assim, devíamos esperar
que a base funcional para o agrupamento fosse a base mais comum no centro
operacional. Evidentemente que existem pressões para que se adopte a base de
mercado para o agrupamento: quando os investigadores do Tavistock Institute e
Chapple e Sayles defendem que a organização seja concebida no sentido ascen-
dente e que o agrupamento seja feito de acordo com os fluxos de trabalho, é o
mesmo que dizer que o agrupamento no centro operacional seja efectuado numa
base de mercado. No entanto, isso contradiz as pressões muito fortes que se
exercem no sentido da especialização por processo.
Existe, por definição, apenas um nível de agrupamento no centro operacio-
nal - os operacionais agrupam-se em unidades geridas pelos supervisores de pri-
meira linha. Daí em diante, os agrupamentos são geridos conjuntamente pelos
gestores operacionais, construindo-se assim a superestrutura administrativa da
linha hierárquica.
Ao conceber esta superestrutura, deparamo-nos com a questão que Thompson
já tinha formulado: as bases para o agrupamento não são assim tão importantes,
o que é importante é a sua ordem de prioridade. Assim como se fazem as
fogueiras empilhando achas em cima umas das outras, alternadamente, primeiro
um lado e depois o outro, por analogia também se constroem frequentemente as
organizações, alternando as bases de agrupamento das unidades. Por exemplo,
na figura 7-8, o primeiro agrupamento dentro da linha hierárquica baseia-se nos
processos de trabalho (fabricação e montagem); o agrupamento seguinte baseia-
-se na actividade (engenharia, manufactura e marketing), o agrupamento acima
deste baseia-se no mercado (snowblowers, etc.) e o último agrupamento baseia-
-se na área geográfica (Canadá, etc.). A presença dos agrupamentos por mercado
nos escalões mais elevados da hierarquia administrativa é provavelmente signi-
ficativa: embora não tenha sido possível encontrar qualquer investigação neste
domínio, a evidência empírica sugere que a base de mercado para O agru-
pamento é mais comum nos escalões mais elevados da linha hierárquica do
que nos escalões mais baixos, particularmente nas grandes organizações.
Para concluir a superestrutura administrativa, deve fazer-se notar que, por defi-
nição, existe um único agrupamento no vértice estratégico, o qual engloba toda
a organização, com todas as suas funções e mercados. Do ponto de vista da
organização este pode ser considerado como um agrupamento por mercado, embora
156 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Figura 8.1
AS ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ACHATADAS VERSUS ALONGADAS
(agrupamentos utilizados na experiência de Carzo e Yanouzas. 1969)
162 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Pode-se explicar o desempenho superior dos grupos das estruturas alongadas pelo
facto de serem as suas decisões sujeitas a mais análises do que as decisões dos gru-
pos das estruturas achatadas. Os níveis intermédios de supervisão permitiram avalia-
ções repetidas das decisões ...
Além disso, a amplitude de controlo estreita da supervisão na estrutura alongada
permitiu que as decisões e os processos de comunicação fossem muito mais ordena-
dos. Livres do fardo que é ter muitos subordinados, os gestores dispõem de mais
capacidade para compreender melhor os problemas (pág. 190).
Quando se põe a questão aos dirigentes do Banco sobre esta forma de organiza-
ção, aparentemente pouco ortodoxa, estes respondem que não querem criar um esca-
lão intermédio que correria o risco de retirar a autoridade aos gerentes das sucursais
bancárias. O que se pretende é que estes continuem a ser homens de negócios locais
que contam apenas consigo mesmos e com a máxima possibilidade de decidirem por
si próprios (pág. 161).
Uma grande parte da confusão que reina neste domínio provém do facto de só
se considerarem os conceitos de amplitude de controlo e de dimensão da unidade
relativamente à supervisão directa, sem se atender aos outros mecanismos de coor-
denação: a estandardização e o ajustamento mútuo. Os teóricos de gestão tradicio-
nais estabeleceram o tom da discussão insinuando que tanto o controlo como a
coordenação só podiam ser realizados pela supervisão directa. Que mais poderia
ter levado Urwick a insistir na fórmula de «cinco, no máximo, seis subordinados»?
Como já afirmámos repetidamente desde o início da nossa discussão, os
cinco mecanismos de coordenação são de certo modo substituíveis uns pelos
outros. Por exemplo, o trabalho de um quadro pode ser <<ÍnstitucionalizadQ» pela
estandardização; e o ajustamento mútuo entre os membros de um grupo de tra-
balho pode ser utilizado em vez da supervisão directa. Podemos esperar, bem
164 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
I Esta medida apenas tomava em conta o tempo que os chefes de departamento passavam nos
departamentos de vendas propriamente ditos e incluía o tempo que os compradores levavam a aju-
dar os responsáveis na supervisão do dia a dia. Outra medida utilizava o equivalente dos vende-
dores a tempo inteiro em vez do número total, com a medida anterior de supervisão. As outras duas
medidas utilizavam o número total de vendedores e excluía os compradores, e uma destas (a
medida «em bruto») não registava o tempo que os chefes de departamento passavam nos departa-
mentos de vendas.
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA: A DIMENSÃO DAS UNIDADES 165
I
Nimero Tdai de Errvesas = 78 1./ I
Número ~
':U1ro---'
de Empresas Número Médio de \
23 Empresas
de Produção em Série ,,
(Orgênica)
,,
,
1O[ \
~I~
WEm~~ :L__~~====l-
__ ~ ~L- ~ b-o~ -L__ __ __ __-L____L -__
25 Empresas
de Produção em Continuo
(Orgânica)
lirb Menos
d, 10 11-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61 -70 71 -80 81-90
Número de SubordÍlados
dos Chefes de Primeiro NiYeI
Figura 8.2
A DIMENSÃO DAS UNIDADES E A ESTANDARDIZAÇÃO DO TRABALHO
(adaptado de Woodward, 1965, pág. 62)
20
15
i§;
,,-
w" 10
i~
z 5
O~~~~~~~~~~~~~~~
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
Numero de Subordinados .do OhctOl'-Geral
25 r
r-
20 I- r--
~
U
w"
15 r
.""
z
F- 10
~
5 r
O
.,
10 20 30 40 50 60 70 80 90
--n Mediana
Figura 8.3
A AMPLITUDE DE CONTROLO DOS DIRECTORES GERAIS VERSUS SUPERVISORES
DE PRIMEIRO NÍVEL
(adaptado de Woodw3rd, 1965, pág. 26)
A CONCEPÇÃO DA SUPERESTRUTURA: A DIMENSÃO DAS UNIDADES 169
~ ~ l ~ ~
""'" """, Acções
""", """,
Controlo do DesefT'genho
Figura 9.1
AS RELAÇÕES ENTRE AS DECISÕES, PLANEAMENTO DAS ACÇÕES
E CONTROLO DOS DESEMPENHOS
OS SISTEMAS DE CONTROLO E DE PLANEAMENTO 175
unidade não passa de uma parte muito pequena do conjunto. Sob o ponto de
vista da própria unidade, o sistema de controlo dos desempenhos permite evitar
a supervisão directa e conceder-lhe a liberdade de que precisa para determinar
as suas próprias decisões e acções. «Cada gestor na hierarquia da organização é
capaz, a curto prazo, de gerir o seu próprio departamento, relativamente livre da
interferência dos seus superiores. A direcção que existe é de natureza agregada
mais do que de natureza pormenorizada.» (Emery, 1969, pág. 32.) Assim, a empresa
conglomerada estabelece cada uma das suas unidades de mercado (a suas «divi-
sões») como centros de lucro ou de investimento, e torna-as responsáveis pelos
seus próprios desempenhos financeiros. l
Khandwalla (1974a) foi um dos investigadores que se debruçou sobre a uti-
lização dos sistemas de planeamento e de controlo no contexto da estrutura das
organizações. Cuidadosamente, observa que os sistemas se bem que pareçam
simples, são sofisticados e podem ser muito onerosos, exigindo «da parte dos
quadros que os utilizam competências importantes no tratamento das informa-
ções» (pág. 86). Khandwalla constatou também uma forte relação entre a auto-
nomia concedida a um gestor situado no fundo da cadeia de autoridade e a uti-
lização de nove destes sistemas, a maioria dos quais pertencendo ao controlo
dos desempenhos: o controlo estatístico de qualidade das operações, a utiliza-
ção dos custos-padrão e a análise das variâncias dos custos, o controlo dos
stocks e a planificação da produção utilizando as técnicas de investigação ope-
racional, a medida dos custos marginais, os orçamentos flexíveis ou orçamen-
tos de actividades, a auditoria interna, a avaliação dos investimentos pela
medida da taxa interna de rendimento ou do valor actualizado, a avaliação sis-
temática dos quadros superiores, a auditoria dos desempenhos ou a auditoria
das operações.
Os sistemas de controlo dos desempenhos podem ter duas finalidades:
medir e motivar. Por um lado, podem ser simplesmente utilizados para indicar
uma eventual deterioração dos desempenhos de uma unidade, e levar a gestão a
intervir tomando medidas correctivas. Por outro lado, podem servir para susci-
tar o melhoramento dos desempenhos. Os padrões de desempenho são muitas
vezes as cenouras que a gestão coloca à frente do director da unidade para o
motivar na obtenção de melhores resultados. Quando ele progride um pouco,
avança um pouco mais a cenoura e o director corre mais depressa. Os sistemas
tais como a gestão por objectivos (MBO)', foram concebidos para permitir que
os directores das unidades tivessem uma palavra a dizer na definição dos padrões
de modo a sentirem-se mais empenhados e, segundo a teoria, a tentarem realizá-
-los mais arduamente.
I Isto, bem entendido, não quer dizer que um sistema de controlo dos desempenhos nunca possa
ser apertado. Pode especificar tantos padrões detalhados de desempenho, que não se deixa à uni-
dade uma grande margem de manobra. (Podemos ver exemplos dis to no capí tulo 20). Mas, em
geral, os controlos dos desempenhos são utilizados na estrutura baseada no mercado para manter
apenas a regulação muito geral dos resultados (outputs).
2 MBO - Management By Objectives: Gestão por Objectivos - SIG - Sistema de Informação
de Gestão; PERT (Program Evaluation and Review Technique) - Técnica de Avaliação e Revisão
de Programas - utilizada na gestão dos projectos; DO (Desenvolvimento Organizacional); O con-
junto das técnicas utilizadas para melhorar o clima e a eficiência da organização e que melhor permite
o desenvolvimento dos indivíduos; LRP (Long Range Planning) - Planeamento a Longo Prazo. (N. T.)
OS SISTEMAS DE CONTROLO E DE PLANEAMENTO 177
Mas este aspecto das motivações introduz uma série de problemas. Por um
lado, se o director da unidade participa na definição dos padrões é formalmente
incitado a colocá-los suficientemente baixos, para assegurar que estes sejam
facilmente cumpridos, e a deformar as informações que sobem da sua unidade
para os níveis superiores da hierarquia, de maneira a fazer crer que os padrões
foram atingidos, mesmo se não foi este o caso.
Levanta-se também um segundo problema, que é o da escolha do período de
planeamento. Como já notámos, não existe uma relação directa entre os padrões
de desempenho e as decisões tomadas; espera-se apenas que o gestor tenha em
linha de conta os padrões quando toma a sua decisão. Se o período de planea-
mento é longo, O efeito é menor: quanto mais distante estiver o dia do julga-
mento final, menos o gestor se sente inclinado a pensar nos padrões; de resto,
para que é que vale a pena compensar ou penalizar o gestor por uma decisão
que ele tomou há imenso tempo. Mas se o periodo de planeamento é curto, os
padrões estão sempre presentes no espírito do gestor, o que vai ao encontro de
um dos objectivos fundamentais do sistema: dar urna certa margem de manobra
ao gestor. Algumas empresas utilizam <<flash de informação» publicados no dia
10 de cada mês; é certo que tais relatórios levam os gestores a dispenderem
muito mais energia na busca dos resultados a curto prazo; mas será que os levam
a pensar para além de um prazo de trinta dias?
Um terceiro problema relacionado com a motivação, provém dos padrões que
não podem ser atingidos devido a razões situadas para além do controlo do
gestor. Que fazer quando os padrões não podem ser realizados por causa de uma
alteração muito importante no ambiente, digamos, a falência de um dos clientes
mais importantes. Será que a organização insiste em honrar o acordo à risca e
penaliza o gestor, ou será que pode ultrapassar o sistema de controlo dos desem-
penhos a fim de determinar compensações, e neste caso o sistema perde urna boa
parte do seu poder de motivação?
o planeamento de acção
Por outras palavras, deve encontrar-se algo mais do que um sistema de con-
trolo dos desempenhos para coordenar o trabalho nas estruturas funcionais.
Como vimos no capítulo 7, a supervisão directa efectuada através da superes-
trutura e a estandardização dos processos de trabalho efectuada através da for-
malização dos comportamentos, emergem como mecanismos-chave para coorde-
nar o trabalho nas estruturas funcionais. Preferem-se estes mecanismos porque
são os mecanismos de coordenação mais fortes à nossa disposição. Mas, por vezes,
não podem tratar de todas as interdependências. E como tal as organizações têm
de recorrer aos sistemas de planeamento e de controlo que lhes permite estan-
dardizar os produtos: de facto, nestes casos, recorrem ao planeamento de acção.
Simon (1975) dá-nos um exemplo dramático do que pode acontecer quando o
planeamento de acção não consegue coordenar as interdependências restantes
entre os fluxos de trabalho:
Na primeira parte da campanha de Waterloo , o exército de Napoleão encon-
trava-se dividido em duas alas . A ala direita, comandada pelo próprio imperador,
eslava em Ligny face a Blucher; e a ala esquerda, sob a direcção do Marechal Ney,
eslava em Quatre Bras face a Wellington. Tanto Ney como o imperador preparavam-
-se para atacar, e ambos tinham preparado excelentes planos para as suas operações
respectivas. Infelizmente, os dois planos previam a utilização do corpo de Erlon para
desferir o golpe final no flanco inimigo. Mas como não comunicaram entre si estes
planos, e como as ordens não eram muito claras no dia da batalha, o corpo de Erlon
passou o dia a marchar de um campo de batalha para o outro sem entrar em combate
em nenhuma das alas. Tácticas talvez menos brilhantes, mas bem coordenadas, teriam
tido melhores resultados (pág. 193).
o que também especifica os resultados, mas numa maneira que constitui a espe-
cificação dos meios. No caso limite, o planeamento de acção acaba por tornar-
-se formalização do comportamento; em particular, a especificação do fluxo de
trabalho: <<.. .0 plano pode controlar um padrão complexo de comportamento até
ao mais ínfimo pormenor. Os planos completos de um navio de guerra especifi-
cam o desenho do navio até ao último parafuso. A tarefa da equipa de constru-
ção é definida minuciosamente por estes planos» (Simon, 1957, pág. 231).
Neste conjunto, o planeamento da acção emerge como o meio pelo qual
as decisões e as acções não rotineiras de uma organização estruturada por
função podem ser concebidas como um sistema integrado. Tudo isto é reali-
zado antecipadamente, no estirador por assim dizer. A formalização do compor-
tamento serve também para conceber a organização como um sistema integrado
mas só se aplica às suas actividades rotineiras. O planeamento de acção, em
contrapartida, destina-se às actividades não rotineiras e a tudo o que toca às
mudanças. Especifica quem deve fazer o quê, quando e como, para que a mudança
desejada possa ser efectivamente realizada.
It\ It\
1i1T\\~1Ã~
t~\tt\lt\tt\tl\/t\ I~\/~\/~\/~\/~\/~\
Escakmamento e Especilicações Operacionais
Figura 9.2
A HIERARQUIA DOS SISTEMAS DE PLANEAMENTO E DE CONTROLO
180 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Orçamentos _ . - - - - Programas
~ ~ /!
~
Planos ()peradooais
~
OperacionaiS Especificaç6es
/ /'
Operacionais
Objectivos
~
Orçamentos ~'====~ Programas
E_ _ I
I
""'.
Figura 9.3
ALGUNS SISTEMAS HÍBRIDOS DE PLANEAMENTO DAS ACÇOES
E DE CONTROLO DO DESEMPENHO
OS SISTEMAS DE CONTROLO E DE PLANEAMENTO 183
Os cargos de ligação
I O contac L
o directo entre os gestores foi aqui excluído pois não é de natureza formaL Retém-
-se aqui o papel de ligação de Galbraith, assim como, a sua organização matricial. Colocámos jun-
tamente as «task forces}} e as equipas (acrescentando os comités permanentes), assim como os
papéis integradores e os papéis de ligação.
OS MECANISMOS DE LIGAÇÃO 189
Durante algum tempo, o conflito principal na MiJo tinha-se travado entre as fac-
ções operacionais que se opunham aos incentivos de manutenção. Otis Blanke, direc-
tor da Divisão A, opunha-se aos incentivos e persuadiu Hardy de que se os abando-
nasse, a Milo acabaria por beneficiar com a sua supressão. Hardy, numa reunião
destinada a tratar deste problema, reafinnou a sua posição e concluiu: «Devemos dei-
xar de utilizar incentivos de manutenção: Causam imensos problemas e custam
imenso dinheiro à empresa.»
Rees estava nesta reunião, sendo apenas o único funcional presente, sem qualquer
interesse oeste assunto e sem qualquer autoridade formal para proferir ameaças ou
declarações categóricas. Mas levantou-se e disse: «Concordo que os incentivos de
manut~nção causaram muitos problemas. Mas não me parece que seja por não serem
úteis. E porque há imensas pessoas na organização que não estão dispostas a fazer a
menor tentativa de os utilizar. A "Sede" implementou este sistema e vamos fazer
todos os possíveis para que funcione! E não basta tolerá-lob) A surpresa que acolheu
estas observações causou o fim da reunião de uma forma embaraçosa para todos os
participantes, com excepção de Rees ... Na manhã seguinte, todos os responsáveis
operacionais, que tinham sido abordados pelo director de pessoal, telefonaram-lhe
para lhe pedir desculpas por não o terem ajudado, e pediram-lhe que por favor recon-
siderarasse as suas posições, dada a posição adoptada por Rees. Este e outros inci-
dentes menos acintosos fizeram com que os quadros da Milo passassem a considerar
Rees como um porta-voz não oficial da sede da empresa (págs. 24-25).
Estes grupos podem surgir de maneira informal ou formal. Numa empresa, quando
surge um problema na linha de montagem, o contramestre reúne um engenheiro, um
membro do laboratório da empresa, um fu ncionário do departamento de controlo de
qualidade e, eventualmente, outro funcionário do departamento de compras. Este grupo
trabalha na resolução do problema. Quando uma solução aceitável é elaborada, cada
um volta para as suas ocupações habituais.
Noutras ocasiões, a formação do grupo é mais formaL Numa empresa aeroespa-
cial, efecutam-se reuniões semanais para discutir a concepção dos aviões. Quando
surge um problema importante, constitui-se um grupo, com um prazo determinado,
com uma margem de manobra limitada e com a missão de resolver o problema (pág. 51 ).
Os quadros intregadores
pode dizer-se que detém um poder considerável. Estas disposições têm como
resultado uma sobreposição de um conjunto de chefes de marca que competem
entre si, numa estrutura funcional estrutural, todos eles utilizando o seu poder,
assim como, as técnicas de ajustamento mútuo (tais como a persuasão) para
promover os seus próprios produtos através do sistema. Sayles (1976) dá-nos
um bom exemplo:
(pág. 99). Uma vez que o contrato seja assinado, cada parte aponta um chefe de
projecto para coordenar as suas respectivas actividades e para manter a ligação
com a outra parte, durante a execução do projecto.'
Até aqui, os nossos exemplos têm ilustrado as situações em que os quadros
integradores, cujas actividades estão orientadas para o mercado, se inserem no
interior de uma estrutura funcional, para realizar a coordenação dos fluxos de
trabalho. Mas, embora talvez menos vulgares, existem casos em que os quadros
integradores com orientações funcionais são inseridos em estruturas baseadas no
mercado, a fim de encorajar a especialização. Galbraith (1973, págs. 137-141)
discute o caso de um departamento de informática, organizado por projectos (mer-
cado). Os projectos eram entregues a tempo, mas com problemas de qualidade
técnica. Além disso, a moral era baixa e a rotação entre os programadores era
elevada; além de que não se prestava muita atenção às suas qualificações espe-
cializadas. (Sofriam dos mesmos problemas que os funcionários da agência de
publicidade discutida no capítulo 7, que passou de uma estrutura por função para
uma estrutura por projecto.) Tais problemas são evidentemente bem tratados numa
estrutura funcional. A solução consistia então simplesmente em criar dois pos-
tos de «integradores de recursos» e inseri-los na estrutura por projecto:
1 Chandler c Sayles (197 1), no seu livro A Gestão de Grandes Sistemas, baseado principalmente
nas experiências da NASA no tempo do Apollo, analisam a gestão de projectos em considerável
pormenor do ponto de vista da agência governamental.
194 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÓES
Estruturas matriciais
Não existe uma s6 base para agrupameuto que possa conter todas as interde-
pendências. As interdependências funcionais colocam problemas de fluxo de tra-
balho; as interdependências baseadas no mercado impedem os contactos entre os
especialistas; e assim por diante. Até certo ponto pode-se aliviar o problema
pela estandardização efectuada através da formalização do comportamento, da
formação e da social ização, assim como pelos sistemas de planeamento e de
controlo, se bem que se mantenham muitas vezes interdependências importantes.
Até agora, já vimos pelo menos três métodos utilizados pelas organizações
para resolver este problema. Estes métodos são apresentados na figura 10-1. O pri-
meiro, observado no trabalho de Thompson e apresentado na figura 10-1 (a), é
o que contém as interdependências residuais nos níveis superiores da hierarquia.
Por exemplo, as divisões de uma empresa multinacional podem primeiro come-
çar por ser agrupadas por linha de produto e só depois por país, como já vimos
na figura 7-8. O segundo método, apresentado na figura 10-1 (b), é o que trata
as interdependências residuais nas unidades funcionais: criando-se assim uma
estrutura dupla - uma estrutura operacional revestida de autoridade formal para
decidir, que contém as interdependências principais e que contém as interde-
pendências residuais, tendo a outra estrutura de natureza funcional só com o
direito de aconselhar. Por exemplo, os analistas de mercado e os analistas finan-
ceiros (funcionais) podem aconselhar os diferentes gestores de produto, aju-
dando assim a coordenar as suas actividades funcionalmente . O terceiro método
é, evidentemente, o de utilizar um dos mecanismos de ligação já aqui discuti-
dos. A organização, com efeito, preserva a sua estrutura de autoridade hierár-
quica tradicional, sobrepondo-lhe, no entanto, um estrato de agentes de ligação,
grupos de projecto, comités permanentes, ou quadros integradores, para tratar as
interdependências residuais. O caso do grupo de projecto é apresentado na
figura 10- 1 (c).
Mas cada uma destas soluções favorece uma base de agrupamento em detri-
mento das outras. Contudo, por vezes, a organização precisa de utilizar duas (ou
mesmo três) bases para agrupamento em partes iguais. Por exemplo, uma
empresa internacional pode não desejar impor à sua estrutura nenhuma orienta-
OS MECANISMOS DE LIGAÇÃO 195
Figura 10.1
AS ESTRUTURAS CRIADAS PARA TRATAR AS INTERDEPENDÊNCIAS RESIDUAIS
196 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
I Frederick Taylor era uma excepção notável. Os seus apelos a favor da autoridade funcional
sobre a autoridade hierárquica eram neste sentido proféticos.
OS MECANISMOS DE LIGAÇÃO 197
I Pres~ente
I
I
I I I I
I V'ê Pres ""';_'0. Coo'" I
Ulceras Causadas pelo FIlO
I
Vice-Presidente
dos Snowbfowers
II
VICe-Presidente
Canadá
II
Vice-Presidente
Tahiti
I
Director-Geral
Snowblowers Canadianas
I
I I I
I Engenharia
I I Fabricação
j I MarlfeUng
I
Figura 10.2
UMA ESTRUTURA MATRICIAL PERMANENTE
NUMA EMPRESA MULTINACIONAL
Aparentemente, a empresa Dow Corning foi ainda mais longe: o seu director-
-geral (Goggin, 1974) descreve a sua estrutura como uma estrutura matricial em
três dimensões, em que os responsáveis por função, por produto e por região se
encontram todos face a face situados ao mesmo nível. A figura 10-3 apresenta
esta estrutura como uma matriz gráfica em três dimensões. (Este tipo de repre-
sentação gráfica, que é a forma mais comum de representar tais estruturas, é a
razão pela qual se utiliza o termo «matricial»).'
Uma das características da estrutura matricial pennanente é a de que a linha
hierárquica, uma vez subdividida em dois ramos, pode voltar a reunir-se como
na figura 10-2, em que um determinado gestor tem dois superiores; mas os
subordinados deste gestor só têm um superior - ele próprio.
A estrutura matricial temporária é utilizada para a realização de projectos
de trabalho, sempre que os produtos mudem frequentemente, como, por exem-
plo, nas empresas aerospaciais, nos laboratórios de investigação e nos gabinetes
de consulta. Nestes casos, a organização opera como um conjunto de grupos de
projecto ou de taskforces (quer dizer, unidades temporariamente organizadas sobre
a base de mercados) que recrutam os seus membros nos departamentos funcio-
nais. Retomando as palavras de Thompson (1967): «As organizações concebidas
para realizar tarefas únicas no seu género (ou cujo trabalho é feito à medida do
cliente) e sujeitas às normas de racionalização agrupam os seus especialistas em
J Na realidade, Goggin afirma a existência de uma quarta dimensão - espaço e tempo - obser-
vando que a estrutura é flexível e que muda com o decorrer do tempo. Constata também que existe
uma sobreposição dos diversos grupos de projectos e de comités pennanentes na estrutura matri-
cial, assim como a utilização dos sistemas de planeamento e de gestão por objectivos.
OS MECANISMOS DE LIGAÇÃO 199
..f Ao.
.,.. Europa
","'
Estados Unidos
Grupo 1
(BooactIa)
Grupo 2
(Resinas
e Qulmicos)
Grupo 3
(lLt>rificantes
Especiais)
OLtlros~
.'.,'-.!,;'
Grupo
Grupo
~
-!!
1! Grupo
5>
u
,
I Grupo
Grupo
T - 1-
Profissionalismo IFuncionai
=r =r =c
e Desenvolvimento Econ6mica
Figura 10.3
A MA TRIZ TRIDIMENSIONAL DE DOW CORNING
(adaptado de Goggin, 1974, pág. 57)
200 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Coordenadores Programação
Figura 10.4
UMA ESTRUTURA MATRICIAL TEMPORÂRIA DO PROGRAMA
DE SATÉLITE METEOROLÓGICO DA NASA
(modificado do trabalho de Delbecq e Filley, 1974, pág. 16)
uma mudança para uma estrutura matricial significa que os gestores aumentam
mais ou menos para o dobro, 1 uma vez que muitos funcionários têm agora dois
patrões. Assim, certos mecanismos de ligação, e em particular a estrutura
matricial, resultam numa proliferação dos quadros na organização.
Voltando à concepção dos postos individuais, podemos esperar que os meca-
nismos de ligação sejam utilizados quando a organização não pode estandardi-
zar os comportamentos, sendo em vez disso obrigada a recorrer ao ajustamento
mútuo para coordenar as suas actividades. Hage et aI. (I 971 , pág. 868) desco-
briram que quanto mais programadas forem as tarefas de uma organização, mais
espaçadas se tomam as reuniões; e quanto mais elaboradas forem as descrições
dos postos de trabalho dentro da organização, menor se tomam as interacções
globais não escalonadas, particularmente entre os indivíduos com o mesmo esta-
tuto nos diferentes departamentos. Por outras palavras, não existe tanta necessi-
dade de comunicação informal na estrutura burocrática, o que significa que os
mecanismos de ligação são principalmente instrumentos das estruturas
orgânicas. São mecanismos flexíveis que encorajam as relações de natureza menos
rígida e informal. Sem dúvida, que os mecanismos de ligação mais suaves - os
cargos de ligação, grupos de projectos e comités permanentes, que se encontram
nas extremidades do contínuo da figura 10-5 - são por vezes inseridos nas estru-
turas burocráticas a fim de reduzir a sua inflexibilidade em determinadas ins-
tâncias; mas a utilização dos mecanismos de ligação mais fortes - quadros inte-
gradores e estrutura matricial - revolucionam a tal ponto os padrões tradicionais
dos comportamentos formalizados que a estrutura resultante deixa de ser consi-
derada como uma estrutura burocrática.
Os mecanismos de ligação são geralmente utilizados quando o trabalho
é, ao mesmo tempo, (1) horizontalmente especializado, (2) complexo e (3)
altamente interdependente. Se O trabalho não fosse ao mesmo tempo horizon-
talmente especializado e interdependente, uma coordenação muito intensa dei-
xaria de ser necessária, deixando de se utilizar os mecanismos de ligação. E se
o trabalho não fosse complexo, a coordenação necessária podia ser feita pela
supervisão directa ou pela estandardização dos processos de trabalho e dos produtos.
O trabalho complexo pode, evidentemente, ser coordenado pela estandardi-
zação das qualificações necessárias à sua execução, mas só se as interdepen-
dências não forem muito importantes. Para além de um determinado grau de
interdependência entre as tarefas especializadas e complexas, o ajustamento mútuo
toma-se indispensável para a sua coordenação. Temos assim as tarefas que uti-
lizam os mecanismos de ligação para a sua coordenação. Bem entendido, as
tarefas especializadas e complexas são realizadas por profissionais, e devemos
assim encontrar uma relação entre o profissionalismo (assim como a formação)
e o grau de utilização dos mecanismos de ligação. Na realidade, um grande número
I Assumindo que tudo O resto permanece constante. No sentido em que estes dois gestores têm
de passar uma parte considerável do seu tempo em comunicação um com o outro em vez de super-
visionarem os seus subordinados, podemos esperar um maior número de gestores. Mas no sentido
em que estes dois indivíduos partilham os deveres de supervisão, podemos esperar menos gestores.
Para confundir a questão, vamos ver mais abaixo, e também no capítulo 21, que a estrutura matri-
cial está associada ao tipo de trabalho que precisa de pouca supervisão, mas precisa que os gesto-
res se empenhem a fundo nele.
204 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANlZAÇOES
I As medidas relativas de diferenciação para estas três empresas eram: 10.7, 8, O; e 5.7 res-
pectivamente (pág. 138). Estes dados estão sumariados numa tabela na página 138 do livro de
Lawrence e Lorsch.
,-----------,r""!--- j• i~
E _
w"
L......_____________ ~É
~.gRE
r ~ l5, ~ E
O.2!o
.5 '"
~ ê
"---------J4-- H [
.1l.ê
Figura 10.5
UM CONTÍNUO DOS MECANISMOS DE LIGAÇÃO (semelhante ao de Ga1braith, 1973 , pág. 114)
206 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
. (
CAPíTULO 11
A CONCEPÇÃO DO SISTEMA DE TOMADA
DE DECISÃO:
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL
Desde que se tem vindo a escrever sobre as organizações, que se têm utili-
zado as palavras centralização e descentralização. Contudo, este tema continua
a ser, provavelmente, o tema mais confuso na Teoria das Organizações, porque
estes termos têm sido utilizados de maneira tão díspare que, praticamente, dei-
xaram de ter sentido.
Neste capítulo vamos estudar a centralização e a descentralização exclu-
sivamente em termos de poder sobre as decisões tomadas nas organiza-
ções. Diremos que a estrutura é centralizada quando todos os poderes
de decisão se situam num único ponto da organização - em última
análise nas mãos de um único indivíduo; diremos que a estrutura é
descentralizada sempre que o poder se encontra disperso por várias
pes~oas.
E lógico que se deve tratar da descentralização quando se discute a con-
cepção da superestrutura . Uma vez que as unidades foram definidas, parece
normal abordar a da distribuição do poder entre eles. Mas a questão é mais
complexa do que parece. O que nós j á vimos sobre as organizações nos
capítulos precedentes tem uma lógica muito forte: começa-se pela missão ,
depois determinam-se as posições (com a respectiva especialização , forma-
lização e as necessidades de formação e de socialização), em seguida agru-
pam-se os postos para construir a superestrutura; uma vez isto cumprido,
determina-se a distribuição do poder de tomada de decisão no interior da
organização, e finalmente temos o último retoque com a criação das liga-
ções laterais - é evidente que esta lógica pouco tem a ver com a prática da
concepção das organizações. As relações entre os parâmetros de concepção
são claramente de natureza recíproca e não sequencial: Os parâmetros de
concepção formam um sistema integrado no qual cada parâmetro está
ligado a todos os outros como uma variável, que é ao mesmo tempo
dependente e independente: quando se modifica um parâmetro de con-
cepção é-se obrigado a modificar todos os outros. A descentralização é
abordada em último lugar porque se trata do parâmetro de concepção mais
complexo : é necessário compreender primeiro todos os outros antes de ser
possível abordá-lo.
210 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Simon concluiu:
sam assim fazer melhor, seja porque se consideram mais competentes, seja porque
pensam poder assim coordenar melhor as decisões. Infelizmente, em condições com-
plexas, este comportamento conduz inevitavelmente a um estado conhecido sob o
nome de «sobrecarga de informaçãm>: quanto mais informação o cérebro tenta
receber, menos informação recebe na realidade (Driver e Streufert, 1969). Por
outras palavras, passado um certo ponto, os quadros deixam de poder ser nem mais
competentes, nem melhores coordenadores. Teriam feito bem melhor ao deixar
certos poderes de decisão nas mãos de outros indivíduos que dispusessem do
tempo e da capacidade necessários para o tratamento das informações. Como Jay
(1970 pág. 64) observa, uma centralização excessiva conduz os que têm a infor-
mação necessária a dirigirem-se aos seus superiores que não se encontram a par
das realidades quotidianas, para que estes tomem as decisões. Resumindo, ter o
poder de tomar decisões não confere a ninguém, nem a informação nem a capaci-
dade cognitiva necessárias à tomada de decisão . De facto, a descentralização é um
fenómeno das organizações bastante difundido, porque muitas organizações têm de
enfrentar situações complexas. Não se pode esperar que um único indivíduo tome
todas as decisões num organismo de acção social de dez pessoas, quanto mais
numa grande empresa como a General Electric. Os poderes de decisão são parti-
lhados para que os indivíduos que conhecem a fundo os problemas em causa, pos-
sam dar-lhes a resposta adequada. Atribui-se o poder onde reside o conhecimento.
Existe ainda uma outra razão que leva à descentralização: permitir à orga-
nização uma resposta rápida às condições locais. A transmissão da informa-
ção do «terreno» para o centro e vice-versa leva imenso tempo, e este tempo
pode ser precioso. O Bank of America fez disto um lema publicitário - ter o
«homem certo no local certo», supostamente com o poder de tomar decisões,
permitia-lhes oferecer melhores serviços aos seus clientes.
Uma última razão: a descentralização estimula a motivação. As pessoas
criativas e inteligentes têm necessidade absoluta de uma margem de manobra
considerável. A organização só pode atrair, manter e utilizar a iniciativa destas
pessoas, se lbes conferir poderes de decisão muito importantes. Uma tal moti-
vação é crucial nos trabalhos de natureza profissional (como quando se tratam
de trabalhos complexos, a organização tem aqui duas boas razões para descen-
tralizar). Esta motivação é também um factor-chave nos postos de direcção, jus-
tificando-se plenamente um certo grau de descentralização na linha hierárquica.
De resto, esta descentralização permite que os gestores pratiquem a tomada de
decisão, a fim de que, eventualmente, alguns destes gestores possam aceder às
mais altas funções dirigentes, onde as decisões mais dificeis devem ser tomadas.
Até aqui, tudo parece bastante claro . Mas só porque ainda não olhámos para
dentro da «caixa preta» chamada descentralização. De facto é impossível des-
crever numa só palavra um fenómeno tão complexo como a distribuição do
poder dentro da organização. Consideremos, por exemplo, as seguintes questões:
Responder a estas questões é dizer que não existe uma resposta simples, e
que é necessário desconfiar sempre da utilização imprecisa dos termos «centra-
lização» e «descentralização». Contudo, uma grande parte da investigação sobre
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 213
! Na nossa definição, os quadros das unidades funcionais estão incluídos na categoria dos não-
-gestores. Observe-se que o termo «horizonta h) descreve correctamente este fluxo de poder no sen-
tido dos analistas e dos funcionais de apoio, apresentados no nosso esquema de base. Os operacio-
nais estão, bem entendido, apresentados no fim da cadeia vertical de autoridade, mas para nossa
conveniência foram também incluídos na nossa definição da descentralização horizontal.
214 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÚES
1 Van de Ven (1976b), introduz um esquema conceptual semelhante quando distingue três
dimensões na autoridade de tomada de decisão: (( I) o grau de tomada de decisão do supervisor
(autoridade hierárquica), (2) o grau da tomada de decisão individual, exercida pelos membros não
supervisores da unidade (autoridade pessoa l), e (3) o grau da tomada de decisão do grupo ou da
equipa pelo pessoal da unidade (autoridade colegial)) (pág. 256); os dois últimos exemplos cons-
tituem formas diferentes do que denominámos - descentralização horizontal.
2 Blau e Schoenherr (1971, pág.lI2) assim como Reimann (1973, pág. 466), na sua revisão dos
estudos do grupo de Aston, proporcionam-nos testemunhos empíricos que corroboram esta distin-
ção. Estes investigadores descobriram que a descentralização de uma unidade não se encontrava
fortemente correlacionada com a descentralização dentro de uma unidade, por outras palavras, que
a descentralização vertical (para o gestor de unidade) não levava necessariamente a uma maior des-
centralização vertical (para os seus gestores operacionais subordinados) ou para a descentralização
horizontal (para os funcionais ou operacionais dentro da unidade). E Beyer e Lodbal (1976, pág.
125) constataram que os departamentos de ciências tisicas gozavam de uma grande autonomia den-
tro da universidade (descentralização vertical), mas que os seus professores dispunham de menos
autonomia interna (centralização horizontal), ao passo que o contrário é observado nos departamentos
de ciências sociais e humanas.
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORiZONTAL 215
1 Nos tennos que utilizámos na nossa discussão 110 capítulo 3, este passo compreende as fases
de reconhecimento, de escrutinio e de escolha. Os aspectos do diagnóstico e do desenvolvimento
(busca e concepção) podem ser considerados como a elaboração do conselho para a escolha final,
embora, como já observámos, se efectuem, de facto, numerosas escolhas intermédias durante o desen-
volvimento.
2 16 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
A descentralização vertical
Situação ~ Informação
~I=C:~ Escolha
~ AutoriZação
~ EXeQJção
F=:>"'"
O que O que O,,,, O que é
,,"""
I_ '''''
"I"" ".-
fazer
O ""' é
".". ""
autorizar
qlle de facto
foi feito
Figura 11.1
UM CONTÍNUO DO CONTROLO SOBRE O PROCESSO DE DECISÃO
(semelhante ao de Paterson, 1969, pág. 150)
A DESCENTRAL[ZAÇÃO VERT[CAL E HORIZONTAL 2[7
1. Que poderes de decisão devem ser delegados para baixo na cadeia hierár-
quica?
2. Até que nível, no sentido descendente da cadeia, se devem delegar estes
poderes?
3. Como é que se deve coordenar (ou controlar) a utilização destes poderes?
Constelação
do""""'"
Figura 11.2
A DESCENTRALIZAÇÃO SELECT[VA DE PODERES
PARA AS CONSTELAÇOES DE TRABALHOS
218 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
•
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 219
A descentralização horizontal
I Isto levanta um dilema a um dirigente de nível superior que prefere uma maior descentrali-
zação. «Será que pode reduzir a autonomia do seu subordinado dando-lhe ordens, para descen-
tralizar a níveis inferiores? Uma tal intervenção centralizada para impor a descentralização não irá
conduzir, paradoxalmente, à destruição da própria descentralização ?~) (Haire, pág. 226.)
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 221
f:.'A$::::::::-------<ss
Figun t 1.3
UM CONTiNUO DE DESCENTRALIZAÇÃO HORIZONTAL
seu grau de centralização l Child encontrou uma correlação muito mais pronun-
ciada e negativa entre os dois factores, particularmente, em relação às empresas
da indústria· transformadora, o que o levou a concluir que, apesar de tudo, podia
na realidade existir uma burocracia ideal , formalizada e descentralizada. De
facto, Child argumentou que esta burocracia correspondia à burocracia de Weber:
concedia-se aos chefes o poder para tomar decisões dentro dos limites das nor-
mas estabelecidas. Como Mansfield (1973), que apoiava as teorias de Child, obser-
vou, as normas ou regras, «delimitam» a autoridade do responsável. 2 Mas,
embora alguns investigadores apoiem a tese de Child (por exemplo, Blau e
Schoenherr, 1971; Inkson et aI., 1970), há outros investigadores que não apoiam
esta tese, não encontrando qualquer relação entre a centralização e a burocrati-
zação, nem mesmo uma relação positiva (por exemplo, Holdway et aI., 1975;
Manns, 1976; ver, também, Jennergren, 1974). Oonaldson (1975) voltou mesmo
aos dados originais dos estudos de Astan, removeu as organizações não-autóno-
mas da amostragem, e constatou que os resultados eram os mesmos. Assim, che-
gou à conclusão que (<os resultados dos estudos de Aston não podiam ser expli-
cados como se fossem uma aberração, resultantes de uma medição inconsistente
e defeituosa da centralização, baseada em várias unidades que apresentam um
estatuto organizacional diferente. A resolução deste puzzle terá de ser procurada
noutro lado» (págs. 455-456) . Child (1975) replicou que o «outro lado» terá que
ser encontrado num certo tipo de organização, talvez nas empresas de indústria
transformadora que se vêem obrigadas a ser mais eficientes devido à concor-
rência renhida e que para atingirem esse grau óptimo de eficiência, são obriga-
das a descentralizar quando embarcam num processo de burocratização. Aldrich
(1975) correspondeu ao que lhe tinha sido pedido, voltando a fazer a análise de
Donaldson sobre os estudos de Aston, sem as organizações estatais. Mas, infe-
lizmente, esta experiência não corroborou o argumento de Child: «Em particular,
a "formalização", que constitui um dos puzzles originais dos dados de Child,
aparece como um mistério ainda maior.» (pág. 459.) Aldrich encorajou então
«todos os investigadores a lançarem-se sobre os dados e a reexaminarem a ques-
tão ainda mais profundamente» (pág. 459). Foi exactamente o que Greenwood e
Hinings fizeram (1976), e chegaram à conclusão que talvez os dados não fos-
sem os dados certos, que o critério utilizado por todos os investigadores para
medir a centralização não podia reduzir-se a um único factor - de facto, a cen-
tralização «é um conceito muito mais complexo» do que se tinha chegado a pensar.
Mais: quais foram os critérios utilizados nos estudos de Aston? Consideraram
37 decisões - (por exemplo, «os procedimentos de compras» e «as decisões de
introdução de um novo produto ou serviço»), e para cada uma delas colocaram
1 Como Child observa (1972b, pág. 168): «No estudo de Aston, os investigadores consideraram
como directores gerais os responsáveis das unidades descentralizadas (dirigentes das sucursais, che-
fes de departamentos, chefes de estaleiros) assim como os responsáveis por unidades. Este proce-
dimento, utilizado em vinte casos, tende a atribuir às sucursais um grau muito elevado de centralização.»
2 Contudo, Mansfield, faz notar que Weber nunca discutiu a relação entre a burocracia e a cen-
tralização, embora eite uma afirmação de Weber, na qual se demonstra que esta relação era nega-
tiva: «Weber considerou que a noção de autoridade dentro de uma organização administrada buro-
craticamente não significa que a «autoridade mais alta» esteja pura e simplesmente autorizada a
exercer o poder sobre as actividades da «autoridade de nível inferioo>. Na realidade, passa-se pre-
cisamente o contrário» (pág. 478).
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 225
Horizontalmente Haizontalmente
Centralizada Oescenlralizada
D D D D D
•
Supervisão
~"'"
Estandar·
dização
""Pro-
cessos de
Trabalho
.-
Estandar·
""
Resultados
Estandar·
dizaçllo
das
Quardi-
"çóo.
Ajustamento
Mutuo
Figura 11.4
OS MECANISMOS DE COORDENAÇÃO NUM CONTÍNUO
DE DESCENTRALIZAÇÃO HORIZONTAL
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 227
Contudo, não podemos afirmar que todas as burocracias são centralizadas. Sendo
o caso, que acabámos de ver, o de burocracias que se apoiam na estandardização
dos processos de trabalho para coordenar o trabalho dos seus operacionais não
qualificados. Mas mais atrás, deparámo-nos com um segundo tipo de burocracia,
com operacionais profissionais que coordenam o seu trabalho, recorrendo à estan-
dardização das qualificações ou competências. E como este mecanismo de coor-
denação está muito perto do extremo da «descentralização» no nosso contínuo,
apresentado na figura 11-4, podemos chegar à conclusão de que as burocracias
deste tipo se encontram relativamente descentralizadas na dimensão horizontal.
De facto, a presença destes dois tipos de burocracia na mesma amostra poderia
conduzir à obtenção de resultados confusos, do tipo daqueles que apresentámos
mais atrás. Iremos voltar daqui a pouco a discutir este segundo tipo de burocracia.
Até aqui o tema da nossa discussão tem sido: o poder nas mãos dos gestores
constitui centralização horizontal; a burocratização pela estandardização do
comportamento dá um certo poder à tecnoestrutura e como tal constitui uma forma
limitada de descentralização horizontal; e, quando o poder é fundamentalmente
atribuído às pessoas na razão directa dos seus conhecimentos e não da posição
que ocupam na estrutura, mais esta estrutura se torna descentralizada na dimen-
são horizontal, culminando numa organização profissional cujos operacionais con-
trolam em grande parte o processo de decisão.
Mas, pelo menos em teoria, este não é o caso mais representativo da des-
centralização horizontal. As organizações profissionais podem ser meritocráticas
mas não são democráticas. Assim como os conhecimentos não se encontram uni-
formemente distribuídos, também o poder não está homogeneamente repartido.
Basta perguntar aos serventes (ou mesmo às enfermeiras) de um hospital qual é
o seu estatuto em relação aos médicos?
I É interessante notar que Palumbo também concluiu que quanto mais profissional é o depar-
tamento de enfermagem, mais elevada é a moral (correlação + 0.65); ao passo que quanto mais
profissional é o departamento sanitário, mais baixa é a moral (correlação - 0.22). O grau de pro-
fissionalismo estava directamente relacionado com os anos de formação numa escola profissional
ou numa instituição afim. Uma formação exaustiva cria possivelmente expectativas, que são frus-
tradas num trabalho não qualificado.
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORlZONTAL 231
Estes autores sugerem que os trabalhadores não estão realmente interessados nas
questões que não se encontram directamente relacionadas com o seu trabalho. Ainda
o que é mais surpreendente, descobriram na sua análise de um dos estudos que a
participação pode servir para reforçar o poder dos quadros dirigentes à custa de
outros grupos, «para passar ao largo dos quadros intermédios, para enfraquecer a
posição dos funcionais e para inibir o desenvolvimento do profissionalismo» (pág. 186,
ver, também, Bergmann, 1975). Paradoxalmente, a democracia industrial parece centra-
lizar a organização tanto na dimensão vertical corno na dimensão horizontal. (Dis-
cutiremos no capítulo 16 uma razão que provavelmente justifica este fenómeno.)
I Espero que o leitor aceite neste ponto uma pequena incoerência lógica. De acordo com a
nossa definição, a descentralização horizontal completa conduz a uma situação onde todos têm
poder excepto os quadros hierárquicos. A democracia total, dá, evidentemente, o mesmo poder a
todos - nem mais, nem menos.
232 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
4.5
4.6 4.6
4.6 4.6
(b) Y
Roo'
Cadeia
5.0
5.0 5.0
I A discussão que se segue é tirada em grande parte dos estudos de Glanzer e Glaser (1961).
Encontra-se nesta referência urna análise aprofundada destes estudos.
A DESCENTRALIZAÇÃO VERTICAL E HORIZONTAL 235
cada uma das redes acabava por alcançar mas sim no tempo que levava a
alcançá-lo. As redes onde todas as comunicações são permitidas, em que não
existe um líder, acabam por encontrar os meios para se organizarem de modo a
que as comunicações sejam eficazes; de facto , e o que é muito surpreendente,
dezassete das vinte redes desta natureza estudadas por Guetzkow e Simon aca-
baram por desenvolver uma hierarquia. Na realidade, era-lhes difícil decidir
quais eram os canais de comunicação que não iriam utilizar (entre os vinte pos-
síveis canais num sentido único); como Guetzkow e Simon observaram, a liber-
dade completa pode em certos casos causar mais problemas do que as restrições
impostas às comunicações . l
Outro investigador, Harold Leavitt (citado por Glanzer e Glaser, na sua aná-
lise da literatura, 1961, pág. 4), descobriu que as motivações dos membros do
grupo variavam em função da posição nas redes que são naturalmente centrali-
zadas como a roda e o Y. Os indivíduos colocados no centro - que acabavam
por chegar à chefia - apreciavam muito mais o seu trabalho do que os membros
do grupo situado na periferia. Numa outra investigação, Trow pôde estabelecer
que não é o facto de se ocupar uma posição central que garante a satisfação no
trabalho, mas sim a autonomia - a liberdade de tomar decisões - que é conce-
dida aos membros do grupo que gozam de uma tal posição. Ele conseguiu sepa-
rar estes dois factores experimentalmente e constatou que «a autonomia produz
um nível mais alto de satisfação no emprego do que a dependência; e de que o
facto de se ocupar uma posição central não significa necessariamente a satisfa-
ção no emprego» (citado por Glanzer e Glaser, págs. 7-8). Mas outros resulta-
dos mostraram-nos também que as pessoas colocadas numa posição central têm
tendência a desenvolver comportamentos autocráticos: «Num dos grupos, um indi-
víduo que tinha a intuição necessária (para realizar determinadas tarefas) rece-
beu "ordens" do líder emergente para "esquecê-las". E finalmente, num dos
estudos onde se pedia a uns líderes para se comportarem democraticamente e a
outros líderes para se comportarem autocraticamente, os grupos chefiados pelos
autocratas eram mais eficientes mas a sua moral era mais baixa.» (Shaw, citado
por Glanzer e Glaser, pág. 13.)
Estas descobertas sugerem algumas conclusões interessantes sobre a descen-
tralização horizontal. Por um lado, a organização centralizada pode ser mais efi-
ciente em certas circunstâncias, particularmente nas primeiras fases do trabalho.
Pelo contrário, a organização descentralizada horizontalmente - a organização
democrática - parece que é melhor do ponto de vista da moral. Mas a última
pode por vezes ser instável, e acaba por reverter para uma estrutura mais hie-
rárquica - e centralizada - para poder completar as suas tarefas. Este fenómeno
é corroborado precisamente pelos estudos feitos no campo: a democratização
conduz paradoxalmente à centralização.
I Também se incluiu o cículo neste estudo, que provou ser a rede de comunicações menos efi-
ciente. Organizava-se muito lentamente e nunca atingiu o nível de eficiência operacional das outras
duas redes. O círculo não só apresenta os mesmos problemas de chefia da rede que pennite todas
as comunicações, como sofre de restrições nas comunicações que interferem com as tentativas de
organização dos seus membros. Assim, só três das vinte e uma redes em circulo desenvolveram
hieraquias. Contudo, as restrições que o círculo impõe às comunicações são de natureza bastante
arbitrária, restrições estas que provavelmente se encontram menos na prática do que as restrições
encontradas na roda. (A informação sobre o círculo foi apagada na figura 11-6).
236 ESTRUTURA E U1NÁMICA DAS ORGANIZAÇOES
4
IE
].
"•
I' 3
~
j
"~
,,
'" 2 ,,
\
-',
"- -- ... , ......
......................
'-... _-- ...._...-......---.... _---- ... -
"od'
Número de Experiências
Figura 11.6
A EFICIÊNCIA OPERACIONAL E ORGANIZA TIV A
NAS REDES DE COMUNICAÇÃO
(Modificado de Guetzkow e Simon, 1954/55, pág. 241)
TIjlOO'
Tipo E:
Descentralização
Horizontal e Vertical Descentralzação
Horizontal e Vertical
(SO""'I
Nota: O empolamento das partes sombreadas reflecte a sua importância especial nos pode-
res de decisão, e não a importância dos seus efectivos.
Figura 11.7
UM CONTÍNUO DE TIPOS DE DESCENTRALIZAÇÃO
238 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Parece que na nossa discussão tomam vulto cinco tipos distintos de descen-
tralização vertical e horizontal. De facto, estes tipos podem ser ordenados num
contínuo ·único, que vai de uma extremidade onde se encontram as organiza-
ções centralizadas nas duas dimensões, à outra extremidade onde se encontram
as organizações descentralizadas nas duas dimensões. Estes cinco tipos são repre-
sentados na figura 11-7: as cinco partes da organização são apresentadas como
formas deformadas no nosso esquema de base [onde, deve-se notar, as formas
e a dimensão de certas partes foram modificadas e empoladas deliberadamente
(as partes sombreadas) para reflectir a importância particular dos poderes de
decisão que residem nas ditas partes da organização não representando a sua
verdadeira dimensão] Discutimos brevemente, a seguir, os cinco tipos de
descentralização:
Tipo A: A centralização horizontal e vertical. Aqui o poder de decisão con-
centra-se nas mãos de um único indivíduo, o gestor no topo da linha hierárquica,
o director-geral. O poder é empolado na figura 11-7 (a) no vértice estratégico.
O director-geral retém tanto o poder formal como o poder informal, ele próprio
toma todas as decisões importantes e coordena a sua execução, utilizando a
supervisão directa. Como tal, não tem grande necessidade de partilhar o seu poder
com os funcionais, os gestores da linha hierárquica ou os operacionais.
Até agora não tem sido dificil discutir cada um dos outros parâmetros de
concepção por parte da organização. Já o mesmo não se pode dizer sobre os dois
tipos de descentralização, pois a distribuição do poder é um fenómeno que abrange
todas as organizações. Contudo, podemos tirar algumas conclusões.
Por definição, a descentralização vertical envolve apenas a cadeia de auto-
ridade, isto é, o vértice estratégico e a linha hierárquica. E aqui, qualquer tipo
de padrão é possível. Nalgumas organizações, o poder permanece ao nível do
vértice estratégico; noutras, é delegado a vários níveis da linha hierárquica,
por vezes de maneira selectiva e outras vezes de maneira global; e noutros
casos ainda, o poder passa mesmo para o fundo da linha hierárquica, e pode
mesmo ultrapassar a linha hierárquica até ao centro operacional. Se é possível
fazer uma única generalização, é a de que os padrões de autoridade clássica
continuam a dominar os sistemas de poder das organizações, i. é, o poder for-
mal reside em primeira instância no director-geral no topo da hierarquia.
A partir daí este delega o poder como muito bem lhe aprouver. E o poder for-
mai, contrariamente ao poder informal, ainda desempenha um papel muito impor-
tante dentro das organizações. Por conseguinte, as estruturas podem ser mais
centralizadas do que o necessário, tanto na dimensão vertical como na dimen-
são horizontal. Por outras palavras, parece que a linha hierárquica tem ten-
dência a reter mais poder do que o necessário, particularmente ao nível
do vértice estratégico.
A descentralização horizontal, por definição, envolve as outras três partes
da organização - nomeadamente, a tecnoestrutura, as funções de apoio e o
centro operacional - no sistema de poder. Mais uma vez, vimos todos os tipos
de distribuição do poder, desde os grupos funcionais cujo poder é negligenciá-
vel até aos grupos funcionais cujo poder é muito importante, dos centros ope-
racionais fracos aos centros operacionais fortes. Mas um ponto é claro. Todos
estes grupos dispõem de poder informal sempre que se baseiam em conheci-
mentos técnicos altamente especializados. Os grupos funcionais não só acon-
selham como tomam decisões técnicas quando dispõem dos necessários conhe-
cimentos para tal; os operacionais - quando dispõem de um alto grau de
especialização que lhes permite tOluar decisões de gestão, c também quando se
trata de profissionais, isto é, quando desempenham funções baseadas em conhe-
cimentos e qualificações de grande complexidade - acumulam um grau consi-
derável de poder. Para rematar, deve ser observado que dentro das unidades
tecnocráticas e das unidades que oferecem um maior nível de apoio, cujo tra-
balho é essencialmente de natureza profissional, poder-se-ia esperar encontrar
um nível elevado de descentralização, dos gestores funcionais aos próprios espe-
cialistas funcionais .
242 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
I Khandwalla fez a mesma descoberta em relação aos factores de contingência, o que sugere,
por outras palavras, que o sucesso não provém unicamente da dimensão da empresa, do sistema
técnico que esta utiliza e do ambiente no qual está inserida.
A ESTRUTURAÇÃO EFICAZ DAS ORGANIZAÇÕES 247
trolo de gestão, não é muito divisionalizada, utiliza poucos métodos de decisão par-
ticipativos ou de grupo, investe relativamente pouco em pessoal especializado ou em
informática e não se encontra integrada verticalmente. Em condições opostas, a empresa
descentralizada pode provavelmente ter sucesso (1971, pág. 7).
o 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100%
1. Departamentalização
funcional
2. Divisionalização
~ Empresas de desempenho elevado
3. Integração vertical
O Empresas de desempenho baixo
4. Delegação do poder
pelo Director-Geral
5. Participação na decisão
nos níveis mais elevados
O 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100%
Figura 12. 1
MÉDIAS DAS RESPOSTAS RELACIONADAS COM A UTILIZAÇÃO
DOS DNERSOS PARÃMETROS DE CONCEPÇÃO NAS EMPRESAS DE DESEMPENHO ELEVADO
E DE DESEMPENHO MEDíOCRE (Khandwalla, 1971, pág. 3)
Departamentalização
Funcional
Partiopação na
Decisão aos níveis
mais elev<KIos
Serviços Funcionais
e InfOlTl1ática
( - ) A correlação é negativa
Figura 12.2
CO-VARIAÇÕES ENTRE OS PARÂMETRO S ESTRUTURAIS (Khandwalla, 1971, pág. 6)
1 As descobertas de Khandwalla foram corroboradas por Child (19 77): num estudo efectuado
sobre quatro companhias aéreas, Child chegou à conclusão de que as duas empresas com mais sucesso
tinham estruturas muito diferentes das daquelas que nâo eram tão eficazes, se bem que operassem
A ESTRUTURAÇÃO EFICAZ DAS ORGANlZAÇÕES 249
em situações quase idênticas, e que estas duas empresas tinham estruturas muito mais coerentes do
que as empresas com os resultados mais baixos. Para além disso, o grupo sueco dos Institutos
Escandinavos para a Investigação Administrativa (S IAR), apresentou um relatório: «... 0 "princípio
de coerência" constitui a ideia-chave que emerge do nosso programa de investigação sobre as orga-
nizações. De acordo com este postulado, a fonte principal da ineficácia e dos conflitos é a falta de
coerência entre os subsistemas da organização» (StAR, 1973, pág. 29).
250 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
I A interdependência do trabalho pode constituir ainda outra variável intermédia, mas como ire.
mos ver, não é independente da previsibilidade. A previsibilidade permite a estandardização, o que
reduz a interdependência.
A ESTRUTURAÇÃO EFICAZ DAS ORGANIZAÇOES 251
de defeitos: se algumas das relações são bem claras, há casos onde diferentes
investigadores apresentam conclusões diametralmente opostas, chegando mesmo,
por vezes, a apresentar mais de meia dúzia de argumentos contraditórios com
os de outros autores, a favor das suas posições. No conjunto, o debate sobre
qual dos factores de contingência - nomeadamente, a dimensão da organização,
o sistema técnico ou o ambiente -, influencia mais a estrutura, continua a ser
intenso na literatura.
Idade da OrganizaçAo
:::=::> Especialização
tio Trabalho
===::>
Dimensão da 0rgarWçã0
,_
Inteligibilidade
do Trabalho
::> ' '"' ' ' '
e Socialização
ReguI&çao do Sistema
==> Formalização
Sofisticação do
Sistema Técnico
==> do ComJXlrlamento
Estatlilidacle
do Ambiente
==> Previsibilidade
do Trabalho
::> Agrupamento
em Unidades
Complexidade
do Ambiente
==> Dimensão
das Unidatles
Di~~
- ~
,Coo",""
===>
"'""""-v_-
Hostilidade do Trabalho
do Ambiente ""'''''''''
Propriedade
===>
Necessidades
d06 Mombros :::::=> Rapidez de Resposta
::> Descentralização
Horizontal
Mod,
:::=:!>
Figura 12.3
AS VARIÁVEIS: INDEPENDENTES, DEPENDENTES, INTERMÉDIAS
252 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Os quatro problemas que nós acabámos de ver são problemas graves, mas o
elemento que contribui sem dúvida para criar mais confusão nos estudos de con-
tingência é o recurso a conceitos abstractos. A partir do momento em que o
investigador utiliza uma variável que não pode ser medida nos termos da pró-
pria organização, passa a estar limitado a utilizar medidas perceptuais que
podem desvirtuar a realidade. Como já tivemos a oportunidade de ver, os con-
ceitos de «descentralização» ou «participação» não podem ser medidos em função
de uma única actividade organizacional. Estes conceitos são conceitos abstractos,
inventados pelos teóricos para poderem descrever os fenómenos. Mas nada acon-
tece dentro da organização que posssa gerar uma única medida objectiva válida
destes conceitos. A melhor aproximação que um investigador pode obter, exige a
avaliação do papel desempenbado pelos diferentes participantes, em cada fase de
um processo de decisão, e depois a acumulação destes resultados para todos os
processos de decisão. Tudo isto vai criar uma certa ideia da verdadeira distri-
buição do poder de decisão através da organização. Mas tudo isto também implica
uma enorme quantidade de trabalho . Como tal, existe uma tentação enorme em
gerar, directamente, medidas para os conceitos abstractos e isto significa basearmo-
-nos em percepções. O investigador deve então perguntar a um gestor - ou outro
funcionário qualquer - qual é a sua impressão sobre o conceito abstracto, pedindo-
-lhe que o avalie, utilizando uma escala de sete pontos. O que o investigador
consegue obter são respostas que podem ser processadas no computador. O que
não consegue obter é uma ideia da relação entre as percepções que mediu e a rea-
lidade que pretende descrever. Não há dúvida, que «as percepções do director-
-geral são importantes para compreender o modo como as organizações estão
estruturadas» (Pfelfer e Leblebici, 1973-74, pág. 273). Mas isto não justifica que
os investigadores - estes e muitos outros - cheguem a conclusões acerca do modo
como O «ambiente» - em oposição à «percepção do ambiente» - influencia a
estrutura. Por outras palavras, devemos distinguir claramente entre os elos (a) e
(c) da figura 12-4. O problema é que as distorções podem informar a percepção
que a gestão tem sobre o fac lar de contingência - o elo (b) da figura 12-4, que é
raramente estudado - de tal maneira que o investigador acaba inadvertidamente
por descrever uma patologia organizacional: uma gestão que concebe uma estru-
tura que se coaduna com as suas percepções erróneas sobre a situação da organi-
zação. Tinker (1976, pág. 507) é particularmente crítico sobre aquilo que intitula
«as medidas perceptuais do actor por procuração», que considera ter reduzido «a teo-
ria das organizações a um problema de psicanálise dos actores». E conclui que:
«a observação dos factos, por muito numerosos que sejam, nunca iria compensar
254 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
A Percepção do Factor
de Contingência
pela Direcção
Figura 12.4
OS ELOS ENTRE FACTORES DE CONTINGÊNCIA,
PERCEPÇÃO DOS FACTORES DE CONTINGÊNCIA E ESTRUTURA ORGANIZACIONAL
CAPíTULO 13
A IDADE E A DIMENSÃO
Será que as estruturas mais velhas são diferentes das mais novas? Será que
existe uma diferença entre as estruturas das grandes organizações e as das
pequenas? Será que a taxa de crescimento da organização afecta a estrutura? Na
nossa sociedade, obcecada pelo crescimento e o desenvolvimento da organiza-
ção como objectivo principal , estas questões são de grande importância. De
facto, dispomos sobre este assunto de um conjunto considerável de resultados de
investigação, que pode ser apresentado de maneira sintética em cinco hipóteses:
duas hipóteses relacionadas com a idade e três hipóteses relacionadas com a
dimensão da organização. Depois de as apresentarmos uma por uma, vamos ver
que é possível clarificar e aglomerar todas elas, tomando em conta a maturidade,
o envelhecimento e o crescimento da organização, não como um conjunto de
progressões lineares mas como uma sucessão de transições distintas entre dife-
rentes «fases do desenvolvimento».1
I Kimberley (1976), faz uma análise incisi va sobre 80 estudos empíricos que relacionam a dimen-
são com a estrutura, mas interessa-se mais pelos métodos de estudo do que pelos resultados.
2 Vamos apresentar hipóteses deste tipo em cada um dos quatro capítulos desta secção. Estas
hipóteses são apresentadas como descrições da realidade corroboradas pela investigação. Se nos
reportarmos às descobertas de Woodward, Khandwalla e outras apresentadas no capítulo J2, todas
estas hipóteses descrevem sem dúvida muito mais fielmente o comportamento das organizações
mais eficazes, do que o comportamento das organizações menos eficazes.
256 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Stinchcombe termina a sua análise neste ponto. Mas iremos ver a seguir, que
nos sectores de fundação ainda mais recente (electrónica, aeronáutica, gabinetes
de consultadoria), as organizações apresentam também características particula-
res dando corpo a um quarto período. De facto, mais adiante teremos provas
suficientes de que assim acontece. Iremos também observar que um número
de parâmetros de concepção que Stinchcombe não discute - presumivelmente,
por falta de provas - inserem-se na mesma categoria dos parâmetros discutidos
por este investigador. Por outras palavras, tencionamos alargar as suas desco-
bertas a fim de demonstrar o desenvolvimento de uma configuração estrutural
distinta em períodos específicos da história recente.
O que é que leva a estrutura a reflectir a idade da fundação do sector? Porque
é que diferentes sectores criados na mesma época adoptaram formas estruturais
vizinhas e porque é que as conservaram até hoje, mesmo depois do aparecimento
de novas formas estruturais? Porque é que, por exemplo, os caminhos-de-ferro
do final do século xx se assemelham mais às minas de carvão do século XIX do
que às empresas do sector aeronáutico? Pode evocar-se em primeiro lugar, a
inércia da estrutura e do ambiente: Stinchcombe nota que os sectores se desen-
volvem por causa das condições económicas e técnicas do seu tempo. Por exem-
plo, <c .. os caminhos-de-ferro talvez não pudessem ter sido «inventados» sem
que as formas sociais apropriadas para o desenvolvimento de uma empresa ine-
rentemente de grande escala, tivessem sido inventadas, e os caminhos-de-ferro
como continuam a ser empresas inerentemente de grande escala ... continuam a
apresentar as características inevitavelmente associadas à dimensão» (pág. 160).
Por outras palavras, sempre que as condições permanecerem constantes, a estru-
tura original pode, de facto, continuar a ser a mais apropriada.
Mas esta explicação não é suficiente para Stincbcombe. As tradições e os
interesses em jogo desempenham também um papel importante na preservação
da forma estrutural: por exemplo, a socialização solidifica a estrutura à volta de
um conjunto de valores, de uma ideologia. Stincbcombe nota que (quando escre-
1 A dimensão de uma organização pode ser medida pelo número de assalariados, o volume de
vendas, a dimensão do orçamento, o montante do investimento em capital e outros factores. Woodward
( 1965, págs. 55-57) argumenta que a melhor indicação da «magnitude)) da organização é a dimen-
são do grupo de gestão. Ver Kimberley (1976), para uma discussão destas medidas. Neste capítulo,
a dimensão significa gera lmente o número de assalariados.
2 Baseado num artigo submetido ao autor no âmbito do curso Management Policy 70 I, Novembro
de 1969, por Selin Anter, Gilles Bonnier, Dominique Egre e Bill Freeman.
A IDADE E A DIMENSÃO 259
trabalho muito mais acentuada. O que significa que devemos esperar linhas muito
mais demarcadas entre os operacionais que efectuam o trabalho, os analistas
que o concebem e o planeiam, e os gestores que o coordenam. Não é raro
ver-se o director-geral de uma pequena empresa arregaçar as mangas para repa-
rar uma máquina ou para servir como analista na elaboração de um sistema de
gestão de stocks (Choran, citado por Mintzberg, 1973a, págs. 104-107), con-
tudo, ficaríamos muito surpreendidos se víssemos o director-geral de uma
grande empresa fazer o mesmo.
Têm-se feito numerososo estudos, sobre o modo como as empresas indus-
triais elaboram as suas estruturas à medida que crescem. De acordo com Rosemary
Stewart (1970), o estabelecimento destas unidades hierárquicas básicas é seguido
pelo desenvolvimento da tecnoestrutura:
Um estudo nos Estados Unidos no princípio dos anos 50 sobre 211 empresas
industriais chegou à conclusão de que as actividades - de compras, de expedição e
de recepção de mercadorias, de contabilidade e de engenharia - encontravam-se
geralmente completamente diferenciadas, quando o efectivo dos trabalhadores de pro-
dução da empresa atingia de 75 a 99 pessoas. O controlo da produção, a inspecção ,
o estudo dos tempos e movimentos e os recursos humanos acabavam por se diferen-
ciar, e chegavam mesmo a formar departamentos, quando o efectivo dos trabalhado-
res de produção da empresa atingia de 100 a 499 pessoas. A princípio, estas funções
podem ser da responsabilidade de apenas certos indivíduos, mas à medida que a orga-
nização cresce, algumas destas funções - tais como a contabilidade e o pessoal - aca-
bam por se tornar departamentos autónomos (pág. 21).
- Wicksberg (citado por Starbuck, 1965, pág. 478) descobriu que as unida-
des de produção surgiram em primeiro lugar, seguidas pelas vendas, as
compras e s6 depois se seguia o controlo de qualidade;
- as unidades de compras, de expedição e de recepção, de contabilidade e
técnica são geralmente completamente diferenciadas, desde que o efectivo
dos trabalhadores de produção da empresa se situe de 75 a 99 pessoas
(R. Stewart, 1970);
- depois, assiste-se a uma diferenciação cada vez mais marcada, segundo as
diferentes funções. e a uma integração vertical, começando a própria empresa
a desempenhar certas actividades dos seus clientes e dos seus fornecedo-
res. O estágio ulterior é o da diversificação (a introdução de novas linhas
de produtos), da expansão da actividade para novos mercados, a princípio
nacionais e mais tarde internacionais (Chandler, 1962; Scott, 1971; e nume-
rosas outras referências que veremos em pormenor no capítulo 20);
- a última fase é a da empresa multinacional gigante que, tendo de incorpo-
rar ao mesmo tempo os pontos de vista das funções, dos produtos e das
zonas geográficas, adopta uma estrutura matricial em que dois ou três des-
tes pontos de vista se encontram em pé de igualdade (Stopford e Wells, 1972).
260 ESTRUTURA E DINÀMICA DAS ORGANIZAÇÕES
-
Maior Especialização
do Trabalho (Es~a-
lização do TralJalho no
Interior das Unidades)
TT
-
Maior Diferença
Unidades
r
Mais Nlvets
"'
Hierarquia
+
Menos N&- Mais Ne-
cessidade de Coor- cessidade de Coor·
denação fI(l inferior denação !;nlre
das Unidades as Unidades
Recu~o mais
Maior
Unidade Intenso aos Sistemas
Fonnalização
Maiores de Planeamento
do Comportamento
e de Controlo
4 I
-.t
Estrutura
mais SUrOCfáUca
(de Tipo
não Qualificado)
Nota: Similar ao diagrama sugerido por Blau e Schoenherr (1971); estas relações supõem um
sistema técnico e um ambiente constante.
Figura 13.1
DIAGRAMA DAS RELAÇÕES ENTRE DIMENSÂO DA ORGANIZAÇÂO E ESTRUTURA
A lDADE E A DIMENSÃO 263
As relações que temos vindo a discutir nas três últimas hipóteses encontram-
-se resumidas no diagrama da figura 13- 1, que é semelhante ao proposto no estudo
de Blau e Schoenherr (1971). O aumento da dimensão conduz a uma maior
especialização no interior das unidades, e ambos conduzem a uma diferencia-
ção mais acentuada entre as unidades, seguindo-se a criação de mais níveis na
hierarquia. A especialização dos postos de trabalho reduz a necessidade da coor-
denação dentro da unidade, o que permite um aumento no tamanho da unidade.
Mas a especialização dos postos de trabalho, a par de diferenciação das uni-
dades também aumenta a necessidade da coordenação dentro da unidade, o que
faz com que a organização formalize o seu comportamento e recorra mais for-
temente aos sistemas de planeamento e de controlo (ambos os sistemas permi-
tem que as unidades cresçam em dimensão). Finalmente, o comportamento mais
formalizado e a utilização mais aturada dos sistemas de planeamento e de con-
trolo significam uma maior estandardização, o que por sua vez, leva a uma
maior burocratização da estrutura (do tipo indiferenciado e não profissional).
Vale a pena notar, neste ponto da nossa discussão, que todas estas relações
podem ser mitigadas por outros factores. Woodward (1965), por exemplo, cons-
tatou que algumas das empresas mais pequenas na sua amostra, utilizando os
mesmos processos técnicos, tinham estruturas administrativas muito desenvolvi-
das - tanto hierárquicas como funcionai s - enquanto que uma grande empresa
dotada de um sistema técnico mais simples não comportava um departamento de
pessoal - os contramestres contratavam os seus próprios trabalhadores. E Hall
(1972, pág. 119) conclui que uma grande dimensão só conduz à formalização
nas organizações com sistemas técnicos rotineiros, as organizações que produ-
zem produtos e serviços padronizados .] Do mesmo modo, um crescimento muito
rápido pode perturbar uma estrutura a ponto de esta se tomar orgânica, mesmo
que seja grande.
Isto não quer dizer que as relações descritas nas hipótese 3, 4 e 5 estejam
ausentes nestes casos, apenas quer dizer, que outros factores têm mais influên-
cia. As organizações grandes e de rápido crescimento são provavelmente mais
burocráticas do que as organizações médias que crescem à mesma taxa, embora
ambas sejam consideravelmente menos burocráticas do que as organizações de
crescimento lento independentemente da sua dimensão.
Os estudos AIP
I Assim Hall et aI. (1967), descobriram que as organizações maiores são somente um pouco
mais complexas e um pouco mais formalizadas, num estudo que incidia sobre uma variedade
importante de organizações com sistemas técnico s diversos. Ver uma outra discussão de Kast e
Rosenzweig (1970, pago 227), sobre a relação entre dimensão e formalização.
264 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANI ZAÇÕES
Para ilustrar bem a sua tese, Parkinson citou o caso da Marinha Real Britânica
onde, entre 1914 e 1928, o número de oficiais aumentou 78 por cento e o número
do pessoal de terra aumentou 40 por cento, embora o número total dos marinhei-
ros tenha diminuído 32 por cento e o número de navios de guerra 68 por cento!
O que Parkinson afirmava meio a brincar (mas somente meio a brincar) sus-
citou uma grande onda de interesse entre os sociólogos mais sérios, que come-
çaram encarniçadamente à procura de uma relação entre a dimensão da empresa
e a proporção dos administrativos, por um lado, e a relação AIP, por outro.
A literatura resultante destes esforços é notória pela confusão extrema em que
A IDADE E A DIMENSÃO 265
14
12 o
o
10
j 00
i
.!i
B
o
o o
8 6
~
00
o
o
4
O
O 2 4 6 8 10 12 14 16
~ Dos Empregados Externos
Figura 13.2
A RELAÇÃO ENTRE A ÁREA-VOLUME E DIMENSÃO NUMA EMPRESA
(H.ire, 1959, pág. 286)
A IDADE E A DIMENSÃO 267
1 Child (1973), apontou a conclusão de Rushing com a descoberta de que os gestores hierár~
quicos e os empregados func ionais constituíam nitidamente dois grupos distintos; quanto ao con~
trolo pela dimensão, Chi ld descobriu uma correlação negativa significativa entre o número de ges~
tores hierárquicos e os empregados funcionais.
268 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Child (1973), na sua excelente revisão dos estudos sobre o AIP, demonstrou que
a relação entre o AIP e a dimensão varia em função de numerosas variáveis: a
dimensão, a complexidade, a dispersão espacial, a tecnologia, a propriedade e o
controlo, a afiliação num grupo maior - o que lhe peanitiu explicar algumas das
discrepâncias nas descobertas relacionadas com cada tipo de indústria. Nas orga-
nizações de serviços e voluntárias, observam-se relações positivas entre a dimen-
são e o AIP, e nas empresas industriais observam-se relações negativas entre o
AIP e a dimensão.
Child introduziu outros factores que influenciam o AIP, no seu próprio estudo
sobre 54 empresas industriais britânicas, neste estudo ele foi mais longe do que
qualquer outro investigador na sua análise minuciosa da componente adminis-
trativa. (Child isola dezasseis grupos funcionais diferentes no total. Não men-
ciona o chefe cozinheiro na cantina da empresa, mas inclui uma categoria deno-
minada «serviços auxiliares»!) Child observa que a dispersão espacial, a
complexidade tecnológica e o número das divisões do fluxo do trabalho influen-
ciam a taxa administrativa. Mais importante ainda, nota que as relações não se
aplicam uniformemente a todos os grupos do pessoal administrativo: a explica-
ção para a taxa de crescimento de grupos administrativos diferentes reside em
diferentes factores. I
Tudo o que acabámos de expor sugere duas conclusões. A primeira, que
existe uma dimensão da organização, em que a componente administrativa
atinge a sua dimensão óptima. A segunda conclusão, é que esta dimensão varia
consoante o sector e consoante as circunstâncias que a afectam. Como Klatzky
(1970) e outros (Starbuck, 1965; Hall, 1972) sugeriram, a relação entre a dimen-
são e o AIP não é provavelmente de natureza linear, mas sim curvilínea: à medida
que cresce, a organização formaliza o seu comportamento e substitui o seu pes-
soal de gestão por pessoal tecnocrático; ao fazê-lo, a sua taxa administrativa
(talvez após um aumento inicial, quando introduz pela primeira vez os sistemas
tecnocráticos) atinge o seu ponto óptimo; depois disso, o AIP aumenta à medida
que a organização se toma demasiadamente grande para a sua situação, dotada
de uma administração demasiado pesada e ineficiente que luta em vão para coor-
denar as suas actividades.
O que é que tudo isto tem a ver com Parkinson? Certamente, que o situa à
margem do debate. Parkinson nunca falou sobre o AIP, sobre a diferenciação, ou
sobre a tecnologia; ele disse apenas que os gestores preferem multiplicar os seus
subordinados, e não os seus rivais; e no Estado, onde as medidas para promo-
ver eficiência estão ausentes, podem fazê -lo a seu bel-prazer. Louis Pondy
(1969) constatou que à medida que a gestão se encontrava progressivamente
separada da propriedade da organização, o AIP aumentava. Pondy sugere que
isto é devido ao facto de o dirigente-proprietário sentir uma enoane relutância
em contratar pessoal funcional ou tecnocrático com O qual tenha de partilhar o
poder, ou de ter a tendência para trabalhar longas horas e como tal não ter tanta
I Na edição de 1969, pág. 441n, citam um conjunto de estudos teóricos e empíricos sobre as
fases de crescimento nestas esferas.
2 Numerosos livros e artigos práticos discutem estes assuntos; ver, por exemplo, Greiner (1972)
c Buchele (I 967).
A IDADE E A DIMENSÃO 271
Esta era a forma principal de estrutura até ao fim do século XIX (Rogers,
1975, pág. 82); hoje em dia, continua a ser típica das organizações jovens e peque-
nas, que desenvolvem uma actividade destinada a um mercado único e que,
essencialmente, só têm uma função (por exemplo, fabricação ou marketing).
A organização é eficaz no seu domínio, e a sua estrutura está bem adaptada a
um crescimento rápido.
1'~'
s/
----------
L_EC.
G~
r------,---L---r------,',
__
--,,
\
\
O V O \
L~ EC ..
~~)b M
Figura 13.3
A ELABORAÇÂO DA ESTRUTURA NO RESTAURANTE DE TOM JONES
(Whyte, 1969, págs. 572-573)
Como observa Scott (1971), deram mais importância à eficácia interna da pro-
dução do que à eficácia dos mercados . Mas estas organizações cresceram pela
diversificação das suas linhas de produtos, e só depois pela expansão geográ-
fica. Nestas condições, a estrutura funcional acabou por se tornar cada vez mais
inadaptada à coordenação entre as actividades correspondentes aos diversos mer-
cados, e demasiadamente pouco flexível para poder absorver novas actividades.
A organização precisava de outras estruturas que se adaptassem mais facilmente.
A solução para este problema, bem entendido, residia na estrutura divisiona-
lizada, uma estrutura que consiste em operar os agrupamentos sobre a base de
mercados nos níveis mais elevados. Assim como a amiba, a burocracia funcio-
nal quando cresce demasiadamente, divide-se em duas entidades distintas, a
que nós chamamos «divisões», constituindo cada uma delas uma burocracia
tipica da Fase 2, que servem o seu próprio mercado e dispõem do seu pró-
prio centro operacional. A «sede» central coordena a actividade das divi-
sões, essencialmente, através de um sistema impessoal de controlo dos
desempenhos; as suas funções consistem em criar novas divisões e a supri-
mir as antigas divisões ineficazes.
Chandler descreve esta evolução de uma maneira muito clara no seu livro
Estratégia e Estrutura (1962). Identifica quatro «capítulos» na história da
grande empresa americana: «a expansão inicial e a acumulação dos recursos; a
racionalização da utilização dos recursos; a expansão para novos mercados e
para outras linhas de produtos que ajudem a assegurar a utilização contínua dos
ditos recursos; e, finalmente, o desenvolvimento de uma Dova estrutura que per-
mita a mobilização contínua e efectiva dos recursos, satisfazendo não só as exi-
gências do mercado a curto prazo, mas também as tendências do mercado a
longo prazo» (pág. 385). O último capítulo de Chandler consiste, claro está, na
transição para a estrutura divisionalizada.
Será que a diversificação é em si uma fase na evolução das organizações?
Por outras palavras, será que as organizações adoptam a estrutura divisional i-
zada somente porque envelhecem e a sua dimeqsão aumenta? Quanto a Stopford
e Wells (1972), não se trata só da dimensão. E sobretudo a diversificação dos
mercados que obriga as organizações a adoptarem urna estrutura divisional i-
zada. Porém, admitem a influência da dimensão, observando que «as grandes
empresas são geralmente mais diversificadas do que as pequenas» (pág. 72).
Pode-se acrescentar que as empresas mais antigas parecem ser muito mais
diversificadas do que as empresas mais novas. Aparentemente, à medida que
vão envelhecendo e crescendo, muitas organizações começam a procurar outras
coisas para fazer. Talvez devido ao desenvolvimento da concorrência nos seus
mercados tradicionais; talvez porque o seu próprio crescimento tenha saturado
estes mercados; talvez, muito simplesmente, porque a gestão está farta dos
mercados antigos e deseja actividades mais cstimulantes. Em qualquer caso, a
idade e a dimensão encontram-se claramente relacionados com a divisionaliza-
ção, embora a diversificação seja obviamente a variável intermédia importante. I
1 Discutimos em grande pormenor, no capítu lo 15, as provas materiais da relação entre a diver-
sificação do mercado e a divisionalização estrutura l. No capítu lo 20, discutimos ainda mais por-
menorizadamente a relação entre a dimensão da organização e a sua divisional ização, sendo a
d iversificação do mercado a variável intennédia.
276 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Umas poucas empresas tentaram ... construir novas estruturas em que os gestores
operassem com relações duplas ou múltiplas. Estabeleceram-se as divisões mundiais
e as divisões regionais por produto, que partilham entre si a jurisdição sobre as sub-
sidiárias estrangeiras. A natureza precisa desta estrutura em «rede)) continua a ser
pouco clara, pois as empresas pioneiras deste método encontram-se ainda num pro-
cesso experimental. Mas parece que outras empresas irão seguir-lhes na peugada num
futuro próximo. Tem-se observado a emergência de uma (nova) fase de expansão no
estrangeiro, em que as estruturas globais são substituídas por novas fonnas (pág. 27).
A IDADE E A DiMENSÃO 277
Tem sido dificil evitar até aqui discutir a tecnologia como um factor na con-
cepção das organizações. Apareceu brevemente na nossa discussão no princípio
deste livro, quando apresentámos o estudo das minas de carvão britânicas, feito
por Trist e Bamforth; mais tarde, vimos claramente o papel desempenhado pela
tecnologia no estudo de Crozier sobre o poder que os técnicos de manutenção
usufruíam nas fábricas de tabaco francesas; e voltou a aparecer repetidamente
na nossa discussão sobre a dimensão das organizações. A tecnologia é clara-
mente um factor de primeira importância na concepção das estruturas organizacionais.
Esperaríamos que a tecnologia fosse fundamentalmente um fenómeno rela-
tivo ao centro operacional - quer dizer, que afectasse a concepção da sua estrutura.
A influência que a tecnologia desempenha noutras partes da organização, como
veremos em breve, é um ponto litigioso na bibliografia sobre teoria das organizações.
Dimensões da tecnologia
por instrumentos complexos - pode, de facto, ser fácil de operar (a maior parte
das pessoas sabe conduzir um automóvel, sem contudo fazer a menor ideia do
que se passa por debaixo da capota), ao passo que um sistema técnico simples
pode exigir uma tecnologia muito complexa - ou seja, conhecimentos e compe-
tências altamente complexos (como no caso do bisturi do cirurgião).
De facto, uma grande parte da confusão desvanece-se quando nos con-
centramos exclusivamente no sistema técnico, que é por vezes chamado
<<tecnologia das operações» - i. é, os instrumentos utilizados pelos operacio-
nais para transformar os inputs em Olltputs - e quando consideramos os aspec-
tos mais latos da complexidade do trabalho noutras partes da organização
(no capítulo 15, onde iremos tratar do ambiente como um factor de contingência).'
Neste capítulo iremos utilizar as duas dimensões do sistema técnico definido por
Hunt, embora com outros nomes: regulação e sofisticação. (Deixamos também
para o próximo capítulo, duas outras dimensões do sistema técnico: a sua taxa
de mudança, porque a mesma é ditada pelas características do ambiente, e a sua
divisibilidade - até que ponto é fácil dividi-lo em sistemas técnicos mais peque-
nos - porque se enquadram na nossa discussão sobre a diversidade do ambiente.)
A regulação é a dimensão do sistema técnico que representa a influência
deste sistema sobre o trabalho dos operacionais. Na definição de Hunt, rela-
ciona-se com o «locus do controlo» do trabalho, e também com o grau de
controlo e de regulação que os instrumentos exercem sobre aqueles que os
utilizam. No caso de uma pequena regulação - por exemplo, o bisturi do cirur-
gião ou a caneta do escritor - O operador determina o seu próprio ritmo de tra-
balho, estabelece os seus próprios procedimentos e, em geral, controla o seu
próprio trabalho; os instrumentos funcionam quase como um adjunto do seu pró-
prio trabalho. Bem entendido, todos os sistemas técnicos são de certo modo
reguladores, incluindo o bisturi do cirurgião e a caneta do escritor. No momento
em que escrevo estas palavras, os meus pensamentos ocorrem-me muito mais
velozmente do que o simples sistema técnico, por mim utilizado, me permite
passá-los ao papel. Pode ser que escrever à máquina seja mais rápido, mas tam-
bém se torna mais regulador: não me pennitiria, por exemplo, mudar a maioria
das minhas palavras momentos após tê-las escrito, como o estou a fazer agora.
No principal estudo de Aston (Pugh et aI., 1968), as quatro variáveis tecno-
lógicas' foram reduzidas a uma escala única, que foi denominada «integração do
fluxo do trabalho» e que corresponde à nossa dimensão de regulação. «Entre as
organizações que alcançaram uma pontuação elevada na escala, dotadas de tec-
nologias bastante rígidas, assim como muito integradas e automatizadas. temos
uma fábrica de automóveis, um fabricante de produtos alimentares e uma pis-
cina pública. Entre as organizações com uma pontuação baixa, dotadas de tec-
nologias flexíveis, diversificadas e não-automatizadas, temos grandes armazéns,
um departamento de educação e uma empresa construtora.» (Pág. 103.)
I Pennings (1975) menciona os problemas que surgem quando se confunde o sistema técnico
com o ambiente, enquanto Stanfield (1976) debate a inclusão das medidas da própria estrutura em
mal definidas dimensões da tccnologia.
2 Estes eram: a rigidez do fluxo do trabalho (a adaptabilidade da tecnologia a diversos outputs),
o grau e a latitude da automatização (duas medidas da extensão de automatização), e a interde-
pendência dos segmentos do fluxo do trabalho (a união entre as operações).
o SISTEMA TÉCNICO 281
1 Hunt também discute uma quarta rase no desenvolvimento dos sistemas técnicos, que intitula
«idade nuclear».
282 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
• Produção em contínuo.
- Produção intermitente de produtos químicos em fábricas que utilizam
processos múltiplos.
- Produção contínua de líquidos, de gases e de substâncias cristalinas.
Woodward tratou esta lista, na ordem apresentada, como uma escala de cres-
cente complexidade tecnológica - nas nossas palavras, um sistema técnico de
sofisticação crescente. Observou também algumas das suas características. Primeiro
que tudo, não estavam de todo relacionadas com a dimensão das empresas -
existiam empresas de produção por unidades com muitos empregados e empre-
sas de produção contínua com poucos empregados. Em segundo lugar, como já
se observou, reflectia o desenvolvimento cronológico, desde a forma mais antiga
de fabricação até à mais modema. E em terceiro lugar, a escala relacionava-se
com a regulação: de uma regulação fraca na produção por unidades a uma regu-
lação muito forte na produÇão em contínuo.
Um certo número de investigadores tecem alguns comentários sobre a
escala de Woodward. R. G. Hunt (1970; não confundir com John Hunt) fez
uma certa questão com o rótulo de complexidade, fazendo notar que a produ-
ção por unidades pode por vezes ser tão complexa com a produção em conti-
nuo . Harvey (1968) concordou com ele, e preferiu considerar a escala como
uma mudança de produto ou «difusão técnica», de uma série mais vasta de
produtos na produção por unidades a produtos mais estandardizados na pro-
o SISTEMA TÉCNICO 283
I Harvey utilizava como medida da sua variável independente, o número de mudanças de pro-
dutos nos últimos dez anos, e a média do número de diferentes espécies de produtos oferecidos nos
últimos dez anos. Porém, uma coisa é sugerir uma relação entre a mudança dos produtos e o sis-
tema técnico utilizado, e outra coisa é tomar a mudança de produto como tecnologia. Nenhuma
defmição aceitável de tecnologia pode ser assim tão lata! (Também se deve notar que Woodward
descreve os produtores por unidade como mudando os seus produtos praticamente todos os dias,
devido ao facto de os seus outputs não serem estandardizados. O que é que acontece quando se
aplicam as medidas de Harvey a estas empresas?)
284 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Mas o que distingue este estudo de outros estudos similares, não são só estas
observações aleatórias mas a maneira como Woodward as utiliza para pintar um
quadro integrado das três estruturas organizacionais distintamente diferentes, asso-
ciadas aos três sistemas técnicos.
As grandes fábricas (de produção variável) também incluem umas tantas máqui-
nas de grande velocidade, mas a produção de pequenas séries faz com que uma
maquinaria muito complexa se torne pouco económica e como tal é dada a preferên-
cia a equipamento que é fácil de montar e barato. Como os homens podem ser colo-
cados na linha de produção de um maneira muito económica, (estas) fábricas empre-
o SISTEMA TÉCNICO 285
Vértice
Eslratégiro
I\ /\ /~
Unha
Hierá~ica
/ ~ / \ I \
Centro
Operacional
I Produção
\ /
Produção
~ I
Produção
\
por Unklade em Série em Continuo
Nota: As formas representam as amplitudes de controlo curta, intermédia e larga, tal como
Woodward as descreve.
Figura 14.1
AMPLITUDES DE CONTROLO NOS TRÊS NivEIS
DOS TRÊS SISTEMAS TÉCNICOS
(baseado nos dados de Woodward, 1965)
A produção em série
A produção em contínuo
1 Este pressuposto não parece ser válido. Por exemplo, as companhias de aço de produção em
contínuo exigem vastos contingentes de trabalhadores. Nestes casos, como veremos mais adiante,
as estruturas assumem a fotIDa da produção em série. Daí que as descobertas de Woodward pare-
cem ser apenas válidas para a produção automatizada, e não para a produção em contínuo per se,
embora seja nesta que a automatização é mais comum.
2 Os resultados obtidos por Keller, Slocum e Susman (1974) corroboram esta conclusão.
Eles concluíram que as estruturas orgânicas tinham significativamente muito mais sucesso do que
as estruturas burocráticas em relação às empresas de produção em contínuo, embora a relação fosse
muito mais forte nas empresas não autónomas do que nas empresas autónomas. (Explicam isto pelo
facto de as empresas não autónomas tenderem a ser empresas de produção em contínuo mais puras;
isto é, a função de produção estava sempre intrinsecamente ligada à empresa, ao passo que as outras
o SISTEMA TÉCNICO 289
funções - não em contínuo e não automatizadas - tal como O marketing, encontravam-se muitas
vezes contidas na empresa. Também as empresas não autónomas apresentavam a tendência para
terem linhas de produção mais longas, embora ainda fossem por natureza mais puramente «em con-
tínuo».) Keller el aI., verificaram também que a estrutura nas empresas de produção em contínuo
eram principalmente influenciadas por incertezas relacionadas com o seu efectivo de trabalhadores
e não com incertezas derivadas do ambiente, uma descoberta que lança dúvidas sobre a utili zação
da metamorfose do produto como uma medida de tecnologia, formulada por Harvey ( 1968).
(Ver 4.) Keller et aI., refutam, de facto, a implicação no estudo de Harvey de que as empresas de
produção em contínuo são dotadas de estruturas burocráticas.
290 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Esta estrurura dividida em duas partes serve para reduzir os conflitos, por
duas razões. Em primeiro lugar, desliga o sistema técnico do sistema social, ao
contrário da produção em série que os leva a entrar em confrontação directa um
com o outro. Na produção em contínuo, uma parte ocupa-se das máquinas e a
outra ocupa-se das pessoas. As pessoas podem ser livres, ao passo que as máqui-
nas são estreitamente controladas. Em segundo lugar, a estrururação em duas
partes serve para separar a orientação a longo prazo, da orientação a curto prazo.
A outra grande fonte de conflito nas empresas de produção em série foi redu-
zida ainda mais com a distinção nebulosa entre operacionais e funcionais.
Ao nível do vértice estratégico das empresas de produção em continuo, Woodward
observou a tendência para «a gestão por comités» em vez da gestão por decisão
individual: <<Em vinte e cinco empresas de produção em contínuo, vinte tinham comi-
tés de gestão ou conselhos de direcção, ao passo que nas empresas de produção em
série, em trinta só dez funcionavam com comités e, nas empresas de produção por
unídades, em vinte e quatro só três tinham comités.» (Pág. 53.) Contudo, Woodward
também observou amplitudes de controlo importantes ao nivel do vértice estraté-
gico: pode explicar-se este fenómeno pelo facto de os especialistas de menor cate-
goria terem a capacidade de tomar decisões importantes, o que liberta os quadros
dirigentes da supervisão de um grande número de pessoas. Talvez os comités de
nível mais elevado sirvam, essencialmente, para assegurar a coordenação, pelo
facto de autorizarem as escolbas efectuadas nos níveis inferiores da organização.
Para concluir, parece que o factor dominante nas empresas de produção
em contínuo estudadas por Woodward era a automatização dos seus siste-
mas técnicos. A automatização parece colocar a organização num estado «pós-
-burocrático>>: o sistema técnico é totalmente regulador, contudo, este regula
as máquinas e não os indivíduos; ao passo que o sistema social - que é,
essencialmente, distinto do centro operacional - não tem necessidade de ser
controlado por regras e pode apresentar uma estrutura orgânica, utilizando
para a sua coordenação o ajustamento mútuo entre os especialistas, enco-
rajados por mecanismos de ligação para realizar a coordenação. Por conse-
guinte, a verdadeira diferença, quanto a Woodward, entre a produção em série e
a produção em contínuo é que embora ambas procurem regular o seu trabalho
o SISTEMA TÉCNICO 291
1 Também podemos descrever isto no quadro desenvolvido por Thompson: a escala de Woodward
é vista, então, como estando orientada no sentido de um isolamento crescente do centro operacio·
nal. Enquanto os produtores em contínuo respondem constantemente a novos pedidos dos clientes,
os produtores em série podem isolar em grande parte os seus centros operacionais, embora os
modifiquem constantemente para reduzirem despesas. Os produtores em contínuo isolam de uma
maneira quase perfeita os seus centros operacionais: constroem fábricas altamente autónomas com
um único objectivo, uma mudança no processo requer muitas vezes uma fábrica completamente nova.
E quanto mais isolado estiver o centro operacional, mais facihnente se pode regular, estandardizar
e formalizar o seu trabalho.
292 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
--
~~-l
r
Orientação Tec-
noIógica para a
Produção em sene
~
N""""'"
de Manter as Eco-
Necessidade de
Isolamento Relati-
Especialização
e Profissionalização
nomias ele Escala • vamente as Pertur- das Decisões
baçôes do Ambiente Ugadas à Produção
Integraçao
Vertical
-~
IntenJependéncia
Especiaização Funcional
- - -.......- mais Intensa
das ActMdaóes
DescenlJalização das
Decisões de NlveI
mais Ele'!ado
Necessidade de
Coordenar as Decisões
Interdepenclentes
e as heas de Decisão
Utilização de Mecanismos
de CoordenaçAo
que sao Substitutos
de Controlos,
como a Gestão
de Equipa,
os Postos de Ligação,
o Desenvolvimento Organi-
zacional e a Centraização
Figura 14.2
DESENVOLVIMENTO DA ESTRUTURA ADMINISTRATIVA COM A COMPLEXIDADE
CRESCENTE DO SISTEMA TÉCNICO (Khandwalla, I974A, pág. 95)
decisão consideráveis neste domínio. Por sua vez, estes funcionais devem tra-
balhar em equipas e em grupos de projecto para tomar estas decisões.
Por outras palavras, esperar-se-ia que as organizações com sistemas técnicos
elaborados apresentassem taxas administrativas elevadas que fizessem uma uti-
lização intensa dos mecanismos de ligação nos níveis intermédios da hierar-
quia, que comportassem unidades pequenas, e que descentralizassem selectiva-
mente, isto é, conferindo às unidades poderes importantes em matéria de decisões
técnicas. Todas estas conclusões são, bem entendido, sugeridas pelos trabalhos
de Woodward, especificamente, com a ausência de uma estrutura administrativa
complexa nas empresas de produção por unidades geralmente dotadas de siste-
mas técnicos menos sofisticados, e com a presença de todas estas característi-
cas nas empresas de produção em contínuo geralmente dotadas de sistemas téc-
nicos mais sofisticados.
Estes estudos foram corroborados por outros investigadores. À medida que
o sistema técnico se torna mais complexo ou mais sofisticado, Udy (1959),
R. G. Hunt (1970) e Hickson et aI. (1969) concluíram que a amplitude de con-
trolo diminui e que o número de níveis hierárquicos aumenta; Udy (1965)
observou que os profissionais adquiriam influência e John Hunt (1972, págs.
234-235) demonstrou que uma parte do poder desce do vértice estratégico e
sobe do centro operacional até aos níveis intermédios, onde se encontram os
especialistas; e K.handwalla (I 974a) apresenta-nos um diagrama lógico fundado
na investigação, que reproduzimos na figura 14-2, e que nos mostra a existên-
cia de uma relação positiva entre O grau do sistema técnico sobre a escala de
Woodward e a especialização, a descentralização, o grau de utilização dos
mecanismos de ligação e o grau de profissionalismo.
Uma noite um dos rapazes bateu a cabeça numa pistola de soldar. Caiu de joe-
lhos no chão. Sangrava como um porco, o sangue jorrava. Parei imediatamente a
linha de montagem por um segundo e corri em seu auxpio. O contramestre quase tro-
peçou no rapaz para voltar a pôr a linha a funcionar. E sempre a primeira coisa que
fazem. Nem sequer chamaram uma ambulância. O rapaz teve de ir a pé até à enfer-
maria, mais ou menos situada a 800 metros, onde lhe coseram cinco pontos na cabeça
(citado por Terkel, 1972. pág. 167).
o SISTEMA TÉCNICO 295
regularização das tarefas operacionais, mas sim, na sua maior regularização até
chegar ao ponto da automatização. A automatização parece humanizar a estrutura
burocrática tradicional, uma coisa que a democratização não consegue fazer.'
Para rematar a nossa discussão do sistema técnico como um factor de con-
tingência, é necessário lembrar que a sua influência se faz sobretudo sentir no
centro operacional, mas que tem também efeitos selectivos, e que não são menos
importantes, sobre os níveis intermédios da estrutura da organização.
Um sistema técnico regulador burocratiza o centro operacional; um sistema
técnico sofisticado cria uma estrutura de funcionais logísticos; e uma estrutura
automatizada desburocratiza a estrutura acima do centro operacional.
As dimensões do ambiente
Neste capítulo, serão apresentadas cinco hipóteses sobre o ambiente. Mas antes
de as apresentar, gostaríamos de fazer três observações. Em primeiro lugar, o
que nos interessa aqui não é o ambiente em si mesmo mas o seu impacte sobre
a organização, e sobretudo a capacidade que tem de o enfrentar ~ de o prever,
ge o apreender, de lhe responder rapidamente e de confrontar a sua diversidade.
E por isso, por exemplo, que quando discutimos a dimensão de complexidade,
notámos se a organização era capaz de racionalizar o que parecia ser um pro-
duto complexo num sistema de componentes simples, o seu ambiente quanto ao
produto se considerar simples . Como tal, urna grande parte da discussão neste
capítulo vai incidir sobre as variáveis intermédias. I
A nossa segunda observação, é a de que o nosso interesse incide sobre o am-
biente real da organização, e não sobre as percepções deste ambiente, não nos
interessa, por exemplo, o que o director-geral descreve sobre o ambiente num
questionário que lhe é enviado pelo correio (numa escala abstracta em sete pon-
tos). A maior parte das investigações apoia-se em tais questionários : é de longe
o método de recolha de dados mais fácil (ver a figura 12-4). Não devemos con-
fundir conveniência com precisão. Na discussão que se segue, tentaremos sem-
pre que possível, apoiarmo-nos nos estudos sobre as condições reais do ambiente.
Infelizmente, nem sempre isso é possível.
A nossa terceira observação trata da multiplicidade dos ambientes da organi-
zação: os produtos podem ser complexos mas os circuitos de distribuição podem
ser simples, as condições económicas podem ser dinâmicas mas as situações
políticas podem ser estáveis, etc. Torna-se muitas vezes possível tratar os diver-
sos ambientes com uma boa aproximação, como se fossem uniformes em cada
uma das suas dimensões, seja porque os que são mais plácidos não têm verda-
deiramente importância para a organização, seja porque um dos aspectos é de
I Este ponto não foi acentuado nos capítulos 13 e 14 pois a idade, a dimensão, e o sistema téc·
nico têm um impacte mais directo sobre a organização. O aumenlO dos produtos, por exemplo,
requer pura e simplesmente a introdução de mais pessoas e/ou de mais maquinaria.
300 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
tal modo dominante que afecta toda a organização. Faremos esta aproximação
nas nossas quatro primeiras hipóteses e trataremos das disparidades do ambiente
na nossa quinta hipótese.
I Tirado de um artigo escrito por Dan Lichtenfeld, Arthur Aron, David Saltzman e Mike Glazer,
I Van de Ven e Delbecq (1974) elaboraram um modelo, que foi objecto de verificações expe-
rimentais consideráveis, descrevendo as relações entre a variabilidade e a tarefa e o grau de for-
malização na unidade.
2 Hunt sugere de facto que um ambiente muito dinâmico pode afectar a escolha de um sistema
técnico: a organização procura evitar investir em sistemas técnicos rígidos. Vale a pena aqui insis-
tir em que se os factores de contingência influenciam a estrutura (damos imensa ênfase a este ponto
nesta secção do livro), o contrário é igualmente verdadeiro: as estruturas orgânicas criam ambien-
tes dinâmicos pelas suas inovações, as burocracias procuram estabilizar o seu ambiente, etc.
o AMBIENTE 303
Contudo, em muitos outros estudos não foi feita esta distinção. Devido ao
facto de estas duas dimensões surgirem muitas vezes associadas - o ambiente de
muitas organizações ou é complexo e dinâmico ou simples e estático - os inves-
tigadores tiveram sempre tendência para os combinar, e como tal, foram inca-
pazes de distinguir os seus efeitos individuais sobre a estrutura. Lawrence e Lorsch
(1967) estudaram fábricas de plásticos que faziam face a ambientes complexos
e dinâmicos, ao passo que as empresas produtoras de contentores, também por
eles estudadas, faziam face a ambientes simples e estáveis, com menor diversi-
dade de mercados. Do mesmo modo, a Companhia Boeing, na qual Galbraith
(1973) baseou as suas conclusões, enquadrava-se num ambiente que parecia ser
ao mesmo tempo complexo, dinâmico e bastante diversificado. Galbraith pro-
cessou esta infonnação como sendo a sua variável intermédia chave, e então
fê-la corresponder à dimensão de «incerteza» (enquanto que nós estávamos
inclinados a fazê-Ia corresponder à complexidade). Depois disso Galbraith enu-
merou os factores que contribuem para esta «incerteza», como sendo os facto-
res de mudança tecnológica (relacionada com a nossa dimensão de «estabilidade»)
e as linhas diversificadas de produtos (relacionadas com a dimensão de «diver-
sidade» do mercado).! Ambos os investigadores encontraram provas de descen-
tralização, assim como de estrutura orgânica nos ambientes complexos e dinâ-
micos - pelo menos nas empresas de desempenho elevada - descobertas estas
que são consistentes com a nossa hipótese 9 e 10. Mas foram incapazes de resol-
ver as relações entre os dois conjuntos das duas variáveis.
A hipótese 10, sugere que a dimensão complexidade tem um efeito muito
diferente na estrutura do da dimensão estabilidade. Ao passo que a última afecta
a burocratização, a primeira afecta a descentralização. Esta tese emerge de uma
maneira muito clara nos resultados obtidos por Rage e Aiken (1967) sobre
dezasseis organismos de acção médico-social:
I Pelo contrário, Thompson (1967, pág. 69) distinguiu claramente entre a diversidade e a esta~
bilidade na sua descrição de duas firmas, uma elevada e a outra baixa nas duas dimensões. Curiosamente,
não mencionou porém a dimensão de complexidade, embora a sua fonte de informação sobre estas
duas empresas, DilI (1957~58), mencionasse explicitamente a complexidade (de inputs) como sendo
um dos factores que exercem influência sobre esta dimensão.
304 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANlZAÇÕES
Estandardização
dos Processos
de Trahalho Estandardização
do.
Resulado$ Eslandard1zação
d..
Qualificações
Director Ajustamento
de Supervisão Mutuo
Aumento da Descentralização
•
(Encorajada por uma complexidade maior do ambiente)
Figura 15.1
RELAÇÕES ENTRE MECANISMOS DE COORDENAÇÃO
NAS ESCALAS DE DESCENTRALIZAÇÃO E DE BUROCRATIZAÇÃO
I Podemos assim cootestar as conclusões de Beyer e Lodahl (1976). que afirmam que {(se os
conhecimentos ensinados numa universidade foss em uma mercadoria imutável que pouco mudasse
de ano para ano, a centralização e a burocratização seriam aí tão eficientes como para qualquer
outra organização cujos ambientes e tecnologias fossem estáveis») (pág. 109). Burocratização sim,
centralização não. Mesmo que uma universidade apenas ensinasse Latim, Grego Arca ico e Sânscrito,
não centralizaria. Estes três corpos de conhecimento são estáveis, mas no conjunto são demasiada-
mente complexos para que os administradores centrais os possam compreender. Assim, até ao
ponto em que as universidades ensinam conjuntos de conhecimento estáveis - e a maior parte do
tempo, o conhecimento científico permanece relativamente estável, como argumenta Kuhn (1970),
na Estrutura das Revoluções Cientificas - as universidades burocratizam e descentralizam.
o AMBIENTE 307
No que diz respeito aos dois tipos de estruturas orgânicas associadas aos
ambientes dinâmicos, um exemplo típico encontrado num ambiente simples é
o da firma empresarial (individual). Esta empresa procura um nicho no mer-
cado que seja de compreensão suficientemente simples mas que seja, ao mesmo
tempo, suficientemente dinâmico para eliminar a necessidade de burocratiza-
ção. Como tal, o empresário consegue manter um controlo pessoal apertado
(por supervisão directa), sem ter de partilhar o seu poder nem mesmo com a
tecnoestrutura. E como exemplos típicos das estruturas orgânicas nos ambien-
tes complexos mas dinâmicos, temos as empresas de plásticos de Lawrence e
Lorsch, o estudo sobre a Companhia Boeing de Galbraith, o estudo sobre a
NASA de Chandler e de Sayles. (De notar, nas palavras de Stintchcombe, que
todas estas organizações, são organizações modernas.) As empresas de plás-
ticos, por exemplo, diferenciavam as suas estruturas extensivamente e coor-
denavam o seu trabalho fora do âmbito da cadeia de autoridade, utilizando os
mecanismos de ligação liberalmente com o objectivo de encorajar o ajusta-
mento mútuo. l
Alguns sistemas técnicos podem ser divididos, embora numa pequena escala, ao
passo que outros devem permanecer intactos apesar da sua dimensão maciça. Uma
empresa de panificação, que opera em dois Estados com um volume total de
vendas da ordem dos 2 milhões de dólares, pode chegar à conclusão que vale a
pena estabelecer uma divisão com a sua própria fábrica em cada Estado, ao
passo que o produtor de alumínio com vendas 100 vezes maiores pode, apesar
da diversidade dos clientes nos cinquenta Estados e uma variedade dos produ-
tos finais (folha de alumínio, placas, componentes para a construção civil, etc.)
ser forçado a manter uma estrutura funcional pois, financeiramente, só pode
comportar uma fundição.
Paralelamente, a verdadeira divisionalização pode-se tornar difícil se
existe uma função crítica comum a todos os mercados, como no caso das
compras numa cadeia de retalhistas ou no caso de investimentos numa compa-
nhia de seguros (Channon, 1975, 1976). A organização divide-se então em uni-
dades baseadas nos diferentes mercados, ao mesmo tempo que centraliza a fun-
ção crítica na sede da empresa. Temos, neste caso, uma divisionalização incompleta
que dá origem a uma estrutura híbrida que Channon chama de <(O híbrido fun-
cional/divisional». De facto, como iremos ver numa discussão mais extensa no
capítulo 20, isto é, mais comum quando a diversidade se baseia nos clientes ou
nas regiões, e não DOS produtos ou nos serviços, pois o carácter comum dos pro-
dutos ou dos serviços dá origem a interdependências importantes entre os dife-
rentes clientes ou regiões.
Os estudos que corroboram a hipótese 11 assentam, na sua maioria, no sec-
tor empresarial, nomeadamente de produção industrial, onde a divisionalização
é mais corrente. O estudo mais conhecido é o de Chandler (1962), que trata da
emergência da estrutura da divisionalização na indústria dos Estados Unidos,
que ele acha ser consequência directa da estratégia da diversificação:
1 O mesmo argumento relacionado com a concorrência pode ser utilizado para todas as hipóte·
ses; por exemplo, na ausência de concorrência, as grandes organizações podem pennanecer orgâ-
nicas, as que operam em ambientes dinâmicos podem burocratizar. Repetimos uma vez mais que
as nossas hipóteses de congruência se referem apenas às «estruturas eficazes».
310 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
100% 100%
Não Relacionadas
60
50
40 40
Dominante
30 JO Funcionais
com SUbsidiárias
20 20
10 Foocionais
10
O O
1949 1959 1969 Year 1950 1960 1969
Estratégia ESlMUra
Figura 15.2
DESENVOLVIMENTO DA DIVERSIFICAÇÃO E DIVISIONALlZAÇÃO DOS MERCADOS
ENTRE AS QUINHENTAS MAIORES EMPRESAS AMERICANAS
I A NASA tem, evidentemente, outras missões, como, por exemplo, lançar satélites meteoroló-
gicos . Mas o projecto Apollo dominou completamente a década de 60.
o AMBIENTE 311
I Parece-nos razoável estabelecer também como hipótese que a extrema hostilidade também
conduz a organização à criação de uma estrutura orgânica, na medida em que os ambientes hostis
também são imprevisíveis, e como tal exigem respostas flexíveis. Contudo, até aqui não se enCOn-
traram provas concludentes, que corroborem esta relação.
312 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Mobil Oil e Exxon podem concorrer furiosamente Das pequenas cidades ameri-
canas, mas, na realidade, nem uma nem Qutra se encontra realmente ameaçada por
este tipo de concorrência marginal. De facto, encontram-se muito próximas uma da
outra em domínios muito importantes como nas provisões para o esgotamento de
petróleo, na nossa política estrangeira em relação ao Médio Oriente, na fiscali za -
ção federal, nas questões de poluição, e numa política de transporte do sector de
transporte privado versus o sector de transporte público ... Porque falamos então numa
concorrência furiosa? Isto só se passa nos níveis mais baixos da organização - onde
os directores regionais aumentam e baixam os preços por pontos infinitesimais e os
responsáveis das estações de serviço lavam os pára-brisas e limpam os toilettes
(pág. 41).
1 Isto é equivalente, bem entendido, à tendência que a organização parece ter para divisional i-
zar quando os mercados são diversos, mas aqui as disparidades afectam as diferentes dimensões do
ambiente e a resposta a estas disparidades traduz-se numa diferenciação entre as funções (muitas
vezes vertica lmente), em vez de uma diferenciação entre mercados (horizontalmente).
o AMBIENTE 313
Os quadros dirigentes acabam cada vez mais por se tomar O único ponto da orga-
nização, no qual se pode encontrar ao mesmo tempo os recursos, a visibilidade e a
imparcialidade necessárias para tomar as decisões relativas à concorrência e que afec-
tam brutalmente a empresa, assim como, as decisões estratégicas que acarretam
modificações profundas (pág. 41).
veniência em incluí-las nas decisões de produto. Khandwalla constatou também que as empresas
mais competitivas utilizavam numa escala muito maior, mas também mais selectivamente, os con-
trolos de desempenho, com o objectivo de verificar de perto o curso da descentralização selectiva.
Também utilizavam exaustivamente os diversos mecanismos para fazer face à incerteza, tais como:
investigação de markeling e técnicas de previsão. (Ver também K-handwalla, 1972).
o AMBIENTE 315
A nossa discussão sobre o ambiente mais uma vez sustenta a nossa tese de
que se aprende mais quando nos concentramos nas estruturas distintas encon-
tradas em condições particulares do que quando traçamos relações contínuas
entre as variáveis estruturais e de contingência. Cada uma das hipóteses 11, 12
e 13 descreve características estruturais específicas que emergem conforme as
condições do ambiente. Embora, as hipóteses 9 e 10 fossem inicialmente esta-
belecidas em termos de relações contínuas, mostraram ser mais fortes quando
tomadas no seu conjunto, para gerar estruturas particulares encontradas em ambien-
tes particulares. Podemos considerar quatro tipos básicos de estrutura. (Foi Perrow
(1970) que primeiro os sugeriu, de modo aproximado)l Que apresentamos em
forma de matriz, como se segue:
Estável Dinâmico
I A matriz de Perrow considera as nossas vari áveis intennédias de inteligibilidade como inde-
pendentes (até que ponto se podem analisar os procedimentos de escolha de decisão) e de previ-
são (quantas excepções encontra a organização). Perrow classifica as organizações: «de rotina» -
no quadrante inferior esquerdo; «de artesanal» - no quadrante superior esquerdo; «de engenharia))
- no quadrante inferior direito; de «não rotina)) - no quadrante superior direito. Enriquece, depois,
a matriz com vários exemplos originários dos sectores de produção e de serviços . Van de Ven e
De lbecq (1974), apresentam uma matriz semelhante mas mais elaborada, seguida de muitos exem-
plos e de citações de apoio da literatura relevante.
316 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
zação do poderIO grupo de Aston (Pugh et aI., 1969b) demonstrou que quanto
mais independente for uma organização relativamente ao seu ambiente, mais a
sua estrutura de autoridade é centralizada e menos autonomia tem nas decisões
que a afectam (pág. 108); o seu estudo também demonstra que a dependência
está fortemente ligada à estandardização dos procedimentos de recrutamento e
de promoção, mas não quanto ao grau de estruturação das suas actividades.
A dependência relacionava-se fortemente com a dimensão de concentração de
autoridade no estudo de Aston, o que levou Pugh et aI. a concluir: «As organi-
zações dependentes têm estruturas mais centralizadas de autoridade e menos
autonomia na tomada de decisão; as organizações independentes têm mais auto-
nomia e descentralizam as decisões no sentido descendente da hierarquia.»
(Pág. \08.) A dependência também se encontra fortemente relacionada com o grau
de estandardização dos procedimentos de recrutamento e de promoção, mas não
com a sua dimensão de estruturação das actividades. Mas Reimann (1973), que
estudou 19 empresas, descobriu uma correlação muito forte entre a dependência
e a formalização; finalmente, citemos Pondy (1969), que verificou a existência
de uma relação negativa na proporção dos proprietários-dirigentes e da compo-
nente administrativa, ou seja, é nos sectores em que a proporção das empresas
individuais é menor, que se encontra uma taxa de administração AIP mais ele-
vada, o que sugere que quanto mais distanciada estiver a propriedade da orga-
nização, mais a sua estrutura administrativa é elaborada e portanto burocrática.
Assim, tudo indica que o controlo externo tende a concentrar o poder de
decisão no topo da hierarquia da organização, o que encoraja ainda mais a uti-
lização de regras e regulamentos no controlo interno. Tudo isto, de facto, parece
bastante lógico. Os dois meios mais eficazes para controlar uma organização
a partir do exterior são (1) fazer com que a pessoa que dispõe de mais
poder para tomar decisões - nomeadamente o seu chefe executivo - seja
responsável por tudo quanto se passa na organização; e (2) impor à orga-
nização padrões claramente definidos. O primeiro centraliza a estrutura, o
segundo formaliza-a.
Os grupos que controlam a organização do exterior - accionistas específicos,
o estado e a empresa-mãe - acham que é conveniente responsabilizar o presi-
dente do Conselho de Administração por todas as acções da organização. «A depen-
dência leva a uma concentração de autoridade no topo estratégico das organiza-
ções cuja propriedade é distribuída pelo público (companhias públicas) pois a
enorme pressão exercida sobre elas, para que dêem satisfações ao público, exige,
para numerosas decisões, a aprovação de comités centrais.» (Pugh et aI., 1969b,
pág. 112.) Como observa Bidwell (1965), os sistemas de educação e os orga-
nismos sociais «devem tornar-se responsáveis em relação ao aparelho de Estado
e à colectividade»; por conseguinte, os seus administradores devem assegurar
um equilíbrio entre «as normas e padrOes profissionais, os desejos do público e
a eficiência orçamental» (pág. 977).
Para tirarem tudo o que querem da organização, estes grupos do exterior devem
estabelecer claramente não só a sua linha de controlo - através da gestão de topo -
mas também as suas exigências. Como tal, estes grupos, têm interesse em impor
I Neste caso, os trabalhadores não participam como empregados nos processos de decisão quo-
tidianos mas como estranhos que procuram controlar a organização a partir do topo.
o PODER 321
Num dado caso, um jovem responsável que tinha seguido um curso de Gestão de
Stocks conseguiu convencer a direcção de que a empresa tinha necessidade de um
departamento de gestão de stocks cuja responsabilidade iria assumir. Nos seis meses
seguintes, três empresas vizinhas tinham criado também os seus departamentos de
gestão de stocks. Os engenheiros industriais eram especialistas que também estavam
a tomar-se na moda na altura da investigação (pág. 22).
Nos anos 60, a comunicação social ligada à gestão anunciou «a morte ImI-
nente da burocracia» . Num artigo com este título, Bennis (1966) escreveu:
Nas novas organizações do futuro, pedir-se-á aos participantes que utilizem o seu
espírito mais do que foi feito em qualquer outra época da história. A fantasia, a ima-
ginação e a criatividade farão parte das actividades legítimas sob formas que pare-
cem estranhas hoje em dia. As estruturas sociais deixarão de ser instrumentos de repres-
são psíquica, pennitindo cada vez mais o jogo e a liberdade em beneficio da curiosidade
e da reflexão (pág. 35).
nistrativas criadas pela diversificação, mas ... nos últimos anos, a divisiona-
lização passou a ser aceite como nonna e as gestões procuraram a reorganiza-
ção segundo a divisionalização por produto reagindo mais à teoria normativa do
que a verdadeiras necessidades administrativas internas» (pág. 77) . E de acordo
com outros dados, citados no capítulo 15, as empresas europeias seguem esta
tendência de perto.
Bem entendido, nada nos diz que as estruturas que estão na moda sejam, em
princípio, inadequadas. A moda traz-nos progressos na concepção das estruturas
organizacionais, e estes progressos convêm a algumas organizações dotadas de
estruturas antigas; desde que a estrutura divisionalizada foi criada, foi adoptada
com razão pelas organizações diversificadas que tinham uma estrutura funciona!.'
Ainda mais, as que não sofreram modificações encontraram-se dotadas de estru-
turas que subitamente passaram de moda, e são menos eficazes do que a recém-
-surgida. Tal como a viúva que continua a vestir-se como O fazia no apogeu da
sua juventude, as organizações podem agarrar-se a uma estrutura que foi ade-
quada no passado, mas que o deixou de ser. Isto, de facto, pode explicar que as
empresas europeias, na ausência de concorrência, não se tenham divisionalizado,
se bem que se tenham diversificado como observou Franko (1974). Um ambiente
plácido (não competitivo) permite-lhes manter uma estrutura fora de moda e eficaz.
As descobertas de Franko sugerem ainda que em matéria de estruturas,
a moda surge também em função da cultura. O que foi a grande moda entre
as «Fortune SOO» (as maiores 500 empresas americanas) pode parecer estranbo
às «Fortune 200» (as maiores 200 empresas não americanas). Podemos ter na
Virginia e na Westphalia preferências diferentes em matéria de estrutura. O que
é uma outra maneira de dizer que a cultura, através da moda constitui um fac-
tor preponderante que influencia a concepção da organização.
Encontram-se na bibliografia numerosos exemplos que demonstram a influên-
cia da cultura sobre a estrutura, particularmente, no que diz respeito à burocracia
e à autoridade. Dalton (1959) sustenta que «a teoria da burocracia tem uma vali-
dade muito maior nas sociedades europeias mais estratificadas e mais disciplina-
das, como a tinha nas monarquias persa e romana da antiguidade» (pág. 264) do
que na sociedade americana.' Child e Keiser ( 1978) rejeitam expressamente as
«teorias válidas independentemente da cultura», depois de terem estudado as empre-
sas inglesas e alemãs. Do mesmo modo, Azuni e McMillan ( 1975) demonstraram
que as empresas japonesas são mais centralizadas e mais formalizadas do que as
empresas britànicas, mesmo se os factores de contingência forem idênticos. E Shinoda,
num artigo intitulado «A Gestão Japonesa: Como os Métodos Tradicionais se
Modernizaram» (1973), explica a relação entre a burocracia e a cultura no Japão:
Nos estaleiros navais Mitsui em Tamano, por exemplo, pode notar-se que o fluxo
do trabalho é pré-determinado até ao mínimo pormenor. Os camiões transportam
materiais respeitando um horário preciso. Por conseguinte, o tempo perdido foi com-
I De facto , existem boas razões que nos levam a pensar que a estratégia de diversificação era
Figura 16.1
OS EFEITOS DOS FACTORES DE CONTINGÊNCIA POR NíVEL
Ao longo deste livro, logo após a introdução dos cinco mecanismos de coor-
denação nas primeiras páginas, vimos aparecer um número cada vez maior de
convergências. Por exemplo, constatámos na secção I, que a estandardização dos
processos de trabalho era o mecanismo de coordenação mai s utilizado para coor-
denar os fluxos regulados da organização. Depois, na secção II, notámos que
estes dois elementos estão ligados a um parâmetro de concepção particular - a
formalização do comportamento - e mais geralmente, à estrutura burocrática tra-
dicional, onde o trabalho operacional é altamente especializado mas não quali-
ficado. Mais à frente, vimos que as unidades, numa tal estrutura, são muito gran-
des, apresentando a tendência para se agruparem por funções ; observámos também
que a descentralização tem tendência para pertencer ao tipo horizontal, limitado,
com o poder concentrado, em primeiro lugar no vértice estratégico e depois, na
tecnoestrutura, onde os analistas formalizam o compartamente de todos os
outros membros da organização. Na secção n, vimos então que a presença de
uma tal combinação de parâmetros de concepção ocorre muito mais provavel-
mente nas organizações bastante grandes e mais antigas, sobretudo nas que se
encontram na segunda fase do seu desenvolvimento; nas organizações que têm
um sistema técnico concebido para a produção em série, regulado mas não auto-
matizado; nas organizações que operam em ambientes simples e estáveis, e que
estão submetidas a um controlo externo. Muitas outras convergências aparece-
ram no nosso estudo. De facto, os elementos do nosso estudo - os mecanis-
mos de coordenação, os parâmetros de concepção e os factores de contin-
gência - parecem agrupar-se todos, naturalmente, em tipos ou configurações.
VaIl)os aqui analisar estas confignrações.
E preciso relemhrar que na nossa discussão sobre a estruturação eficaz das
organizações, no capítulo 12, se tinham posto duas hipóteses . A hipótese da con-
gruência, que postula que as organizações eficazes seleccionam os seus parâ-
metros de concepção de acordo com a sua situação, foi abordada na última sec-
ção. Nesta secção, vamos abordar a hipótese da configuração, que postula que
as organizações eficazes conseguem atingir uma consistência interna entre os
parâmetros de concepção, ou seja, uma configuração estrutural. São estas confi-
gurações que se reflectem nas convergências deste livro.
330 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
I Citações do Dicionúrio dos Símbolos, sob a direcção dc Jcan Chevalier com a colaboração de
Alain Gheerbrant (Edições Robert Laffont, 1969, pág. 208); tradução do francês feita pelo autor.
O facto de os cincos se terem tornado obsoletos , não é aqui importante: simplesmente, sugere que
muitas vezes partimos de quintetos antes de passarmos a tipologias mais complexas.
2 Perrow (1970) descreve quatro estruturas que correspondem mais ou menos a quatro das nos-
sas estruturas; Segal (1974) e Van de Ven (1976a) descrevem três; Lawrence e Lorsch (1967) e
Pugh et aI. (1969a) descrevem duas; como iremos ver também outros autores descrevem explicita-
mente uma ou mais configurações.
3 Gostaria de fazer notar que esta correspondência nítida não foi imaginada por mim. Só depois
de estabelecer as cinco configurações estruturais é que me apercebi da sua correspondência com os
AS CONFIGURAÇOES ESTRUTURAIS 331
cinco mecanismos de coordenação e com as cinco partes·chave da organização. Uma ligeira modi-
ficação, no capítulo 11, da tipologia da descentralização (que o tomou mais lógico) foi, contudo,
sugerida pelas cinco configurações.
I Vamos ver no capítulo 21 que existem dois tipos básicos de Adhocracias. No segundo tipo-
que se assemelha mais a uma Burocracia Profissional - o centro operacional também constitui uma
parte-chave da organização.
332 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
crever quer umas, quer outras, nesta secção, somos, por conseguinte, levados
a abandonar a hipótese de que os factores de contingência seriam as variáveis
independentes, que ditariam a escolha dos parâmetros de concepção. Em vez
disso, vamos empregar nesta secção uma abordagem sistémica nesta secção,
tratando as nossas configurações de contingência e de parâmetros estruturais
como gestalts, ou seja, conglomerações de relações estreitamente interdepen-
dentes entre si. Não existem variáveis dependentes ou independentes num sis-
tema; tudo depende de todo o mais. A burocratização da estrutura pode ser
determinada pela dimensão (grande), mas as burocracias também procuram
expandir-se; os ambientes dinâmicos podem exigir estruturas orgânicas, mas as
organizações com estruturas orgânicas também procuram ambientes dinâmicos,
onde se sentem mais confortáveis. As organizações - pelo menos as que são
eficazes - parecem modificar todos os parâmetros que podem mudar (quer se
trate dos parâmetros de concepção ou de contingência) a fim de manter a coe-
rência das suas gestalts.
Figura IV.l
CINCO PRESSÕES QUE ACTUAM NA ORGANIZAÇÃO
334 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
I Tirado de um artigo apresentado ao autor em Managemcnt 420, McGill University, 1969, por
J. Gariepy, R. Miller, G. Nanton, T. Shabrokh.
2 Tirado de um artigo apresentado ao autor em Management Policy 70 I, McGill University,
1970, por S. Genest e S. Darkanzanli.
A ESTRUTURA SIMPLES 337
Figura 17.1
A ESTRUTURA SIMPLES
Proprietários
(Marido e Mulher)
Pessoal de Verldas
Figura 17.2
«CHEZ LUTIN» - A ESTRUTURA SIMPLES TiPICA
o centro operacional
o ponto de partida é obviamente o centro operacional, com o seu fluxo de
trabalho muito racionalizado. As tarefas operacionais são simples e repetitivas,
e exigem geralmente um mínimo de qualificações. A formação é portanto tam-
bém muito reduzida: umas tantas horas, tal vez mesmo umas tantas semanas, e é
geralmente realizada pela própria organização. Isto conduz a uma divisão do tra-
balho muito acentuada no centro operacional - os postos de trabalho são estrei-
tamente definidos, muito especializados, tanto na dimensão vertical como na
dimensão horizontal - sendo a sua coordenação realizada essencialmente pela
estandardização dos processos de trabalho. A formalização do comportamento
emerge como um parâmetro de concepção-chave. Pouca possibilidade há de
ajustamento mútuo no centro operacional, pois os operacionais dispõem de uma
pequena margem de manobra no seu trabalho. Podem então criar-se unidades
muito grandes no centro operacional. A utilização da supervisão directa pelos
chefes de primeiro nível é limitada, uma vez que a estandardização funciona
com a maior parte da coordenação. Por conseguinte, podem ser concebidas uni-
dades muito grandes dentro do centro operacional. (Veremos mais à frente , que
existe, aliás, uma outra espécie de supervisão necessária, ligada à desmotivação
dos operacionais: que não tem por finalidade coordenar o seu trabalho, mas sim-
plesmente assegurar que eles o executem.)
A componente administrativa
f ____________
Direct« Director do Colllrolo Inspector
6
. //-\ /r'
Chefe
~
Cootramestre
Contramestre
(Manlllençào)
Coo,LL, Co""mesl""""""-
(Planeamento)
I
1
Contramestre
(progresso!bs Trabalhos) Contramestre
----_,-
4
(EslucIo do Trabatho) A.rmazéns
2
1~
EsMlo do Traba!ho O
1 L-"',
Montador
-~
Carregador
~
Maquinista
Figura 18.1
O CONTRAMESTE NO MEIO DAS FORÇAS TECNOCRÁTICAS (segundo Palerson, 1969, pág. 164)
350 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
A obsessão do controlo
Passo o dia a olhar para o meu relógio. Dou uma volta à linha de montagem, mais
ou menos uma vez de hora a hora. Por volta das seis e meia, passo às relações sociais
para ver quem está ausente. Às sete horas, vou outra vez ao fim da linha de monta-
gem. Verifico a pintura, as esfoladelas, os desgastes. Por volta das dez horas, começo
a falar com todos os contramestres. Certifico-me que estão bem acordados e que se
ocupam das suas responsabilidades. Assim, podemos fechar o fim da linha de mon-
tagem às duas horas com tudo limpo. Na sexta-feira à noite, fazemos os pagamentos
ao pessoal. Todos querem sair o mais rapidamente possível. Tenho que mantê-los na
ordem. Não posso deixá-los sair mais cedo.
Não podemos ter falhas, nem nada (citado por Terkel, 1972, pág. 186).
Não nos podemos espantar que «exista uma palavra alemã - Fordismus - que
representa por si mesma, o epítomo da produtividade industrial máxima onde
todas as outras considerações se rendem à tirania da eficácia económica» (Parkinson,
1974, pág. 60). Nos níveis intermédios da hierarquia, a situação pode ser dife-
rente, mas a mentalidade de controlo permanece igual:
... Um engenheiro de Desenvolvimento não faz aquilo para o qual foi pago, a não
ser que esteja no seu estirador a desenhar, e assim por diante. A direcção tem a
mesma reacção instintiva quando encontra as pessoas a passear de um lado para o
outro na fábrica, quando os indivíduos não se encontram «no seu lugam. Estes ges-
tores não podem ter confiança nos seus subordinados, caso estes não se encontrem
fisica e visivelmente «a trabalhan). Quando surgiu a necessidade para «melhores comu-
nicações»), a resposta da direcção foi então a de amarrar os funcionários fisicamente
aos seus postos .. (Bums, 1971, págs. 52-53).
I Esta outra configuração é, como iremos ver, a Estrutura Divisionalizada. Mas, para sermos jus-
tos para com os autores clássicos, uma ou talvez mesmo duas das três outras configurações, não exis-
tiam em 1916, no momento em que Fayol publicou os seus primeiros trabalhos importantes. A Adhocracia
é uma inovação estrutural posterior à Segunda Guerra Mundial e a Burocracia Profissional só se desen-
volveu durante este século. Só podemos criticar Fayol por ter ignorado a Estrutura Simples, se bem
que aqueles que lhe seguiram na peugada (e alguns até aos nossos dias), possam ser criticados mais
fortemente por terem ignorado as inovações estruturais importantes que se desenvolveram à sua volta.
A BUROCRACIA MECANICISTA 351
E no vértice estratégico:
Quando eu era presidente desta grande empresa, nós vivíamos numa pequena cidade
do Ohio, onde estava situada a fábrica principal. A empresa especificava com quem
podíamos contactar socialmente, e até que ponto (a sua esposa acrescentou: «Quem
eram as mulheres com quem podíamos jogar bridge.») A mulher do presidente podia
fazer tudo o que quisesse, desde que o fizesse com graça e dignidade. Numa pequena
cidade, a empresa não precisava de exercer controlo. Pois todo o mundo sabia tudo
o que se passava (citado por Terkel, 1972, pág. 406).
Era evidente ... que a rede de relações que melhor serve a produção não é
necessariamente a que melhor serve as pessoas. Se os objectivos técnicos são
bem realizados o resultado traduzir-se-á num sucesso comercial; se os objecti-
vos sociais são bem servidos o resultado provável consistirá num pessoal coo-
perativo e contente. Conseguem-se melhores resultados técnicos através das
pressões e dos conflitos. Muitos dos conflitos que surgiam nas empresas estuda-
das pareciam ter um objectivo construti vo, na medida em que contribuíam para
os resultados finais, e, certamente, não correspondia à verdade que as empresas
com mais sucesso eram as empresas que apresentavam as melhores relações
entre os seus membros e nas quais o pessoal se identificava mais fortemente com
a empresa (pág. 45).
o vértice estratégico
Nestas organizações, a preocupação dos quadros do vértice estraté-
gico é, em grande parte, a afinação minuciosa das suas máquinas buro-
cráticas. Como observa R. G. Hunt (1970), estas organizações estão mais
orientadas para o melhoramento dos desempenhos do que para a resolução
dos problemas. Mas não pára aí o trabalho do vértice estratégico: uma boa
parte da energia da direcção-geral é também consagrada à manutenção da
integridade da estrutura, apesar dos conflitos. Como já observámos, os con-
flitos não são realmente resolvidos, sendo antes contidos, de forma a que
o trabalho possa ser executado; os conflitos são acumulados numa garrafa
cuja rolha está naturalmente situada no topo: em última análise, compete à
direcção-geral , no seu papel de resolução de problemas, manter os conflitos
rolhados.
A supervisão directa também é uma preocupação constante da direcção-
-geral. Nos níveis intermédios da organização, a formalização é de apli-
cação limitada porque o trahalho é mais complexo e menos previsível do
que no centro operacional. A coordenação, entre as unidades dos níveis
intermédios muito diferenciados (como o desenvolvimento, o marketing e a
produção nas empresas de produção em série), requer muitas vezes um meca-
nismo flexível. A utilização do ajustamento mútuo parecia ser a escolha
óbvia, mas a sua utilização é assaz limitada pelos diversos bloqueios à comu-
nicação informal que existem nas organizações - diferenças de estatuto entre
operacionais e funcionais, entre quadros situados a níveis diferentes da hie-
rarquia, diferenciação nítida entre as unidades situadas ao mesmo nível da
hierarquia, e a importância geral que se acorda à comunicação formal e às
relações hierárquicas. (No nosso continuo dos mecanismos de ligação da
figura 10-5, só os mecanismos de primeira ordem, como os postos de ligação
e talvez os «comités» permanentes, são susceptíveis de serem utilizados; uma
estrutura matricial, por exemplo, destruiria a linha hierárquica e o princípio
de unidade de comando que constituem os elementos de importância central
na Burocracia Mecanicista.) A supervisão directa continua então a ser de grande
necessidade neste tipo de estrutura: os quadros dirigentes do vértice estraté-
gico devem intervir frequentemente nas actividades da linha hierárquica para
coordenar as suas actividades; s6 eles são verdadeiramente os generalistas
da estrutura, os únicos que têm uma perspectiva suficientemente ampla
para poder abranger todas as funções - ou seja, os meios - no contexto dos
objectivos globais. Todas as outras pessoas na estrutura são especialistas ,
preocupados com um único elo na cadeia de actividades que produz os resul-
tados finais.
sário. A gestão, que é muitas vezes visualizada como uma hierarquia complexa,
familiar nos diagramas das organizações. opera um sistema simples de controlo, com
a informação que sobe através de uma sucessão de amplificadores (Burns e Stalker,
1966, pág. 5).
A arte (ou ciência) militar reconhece uma tal dicotomia na sua divisão da condu-
ção da guerra sob as designações de estratégia e de táctica: a primeira é dedicada à
direcção-geral dos exércitos, e a segunda é consagrada ao emprego particular de homens
e de material bélico ..
O contacto entre os planificadores e os executantes limita-se formalmente à infor-
mação que os últimos transmitem aos primeiros. Informação essa que depois de dige-
rida e racionalizada é traduzida em planos de batalha. Os planos de batalha são sub-
metidos aos comandantes que por sua vez os concretizam em decisões específicas, e
que transmitem tais decisões como ordens aos subordinados apropriados (Feld, 1959,
págs. 16, 20).
Um exemplo
Existem também fónnu)as para apresentar os pratos. Não 56 a comida sabe exac-
tamente ao mesmo mas também é igual quando apresentada no prato. Mesmo as
ementas obedecem a regras rígidas; sofrem uma rotação de 21 dias. Os preços s6 são
mudados duas vezes por ano, independentemente da flutuação dos custos das maté-
rias-primas. Os planificadores consideraram que era muito caro reimprimir milhares
de cardápios que raramente mudam.
E, assim, passemos às mudanças de estratégia e de controlo:
Qualquer mudança, qualquer passo que possa bulir com a fórmula de MUITay
é pacientemente examinado e meticulosamente executado na sede da companhia,
um edificio antigo de tijolo vermelho situado em St. Paul Street, em Montreal.
A supervisão sobre as operações é situada neste edificio e é bastante apertada.
MUITay nunca se expandiu para Oeste precisamente por esta razão; a distância
podia implicar uma perda de controlo, um desvio em relação à fórmula.'
Figura 18.2
A BUROCRACIA MECANICISTA
I Extraído de «If Vou Like John Diefanbaker, Froot Page Challenge and Hockey Night in
Canada .. . )} da autoria de M. Enright, Weekend Magazine, «The Montreal Stan>, 30 de Setembro de
1972. Este trecho foi utilizado com autorização do autor.
356 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
I A contradição com Woodward neste ponto, quando descreve a estrutura das empresas de
fabricação em contínuo como orgânica, parece provir de uma hipótese por ela estabelecida no seu
trabalho, segundo a qual, os sistemas técnicos de produção são sempre largamente automatizados.
358 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Figura 18.3
A CADEIA OPERACIONAL SEGMENTADA EM DEPARTAMENTOS FUNCIONAIS
NA EMPRESA DE PRODUÇÂO EM SÉRIE
I
Presidente 1 VICe-Presidente
Diredoc-Geral r 1 Sea"etário e Conselho Gef31
T
I
Vice-Presidente Executivo
I I r
I Divisão de Operações
l I
DivisAo de Planeamento das oper.,]
Eng. fi Inv. e Desenvolvimento I Divisão de Pessoal
II Divisão Financeira
I I Divisão ele Markeling
I
Controlo do Ambiente Planeamento das Instalações Desenvolvimento Organizacional Impostos Verldas
Transporte Investigação e Desenvolvimento Relaç6es PúblK:as Tratamento dos Dados Desenvolvimento 00 t.4&rcado
Matéfias.prinas Engenharia: Trabalhos Primários Serviços ao Pessoal Auditoria Interna Vendas para o Eslraf'I9EIlro
~l\arialnduslrial Acabamen\os e T~hos Tubulares Salários e Vantagens Contabilidade Planeamef110 Comercial
Controlo MetalÔl"gico e Ce Ctlaidade Engenharia Eléctrica Serviço Médico Análise Financeira, e Investigação
Planificação da Pr~ Serviços Técnicos Relações Sociais Sist&mas de Controlo
Protecção das Instala~s Serviços
Fábrica A: Tesourelro
ProduçAo Primária Seguros
PtoduçAo de Profilad:ls
Bandas Roladas
.""""
~
Serviços ()peracionas
Fábrica B:
Com""
Arame, Produtos de Arame,
Parafusos
Poo:as Pesadas
T,""
Figura 18.4
ORGANIGRAMA DE UMA GRANDE SIDERURGIA
360 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
consegue regular as suas operações para a satisfação dos seus clientes. Estes
clientes têm certas expectativas - não de surpresas mas de estabilidade.
Quando estava a escrever este livro, uma das cadeias gigantes de hotéis
estava a passar uma série de anúncios, cujo lema era: «Em todos os
Holiday Inns, a melhor surpresa é a ausência de surpresas.» Num destes
Holiday Inns, George J. Fryzyan III, um consultor de seguros comerciais,
exclama: «O quarto estava limpo, a televisão funcionava, tudo funcionava.
Fantástico!» Depois de mais louvores, acrescenta: «Penso que isto tem
algo a ver com os 152 padrões impostos a cada Holiday Inn .. ,» As Burocracias
Mecanicistas são as estruturas que melhor asseguram que nada possa fun-
cionar deficientemente.
Outro grupo do MBA da McGill estudou uma agência de postos de segu-
rança com 1200 guardas a tempo parcial e nove gestores a tempo inteiro. Os
guardas a quem pagavam o salário mínimo, ou pouco mais, eram na sua mai-
oria homens reformados e mais velhos. O seu trabalho era extremamente
rotineiro e simples, como, por exemplo, controlar o tráfego nas saídas das
escolas e patrulhar edificios nas horas mortas. Consequentemente, tudo era
absolutamente rotinizado e a estrutura era notavelmente burocrática. Os
guardas usavam uniformes, utilizavam escalões, existia um código de disci-
plina muito rigoroso, havia um manual que especificava regulamentos gerais
até ao mínimo pormenor ao passo que cada posto de trabalho também tinha
os seus regulamentos igualmente específicos. E esta formalização do com-
portamento não se restringia só aos guardas. Quando a empresa realizava
uma campanha de recrutamento, estipulava uma série de normas para avalia-
ção dos seus candidatos, que mais parecia uma página tirada do seu manual
de operações.
Esta organização não constitui uma Burocracia Mecanicista no seu
sentido mais puro, visto que lhe faltava uma hierarquia administrativa ela-
borada. Existiam poucos gestores intermédios e quase não tinham ana-
listas. O que acontecia é que as tarefas desta organização eram tão sim-
ples e tão estáveis que a própria gestão elaborava as normas que presidiam
ao funcionamento da empresa e depois deixava-as in situ, quase que em
perpetuidade . Daí, não haver necessidade de uma tecnoestrutura. A estru-
tura era na realidade um híbrido entre a Estrutura Simples e a Burocracia
Mecanicista, a que nós podemos chamar de Burocracia Simples: uma buro-
cracia centralizada, fortemente burocrática, mas com uma estrutura admi-
nistrativa relativamente simples. A agência de empregados de escritório
que Crozier (1964) estudou parece pertencer a este tipo. Crozier des-
creve os seus procedimentos fortemente burocráticos e «o desejo desme-
dido de controlo» dos seus gestores, mas observa que a hierarquia era
«pouco complicada ... uma organização dotada dc uma s6 cadcia de auto-
ridade, sem quaisquer funcionais, pelo menos ao nível das sucursais»
(pág. 14). Dando a seguinte explicação: «3 tecnologia do trabalho da
Agência é simples e basicamente tem permanecido numa forma não modi-
ficada durante trinta e cinco anos» (pág. 14). Por conseguinte, quando o
trabalho é extremamente simples e quase perfeitamente estável, a
Burocracia Mecanicista pode dispensar praticamente toda a sua com-
ponente administrativa_
I I
Director
Geral
I
Chefe de
I Director
ContabiKIade
I Dir8CI(X
Residente de Marketing
e de Vendas
r
~,,""
I I
Assistente Director Directo!' Respoosável Director
Contabilista doo
do Pessoal AdjunlO pela Manutenção de Vendas
Restamantes
I 1 I I
Chefe Chefe Chefe
Director Res~sável Mafrra Responsável Engenheiro
Adjunto 00 Front dos Serviços
de Crédito de Coolpras d'H6t91 dos Banquetes Chefe
da Recepção omC<l dos Quartos
Figura 18.5
UM HOTEL REPRESENTADO COMO UMA BUROCRACIA MECANICISTA
DE COLARINHOS BRANCOS
362 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
1 No capítulo 19, podemos ver que muitas forças policiais que se deveriam estruturar como
Burocracias Profissionais, são, de facto, atraídas para a Burocracia Mecanicista devido à sua ori-
entação para um controlo muito acentuado e pela sua necessidade de prestar contas ao público,
A BUROCRACIA MECANICISTA 363
Por um lado, a maioria dos autores considera que o desenvolvimento das organi-
zações burocráticas representa a personificação da racionalidade no mundo moderno
e que a burocracia é, como tal, intrinsecamente superior a todas as outras formas pos-
síveis de organização. Por outro lado, muitos autores - muitas vezes os mesmos -
consideram-na uma espécie de «Leviatham>, através da qual se prepara a escravatura
da raça humana (Crozier, 1962, pág. 216).
364 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Weber, claro está, insistiu sobre o primeiro destes pontos de vista, e a com-
paração destas organizações com as máquinas vem directamente dos seus escritos :
James Worthy (1959), que na altura era um dos dirigentes de Sears e Roebuck,
fez no seu livro Big Business and Free Man uma crítica penetrante e mordaz de
Burocracia Mecanicista. Worthy atribui a raiz dos problemas humanos, que afec-
tam estas estruturas, ao movimento de gestão científico que varreu os Estados
A BUROCRACIA MECANICISTA 365
I E na União Sovietica que a gestão cientifica tem o seu desenvolvimento {(mais florescente»,
encorajado por Lenine (~como um meio para aceleram a produção industriab> (pág. 77). Worthy
nota além disso, «os paralelos interessantes que existem entre o comunismo e a gestão científica.
Nos dois casos, os operários são considerados como meios e não como fins, como executantes e
não como indivíduos capazes de planear e de tomar iniciativas, como pessoas que e necessário
manipular - pela persuasão se possível, pela coerção se necessário - para outros interesses e para
outras necessidades que não os seus» (pág. 78). Worthy estabelece tambem um paralelo noutra
direcção, entre a estrutura regulada e o governo centralizado. Quando se refere à desconfiança dos
Americanos em relação ao planeamento nacional . fa z o seguinte comentário: «Mas se houvesse
uma recessão económica grave, se o funcionamento harmonioso dos mercados se afundasse face à
adversidade económica, os hábitos de pensar orientados para a organização mecanicista da empresa
conduziriam facilmente a pensar em termos de uma organização mecanicista da economia.» (pág. 79.)
2 Worthy traça a difusão da mesma mentalidade nos sucessores de Taylor, desde a fábrica pas-
sando pela estrutura administrativa ate extravasar para o exterior, permeando o ambiente da orga-
nização e mesmo a sociedade no seu conjunto, culminando na proposta feita em 1916 por Gantt
de: {(uma organização fantástica chamada "A Nova Máquina" ... aparentemente uma especie de Estado
Corporativo, apenas entrevisto, cujo sistema económico consistiria numa grande parte em empresas
públicas - geradas, evidentemente, por engenheiros formados em gestão científica» (págs. 76-77).
366 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Não sei quem disse que não bá nada mais bonito no mundo do que uma sinfonia
incompleta. Da mesma forma que uma pintura não acabada ou um poema incompleto.
Se esse fulano criasse um dia alguma coisa - digamos, a Capela Sistina de Miguel
Angelo. Levou imenso tempo a pintar esta maravilhosa obra-prima. Mas o que é que
aconteceria se tivesse de pintar a Capela Sistina mil vezes por ano? De certeza que
até isso acabaria por embrutecer um Miguel Angelo? Ou se Leonardo da Vinci
tivesse de desenhar os seus esboços anatómicos trinta, quarenta, sessenta, oitenta,
noventa, cem vezes por dia? Não acha que também ele acabaria por se chatear? (pág. 37).
Sem dúvida alguma. A não ser que se tenha o temperamento de Babe Secoli,
uma caixeira num supermercado de Chicago, que tem uma perspectiva muito
diferente do trabalho numa Burocracia Mecanicista:
Vendemos aqui tudo, milhões de artigos. Desde batatas fritas e popcorn - até
temos uma pérola verdadeira numa lata de ostras. Caracóis com as conchas para pôr
em cima da mesa, frioleiras. Existem artigos que nem eu sabia que existiam aqui.
A BUROCRACIA MECANICISTA 367
Conheço o preço de cada um. Por vezes o patrão pergunta-me o preço de determi-
nado artigo e eu fico muito ufana. Não há uma única coisa que possamos querer que
não exista neste armazém.
Acabamos por memorizar os preços todos. Acontece naturalmente. Sei que meio-
-galão de leite custa sessenta e quatro cêntimos; um galão custa um dólar e dez cên-
timos. Olha-se para os rótulos. Uma lata pequena de ervilhas, Raggedy Ann. Green
Giant, é mais uns cêntimos. Sei que Green Giant custa dezoito e sei que Raggedy
Ann custa catorze ... acaba-se por memorizar facilmente. Temos na máquina regista-
dora uma lista com alguns preços, para ser utilizada pelas empregadas a tempo par-
cial. Eu nem sequer olho para a lista.
Nem sequer tenho de olhar para as alavancas na minha máquina. Sou como a secre-
tária que conhece bem a sua máquina de dactilografar. Só o toque basta. As minhas mãos
coadunam-se perfeitamente. O número nove é o meu dedo do meio grande. O polegar
representa o número um, dois e três e mais acima. O lado da minha mão soma o total.
Utilizo três dedos ~ o polegar, o dedo indicador e o dedo do meio. A mão direita.
E a minha mão esquerda é para lidar com as mercearias. Dou um empurrão com as
ancas para que as mercearias deslizem para a bancada. Quando tenho suficientes arti-
gos em frente, deixo de dar às ancas. Toda eu estou em movimento - as ancas, a mão,
e a máquina registadora, as ancas, a mão e a máquina registadora ... (E na sua demons-
tração, as mãos e as ancas ondulam como se fosse uma bailarina oriental.) E continua-
-se sempre, um, dois, um, dois. Se se tem ritmo consegue-se ser bastante rápida, com
os pés bem finnes no chão e com a cabeça a mexer de trás para a frente ...
Quando estou dois dias fora, sinto a falta deste lugar. Quando estou de férias , mal
posso esperar para ir para fora, mas passados dois ou três dias começo a ficar
inquieta. Não consigo estar sem f~zer nada. Tenho de estar ocupada todo o tempo.
Começo a ansiar estar de voltar. E uma sensação boa. Gosto imenso do meu traba-
lho (págs. 282, 286).
I Ver Simon (1973a, b) e Argyris (1973a, b) sobre um interessante debate a propósito da neces-
sidade que existe de estruturas que promovam a eficiência «racional» versus estruturas que pro-
movam a realização individual.
370 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Em parte alguma é este resultado mais claro do que na descrição que Crozier
faz (I964) sobre outro tipo de democracia - de tipo judicial - onde os tra-
balhadores impõem regras a fim de diluir O controlo que os patrões exercem
sobre eles. O que, de facto , se torna numa forma perversa de democracia.
Com os patrões constrangidos pelas regras, o poder passa para a hierarquia,
e a estrutura torna-se significativamente mais centralizada. E com as regras
impostas pelos trabalhadores a contrabalançarem as regras impostas pelos ges-
tores, a estrutura vai-se tornando cada vez mais burocrática à custa de toda
a gente. Os trabalhadores acabam por se sentir ainda mais manietados den-
tro de um colete de forças cada vez mais apertado, embora o tenham insti-
gado. Os clientes também perdem. Os clientes da Burocracia Mecanicista
normal podem pelo menos consolar-se com o facto de as regras terem sido
estabelecidas para o seu beneficio ao favorecerem uma produção mais efici-
ente. As regras adicionais das burocracias, que Crozier descreve, nada têm a
ver com a eficiência; servem apenas para proteger o trabalhador. Como ire-
mos ver em breve, como todas as regras, estas regras actuam inibindo a ino-
vação e a adaptação. Quando os trabalhadores se organizam para lutar con-
tra as intrusões da gestão, as mudanças tornam-se praticamente impossíveis .
A democratização judicial apanha o cliente no meio de um duelo entre o tra-
balhador e o gestor. A organização queima assim uma parte enorme da sua
energia nestes conflitos, com menos energia para gastar na produção de bens
ou de serviços para os clientes.
Chega-se assim à conclusão desencorajadora de que a Burocracia Mecanicista
cria problemas humanos enormes no centro operacional , para os quais parece
não haver solução. O alargamento do trabalho não é muito prometedor e a
democratização parece que apenas vai aumentar as «buropatologias». Joan Woodward
acertou em cheio quando argumentou que nestas estruturas existe um conflito
irreconciliável entre os sistemas técnico e social. O que é vantajoso para a pro-
dução não é benéfico para os seres humanos. As mudanças fundamentais terão
de ocorrer, não através da porta principal da confrontação directa e da legisla-
ção, mas sim através da porta traseira das condições modificadas às quais a
organização tem de dar uma resposta. Especificamente, só a completa automati-
zação do sistema técnico pode oferecer uma solução (ou se o ambiente se tor-
nar mais complexo ou dinâmico) que alivie os problemas sociais da Burocracia
Mecanicista.
Nós temos , claro está, uma outra escolha como soc iedade: reduzir o
nosso apetite de bens e de serviços produzidos economicamente em série.
Como iremos ver no capítulo 19, as organizações que produzem bens arte-
sanais, estruturadas como Burocracias Profissionais, podem por vezes pro-
duzir os mesmos outputs que as Burocracias Mecanici stas, mas com menos
turbulência e muilo mais qualiuaue. A queslão é saber se estamos prepara-
dos para pagar o preço correspondente: os pratos de sloneware que se subs-
tituem em cada geração em vez de pratos de plástico que se substituem uma
vez por ano, um vestido que se compra de vez em quando e que foi tecido
num tear manual num estúdio, em vez de vários vestidos por ano, produzi-
dos em série numa fábrica, um Ferrari de vinte em vinte anos, em vez de
um Ford de dois em dois anos. Bem entendido, que se os círculos viciosos
se intensificarem brutalmente e se a vida numa Burocracia Mecanicista se
A BUROCRACIA MECANICISTA 37\
tornar a tal ponto intolerável, ninguém vai querer trabalhar neste tipo de
estrutura, e não vamos ter outra opção. Talvez o sistema acabe por servir o
homem, malgré [ui même.
Como o centro operacional não foi concebido para resolver conflitos, muitos
dos problemas humanos que surgem são tratados pela estrutura administrativa.
Uma vez mais, Worthy (J 959) comenta:
A organização foi estabelecida como uma máquina e para funcionar como uma
máquina. Mas como os seus componentes são humanos e não mecânicos, a tarefa de
controlá-los e de dirigi-los constitui um desafio à imaginação dos gestores cientifi-
cas. As conturbações complexas da organização industrial modema, as toneladas de
papel a que se tem de dar despacho. os di versos níveis de supervisão, o crescimento
luxuriante de pessoal - tudo isto constitui prova de como é difícil controlar as orga-
nizações humanas em função dos princípios mecanicistas (pág. 72).
sucedidos por causa da fraca reputação dos serviços de informações dos escalões
inferiores, e também do domínio dos especialistas, ou dos homens dos cabelos com-
pridos.» (Wilensky, pág. 44; citado por Roberta Wholstetter.)
I Esta discussão sobre os problemas suscitados pelos sistemas de informação de gestão foi em
grande parte tirada de Mintzberg (1975).
A BUROCRACIA MECANICISTA 375
Mas a recolha de tal informação exige um certo tempo. E isso, claro está,
constituia o principal problema - o estrangulamento no vértice estratégico
da Burocracia Mecanicista num ambiente que já não era o mesmo. Assim,
os quadros dirigentes da Burocracia Mecanicista encaram um dilema fun-
damentai resultante da centralização da estrutura e da ênfase posta na
comunicação hierárquica. Em períodos de mudança, sempre que têm
necessidade de consagrar mais tempo a conseguir «o pormenor tangí-
veb>, encontram-se sobrecarregados de decisões a tomar que sobem a
hierarquia para a sua resolução. Ficando, por consequência, reduzidos
a agir de maneira superficial com base em informações abstractas e ina-
dequadas.
O problema essencial reside, na Burocracia Mecanicista, na separação acen-
tuada entre a formulação e a implementação da estratégia. A primeira é da res-
ponsabilidade da direcção-geral, a segunda é levada a cabo por todos os mem-
bros da organização, por ordem hierárquica. Em parte alguma é esta dicotomia
tão acentuada como na organização militar, onde a «estratégia» representa a direc-
ção-gerai dos exércitos e a «táctica» o desdobramento dos homens e do mate-
rial. Feld (1959) deu-nos a melhor descrição deste fenómeno:
Já por vanas vezes vimos neste livro que urna organização pode ser
burocrática sem ser centralizada. O seu trabalho operacional é estável, e
os seus comportamentos são «pré-determinados ou previsíveis, ou seja,
são estandardizados» (ver a nossa definição de burocracia no capítulo 3);
mas o trabalho operacional também é complexo e corno tal deve ser con-
trolado directamente pejos que o executam. A organização acaba, por
conseguinte, por se voltar para o mecanismo de coordenação que lhe per-
mite obter ao mesmo tempo a centralização e a descentralização: a estan-
dardização das qualificações. O que dá origem a urna configuração estru-
tural conhecida sob o nome de Burocracia Profissional, que se encontra
muitas vezes nas universidades, nos hospitais, nos sistemas de educação ,
nos gabinetes de contabilistas, nos organismos de acção social e nas empre-
sas artesanais .
Todas estas organizações se apoiam, para poderem funcionar, nas competên-
cias e nos conhecimentos dos seus operacionais que são profissionais; todas elas
produzem bens ou serviços estandardizados.
380 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Mas seja qual for o grau de estandardização das qualificações e das compe-
tências, a sua complexidade permite ao profissional uma latitude considerável na
sua aplicação. Nunca acontece que dois profissionais - cirurgiões, professores
ou assistentes sociais - apliquem as suas competências exactamente da mesma
maneira. O profissional deve então utilizar as suas faculdades de julgamento,
como Perrow (1970) constata no caso dos polícias:
Toda esta formação tem uma finalidade - a interiorização das normas que
servem o cliente e coordenam o trabalho profissional. Por outras palavras, a estru-
tura destas organizações é essencialmente burocrática, a sua coordenação
- como a da Burocracia Mecanicista - é assegurada pelos padrões que pré-
-determinam o que deve ser feito. A descrição feita por Perrow (1970), de um
serviço hospitalar, mostra-nos até que ponto a organização pode ser burocrática:
o processo de classificação
I Para um excelente exemplo relevante, ver a comparação da prisão como uma Burocracia
Mecanicista (com orientação custodiai) e como uma Burocracia Profi ssional (orientada para o tra-
tamento), ver Cressey (1958; ou 1965, págs. 1044-1048).
386 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
ac )
Figura 19.1
A BUROCRACIA PROFISSIONAL
Tudo o que temos visto até aqui indica-nos que a Burocracia Profissional é
uma estrutura muito descentralizada tanto na dimensão vertical como na
dimensão horizontal. Uma grande parte do poder sobre o trabalho operacional
está situada na base da estrutura, partilhada com os profissionais do centro ope-
racional. Muitas vezes, cada um deles trabalha com os seus próprios clientes,
submetidos apenas ao controlo colectivo dos seus colegas, que inicialmente O
formaram e o socializaram e, daí em diante, reservam-se o direito de censurar a
sua actividade no caso de falta profissional.
r o poder do profissional tem duas origens: em primeiro lugar, o seu traba_ j
lho é demasiadamente complexo para poder ser supervisionado por um supe-
rior hierárquico ou estandardizado pelos analistas, mas também porque os
seus serviços são muito procurados. Esta última característica confere ao pro-
fissional uma mobilidade que lhe permite exigir uma autonomia considerável
no seu trabalho. O profissional tende a identifi~ar- se mais com a sua profis-
são do que com a organização onde a pratica. E o caso dos médicos hospita-
lares (Perrow, 1965, pág . 959), ao passo que Beyer e Lodahl (1976) observam
no mundo académico que : «Muitos membros da Faculdade recebem uma parte
importante da sua recompensa - isto é, reconhecimento - das comunidades
científicas, e este reconhecimento só é secundariamente reforçado pelas uni-
versidades.» (Pág. 124.) Nestas organizações, mesmo «a promoção não está
Conselho de Presidentes Soo""
Comi/és do Conselho
Reitor Nomeações ....",,""" """"""",
AIiIiaçao Bibliotecas
"''''''
do Desenvolvimento
e da Comunlcaçao
Investimentos
Construção
Admissões
Diplomas Hooorá
Pensões Museus
Politica !los Salários dos Professores Desenvolvimento
Comité Execu6vo e Trtularização e 1 ~
Com~é Adjunto com o SenaOo, etc, Comités Pern\arH
Admissões
MacDonald
Gestao do Campus
Investigação
Coordenação
"""-
Desenvolvimento da Educação
Arquivos
Imobiliário
Formação Permanente Ligação com as e 00 Instiruto MacOooald da Investigação Bibliotecas
Mo","
Oejlartamtmto de ~aneamento
""'"
Contabidade
Pagamentos
Escolas e Institutos
Centro de Câk:ulo
Sistemas de GesUlo
Residências Uriversitérias
Sefviços aos Estudantes
Universitário
Orçamentos Serviços de Pessoal
Comissão de Planeamento
Pensões-Finança Recursos Físicos
Imprensa Universitária
""""
Confer~as e
Acontecimentos Especiais
Instalaç6es
SecretariaOo das Inscrições
Secretariado Unlversitârio
Compras
Fundação GauH
Gestão das Residências \.Iniversil.
Administração das Pensões
Serviços oe Impressão
Comité Imobmario
Telefones
Auditoria Interna
,_
dos Estudos
Graduados
Nota: Este organigrama não oficial foi estabelecido pelo autor, baseado em documentos da Universidade McGiII.
Figura 19.2
O ORGAN IGRAMA DA UNIVERSIDADE MCGILL (Circa 1978)
388 ESTRUTURA E DlNÂMlCA DAS ORGANIZAÇOES
A estrutura administrativa
O que vimos até agora sugere que a Burocracia Profissional tem uma l
estrutura muito democrática, pelo menos quanto aos profissionais do centro
operaciGnal. Na realidade, estes não só controlam o seu próprio trabalho
como procuram exercer o controlo colectivo sobre as decisões adminis-
trativas que os afectam, por exemplo, o recrutamento dos seus colegas,
decisão sobre as promoções e a distribuição dos recursos. O controlo destas
decisões exige o controlo da linha hierárquica da organização, o que os pro-
fissionais fazem, assegurando que os seus membros sejam «dos seus}). Uma
A BUROCRACIA PROFISSIONAL 389
+ Com#es de Departamentos
t Comités de Serviços
t Com#és Ad Hoc
Fi gura 19.3
O ORGAN IGRAMA DE UM HOSPITAL UNIVERS ITÁR IO
A BUROCRACIA PROFISSIONAL 391
Figura 19.4
AS HIERARQUIAS PARALELAS NA BUROCRACIA PROFISSIONAL
boletins de informação. Este controlo da estratégia pode muitas vezes ser muito
directo: num dos estudos conduzidos pela Universidade McGill, um hospital que
recusou adoptar um novo método de tratamento foi, de facto, censurado quando
uma das associações médicas aprovou uma resolução, em que declarava que a
recusa de utilizar este método era o equivalente a uma falta profissional.
Pode concluir-se, por conseguinte, que as estratégias da Burocracia Profissional
são em grande parte as estratégias dos profissionais tomados individualmente
na organização, assim como, as das associações profissionais externas. Isto
passa-se em grande parte mas não completamente. Existem ainda graus de liber-
dade que permitem a cada organização no interior da profissão adaptar as estra-
tégias de base às suas próprias necessidades e aos seus próprios interesses. Existem,
por exemplo, clínicas psiquiátricas, clínicas ginecológicas e hospitais militares:
todos aderem à prática médica padrão, mas cada uma destas organizações
aplica-a ao segmento de mercado que seleccionou.
Como é que estas estratégias organizacionais são elaboradas? Parece que as
estratégias próprias de uma Burocracia Profissional representam o efeito acu-
mulado dos projectos ao fim de um certo tempo - ou iniciativas «estratégi-
cas» - que os seus membros se convenceram a executar, por exemplo, comprar
um novo equipamento num hospital, criar uma nova licenciatura numa Universidade,
desenvolver um novo departamento especializado numa firma de contabilidade.
A maior parte destas iniciativas são propostas pelos membros do centro opera-
cional - pelos «empresários profissionais» que desejam expandir os esforços
necessários para negoc iar a aceitação de novos projectos através de uma estru-
tura administrativa complexa (e se o método for novo e controverso, através de
associações profissionais externas e se o projecto for dispendioso, através de orga-
nismos de financiamento). Uma proposta para um novo programa de doutora-
mento de Gestão na Universidade McGill foi elaborado por um comité ad hoc e
só depois foi aprovado pelas Faculdade de Gestão, pelo Comité dos Programas
de Segundo e Terceiro Ciclos, pelo Comité Académico e pelo Conselho da
Faculdade; daí, o projecto passou ao Comité Director e ao Conselho dos Professores
dos Segundo e Terceiro Ciclos; depois ao Comité de Política Académica do Senado
da Universidade antes de passar ao próprio Senado; de lá o projecto passou ao
Comité dos Programas Universitários do Ministério da Educação do Governo do
Quebeque até chegar ao próprio Ministério, com inúmeras idas e voltas de per-
meio entre estes organismos e a administração da Universidade, ao fim das quais
o programa foi finalmente aprovado (sob a forma de um programa conjunto de
quatro Universidades) . _
l elementos necessários para que o projecto seja bem conduzido. Além disso, o
administrador lida com o sistema todos os dias; o empresário profissional talvez
396 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
I Boland (1973), também as acha mais democráticas, o que parece provir da sua grande forma-
lização. «O conjunto dos professores nas universidades com efectivos numerosos. parece ter mais
possibilidade de vir a acumular um poder importante. Nas instituições mai s pequenas, pelo contrá-
rio. os professores estão muitas vczcs sujeitos às decisões dos administradores}} (pág. 636). Isto
parece aproximar-se da situação descrita por Crozier, onde os operacionais das grandes organizações
burocráticas impõem a criação de regras que protegem os seus interesses. Contudo, um tal fenómeno
parece vir a beneficiar mais os operacionais das Burocracias Profissionais do que os das Burocracias
Mecanicistas: DO primeiro caso, as regras constituem os meios de uma verdadeira autogestão, no
segundo só servem para proteger os trabalhadores dos caprichos arbitrários dos seus patrões.
A BUROCRACIA PROFISSIONAL 397
ções para novos problemas). Isto também se passa em relação aos hospitais, pelo
menos quando o seu sistema técnico é simples. Bem entendido, quando há
necessidade de equipamentos mais sofisticados - que parecem estar em cresci-
mento, sobretudo nos hospitais escolares - o hospital evolui para um tipo
híbrido que tem algumas das características da Adhocracia. A investigação,
assim como a Universidade, contribui também para que a estrutura deslize para
esse tipo híbrido, sendo a investigação orientada mais para a prática clínica e
para o ensino do que para a inovação. I O mesmo deriva de um ambiente dinâ-
mico - que é cada vez mais frequente nos hospitais escolares. Mas todas estas
forças são fortemente mitigadas pelas considerações absolutas de segurança que
são essenciais para que o hospital possa funcionar bem. Só podem ser aplicados
de forma regular os tratamentos que foram totalmente aprovados. As institui-
ções, a quem os clientes confiam as suas vidas, têm uma aversão natural às
estruturas orgânicas, como a Adhocracia.
Uma boa parte do sector de serviços da nossa sociedade aplica de facto pro-
gamas-padrão a problemas bem definidos. Daí que a Burocracia Profissional tenha
tendência a predominar nesse sector. Com o enorme crescimento deste sector
nas últimas décadas, a Burocracia Profissional tornou-se numa configuração estru-
tural muito importante.
Até aqui os nossos exemplos provinham do sector de serviços. Mas a Burocracia
Profissional é uma estrutura que também se encontra na actividade industrial,
nomeadamente, sempre que o ambiente exija um trabalho complexo mas está-
,;,el, e o sistema técnico não seja nem muito regulador nem muito sofisticado.
E este o caso da empresa artesanal que é uma das variantes importantes da
Burocracia Profissional.
As organizações utilizam instrumentos relativamente simples para fabricar pro-
dutos-padrão. O próprio termo artesão refere-se a um tipo de profissional que
adquire a sua qualificação através de uma longa aprendizagem, e pode praticar
a sua arte sem estar submetido a uma supervisão directa. As empresas artesanais
são tipicamente dotadas de uma componente administrativa muito reduzida
- não têm tecnoestrutura, poucos gestores, muitos dos quais, de resto, trabalham
ao lado dos artesãos.
Muitos artesãos foram eliminados pela Revolução Industrial. Os seus traba-
lhos - por exemplo, ° de fazer sapatos - foram racionalizados e assim o con-
trolo sobre o trabalho passou dos trabalhadores que o executavam para os ana-
listas que o concebiam. Mas algumas indústrias artesanais subsistiram: a manufactura
do vidro fmo, a cerâmica manual, os estúdios fotográficos e a cozinha gastro-
nómica. 2 De facto, como estes exemplos indicam, o termo artesanal é hoje em
dia sinónimo de arte funcional: os produtos feitos à mão são dotados de uma
função mas são comprados pelo seu valor estético.
I Contudo, a descrição dada por Kuhn (1970), sobre a prática de investigação científi ca dá
nitidamente a impressão de que na maior parte do tempo - quer dizer, nos períodos de ciência
«nonnah>, como ele os apelida, quando os investigadores estão essencialmente a elaborar e a aper-
feiçoar um dado «paradigma~~ - a estrutura da burocracia profissional poderia igualmente convir.
A estrutura adbocrática é realmente mais apro priada, mas só nos períodos de «revolução»
científica.
2 Os restaurantes podem ser incluídos no sector dos serviços ou no sector industrial segundo
os encaremos sob o ponto de vista de preparação ou do serviço de comida.
A BUROCRACIA PROFISSIONAL 399
Existe, pelo menos, uma indústria principal que se tem mantido, predomi-
nantemente, na fase artesanal: a construção civil. Num artigo intitulado «A Burocracia
e a Administração Artesanal da Produção: Um Estudo ComparadQ», Stinchcombe
(1959-1960) contrasta a produção em série e as empresas de construção, descrevendo-
-as estas mais ou menos como nós as descrevemos na Burocracia Profissional.
Este teórico observa que «a profissionalização da força laboral na indústria de
construção serve os mesmos propósitos que a administração burocrática nas indús-
trias de produção em série» (pág. 169). Na construção, <<os processos de traba-
lho (são) governados pelo trabalhador de acordo com uma tradição empírica que
está na origem dos princípios artesanais» (pág. 170). Consequentemente, emprega
poucos trabalhadores (20 por cento do pessoal administrativo versus 53 por
cento na produção em série, onde são utilizados, Stinchcombe explica, para
efectuar o controlo da Burocracia Mecanicista), o sistema de comunicação é menos
formalizado e não se dá tanta importância à hierarquia de autoridade. Stinchcombe
também nota que «os mecanismos burocráticos de controlo da produção são pouco
desenvolvidos - a avaliação dos custos, a planificação detalhada, os relatórios
regulares sobre o processo de trabalho, e a inspecção estandardizada das opera-
ções específicas» (pág. 182)'.
Os mercados das Burocracias Profissionais estão muitas vezes diversificados:
os hospitais têm ginecologistas para tratar mulheres e os pediatras para tratar
crianças; as Universidades têm professores de Filosofia para ensinar os estudantes
que estão interessados numa formação geral e os professores de Gestão para
ensinar os que procuram as competências que conduzem a uma carreira precisa.
A hipótese 11 leva-nos à conclusão de que tal diversidade de mercados encoraja
o agrupamento dos profissionais numa base de mercado. De facto, já vimos que
era este o caso (embora também já tenhamos constatado que este agrupamento
é, na Burocracia Profissional, equivalente ao agrupamento por funções).
Por vezes estes mercados estão também diversificados geograficamente, o
que conduz a uma variante a que chamamos a burocracia profissional dispersa.
Aqui, o problema de manter a lealdade em relação à organização toma-se rele-
vante, pois os profissionais executam o ,seu trabalho autónomo em locais remo-
tos, longe da estrutura administrativa. E o caso da Polícia Montada canadiana,
que se encontrava dispersa pelo oeste e pelo norte do Canadá no século passado,
para manter a ordem no que eram, na altura, regiões sem lei do país. Uma vez
enviados para o exterior, cada membro actuava por si próprio. O mesmo se
passa nas agências de informações (de espiões), nos gabinetes de consulta inter-
nacionais e nos serviços florestais. Consequentemente, estas organizações têm
de recorrer exaustivamente à formação e à socialização, especialmente à última.
Os empregados são cuidadosamente seleccionados, e a sua formação e sociali-
zação assumem um carácter exaustivo - sendo muitas vezes, ministradas pela
própria organização - antes de serem enviados para áreas remotas para executar
o seu trabalho. Assim, mesmo actuando sozinhos, os polícias montados têm as
normas e as competências da organização inculcadas dentro de si e como tal ser-
vem-na resolutamente. Além do mais, os membros das Burocracias Profissionais
Urna orquestra não funciona corno uma democracia mas sim corno uma ditadura.
A interpretação e a apresentação deste reportório complexo não pode ser montado
como uma espécie de consenso entre os músicos .
Este método já foi experimentado, nomeadamente, na Rússia nos anos 20, mas a
célebre orquestra sem chefe, Persimfans, só durou uns poucos anos. Tinham de fazer
ensaios sem conta, enquanto os músicos debatiam como se devia tratar cada passa-
gem; cada membro tinha o direito democrático, por sua vez, de pousar o instrumento
e de sentar-se no auditório para escutar o efeito produzido.
Foi finalmente decidido que seria mais eficaz e menos custoso permitir a um só
indivíduo cujo talento tinha sido reconhecido, impor as suas ideias ao resto da orquestra ...
Penso que foi um dos músicos de Szell que um dia disse: «O tipo é um filho da
mãe ... mas obriga-nos a tocar de uma maneira sublime». l
I Extraído de «MSD Crisis Plus ça change» por E. McLean , Canada Wide Feature Service no
vantajoso que cada operacional tome o seu trabalho o mais profissional possí-
vel - adquira as competências exigidas, impeça que os analistas da tecnoestru-
tufa o racionalizem e crie as associações que estabelecem as normas gerais para
o sector da actividade que protegem estas competências. O operacional pode de
certo modo obter o que a Burocracia Mecanicista sempre lhe negou: o controlo
sobre o seu trabalbo e sobre as decisães que o afectam.
Os problemas de coordenação
Os problemas de autonomia
E difícil resolver este problema de inversão dos fíns e dos meios, em pri-
meiro lugar, porque é difícil «medir» a actividade profissional: quando nem
os psiquiatras conseguem mesmo definir as palavras «cura» ou «sanidade»,
como é que podem provar que a psicanálise é melhor que a quimioterapia
para tratar os maníaco-depressivos? Quando ainda ninguém foi capaz de
medir o grau de aprendizagem que se realiza na sala de aula, como é que se
consegue provar com segurança que as lições universitárias são melhores ou
piores que os seminários ou, pela mesma ordem de ideias, que ficar em casa
a estudar. Esta é uma das razões por que a solução óbvia para os problemas
de autonomia - a censura pelas associações profissionais - é raramente utili-
zada . Outra razão que justifica o facto desta solução ser pouco utilizada: os
profissionais têm uma aversão notória a actuar contra um dos seus, a «lavar
a sua roupa suja em público» , por assim dizer. Só em casos extremos é que
actuam - certos comportamentos são demasiadamente grosseiros para pode-
Tem ser ignorados. Mas estes casos são relativamente raros. Não representam
senão a ponta do iceberg.
A autonomia não só permite que certos profissionais ignorem as necessi-
dades reais dos seus clientes, mas encoraja também muitos deles a ignora-
rem as necessidades da organização. Nestas estruturas, os profissionais, em
geral, não se consideram como fazendo parte de uma equipa. Para muitos deles,
a organização é quase acessória, um lugar conveniente para exercer a sua pro-
fissão. Acontece que são leais em relação à sua profissão mas não em relação à
organização onde ocasionalmente a praticam. Mas a organização tem também
necessidade de lealdade - de apoio para as suas estratégias, de pessoas que
fazem parte dos seus comités administrativos e que tratam dos conflitos entre a
própria organização e as associações profissionais. A cooperação, como já
vimos, é crucial para o bom funcionamento da estrutura administrativa. Porém,
como também já vimos, os profissionais oferecem-lhe uma resistência furiosa.
Os professores odeiam aparecer nos comités de programa; não querem pura e
simplesmente depender uns dos outros. Pode dizer-se que se conhecem demasia-
damente bem!
Os problemas de inovação
1
a tocha da inovação, esse gesto vai, inevitavelmente, provocar conflitos políti-
cos importantes. Mesmo na Burocracia Mecanicista quando os quadros dirigen-
As respostas disjuncionais
Quais são as respostas que suscitam os problemas de coordenação, de auto-
nomia e de inovação? O que acontece mais frequentemente, é qne os que se
encontram fora da profissão - os clientes, os administradores não profissio-
nais, os membros da sociedade no seu conjunto e os seus representantes no
Governo - concebem o problema como tendo origem numa falta de controlo
sobre o profissional e sobre a profissão. Fazem então o que parece impor-
-se: tentar controlar o trabalho, utilizando um outro mecanismo de coorde-
nação. Precisamente, tentam utilizar a supervisão directa, a estandardiza-
ção dos processos de trabalho ou a estandardização dos produtos.
A supervisão directa, tipicamente, significa impor um nível intermédio de super-
visão, de preferência com uma «amplitude de controlo» estreita - de acordo com
os cânones dos conceitos clássicos de autoridade - a fim de manter os profis-
sionais debaixo de olho. Isto pode funcionar nos casos muito graves de negli-
gência profissional. Pode·se «admoestar» o cirurgião negligente ou o professor
que falta a muitas aulas, chegando mesmo ao ponto de despedi-los. Mas as acti-
vidades profissionais específicas - complexas na sua execução e cujos resulta-
j
dos são vagos - são difíceis de controlar por qualquer outra pessoa que não
sejam os próprios profissionais. Assim, o administrador que queira utilizar a supero }
visão directa, não tem outra possibilidade que não seja a de se empenhar em
actividades fastidiosas. Como no caso de certos responsáveis de distrito, que se
situam entre um conselho escolar de Montreal e as suas escolas e que, segundo
os relatórios de alguns directores dessas escolas, chegavam a telefonar-lhes às
4h 59m na sexta-feira à tarde, para verificar se já tinham partido para o fim-de-
-semana. A imposição destes níveis intermédios de supervisão assenta na hipó-
tese de que o trabalho profissional pode ser controlado, como qualquer outro,
sob uma forma de controlo que actua no sentido descendente, uma hipótese que
se tem revelado constantemente falsa.
Da mesma maneira, as outras formas de estandardização, em vez de condu-
zirem ao controlo do trabalho profissional, muitas vezes só servem para impe-
dir e desencorajar os profissionais. E, pelas mesmas razões - pois temos um tra-
balho complexo que não pode ser formalizado pelas regras e resultados mal
definidos que não podem ser estandardizados pelos sistemas de planeamento e
de controlo. Excepto de formas incorrectas, que programam os comportamentos
errados e que medem falsos resultados, forçando os profissionais a entrar no
jogo da burocracia mecanicista - ou seja, a respeitar as nonnas em vez de ser-
vir os clientes. Mais uma vez, volta-se à velha inversão de meios-fins. Como o
polícia em Chicago que descreveu a Studs Terkel (1972) os efeitos destas várias
normas no seu trabalho:
o meu superior diria: «Este mês precisamos de prender duas pessoas, para que
possamos estar em pé de igualdade com as outras áreas.» E assim saímos à procura
de possíveis prisões ..
Um polícia da Polícia Judiciária passa muito tempo no tribunal. Aprende-se a conhe-
cer os juízes e as coisas que procuram. Uma pessoa toma-se um perito quando presta
testemunho. Quando se muda o testemunho, mudam-se os factos. Manipula-se a ver-
dade, porque tentamos que os réus não sejam absolvidos .. .
A BUROCRACIA PROFISSIONAL 407
l
nos rurais e os alunos urbanos - assim como os estilos individuais dos professo-
res tinham de estar todos subordinados à inflexibilidade do sistema.
O facto é que o trabalho complexo não pode ser realizado correctamente
a não ser que seja efectuado sob o controlo do próprio operacional. A socie-
dade pode ter que controlar as despesas globais das suas Burocracias Profissionais
- para poder limitá-las - e legislar contra os casos mais graves de comporta-
mento profissional. Mas um controlo externo demasiado forte conduz, de acordo
com a bipótese 14, à centralização e à burocratização da estrutura, transfor-
mando-a numa Burocracia Mecanicista, em que o trabalho operacional é con-
trolado por normas elaboradas pelos analistas da tecnoestrulura. Isto tem como
consequência «deitar fora o bebé com a água do banbO». Os controlos tecno-
cráticos não podem melborar o trabalho de natureza profissional, nem distinguir
entre os comportamentos profissionais responsáveis e aqueles que não o são: cons-
trangem os dois igualmente. Isto, claro está, pode ser apropriado nas organiza-
ções, em que os comportamentos responsáveis são raros. Mas no caso contrário
- quer dizer, provavelmente, na maioria dos casos - os controlos tecnocráticos
têm como único efeito o de fazer baixar a consciência profissional. Sorensen
e Sorensen (1974) descobriram que quan to mais burocráticas forem as grandes
firmas de contabilidade pública, maior a sua experiência de conflitos e de insa-
tisfação no trabalho.
Os controlos perturbam também a delicada relação entre o profissio-
nal e o seu cliente, uma relação fundada sobre a existência de um con-
tacto sem entraves entre os dois. Assim, um chefe da polícia, Cizankas, nota
408 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
que o polícia que está colocado mesmo ao fundo da estrutura de uma «orga-
nização paramilitar», sente-se mais tentado transmitir a sua frustração para a
pessoa que infringe a lei (paráfrase de Hatvany, 1976, pág. 73). Os controlos
retiram a responsabi lidade aos operacionais, para concedê-la à estrutura admi-
1
nistrativa, onde esta não serve para nada ao cliente. Não é o Estado que
ensina os estudantes, nem é sequer o sistema de educação nem mesmo a pró-
pria escola; não é o hospital que dá à luz o bebé, nem a força policial que
prende os criminosos, nem o serviço de assistência social que ajuda as famí-
lias em aflição. Todas estas coisas são feitas por indivíduos. Se esse PfOfis-l
sional for incompetente, não é nem a tecnoestrutura com as suas regras, nem
uma ordem da administração que o vai tornar competente. Mas estes planos,
regras e ordens podem impedir que o profissional competente possa oferecer
os seus serviços eficientemente. A racionalização da Burocracia Mecanicista
tem pelo menos a vantagem de oferecer ao cliente produtos muito baratos. No
caso do trabalho profissional, esta racionalização só deixa ao cliente um ser-
viço impessoal e ineficaz.
Além disso, os controlos externos podem ter como consequência redu-
zir a incitação ao aperfeiçoamento, e mesmo a incitação à inovação (que
já é fraca, mesmo nos melhores momentos da Burocracia Profissional).
Ao perder o controlo sobre o trabalho, os profissionais tornam-se passivos
como os operacionais da Burocracia Mecanicista. Mesmo o trabalho do
administrador profissional - que nunca é fácil - torna-se extremamente difí-
cil quando o controlo passa a ser externo. Nos sistemas de educação, por
exemplo , o governo espera que os directores das escolas implementem as
normas, ao mesmo tempo que os profissionais tentam resistir a estas mesmas
normas . O vértice estratégico sente-se entalado entre uma tecnoestrutura gover-
namental ávida de controlo e um centro operacional desesperadamente agar-
rado à sua autonomia, como se a sua v ida disso dependesse. Ninguém ganha
no processo.
Será que existe então uma solução para uma sociedade preocupada com o
controlo das suas Burocracias Profissionais? O controlo financeiro das
Burocracias Profissionais e a legislação contra o comportamento profissional
irresponsável tornam-se obviamente necessários. Mas para além disso, será
que se deve dar ao profissional um cheque em branco, sem quaisquer obri -
gações em relação ao público? Há soluções à vista, mas as mesmas passam
pelo reconhecimento do trabalho profissional por aquilo que ele é. Na Burocracia 1
í Profissional, a mudança não provém de novos administradores que tomam
os seus postos e anunciam reformas maiores, nem de tecnoestruturas gover-
namentais que procuram controlar os profissionais . A mudança parte mais
do processo, lento, de mudança dos profissionais - dos procedimentos de
avaliação dos candidatos, da formação (ideais assim como competências
e conhecimentos), e depois disso, da motivação dos candidatos no aper-
feiçoamento dos seus conhecimentos profissionais. Sempre que existem resis-
tências a tais mudanças, é preferível para a sociedade apelar para o sentido
de responsabilidade dos profissionais no que diz respeito ao serviço prestado
ao público, ou, no caso disso falhar, exercer pressão sobre as associações
profissionais, em vez de exercer pressão sobre as próprias Burocracias
Profi ssionais.
CAPíTULO 20
A ESTRUTURA DIVISIONALlZADA
Os parâmetros de concepção
Em primeiro lugar, a Estrutura Divisionalizada apoia-se na base de mer-
cados para agrupar as suas unidades situadas no topo da linha hierárquica.
Cada divisão é criada de acordo com os mercados que serve e comporta todas
as funções operacionais necessárias para servir esses mesmos mercados. Assim,
temos a figura 20-1, que representa um organigrama típico de uma empresa indus-
triai divisionalizada: cada divisão contém os seus próprios departamentos de
compras, desenvolvimento, fabricação e marketing. Esta dispersão (e esta dupli-
cação) das funções operacionais minimiza a interdependência entre as divi-
sões, se bem que cada uma delas possa funcionar como uma entidade quase
autónoma, libertando cada divisão da necessidade de coordenar a sua acti-
vidade com a actividade das outras. Para retomar O termo utilizado por Weick
(1976), temos um sistema em que «a conjugação é flexíve!», e em que os ele-
mentos são <<ligados entre si de um modo fraco, pouco frequente, lento, ou com
outras interdependências mínimas» (pág. 5). Este aspecto da estrutura, por sua
vez, permite agrupar um grande número de divisões sob a égide da sede da
organização: por outras palavras, a amplitude de controlo no vértice estraté-
gico da Estrutura Divisionalizada pode ser enorme.
Esta forma de estrutura conduz naturalmente a uma descentralização impor-
tante: a sede delega a cada divisão os poderes necessários para a tomada das
decisões que dizem respeito às suas próprias operações. Mas a descentralização
exigida na Estrutura Divisionalizada é muito limitada: não vai necessaria-
mente mais longe do que a delegação acordada por alguns quadros da sede
a alguns directores das divisões. Por outras palavras, a Estrutura Divisionalizada
exige uma descentralização global e verticalmente limitada. De facto, as
estruturas divisionalizadas podem acabar por se tornar bastante centralizadas por
natureza. Os directores das divisões detêm a maior parte do poder, o que impede
uma maior descentralização vertical (no sentido descendente da cadeia de autori-
dade) ou uma descentralização horizontal (para os especialistas funcionais e para
os operacionais). Como o presidente de um conglomerado - uma organização
que, inevitavelmente, utiliza a Estrutura Divisionalizada - comentou:
Toda a nossa filosofia gravita em torno do ponto em que a responsabilidade pelos
lucros está localizada - no director da divisão. Não quero que ninguém dentro desta
organização tenha a meDor dúvida de que o chefe é o director da divisão. É neste
ponto que a atmosfera empresarial começa (citado em Lorsch e Allen, 1973, pág. 55).
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 411
I Presidente I
I I I
I Planeamento I I Jurídico
I I Financeira 1
I I I I
I Divisão 1
I I Divisão 2
I I Divisão 3
J l Divisão 4
J
H Com",.
I H Compras
I H Compras
J H Compras ]
H Engenharia
I H Engenharia
I H Engeflharia
I H Engenharia
1
H Fabricação
I H Fabricação
I H Fabricação
J ~ Fabficaçao
J
y Marlfeting
I y Markeling
I y Markeling
I y Markeling j
Figura 20.1
ORGANIGRAMA TÍPICO DE UMA EMPRESA INDUSTRIAL DIVISIONALIZADA
o que é ainda mais importante notar, é que os controlos financeiros estão orien-
tados para os resultados. Relacionam-se com os resultados realizados ou esperados e
não com o processo utilizado para as conseguir (pág. 49).
A sede pode assim manter o controlo face à autonomia das divisões. Por con-
seguinte, o mecanismo de coordenação principal da Estrutura Divisionalizada
é a estandardização dos resultados, e o sistema de controlo dos desempenbos
constitui um parâmetro de concepção essencial.
Este mecanismo de coordenação e os três parâmetros de concepção, que já
discutimos até aqui, determinam a configuração estrutural básica: as unidades
baseadas no mercado no topo da linha hierárquica, a descentralização vertical
global para as unidades (mas não necessariamente dentro delas), e o apoio na
estandardização dos outputs destas unidades através da utilização dos sistemas
de controlo dos desempenhos para efectuar o controlo das divisões pela sede.
Esta é a configuração ideal. A base de mercado para agrupamento permite a
autonomia das divisões, o que encoraja a sua descentralização e também permite
a identificação fácil das suas produções, que podem ser coordenadas através dos
sistemas de controlo dos desempenhos.
Mas existem também outros mecanismos de coordenação e outros parâmetros
de concepção que desempenham um determinado papel, embora menos importante.
A sede não pode recorrer à estandardização dos processos de trabalho, sob
pena de interferir com a autonomia das divisões: não pode assim formalizar o
comportamento destas. Do mesmo modo, a sede evita planear as acções, pois
imporia às divisões decisões que elas próprias deveriam tomar. Também se
exclui o recurso ao ajustamento mútuo entre as divisões, assim como aos
mecanismos de ligação que o promove, por não haver interdependência entre
as divisões.
Restam então dois mecanismos de coordenação que podem desempenhar
um papel limitado - a estandardização das qualificações e a supervisão directa.
O sucesso da Estrutura Divisionalizada depende das competências dos seus
directores de divisão a quem uma grande parte dos poderes de decisão são
delegados. Enquanto os gestores no topo da linha hierárquica das outras con-
figurações estruturais tendem a ter orientações funcionais e uma autonomia
limitada para agir independentemente, os gestores da Estrutura Divisionalizada
funcionam como «minidirectores-gerais» , que gerem as suas próprias opera-
ções. É por esta razão que a linha hierárquica emerge como a parte-chave
desta estrutura. Mas esta característica exige que a sede assegure a melhor
formação possível dos seus directores de divisão, (estandardize, de facto, as
suas qualificações). Deste modo, o governo húngaro «descentralizou» a sua
economia em 1968, quer dizer, reduziu o papel do planeamento a favor de
uma maior autonomia das empresas do Estado e operou uma certa transfor-
mação para uma forma mais pura de divisionalização ; a formação dos res-
ponsáveis destas empresas tornou-se então uma das maiores preocupações do
Governo. Quando as empresas se encontravam debaixo de um controlo aper-
tado, sendo as decisões impostas por planos de acção, os gestores executa-
vam meramente as ordens do Governo . Com uma mudança para uma forma
mais pura de divisionalização, estes gestores passaram do papel de executi-
vos ao papel de verdadeiros directores-gerais, que tinham de tomar as suas
A ESTRUTURA DIVISIONALlZADA 413
Dado que se tem uma certa ideia dos meios de controlo utilizados pela sede
- através de controlos dos desempenhos apoiados pela formação dos gestores,
socialização e supervisão directa - podemos voltar à questão de descentraliza-
ção dentro das divisões. Em teoria, a Estrutura Divisionalizada pode ser
imposta a qualquer outra configuração estrutural. As Burocracias Profissionais
podem transformar-se numa Estrutura Divisionalizada, no caso de uma firma
de contabilistas com vários escritórios regionais, ou no caso de uma Universidade
com vários estabelecimentos; o mesmo se passa com as Adhocracias, como no
caso de uma cadeia de jornais; as Estruturas Simples, no caso das sociedades
que gerem carteiras e que detêm o controlo do capital nas firmas empresa-
riais. As divisões de qualquer outra organização podem também apresentar
diversas estruturas como, por exemplo, no caso de uma administração munici-
pal que comporta quatro «divisões» - um programa de luta contra a pobreza
(Estrutura Simples), um serviço de limpeza (Burocracia Mecanicista), um ser-
viço de polícia (Burocracia Profissional) e um grupo de desenvolvimento urbano
(Estrutura Adhocrática).
Mas a Estrutura Divisionalizada é mais eficiente, quando as divisões
apresentam uma estrutura de Burocracia Mecanicista e quando tende a
fazer evoluir as suas divisões para este tipo de estrutura, quaisquer que
sejam as suas orientações naturais. Isto deve-se ao facto de só existir um
mecanismo de coordenação que permite conciliar o controlo e a autonomia: a
estandardização dos resultados, a pedra de toque para o funcionamento da
estrutura divisionalizada. A sede só pode reter o controlo, embora protegendo
a autonomia divisional, pela regulaçao do desempenho das divisões. ISIO exige
a elaboração de normas de desempenho bem definidas, o que só é possível
com duas condições . Em primeiro lugar, cada divisão deve ser tratada como
um sistema integrado que comporta um conjunto coerente de objectivos.
Por outras palavras, embora as divisões possam ter ligações fracas entre si ,
J Este relato baseia-se em conversas tidas por mim com funcionários húngaros, em 1972, no
decurso de uma conferência na Hungria sobre gestão da educação.
414 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
1 De facto, não podia ser de outro modo. Se as divisões pennanecessem como Burocracias
Profissionais, por exemplo, os profissionais reteriam o seu poder habitual e assim o seu controlo
sobre a estrutura administrativa estender-se-ia para além das divisões até à sede; como resultado
disso, a posição do director de divisão deixaria de ter qualquer relevância particular, e a organiza-
ção inteira emergiria como uma Burocracia Profissional única. O que caracteriza a estrutura divi-
sionalizada é a autonomia de gestão ou de unidade e não a autonomia profissional. Por outro lado,
conceder uma grande parte do poder aos chefes de departamento de uma Burocracia Profissional
conduz a estrutura para a Estrutura Divisionalizada. Isto aparentemente aconteceu quando os deca-
nos e os chefes de departamentos assumiram um poder enonne nas universidades alemãs no prin-
cípio deste século. Aparentemente, acontece num menor grau nas universidades britânicas dos nos-
sos dias pela mesma razão (Beyer e Lodahl, 1976, pág. 110).
A ESTRUTURA OrvlSIONALIZADA 415
I Perrow (1974, págs. 37-38) afinna que primeiro Peter Drucker, depois Emest DaJe, a seguir
Alfred Chandler (embora mais «circunspectm) e finalmente o próprio 810an, deram a impressão
nos seus livros de que Sloan tinha descentralizado a General Motors: «O próprio Sloan tinha, de
forma característica, uma posição ambígua sobre a descentralização. O seu livro começa com um
panegírico à descentralização na General Motors; contudo, um pouco mais à frente, critica Durant,
o seu predecessor, por ter permitido uma descentralização demasiadamente acentuada; e. mais
longe ainda, apela para um equilíbrio feliz entre a centralização e a descentralização.}} (Pág. 38.)
416 ESTRUTURA E DrNÂM1CA DAS ORGANIZAÇÕES
e executivos gerais. Cada divisão tinha os seus departamentos funcionais e a sua pró-
pria sede geral para administrar os departmantos centrais,
Libertos do fardo dos deveres operacionais. os quadros mais importantes na sede
geral dispunham agora de tempo, informação e um maior empenho psicológico para
levar a cabo as actividades empresariais e tomar as decisões estratégicas necessárias
para manter a companhia na sua totalidade viva e em pleno crescimento, e coorde-
nar, avaliar e planear o trabalho das divisões (Chandler, 1962, pág. III).
o segundo poder retido pela sede é a afectação global dos recursos finan-
ceiros globais. Entre as divisões existe só uma conjugação de comunidade. Isto
é, estas não passam o seu )rabalho de um lado para o outro, mas partilham recur-
sos financeiros comuns. E nitidamente da responsabilidade da sede gerir estes
recursos - retirar às divisões os fundos excedentários de que estas não têm
necessidade, procurar fundos suplementares nos mercados de capitais sempre
que se torna necessário, e afectar fundos disponíveis às divisões que deles têm
necessidade. Como dizia o administrador-geral da Textron: «A função principal
desta operação consiste em manter as rédeas apertadas nas finanças e controlar
a expansão das divisões.» (Citado por Wrigley, 1970, pág. V-82.) Isto significa
na prática:
Todas as receitas das divisões eram depositadas numa conta central da Textron.
Os pagamentos às divisões eram efectuados pelo tesoureiro da sede em datas nego-
ciadas antecipadamente. A abertura e o encerramento das contas bancárias, a mudança
das pessoas que tinham a assinatura nas contas, os acordos quanto às facilidades de
pagamento e outras actividades de natureza financeira exigiam a autorização do
tesoureiro da sede (pág. V-78).
Mas uma supervisão directa muito apertada vai contra o objectivo da Estrutura
Divisionalizada, que é conferir plena autonomia às divisões. Os quadros da sede
vivem então, em períodos de normalidade, num equilíbrio instável entre o igno-
rarem os problemas das divisões ou o tomarem-se tão familiarizados com eles,
que se sentem tentados a intervir na sua solução. Certas empresas divisionaliza-
das tentam obter um equilíbrio justo, limitando os efectivos da sede. Por exem-
plo, na Textron, em 1970, com um volume de vendas superior a mil milhões e
meio de dólares proveniente de trinta divisões, o pessoal da sede consistia ape-
nas em trinta gestores e administradores, e os vice-presidentes dos grupos não
dispunham nem de pessoal tecnocrático nem de assistentes, apenas dispunham
de uma secretária cada (Wrigley, 1970, pág. V-77).
O sexto e último poder: a sede fornece certos serviços de apoio comuns a
todas as divisões. A localização dos serviços de apoio - a sua concentração na
sede ou a sua dispersão pelas divisões - é uma das questões mais importantes de
concepção que a Estrutura Divisionalizada enfrenta'. Os serviços criados para
satisfazer as necessidades das divisões individuais, os que devem situar-se em locais
fisicamente convenientes, e os que são relativamente fáceis de duplicar - como
nos casos de um grupo de pesquisa de mercado, de uma cafetaria e de uma uni-
dade de relações públicas - são normalmente dispersos através das divisões (sendo
também por vezes duplicadas na sede). Mas os serviços coordenados que são ofe-
recidos a uma série de divisões, ou os que são proporcionados no vértice estraté-
gico comum a toda a organização, são concentrados na sede em unidades singulares.
Stieglitz (1971, págs. 316-317), por exemplo, estudou as unidades funcionai s
da sede e das divisões em 82 empresas; descobriu que as funções mais fre-
quentemente representadas na sede eram:
I Ver o capítulo 7, para urna discussão sobre a concentração e a dispersão das unidades da organização.
420 ESTRUTURA E DiNÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Figura 20.2
A ESTRUTURA DiVISIONALIZADA
A primeira companhia aérea tinha sido divisionalizada por funções e por uma área
de maiores recursos. Tinha atribuído responsabilidade absoluta pelos lucros ao seu
centro de custos. Delegava autoridade de despesas, pessoal e outras decisões às divi-
sões. Utilizava uma abordagem altamente formalizada em relação à gestão financeira
e de recursos, utilizando controlos sofisticados. Planeava antecipadamente numa pers-
pectiva relativamente a longo prazo, utilizando um grupo de planeamento bastante pode-
roso que proporcionava coordenação e revisão. Em poucas palavras, esta companhia
era consistente ao empregar todos os elementos principais de urna estrutura que a
maioria das autoridades diria ser apropriada a uma grande organização que desenvolva
operações geograficamente dispersas e uma série de áreas de recursos (pág. 179).
e Stopford, 1968). A facilidade com que a sede pode acrescentar novas divisões
à estrutura encoraja-a a fazê-lo; além disso o processo produz um afluxo regular
de directores-gerais que procuram divisões maiores e mais numerosas para gerir.
Isto pode explicar porque é que Fouraker e Stopford constataram que as empre-
sas americanas cujas actividades eram mais diversificadas nos Estados Unidos,
eram também as que tinham mais tendência para desenvolver actividades inter-
nacionais: quando se esgotavam novos produtos no mercado interno, os jovens
gestores agressivos e ambiciosos podiam ser satisfeitos com a gestão de subsi-
diárias estrangeiras.
No capítulo 7, já discutimos os três tipos de diversidade dos mercados: em
termos de produtos e de serviços, de clientela e de região. Em teoria, cada um
destes tipos de diversidade pode conduzir à divisionalização. Os mercados, fisi-
camente dispersos, por exemplo, originam problemas de comunicação o que dá
à organização um incentivo para o estabelecimento de divisões geográficas para
lidar com cada região, como nas cadeias de armazéns de retalho, correios e
caminhos-de-ferro, que servem áreas muito vastas. E a acrescentar a isto encon-
tramos os custos elevados de transporte - como no caso dos fabricantes de cimento
- e temos aí mais um incentivo para a divisionalização numa base regional.
E contudo, a diversidade das clientelas e a diversidade geográfica, na ausên-
cia de uma diversidade de produtos ou de serviços, conduz muitas vezes a
uma divisionalização incompleta. Com produtos ou serviços idênticos em cada
região, a sede é então muitas vezes encorajada a centralizar uma boa parte das
suas decisões e funções de apoio, para poder estabelecer para todas as divisões
normas operacionais comuns. Esta centralização e a concentração de certas fim-
ções - algumas com uma importância crítica para a formulação das estratégias
que dizem respeito aos produtos e aos mercados - reduzem seriamente a auto-
nomia das divisões. De facto, a organização é empurrada para a estrutura de uma
Burocracia Mecanicista integrada, mas com uma diferença: as suas operações
são divididas em unidades distintas constituídas com base em mercados.
Na sua investigação sobre o sector de serviços, Channon (1975, 1976) consta-
tou que este tipo de estrutura - a que intitula de «híbrido funcional/divisional» ou
«estrutura com função crítica» - é frequente neste sector (seguros, cadeias de arma-
zéns, bancos). Isto não é «talvez tão surpreendente como possa parecer à primeira
vista pois o sector de serviços não comporta operações de «fabricação» que pos-
sam constituir um ponto central, em vez disso os principais activos estão localiza-
dos na função de «venda» ou de distribuição» (1975, pág. 16). Os clientes devem
ser servidos no local em que se encontram - nos bancos, companhias de seguros,
cadeias de armazéns. Channon constatou, por exemplo, que as companhias de segu-
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 423
ros (algumas das quais estavam divididas por produtos ou por regiões) concentra-
vam a sua função crítica de investimento. No sector retalhista, a função critica con-
sistia nas compras. A sede controlava as fontes de abastecimento, a gama de pro-
dutos, a política de preços e quantidades, assim como a localização e a compra e
venda das propriedades e o merchandising. As operações do dia-a-dia dos arma-
zéns eram deixadas ao critério dos directores, que eram por sua vez supervisiona-
dos por uma hierarquia regional. Channon observou que até as cadeias de arma-
zéns que se desenvolveram em holdings através de aquisições de outras companhias,
caminhavam para este tipo de estrutura. Utilizaremos o termo de «burocracia tirada
a papel químico» para este híbrido da Estrutura Divisionalizada e da Burocracia
Mecanicista, em que certas funções críticas estão concentradas na sede e em que
as divisões são idênticas umas às outras (com excepção da sua localização). Cada
divisão é uma réplica - tirada a papel químico - de todas as outras, desempenhando
as mesmas actividades da mesma maneira, única apenas na sua localização. Encontramos
este tipo de estrutura em todos os casos de divisionalização regional, e talvez mais
frequentemente nos sectores de distribuição - nas cadeias de supermercados com
cinquenta mercados idênticos, os correios com representantes em cada cidade do
país, no motel e na franchise de fast-food onde, uma vez sentados, os clientes mal
podem dizer se estão em Driggs, Idahao, ou em Dublin, na Irlanda '. Consideremos,
por exemplo, a seguinte descrição da cadeia de hambúrguers McDonald's:
Os mecanismos de integração utilizados por esta cadeia, não só incluíam uma estru-
tura organizacional detalhada mas, também, um serviço contínuo, através de sistemas
de contabilidade, funcionários cuja função principal é resolver os problemas à medida
que estes vão surgindo, e publicidade, para garantir que o gestor da franchise se com-
porte de acordo com as regras e regulamentos da McDonald's. O manual de opera-
ções da empresa consiste em 385 páginas de pormenores que cobrem todas as face-
tas operacionais. Descrimina, por exemplo, que tipo de equipamento (tal como máquinas
de cigarros, pastilhas elásticas e de jogos) não é permitido nos restaurantes.
O gestor da franchise é visitado todos os meses por um dos trinta gestores de
campo. A franchise envia relatórios financeiros semanais para a empresa, e o gestor
tem de fazer um curso intensivo de formação de três semanas na «U niversidade do
Hambúrguer». em Elk Grove, Illinois ...
Estes gestores também aprendem normas estritas de apresentação pessoal, as pou-
cas variações permitidas nos tipos de pratos que servem devido a diferenças de gos-
tos regionais, e como tratar com os estudantes universitários tanto como clientes
como com empregados. A companhia também dá ao gestor da franchise uma nota de
manutenção diferente para cada dia do ano, tal como «Lubrificar e ajustar a corrente
do descascador de batatas» ou «Cantactar a empresa que remove a neve» ...
Fred Turner, o presidente da McDona ld's desde 1968, afirma: «Numa idade em
que tantos americanos se deslocam de um lado par.a o outro, uma das nossas princi-
pais virtudes é a nossa consistência e uniformidade. E muito importante que um homem
que está habituado a comer num McDonald's em Hempstead, Long Island, saiba que
pode ter exactamente o mesmo género de comida e de serviço quando entra num res-
taurante similar em Albuquerque ou Omaha.»2
I Uma característica interessante dos restaurantes, é que estes podem adoptar configurações estru-
turais mo diferentes. Temos aqui wn híbrido entre a Burocracia Mecanicista e a Estrutura Divisionalizada.
O restaurante gastronómico inclina-se para a Burocracia Profissional, uma vez que está centrado
nas qualificações dos seus chefes, altamente qualificados. Pelo contrário, o pequeno restaurante,
único, de serviço rápido foi descrito por Whyte ( 1969), como uma Estrutura Simples.
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 425
o sistema técnico
Qual é o papel dos outros factores de contingência - para além da diversi-
dade do mercado - na utilização da Estrutura Divisionalizada? Num certo sen-
tido, o sistema técnico constitui um dos factores, especificamente nas suas eco-
nomias de escala. A divisionalização só é possível se o sístema técnico da
organização puder ser eficazmente separado em segmentos, um segmento
para cada divisão. Por exemplo, enquanto uma companhia produtora de cimento,
geograficamente dispersa, pode multiplicar as suas instalações de produção n vezes
através de toda a nação. uma companhia produtora de alumínio igualmente
diversificada e com o mesmo volume de vendas talvez não O possa fazer pois
não pode financiar mais do que uma fundição. Consequentemente, a companhia
de alumínio retém necessariamente uma estrutura funcional. Mas mesmo no caso
da companhia de cimento, a divisionalização não é completa: a diversificação
geográfica, como já se observou, conduz a uma estrutura hibrida divisional fun-
cionaI, muitas vezes a uma «burocracia tirada a papel químico». Mas quando são
as linhas de produtos que são diversificadas em vez de serem as regiões geo-
gráficas que são diversificadas, a separação do sistema técnico toma geralmente
lugar naturalmente, independentemente das economias de escala: linhas de pro-
dutos diferentes exigem sistemas técnicos diferentes.
Contudo, existem provas da existência de uma relação mais importante,
embora indirecta, entre as economias de escala e a divisionalização. As orga-
nizações que têm de realizar investimen tos muito importantes nas instalações
técnicas com custos fixos elevados - como no caso dos produtores de aço e
de alumínio e outros «pesos pesados>) da indústria americana - têm tendência
para não diversificar as suas linhas de produtos e, como tal, para não divisio-
nalizar (Rumelt, 1974; Wrigley, 1970). (Para ser mais preciso, mostram enquanto
grupo, pouco entusiasmo pela diversificação «horizontal» em linhas de produ-
426 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
o ambiente
Em relação aos factores do ambiente, a Estrutura Divisionalizada difere fim-
damentalmente das outras quatro configurações estruturais. Cada uma delas tem
o seu próprio ambiente característico, particularmente, uma das quatro referên-
cias da matriz simples-complexa, estática-dinâmica que já foi discutida no capí-
tulo 15. Por outras palavras, embora a posição das outras coufigurações seja
definida pelas dimensões mais latas do ambiente como a estabilidade e a
complexidade, é uma dimensão mais restrita do ambiente - a diversidade do
mercado, e em particular a diversidade do produto - que define a Estrutura
Divisionalizada. O domínio de aplicação desta estrutura encontra-se consi-
deravelmente restringido em relação ao das outras quatro configurações .
Porém, a Estrutura Divisionalizada tem o seu ambiente preferido, que parti-
lha com a Burocracia Mecanicista. Isto deve-se a uma outra condição necessá-
ria para a utilização da Estrutura Divisionalizada - resultados (especificamente
critérios de desempenho) que podem ser estandardizados. Como já vimos no
capítulo 19, os ambientes complexos dão origem a resultados vagos que não
podem ser medidos nem estandardizados. Do mesmo modo, nos ambientes
dinâmicos, os resultados e os padrões de desempenho não podem ser facilmente
identificados. Daí resulta que a Estrutura Divisionalizada funcione melhor
quando os ambientes das divisões não são nem muito complexos, nem
muito dinâmicos; isto é, exactamente os mesmos ambientes que favorecem
a Burocracia Mecanicista. Tudo isto conduz a uma especificação precisa das
condições que estão muitas vezes na origem deste tipo de organização: a Estrutura
Divisionalizada é a forma estrutural adoptada por uma Burocracia Mecanicista
que opera uum ambiente simples e estável (tipicamente sem economias de
escala importantes) e que diversificou horizontalmente as suas linhas de pro-
dutos ou de serviços.
Todavia, quando uma organização procura impor a divisionalização a uni-
dades que operam noutros ambientes - complexos ou dinâmicos - em que
os resultados não podem ser medidos por um sistema de controlo, o seu
resultado é normalmente uma estrutura híbrida. De facto, a sede deve apoiar-
-se num mecanismo qualquer que não seja a estandardização dos resultados para
controlar as divisões. Se se apoia em regras e regulamentos - ou seja, na impo-
sição de normas para controlar as decisões e os processos de trabalho directa-
mente nas divisões - daí resulta um híbrido com a Burocracia Mecanicista,
semelhante à «burocracia tirada a papel químico», Se, em vez disso, os quadros
da sede decidem aumentar a supervisão pessoal (supervisão directa) das divi-
sões, através de um contacto mais frequente com os directores das divisões, daí
resulta um híbrido com a Estrutura Simples, a que podemos chamar de estrutura
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 427
A idade e a dimensão
ção dispersa estes riscos. Além disso, à medida que uma organização cresce em
relação aos seus concorrentes, passa progressivamente a dominar melhor o seu
mercado tradicional. Finalmente fica sem espaço para se expandir (porque já
não resta nenhuma quota de mercado ou porque o seu domínio chamou à aten-
ção das autoridades responsáveis pela legislação antitrust) sendo obrigada a
procurar outras oportunidades para se desenvolver. Começa por diversificar e
só mais tarde passa a divisionalizar. Além disso, a divisionalização produz um
grupo de directores-gerais agressivos que incitam constantemente a uma maior
diversificação e a um crescimento mais rápido. Podemos assim concluir que
existe uma relação importante entre a dimensão e a divisionalização, sendo a
diversificação a variável intermédia. A empresa gigante - com raras excepções
inerentes aos sectores dotados de sistemas técnicos de custos fixos elevados -
não só exigem a divisionalização como só devido a ela conseguem atingir a sua
dimensão gigantesca.
De facto, muitas empresas tornaram-se tão grandes e tão diversificadas que
a Estrutura Divisionalizada, tal como a concebemos, não é suficiente. Como tal,
são obrigadas a utilizar uma variante a que podemos chamar de estrutura divi-
sionalizada múltipla, em que as divisões se subordinam a outras divisões. Por
exemplo, podem sobrepor-se divisões regionais às divisões por produto, como
se mostra na figura 7-8, ou divisões por linha de produtos «<grupos») podem
agregar outros mais específicos, como no caso da General Electric, que apre-
sentamos mais à frente neste capitulo na figura 20-8.
A idade da organização está, como a dimensão, associada à Estrutura Divi-
sionalizada. Nas maiores empresas, a gestão acaba por esgotar os canais de expan-
~ são dos mercados tradicionais; nas empresas mais antigas, os gestores por vezes
cansam-se dos mercados tradicionais e procuram uma diversão através da diver-
sificação. Noutros casos, surgem novos concorrentes nos mercados tradicionais,
obrigando a gestão a procurar novos mercados com maior potencial. Embora a
Estrutura Divisionalizada seja uma consequência lógica do desenvolvimento das
organizações, sobretudo nas organizações maiores e mais antigas, a Estrutura
Divisionalizada surgiu no capitulo 13 como sendo a terceira fase do desenvol-
vimento estrutural, a seguir à Burocracia Mecanicista.
Contudo, a Estrutura Divisionalizada nem sempre segue necessariamente outras
configurações estruturais numa fase ulterior do desenvolvimento. Algumas
organizações começam a sua vida sob a forma divisionalizada: ou seja, aglo-
meram em vez de diversificar. As organizações independentes que se associam
para formar novas alianças - talvez para beneficiar das economias de escala,
ou para partilhar os recursos financeiros ou os serviços comuns - mas que ten-
tam manter na medida do possível a sua autonomia prévia, naturalmente prefe-
rem a Estrutura Divisionalizada. Falamos a este propósito, de associações ou
de federações; é o caso, por exemplo, das organizações cooperativas criadas
pelos agricultores para comercializar os seus produtos ou das pequenas empre-
sas de construção para fazer face à concorrência das maiores. Bem entendido,
nem todas as federações são criações voluntárias: ofertas públicas de compra
podem forçar as empresas a constituírem-se em federações, o mesmo se pas-
sando quando os governos as nacionalizam para poderem concentrar os seus
recursos no âmbito do planeamento nacional ou desenvolverem a escala neces-
sária para que possam competir com os concorrentes estrangeiros. Quando as
A ESTRUTURA DlVISIONALIZADA 429
o poder
Acabámos de ver como o poder pode explicar a criação de federações: as
pequenas organizações unem-se para fazer face, num pé de igualdade, ao poder
das grandes organizações, os governos e os accionistas utilizam o seu poder, for-
çando os seus associados relutantes a aglomerarem-se em federações. Também
já vimos qual o papel do poder no interior da estrutura: os directores das divi-
sões procuram aumentar o seu poder no interior da organização, incrementando
o seu crescimento, a sua diversificação e a sua divisionalização. Mesmo nas
organizações estruturadas por funções, a procura de autonomia pelos gestores
médios que são agressivos e ambiciosos, conduz a um incremento da divisiona-
lização ao seu nível hierárquico. Aliás, sob o ponto de vista da direcção-geral,
a Estrutura Divisionalizada é a que é mais propícia ao incremento do poder, pois
pennite acrescentar novas unidades à organização, relativamente com pouco esforço
e perturbação (o empresário tem, evidentemente, de partilhar este aumento de
poder com os directores das divisões). De facto, o movimento de diversificação
dos conglomerados americanos aparece como um gigantesco jogo de poder entre
os chefes executivos que procuram construir para si o maior império possível.
Estes mesmos factores ligados ao poder não estão ausentes também noutros
domínios, e contribuem para explicar a popularidade crescente da Estrutura
Divisionalizada nos sindicatos. nos sistemas de educação, nas universidades, e,
em particular, em administrações públicas. Assim, temos o exemplo do presi-
dente de uma das universidades canadianas - uma entre seis universidades
públicas numa província do Canadá - que justificava a sua tentativa de controlo
de duas universidades mais pequenas, apresentando o seguinte argumento: seria
mais «prático para o estado negociar com quatro administrações do que com seis».
Não fez a mais pequena menção ao aumento do seu poder pessoal, nenhuma
menção dos custos administrativos suplementares (a sua universidade devia
negociar com os dois campus em questão), nenhuma menção ao efeito que a
introdução de um nível de quadros suplementares exercia sobre estas pequenas
Burocracias Profissionais.
À medida que a administração pública cresce - muitas vezes fruto de tentati-
vas semelhantes de conquista de poder - é obrigada a assumir cada vez mais um
tipo de Estrutura Divisionalizada. Como a administração central não pode contro-
lar directamente todos os departamentos (que aqui desempenham o papel de divi-
sões), confere uma autonomia considerável aos re~ponsáveis destes departamen-
tos. tentanto depois controlar o seu desempenho. E possível, de facto, encarar a
administração pública no seu conjunto como wna gigantesca estrutura di visiona-
lizada (trata-se, bem entendido, de uma simplificação excessiva, pois existe toda
uma série de interdependências entre os departamentos), com as três principais
agências de coordenação, correspondendo às três principais formas de controlo
430 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
, Referimo-nos aqui a Wrigley (1970), Salter ( 1970), Scott ( 197 I, 1973), Lorsch e Allen (1973)
e Rumelt (1974), todos eles orientados para as grandes empresas americanas; Fouraker e Stopford
(1968), orientados para a di versificação internacional; Channon ( 1973), que estudou a divi sionali-
zação no Reino Unido e depois conduziu um estudo sobre as indústrias de serviços neste país
(1975 , 1976); Paven (l974) , que estudou a divisionali zação na ftália; Dyas e Tannheiser (1976),
que estudou a divisionalização em França c na Al emanha; e Franko ( 1972, 1974), que estudou as
empresas multinacionais europeias em geral. O art igo de Scott ( 1973) faz uma revisão dos resul-
tados de um certo número destes estudos.
A ESTRUTURA DIVISIONALlZADA 431
I~Coog
I""""" "")
Figura 20.3
FASES DA TRANSIÇÃO PARA UMA ESTRUTURA DIVTSTONALIZADA
432 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
. -
Divisão de Montagem
Divisão de Componef11eS
Figura 20.4
VERSÂO SIMPLIFICADA DA PRODUÇÃO AUTOMÓVEL
DA GENERAL MOTORS (Wrigley, 1970, V1.23)
A forma integrada
°
à excepção da divisão encarregada das actividades não automóveis, que é
relativamente pequena (representando menos de I por cento do volume de
vendas), a empresa parece que não é verdadeiramente divisionalizada, apesar
da utilização deste termo. Mais atrás, vimos que Sloan tinha consolidado a
estrutura da General Motors nos anos 20, convertendo uma empresa holding
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 433
.. tudo isto se passa no domínio das operações de rotina. Certamente que não
se justifica ser caract,erizado como de «Gestão Gerah>, muito menos como activi-
dade «empresariab>. E óbvio, que de modo algum podemos considerar as divisões
automóveis da General Motors como «autónomas» ou como «sectores independen-
tes» , nem os seus directores se podem considerar como «presidentes de pequenas
empresas» (mesmo se considerarmos a Chevrolet como uma pequena empresa).
O papel da divisão automóvel é o de atingir os objectivos da sede, utilizando os
meios determinados pela sede. Os directores das divisões dispõ em de pouca auto-
nomia (pág. V-37, V-3S).
1 Também controlam parte das compras provenientes de fontes externas, contratam, despedem
e promovem o seu próprio pessoal (<<até um cerlO nível» , pág. V-37), e distribuem o trabalho entre
as fábricas sob a sua jurisdição.
434 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Venda de
ea_
-
de Minérios
+
(Os ni.meros entre
constituem as peroe
dos rendimentos totais
atribult!os a cada actrlidade)
"Transporte Transporte
"""'" târio[2,6%]
rodw",
t
m"'"
.9%1
.""""
"'"'"It , """""
2,7%J
+
AJuminio
Primãrio
I ,-' "_'' _. r- I I
"
I Fabricação
I
~ ~ l
Instrumentos de Cozedura
l
portação Contentores P.t"
19%1 17,9%1 [6.6'101 e Estrul
"'"
""'"
[10,5'1oJ
Figura 20.5
VENDAS DOS SUBPRODUTOS E DOS PRODUTOS FINAIS
POR ALCOA EM 1969
(Rumelt, 1974, pág. 2 1; diagrama preparado a partir de dados contidos nos relatórios da empresa)
I
I
Sede da Corporação
I
t
Fâbricas de Polpa
do "'". l
I Divisão Coltentores I
I , """" )
-1 Divisao Embalagem
I
I , Mercado )
Figura 20.6
INTERDEPENDÊNCIAS NUMA EMPRESA ESTRUTURADA POR SUBPRODUTOS
NO SECTOR DE PRODUÇÃO DE PAPEL
(Lorsch e Allen, 1973, pág. 117)
Muitas organizações deste tipo são empresas verticalmente integradas, cujas acti-
vidades são centradas numa única matéria-prima: a madeira, o petróleo, o alumí-
nio, que elas transformam numa variedade de produtos finais. A figura 20-5 des-
creve a cadeia de transformações de Alcoa em 1969: 69 por cento dos rendimentos
da empresa são provenientes dos produtos finais tirados do alumínio (utensílios de
cozinha e peças automóveis) e 27 por cento dos produtos intermédios (fretagem,
produtos químicos, bauxite, hulha e lingotes de alumínio). O sector imobiliário,
que é um serviço horizontalmente diversificado, representa os restante 4 por cento.
Na forma dos subprodutos, como a cadeia de transformação permanece mais
ou menos intacta, a sede retém um poder considerável sobre a formulação da
estratégia, assim como sobre certos aspectos das operações. Mais precisamente,
utiliza o planeamento das acções para gerir as interdependências entre as divi-
sões. A figura 20-6 representa a descrição de Lorscb e Allen (1973), das rela-
ções entre a sede e as divisões numa empresa produtora de papel verticalmente
integrada, que comporta dois produtos finais e um subproduto. Aqui a sede e as
divisões partilham a responsabilidade do planeamento e do escalonamento das
actividades : a sede coordena as produções, e só esta dispõe das informações
sobre os mercados necessárias para planear a expansão. «Os executivos ... refe-
riram notar que enquanto a fábrica produtora de papel estava profundamente empe-
nhada no processo de determinação da natureza das instalações a construir
futuramente, era o departamento de planeamento da empresa que dispunba da
informação-mercado necessária para justificar uma expansão.» (Pág. 126.)
mais para o exterior do que para as outras divisões. A organização toma então
aforma por produ/os relacionados. Por exemplo, uma empresa que fabrica máqui-
nas de lavar roupa pode criar uma divi são encarregada de produzir motores, e
esta divisão pode ter um tal sucesso que a divisão de montagem das máquinas
de lavar roupa, deixa de ser o seu cliente principal. Exige-se então uma forma
mais séria de divisionalização que reflicta a maior independência das suas divi-
sões. Wrigley descobriu assim que 85 por cento das empresas deste tipo tinham
estruturas divisionalizadas.
O que mantinha as diferentes divi sões coesas era tipicamente uma certa
forma de unidade entre os diferentes produtos, por vezes uma determinada tec-
nologia, por vezes um certo mercado (as divisões tinham muitas vezes clientes
comuns). De facto, a empresa mantém uma espécie de estratégia integrada ver-
sus os produtos e os mercados. Rumelt (1974) descreve os vários passos da
diversificação de Carborundum entre 1949 e 1969, de uma actividade relacio-
nada para outra. As linhas de produtos da empresa, antes e depois, são descri-
tas na figura 20-7 Ca) e (b):
Contudo. nos anos 50, Carborundum começou a fabricar máquinas para triturar,
para cortar e para polir, como complementos à sua gama de abrasivos. Depois, a par-
tir de 1962 ... , as competências adquiridas na fabricação destas máquinas foram apli-
cadas à fabricação de outras máquinas industriais, e a empresa lançou-se na fabrica-
ção de equipamentos de limpeza e de remoção do calcário, não utili zando abrasivos.
A tecnologia das cerâmicas conduziu aos componentes eléctricos em cerâmica, assim
como aos materiais em grafite e em carbono, que por sua vez serviram de base a uma
expansão DO domínio dos filtros, das máquinas de limpeza e das máquinas industriais
em geral. A tecnologia das altas temperaturas conduziu à actividade dos metais
refractários. Recentemente, as actividades da companhia nos ditos sectores, em asso-
ciação com a tecnologia das altas temperaturas, fez com que a empresa adquirisse
uma posição de destaque nos domínios dos desperdícios só lidos e do controlo da
poluição (págs. 17-19).
Resistências
Elementos
de Aquecinento
Altas Temperaturas
Cerâmicas
C"'",,,IO
de Silício
Omo
de Alumínio
Resistências,
Abrasivos Elementos Componentes
de Aquecimento não Condutores para
CkWtos Eléctricos
Máquinas
para Arear
para Triturar
e para Polir
Méquinas pi Umpar
áP~eR~
Depósitos Calcários r----------~~=="-~~=-_,
,-----~~-------' Equipamento
para o Controlo
Máquinas para
Incineração de Desperdlcios dos Fumos e Poeiras
Fabricar Papel e
para Cortar Pedra a Altas Temperaturas
Feltros para
Fabricação de Papel
e outras IndUstrias
Figura 20.7
A DIVERSIFICAÇÃO DOS PRODUTOS RELACIONADOS DE CARBORUNDUM INC.
(Rumelt, 1974, pág. 17, 19; preparado a partir de dados tirados dos relatórios anuais da empresa)
438 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
A forma conglomerada
I Salter (1970) introduziu uma outra fase antes desta: as {(empresas de monoproduto geografi-
camente descentralizadas)} (pág. 30). Estas empresas são exactamente o que nós designamos por
«burocracias tiradas a papel químico»; já as mencionámos neste capítulo, pois parecem constituir
um caso particular da Burocracia Mecanicista que não se enquadra neste contínuo da divisional i-
zação progressiva.
Dlrecçlo-Geral
j
~ Planeamento
Conselho Desenvol- Estudos
,
t3
Planeamento Recurso da Tecnologia
Financeira Geral Adminlstraçêo vimento
Estratégico Humanos e
e Secretariado dos Quadros Desenvolvimento Programas
I I I I
Ie~rupo dos Prad. Indusbiais
Distribuição de Energia
IGrupo dos Equipamentos
de Produção de Energia
Grupo dos Motores
de Avilo
I Grupo dos Produto~
e Sistemas Especiais
I
Divisões DlvisOes DivisOfts Divisões
.~
Vendas de Aparelhagens Sistemas de Energia e Programas Companhias Sistemas da
I Transmissão MecAnlca
Vendas de Mecanismos
Geradores Miliares
3 de Comutação
Vendas de Mecanismos
de Transmissão e
DislribulçAo
i
o
Lazer
Equipamentos Domésticos
Candeeiros
General Eectrtc Broadcasting
Company, Inc.
Aparelhos de Ar
Condicionado
Engenheria
Fabrlcaçao
Gest!lo dos Produtos
Relações com os Pro-
gramas Aeroespaciais
Equipamento dos AviOes
Sistemas Electrónicos
Sistemas de Reentrada
Europa
Extremo Oriente
Vendas Intemacionais
América Latina
Canadian General
Componentes de
Equipamentos
Qulmica e Metalurgia
Corrponootes EIecIr6niC08
Sistemas Médicos
t
General Electrie Cablevlsion Vendas e OlstrlbulçAo e do Ambiente Eleetric Company Pléslleos
CorporatJon' Produtos Espaciais LimitedO
General Electrie Credit General Electrie
CorporatJon' Technical ServiC9S
3 TomofTow Entartainment,
Ine.'
Company, Ine.'
Figura 20.8
ORGANIGRAMA DA EMPRESA GENERAL ELECTRlC (por volta de 1975, utilizado com autorização)
• Empresas filiadas.
440 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Tabela 20.1
CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DAS UNIDADES DAS SEDES
EM SEIS EMPRESAS' (de Lorsch e Allen, 1973:148)
Empresas
Empresas
Verticalmente Integradas
2 3 4 5 6
* X Indica que certas funções em áreas específicas sào desempenhadas pela unidade das sedes
para as divisões. P indica que o envolvimento da empresa tem uma natureza de definição de polí-
ticas (i. é. , definir políticas, aconselhar, proporcionar abordagens básicas). O indica uma responsa-
bilidade operacional por parte de unidade das sedes (por exemplo, a realização de certas activida-
des de compras para certas divisões).
I A ho/ding pode, de facto, ser uma forma instável que, eventualmente, se consolida numa
Estrutura Oivisionalizada mais integrada ou se separa em empresas distintas. Chandler (1962 ,
pág. 4) indica que os holdings das indústrias que ele tinha estudado tendiam a consolidar-se antes
de 1909 em organizações únicas, centralizadas, funcionais. Se a Estrutura Divi sionalizada tivesse
existido nessa época, teriam sem dúvida alguma escolhido esta configuração .
A ESTRUTURA DlVISIONALIZADA 443
o papel da sede
1 E interessante notar que WilIiamson (1975), ignora o papel de controlo do conselho de admi
w
nistração, argumentando que «os directores das divisões são subordinados: como tal, os seus rela-
tórios podem ser examinados. Em contrapartida, os accionistas estão muito mais limitados no tipo
de revelações que podem exigir» (pág. 146), e que «as revelações internas são consideradas de uma
maneira positiva como essenciais para a integridade da organização e como tal sendo recompensa-
das. Pelo contrário, revelações dadas a pessoas do exterior, de um modo geral, expõem o infor-
mante a penalidades» (pág. 147). Os accionistas são sem dúvida exteriores à organização e têm um
acesso limitado à infonnação, mas Williamson esquece que estes são supostamente representados
pelos membros do conselho de administração que não sofrem nenhuma limitação desta ordem.
2 Se os membros do conselho de administração intervêm a tempo inteiro, acabam por se tornar
na própria direcção da empresa, e logo deixa de existir um controlo formal externo exercido sobre
a empresa.
A ESTRUTURA DIVISIONALIZADA 447
no capítulo 18 e não só, as decisões não podem ser tomadas unicamente com
base em informação formalizada: exigem informação que não pode ser quantifi-
cada, impressões, rumores, «pormenores tangíveis». Mas nenhuma actividade pode
ser compreendida somente com base nos relatórios sobre quota de mercado, o
ciclo de vida do produto e informação deste tipo. A compreensão profunda de
um negócio só se consegue com «pormenores tangíveis», informação «suave»
que inevitavelmente é apanágio das divisões, cujos gestores estão em contacto
pessoal com as situações específicas. Mesmo que os quadros da sede pudessem
dispor dessa informação - verbalmente, pelo telefone, por exemplo - não teriam
tempo para a absorver. A falta de tempo para compreender muitas actividades
constitui precisamente a razão primordial para a divisionalização das organiza-
ções, de forma a poder dar a cada actividade a atenção não dividida de um ges-
tor e da sua unidade. Assim, as linhas de transmissão de grande velocidade
constituem apenas uma tentação para que certos gestores da sede tomem deci-
sões, que seria preferível deixar entregues às divisões.
Como Anthony Jay (1970) observa, tudo seria resolvido muito mais rapida-
mente, se estas linhas de transmissão não existissem:
... uma das razões pelas quais o Império Romano se desenvolveu tanto e sobrevi-
veu tanto tempo - um feito prodigioso de gestão - reside no facto de que não exis-
tiam nessa altura, nem caminhos-de-ferro, nem automóveis, nem aviões, nem rádio,
nem jornais, nem telefones. Sobretudo, não existiam telefones. Como tal, era impos-
sível ter a ilusão de se ter um controlo directo sobre um general ou sobre um gover-
nador de uma província; não se podia sequer pensar que seria possível telefonar-lhe,
ou que ele podia facilmente entrar em contacto consigo, se se desenvolvesse uma
situação à qual ele não pudesse fazer face, ou que um alto funcionário romano
pudesse saltar para dentro de um avião para ir resolver um problema se a situação se
começasse a degradar ... O homem era nomeado, e Roma observava a sua quadriga
desaparecer numa nuvem de poeira por detrás de uma colina, ou o seu trirreme desa-
parecer no horizonte, e era tudo. Se houvesse um desastre, não se saberia de nada até
que um mensageiro apartasse ao porto de Ostia ou aparecesse a galopar ao longo da
Via Apennina, para comunicar que um exército tinha sido perdido ou que uma pro-
víncia tinha sido tomada pelo inimigo. Por conseguinte, estava completamente fora
de questão nomear uma pessoa para ocupar um determinado posto que não tivesse
recebido uma formação completa e que não fosse capaz de «aguentar-se no posto».
Donde, era necessário proceder a uma selecção muito rigorosa de todos os candida-
tos a um detenninado posto e, mais ainda, era fundamental assegurar que a pessoa
nomeada conhecesse perfeitamente Roma, o governo romano e o exército romano antes
de partir (pág. 69).
1 Mace (1971), por exemplo, propõe um sistema de administradores profissionais que trabalhem
a tempo inteiro como membros do conselho de administração (de talvez cinco empresas), e que
teriam também tempo para aprender a conhecer cada uma delas suficientemente bem, para pode-
rem exercer com competência as suas funções de administradores.
A ESTRUTURA DlVISIONALIZADA 451
tor que tinha de as implementar, não tinha outra alternativa senão a de agir de
uma forma irresponsável (exactamente como os directores das divisões supercon-
trolados das empresas americanas) se quisesse manter a sua posição. Os gestores
soviéticos mentiam acerca das necessidades da sua fábrica; empilhavam stocks de
materiais; obedeciam à letra mas não ao espírito das nonnas; por exemplo, redu-
zindo a qualidade dos produtos (que era dificil de medir); contratavam o tolkach,
a pessoa influente, para estabelecer acordos informais fora do sistema de controlo.
No fim de contas, o melhor método que pode ser utilizado pelo Governo e
pelas instituições que querem utilizar a Estrutura Divisionalizada é o de nomear
os responsáveis e outros funcionários que acreditam nos objectivos que têm de
ser atingidos, e a seguir implementar um mecanismo de exame periódico dos
seus desempenhos pessoais (o que exige de facto a criação de uma espécie de
conselho de administração independente).
Até agora nenhuma das estruturas que temos vindo a discutir é capaz de ino-
vações sofisticadas, como as necessárias numa agência espacial, numa empresa
cinematográfica que produz filmes de avant-garde, numa fábrica que produz
protótipos complexos, ou numa empresa petroquímica integrada. A Estrutura
Simples pode certamente inovar mas de maneira relativamente simples . As
Burocracias Mecanicistas e Profissionais são estruturas concebidas para aperfei-
çoar os programas-padrão, mas não para inventar programas novos. E embora a
Estrutura Divisionalizada permita resolver o problema da rigidez estratégica na
Burocracia Mecanicista, como já se observou no capítulo 20, também não foi
concebida para a inovação, sobretudo devi do ao facto de privilegiar o controlo
pela a estandardização dos resultados.
458 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Descrição da estrutura
Os parâmetros de concepção
Pode-se pegar numa tenda e transportá-la de um lado para o outro: assim, Toffier
(1970) nota que estas «mudam actualmente de estrutura interna com uma grande
frequência - e por vezes mesmo com uma certa brutalidade - que faz a cabeça
andar à roda. Os títulos mudam de semana a semana. Os postos de trabalho são
transformados. As responsabilidades mudam de mãos. Vastas estruturas organi-
zacionais são desmanteladas, montadas em novas formas, para sofrerem novas
recombinações. Os departamentos e as divisões aparecem num dia para voltarem
a desaparecer no dia seguinte, numa outra reorganização» (pág. 128). Por exem-
plo, o Centro dos Voos Tripulados da NASA (National Aeronautics and Space
Administration), que é a Adhocracia mais famosa da América nos anos 60, foi
organizado dezassete vezes durante os seus primeiros oito anos de existência
(Litzinger et aI., 1971, pág. 7). No intuito de ilustrar este capítulo, procurámos
organigramas junto de uma empresa bem conhecida pela sua estrutura adhocrá-
tica, e responderam-nos assim: « .. . preferíamos não vos dar um organigrama pois
este muda tão rapidamente que acaba por não servir qualquer propósito útib,.
Como o notam Chandler e Sayles (1971), estas organizações não usufruem
das vantagens das que executam trabalhos repetitivos. Como O trabalho no
âmbito de um projecto é geralmente «feito pela primeira vez ... as políticas e os
precedentes são de certo modo irrelevantes» e «torna-se dificíl separar nitida-
mente os domínios de responsabilidade» (pág. 202). Consequentemente, «a orga-
nização não pode ordenar as suas actividades em categorias muito diferenciadas
como as que utilizam os consultores .. . As responsabilidades muito comparti-
mentalizadas podem conduzir a uma rigidez excessiva» (pág. 201).
De todas as configurações estruturais, a Adhocracia é a que respeita menos
os princípios clássicos de gestão, e especialmente a unidade de comando. O sis-
tema de fluxos regulados também não conta demasiadamente. Nesta estrutura, a
informação e os processos de decisão circulam de modo flexível e informal,
onde quer que sejam necessários, para promover a inovação. E isto significa
ultrapassar a estrutura de autoridade sempre que necessário. Como um quadro
da NASA observou:
Para jogar pelo seguro, a NASA envolve todos aqueles que de perto ou de longe
podem influenciar as decisões ou a execução das mesmas. Estabelece vários «conse-
lhos de gestão» compostos de associados com o mesmo estatuto que partilham o pro-
gresso e os problemas numa base frequente. Num esforço permanente para troca de
informação em tempo real, utiliza o te lefone, a comunicação urgente, os aviões que
pertencem à organização para o transporte dos quadros, o fax , as conferências tele-
fónicas e a transmissão de dados por vídeo ou computador (citado por Chandler e
Sayles, 1974, pág. 20).
460 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
A adhocracia operacional
A adhocracia administrativa
para poder inovar. A separação do centro operacional permite que a principal com-
ponente administrativa da organização permaneça estruturada de forma orgânica
para poder inovar. 1 Ansoff e Brandenburg (1971) referem-se a este tipo de estru-
tura nas empresas como «a forma inovadora». Um grupo inovador está empe-
nhado na diversificação e na expansão da empresa; leva os projectos até à sua
implementação final e depois entrega-os a um grupo de gestão para os gerir.'
Em segundo lugar, o centro operacional pode ser completamente supri-
mido, e as suas actividades subcontratadas por outras organizações. Isto deixa
~ organização livre para se poder concentrar no trabalho de desenvolvimento.
E o que fez, por exemplo, a NASA nos anos 60 quando toda a sua atenção
estava concentrada no projecto ApoUo, sendo o seu único objectico o de enviar
um americano à Lua antes de 1970. A NASA realizou uma grande parte do seu
próprio trabalho de desenvolvimento, mas subcontratou a produção a empresas
industriais independentes. As duas funções exigiam, muito simplesmente, estru-
turas organizacionais muito diferentes (Chandler e Sayles, 1971 , pág. 180)3
Uma terceira forma de separação consiste na automatização do centro
operacional. Isto equivale a uma separação na medida em que um centro ope-
racional automatizado é capaz de se gerir a si próprio, e quase não tem neces-
sidade de supervisão directa ou de outros controlos da parte de uma componente
administrativa. Esta última, como não tem necessidade de concentrar a sua atenção
em questões operacionais de rotina, pode adoptar uma estrutura de Adhocracia,
preocupar-se com a mudança e a inovação e conceber a execução de novas instala-
ções operacionais. «A fábrica cada vez mais automatizada ... gere-se a si própria;
os quadros dirigentes preocupam-se cada vez mais, não em gerir a fábrica de
hoje, mas em conceber a fábrica de amanhã.» (Simon, 1977, págs. 32-33). Simon
representa o organigrama que emerge como um bolo composto de três camadas:
1 E necessário não confundir a organização que realiza a ablação do seu centro operacional com
a organização que cria no seu seio uma estrutura orgãnica separada para a inovação. Neste caso, a
un idade inovadora está separada do resto da organização que permanece burocrática.
2 Goodman e Goodman (1976, pág. 500) propõem uma estrutura semelhante para as compa-
nhias teatrais: a Adhocracia para o planeamento da produção e a Burocracia Profissional para a rea-
lização. Na medida em que esta separação é possí vel, torna-se mais apropriado considerar a com-
panh ia teatral como uma Adhocracia Administrativa do que como uma Adhocracia Operacional.
J Obtém-se uma variante quando é o trabalho de desenvolvimento que é subcontratado. De
facto, uma organização toma-se o braço inovador de outra ou de um grupo de outras. Neste caso,
as Adhocracias Administrativas e Operacionais agrupam-se, porque a organização que realiza o
desenvolvimento é uma Adhocracia Operacional que trabalha mais para os seus clientes do que
para si mesma. Um exemplo desta forma de organização é o projecto «chave na mão» em que uma
empresa foi contratada para montar uma fábrica, tipicamente num país estrangeiro, e depois a
entrega às autoridades locais que a devem gerir. As autoridades s6 têm de «rodar a chave» para
pôr a fábrica a funcionar.
A ADHOCRAClA 465
Comissário
-'-
- Orçamento
- F'(!ssoal
- Compras,
fornecimento
e Biblioteca
- """""'"
- Seviços
-'''''-
de Bibliotoca
- Investigaçao médica
- EI'lCOO'IefIdas e stcock.
- Esaitóri05 regionais
- Invesligaçao
Témica
- Manutenção
-\..abor;,!16rb
-T_cinematogrlifico
- AnImação e
- Centro futogr.'ifi<:o
do Governo canadiano
- Oivisao de fotografias
- Progmmas com patrocínio
"'"""'"
"'-
- Contabilidade (a.C. Oeste. Ontário. efeitos ópticos
- Sistemas o..ebeque, Nova
Iorque. Paris, Tóquio. -SOm
Londres, Austrn~a) - Equipamento
Programa
Regional"
* Nenhuma linha do organigrama liga os programas regionais aos estúdios ou aos realizadores de filmes.
Figura 21.1
O NATIONAL FILM BOARD CANADIANO: UMA ADHOCRACIA OPERACIONAL
(poc volta de 1975)
Comilfl da Auditooia
Conselho de Administração
Comité de Remuneração
Comité de Conselho
1 Directores
Regiooais
J1 """"
M~ico
Jl Tesoureiro
J 11'~~~ção } II
"" ..
Transporle
Reservas }
H
Assuntos
Públicos
J I """" Jurídico } II D~~"~ro ~
das Actividades
Administração
ImoblIiáfia
~
~
Protecção
do Ambiente
J l SeIViço
Fiscal JII "N~ ~
de Planeamento
Coordenação
da Segurança
r
Figura 21.2
ORGANIGRAMA DE UMA COMPANHIA PETROLÍFERA:
UMA ADHOCRACIA ADMrNISTRA TlV A
elementos fundem-se numa entidade única. Nos dois casos, há pouca necessi-
dade de quadros hierárquicos para exercer uma supervisão apertada sobre os
operacionais. Em vez disso, os quadros tornam-se membros completamente
integrados nos grupos de projecto em que trabalham, investidos de uma res-
ponsahilidade especial de coordenação. Mas nesta capacidade, os quadros
comportam-se mais como colegas do que como superiores, e a sua influência
provém mais da sua expertise e da sua capacidade de desenvolvimento de rela-
ções interpessoais, do que da sua posição formal. Bem entendido, na medida em
que a importância da supervisão directa e da autoridade formal diminui, a dis-
tinção entre os operacionais e os funcionais esbate-se. Deixa de ser pertinente
distinguir, entre aqueles que detêm o poder formal de decidir e os que têm o
poder informal de aconselhar. Na Adhocracia, o poder sobre as decisões per-
tence a todos os especialistas, independentemente da sua posição na organização.
Os funcionais de apoio desempenham um papel-chave na Adhocracia. De
facto, estes constituem a parte-chave da Adhocracia Administrativa, onde se encon-
tram os especialistas, de quem a organização tanto depende. A Adhocracia
Operacional também depende dos peritos, mas como retém o seu centro opera-
cional, é aí que aloja um grande número dos seus especialistas assim como nas
funções de apoio. Mas em ambos os casos, como já vimos mais atrás, a dife-
rença entre as funções de apoio e as outras partes da organização, não é nítida:
não são colocadas à margem, para só intervir quando se se lhes pede, como nas
configurações burocráticas. Formam antes, com os quadros hierárquicos (e com
os operacionais na Adhocracia Operacional), o reservatório central de talentos e
de expertise donde é extraído o pessoal para integrar os seus projectos. (Existem,
evidentemente, excepções; certas unidades de apoio devem permanecer sempre
burocráticas e separadas; mesmo a NASA precisa de cafeterias).
Como a Adbocracia não se apoia na estandardização para coordenar as suas
actividades, pouca necessidade tem de uma tecnoestrutura para desenvolver os
sistemas de regulação . A Adhocracia Administrativa utiliza os analistas para a
adaptação ao ambiente externo, como, por exemplo, os especialistas de investigação
de marketing ou de previsão económica. Como iremos ver mais à frente, tam-
bém recorre um pouco ao planeamento das acções, se bem que se trate de uma
fonna bastante geral de planeamento. Mas, mais do que elaborar sistemas des-
tinados a controlar outras pessoas, os analistas colocam-se ao lado dos responsáveis
hierárquicos e dos funcionais de apoio como membros dos grupos de projecto.
Em resumo: a componente administrativa de uma Adhocracia aparece como
uma massa orgânica de quadros hierárquicos e de experts funcionais (jun-
tamente com os operacionais na Adhocracia Operacional) que trabalham
em conjunto em projectos ad hoc no âmbito de relações que mudam cons-
tantemente. O caso da NASA oferece-nos, aqui também, uma boa ilustração:
Embora possa existir um número de operações permanentes em tais projectos, a
maior parte do trabalho é temporário. Os indivíduos são transferidos e os planos são
modificados num ambiente totalmente diferente da monotonia cansativa de que se quei-
xam tantas pessoas que pertencem a organizações tradicionais. A existência de pro-
jectos, de grupos de trabalho (task forces) e de «equipas» temporárias significa tam-
bém que os indivíduos têm múltiplas «pátrias» organizacionais. Um cientista pode
pertencer, ao mesmo tempo, a uma universidade, ser responsável pela concepção e
pelos ensaios de uma experiência a ser feita num aparelho espacial lançado pela NASA,
468 ESTRUTURA E DrNÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
I No seu estudo sobre a fanua das organizações, Kaufrnan e Seidman (1970) descobriram um
tipo em forma de diamante com uma «concentração dos efectivos nos níveis médios, e efectivos
fracos nos níveis mais elevados e nos níveis mais baixos» (pãg. 442). Isto parece descrever a
Adhocracia Administrativa tal como estã representada na figura 21-3.
A ADHOCRACIA 469
_-----,--- - ------,-------
......
) {
,' ... ------------- , ' ... _------------ .... '\
I \
I I
I i
~ I
,,- - ----- --- ----------------------------- "
Figura 21.3
A ADHOCRACIA
I As mesmas condições de incerteza apl icam-se à Estrutura Simples, com os mesmos resulta-
dos: a organização não se pode apoiar no planeamento, e a formulação da estratégia não pode estar
separada da sua implementação. Mas, uma vez que inova de um modo mais simples, esta estrutura
resolve o problema concentrando o controlo dos dois no vértice estratégico. O empresário formula
uma visão geral - uma estratégia vaga - no seu espirita, depois implementa~a, reformulando a sua
visão de modo continuo à medida que vai obtendo um retorno de infonnações sobre as suas acções.
Não explicita a sua estratégia, pois um tal passo iria revelá-la aos outros e reduziria a flexibilidade
de que dispõe e lhe permite modificá-Ia a seu bel-prazer (Mintzberg, 1973b).
470 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
... embora seja claro quem é que detém a autoridade de tomar e de anunciar a
decisão final (o principal administrador da NASA), é muito mais difícil dizer quem
é que de facto, «toma» a decisão. Esta é produto de um processo de interacção e de
confrontação, em que os critérios técnicos e administrativos, assim como critérios
políticos de natureza mais lata são aplicados e em que participam tanto pessoal téc-
nico como pessoal de gestão .. . Este processo ilustra como é ingénuo tentar dicoto-
mizar as organizações - base de decisões feitas DO fundo da hierarquia (presumi-
velmente em ambientes elevadamente técnico-profissionais) ou no topo (organizações
que funcionam de uma maneira tradicionalmente hierárquica). O processo de tomada
de decisão é um processo em que os diversos níveis organizacionais e grupos de
interesses competem para atingir uma determinada posição obedecendo a uma deter-
minada sequência, e também competem para serem os primeiros a serem ouvidos
(págs. [4-[ 76).
... de uma função bastante diferente nestes grandes sistemas investidos de urna
missão de desenvolvimento onde a incerteza predomina. Tradicionalmente, ensina-se
aos quadros a identificar os seus objectivos e os seus fins, a definir os objectivos que
os irão ajudar a atingir estes fins, depois a desenvolver os planos operacionais.
Infelizmente, esta sequência lógica e reconfortante encontra-se perturbada no mundo
real dos grandes sistemas. Os objectivos claros dissimulam muitas vezes objectivos
conflituosos que resultam das divergências entre grupos temporariamente aliados na
federação ... O planeamento acaba por se tornar num processo dinâmico e iterativo.
Inevitavelmente isto dispersa a autoridade porque não existe um pequeno grupo de
especialistas, de «planificadores» de alto nível que defina a estratégia (Chandler e
SayJes, 197 I, pág.7).
As condições da adhocracia
o ambiente básico
Tanto o Vietcong como os Boinas Verdes tentam manter ... uma flexibilidade
estrutural intrínseca. Estas duas organizações procuram ser capazes de entrar numa
aldeia e, em função das circunstâncias, desenvolver um programa sanitário, estabele-
cer um governo civil ou destruir o inimigo. Qualquer destas funções exige variações
de estruturas e de papéis. Pode ser que o membro da unidade que tem mais conhe-
cimentos médicos não seja o indivíduo que tenha mais credenciais militares ou o
mais competente no combate corpo a corpo. Contudo, a organização tem de ser capaz
de adaptar a sua estrutura às exigências da tarefa em questão (Segal, 1974, pág. 229).
Quando se enviou o primeiro homem à Lua, esta operação provou ser extre-
mamente complexa, exigindo a aplicação coordenada de muitas das ciências
mais sofisticadas. De resto, esta tarefa era completamente imprevisível - nunca
tinha sido tentada antes - e tomada mais dinâmica pelo facto de os Americanos
estarem em competição aguerrida com os Russos. Nestas condições, a NASA
não tinha outra alternativa a não ser estruturar-se como uma Adhocracia.
476 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Um ambiente heterogéneo
I Algumas empresas uti li zavam a estrutura multidivisionalizada, com dois tipos de divisões ,
mas sempre com um deles sobreposto ao outro na hierarquia.
A ADHOCRACIA 477
A Adhocracia é muitas vezes uma organização jovem uma vez que se trata
da forma menos estável de estrutura. E difícil manter por muito tempo uma
estrutura neste estado, impedir que os comportamentos se formalizem, assegurar
um fluxo regular de projectos realmente inovadores. Todos os tipos de forças
incitam a Adhocracia a burocratizar-se à medida que vai envelhecendo. Por
outro lado, de acordo com a hipótese I, as organizações jovens têm tendência a
ter uma estrutura orgânica, na medida em que se encontram ainda à procura do
seu verdadeiro caminho e também porque, tipicamente, anseiam por projectos ad
hoc, inovadores que lhes permitam por-se à prova. Podemos então concluir que,
a estrutura adhocrática tende a estar associada à juventude da organização
e às primeiras fases do desenvolvimento estrutural.
A Adhocracia Operacional tem tendência a ter uma vida breve. Em primeiro
lugar, porque opera num mercado de risco, que muito rapidamente a pode destruir.
Ao contrário da Burocracia Profissional ou da Burocracia Mecanicista, com os seus
produtos estandardizados, a Adhocracia Operacional nunca pode estar muito
certa de um fluxo constante de projectos. Uma quebra na economia ou a perda
de um contrato importante pode fazê-Ia desaparecer de um dia para o outro.
Mas, se certas Adhocracias Operacionais têm uma vida curta porque acabam
por fracassar, outras têm uma vida curta precisamente pela razão oposta. O sucesso
- e a maturidade - encorajam uma metamorfose da Adhocracia Operacional, e con-
duzem-na a uma existência mais estável e portanto para uma estrutura mais
burocrática. Ao fim de um certo tempo, a organização desenvolve uma reputa-
ção naquilo que faz melhor, O que a encoraja a repetir certos projectos ou a
especializar-se no tratamento de certos casos e programas; isto tende a ser con-
veniente para os seus empregados que, à medida que eles próprios vão enve-
lhecendo, apreciam uma maior estabilidade no seu trabalho. Assim, a Adhocracia
Operacional é conduzida com a passagem do tempo para uma Burocracia Profissional,
concentrando-se nos programas que melhor executa, muitas vezes mesmo para
uma Burocracia Mecanicista, explorando um programa único ou uma invenção
única. A organização sobrevive, mas a configuração estrutural morre.
Por exemplo, temos a clínica psiquiátrica que aplica técnicas inovadoras de tra-
tamento, ganha uma boa reputação, o que atrai tanto doentes como pessoal médico.
Estas técnicas inovadoras criadas por uma ou por várias pessoas são consideradas como
sendo a razão do seu sucesso. sendo ensinadas ao novo pessoal. Consequentemente,
482 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
nais esbate-se (para as máquinas é indiferente quem é que roda os seus botões),
o que conduz a uma outra redução importante do nível de conflito; a tecnoes-
trutura perde a sua influência, pois o controlo é incorporado no próprio sistema
técnico por aqueles que o concebem em vez de ser imposto aos trabalhadores
pelas regras e pelas normas elaboradas pelos analistas. No conjunto, a estrutura
administrativa torna-se mais descentralizada e mais orgânica, conduzindo a uma
estrutura que vamos apelidar de adhocracia automatizada.
A automatização é comum nas indústrias em que a produção se faz em con-
tínuo, tais como a petroquímica e os cosméticos (uma outra razão,pela qual as
empresas como Proctor e Gamble são atraídas para a Adhocracia). E sem dúvida
por isso, que Joan Woodward (1965) nos descreve estas empresas de produção
em contínuo como correspondendo ponto por ponto à configuração da Adhocracia
Administrativa. Mas também é preciso notar que nem todas as empresas de pro-
dução em contínuo recorrem a este tipo de estrutura. Algumas destas empresas
estão, de facto, longe de ser completamente automatizadas, e têm, por conse-
guinte, necessidade de uma mão-de-obr,a operacional importante, o que as con-
duz para uma Burocracia Mecanicista. E este precisamente o caso das empresas
siderúrgicas, que já discutimos no capítulo 18. Existem também empresas de
produção em contínuo que, se bem que muito automatizadas, manifestam uma
forte inclinação para a Burocracia Mecanicista e para a Adhocracia Administrativa,
em certos casos porque têm necessidade de efectivos numerosos para realizar
um trabalho rotineiro noutras funções que não a produção (como por exemplo,
o marketing nas empresas petrolíferas que são proprietárias de muitas estações
de serviço); noutros casos, porque operam sem concorrência em actividades, em
que os custos fixos são muito elevados. E o caso, por exemplo, das empresas
americanas de produção e de distribuição de electricidade, descritas por Perrow
(1970, págs. 154-155), mais interessadas em exercer pressões para obter o apoio
do Governo do que em realizar inovações para o benefício do consumidor.
Finalmente, temos as empresas de produção em contínuo que têm ambientes e
sistemas técnicos igualmente simples - é o caso, por exemplo, do pequeno fabri-
cante de uma só gama de cremes amaciadores para as mãos - em que a Estrutura
Simples só por si é suficiente, em vez da Adhocracia Administrativa.'
I Perrow (1967), utilizando mais dados relativamente à amostra proporcionada por Woodward,
têm sido o objecto de ampla discussão. Não é este o caso da Adhocracia que
é uma estrutura nova. E qualquer estrutura nova, porque resolve os problemas
que as outras estruturas são incapazes de resolver, atrai um grande número de
partidários entusiastas - que se deixam. seduzir pelas suas vantagens e se tor-
nam cegos para os seus problemas. E necessário um certo tempo para se
aprender a viver com esta estrutura e para conhecer os seus pontos fracos
assim como os seus pontos fortes. Isto é particularmente verdadeiro para uma
estrutura tão complexa como a Adhocracia.
No entanto, problemas, em particular, associados à Adhocracia têm desenca-
deado alguma discussão: as reacções dos individuos que têm de viver com as
ambiguidades da Adhocracia, as suas ineficiências desta estrutura e a sua pro-
pensão para se transformar de modo inapropriado noutras estruturas.
Já discutimos mais atrás o inquérito realizado por Reeser (1969), junto dos
quadros das empresas aeroespaciais sobre «os problemas humanos de organiza-
ção por projectos». Das oito respostas obtidas por Reeser, seis relacionam-se, de
facto, com as ambiguidades estruturais:
Saber que o projecto no qual trabalham chega ao fim constitui motivo de ansiedade
e de sentimentos de frustração para os membros da organização.
A ADHOCRACIA 487
O último ponto evocado por Reeser indica um outro problema muito impor-
tante ligado à ambiguidade: a politização da estrutura. Ao conjugar as suas ambi-
guidades e as suas interdependências, a Adhocracia emerge como a mais
politizada das cinco configurações estruturais. Nenhuma estrutura é mais dar-
winiana do que a Adhocracia - a estrutura que dá mais apoio aos mais compe-
tentes, enquanto elas forem competentes, e a estrutura que mais brutalmente eli-
mina os fracos. As estruturas que são a este ponto fluidas, tendem a ser fortemente
competitivas e mesmo brutais. Constituem terrenos férteis para todos os géneros
de forças políticas, que a expressão francesa un panier de crabes - um balde
cheio de caranguejos, atacando-se uns aos outros com as suas poderosas garras
- descreve muito bem. Consideremos, por exemplo, a estrutura matricial: como
já vimos no capítulo 10, esta estrutura chega a criar um sistema de oposições
que institucionaliza o conflito na organização. l
Existem também conflitos nas outras configurações que criam uma activi-
dade política, como já observámos nos últimos quatro capítulos. Mas estes con-
flitos são sempre contidos num contexto de regras bem definidas . Na Estrutura
Simples, a luta política que ocorre é dirigida contra o principal dirigente. Mas
como existe um controlo pessoal e muito chegado, este evita, à partida, uma
grande parte da actividade política. As pessoas que não gostam desta estru-
tura, simplesmente afastam-se . E como em todas as configurações burocráti-
cas, os conflitos e a luta política inc idem sobre questões bem definidas - o
poder da linha hierárquica contra os funcionais, o poder dos profissionais
contra os não profissionais, a resistência dos trabalhadores à mentalidade de
contro lo, a desvirtuação da informação enviada às sedes, as ambiguidades de
classificação, etc . Na Burocracia Profissional, por exemplo, os especialistas
de elevada formação e com um poder considerável, estão naturalmente pre-
! Ver Lindblom (1965), para uma discussão muito pormenorizada das técnicas empregadas para
obter um acordo pelo ajustamento mútuo, incluindo várias formas de negociação , de acordos recí-
procos e de manipulação.
488 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
dispostos a batalhar entre si, a maior parte das vezes sobre imperativos terri-
toriais. Mas, pelo menos, estas batalhas são orientadas por normas e afilia-
ções profissionais. A incidência destes conflitos é bastante reduzida uma vez
que os profissionais trabalham em grande parte individualmente, e muitas vezes
têm os seus próprios clientes. Isto não se passa de todo na Adhocracia, em
que os especialistas das diferentes profissões têm de trabalhar em conjunto
em equipas multi disciplinares, e onde, devido à natureza orgânica da estru-
tura, os jogos políticos que dai resultam são jogados sem regras. A Adhocracia
exige que o especialista subordine os seus objectivos individuais e as normas
da sua profissão às necessidades do grupo, apesar de permanecer, assim como
o seu colega, da Burocracia Profissional - potencialmente, pelo menos - pro-
fundamente individualista.
Nas burocracias - especialmente do tipo mecanicista - os quadros são
obrigados a passar uma boa parte do seu tempo a conter conflitos. Mas na
Adhocracia, isto não deve, nem pode ser feito. Tais esforços acabam por aba-
far a criatividade. «Quaisquer ansiedades e fricçães que possam ser geradas
são inerentes à própria vida, e ninguém as pode eliminar de uma organização
- pelo menos, sem negligenciar ou lesar qualquer interesse mais vital.»
(Burns e Stalker, 1966, pág. 3.) Os conflitos e a agressividade são elemen-
tos vitais na Adhocracia: o trabalho dos quadros consiste em canalizá-los
para fins produtivos.
Os problemas de Eficiência
Por outras palavras, se bem que esta estrutura esteja idealmente adaptada
ao projecto tipo único, a Adhocracia não é uma estrutura competente
para fazer as coisas vulgares. Foi concebida para as actividades extra ordi-
nárias. As burocracias são organizações de produção em série: atingindo a
sua eficiência máxima através da estandardização. A Adhocracia produz
cada produto individualmente: é incapaz de estandardizar e como tal não
pode ser eficiente .
A ADHOCRACIA 489
I Ao discutir O ajustamento mútuo, Lindblom (1965, capítulo 14) desenvolve este ponto de uma
forma importante. Mas a sua discussão sobre as técnicas de ajustamento mútuo também indica os
seus custos elevados de comunicação.
490 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
Componentewchave Vértice Estratégico Tecnoestrutura Centro Operacional linha Hierárquica Funções de Apoio
da OrganizaçAo: (Com o Centro Operacional)
na Adhocracia Operacional
Parêmetros de Concepçao:
Especialização dos postos Fraca especialização Especialização horizontal e Especialização horizontal Especialização horizontal e Muita aspacie/izeçSo
de trabalh o vertical importante importante vertical moderada (entre horizontal
a Sede e as DivisOes)
Formação e socialização Pouca formação e Pouca formação e Muita formação e Formação e socialização Muita formação
socialização socialização socialização moderadas (dos
directores de Divisões)
Formalização do Pouca formalização Muita formalizaçSo Pouca formalizaçao, Multa formalização (no Pouca formalização,
comportamento, orgSnica e socialização burocrStlc8 Interior das DivisõeS), orgânica
burocrático/orgênlco burocrática
Forma de agrupamento: Geralmante por fun ções Muita forma/izaçflo, Por função e por mercado Por mercado Por função e por mercado
burocrátice
Dimensão das unidades Grande Gerslmente por funçfJes Grande na base, pequena Grande (no vértice) Pequena em todos
Grande na base, noutros pontos os pontos
pequena noutros pontos
Sistemas de planeamenlo Pouco planeamento Planeamento das acçOes Pouco planeamento e Muito planeamento e Planeamento limitado das
e de controlo e controlo controlo controlo acções (particularmente
na Adhocracla
administrativa
Mecanismos de ligação Poucos mecanismos Poucos mecanismos de Mecanismos de ligação na Poucos mecanismos Muitos mecanismos de
de ligação ligação administração de ligação ligação em todos os pontos
Descentralização Centralização Descentralizaç~o
horizontal Descentra/izaçao horizontal Descantralização vertical Descentralizaçáo selectiva
limitada e vertical limitada
Funcionamento:
Vértice estratégico Todo o trabalho Resolução minuciosa, ligação com o exterior, GestiJo do portf6lio, Ligação com o exterior,
administrativo coordenação de funções, resolu ção dos conflitos contro~ das perfofTTIanc8s resolução dos conflitos ,
resolução de conflUos equil lbrio do fluxo
de trabalho, control o dos
projectos
Centro operacional Trabalh o Informal Trabalho rotineiro, Trabalho qualificado, Tendência para formalizar Separação (na Adhocracia
com pouca autonomia formalizado com pouca estandardizado, devido ti divisionalização Administrativa) ou fusiJo
autonomia muita au tonomia com a Administração
individual para a realização de um
trabalho informal sobre os
projectos (na Adhocracla
Operacional)
E
8 ~
'ãle o "
c '" 51;
.§ =.g
«I gE
m1t
"
<::
o
~
<=g
08~
(II
. ;';(Il
g~
~E
~.ê :g.il 8 2 ~ :g~ Q).!!!
l:g
"
.lQ
::::I II) '"
-g;;I..c u E .~ .sc;_ liq~~E
fti
UI c:II> E:"iii
.t5"t).o S -g~ '"
-DlIJíã"°
E1l. õ-E .... nla. ... o.E
.,
.s
.31
~O "'C~~.g.sOE.!'~
c;~)g-g~<í=ggg ~ ~~g~g .2..2 ~o.!!!"I;>"O<a
8 g~ O~·~~ gli~ ~E
fjo
~ o:g",:ggj'g(ll", ~~ <1l rl ~.
.... o N~j
:.9·Õ~ õ § 8.9 ·ê~ B ~c~"E.<:·~~·a> ·8
il,u
<:: III 8.",
I: ln ::s.."'t
~~8.0nl~nI~8.·C:
II) '" o.!e !€O
c ,g
2.~ 2.~·E~~ E~
~u
g:g "'~g~~
.91i!~ ~'g:gc.8.~ g~
i"0 "§.e Eo ~ .~ ·~28.8:g~5~ 'ã. ~ o:; > c: '" « E õ·
o. ~ E i:i).§ U ~ 8
S
" <.>
·• • • ••
u
"•• ·•• u ~
•
~ - u $ g~
' ..
- o
• 8'2:
~
Ii Ii • :::: ~
~"'
til
U
5l"' '"
111"0
c: o
II!
<.> ....
'C
E
QI
E
III
o",o",<I>~-
•
C '" ~ ·,S
..c:
~~I~~
01) I: II)
~gê::g ~~.~~.g-~ ~
.•
E o!!! o III
j-
(Ilr::Onl lO
~ 8.,g
&.e'õ~
'õ "'C
c ~38~g
E8~~:~
«10 <:1..>"0
=: ",.- ... G> ti> O>
~o 5,0"8 ""iii
fjE .... 2: ....
a. CI ~.~ dl
iii o fJ) (ii :::!: E i= Õ
o;
>
~
~
i~
, ~
••
•
~E I
>•
•g oE
z <.>
i .g,
.- •••
~
~ ~ ~
c
l'
"
.~ g~
E
o
Ii Ii ~, c •
'E~ ~ -o
~.g ~
E E
• uo it~ u
•g8§!8·*' ••
>"- e(llo'üí
::::c:.::c
c. c
.§g:; ~
~.
cu .... ~~ :
,g 8.,g 8. S Oe
E' .g E:.= '"
.-
<;:
•2>
00
",'-
o .2'
00
c
'<:i~ ~
fi)
<:: o '"
QI
<I>
D
I 'E o
Z
rl ã
"i= . .!!.9~3
;);100.
i' l';I
~
'" .!;
00
,~
~
~
~
•c
u
>
g
~
]
.~ 1 • o
~ ~ .§,
~ ~ "
'. E" "
~ •c
z
"
~
o
z
o
~
o
~
li
•• •o .1! ~
~
u
,
~
o
":< u
'õ x c, u• o
* •
E"oo,-cu
~
fi
•
>-
~
~
~
~
cuár°.E'üí
.i!,-2.Eg
00 ~ <.>
~
~ 00
1lE
~
~
Q.
, •
,
CAPíTULO 22
UM PENTÁGONO CONCLUSIVO
Será que qualquer destas cinco configurações existe realmente? Uma questão
um tanto ou quanto estranha, após mais ou menos 150 páginas de discussão,
recheadas de exemplos. Mas vale a pena levantar esta questão, para definir uma
linha de demarcação mais precisa entre as cinco configurações e a realidade que
estas têm por objectivo descrever.
Num certo sentido, as cinco configurações estruturais puras não existem. No
final de contas, são apenas palavras e diagramas traçados no papel e não a rea-
lidade propriamente dita. Em todas as organizações, a não ser as mais triviais,
as estruturas são muitíssimo complexas, muito mais do que qualquer das cinco
configurações dá a entender. O que estas últimas constituem é uma teoria, e ,cada
teoria, necessariamente, simplifica e por conseguinte deforma a realidade. E por
essa razão que nós ao princípio pedimos ao leitor que considerasse cada frase
(incluindo esta) como um exagero.
Mas isto não nos deve levar a rejeitar as configurações. Porque a escolha
do leitor, não é tanto entre a teoria e a realidade, mas sim entre diferentes
teorias. Ninguém tem a realidade toda na cabeça ; nenhuma cabeça é suficien-
temente grande para isso. Em vez disso, o que nós temos, são os pensamen-
tos, impressões e crenças a propósito da realidade, e medidas que nós desig-
namos como factos. Mas tudo isto é inútil , se não for colocado numa certa
ordem, da mesma maneira que uma bib lioteca é inutilizável se os livros não
se encontrarem catalogados. Assim, e isto é o mais importante, temos na cabeça
simplificações compreensíveis - conceitos, modelos, teorias - que nos per-
mitem catalogar os nossos dados e a nossa experiência. A escolha do leitor
exerce-se então entre os diferentes sistemas de catalogação, isto é, entre teo-
rias alternativas.
O leitor pode ter confiança nas teorias elaboradas por si mesmo, fundadas
sobre as suas próprias experiências, ou, alternativamente, pode escolher entre
as teorias que lhe são oferecidas em obras como esta, teorias estas que são fun-
dadas nas experiências das organizações que desenvolveram um grande traba-
lho de investigação. Ou, de maneira mais realista, faz a sua selecção a partir
do conjunto e constrói os seus próprios modelos da realidade. A sua escolha
entre as teorias obedece nonilalmente a dois critérios: a riqueza da descrição
496 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
<~---~~
.... ----,..-[ Conselho de Administração
Departamento
de Enfennagem
Nota: Tirado de um artigo apresentado ao autor por Vincent Maruca, Jean-Marc Leblonde, Jean Caté, Michel Pellerin e Robert Gendron,
em Management 420, Dezembro 1970.
Figura 22.2
UMA ESTRUTURA HÍBRIDA ENTRE A ESTRUTURA SIMPLES, BUROCRACIA MECANICISTA-BUROCRACIA PROFISSIONAL
502 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇOES
Nesta terceira aplicação da teoria, vê-se que o conjunto das cinco configu-
rações pode ser considerado como a base que permite descrever as estrutu-
ras híbridas.
Já vimos na nossa discussão que nem todas as organizações escolhem a coe-
rência na concepção da sua estrutura. Utilizam o que chamámos de estruturas
hibridas, que exibem características tomadas de empréstimo a mais de uma con-
figuração. Algumas das estruturas híbridas que nós encontrámos parecem
ser disfuncionais, e assinalam organizações que não chegam a decidir-se ou que
ao procurar combinar os melhores elementos de vári,as configurações, acabam
de facto por acumular todos os seus inconvenientes. E o caso, por exemplo, da
organização que mal oferece autonomia aos seus gestores médios, no âmbito
de um sistema de controlo dos desempenhos (como na Estrutura Divisionalizada),
a retira pela introdução da supervisão directa (como na Estrutura Simples). Contudo,
em certos casos, as organizações não têm alternativa: os factores de contingên- ·
cia contraditórios sobre os quais não exercem nenhum controlo, forçam-nas a
adoptar uma estrutura híbrida disfuncional. Já vimos numerosos exemplos desta
natureza, no caso dos sistemas de educação, das forças policiais, e de outras
organizações com operacionais formados e que parecendo exigir uma estrutura
de Burocracia Profissional, são conduzidas, em detrimento do seu desempenho,
a adoptar certas características da Burocracia Mecanicista sob o impulso de um
controlo externo concentrado.
Mas outros híbridos parecem ser perfeitamente lógicos, o que indica a
"ecessidade de responder ao mesmo tempo a mais de uma força legítima.
E o caso da orquestra sinfónica, que constitui uma burocracia profissional sim-
ples, já discutida no capitulo 19, que contrata músicos de elevada formação pro-
fissional, apoiando-se em grande parte sobre as suas qualificações estandardiza-
das para poder produzir música, mas que tem também necessidade de um líder,
por vezes autocr~tico, que possa assegurar uma coordenação estreita entre todos
os executantes. E também o caso da estrutura dos produtos relacionados que já
discutimos no capítulo 20, que tem necessidade de divisionalizar mas também
de concentrar certas funções críticas próximo do vértice estratégico como no
caso da Burocracia Mecanicista. E o caso ainda, da adhocracia empresarial que
já analisámos no capítulo 21, em que o empresário, que é um especialista, é
capaz de manter uma espécie de controlo central apesar da utilização de grupos
de projecto multi disciplinares. Todas as estruturas hibridas que discutimos nos
últimos cinco capítulos, estão indicadas na figura 22- 1, cada uma delas colocada
numa linha que une as configurações das quais retiram as suas características.
Os hibridos da figura 22-1, são todos intermédios entre as duas configura-
ções. No enlanlO, nada impede a combinação das características de três ou mais
configurações. Assim, um grupo de estudantes da McGill, descreveu um centro
de convalescença gerido por uma congregação religiosa como sendo estreitamente
controlado pelo seu empresário - que designaram como «a freira-chefe» - mas
que comportava também uma proliferação de regras e que dependia das qualifi-
cações do seu pessoal médico. Temos aqui uma estrutura híbrida entre a Estrutura
Simples, a Burocracia Mecanicista e a Burocracia Profissional. A representação
fantasiosa desta estrutura pelos estudantes da McGill está reproduzida na figura 22-2,
UM PENTÁGONO CONCLUSIVO 503
tos relacionados, na sua transição para uma Estrutura Divisionalizada. Mas cer-
tas organizações nunca conseguem realizar completamente a transição: perma-
necem num estado intermédio, híbrido, porque estão sujeitas a forças contradi-
tórias, forças novas que incitam à mudança e forças antigas que encorajam a
manutenção da anterior estrutura. Assim, muitas organizações mantêm-se per-
manentemente sob a forma de subprodutos ou sob a forma de produtos relacio-
nados: diversificaram, mas subsistem interdependências entre as suas linhas de
produtos. Mas, quando as forças que apelam para a mudança são inequívocas, o
melhor a fazer é provavelmente efectuar a mudança de maneira rápida e deci-
siva. Evitar entre duas estruturas - a antiga, que está firmemente estabelecida
mas que deixou de ser adequada, e a nova, que é incerta, mas necessária nas
novas condições - conduz a uma espécie de situação de esquizofrenia organiza-
cional que constitui talvez a pior das situações.
Para rematar, vimos nesta discussão uma quarta aplicação da teoria, que con-
siste em utqizá-Ia como uma das bases para a compreensão das transições entre
estruturas. E através destas transições, de facto, que as jnter-relações entre as
cinco configurações se tornam mais evidentes.
Finalmente: existe uma sexta configuração? Bem, o arco-íris só tem cinco cores
primárias. I Mas descobriu-se que existiam mais planetas do que os cinco plane-
tas que se acreditava existirem na antiguidade. Parece até estarmos à beira de
reconhecer a existência do sexto sentido. Porque havia de existir não uma sexta
configuração? Desde que, evidentemente, esta configuração mantivesse a har-
monia da nossa teoria: esta configuração hipotética tem de ter o seu próprio
mecanismo de coordenação original e, uma nova sexta parte, deve desempenhar
um papel dominante na organização.
Já descobrimos um candidato para esta sexta configuração, que tratámos
como uma variante da Burocracia Profissional no capítulo 19 e da Estrutura
Simples no capítulo 17. Como podemos confiar nos operacionais da organização
missionária para que prossigam os objectivos da organização, sem qua1quer neces-
sidade de um controlo central, esta estrutura pode tornar-se muito descentrali-
zada e é por essa razão que nós a aproximámos da Burocracia Profissional. E
como os membros da organização carismática atribuem uma boa parte do seu
poder ao seu líder, descrevemo-la como uma Estrutura Simples. Mas pode de
facto tratar-se da mesma organização, porque objectivos de tipo missionário e a
liderança carismática estão normalmente associados. Isto sugere a existência de
uma estrutura híbrida. Além disso, o trabalho de uma tal organização é muitas
vezes repetitivo e rotineiro, como na Burocracia Mecanicista; os seus membros
trabalham muitas vezes em células ou ordens quase autónomas, como na Estrutura
Divisionalizada; e os membros estão dispostos a cooperar uns com os outros
sempre que é necessário como na Adhocracia. A existência de um compósito das
cinco configurações deve ser tomada, provavelmente, como um sinal para se intro-
duzir uma sexta.
1 De facto, as várias fontes que eu consultei referiam-se a cinco, seis e mesmo sete cores pri-
márias do arco-íris. Tentei mesmo contá-las, mas existia uma ambiguidade considerável na amos-
tra que consegui obter. De qualquer modo, o arco-íris tem certamente o mesmo número de cores
que sempre teve, desde o princípio do mundo.
UM PENTÁGONO CONCLUSIVO 507
E também podemos dizer que, um dia a Sra. Raku deixou o seu escritório no
quinquagésimo quinto andar para presidir à cerimónia de inauguração do início
da construção da maior fábrica de sempre da Ceramico; mas ao tropeçar na pá
que tinha na mão, caiu na lama. O seu sentimento de repulsa por ter sujado o
vestido deu lugar, subitamente, a um sentimento de nostalgia, quando tomou
consciência de que este era o seu primeiro contacto com a terra, depois de ter
deixado a sua oficina de cerâmica. Surgiu-lhe então uma revelação súbita: fazer
vazos é mais importante do que fazer dinheiro. E, por conseguinte, resolveu dar
um rumo diferente à organização, conferir-lhe uma nova missão - a fabricação
à mão de cerâmicas belas mas também funcionais - desenvolvendo assim uma
nova estrutura que reflectisse a sua nova ideologia. A última decisão que a Sr. Raku
tomou como presidente foi mudar o nome da organização pela última vez - para
os Ceramistas da Terra.
BIBLIOGRAFIA
ACKERMAN, R. W., The Social Challenge to Business, Harvard Unjversity Press, 1975.
AGUILAR, F. l., Scanning lhe Business Environment, Macrnillan, 1967.
ALDRICH, H. E., «Technology and Organizational Structure: A Reexamination of the
Findings of the Aston Group)), Administrative Science Quarterly (1972: 26-43).
- , «Reaction to Donaldson ' s Note», Adminisrative Science Quarterly (1975: 457-459).
ALLEN, L. A., «Tbe Line-Staff Relationship», Management Record, Setembro de 1955:
346-349, 374-376.
ALLEN, S. A. lU, «Organizational Choices and General Management Influence Networks
in Divisionalized Companies», Academy of Management Journal, ::;etembro de 1978.
ALLEN, T. J., e COHEN, S. L, <<lnformatioo Flow in Research and Developmeot Laboratories» ,
Administrative Science Quarterly, 1969: 12-19 .
ANDERSON, T. R., e WARKOV, S., «Organizational Size and Functional Complexity:
A Study of Administration in Hospitais», American Sociological Review, 1961: 23-28.
ANSOFF, H. 1., «Corporate Structure: Present and Future», Working Papel', European
Institute for Advanced Studies in Management, Brussels, 1974. Utili zação autorizada.
ANSOFF, H. 1. , e BRANDENBURG, R. O., «A Language for Organization Design: Part Ib>,
Management Seience, 1971: B717-731.
ARGYRIS, C., «Excerpts from Organization of a Banb>, in A. H. Rubenstein and
C. J. Haberstrob (eds.), Some Theories ofOrganization , Irwin-Dorsey, 1966.
- , «Some Lirnits ofRatiooal Mao Organizationa l Tbeory», Public Administration Review,
1973a: 253-267.
- , «Organization Man: Rationa and Self-Actualizing», Public Administration Review,
1973b: 354-357.
AzUNI, K., e MCMILLAN , C. I., «Cu lturc and Organizational Structure: A Comparison of
Japanese and British Organizations», Internationa/ Studies of Management and
Organization, 1975: 35-47.
BAUGHMAN,1. P.; LODGE, G. C.; e PIFER, H. W. , Environmenta/ Ana/ysisjor Management,
[rwin, 1974.
BA VELAS, A., «Communication Patterns in Task-Oriented Groups», Journa/ oj the Acoustica/
Society of America, 1950: 715-730.
BECKER, S. W. , e GORDON, G., «An Entrepreneurial Tbeory of Formal Organizations
Part I: Patterns ofFormal Organizations», Administrative Science Quarter/y, lcJ66-67:
315-344.
BEER, S., Brain of lhe Firm (Londres, Penguin, J 972). Utilização autori zada.
5\0 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
BENNETT, R. C., General Motors (F): Organizing a Corporate Purchase Agreement, Case
Study, copyright de President and Feltows Df Harvard College, Harvard Business
School, 1977.
BENNIS, W. G., «Tbe Coming Deatb Df Bureaucracy», Think Magazine, Novembro-
-Dezembro de 1966: 30-35.
BERGMANN, A. E., «Industrial Democracy in Germany - Tbe Battle for Poweo>. Journal
of General Mananagement, 1975: 20-29.
BEYER, J. M ., e LODAHL, T. M., «A Comparative Study ofPatterns oflnfluence in United
States and English Universities», Administrative Science Quarter/y, 1976: 104-129.
BIDWELL, C. E., ,<lhe School as a Formal Organizatioll», in J. G. March (ed.), The
Handbook of Organizations, Rand McNally, 1965, cap. 23.
BloRK, L. E., ({AD Experimental in Work Satisfaction», Scientific American, Março de
1973: 17-23.
BlAU, P. M., «The Hierarchy of Authority in Organizations», American Journal of
Sociology, 1967-68: 453-467.
- , «A Formal Theory ofDifferentiation in Organizations», American Journa/ ofSociological
Review, 1970: 201 -2 I 8.
BLAU, P. M.; FALBE, C. M.; MCK1NLEY, W.; e TRAcy, D. K., «TechnoJogy and Organization
in Manufacturing», Administrative Science Querter/y, 1976: 20-40.
BLAU, P. M., e SCHOENHERR, P. A., lhe Structure ofOrganizations, Basic Books, 1971.
BLAU, P. M., e SCOTT, R., Formal Organizations, Chandler, 1962.
BOLAND, W. R., «Size, Eternal Relations, and the Distribution of Power: A Study of
Colleges and Universities», in W. V. Heydebrand (ed.), Comparative Organizations,
Prentice-Hall, 1973,428-441.
BONINI, C. P., Stimu/ation of Information and Decision Systems tn lhe Firm, Prentice-
Hall, 1963. Utilização autorizada.
Bos, A. H., «Developmerit Principies ofOrganizations», Management International Review,
1969: 17-30.
BOULDING, K. E., Conjlict and Defense, Harper & Row, 1962.
BOWER, J. L., «Planning Within the Firm», lhe American Economic Review, 1970:
186-194.
BRA VÉRMAN, H. , Labor and Mono poly Capital: The Degradatjon of Work tn the Twentieth
Century, Monthly Review Press, 1974.
BRAYBROOKE, D. , and LrNDBLOM, C. E., A Strategy of Decisioll , Free Press, 1963.
BUCHELE, R., 8., Business Po/icy in Growing Firms , Chandler, 1967.
BURNS, J., «Effective Management of Programs», in J. W. Lorsch and P. R. Lawrence
(eds.), Studies in Organization Design, Irwin-Dorsey, 1970.
BURNS, T., «The Directions of Activity and Communication in a Departmental Executive
Group», Human Relations, 1954: 73-97.
- , «Management in ActioD», Operationa/ Research Quarterly, 1975: 45-60.
- , «The Comparative Study ofOrganizations», in V. Vroom (ed.), Methods ofOrganizational
Research, University of Pittsburgh Press, 1967.
- , «Mechanistic and Organismic Structures», jll D. S. Pugh (ed.), Organization Theory,
Pengnin, 1971.
BURNS, T., e STALKER, G. M. The Management of lnnovatton , 2.' ed., Tavistock, 1966.
Utilização autorizada.
CAPLOW, T., «Rurnors in wan>, ;n A. H. Rubenstein and C. J. Haberstroh (eds.), Some
Theories o/Organization, Irwin-Dorsey, 1966.
CARLSON, S., Executive Behaviour: A Study of the Work/oad and lhe Working Methods
o/ Managing Directors, Estocolmo, Strombergs, 1951.
CARTER, E. E., «The Behavioral Theory of the Firm and Top Levei Corporate Decisions»,
Administrative Science Quarterly, 1971: 413-428.
BIBLIOGRAFIA 511
CARZO, R., lR., and Y ANOUZAS, l. N., «Effects of Flat and tal Organization Structure»,
Administrative Seienee Quarter/y, 1969: 178-191.
CHANDLER, A. D., Strategy and Structure, MIT Press, 1962.
CHANDLER, M. K., and SAYLES, L. R., Managing Large Syslems Harper & Row, 1971.
Utilização autorizada.
CHANNON, D. F., The Strategy and Struclure of British Enterprise, Division ofResearch,
Harvard Graduate School of Business Administration, 1973.
- , The Strategy, Structure alld Financial Performance oflhe Service Industries, Working
Paper, Manchester Business School, 1975. Utilização autorizada.
- , Corporate Evolutiofl in lhe Service Industries 1950-1974, in L. HauDah (ed.), Corporate
Strategy and Management Organization, Londres: Macrnillan, 1976.
CHAPPLE, E. O., and SA YLES, L. R. The Measure of Management, Macmillan, 1961.
Utilização autorizada.
CHARNS, M. P., «Breaking the Tradition Barrier: Managing Integration in Health Care
Facilities», Hea/th Care Management Review, Inverno de 1976: 55-67.
CHARNS, M. P., LAWRENCE, P. R., e WEISBORD, M. R., «Organizing Multiple-Function
Professionals in Academic Medical Centers», in T1MS Studies in the Management
Seienees, 5, 1977: 71-88.
CHlLD, J., «Organizational Structure, Environment, and Perfonnance: The Role of Strategic
Choice», Soei%gy, 1972a: 1-22.
- , «Organization Structure and Strategies of Control: A Replication of the Aston Study»,
Administration Seience Quarter/y, 1972b: 163-177.
- , «Parkinson's, Progress: Accouting for the Number of Specialists in Organizations»,
Administrative Science Quarter/y, 1973: 328-349.
- , «What Determines Organizarion?» Organizationa/ Dynamics, Verão de 1974: 2-18.
- , «Comments on Donaldsoo's Note», Administrative Science Quarterly, 1975: 456.
- , «Organizational Design and Performance - Contingency Theory and Beyond»,
Organizalian and Adminislralive Seienees, Verão Outono de 1977: 169- 183.
CH1LD, J., and KEISER, A., «Organization and Managerial Roles in British and West Lamers
and D. 1. Hickson (eds.), Organisations A/ike and Unlike, Routledge e Kegan Paul, 1978.
CHILD, J., and MANSFlELD, R., «Technology, Size, and Organization Structure», SOciology,
1972: 369-393.
CLARK, B. R.. «InterorganizationaJ Pattems in Education». Administra/ive Science Querter/y,
1965-66: 224-237.
COLLINS, l. W., and OANOTlS, O. O., «Managerial Attitudes Toward Corporate Social
Responsibility)}, ln S. P. Setbi (ed.), Tire Unstable Ground: Corporate Social Policy
in a Dyllamic Society, Melville, 1974.
COLLINS, O ., e MOORE, D. O., The Organizatioll Makers, Appleton-Century-Crofts, 1970.
CONRATH, D. W., «Communications Environment and Its Relationship to Organizational
Structure)}, Management Science, 1973: 586-602. Utilização autorizada.
CRESSEY, D. R., «Achievement of an Unstated Organizational Goal: An Observation of
Prisons», The Pacific Sociological Review, Outono de 1958: 43-49.
- , «?rison Organizations)}, in J. G. Marcb (ed.), Handbook of Organizations, Rand
McNally, 1965, Cap. 24.
CROZIER, M., The Bureaucratic Phenomenoll, trad. inglesa, University of Chicago Press,
1964. Utilização autorizada.
CUMMINGS, L. L., e BERGER, C. l., «Organization Structure: How Does It Influence
Attitudes and Performance?) Organizational Dynamics, Outono de 1976: 34-34.
CYERT, R. M., e MARCH, l. G., A Behaviora/ Theory of the Firm, Prentice-Hall, 1963.
DALTON, M., Men Who Manage, Wilwy, 1959.
DAVIS, K., «Management Communication and the Grapevine», Harvard Business Review,
Setembro-Outubro de 1953: 43-49.
512 ESTRUTURA E DfNÂMJCA DAS ORGANIZAÇÕES
INKSON, J. HG. K.; PUGH, D. S.; e Hickson, D. J., «Organization, Context and Structure:
An Abbreviated Replicatioll», Administrative Seienee Quarterly, 1970: 318-329.
IVANCEVICH, J. M., e DONNELLY J. H., lR. , «Relation of Organizational Structure to lob
Satisfaction, Anxiety-Stress, and Performance», Administrative Science Quarter/y,
1975: 272-280.
JACOBSON, E., e SEASHORE, S. E., «Communication Practices in Complex Organizations»,
Journal of Social Issues, 1951: 28-40.
JAY, A., Management and Machiave//i, Penguin, 1970. Utilização autorizada.
JENNERGREN, L. P., Decentralization in Organizations, Working Paper, Intemational
lnstitute ofManagement, West Berlin, 1974; Handbook ofOrganizational Design, W.
H. Starbuck and P. Nystrom (eds.).
KAST, E. E ., e ROSENZWEIG, J. E'J Organizational and Management: A Systems Approach,
McGraw-Hill, 1970.
KATZ, D., e KAHN, R. L., The Social Psyehology of Organizations, Wiley, 1966.
KAUFMAN, H., The Forest Ranger: A Study in Administrative Behavior, Johns Hopkins
Press, 1960.
KAUFMAN, H., e SEIDMAN, O., «The Morphology ofOrganization», Administrative Science
Quarterly, 1970: 439-445.
KELLER, R. T.; SLOCUM, J. W., JR.; e SUSMAN, G. l., "Uncertainty and type ofManagement
System in Continuous Process Organizations», Academy of Management Journal, 1974:
56-68.
KHANDW ALLA, P. N., Report on the lnfluence of the Tecno-Economic Environment on
Firms 'Organization , McGill University, 1971. Utilização autorizada.
- , «Tbe Effect of Different Types of Competition on tbe Use of Management Controls» ,
Journal of Aeeounting Researeh, 1972: 275-285.
- , «Effect of Competition on the Structure of Top Management Control», Academy of
Management Journal, 1973a: 285-295.
- , "Viable and Effective Organizatiooal Designs of Firms», Academy of Management
Journal, 1973b: 481-495.
- , «Environment and «Optimal» Design of Organizations», Productivity, 1973c: 540-552.
-,«Mass Output Orientation of Operations Tecbnology and Organizational Structure»,
Administrative Science Quarter/y, 1974: 74-97. Utilização autorizada.
- , «Organizational Design for Cbange», Learning Systems, Conceptual Reading 5. Nova
Deli, Índia, 1976.
- , The Design of Organizations, Harcourt Brace Jovanovich, 1977.
KIMBERLY, J. R., «Organizational Size and tbe Structuralist Perspective: A Review,
Critique, and Proposab), Administrative Science Quarter/y, 1976: 571-597.
KLAHR, D., e LEAVITT, H. J., «Tasks, Organization Structures, Computers, Programs»,
in C. A. Myers (ed.), The Impaet of Computers on Management, MIT Press, 1967.
KLATZKY, S. P., «Relationship of Organizational Size to Complexity and Coordinatioll»,
Administrative Science Quarter/y, 1970: 428-438.
KNIGHT, K., «Matrix Organization: A Review», The Journal of Management Studies,
1976: 111-130.
KOCIlEN, M., e DEUfSCH, K. W., «Toward a Rational TheOl)' ofDecenlralization: Some Implications
of a Mathemarical Approacll», American Politicai &ience Review, 1969: 734-749.
- , «Decentralization by Function and LocatioO», Management Science. 1973: 841-855.
KOVER, A. J., «Reorganization in ao Advertising Agency: A Case Study of a Decrease
in lntegratioll» , Human Organization, 1963-64: 252-259.
KUHN, T. S., The Structure of Scientific Revolutions, 2. a ed. University of Chicago
Press, 1970.
LANDSBERGER, H. A., «The Horizontal Dimension in Bureaucracy», Administration Science
Quarterly, 1961-62: 299-332.
516 ESTRUTURA E DINÂMICA DAS ORGANIZAÇÕES
controlo externo das divisões, 445-452 Estrutura mais simples (híbrida) , 338
desempenho social, 451·453 Estrutura matricial, 194-20 1, 202-207
descrição da estrutura básica, 410-420 e empresa multinacional, 477
dimensão como factor, 427-429 fase no desenvolvimento estrutural, 269,
dispersão de, 421-422, 426-427 276-277
dispersão dos serviços de apoio, 419 forma permanente, 197-198
diversidade de mercados, 421-425, 426 forma temporária, 198-200
divisões: na Adhocracia, 457
estrutura das , 413-415 Estrutura matricial permanente, 197-198
poder das, 415-420 Estrutura matricial temporária, 198-200
e descentralização, 414-415 Estrutura múltipla-divisionalizada (tipo), 428
e General Motors, 415, 432-433 Estrutura Orgânica, 110-111
esboço do livro, 31 -34 definição, 110-111
estruturas híbridas, 498-499 e automatização, 294-296
com a Adhocracia, 475-479 e estabilidade do ambiente, 300-301, 304-306
com a Burocracia Mecanicista, 422-425, na Adhocracia, 458-460
426, 430, 432, 434-438 na Estrutura Simples, 335-336
com a Burocracia Profissional, 427 (ver também Formal ização do
com a Estrutura Simples, 426 Comportamento)
factores de contingência, 421-430, 493 Estrutura plana, ver Forma da superestrutura
fases do desenvolvimento estrutural, 269- Estrutura Simples, 335-343, 496-499
-277 características principais, 335, 492-493
fonnação da estratégia na, 416-417, 444-445 condições da, 337-341
idade como factor, 427-429 descrição da estrutura básica, 335-337
introdução, 332, 409-410 e esquema, 338
moda como factor, 324-325, 430 e produção em contínuo automatizada, 484
parâmetros de concepção, 410-415 estruturas híbridas, 498-499
poder, problemas de concentração de, 453- com a Adhocracia, 338
-456 com a Adhocracia Operac ional, 479
poder como factor, 429-430 com a Burocracia Mecanicista, 360
questões associadas com, 442-456 com a Burocracia Profissional, 400
rigidez do sistema de controlo, 440-442 com a Estrutura Divisionalizada, 426
sede, papel e poder da, 415-420, 446-451 factores de contingência, 335, 337-341, 493
sistema técnico, 425-426 formação da estratégica na, 336, 376, 377
tendo como origem a aglomeração, 428 funcionamento da, 335-337, 492-493
tipos, 499 introdução, 330, 335
transições de, 498-499 parâmetros de concepção, 335, 336-337, 492
transições para, 498-499 questões associadas com, 341-343
fases nas, 430-442 supervisão directa, 336
utilização governamental de, 429-430 tipos, 498
utilização para além do sector privado trabalho de gestão na, 336-337, 352
(a propriedade da sua), 455 transições de, 498-499, 504
vantagens económicas, 442-446 transições para, 498-499, 505
Estrutura Divisionalizada Personalizada (tipo), vértice estratégico, 336
427 Estruturas híbridas, 338, 360, 400, 422, 426,
Estrutura Divisionalizada Socializada 479, 498-499
(estrutura híbrida), 427 Estruturas pontiagudas, ver Forma da
Estrutura em mudança, 88-89 superestrutura
Estrutura formal, 27, 29, 58, 66, 74 Etzioni, A. (1959), 389, 391, 392, 393;
Estrutura híbrida funcionaUdivisional, 308, (1961), 122
422, 425, 436 Exemplos de configurações, ver Tipos de
Estrutura informal, 28, 29, 58, 66 configurações
Estrutura Integrada (tipo), 432-433 Êxodo, 47
ÍNDICE REMISSIVO 529
N p