Você está na página 1de 10

ESPECIAL

saberes
Com quais

se constrói uma prática?


“Sabe, prô... eu não consigo aprender bem com a mãe...
Ela não é igual a você, você tem as manias de prô,
a minha mãe não tem, ela trabalha no restaurante;
ela só tem a mania de fazer comida.”

Sonia Madi

A epígrafe que você acabou de ler é a fala de um aluno,


por telefone, para sua professora na época em que ele
estava isolado em casa em função dos cuidados com a
pandemia do Coronavírus (COVID-19). Ao escolhê-la para
iniciar esse texto pretendo refletir sobre as “manias” que a
professora tem para ensinar que ajudam o menino a aprender.
Será a maneira como ela explica as lições? A atenção que
dedica a ele? O desafio proposto nas tarefas? Como ela o
Sonia Madi é mestre em
Didática pela Faculdade de motiva para aprender? São muitos os saberes de uma pro-
Educação da Universidade de fessora, seu aluno consegue reconhecê-los e fazer uma linda
São Paulo (USP), coordenadora declaração de competência que percorreu os caminhos da
e idealizadora da Olimpíada internet sendo compartilhado de tela em tela até chegar a mim.
de Língua Portuguesa de 2002 Vamos refletir junto com vocês, professores, os múltiplos
a 2016. Foi coordenadora
saberes envolvidos em sua prática pedagógica. Nossa refle-
pedagógica e diretora da Rede
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

Municipal de Ensino de São xão será embasada nos estudos de Maurice Tardif, professor
Paulo e coordenou processos titular da Universidade de Montreal, com experiência em
de reorientação curricular. Filosofia da Educação e em Teoria da Educação, que debulhou

12
os saberes dos professores, separou-os um a um, elegendo o
saber da experiência como o mais ilustre de todos, pois nele
se amalgamam todos os outros. Vamos também nos inspirar
em trechos literários, nos quais autores reconhecidos relem-
bram modos de ser e de ensinar de seus professores, propor-
cionando explorar e aprofundar a compreensão dos saberes
desses professores e relacioná-los com os explicados por
Tardif, para ajudá-los a apurar o olhar sobre suas práticas e
identificar nuances que antes passavam despercebidas.

■ Autores renomados, seus professores e saberes

T odos nós tivemos professores que marcaram nossa traje-


tória, aqui vamos fazer pequenas passagens literárias de
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

escritores reconhecidos publicamente sobre a convivência


com seus professores e seus saberes, entre eles José Saramago,
Ana Maria Machado e Içami Tiba.

13
Primeira passagem literária

O saber
profissional
J osé Saramago, Prêmio Nobel de Litera-
tura em 1998, nascido em uma provín-
cia de Portugal, filho de camponeses, in-
Não estamos aqui julgando o compor-
tamento da professora de Saramago, mas
colocaremos o foco no saber profissional,
terrompeu seus estudos por dificuldades aquele modo de organizar a sala de aula
financeiras, exerceu diversas atividades que ela aprendeu ao longo de sua história
profissionais e só a partir de 1976 viveu de vida, desde quando era aluna, até as
exclusivamente da literatura. Em seu li- técnicas de domínio de classe apresenta-
vro As pequenas memórias, ele recorda as das em sua formação inicial e continuada.
primeiras experiências com a escrita e diz Hoje, alguns pontos podem ser discuti-
que mal sabia soletrar, quando “identifi- dos, entre eles, o fato de que dificilmente
cava na escrita de um jornal uma palavra encontraríamos um professor organizando
que conhecesse era como encontrar um a classe em fileiras homogêneas, o que de-
marco na estrada a dizer-me que ia bem”. monstra que os saberes são temporais, tor-
Saramago lembra-se de que nos pri- nando compreensível que muitos mestres
meiros dias em uma nova escola, “a pro- em uma determinada época tenham um
fessora da segunda classe, que ignorava mesmo valor, agindo todos de modo seme-
até onde o recém-chegado teria acedido lhante. Mas isso não é determinante, e outro
no aproveitamento das matérias dadas e ponto a ser analisado é a experiência de um
sem qualquer motivo para esperar da mi- professor que viveu como aluno a história
nha pessoa quaisquer assinaláveis sabe- da classe organizada dessa forma, podendo
dorias [...] mandou-me sentar entre os reproduzir os gestos de sua professora, mas
mais atrasados, os quais, por virtude da ao lembrar-se do mal-estar que sentiu, busca
disposição da sala, ficavam numa espécie novas formas de atuar. Mais um ponto a ser
de limbo, à direita da professora e de frente considerado é que no início da carreira os
para os adiantados que deviam servir-lhe professores têm necessidade de dar provas
de exemplo” (Saramago, 2006, p. 93). Em de sua capacidade para sobreviver profis-
seguida ele conta sobre o dia em que foi sionalmente. Então, os truques de ofício, as
convidado a sentar-se no lugar dos sabi- rotinas, os modelos de gestão da classe,
dos, a felicidade e o orgulho que sentiu, e correm o risco de se transformar precoce-
o incômodo por compreender a tristeza mente em certezas.
dos colegas que permaneciam no limbo. Olhando para esses pontos reconhece-
“E foi aqui, agora que o penso, que a his- mos que alguns professores passam toda a
tória da minha vida começou” (idem). carreira aferrados em crenças, sem modi-
Essa história foi contada quando o Pen ficar suas práticas. Nesse contexto, se assim
Clube atribui a Saramago o prêmio pelo fosse, as formas de ensinar se perpetuariam:
romance Levantado do chão, quando ele “Aprendi assim, ensino assim!”. Mas eles
disse: “Contei esta história para assegurar também mudam por outros fatores. Vamos
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

às pessoas presentes que nenhum mo- entender que fatores são esses que contri-
mento de glória presente ou futura pode- buem para que um saber profissional se
ria, nem por sombras, comparar-se àquele” atualize, acompanhando o ritmo do grupo
(idem, p. 94). social e o que é valorizado em cada época.

14
Por ser a carreira profissional um processo de longa
duração, ela passa por diversas fases e mudanças. Muitas
delas vêm da necessidade de os professores se identificarem
com seus grupos de trabalho e com as instituições em que
atuam. Os modos de atuar que constroem ao longo da vida
profissional lhes confere um saber não apenas pessoal, mas
também social.
Se em um determinado momento histórico as formações
iniciais e continuadas e os programas oficiais passam a estu-
dar autores que valorizam as interações entre os alunos, as
práticas se modificam. Dessa forma, os professores passam a
organizar seus alunos em pares ou em grupos, escolhendo
aqueles que devem trabalhar juntos, porque têm competên-
cias diferentes e os que sabem mais podem orientar os menos
experientes; e, em outro momento, por ter outros objetivos,
organiza os alunos para se desafiarem em pares, com grupos
mais homogêneos. Esses saberes estão mobilizando o que
Tardif chama de saber profissional, aqueles conhecimentos
que se referem ao modo de ser professor.
Nós, professores, sabemos que o saber profissional vai
muito além de organizar a turma. Faz parte desse conjunto
de saberes os métodos de ensino, as estratégias, as sequên-
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

cias didáticas, os materiais pedagógicos, as recomendações


psicológicas etc. Todos eles construídos ao longo de nossa
formação inicial e continuada, cristalizando-se em crenças
que constituirão o saber fazer.

15
Segunda passagem literária

O saber
curricular
V amos a outra passagem literária, dessa
vez para iluminarmos o que são os
saberes curriculares e como eles são utili-
zados pelos professores para ensinar seus
alunos, falamos aqui dos conceitos, noções,
ideias, enfim dos conteúdos que fazem parte
dos programas escolares.
As instituições educacionais (órgãos
governamentais, secretarias de Educação)
selecionam entre os conhecimentos cons-
truídos pela cultura aqueles que devem ser
ensinados às novas gerações (PCNs a
BNCC) e o professor busca uma maneira
de tratá-los, transformando-o em objeto de
ensino e colocando-o ao alcance de ser
compreendido pelos alunos.
Neste caso a aluna é Ana Maria Macha-
do, escritora renomada, com cadeira na
Academia Brasileira de Letras e pós-gra-
duada em Paris, com Roland Barthes, na
École Pratique des Hautes Études. Ao lem-
brar-se de seus maravilhosos professores
da Faculdade de Letras (Universidade de
São Paulo), cita Alceu Amoroso Lima, en-
tusiasmado, vibrante e com eterna juven-
tude incendiava seus alunos com sede de
justiça e amor à palavra, e relembra uma
passagem: “Dando uma aula sobre Eucli-
des da Cunha, seguia a descrição do texto,
ia imitando o andar do sertanejo e se trans-
formava no personagem. [...] Uma vez pe-
diu que levássemos um violão e deu aula
de poesia ao som de música” (Machado,
2002, p. 59).
Seu professor, Alceu Amoroso Lima,
com certeza já havia lido Os sertões, conhe-
cia muito o autor, Euclides da Cunha,
tinha dele um saber disciplinar: a corrente
política e literária que seguia, os recursos
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

estilísticos e realistas que usava em suas


descrições, ou seja, os saberes que a socie-
dade e a cultura construíram sobre esse

16
autor ao longo do tempo. Ele escolhe alguns deles para se trans-
formarem em objeto de ensino, para que possam fazer parte de
seus objetivos com os alunos e a partir daí compor o saber cur-
ricular; é desse último que ele desenha sua didática, seu saber
pedagógico e utiliza recursos para aproximar seus alunos desse
tão importante escritor. Um exemplo disso pode ser visto no
trecho: “Seguia a descrição do texto, ia acompanhando o andar
do sertanejo e se transformava no personagem” (idem, p. 59),
esses gestos serviam para que seus alunos compreendessem
como é o sertanejo descrito por Euclides da Cunha. A mesma
transposição ocorre quando ele, para ensinar a métrica da poesia
(saber disciplinar), utiliza-se da música (saber curricular).
Todos esses saberes não são mobilizados isoladamente,
mas se amalgamam e atuam integradamente conforme a situação
concreta que o professor enfrenta. Nesse momento, interagem
em seu planejamento os conceitos que quer trabalhar, as estra-
tégias, os recursos, mas principalmente as dinâmicas individual
e coletiva, que o levam a interpretar os eventos e com relativa
segurança decidir e improvisar. É no uso desses saberes reunidos
que se constrói o saber da experiência.

Terceira passagem literária

O saber da
experiência
I çami Tiba, médico psiquiatra, autor de vários livros, conta-nos
o episódio ocorrido em uma aula de psiquiatria quando ele
era aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Essa aula era ministrada em um grande anfiteatro, logo
depois do almoço, momento em que ele sentava-se no último
degrau, para tirar uma soneca. Nesse dia, enquanto já estava
nos braços de Morfeu, repentinamente é acordado com uma
comanda do professor dizendo “Vamos fazer uma prova”.
Içami fica indignado, surpreso se levanta e começa a argu-
mentar com o professor tentando demovê-lo de fazer a prova. O
professor diz que isso tinha sido avisado na aula anterior.
O aluno vai gradativamente descontrolando-se e enfrentando o
professor, que também o encara, acusando-o de não prestar
atenção na aula. O clima vai esquentando, gestos de dedo em
riste, palavras como “injustiça”, “ser trouxa”, “sentir-se desau-
torizado”, “você não pode falar assim comigo” deslizam para o
campo pessoal, até que no auge dos ânimos inflamados e com
a classe toda encorajando o aluno ele desce muito bravo e
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

resolve enfrentar o professor, que sobe no estrado. Para vocês


terem uma ideia do clima bélico vou transcrever um trecho dito
pelo professor: “Só porque você deu aula de judô aqui no

17
hospital pensa que é muita coisa? Você não passa de um reles e agora
insignificante aluno!”; e outro, do aluno: “Quem é você para me tratar
assim? Nem meu pai fez isso comigo, agora vem você [...] Com o
meu coração a mil por hora, transpirando, com a boca seca, as mãos
fechadas, prontas para lhe desferir aquele mortal soco naquele queixo
que, aliás, já estava me apetecendo” (Tiba, 2002, pp. 113-114).
O clima ficou pesado demais, a classe toda no maior silêncio,
quando o professor retoma o controle da situação e chama a atenção
para os sinais físicos do descontrole, anunciando sua aula sobre
Agressividade.
Esse episódio ilustra muito bem como os saberes do professor
em questão foram mobilizados.
O assunto da Agressividade com certeza fazia parte do currículo
do curso (saber curricular) e o professor pode ter criado uma situa-
ção para exemplificar esse conceito provocando as reações físicas no
aluno (saber da experiência), sim, esse pode ter sido um método de
ensino. Içami em seu relato agradece a saída honrosa que preservou
o ego de todos.

■ Os saberes e a prática

S erá que é simples assim? Será que os professores são sempre obje-
tivos e operam com a razão e a cognição? Será que se o professor
não estivesse tomado de emoção conseguiria despertar teatralmente
uma emoção desorganizadora em seu aluno? Podemos incluir outros
argumentos. É possível que o professor já tivesse se irritado com
o aluno por percebê-lo displicente e desatento em muitas de suas
explanações e se controlou por muitas vezes até que encontrou
oportunamente uma chance para expressar sua insatisfação. Talvez
não esperasse que o clima fosse esquentar tanto, e torcia para que
aparecesse entre os colegas um que pusesse água fria na fervura.
É o saber da experiência que possibilita a esse professor anteci-
par o desastre que seria para ele e para o aluno dar ainda mais vazão
à irritação e violentamente ter um enfrentamento físico, ao invés dis-
so, reflete sobre sua ação e recupera a razão a tempo de antecipar
eventos futuros. Faz parte desse mesmo saber a capacidade de esta-
belecer relações e buscar uma saída que recupere sua autoridade e
seu papel de professor – ensinar a Agressividade, um conceito perti-
nente àquela situação. Mestre entre os alunos é a ele professor que
cabe gerenciar o conflito e encontrar uma saída que lhe autorize
a continuar ensinando. Aqui, nos defrontamos com um evento que é
situado, que emerge em um contexto onde interagem um professor
e muitos alunos, são muitas as subjetividades e muitos os papéis em
jogo, em que é possível perceber a personalidade dos atores.
Tardif analisa a subjetividade como um componente importante
do saber dos professores, rica e complexa ela pode ser compreen-
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

dida por diferentes ângulos. Escolhi, entre eles, a explicação de que


a subjetividade de um professor não se limita à cognição ou às
representações mentais, ela é muito mais ampla; composta também
de dimensão afetiva. “A maneira como um professor resolve e assume

18
ficando fora do controle, e conseguiu,
num segundo momento, dominar suas
emoções, se recompor, e voltar a seu obje-
tivo, o de ensinar os alunos.
É possível que o professor tenha refle-
tido sobre esse acontecimento e tenha
transformado sua prática possivelmente
intuitiva em prática operatória, aquela que
consegue relembrar os fatos, ordená-los e
estabelecer relações entre eles, tomando
consciência de seu modo de agir e ensinar.
É esse o movimento sugerido por Tardif
para o aperfeiçoamento dos professores
“Se os professores são sujeitos de conheci-
mento [...] devem fazer o esforço de se tor-
narem atores capazes de nomear, de objeti-
var e de partilhar sua própria prática e sua
vivência profissional” (idem, p. 240).

■ O novo saber fazer

C omo vimos, todo saber implica apren-


dizagem, não é mesmo? Pois bem,
voltando ao aluno da nossa epígrafe, perce-
bemos que nesse período em que fomos
surpreendidos por uma pandemia, estamos
sendo desafiados a incorporar novas con-
quistas à nossa experiência. Juntos, profes-
sores e alunos, temos que construir novos
caminhos para ensinar e aprender a distân-
cia, longe do ambiente escolar, sabendo
que para muitos essa prática é quase impos-
sível, pois depende das novas tecnologias,
muitas vezes inacessíveis.
os conflitos de autoridade na sala de aula Embora todos os saberes sejam tem-
com os alunos não pode se reduzir a um porais e necessitem de renovação cons-
saber instrumental, mas envolve inevitavel- tante, nesse momento estamos impelidos
mente sua própria relação com a autoridade, a encurtar o tempo de aprender. A crise
relação essa que é necessariamente marcada do Coronavírus impôs à sociedade muitas
por suas próprias experiências, seus valores mudanças e uma delas é a de que os alu-
e suas emoções” (Tardif, 2002, p. 232). nos continuem aprendendo e nós somos
os responsáveis para que isso aconteça.
■ O prático reflexivo Movidos pelo compromisso profissional
estamos construindo novas competên-

A ssim como o professor de Içami Tiba,


nós professores muitas vezes nos en-
cias, a prática social mudou e os novos
tempos exigem um novo saber fazer. Su-
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

contramos em contextos desafiadores, perando dia a dia nossos limites, vamos


que necessitaram encontrar saídas origi- refletir como isso ocorreu e ocorre.
nais. O professor foi sábio, percebeu suas Mais do que nunca estamos aprenden-
reações subcorticais, ou seja, que ele estava do enquanto ensinamos e com isso podemos

19
nos aproximar mais de nossos colegas, al-
guns mais familiarizados com a tecnologia,
outros disponíveis para explicar, ensinar,
há ainda aqueles que olhávamos desconfia-
dos, a distância, e tivemos a oportunidade
de reconhecer seus saberes, outros ainda
apresentam habilidades de designer digital
e nos oferecem com prazer suas competên-
cias, há aqueles que navegam muito bem
por blogues e sites e nos mostram o cami-
nho; alguns dominam as ferramentas digi- da comunidade. E é aqui que se reúnem
tais, mas há aqueles que se aproximaram dois modos de ser importantes para o de-
das famílias, como se vê são infinitas as pos- senvolvimento profissional: reconhecer que
sibilidades de ação. Enfim, é uma chance não se sabe tudo e recorrer ao Outro para
de ouro para que se instale o trabalho cola- pedir ajuda. É nesse momento que se fica a
borativo entre os mestres. Reconhecemos par das práticas, das vivências, em suma,
que o ensinar a distância não conseguimos da experiência.
fazer sozinhos, se oficializa a necessidade de Os saberes se somam, se subtraem e se
ajuda, caem as defesas. Podemos assumir acumulam durante nossa trajetória profis-
sem constrangimento o não saber e reco- sional. Cada uma das nossas experiências
nhecer o quanto o Outro ajuda na constru- pessoais e profissionais contribuem para a
ção da aprendizagem. E, também, quem maneira como somos professores na atuali-
sabe, nos darmos conta de que podemos dade. Você que é leitor da revista Na Ponta
contribuir para a aprendizagem de um cole- do Lápis e tem a oportunidade de visitar o
ga. Instala-se uma troca rica e promissora. Portal Escrevendo o Futuro pode conhecer
Outro ponto a ser considerado é que o muitos relatos de prática. Neles os professo-
saber e o fazer do professor ao usar ferra- res fazem o que propõe Tardif: objetivam
mentas digitais estão registrados e, mais seu saber fazer e dessa forma conseguem ter
que isso, sendo publicados. É uma expe- algum controle sobre sua atividade, parti-
riência ímpar escrever para ser lido e por lhar com seus companheiros suas práticas e
esse motivo buscar clareza, escrever com se legitimar como mestres. Retome alguns
sentido, organizar o pensamento para que desses relatos com o objetivo de identificar
a escrita seja compreendida pelo leitor. E os saberes que estão ali expressos. Reconheça
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

se isso inicialmente causa medo, foi preciso no seu modo de ser professor o percurso em
buscar coragem e apoiar-se nas potências que esses saberes foram construídos e reve-
para objetivar nossa prática e enfrentar a rencie seus mestres e seus alunos, pois eles
leitura e a avaliação dos colegas, dos pais, constituem sua consciência.

20
Saberes docentes
A prática docente é plural e complexa e se compõe de saberes de muitas naturezas.
Para Tardif os saberes estão divididos em quatro tipos, que estão relacionados
com a atividade docente e apresentamos neste quadro (cf. Cardoso et al, 2012).

A Saberes
da formação profissional C Saberes
disciplinares
Faz parte desse grupo os saberes baseados Os saberes provenientes desse
nas crenças da educação e transmitidos grupo se referem aos campos do
aos professores ao longo de seu processo conhecimento (linguagem, ciências
de educação. São os conhecimentos exatas, humanas, biológicas etc.).
pedagógicos, não apenas as estratégias Dos saberes produzidos e acumulados
usadas pelos professores para ensinar os pela sociedade ao longo da história
conteúdos, como também os planejamentos, serão extraídos aqueles que devem
as sequências didáticas, os materiais ser ensinados aos alunos.
pedagógicos etc. Acrescenta-se a tudo isso a
história do professor desde quando era aluno
até os métodos de ensino e as técnicas que
aprendeu ao longo de sua formação. D experienciais
Saberes
É no exercício da atividade profissional,

B Saberes
nas vivências individuais e coletivas que
o professor desenvolve suas habilidades,
curriculares competências, o seu saber de saber
As instituições educacionais buscam fazer fazer. Eles se desenvolvem no cotidiano,
a gestão dos conhecimentos acumulados em situações concretas que dependem
pela ciência, transformando-os em objetos de sua capacidade de interpretar os
de ensino e organizando-os em programas, eventos, de sua segurança em decidir e
objetivos, conteúdos, e em dificuldades improvisar. Em meio a essas vivências
crescentes ao longo dos anos escolares. que ocorrem no espaço da escola e das
As escolas e seus professores procuram relações estabelecidas com alunos e colegas
dar sentido a esses conhecimentos e de profissão que esses saberes vão se
torná-los acessíveis aos alunos. consolidando e se transformando.

Referências
CARDOSO, Aliana Anghinoni; DEL PINO, Mauro Augusto Burkert; DORNELES, Caroline Lacerda. “Os saberes profissionais
dos professores na perspectiva de Tardif e Gauthier: Contribuições para o campo de pesquisa sobre os saberes
docentes no Brasil”. IX ANPED SUL – Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul, 2012. Disponível em
<http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/668/556>.
MACHADO, Ana Maria. “Um ABC de mestres”, in: FANNY, Abramovich. Meu professor inesquecível. São Paulo: Gente, 1997.
Na Ponta do Lápis – ano XVI – nº- 35

SARAMAGO, José. Pequenas memórias. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
TIBA, Içami. “Mestres e professores”, in: FANNY, Abramovich. Meu professor inesquecível. São Paulo: Gente, 1997.

21

Você também pode gostar