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Didática do Ensino Superior

O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade


e Profissão Docente

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Rita Maria Lino Tarcia
Prof.ª Me. Jane Garcia de Carvalho
Prof.ª Me. Júlia de Cássia Pereira do Nascimento

Revisão Textual:
Prof.ª Me. Selma Aparecida Cesarin
O Contexto do Ensino Superior: Educação,
Sociedade e Profissão Docente

Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:

Fonte: Thinkstock
• Introdução
• Como o conhecimento é produzido?
• Visão da Sociedade
• Sociedade contemporânea - Sociedade do conhecimento
• Definição de Conhecimento
• Contexto atual e as novas relações com o saber
• Final do monopólio das IES – Instituições de Ensino Superior
• Ciclo de Renovação do Conhecimento
• Novas relações no Trabalho
• Ciberespaço e Tecnologia
• Educação a distância
• Conclusões voltadas para o Ensino Superior

·· Análise crítica do papel da didática e da prática de ensino na formação inicial e


continuada do professor que atuará neste nível de ensino.

Normalmente com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último
momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado
ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá
escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e
determinar como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de
materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão
o pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca
de ideias e aprendizagem.

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Contextualização

Você já parou para pensar nos avanços ocorridos na Educação, por conta das transformações
verificadas na Sociedade e no modo de pensar de seus integrantes?
Leia a poesia a seguir e compare, assim como o autor, a Educação antiga e a moderna.
Encontramos muitas diferenças? Inovações? Ou será que continuamos a ensinar e aprender
da mesma forma?

A discussão do ensino antigo com o ensino moderno

Eu venho dos opressores; Eu sou um ensino novo,


Nasci de um regime austero! Nasci da necessidade
Com cediços professores Da integração do povo


Venho ensinar o que eu quero. Moderno À sua sociedade.
Tiro do livro a lição Debato, ensino e aprendo,
Antigo

E imponho uma educação Pesquiso em vídeos ou lendo


Puramente radical. Em jornal, livro ou revista.
Sou mestre e não sou amigo; Serei seu amigo eterno,
Eu sou o ENSINO ANTIGO; Me chamo ENSINO MODERNO,
Me chamo TRADICIONAL! Sou INTERACIONISTA!

Na minha concepção, Eu escuto e incentivo,


Na classe aluno não fala. Dou-lhe vez e o oriento;
Por falta de educação Entendo que ele, ativo,


É logo expulso da sala! Tem mais aproveitamento.
Moderno

Afinal de contas eu Ensino-lhe o que me cabe,


Antigo

Não posso perder o meu Aproveito o que ele sabe,


Tempo com coisas banais. Não sou mero professor.
Aluno é só para ouvir, Estimulo o seu progresso.
Fazer o que eu sugerir, Portanto, neste processo
Ser passivo e nada mais. Eu sou um mediador.

Eu inicio e concluo Eu pesquiso; eu examino


Criticando aos reprovados, Qualquer possibilidade
Pois sou correto, possuo Que possa unir o ensino


Programas pré-fabricados. À sua realidade.
Moderno

Para aluno inteligente O aluno constrói temas;


Antigo

O livro é suficiente, Eu esclareço os problemas,


Conversa, enfim, não tem graça. Preparando-lhe pra vida.
Eu lanço a educação, Além da educação,
Ensino, tomo a lição; A escola é a extensão
O restante, ele que o faça! Do seu lar; da sua lida.

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Nos tempos que já se somem Asseguro, no presente,
Eu disse, com o MOBRAL, Que ele tem outras razões;
Que tem que ter pátria, o Que precisa urgentemente
homem, Desenvolver profissões.
Educação e moral.
→ Assim, criei disciplinas

Moderno
Antigo
Que a educação primária Onde ele tem oficinas
É meta prioritária: Pra lapidar seu talento.
Se o aluno assina o nome Quando já possui a prática,
Já é cidadão e vota, Com a ajuda da didática
A vida muda de rota Seu sucesso é cem por cento.
E não morrerá mais de fome


E assim vou seguindo aos poucos
Construindo a minha história:
Sem mentir, sem fazer loucos,
Sem ferir, sem palmatória.
Moderno

Dentro da necessidade
De cada comunidade
Quero orientar meu povo,
Torná-lo culto e feliz
LEVANDO A TODO O PAÍS
A LUZ DO ENSINO NOVO.

Fonte: Alfrânio de Brito. A discussão do ensino antigo com o ensino moderno.


Campina Grande. Outubro de 2000. <http://goo.gl/MnY3gi>. Acesso em: dez. 2010.

Ficou curioso(a) quanto a estas mudanças? Sobre o contexto no qual toda a Educação e,
portanto, o Ensino Superior está inserido?
Então, vamos aos estudos!

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Introdução

Você deve saber que os egressos de cursos de Pós-Graduação lato sensu podem
desenvolver a atividade docente no Ensino Superior. Essa seria a qualificação mínima exigida
pelo CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO para que o Professor possa atuar no Ensino
Superior em nível de graduação, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
LDB nº 9.394/96.
Há, portanto, amparo legal para a docência universitária, aos egressos dos programas lato
sensu, conforme ressalta a LDB. Vamos conhecê-los melhor?
TÍTULO V
Capítulo IV
Da Educação Superior
Art. 52 As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos
quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio
e cultivo do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamentado pelo
Decreto n. 2306/97)
I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos
temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural,
quanto regional, e nacional;
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação acadêmica de
mestrado ou doutorado; [...] 1
TÍTULO VI
Dos Profissionais da Educação
Art. 66º. A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível
de pós-graduação, prioritariamente2 em programas de mestrado e doutorado.

É preciso que os futuros docentes possam sentir-se capazes de atuar de acordo com
as necessidades da sociedade atual, entendendo o contexto no qual se insere o Ensino
Superior, seu papel como professor universitário, a competência que lhe é exigida e
todas as relações que se estabelecem entre professores e alunos, assim como estar apto
a trabalhar as ligações entre o que se vive na instituição e as experiências do dia a dia,
fora do ambiente de ensino.

Por este motivo, nesta unidade, vamos discutir o contexto no qual se insere o Ensino Superior.

1 Grifo nosso.
2 Idem.

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Como o conhecimento é produzido?

Ao pensarmos nos futuros professores e em sua atuação, vale a pena alertar para
características importantes, como o conhecimento que é produzido no Ensino Superior e
nosso papel como educadores neste nível de ensino.

Visão da Sociedade

Não é possível definir um modelo de Sociedade ideal como produto final da ação e da
evolução humana.
O que se considera é em termos de tendências gerais, ou seja, a otimização
do comportamento individual e do comportamento coletivo, sendo que esse
último se refere particularmente à organização social e política da sociedade
(MIZUKAMI, 1986, p.63).

Nesse caso, tais tendências podem definir inúmeras possibilidades e direções para a ação
educativa. O fato é que toda intervenção no âmbito da educação gera desequilíbrio e, segundo
Piaget, a aprendizagem acontece no movimento natural de superação do desequilíbrio em
direção à reequilibração.
Mesmo diante do progresso comprovado em muitas áreas da Ciência, os desafios do
mundo atual tornam-se ainda maiores. Identificam-se nas tendências globais vários processos
concorrentes e, algumas vezes, até contraditórios, de: democratização, globalização,
regionalização, polarização, marginalização e fragmentação, entre outros. Todas as novas
tendências interferem nas decisões pedagógicas e no desenvolvimento da prática docente e
pedem respostas coerentes e adequadas.
Igualmente importantes são as mudanças imperativas de desenvolvimento
econômico e tecnológico e as modificações nas estratégias de desenvolvimento;
que deveriam procurar um desenvolvimento sustentável humano, em que o
crescimento econômico servisse ao desenvolvimento social e assegurasse um
meio ambiente sustentável (UNESCO, 1999, p.12) .

Cabe à Educação a busca de soluções para as novas situações problema que surgem dos
diferentes processos vivenciados pelas sociedades atuais. Considerando as contribuições de
Paulo Freire (1997), o homem cria a Educação e a cultura na medida em que, integrando-se
nas condições de seu contexto de vida, reflete e busca respostas aos desafios que encontra.
Nesse ponto reside a ação educacional que busca soluções para os desafios impostos pelo
contexto sócio-histórico deste novo milênio.
Segundo Peter Drucker (1997), o principal recurso das sociedades atuais é o conhecimento
e os grupos sociais mais importantes serão constituídos pelos trabalhadores do conhecimento;
por esse motivo, o autor caracteriza essa sociedade como a do conhecimento.

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Pierre Lévy (1999), filósofo contemporâneo, acredita que nesta sociedade dinâmica e
desafiadora em que vivemos atualmente, o conhecimento passa a ser fruto do coletivo e,
tendo passado pela expansão física na superfície do Planeta, a Humanidade tece agora uma
enorme rede digital que aos poucos conecta tudo a todos, as culturas nacionais perdem seu
limite geográfico e fundem-se em uma cultura globalizada.
Para finalizar a visão de Sociedade, trazemos as contribuições de Edgar Morin (2000). Ele
salienta a necessidade de compreensão da História nessa era planetária que se expressa pelo
estabelecimento da comunicação entre todos os pontos da superfície da Terra, e de percepção
de que todas as partes do mundo tornam-se solidárias diante da crise que marca o século XXI. A
crise planetária na qual “todos os seres humanos confrontados de agora em diante aos mesmos
problemas de vida e de morte, partilham um destino comum” no Planeta (MORIN, 2000, p.16).

Sociedade contemporânea – Sociedade do conhecimento

O mundo moderno caracterizou-se por sua racionalidade. Todas as ações deveriam ser
racionalmente elaboradas, baseadas nas leis universais, as quais regiam todos os indivíduos,
independente de suas diferenças. Um mundo limpo e organizado para todos.
Neste contexto, o conhecimento surge como uma representação fiel do mundo, como se
fosse uma fotografia, que mostrasse exatamente o que estava ocorrendo. Havia nesta área a
presença de taxonomia, ou seja, as pessoas assim como coisas eram classificadas por categorias
consubstanciadas em normal ou patológico. Neste tipo de pensamento e organização do
conhecimento, não havia lugar para dúvidas, pois o objetivo era uma verdade única para todas
as coisas e que regesse as ações de todas as pessoas.
O mundo pós-moderno trouxe a novidade da globalização. Todos se comunicavam e as
informações eram interligadas, surgiam dúvidas, encontravam-se soluções. A comunicação
global trouxe novos contextos aos quais as pessoas foram aos poucos se adaptando.
O conhecimento passa a ser construído a partir da visão da realidade e não mais
aceito como algo catalogado. A realidade não é única, ela é múltipla, feita de contrastes
e com isso o conhecimento deixa de ser uniforme, pois cada realidade pede uma forma
de pensar. As ciências passam a pesquisar não mais catalogando, mas utilizando o método
hermenêutico, de interpretação. E onde cabe interpretação, cabem diferenças, pois cada ser
humano é único, sendo sua interpretação também única, de acordo com os conhecimentos
adquiridos e acumulados.
Surge então um novo tipo de sociedade, a Sociedade do Conhecimento, na qual deter
conhecimento significa também deter o poder e a soberania. Privilegia-se o domínio do
conhecimento científico e tecnológico, trazendo à sociedade que o detêm inovações,
descobertas e maior desenvolvimento pessoal e social, com geração de empregos, saúde e
maiores investimentos na Educação.
Com esta nova visão de Sociedade, também a Educação foi-se modificando e se interando
das novas formas de construção do conhecimento. O contexto social ficou mais complexo, as
relações humanas, especialmente entre professores e alunos, acontecem de forma globalizada,
com uma diferente interpretação da realidade. Surge a necessidade de o processo educacional

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levar em conta o fato do ser humano não ser fragmentado, constituindo-se num todo que
envolve sentimento, razão, habilidades, atitudes, valores e conhecimento. Na sociedade do
conhecimento ou da informação, as pessoas envolvidas com Educação devem se preocupar
com o desenvolvimento total dos alunos, promovendo uma real educação.
E educar nesta sociedade significa:
[...] incentivar a autonomia individual e a solidariedade, prevenir insucessos
e lutar contra as desigualdades, favorecer o ensino experimental e o espírito
científico, abrir novos horizontes, aliando a compreensão das origens e raízes à
identidade da inovação científica e tecnológica, condições essenciais à mudança
orientada para um desenvolvimento humano integral (BELLUZZO, 2005).

Por esse motivo, a sociedade do conhecimento é também chamada de sociedade da


aprendizagem, constituindo-se a escola, em qualquer nível, um local de informação, estímulo e
circulação de saberes, que poderá mobilizar-se, transformar-se e produzir novos conhecimentos.
É preciso frisar também o papel da Universidade na descoberta e construção do conhecimento.
Se pensarmos no Ensino Superior, veremos que, como Instituição, a Universidade brasileira
é muito jovem, pois tem menos de um século. A Universidade pública é mais jovem ainda, com
menos de setenta anos. Mas, mesmo assim, já contribuiu muito para a Sociedade em termos
de produção do conhecimento, para o desenvolvimento do país, na formação de profissionais
e na inclusão da comunidade interna e externa em suas ações.
A sociedade contemporânea privilegia o conhecimento na evolução das carreiras profissionais.
Neste ponto, as universidades têm papel relevante nesta produção, por serem locais de formação
profissional formal, tendo como objetivos promover a aprendizagem, a pesquisa e a divulgação das
descobertas, auxiliando a participação de profissionais de diferentes áreas na Sociedade e
colaborando com sua formação contínua.
Se assim é, a Educação, especialmente aquela desenvolvida no Ensino Superior, que
deve estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito científico e do pensamento
reflexivo, apresenta-se como elemento indispensável para que os homens possam progredir
em face de ideais de paz, liberdade e justiça social (Delors, 2003).

Definição de Conhecimento

Considerando as contribuições teóricas de Jean Piaget, o conhecimento humano é


essencialmente ativo. “Conhecer um objeto é agir sobre e transformá-lo” (PIAGET citado por
MIZUKAMI, 1986, p.64).
Ainda na perspectiva interacionista, o homem se constrói e é sujeito “na medida em que,
integrado em seu contexto, reflete sobre ele e com ele se compromete, tomando consciência
de sua historicidade” (MIZUKAMI, 1986, p.90).
A realidade desafia constantemente o homem e este responde a cada desafio de forma
original, inovadora. O conhecimento não se define como receitas ou modelos de respostas
prontas para serem reproduzidas, mas há tantas possibilidades quantos forem os desafios e as
vivências, de modo a definir várias respostas diferentes.

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Cada resposta que o homem dá aos desafios que sociedade apresenta não só modifica a
realidade, mas também transforma o próprio sujeito.
Para Mizukami (1986), a construção e o desenvolvimento do conhecimento têm relação
com o processo de conscientização, o conhecimento é elaborado a partir da relação reflexiva
entre pensamento e prática, superando, dessa forma, a dicotomia entre sujeito e objeto.
Nessa perspectiva, na sociedade do conhecimento, os seres humanos são fundamentais
porque o conhecimento não é impessoal, ele está sempre incorporado a uma pessoa, por ela é
transportado, criado, ampliado, aperfeiçoado e disseminado. Nesse caso, a pessoa instruída, o
empregado instruído representa a sociedade na qual o conhecimento tornou-se recurso principal.
Segundo Drucker:
[...] o conceito de pessoa instruída terá de ser um conceito universal,
precisamente porque a sociedade atual é uma sociedade de conhecimentos e
é global – em seu dinheiro, sua economia, suas carreiras, sua tecnologia, suas
questões básicas e, acima de tudo, em suas informações. Ela requer um grupo
de liderança[...] (1997, p.166).

Estas pessoas devem ser universalmente instruídas e precisam concentrar seu conhecimento
no presente e na modelagem do futuro.
Finalmente, Foucault sintetiza a visão de conhecimento descrita anteriormente:
[...] não é, então, para ser buscado apenas em formulações teóricas, como as
da filosofia ou da ciência; ele pode e deve ser analisado em todo o modo de
falar, fazer ou se comportar em que o indivíduo aparece ou atua como sujeito
de aprendizado, como sujeito ético ou jurídico, como sujeito consciente de si
mesmo e dos outros[...] (FOUCAULT, citado por LECHTE, 2002, p.131).

Contexto atual e as novas relações com o saber

Ao observarmos o mundo atual e a presença da tecnologia no cotidiano das pessoas,


identificamos mudanças importantes nas relações que estabelecemos com o Conhecimento.
Na história da Humanidade, pudemos observar o quanto as sociedades expandiram e
ocuparam toda a superfície do Planeta. Neste início de milênio, acompanhamos a construção
de uma grande rede digital que conecta tudo a todos.
Segundo Pierre Lévy (1999), nossas culturas nacionais fundem-se lentamente em uma
cultura globalizada e cibernética, é o nascimento da cibercultura.
Certamente o tema cibercultura é bastante polêmico e causa-nos inquietações acerca das
alterações que vivenciaremos nas nossas relações com os demais seres humanos, perguntamo-
nos como o processo de digitalização do mundo afetará a cultura, as artes, a política e todas
as áreas do Conhecimento.

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Neste momento, é importante identificar o nascimento da cibercultura, ainda não podemos
discutir seus benefícios e suas consequências para a humanidade. Reconhecer que como
educadores estaremos à frente das transformações e seremos chamados a construir novas
relações com o Conhecimento e com as ciências já é um grande desafio.
Depois de compreendermos esse movimento, poderemos refletir acerca da nossa prática
docente junto com os alunos que cada vez mais conhecem e dominam as tecnologias e
estabelecem novas relações com o mundo.

Final do monopólio das IES – Instituições de Ensino Superior

Diante do cenário descrito anteriormente, é possível afirmar que vivemos o final da era de
transmissão de saberes prontos e acabados, definidos como verdades absolutas que devem ser
assimiladas e reproduzidas.
Tempos atrás, o Conhecimento era restrito ao meio acadêmico. Os alunos só teriam acesso
ao saber se estivessem nas Universidades e se atendessem às orientações e determinações da
Instituição. Por outro lado, os professores eram os detentores do Conhecimento e responsáveis
pela transmissão desse Conhecimento pronto e finalizado, considerado como verdade.
Os alunos assimilavam o Conhecimento e assumiam uma postura reativa, passiva. Eles
aguardavam que o professor ministrasse a aula e registravam todo o Conhecimento para ser
posteriormente reproduzido.
Nesse caso, o professor assumia papel de destaque no processo educativo e o ensino era
efetivamente mais importante do que a aprendizagem dos alunos.
Atualmente, o aluno e todos nós podemos buscar o Conhecimento em diferentes fontes,
base de dados ou sites. Existem novas formas de acesso à informação como a navegação
em hipertextos e hiperlinks, os buscadores e outros mecanismos de pesquisa que facilitam o
processo. O conhecimento está disponível na grande rede digital e é possível que cada um de
nós procure e selecione o que é mais importante e necessário para resolver seus problemas e
inquietações e para construir seus próprios conhecimentos.
Sendo assim, o professor deixa de ter o controle do saber e novas relações interpessoais se
estabelecem entre ele e os alunos e entre os próprios alunos. As práticas colaborativas ganham
espaço e a construção do conhecimento se define pela troca de experiências e saberes entre
todos os participantes do processo educativo.
Certamente, novos papéis se definem para a ação docente, a ação discente passa a ser
significativa para o delineamento de novos processos de ensino e de aprendizagem. Ainda não
temos as respostas prontas para esses desafios, mas precisaremos construir juntos, de forma
colaborativa e solidária, as características e os elementos das novas situações de aprendizagem
que assumiremos nos próximos anos.

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Ciclo de Renovação do Conhecimento


O filósofo Pierre Lévy (1999) constata três grandes mudanças com relação ao saber, uma
delas diz respeito ao ciclo de renovação do Conhecimento.
Atualmente, é possível identificar uma grande velocidade no surgimento e na renovação dos
saberes, é a obsolescência do Conhecimento. A ciência sempre evoluiu, mas não de forma tão
rápida como nos últimos anos. Os novos conhecimentos são produzidos continuamente, em
fluxo, o que nos o obriga a estudarmos e nos atualizamos com a mesma intensidade.
Essa dinâmica gera um movimento nas ciências e precisamos encontrar formas de
acompanharmos essa produção científica contínua e também participarmos dela, gerando
novos conhecimentos. O ciclo de vida de um conhecimento passou de 20 ou 25 anos para 8
ou 10 anos. Com o passar dos anos, esse ciclo poderá ser 2 ou 5 anos.
Esse movimento da produção das ciências gera uma base de instabilidade que nos causa
ansiedade e com a qual precisamos aprender a conviver.
Considerando que como professores no Ensino Superior trabalhamos com os conhecimentos,
novos e não tão novos, precisaremos construir programas de ensino mais dinâmicos que
possibilitem aulas mais interativas e colaborativas.

Novas relações no Trabalho


A outra mudança identificada por Lévy (1999) diz respeito às novas relações do saber no
trabalho, definindo uma nova natureza para ele.
O filósofo acredita que a transação do Conhecimento será a base das relações de trabalho
e, portanto, a transmissão do conhecimento adquirido assim como a troca de experiências
vivenciadas pelos profissionais serão importantes para a busca e produção de novos
conhecimentos.
Todos os profissionais assumem o papel de pesquisador diante das diferentes situações novas
que surgem no cotidiano profissional. A visão investigativa é um diferencial, na medida em
que os profissionais buscam respostas, individualmente ou em grupos colaborativos. Não temos
respostas prontas para as novas situações que surgem e, por esse motivo, é necessário transmitir
os conhecimentos adquiridos, partilhar as experiências vividas e construir novos conhecimentos.
Diante dessa mudança, podemos afirmar que professores que atuam diretamente na
formação dos futuros profissionais se encontram frente a um desafio. Cabe refletir como
criar condições para que nossos alunos assumam uma postura mais ativa com relação ao
conhecimento, desenvolvam maior autonomia em suas reflexões de modo que elas subsidiem
suas decisões.

Nós formamos nossos alunos para serem empreendedores neste novo espaço de
conhecimentos?

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Ciberespaço e Tecnologia

Finalmente, a terceira e última mudança identificada por Pierre Lévy (1999) tem relação
com a Tecnologia, mais especificamente a Informática, suporte digitalizado da comunicação e
da informação. Por meio da tecnologia, podemos trabalhar com as informações de maneira
interativa, além de garantir que todas elas estejam interligadas, possibilitando novas formas de
acesso e de utilização.
As novas tecnologias influenciam nossas funções cognitivas. Nós utilizamos a memória para
reter informações que poderão ser guardadas por meio de banco de dados, de hiperdocumentos
ou arquivos digitais de diferentes formatos. As simulações que podem ser realizadas com
auxílio de tecnologia amplificam nossa imaginação e alteram nosso raciocínio e os sensores
digitais e as realidades virtuais interferem na nossa percepção.
São transformações que estão por vir, que chegam aos poucos, mas que, como professores,
precisamos refletir sobre elas e identificarmos sua relação com nossa prática docente.

Educação a distância

Diante do contexto que estamos discutindo, é necessário abordarmos a questão da Educação


a Distância.
Você está fazendo este curso na modalidade a distância e o que isso significa para você?
Um grande desafio, talvez, uma nova experiência ou a construção de novos conhecimentos
acompanhada do desenvolvimento de novas competências. A educação a distância é para
você um desafio ou um grande problema?
O desafio da educação a distância não reside no uso de novas técnicas e recursos de ensino,
na sua relação com as redes de comunicação ou com as hipermídias. A EaD propõe uma nova
visão da pedagogia, propõe uma educação voltada para a aprendizagem individualizada, mas
inserida em uma grande rede que incentiva a aprendizagem colaborativa e coletiva. Parece
controverso, mas acredito que é desafiador e inquietante.

Conclusões voltadas para o Ensino Superior

É certo que a globalização trouxe a facilidade de interligação das informações. As pessoas


passaram a interpretar estas informações, porém de acordo com os conhecimentos já
adquiridos e acumulados ao longo de suas vidas. Entendemos por Sociedade do Conhecimento,
a sociedade na qual vivemos na atualidade, em que todos desejam o domínio do conhecimento,
seja científico, seja tecnológico. Esta sociedade contemporânea privilegia o conhecimento na
evolução das carreiras profissionais.
Devemos, portanto, analisar como as universidades estão lidando com tanta informação, na
formação de novos profissionais, vez que é nas universidades que as pessoas procuram formação
e qualificação para desenvolver suas atividades no mercado de trabalho. A Universidade deve

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

produzir conhecimento. Para tanto, deve estar aberta ao diálogo com as diferentes fontes de
produção de conhecimento, inclusive incorporando as diferentes produções.
A produção de conhecimento pelas universidades teve de lidar com a velocidade da informação.
A diversidade cultural e produtiva, aliada às diferentes atividades desenvolvidas pelas pessoas,
pede atualizações e produções constantes. Há também a necessidade de acesso, por parte dos
pesquisadores, a diferentes tecnologias que permitam novas descobertas em menor tempo. É
preciso também que se perceba que a produção científica, antes monopólio das universidades,
hoje acontece em múltiplos espaços, como ONGs, laboratórios, mídia, imprensa etc.
É preciso que haja uma ampliação do universo da discussão do conhecimento científico.
Com tantas mudanças em termos de produção e reconhecimento de novos conhecimentos,
há necessidade de mudança também na prática do docente, o qual não pode mais agir como
se ele fosse o centro e o detentor de todo conhecimento e saber. O aluno também tem acesso
aos novos conhecimentos. O docente deve, portanto, mudar sua docência por conta das
mudanças na Sociedade e na produção do Conhecimento.
É de se esperar que com as novas exigências da Sociedade do Conhecimento haja uma crise
no perfil das carreiras profissionais, pois agora se procura um novo profissional, um profissional
mais completo. E se a Universidade trabalha diretamente na formação de profissionais, ela
deve repensar a organização de seus currículos para atender à demanda do mercado.
Vejamos: se antes havia a adoção de um currículo mínimo, com conteúdos divididos em
disciplinas, para todo o país, o trabalho docente era transmitir estes conteúdos básicos para seus
alunos. Hoje, as diretrizes curriculares procuram atender aos perfis profissionais diferenciados,
havendo um trabalho com a docência mais abrangente e mais amplo, no sentido de atender
aos objetivos a serem alcançados, de acordo com as competências das diretrizes.
A Sociedade do Conhecimento pede uma mudança do processo de Ensino para o Processo
de Aprendizagem, pois suas exigências levam o aluno a buscar informações, sabendo pesquisar,
selecionar informações, criticar estas informações, assimilar seus interesses, construir novos
conhecimentos, enfim aprender.
E o professor universitário precisa estar em constante atualização para entender e trabalhar
as mudanças que ocorrem com velocidade cada vez maior e afetam o trabalho, as relações, a
educação e a sociedade como um todo.

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Material Complementar

Sites:
Dilemas da educação superior no mundo globalizado: sociedade do conheci-
mento ou economia do conhecimento?
Educ. Soc., Campinas, v. 28, n. 98, apr. 2007.
http://goo.gl/cqg9qH

Leituras:
O futuro da educação em uma sociedade do conhecimento: o argumento
radical em defesa de um currículo centrado em disciplinas
YOUNG, Michael P. D. Universidade de Londres.
http://goo.gl/15p8T3

O ensino Universitário: seu cenário e seus protagonistas


ZABALZA, Miguel A. Porto Alegre: Artmed, 2004, p. 58-66.
http://goo.gl/kdQ95v

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Unidade: O Contexto do Ensino Superior: Educação, Sociedade e Profissão Docente

Referências

BELLUZZO, Regina Célia Baptista. A Educação na Sociedade do Conhecimento. 2005.


Disponível em http://www.serprofessoruniversitario.pro.br/ler.php?modulo=10&texto=501
Acesso mar.2010

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação


nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 1996. Disponível
em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf Acesso em fev.2010.
Acesso mar.2010

DELORS, J. Educação: Um Tesouro a Descobrir: Relatório Para a UNESCO da Comissão


Internacional. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

DRUCKER, Peter. Sociedade Pós-Capitalista. São Paulo: Pioneira, 1997.

FREIRE, Paulo Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa.


Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1997

LECHTE, J. 50 Pensadores contemporâneos essenciais. Difel: Brasil, 2002

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed.34. 1999.

MIZUKAMI, Maria da Graça N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à Educação do Futuro. São Paulo: Cortez;
Brasília, DF: UNESCO, 2000.

UNESCO. Política de mudança e desenvolvimento no ensino superior. Rio de Janeiro:


Garamond, 1999

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Anotações

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Você também pode gostar