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UNIARAGUAIA
JORNALISMO

O Lollapalooza é um dos maiores festivais de música pop e rock do mundo e,


só em 2022, fez girar R$421,8 milhões durante os dias de seu funcionamento. Este
ano (2023), trouxe 80% de ocupação para a rede hoteleira da cidade de São Paulo,
gerou mais de 9 mil empregos diretos (no local do evento, segundo os
organizadores), e contratou mais de 170 empresas prestadoras de serviços para
ajudar na realização e organização dos shows.
Uma fiscalização feita pelo Ministério do Trabalho e Emprego no autódromo
de Interlagos na semana do dia 24 de março encontrou cinco trabalhadores
terceirizados prestando serviços para o evento sob condições precárias; condições
de trabalho análogas ao trabalho escravo. A empresa terceirizada (Yellow Stripe)
impunha jornadas de 12 horas de trabalho sem pagamento de horas extras,
descontava o valor do exame médico admissional dos contratados e não fornecia
vale transporte, além de não dar o período de descanso adequado para os
trabalhadores.
O estudante de jornalismo Mauricio de Lavenère Bastos teve acesso ao
advogado trabalhista e professor universitário Ricardo Oliveira da Silva Júnior, que
gentilmente esclareceu algumas questões.

1- O quê pode ser feito para evitar que pessoas em situação de


vulnerabilidade sócio-econômica sejam submetidas a situações degradantes e
abusivas de trabalho?
Professor Ricardo: o Ministério Público do Trabalho (MPT) realiza o papel de
fiscalização e do cumprimento da legislação trabalhista. Nesse sentido, é importante
ressaltar que o MPT tem a missão de defender os direitos difusos e coletivos dos
trabalhadores, além de direitos individuais homogêneos de relevante valor social, no
3 - há previsão - em algum de nossos códigos - de punição para os
criminosos e abusadores que agem desta forma com trabalhadores em situação de
vulnerabilidade?

Professor Ricardo: É crime no Brasil. Na legislação brasileira, o artigo 149 do


Código Penal prevê os elementos que caracterizam a redução de um ser humano à
condição análoga à de escravo. São eles: a submissão a trabalhos forçados ou a
jornadas exaustivas, a sujeição a campo das relações de trabalho. Diante do caso
apresentado, seria de suma importância uma maior atuação do MPT na
fiscalizações desses festivais.

2 - O quê o senhor acha que leva empresários - alguns muito bem


sucedidos - a agirem de forma a submeter seus funcionários a condições sub-
humanas de trabalho?

Professor Ricardo: As vítimas do trabalho escravo contemporâneo são


pessoas com baixa renda ou desempregadas, geralmente com pouca instrução, que
procuram uma saída para as condições precárias em que vivem. Os empresários
percebem essa vulnerabilidade socioeconômica dos trabalhadores e buscam cada
vez mais lucro para suas empresas. Esses trabalhadores acabam se submetendo a
esses tipos de trabalhos, por serem os únicos que são ofertados no mercado para
eles.

condições degradantes de trabalho e a restrição de locomoção do trabalhador. Art.


149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a
trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições
degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em
razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: 

Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à


violência.

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