Você está na página 1de 23

See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.

net/publication/292001198

A esclerofilia foliar como indicador funcional do status da biodiversidade em


Floresta Atlântica de Tabuleiros

Article · January 2003

CITATIONS READS

6 48

2 authors, including:

Irene Garay
Federal University of Rio de Janeiro
83 PUBLICATIONS   482 CITATIONS   

SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Indicadores ecológicos do status da biodiversidade visando a gestão integrada dos remanescentes florestais de Mata Atlântica Central View project

Sensoriamento remoto e SIG como suporte ao desenvolvimento do subprojeto do PROBIO Conservação e Recuperação de Floresta Atlântica View project

All content following this page was uploaded by Irene Garay on 06 August 2018.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


5. A esclerofilia foliar como indicador funcional do status da
biodiversidade em Floresta Atlântica de Tabuleiros
Cecilia Maria Rizzini e Irene Garay

O grau de esclerofilia das espécies Frente à impossibilidade do estudo exaustivo da função


de todas as espécies que compõem uma dada comunidade,
arbóreas como propriedade funcional a noção de grupo funcional representa um intento de
Explicitando a noção de grupo funcional síntese. Na medida que as espécies que o compõem
Desde longa data, as espécies foram reagrupadas em reflitam modificações desta ou de outras comunidades, ou
categorias com o intuito de se compreender a organização de processos essenciais do ecossistema, o grupo funcional
das comunidades biológicas que integram os ecossistemas. possui um caráter indicador. Segundo o caso, far-se-á
Segundo os objetivos desejados, o agrupamento das es- necessário considerar seja o número de grupos funcio-
pécies em categorias ecológicas foi baseado em distintas nais, seja a riqueza em espécies ou as densidades das
propriedades. Assim, por exemplo, a noção de guilda populações que integram cada grupo. Quando das compa-
utilizada a partir dos anos 70, focalizava a partilha de um rações entre diferentes ecossistemas, a análise de grupos
mesmo recurso entre espécies aparentadas taxonomi- funcionais possibilita avançar na compreensão do
camente. Mais recentemente, aparece a noção de grupo funcionamento. Todavia, grupos funcionais podem apresen-
funcional em relação à formulação dos estudos em tar respostas diretas ou indiretas a distintas formas e
biodiversidade. Ela adquire valor operacional frente à intensidade de impactos antrópicos. Nesta última perspecti-
existência da redundância funcional das comunidades tropi- va, a identificação de grupos funcionais e das espécies
cais, i.e., as numerosas espécies que desempenham uma que os constituem é um instrumento para a avaliação da
determinada função ecológica e que são, em teoria, equi- integridade do ecossistema (Garay, 2001a).
valentes na realização desta função.
Com efeito, a organização e a composição de uma co- A esclerofilia: uma propriedade complexa
munidade podem ser não apenas bem compreendidas como
Pesquisas em formações vegetais do trópico, tais como
também manejadas se as espécies componentes são clas-
savanas, caatingas e florestas, demonstram que a caduci-
sificadas sob uma base funcional. É possível assim de-
dade se encontra associada ao caráter mais ou menos escle-
finir tipos funcionais com respeito às propriedades
rófilo das diversas populações vegetais. O grau de caduci-
morfológicas e fisiológicas inerentes às espécies, particu-
dade do ecossistema como um todo obedece à proporção
larmente quando estas estão ligadas à utilização de recur-
sos e às interações entre espécies ou, ainda, às interações dos diferentes tipos de espécies arbóreas, ou arbustivas,
entre diferentes comunidades (Barbault et al., 1991). Os que coexistem. Na realidade, a propriedade da esclerofilia
grupos de espécies classificadas com base nestas proprie- resulta das características morfológicas e fisiológicas das
dades podem englobar igualmente populações que atuam espécies: as folhas de árvores sempre-verdes são mais
de forma similar no ecossistema ou que possuem carac- duras, pesadas e grossas, enquanto que as folhas adultas
terísticas comuns, sejam estas estruturais ou relacionadas de árvores decíduas possuem características opostas.
a determinados processos. Os aspectos anatômicos típicos das espécies esclerófilas
Reagrupar as espécies em grupos funcionais represen- se expressam por longa série de características
ta um leque infinito de possibilidades: a escolha de cri- morfológicas que abrangem a totalidade do organismo
térios reflete, em definitivo, uma visão específica desti- vegetal, evidenciadas no acentuado espessamento das
nada à resolução de um determinado problema. A título paredes celulares de vários tecidos como epiderme, súber,
de exemplo, citemos alguns critérios que permitem esta- esclerênquima e lenho (Rizzini, 1976; Turner et al., 1993).
belecer grupos funcionais de espécies vegetais tais como As folhas esclerófilas possuem cutícula e parede celular
forma de vida, tipos de história de vida, tamanho, estru- externa da epiderme grossas e abundante esclerificação,
tura foliar, profundidade da raiz, associações simbióticas, particularmente, do revestimento dos feixes vasculares e
sensibilidade fotoperiódica e resistência ao fogo da margem da folha (Esau, 1977; Fahn, 1982). Entretan-
(Korner,1994; Baruch et al., 1996). to, alguns parâmetros físicos, notadamente o peso espe-

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 35


cífico foliar e a superfície específica foliar, têm sido secos do final do inverno (Engel & Jesus, com. pess.).
utilizados para caracterizar a estrutura foliar de espécies Louzada et al. (1997) registram que a maior intensidade
em termos ecológicos, em particular, quando do estudo de queda foliar corresponde igualmente ao período que
de árvores decíduas e sempre-verdes (ver por exemplo antecede as chuvas da primavera. Adiciona-se, ainda, a
Montes & Medina, 1977; Sobrado & Medina, 1980; existência da marcada variabilidade interanual de maneira
Medina, 1981; Marín & Medina, 1981; Medina & Klinge, que se sucedem anos extremamente secos, nos quais a
1983; Medina et al., 1985; Goldstein et al., 1990). Estas diminuição brusca das precipitações afeta a estação chu-
características físicas auxiliam na determinação do grau vosa (Garay et al., 1995). Nestes casos, se produz um
de esclerofilia foliar, sendo que o peso específico foliar aumento significativo da queda de folhas que acompanha
possui uma relação direta com a esclerofilia e a superfície o período de seca estival, dobrando os aportes foliares
específica foliar, inversa. (Louzada et al., 1997).
A importância da propriedade da esclerofilia foi reco- Em função destes fatos, pode-se formular a hipótese
nhecida no último século, mas seu significado funcional de que a estação seca marcada e a variabilidade interanual,
ainda é controverso (Seddon, 1974; Cody & Mooney, às quais encontra-se submetida a Floresta de Tabuleiros
1978; Grubb, 1986). Medina (1981) indica as seguintes do Norte do Espírito Santo, determinam pelo menos dois
características fisiológicas associadas ao caráter esclerófílo mecanismos adaptativos essenciais frente ao estresse
das espécies: resistência ao déficit hídrico, estabilidade hídrico: a esclerofilia e a deciduidade das espécies arbóreas
térmica, baixa capacidade fotossintética, folhas em geral que a compõem. Com efeito, a manutenção de folhas
perenes ou de longa duração e com baixo conteúdo de altamente adaptadas às perdas por evapotranspiração, o
nutrientes. Segundo Turner et al. (1994), são três as que é próprio da esclerofilia, representa um mecanismo
principais hipóteses explicativas sobre o significado desta importante na redução do estresse hídrico da planta tanto
propriedade: adaptações para a conservação da água; quanto a perda da totalidade das folhas.
conservação de nutrientes em solos oligotróficos e, por
Paralelamente, espécies arbóreas esclerófilas produzem
último, prevenção contra possíveis perdas foliares em
aportes foliares mais pobres em nitrogênio e ricos em
decorrência tanto de agentes como o vento, sol e chuva,
compostos orgânicos complexos de difícil decomposição
quanto de patógenos e herbívoros. Porém, o preço da
que espécies arbóreas não esclerófilas, cujos aportes mais
manutenção anual do dossel se traduz em uma produti-
ricos em nutrientes possibilitam uma maior velocidade de
vidade neta menor nas espécies esclerófilas que nas de
decomposição. Uma menor velocidade de decomposição
folhas caducas (Eamus, 1999).
age a favor de um maior acúmulo de matéria orgânica no
Espécies esclerófilas são encontradas em numerosas solo, imprescindível à retenção dos nutrientes essenciais.
comunidades sob condições climáticas e geográficas muito Como imagem especular, as maiores velocidades de de-
contrastantes: em ecossistemas do Mediterrâneo, subme- composição, associadas à maior riqueza nestes nutrientes,
tidos a prolongada estação seca e verão cálido; em pân- determinam uma reciclagem mais eficiente da
tanos, ou brejos; em florestas de clima temperado e tem- mineralomassa retida no piso da floresta. O caráter misto
perado-frio; em formações do clima tropical seco do da Floresta de Tabuleiros em relação à caducidade das
Caribe e, mesmo, das altas montanhas úmidas dos trópi- espécies arbóreas vai ao encontro da variação qualitativa
cos (Medina, 1981). A Floresta de Tabuleiros do Norte dos aportes foliares ao solo e, em seguida, da variabili-
do Espírito Santo caracteriza-se igualmente pela presença dade da dinâmica da decomposição.
de espécies com escleroxilia, i. e., lenho secundário duro,
Em síntese, a existência de grupos funcionais, com
e esclerofilia, como possível rasgo adaptativo à radiação
base no grau de esclerofilia das árvores, representa uma
solar intensa e à existência de estação seca marcada
estratégia adaptativa global da floresta, relacionada à ca-
(Rizzini, 1976; Jesus, 1987).
ducidade das espécies. Em resposta sobretudo aos pro-
A característica semidecidual da Floresta de Tabulei- blemas de regime hídrico, ele é fator determinante da ve-
ros, que pressupõe a coexistência de espécies perenes, locidade de mineralização da matéria orgânica e da dis-
semicaducifólias e caducifólias, pode ser relacionada à ponibilidade de nutrientes. Frente a estas hipóteses, vá-
sazonalidade climática (Jesus, 1987; Peixoto et al., 1995). rias questões merecem ser testadas: existe realmente um
O estudo da fenologia de 40 espécies arbóreas, realizado grau de esclerofilia que pode ser mensurado no
na Reserva de Linhares num período de dez anos de ecossistema de Floresta de Tabuleiros? Ele é variável em
amostragem, mostrou que cerca de 50% das espécies função das condições mesológicas e notadamente das
perdem total ou parcialmente as folhas no fim da estação condições hídricas? Como diferentes formas de uso
seca e que a proporção do número de indivíduos antrópico eventualmente incidem sobre o grau de
desfolhados aumenta consideravelmente nos meses mais esclerofilia do ecossistema? É por meio da avaliação da

36 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


biodiversidade, se utilizando da análise de grupos de 1,5 ha. Como é clássico nas pesquisas relativas à
funcionais, que, em primeira aproximação, estas pergun- estrutura da comunidade arbórea em florestas tropicais,
tas foram respondidas. Estas são as questões tratadas a foram tomados em consideração tanto o tamanho das
seguir. árvores como as suas densidades, sendo que ambos os
parâmetros são sintetizados na taxa de cobertura. O con-
junto dos métodos de estudo encontram-se detalhados na
A elaboração de indicadores
Parte 2 deste volume; lembremos aqui que foram estuda-
funcionais na prática das todas as árvores cujo tronco à altura do peito é maior
que 20cm de circunferência, i.e., 6,3cm de diâmetro
A escolha dos sistemas e das espécies (DAP). A análise da estrutura do estrato arbóreo permitiu
Foram escolhidos, no total, quatro sistemas com fins de selecionar as espécies às quais correspondem os 25 maiores
comparação: a Mata Alta ou Floresta Densa, a Mata Ciliar valores de taxa de cobertura (IVE) em cada sistema, ou
e dois trechos florestais consecutivos a atividades seja, aquelas cujas densidade relativa e dominância rela-
antrópicas: o primeiro corresponde a uma floresta secun- tiva adicionadas são as mais relevantes na comunidade
dária instalada após queima e corte ou capoeira após (Rizzini et al., 1997; Rizzini, 2000). Considerando o
queimada, tratando-se de um verdadeiro estágio conjunto dos quatro sistemas, foram selecionadas, no total,
sucessional com 50 anos de evolução. O segundo trecho, 73 espécies arbóreas para as quais foram estimadas as
denominado capoeira após extração, é de fato um frag- propriedades físicas e químicas das folhas ou folíolos e
mento submetido a intenso extrativismo seletivo até a estudada a morfologia foliar (ver Parte 2).
década de 50, quando a parcela pertencente ao Ministério Numa primeira etapa, merece ser explicitado o univer-
de Minas e Energia provia madeiras de Lei para constru- so no qual estas espécies estão inseridas o que equivale
ção; ele é paradigmático da situação de impacto sofrida a precisar as características gerais da comunidade arbórea
pela quase totalidade dos numerosos remanescentes flo- e analisar o comportamento das diversas famílias botâni-
restais em propriedades rurais. A partir de então, ambos cas, que reagrupam as espécies em questão, face às
os atuais trechos de floresta foram protegidos de novas condições mesológicas e às formas de uso.
intervenções antrópicas de forma que hoje possibilitam
avaliar o grau de recuperação da floresta. Um povoamento florestal não
Os quatro sistemas estudados se localizam na Reserva recuperado
Natural da Companhia Vale do Rio Doce - ES, ou Reser-
va de Linhares, que recobre uma área aproximada de O quadro geral
22.000 ha, representando cerca de 25% da cobertura flo- A primeira constatação geral que surge da análise com-
restal remanescente no Estado do Espírito Santo. Entre as parativa do povoamento florestal é a extrema riqueza
fisionomias vegetais de Floresta de Tabuleiros, a de maior taxonômica não somente de famílias botânicas mas sobre-
extensão percentual é a Floresta Densa de Cobertura tudo de espécies presentes em área relativamente restrita:
Uniforme, a Mata Alta, que representa em torno de 63% se para a totalidade da Reserva foram recenseadas mais
da área da Reserva, sendo que a Floresta Ciliar que de 600 espécies, quase a metade se encontram nas par-
margeia os cursos d’água ocupa somente 4%. Quanto à celas de estudo que totalizam apenas 1,5 ha (Tab. 10). Na
Floresta interferida no passado pelo extrativismo seletivo, região, a elevada coexistência das populações arbóreas
ela representa, em superfície, 5% (Jesus, 1988). As fácies parece representar um traço marcante da organização desta
florestais escolhidas encontram-se a distância similar da comunidade cuja riqueza alcança da ordem de 200 espé-
linha da costa, sobre o mesmo tipo de solo, o Argissolo cies num único hectare (Agarez, 2001). A densidade de
Amarelo. Quanto à situação topográfica, ela é semelhante indivíduos adultos é de 1100 árvores por hectare, resul-
para os sítios de Mata Alta, capoeira após queimada e tado um pouco inferior ao obtido para a Reserva Bioló-
capoeira após extração: os três sistemas situam-se no topo gica de Sooretama, com 1300 indivíduos, o que se deve
aplanado de tabuleiros. Diferentemente, a Mata Ciliar seguramente a diferenças no critério de inclusão utilizado
margeia o córrego João Pedro. (6,3 cm e 5 cm, de diâmetro à altura do peito, ou DAP,
Para a determinação dos grupos funcionais, optou-se respectivamente). Merece especial menção a importância
pela escolha das espécies quantitativamente mais impor- quantitativa da área basal, i. e., a projeção dos troncos
tantes em cada um dos quatro sistemas de estudo. Para em superfície, cujo valor é da ordem de 40 m2 por hectare,
isso, foram estabelecidas parcelas permanentes na Mata o que resulta da imponência dos fustes das árvores,
Alta, na Mata Ciliar e nas duas capoeiras supracitadas. O característica distintiva de certos trechos de mata na Flo-
número de parcelas permanentes foi de três em cada sítio resta de Linhares quando se compara com a REBIO
e a superfície unitária de 25x50m2, perfazendo um total Sooretama, com 30 m2, ou com outras florestas tropicais.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 37


Tabela 10. Características gerais da comunidade arbórea em diferentes sistemas de Floresta Atlântica de
Tabuleiros.
Médias e erro padrão (n=3). MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; CE: capoeira após extração; CQ: capoeira após queimada.
Teste U; * : α < 0,05; 0: α > 0,05. Estão indicadas somente as H1 das diferenças significativas.

mata mata capoeira capoeira teste U


alta ciliar após extração após queimada

o
n famílias 26 + 2 27 + 2 26 + 2 27 + 3 0
o
n total de famílias 37 37 37 37 -0
( n = 3)
o
n espécies 73 + 3 69 + 3 65 + 3 55 + 2 MA > CQ*
o
n total de espécies 146 139 141 110 -
(n = 3)

densidade 1150 + 40 1020 + 50 1150 + 40 990 + 50 MA > CQ*


(ind. / ha)
área basal 38,1 + 3,5 39,7 + 4,2 23,6 + 0,9 32,8 + 1,3 MA > CE*
(m2 / ha)
volume 820 + 110 940 + 120 370 + 70 560 + 30 MA > CE*
(m3 / ha) MA > CQ*

diversidade H’ 3,79 + 0,09 3,73 + 0,10 3,65 + 0,09 3,49 + 0,12 0MA > CQ*

equitabilidade 0,92 + 0,01 0,91 + 0,01 0,88 + 0,02 0,89 + 0,01 00

Os trechos de floresta em recuperação evidenciam si- Leguminosae, Myrtaceae e Sapotaceae, famílias que se,
nais de perturbação porém diferenciadas segundo o tipo no presente, expressam a singularidade da Floresta Atlân-
de capoeira: transcorridos mais de 50 anos após a quei- tica de Tabuleiros, remetem à história evolutiva da flores-
mada, o número de espécies por unidade de superfície e ta neotropical e especificamente ao maciço florestal que
as densidades das árvores, neste sítio, permanecem infe- se estende frente ao Oceano Atlântico. Elas dominam pela
riores aos da Mata Alta. De maneira sintética, o menor sua riqueza nas pequenas parcelas de estudo, na Reserva
índice de diversidade (H’) revela uma maior dominância em totalidade e, inclusive, em restos de floresta inseridos
das espécies mais abundantes, o que é próprio de siste- em terras de cultivo. Na Reserva de Linhares, existem 90
mas secundários em regeneração. Para o trecho de flores- espécies de Myrtaceae, 86 de Leguminosae e 33 de
ta onde houve extração seletiva, a área basal do conjunto Sapotaceae; em somente um hectare da REBIO Sooretama
das árvores adultas encontra-se ainda reduzida em 40% estão, respectivamente, presentes 42, 25 e 15 espécies
em relação aos valores correspondentes à Mata Alta. Esta (Agarez, 2001).
redução é da mesma ordem de grandeza que nos diferen-
Para os sítios de estudo, as riquezas destas três famí-
tes fragmentos florestais do Município de Sooretama nos
lias estão representadas na Figura 1; elas predominam
quais se constata apenas metade da área basal que na
inclusive em cada uma das parcelas permanentes da Mata
REBIO Sooretama, área de preservação integral (Agarez,
Alta. Um segundo conjunto reagrupa famílias com rique-
2001). Contudo, o parâmetro que mostra as maiores
za intermediária em espécies mas com populações ampla-
diferenças é o volume dos troncos: os trechos de floresta
mente repartidas e que identificam a pertença da Floresta
após os dois tipos de impacto estão desprovidos de ár-
de Tabuleiros às florestas neotropicais sul-americanas, em
vores emergentes e a luz incidente no piso florestal marca
particular, à Amazônica. Citemos, entre elas, as
as aberturas do dossel e favorece a proliferação de lianas.
Euphorbiaceae, Moraceae, Lecythidaceae, Flacourtiaceae,
Rutaceae, Anacardiaceae, Annonaceae, Apocynaceae,
As famílias e as espécies dominantes Burseraceae, Chrysobalanaceae e Lauraceae. Um terceiro
As famílias botânicas às quais pertencem as populações grupo consta de famílias relativamente pobres em espé-
de árvores são numerosas porém, de desigual importân- cies, nem por isso menos representativas do núcleo flo-
cia. Somente três dentre elas reagrupam mais de 30% das restal dos Tabuleiros, tais como Bignoniaceae,
espécies da Mata Alta e da Mata Ciliar. Trata-se de Combretaceae, Myristicaceae, Sterculiaceae, Tiliaceae ou

38 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


mata alta
MYR T 18 MYR T Figura 25. Riqueza específica e taxa
L E GU 23 L E GU de cobertura correspondentes às
S AP O 9 VIOL cinco famílias da comunidade arbórea
FL AC 6 S AP O com os respectivos maiores valores.
EU PH 6 LEC Y
Valores médios e erro padrão (n=3); os
rótulos à direita indicam o número total
0 5 10 15 0 20 40 60

mata ciliar de espécies nas amostras.


MYR T 16 MOR A MYRT: Myrtaceae;
S AP O 14 S AP O LEG: Leguminosae;
MO R A 9 EU PH
VIOL: Violaceae;
LEGU 12 L E GU
SAPO: Sapotaceae;
EU PH 5 MYR T
LECY: Lecythidaceae;
0 5 10 15 0 20 40 60 EUPH: Euphorbiaceae;
capoeira após extração ANAC: Anacardiaceae;
L E GU EU PH BOMB: Bombacaceae;
MYR T 8
31 LEGU FLAC: Flacourtiaceae;
EU PH 6 R U TA ANNO: Annonaceae;
S AP O 8 S AP O RUTA: Rutaceae;
B O MB 5 AN AC MORA: Moraceae;
0 5 10 15 0 20 40 60 BURS: Burseraceae;
AREC: Arecaceae.
capoeira após queimada
L E GU 12 AN N O

MOR A 7 AR E C

FL AC 6 LEGU

BU R S 5 EU PH

EU PH 5 MO R A

0 5 10 15 0 20 40 60

o
riquez a es pec ífic a ( n d e sp p . ) taxa de c obertura (200% )

Violaceae. Contrastando com estes três grupos, as famí- no passado é a drástica redução da riqueza em espécies
lias restantes, com apenas 1 a 3 espécies, totalizam quase da família Myrtaceae e, em menor intensidade, de Sapotaceae
40 espécies no 1,5 ha da área de estudo. Este último e Leguminosae sobretudo na capoeira após queimada.
conjunto de famílias, não menos importante do ponto de Esta perda de diversidade, consecutiva a impactos de
vista taxonômico, mostra a notável diversificação das plan- índole diversa, e a dificuldade de recuperação dos trechos
tas lenhosas nos ecossistemas florestais do trópico úmido. perturbados, após 50 anos, chama a atenção sobre a
Em síntese, a distribuição do número de espécies por pertinência de uma efetiva preservação integral de, pelo
família adquire a forma típica de um J invertido sinali- menos, parte dos remanescentes. A segunda diferença
zando a preponderância das famílias mais ricas em espé- marcante refere-se aos valores máximos de taxa de cober-
cies. A análise das taxas de cobertura, das densidades e tura que evidenciam não somente uma substituição das
das áreas basais corroboram esta afirmação. Em geral, as três famílias mais representativas da Floresta Atlântica de
famílias mais diversificadas possuem as maiores taxas de Tabuleiros mas, igualmente, uma maior dominância da-
cobertura e também as densidades e áreas basais superi- quelas que as substituíram. As Moraceae e Sapotaceae, na
ores (Fig. 25 e Fig. 26). Uma exceção merece ser des- Mata Ciliar, as Euphorbiaceae, na capoeira após extração,
tacada: Violaceae, representada por uma única espécie com as Annonaceae e Arecaceae, na capoeira após queimada,
alta densidade e significativa área basal, alcança uma das tomam os lugares de Myrtaceae e Sapotaceae ou
mais elevadas taxas de cobertura. As cinco famílias às Leguminosae segundo o sistema considerado (Fig. 25).
quais correspondem as maiores riquezas e as taxas de A análise comparativa das principais famílias é
cobertura mais elevadas recobrem da ordem de 70% dos aprofundada quando da consideração das respectivas
efetivos e de 70 a 80% da área basal do total de árvores densidades e áreas basais (Fig. 26). Os quatro sistemas
recenseadas em cada sítio. Com vistas a uma análise com- de estudo se diferenciam nitidamente pela organização
parativa entre os sistemas selecionados, parece assim vá- espacial da comunidade arbórea; em particular, a Mata
lido deter-se no estudo destas famílias. Ciliar constitui um sistema favorável à expansão das
A primeira grande diferença entre os trechos de flo- Sapotaceae e de formas de vida quase inexistentes na
resta preservada e os que sofreram impactos antrópicos Mata Alta, como palmeiras (Arecaceae) e figueiras

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 39


mata alta mata ciliar capoeira após extração capoeira após queimada
MYRT
LEGU
VIOL
SAPO
LECY
EUPH
ANAC
BOMB
FLAC
ANNO
RUTA
MORA
BURS
AREC

0 100 200 300 400


0 100 200 300 0 100 200 300 0 100 200 300
densidade (ind. / ha)

MYRT
LEGU
VIOL
SAPO
LECY
EUPH
ANAC
BOMB
FLAC
ANNO
RUTA
MORA
BURS
AREC

0,0 4,0 8,0 0,0 12,0 4,0 8,0 12,0 0,0 4,0 8,0 0,0 4,0 8,0 12,0

2
área basal (m / ha)

Figura 26. Densidade e área basal correspondentes às cinco famílias da cobertura arbórea com maiores
taxas de cobertura. Valores médios e erro padrão (n=3).
MYRT: Myrtaceae; LEG: Leguminosae; VIOL: Violaceae; SAPO: Sapotaceae; LECY: Lecythidaceae;
EUPH: Euphorbiaceae; ANAC: Anacardiaceae; BOMB: Bombacaceae; FLAC: Flacourtiaceae;
ANNO: Annonaceae; RUTA: Rutaceae; MORA: Moraceae; BURS: Burseraceae; AREC: Arecaceae.

(Moraceae). Quanto às capoeiras, prevalece aí um em- capoeiras representam sistemas distintos: dez famílias apre-
pobrecimento marcado das famílias características da Flo- sentam diferenças significativas entre a capoeira após a quei-
resta de Tabuleiros -como é o caso das Myrtaceae, mada e o fragmento após extração seletiva de madeira (teste
Lecythidaceae, Combretaceae, Violaceae, Sapotaceae e U; α<0,05). Assim, por exemplo, as Annonaceae, Moraceae,
Flacourtaceae- e a presença maciça de espécies secundárias Arecaceae, Rutaceae e Burseraceae estão ausentes nas
que se comportam como invasoras. São espécies perten- amostras de uma das florestas secundárias e as
centes às famílias Euphorbiaceae, Anacardiaceae, Euphorbiaceae, Leguminosae e Anacardiaceae são mais
Annonaceae, Rutaceae, Moraceae, Arecaceae e ainda algu- abundantes na capoeira após extração (Fig. 26). Uma res-
mas das Leguminosae (ver Fig. 26). salva merece ser explicitada: a ausência localizada de certas
Para o conjunto das famílias supracitadas, as diferenças famílias não permite concluir à exclusividade destas em um
entre a Mata Alta e os outros sítios de estudos são signi- ou outro sistema, já que o número restrito de pequenas
ficativas, às vezes, para as densidades, outras, para a área parcelas pode eliminar da amostragem populações de baixa
basal, sendo que diferenças em todos os parâmetros e de densidade distribuídas espacialmente ao acaso.
um sítio em relação aos três restantes são observadas Resultados relativos a diferentes fragmentos remanes-
unicamente para Annonaceae (teste U; α<0,05). Estas di- centes submetidos a extrativismo seletivo confirmam as
ferenças não devem obscurecer o fato de que ambas as conseqüências maiores deste tipo de uso, i. e., as popula-

40 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


Leguminosae Moraceae
60 60
Myrtaceae Euphorbiaceae
densidade (%)
Sapotaceae Anacardiaceae
Lecythidaceae
40 40

20 20

0 0
REBIO FR1 FR2 FR3 FR4 FR5 REBIO FR1 FR2 FR3 FR4 FR5

intensidade do extrativismo intensidade do extrativismo

Figura 27. Densidade relativa das principais famílias arbóreas num sistema fragmentado de Floresta Atlântica
de Tabuleiros, Sooretama-ES. REBIO: Reserva Biológica de Sooretama; FR1, FR2, FR3, FR4, FR5: fragmentos
remanescentes submetidos a extrativismo seletivo, em propriedades agrícolas. Os dados correspondem a 1 hectare
por sítio. As densidades relativas foram calculadas com base no total de indivíduos por família. Segundo Agarez, 2001.

mata alta mata ciliar capoeira após extração capoeira após queimada
EUGUBE EUGUBE:
PTEROR Eugenia cf. ubensis (MYRT);
RINBAH PTEROR:
CARLEG Pterocarpus rohrii (LEG);
ESCOVA RINBAH:
JOAPRIN Rinorea bahiensis (VIOL);
SENMUL CARLEG:
MICELA Cariniana legalis (LECY);
ASTCON ESCOVA:
ROLLAU Eschweilera ovata (LECY);
NEOALB
JOAPRI:
BROGAU Joannesia princeps (EUPH);
FICGOM
SENMUL:
ASTACU
Senefeldera multiflora (EUPH);
POLCAU
MICEA:
TERKUL
Micrandra elata (EUPH);
0 50 100 150
0 200
50 250
100 0
150 50
200 100
250 150 200 0250 50 100 150 200 ASTCON:
densidade (ind./ha) Astronium concinnum (ANAC);
ROLLAU:
EUGUBE Rollinia laurifolia (ANNO);
PTEROR NEOALB:
RINBAH Neoraputia alba (RUTA);
CARLEG BROGAU:
ESCOVA Brosimum gaudichaudii (MORA);
JOAPRIN FICGOM:
SENMUL Ficus gomelleira (MORA);
MICELA
ASTACU:
ASTCON Astrocaryum aculeatissimum (AREC);
ROLLAU
POLCAU:
NEOALB
Polyandrococos caudescens (AREC);
BROGAU
TERKU
FICGOM
Terminalia aff. kuhlmannii (COMB).
ASTACU
POLCAU
TERKUL

0,0 2,5 5,0 7,5 10,0


0,0 12,5
2,5 5,0 7,5 10,0 0,0
12,5 2,5 5,0 0,0
7,5 2,5
10,0 5,0
12,5 7,5 10,0
2
área basal (m /ha)

Figura 28. Densidade e área basal correspondentes às espécies arbóreas com as cinco maiores taxas de
cobertura em sistemas primários e secundários de Floresta Atlântica de Tabuleiros. Valores médios e erro
padrão (n=3). Entre parêntese: abreviatura das famílias, ver legenda da figura 2. COMB: Combretaceae.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 41


ções das famílias principais da Floresta de Tabuleiros são A validação das estimativas dos
severamente prejudicadas, sendo que a maioria das espé-
cies de Myrtaceae podem ser consideradas extintas local-
parâmetros físicos foliares e dos
mente. Em contrapartida, a substituição das famílias prin- índices de esclerofilia
cipais pelas populações de famílias pioneiras e secundá-
rias de Euphorbiaceae, Moraceae e Anacardiaceae se en-
As espécies selecionadas
contra favorecida mas, em cada fragmento, as famílias, Para as 25 espécies selecionadas pelas maiores taxas de
ou seja, as populações dominantes, diferem (Fig. 27). cobertura, não existem diferenças significativas nem na
riqueza média por amostra nem nas densidades entre os
A consistência das diferenças observadas ao nível diferentes sistemas. Existe, portanto, uma certa
taxonômico de família são corroboradas pela análise com- homogeneidade destes parâmetros não somente no interior
parativa das populações que predominam em cada sistema
de cada sítio de estudo mas também entre eles (teste U;
de estudo, i. e., apresentam os cinco maiores valores de
α > 0,05). Os valores correspondentes de riqueza são de
taxa de cobertura. Elas pertencem às famílias mais repre-
22 + 0 spp. por parcela, para a Mata Alta, e de 20 + 1spp.,
sentativas (Fig. 28). Várias espécies caracterizam a Mata
para a Mata Ciliar e as capoeiras, e os de densidade são
Alta: Eugenia cf. ubensis Cambess., a batinga casca gros-
em média de 600 ind./ha. Se as espécies escolhidas
sa; Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze, o tambor;
representam da ordem de 30% da riqueza total das parcelas
Pterocarpus rohrii Vahl., o pau sangue; Cariniana legalis
(Mart.) Kuntze, o jequitibá rosa, e Terminalia aff. permanentes em cada área, esta proporção se eleva a mais
kuhlmannii Almayah et Stace, a pelada (Combretaceae). de 50% para as densidades e entre 60% e 85% para as
Na Mata Ciliar, as populações dominantes são outras: uma respectivas áreas basais. Em taxa de cobertura, a
figueira, o mata pau Ficus gomelleira Kunth et Bouché; contribuição das espécies selecionadas flutua ao redor de
a palmeira brejaúba, espécie pioneira heliófila, Astrocaryum 60%. Duas diferenças entre os sistemas são observadas,
aculeatissimum (Schott) Burret; a sucanga, Senefeldera correlatas ao tipo de impacto em cada capoeira: na capoeira
multiflora Mart., e a imbiriba, Eschweilera cf. ovata após extração, a área basal das 25 espécies mais
(Cambess.) Miers. representativas é quase metade que nos sítios restantes,
em proporção direta com a diminuição da área basal total
A comunidade da capoeira após extração se caracteriza
(ver Tab. 10). A taxa de cobertura do total das espécies
pela abundância das populações de Euphorbiaceae, sobre-
selecionadas é superior na capoeira após queimada, devido
tudo de Micrandra elata Muell. Arg., a mamoninha, es-
essencialmente à diminuição da diversidade própria do
pécie pioneira que domina no banco de sementes do solo.
estágio successional em questão. Qualquer que sejam estas
A arapoca, Neoraputia alba (Nees et Mart.) Emerich,
diferenças, o fato da representatividade das espécies
distingue igualmente esta comunidade na qual o conjunto
escolhidas em relação à comunidade arbórea dos sítios de
das árvores apresentam pequenas áreas basais e signifi-
estudo deve ser aferido.
cativas abundâncias. Na capoeira após queimada, a
Annonaceae Rollinia laurifolia Schldl., ou pinha da mata, As medidas de esclerofilia
domina fortemente a comunidade, com 22% de taxa de Para quantificar o grau de esclerofilia é necessário esti-
cobertura, acompanhada por Joannesia princeps Vell., a mar dois parâmetros: a área ou superfície foliar e os
boleira, que junto às palmeiras brejaúba e palmito respectivos pesos secos; ambos referem-se a folíolos no
amargoso, A. aculeatissimum e Polyandrococos caudescens caso de folhas compostas. Os valores de área foliar di-
(Mart.) Barb. Rodr., constituem um conjunto de popula- vididos pelos respectivos valores de peso expressam a
ções pioneiras e secundárias. Para todas estas espécies superfície correspondente a um peso unitário, ou super-
existem diferenças significativas entre os sítios de estu- fície específica foliar (SEF); a relação inversa possibilita
do, seja em densidade, seja em área basal ou em ambos estimar o peso de uma superfície unitária, ou peso espe-
os parâmetros (teste U; α < 0,05). As populações domi- cífico foliar (PEF1). Os mesmos valores são utilizados no
nantes se comportam como verdadeiros indicadores eco- quociente SEF e seu inverso, o PEF1, existindo portanto
lógicos do estado da floresta: na Mata Alta, apresentando uma total simetria entre o SEF e o PEF1. Uma outra
as árvores de maior porte, o que se traduz pela impor- forma de quantificar o grau de esclerofilia é, do início,
tância das taxas de cobertura não somente das espécies recortar dos limbos pequenas unidades amostrais de su-
climácicas mas também das pioneiras ou secundárias e,
perfície fixa e obter os pesos secos correspondentes, o
nas capoeiras, pela expressiva dominância das espécies
que exime das medidas de área foliar e possibilita elimi-
não climácicas. Todavia, cada capoeira é marcada distin-
nar as nervuras mais grossas, fonte freqüente da grande
tamente de acordo a seu respetivo histórico, seja pelos
dispersão de valores. Este segundo procedimento leva
numerosos e pequenos indivíduos naquela onde foi ex-
igualmente a estimativas de peso específico foliar ou PEF2.
traída madeira seletivamente, seja pela presença maciça de
pioneiras e secundárias onde a floresta successional seguiu O Índice de Esclerofilia –IE- de Müller-Stoll (1947,
à queimada. 1948) representa uma simples padronização do peso es-

42 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


pecífico foliar com fins de facilitar a comparação de re- das do material foliar de espécies esclerófilas,
sultados. Ele é igual ao peso específico foliar, ou PEF, intermédiarias e não esclerófilas, ou com folhas “leves”, a
calculado com o valor dobrado da superfície foliar no fim de realizar comparações. Diga-se de passagem que o
denominador e expresso em unidades de grama por dm2. estabelecimento de valores fixos não dispensa de uma certa
Como conseqüência da introdução da constante 1/2, todas arbitrariedade.
as medidas são reduzidas a metade e a mudança de unidade O diagrama de dispersão de pontos de IEp em função
de cm2 para dm2 elimina dois dígitos geralmente nulos, de IEs (Fig. 29), pode ser ajustado pela equação da reta:
o que permite visualizar melhor as comparações. Logo, as y = 0,798x + 0,041;
estimativas do peso específico foliar por meio do IE ficam de maneira que para:
compreendidas, fora de raras exceções, entre 0,2 e 1. O x = 0,60 g/dm 2 ⇒ y = 0,52 g/dm 2,
valor limite do IE igual ou superior a 0,60g/dm2 é propos- sendo 0,60 g/dm2 o valor limite inferior de IEs para es-
to para separar as espécies consideradas esclerófilas em pécies consideradas esclerófilas e 0,52 g/dm 2 o valor
formações florestais (De Sloover et al., 1965; Rizzini, 1976). correspondente de IEp.
índice de esclerofilia IEpa(g/dm2)

1,0 0,016

peso específico foliara(g/cm2 )


y = 0,80x + 0,04 O
0,8 r = 0,84**** r = 0,179
0,012
0,6
0,008
0,4

0,004
0,2

0,0 0,000
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0 50 100 150 200
índice de esclerofilia IEs (g/dm 2) área foliar (cm2 )

0,016
Figura 29. Diagramas de dispersão de pontos
peso específico foliara(g/cm2 )

y = - 0,0057 ln (x) + 0,0339


r = 0,85****
representando as relações entre os índices de
0,012 esclerofilia, IEs e IEp, e a superfície específica
foliar, a área foliar e o peso específico foliar PEF2
0,008 para espécies arbóreas de Floresta Atlântica de
Tabuleiros.
0,004 IEs: índice de esclerofilia com base no peso seco
foliar e na área foliar; IEp: índice de esclerofilia com v
base no peso específico foliar de amostras
0,000
padronizadas PEF2 (ver texto).****: α <10-7; 0: α >0,05. N=72.
0 100 200 300 400
superfície específica foliar (cm 2/g)

É evidente que a possibilidade de calcular distintamen- O valor limite calculado de IEp é inferior ao valor
te o PEF, tanto por meio das áreas foliares e seus pesos, estabelecido de IEs, conseqüência, sem dúvida, da elimi-
tal como nos trabalhos mencionados, quanto se utilizando nação das nervuras mais proeminentes quando da obten-
dos pesos secos de pequenas amostras padronizadas dos ção das amostras. O valor inferior limite do IEs para as
limbos, conduz a duas formas de calcular o IE, respec- folhas membranáceas pode ser estabelecido tomando como
tivamente denominados de IEs e IEp. Ou seja: base a morfologia das espécies estudadas. Ele corresponde
a 0,36 g/dm2 para IEs o que equivale, segundo a equação
IEs = 1/2 peso seco foliar / área foliar (g/dm2) = 50 PEF1 (g/dm2); da reta teórica proposta, a 0,33 g/dm 2 para IEp. Esta
IEp = 1/2 peso seco da amostra / área da amostra (g/dm2) = pequena diferença de 0,03 g/dm 2 entre os índices é es-
50 PEF2 (g/dm2). perada, já que as folhas membranáceas possuem nervuras
A extrema simplicidade em estimar a esclerofilia por mais finas que as folhas coriáceas, aproximando as es-
meio de pequenas unidades amostrais de área circular timativas do peso específico foliar por ambos os proce-
extraídas dos limbos, autoriza rever qual a equivalência dimentos. O grupo de espécies com folhas membranáceas
entre IEs e IEp. Por outro lado, é de fundamental im- é denominado de espécies com folhas leves ou não
portância estabelecer limites fixos de valores para as medi- esclerófilas. As espécies às quais correspondem valores

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 43


de IEp < 0,52 g/dm 2 e IEp > 0,33 g/dm 2, ou seja valores de (73 cm2/g a 177 cm 2/g), e inferiores para a Floresta
inferiores que para as esclerófilas e superiores que para Amazônica sobre oxisol e a Caatinga alta (75 cm2/g) foram
as de folhas leves, são denominadas intermediárias com registrados por Medina (1981). À vista destes resultados,
respeito ao grau de esclerofilia. as espécies da Floresta Atlântica de Tabuleiros apresen-
O diagrama de dispersão de pontos representando o PEF2 tam uma maior gama de variação do grau de esclerofilia
em função da SEF pode ser ajustado a uma equação do e evidenciam, globalmente, um caráter menos esclerófilo
tipo logaritmo-inversa (r = 0,852; α = 10-9) (Fig. 29). Para que as árvores da Floresta Amazônica.
baixos valores de SEF, i. e., para as espécies mais escleró- Quando da comparação entre sistemas, se constata uma
filas, as diferenças de SEF são menores que os respectivos certa homogeneidade dos valores médios de esclerofilia e
intervalos de PEF2. Os valores da variável PEF2 separam uma ampla gama de variação para cada um deles. De fato,
melhor as distintas espécies. Este resultado indica que as as únicas diferenças médias significativas correspondem
estimativas de SEF e PEF2 não são totalmente equivalentes, à Mata Ciliar que apresenta valores superiores de
podendo ser o PEF2 uma medida mais justa do grau de esclerofilia, com respeito aos sítios de estudo restantes
esclerofilia. Pelo contrário, não existe relação entre as áreas (Tab. 11). A variabilidade das propriedades físicas das
foliares e o peso específico foliar: espécies tanto com folhas nos distintos sistemas sugere a coexistência de
folhas pequenas como de significativo tamanho podem espécies acentuadamente distintas no interior dos mesmos
apresentar um grau de esclerofilia semelhante (Fig. 29). e sublinha a necessidade de aprofundar a análise.
Tabela 11. Parâmetros físicos foliares de espécies arbóreas da Floresta Atlântica de Tabuleiros.
Médias e erro padrão; n = 25. IEs: Índice de Esclerofilia com base no peso seco foliar e na área foliar; IEp: Índice de
Esclerofilia com base no peso de amostras foliares de superfície padronizada. MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar;
CE: capoeira após extração; CQ: capoeira após queimada. Teste t com dados normalizados; ∗∗: α<0,01, diferença
muito significativa; ∗: α<0,05, diferença significativa; 0: diferença não significativa. As diferenças indicadas são
referentes à comparação com a Mata Ciliar.

parâmetros físicos mata alta mata ciliar capoeira após capoeira após
foliares extração queimada
média + erro padrão

superfície específica 111 7** 83 80 00109 7** 0106 6**


2
(cm /g)
0
IEs 0,45 0,03* 0,60 0,06 000,46 0,03* 00,47 0,03i
2
(g/dm )
IEp 00,43 0,03* 0,51 0,03 000,38 0,03** 000,41 0,02**
2
(g/dm )

área foliar 37 600 50 80 32 6 45 80


2
(cm )

Em conclusão, as espécies podem ser reagrupadas em Os valores estimados de área foliar apresentam igualmen-
três grupos funcionais: o primeiro corresponde às escleró- te uma pronunciada variação que se estende entre 0,4 cm2 e
filas, com valores de IEp iguais ou superiores a 0,52 g/dm2; 164 cm2, mesmo que com valores médios similares para
o segundo reagrupa as espécies não esclerófilas ou de todos os sítios de estudo (Tab. 11). Apesar da amplitude
folhas membranáceas, com valores de IEp iguais ou infe-
no tamanho das folhas, predominam as folhas ou folíolos
riores a 0,33 g/dm2. Entre estes limites, um terceiro grupo
maiores que 20cm2., como em outras florestas tropicais
funcional reúne espécies com valores de IEp intermediários.
pluviais (Rizzini, 1976; Hamann, 1979). A análise que
Os diferentes parâmetros físicos foram estimados para
segue considera três categorias de tamanho foliar:
a Floresta de Tabuleiros (Tab. 11). Nos sistemas primá-
mesófilas grandes (≥ 70cm2), mesófilas menores (entre
rios, o valor médio da SEF, correspondente às 25 espé-
cies selecionadas por sítio, é de 111+7 cm2/g, para a Mata 21cm2 e 69cm 2) e pequenas (< 20cm2), segundo a clas-
Alta, e 83+8 cm2/g, para a Mata Ciliar, sendo que o con- sificação de Haunkier que inclui na categoria de pequenas
junto das medidas varia entre 27 cm 2/g e 317 cm 2/g. Va- as folhas leptófilas, nanófilas e micrófilas (ver em Rizzini,
lores médios próximos para as florestas tropicais 1976). Quando se trata de folhas compostas, esta classi-
semidecíduas (125 cm2/g), porém com menor variabilida- ficação corresponde aos folíolos.

44 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


Grupos funcionais em Floresta O diagrama de dispersão de pontos da Figura 31 evi-
dencia uma relação inversa entre os conteúdos de
Atlântica de Tabuleiros nitrogênio orgânico e o caráter esclerófilo das espécies
Relação entre esclerofilia e qualidade arbóreas. As folhas mais espessas contêm compostos de
do material foliar carbono relativamente mais pobres em nitrogênio que
Nenhuma informação direta sobre as características quí- folhas mais leves, o que é evidenciado pela relação entre
micas das folhas é susceptível de ser obtida unicamente os valores do quociente carbono sobre nitrogênio –C/N-
pelo peso específico foliar. Outros descritores devem ser e os respectivos índices de esclerofilia. O quociente lignina
tomados em consideração tal como a concentração de sobre nitrogênio -L/N- considera somente a fração de
nitrogênio orgânico, maneira indireta de estimar os con- carbono que forma compostos cíclicos orgânicos altamen-
teúdos protéicos celulares em relação ao acúmulo de te resistentes à hidrólise e, posteriormente, quando da
compostos orgânicos estruturais, pobres em nutrientes. senescência e morte das folhas, à decomposição. Este
Para as principais famílias do povoamento florestal estu- quociente evidencia uma menor relação com o grau de

0,80
índice de esclerofilia (g/dm )
2

conteúdo de nitrogênio (%)


3,0
0,60

2,0
0,40

0,20 1,0

0,00 0,0
RUTA
ANNO
MYRT

MORA

EUPH

LEGU
BURS
BOMB
SAPO

AREC

ANAC
VIOL

FLAC
LECY

RUTA
ANNO
MYRT

MORA

EUPH

LEGU
BURS

BOMB
SAPO
AREC

ANAC
VIOL

FLAC

LECY
Figura 30. Grau de esclerofilia e conteúdo de nitrogênio foliar de espécies arbóreas pertencentes às
principais famílias de Floresta Atlântica de Tabuleiros. Valores médios e erro padrão. Para as diversas famílias,
foram selecionadas as espécies de cada sistema com maior taxa de cobertura (ver texto).
SAPO: Sapotaceae (n=8); AREC: Arecaceae (n=2); MYRT: Myrtaceae (n=4); LECY: Lecythidaceae (n=4);
BOMB: Bombacaceae (n=2); MORA: Moraceae (n=7); VIOL: Violaceae (n=1); ANNO: Annonaceae (n=1);
RUTA: Rutaceae (n=3); BURS: Burseraceae (n=1); EUPH: Euphorbiaceae (n=6); ANAC: Anacardiaceae (n=2);
LEG: Leguminosae (n=10); FLAC: Flacourtiaceae (n=3).

dado, a significativa variabilidade do grau de esclerofilia esclerofilia que o C/N, o que indica que o acúmulo de
denota a existência de distintos grupos funcionais e, compostos orgânicos, à base da propriedade da esclerofilia,
globalmente, a relação inversa entre esclerofilia e conteú- não se faz de maneira proporcional sob a única forma de
do de nitrogênio do material foliar (Fig. 30). compostos tipo lignina (Fig. 31).
Dentre as três famílias características da Floresta Atlân- Quando do reagrupamento das espécies em esclerófilas,
tica, Myrtaceae e Sapotaceae revelam uma nítida tendên- intermediárias e não esclerófilas ou de folhas leves, se-
cia à esclerofilia, contrariamente a Leguminosae cujo gundo as três categorias funcionais preestabelecidas, as
material vegetativo é menos esclerófilo e com maiores respectivas características químicas diferenciam com cla-
conteúdos de nitrogênio porém, com forte variabilidade. reza cada grupo funcional (Tab. 12). O grau de esclerofilia
As palmeiras –Arecaceae- mostram igualmente um caráter está associado tanto aos conteúdos de nitrogênio e lignina
esclerófilo e, em menor grau, Lecythidaceae que parece como aos quocientes C/N e L/N: o grupo funcional das
reunir tanto espécies esclerófilas como medianamente esclerófilas apresenta o menor conteúdo de nitrogênio e,
esclerófilas. Em linhas gerais, as famílias que congregam no outro extremo, aquelas espécies com folhas
espécies pioneiras e secundárias mostram propriedades membranáceas concentram as maiores quantidades relati-
intermediárias tanto do grau de esclerofilia como da ri- vas de nitrogênio e as menores de compostos tipo lignina.
queza em nitrogênio. Na maioria dos casos, a ampla A meio termo entre ambos os grupos funcionais, o ter-
dispersão de valores médios, que indica uma certa varia- ceiro apresenta características intermediárias. Note-se que,
bilidade funcional, demonstra que não existe uma asso- embora os conteúdos de lignina sejam fortemente variá-
ciação estreita entre cada família e um determinado grupo veis, as diferenças são significativas para as espécies
funcional. Isto justifica a análise aprofundada do grau de intermediárias e não esclerófilas, assim como os quocien-
esclerofilia no nível específico. tes L/N, para os três grupos funcionais.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 45


5,0 50
y = -2,71x + 3,51 y = 31,09x + 7,76

conteúdo de N (%)
4,0 r = 0,64*** 40 r = 0,68***

3,0 30

C/N
2,0 20

1,0 10

0,0 0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
2 2
índice de esclerofilia IEp (g/dm ) índice de esclerofilia IEp (g/dm )

25,0
y = 17,54x + 0,87
20,0 r = 0,54*** Figura 31. Relações entre a esclerofilia e os
conteúdos de nitrogênio foliar e entre esclerofilia e
15,0
L/N

os quocientes C/N e L/N para espécies arbóreas de


10,0 Floresta Atlântica de Tabuleiros.
C: carbono orgânico; N: nitrogênio; L: lignina; IEp: índice
5,0
de esclerofilia com base no peso específico foliar de
0,0 amostras padronizadas PEF2 .∗∗∗: α < 0,0001. N=73
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
2
índice de esclerofilia IEp (g/dm )

Tabela 12. Valores do índice de esclerofilia IEp, conteúdos de nitrogênio e lignina e relações C/N e L/N dos
grupos funcionais segundo o grau de esclerofilia de espécies arbóreas da Floresta Atlântica de Tabuleiros.
Médias e erro padrão. IEp: índice de esclerofilia; C: carbono orgânico; N: nitrogênio; L: lignina. ES: espécies esclerófilas;
IN: espécies intermediárias; NE: espécies não esclerófilas. ES: n=21; IN: n=34; NE: n=17. Teste t com dados
normalizados. ∗∗∗: α < 0,001; ∗∗: α < 0,01; ∗: α < 0,05; 0: α > 0,05.

grupos funcionais
parâmetros espécies espécies espécies não teste t
foliares esclerófilas intermediárias esclerófilas

2
IEp (g/dm ) 0,61 + 0,02 0,42 + 0,01 0,24 + 0,01 - -

nitrogênio (%) 1,84 + 0,09 2,24 + 0,09 2,91 + 0,13 ES<IN IN<NE
*** **

lignina (%) 21,0 + 1,70 16,8 + 1,30 14,1 + 1,80 0 IN>NE


*

C/N 27,1 + 1,40 21,7 + 0,90 15,4 + 0,80 ES>IN IN>NE


*** **

L/N 11,8 + 1,00 8,0 + 0,8 5,1 + 0,8 ES>IN N>NE


** **

A classificação das espécies arbóreas segundo o grau A riqueza de grupos funcionais nos diferentes
de esclerofilia se corresponde efetivamente a diferenças sistemas
funcionais no nível das espécies. A maior ou menor con- Consideradas globalmente, 21 das espécies arbóreas
sistência das folhas, uma aparente propriedade física, selecionadas pertencem ao grupo funcional das esclerófilas,
reflete distintas intensidades no acúmulo de polímeros 34 são consideradas intermediárias e 17 integram o grupo
orgânicos de outra natureza que proteínas e diversas das não esclerófilas. A abundância de espécies interme-
substâncias nitrogenadas, com as quais se encontra em diárias resulta essencialmente da forte diminuição da ri-
relação inversa. No geral, os três grupos funcionais re- queza dos grupos restantes nos sítios outros que a Mata
presentam um gradiente diferenciado da riqueza em Alta (Tab. 13). O maior contraste se observa entre a Mata
nitrogênio das folhas inversamente proporcional a quan- Alta, por um lado, e a Mata Ciliar e a capoeira após
tidade de compostos estruturais e de difícil biodegradação extração, por outra parte: se, na Mata Ciliar, o número
como a celulose e a lignina. de espécies com folhas membranáceas é extremamente

46 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


Tabela 13. Riqueza específica dos grupos funcionais segundo o grau de esclerofilia e o tamanho foliar em
Floresta Atlântica de Tabuleiros.
Médias e erro padrão; n=3. MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; CE: capoeira após extração; CQ: capoeira após queimada.
Teste U; ∗ : α < 0,05., diferença significativa. Estão indicadas somente as hipóteses H1 das diferenças significativas.

mata alta mata ciliar capoeira capoeira


grupos funcionais após extração após queimada teste U
o
riqueza segundo esclerofilia (n spp./0,125 ha)

MA < MC*
espécies esclerófilas 7+0 10 + 0 2+0 4+1 MA > CE*
MA > CQ*
MA < CE*
espécies intermediárias 9+0 9+1 11 + 1 13 + 1 MA < CQ*

espécies não esclerófilas 6+1 1+0 7+1 4+1 MA > MC*

o
riqueza segundo tamanho foliar (n spp./0,125 ha)

espécies de folhas pequenas* 6 1 4 1 9 0 7 1 MA < CE*

MA > CE*
espécies mesófilas menores 13 0 12 1 10 1 7 1 MA > CQ*

MA < MC*
espécies mesófilas grandes 2 0 5 0 1 0 6 0 MA > CE*
MA < CQ*

baixo, nos sistemas secundários, é a riqueza de espécies O grupo funcional das espécies não esclerófilas parece,
esclerófilas que diminui. De fato, a diferença fundamental em princípio, menos afetado pelas formas de uso que ori-
entre os sistemas primários e secundários reside na ex- ginaram os sistemas secundários; em particular, na capo-
trema pobreza do grupo funcional das árvores esclerófilas eira após extração seletiva de madeira, existe uma signifi-
nas capoeiras. Neste sentido, a riqueza apenas superior cativa riqueza. Com efeito, as situações extremas dizem
na capoeira após queimada obedece à presença de duas respeito aos sistemas primários e notadamente à Mata Ciliar,
espécies de palmeiras -Arecaceae-, compartilhadas com a sítio no qual das somente duas espécies deste grupo, uma
Mata Ciliar, sistema que pelo contrário, apresenta a maior é da família Moraceae (Tab. 13). A pesar da riqueza similar
diversidade de espécies esclerófilas (Tab. 13). entre a Mata Alta e a capoeira após extração, a compo-
sição taxonômica difere: Euphorbiaceae e Leguminosae são
As diferenças entre sítios não concernem apenas a ri- preponderantes na capoeira sendo que, na Mata Alta, as
queza mas também a composição taxonômica dos grupos sete espécies presentes pertencem a sete famílias diferen-
funcionais. Não existe nenhuma espécie esclerófila que, tes, com uma única Leguminosae. Ora, os índices de
simultaneamente, domine em todos os sítios; no máximo, esclerofilia das distintas espécies desta família abarcam
poucas delas são comuns a dois dentre eles. Assim, os uma ampla gama de variação que vai de 0,08 g/dm2 a
trechos de floresta secundária possuem somente uma 0,32 g/dm2, contrapondo-se à uma certa homogeneidade de
espécie em comum: a única Leguminosae esclerófila, valores registrada para as Euphorbiaceae e Flacourtiaceae,
Lonchocarpus guilleminianus (Tul.) Malme, entre as nove que oscilam apenas ao redor de 0,25-0,26 g/dm2. Na Mata
estudadas. Sobre um total de 17 espécies, somente três Alta, a forte amplitude de valores observada, de 0,15 g/dm2
dominam tanto na Mata Alta como na Mata Ciliar. Em até 0,31g/dm2, provem das espécies de famílias distintas.
linha geral, as diferenças entre os sistemas primários se Como no caso precedente, não existem espécies dominan-
tes comuns aos quatro sistemas; somente três dentre elas
expressam assim mesmo no nível de família: na Mata
estão tanto em um dos sistemas primários como nas duas
Ciliar, grande parte das espécies não compartilhadas são
capoeiras; as 14 espécies restantes predominam exclusiva-
Moraceae e Arecaceae e, na Mata Alta, Myrtaceae e mente seja num sítio, seja em outro.
Lecythidaceae. Adiciona-se o fato de uma distribuição
Em oposição aos dois grupos funcionais extremos,
relativamente homogênea das espécies no interior de cada
aquele das espécies de esclerofilia intermediária possui
sistema tal como indicado pelos valores das medidas de maior riqueza nas capoeiras que nos sistemas primários
dispersão, amiúde nulos, e pela alta freqüência das mes- sem que por isso esta riqueza seja aí pouco expressiva
mas espécies dominantes em todas as amostras (Tab. 13). (Tab. 13). Ele congrega igualmente mais de um terço de

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 47


espécies comuns pelo menos a dois sítios, sendo que, res esclerófilas e, por fim, da capoeira após queimada,
pela sua vez, R. bahiensis, o tambor, e J. princeps, a pelas áreas basais superiores dos indivíduos de folhas
boleira, predominam nos quatro sistemas e em quase todas “leves” (Tab. 14). Somente as primeiras cinco espécies
as amostras. Quando da comparação taxonômica, novas dominantes representam mais de 50% da área basal total
diferenças distinguem, por um lado, os sistemas secun- e os únicos troncos de R. bahiensis e de C. legalis
dários, e, por outro, a Mata Ciliar e a Mata Alta: no recobrem mais de 8m2, com alturas máximas respectivas
primeiro caso, porque, na floresta perto d’água, a riqueza de 40m e 28m. Entre estas cinco espécies, se encontram
é praticamente determinada pelas Moraceae e Sapotaceae também indivíduos de grande porte das populações de T.
cujas espécies evidenciam um grau de esclerofilia kuhlmannii, P. rohrii e A. concinnum, com áreas basais
homogêneo e relativamente elevado para este grupo fun- entre 2 e 3m2 e alturas de até 36m. Não cabe dúvida de
cional (0,46 a 0,51 g/dm2). Entretanto, na Mata Alta, so- que trata-se das árvores maiores da Floresta de Tabulei-
mente três espécies não são comuns aos outros sistemas ros entre as quais, as emergentes do dossel. Elas perten-
versus nove na capoeira queimada, onde as 15 espécies cem aos três grupos funcionais identificados e dão conta
correspondem a 15 famílias diferentes. Uma notável di- por si só da diversidade funcional da própria floresta.
versidade de famílias e poucas espécies comuns com os
Uma imagem bem diferente resulta da síntese dos re-
sítios restantes é também a característica principal da
sultados correspondentes à floresta que margeia o córrego,
capoeira após extração.
a Mata Ciliar. Frente à falta total de dominância das
Em definitivo, diferenças registradas na riqueza dos populações arbóreas de folhas “leves”, as esclerófilas e
grupos funcionais são moldadas pela diversidade de es- de folhas intermediárias predominam (Tab. 14). Com uma
pécies e famílias que variam de um sistema ao outro. área basal total próxima aos 7m2, F. gomelleira é a espé-
Tanto uma acentuada riqueza como o empobrecimento de cie de maior taxa de cobertura, porém S. multiflora a
um dado grupo pode ser utilizado como indicador da sucede devido a seus numerosos indivíduos, mais de 100
diversidade funcional do sistema. Porém, o aumento da por ha, o que é característico de populações de início de
diversidade de um grupo funcional parece se relacionar sucessão. Completando a listagem das cinco espécies com
com a respectiva diminuição de outro de forma que a maior taxa de cobertura, as duas palmeiras, A. aculeatissi-
consideração conjunta das três categorias faz mais con- mum e P. caudescens, e E. ovata representam populações
sistentes as comparações. Mas, a riqueza de espécies esclerófilas e R. bahiensis, uma população de proprieda-
pouco informa sobre a importância relativa das popula- de intermediária. Elas não possuem nem abundâncias extre-
ções no ecossistema, informação sem a qual uma inter- mas nem um porte considerável, indicando mais bem -ver
pretação funcional se torna impossível. o caso das palmeiras- uma certa abertura do dossel, o
No que diz respeito ao tamanho das folhas, os resul- que possibilita, assim mesmo, a instalação de espécies
tados indicam uma certa afinidade entre a mata Ciliar e secundárias tal S. multiflora. No total, a Mata Ciliar se
a capoeira após queimada, com significativa presença de comporta como um sistema relativamente esclerófilo.
espécies arbóreas com folhas mesófilas grandes (Tab. 13). Em aberta oposição com as florestas primárias, a ca-
No oposto, um maior número de espécies da Mata Alta poeira após extração mostra ainda os efeitos de um
e da capoeira após extração se caracterizam pelas folhas extrativismo predatório. Baste lembrar que as populações
mesófilas menores, em um caso, e por uma abundância esclerófilas são aquelas de lenho duro e contempladas,
relativa elevada de folhas pequenas, no outro. A interpre- em geral, como madeiras de “Lei”, ou seja, as mais
tação destes resultados é delicada mas pode fundar-se na cobiçadas. Passados 50 anos, elas parecem não haver
hipótese de uma maior insolação na proximidade do recuperado suas densidades e ainda menos seu porte,
córrego e na capoeira em sucessão que favorece as espécies expresso pela estimativa de área basal (Tab. 14). O grupo
com amplos limbos foliares, entre as quais, as palmeiras. funcional das espécies intermediárias se caracteriza igual-
mente pela baixa área basal que representa metade do
O grau de esclerofilia da comunidade arbórea valor observado para a Mata Alta. Quanto ao grupo de
Para um determinado povoamento florestal, a importância folhas membranáceas, ou não esclerófilas, a considerável
quantitativa do grau de esclerofilia das populações é densidade de M. elata, com perto de 200 ind./ha, com-
responsável, em último termo, das propriedades funcio- pensa seguramente a inexistência de grandes árvores, con-
nais da comunidade. A floresta Densa de Cobertura tribuindo com cerca de 50% da área basal total das 25
Uniforme, a Mata Alta, é o sistema onde existe a repar- espécies selecionadas. Exceto M. elata, as quatro popu-
tição mais homogênea de grupos funcionais, analisando lações predominantes são consideradas de esclerofilia in-
tanto as densidades, as áreas basais ou as taxas de co- termediária e em nenhum caso a área basal destas espé-
bertura. Ela se diferencia da Mata Ciliar pela abundância cies excede 1m2 , Entre elas, J. princeps é uma espécie
e o porte das populações não esclerófilas; da capoeira pioneira e S. multiflora, uma secundária inicial. A análise
após extração, sobretudo pela nítida relevância das árvo- das taxas de cobertura dos grupos funcionais mascara o

48 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


Tabela 14. Densidade, área basal e taxa de cobertura dos grupos funcionais segundo o grau de esclerofilia em
Floresta Atlântica de Tabuleiros.
Médias e erro padrão; n=3. MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; CE: capoeira após extração; CQ: capoeira após queimada.
Teste U; 0: α> 0,05, diferença não significativa; ∗: α<0,05., diferença significativa. Estão indicadas somente as
hipóteses H1 das diferenças significativas.

mata alta mata ciliar capoeira capoeira


grau de esclerofilia após extração após queimada teste U

densidade (ind. / ha)

espécies esclerófilas 187 + 32 240 + 49 21 + 5 144 + 32 MA > CE *

espécies intermediárias 288 + 32 267 + 41 275 + 54 408 + 12 MA < CQ *

MA > MC *
espécies não esclerófilas 128 + 14 235 + 19 301 + 15 493 + 15 MA < CE *

área basal (m2 / ha)

espécies esclerófilas 18,5 + 1,5 16,2 + 4,2 21,7 + 0,8 26,1 + 1,0 MA > CE *

espécies intermediárias 12,9 + 1,1 12,5 + 2,4 26,8 + 1,2 20,3 + 2,3 MA > CE *
MA < CQ *

espécies não esclerófilas 15,0 + 1,6 21,6 + 1,1 25,7 + 0,5 21,4 + 0,5 0

taxa de cobertura (200%)

MA < MC *
espécies esclerófilas 38 + 1 64 + 12 10 + 4 33 + 6
MA > CE *
espécies intermediárias 61 + 2 59 + 12 54 + 6 104 + 6 MA < CQ *

espécies não esclerófilas 24 + 5 7+4 50 + 2 14 + 2 MA < CE *

fato de que a área basal total deste sistema encontra-se indicador tanto de diferenças relacionadas com
reduzida a metade mas salienta o maior impacto sofrido determinantes mesológicos, tal o caso da proximidade de
pelas populações esclerófilas (Tab. 14). um curso d’água, como de modificações da comunidade
Como no caso do sistema após extrativismo, na capo- arbórea conseqüentes a impactos antrópicos. Ela é,
eira após queimada mais da metade da taxa de cobertura portanto, um indicador ecológico de caráter funcional que,
das 25 espécies selecionadas provem de populações do a este título, sintetiza fatores evolutivos, ecológicos e
início da sucessão, pioneiras e secundárias inicias, entre antrópicos que se manifestam na organização da
as quais as cinco com maior dominância. Contudo, elas comunidade arbórea. Em paralelo, considerar o valor
estão incluídas seja no grupo das intermediárias, seja no indicador da riqueza em espécies dos grupos funcionais
grupo funcional das esclerófilas, tratando-se aqui de constitui um complemento de informação que permite
palmeiras e não de espécies arbóreas em sentido estrito. avaliar as diferenças e impactos sobre a diversidade
Mas, o traço principal da comunidade é a alta dominância taxonômica, resultante da evolução recente das plantas
de R. laurifolia, com 160 ind./ha e 9m2 de área basal, que lenhosas na região neotropical.
junto a J. princeps, contribuem para as altas densidade e
Outros indicadores podem ser propostos. O primeiro
área basal de espécies de esclerofilia intermediária (Tab. 14).
se baseia no Índice de Diversidade de Simpson e consi-
O procedimento empregado para a queima pode, em parte,
dera conjuntamente a taxa de cobertura das espécies que
explicar a significativa área basal deste grupo: a dificul-
dade que representa extrair as raízes, é contornada pelo compõem cada grupo funcional e o Índice de Esclerofilia
corte dos troncos que rebrotam. O que representou uma de cada espécie, i. e., o peso específico foliar padronizado.
dificuldade de amostragem é de fato uma sinal particular A Importância Funcional da espécie i é definida como
deste tipo de impacto no passado. IFi= TC/100 x IEi;
Em conclusão, a taxa de cobertura dos grupos funcionais a probabilidade é expressa por
estima a importância quantitativa das diferentes populações pi= IFi / ∑ IFi para cada espécie pertencente a um grupo;
arbóreas que compõem cada grupo, representando um e a Diversidade do Grupo Funcional:
IDF = 1 / ∑pi 2.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 49


Tabela 15. Valores de Diversidade Funcional (IDF) da cobertura arbórea da Floresta Atlântica de Tabuleiros.
IDF: (ver texto).

grupos funcionais mata alta mata ciliar capoeira após capoeira após
extração queimada

IDF 5,48 7,47 2,72 3,06


spp. esclerófilas
IDF 6,64 7,08 10,53 4,62
spp. intermediárias
IDF 4,20 1,96 3,73 3,08
spp. não esclerófilas

IDF 16,32 16,51 16,98 10,76


total

A vantagem do IDF aplicado aos grupos funcionais capoeira após extração (Tab. 15).
reside no fato de diminuir a importância relativa das Um segundo indicador aplicado a cada grupo funcio-
espécies extremamente abundantes. Ao contrário da única nal pode ser utilizado: trata-se das médias dos distintos
utilização das taxas de cobertura, ele evidencia a maior parâmetros físicos e químicos que caracterizam o material
pobreza em espécies da capoeira após queimada e a ri- foliar ponderadas pelas taxas de cobertura. Ele possibilita
queza das populações de esclerofilia intermediária na obter estimativas médias do sistema.

6. A dimensão funcional da diversidade biológica


Irene Garay

Nas baixas latitudes, as florestas tropicais se encontram rapidamente reciclada. Existe, em conseqüência, uma es-
entre os ecossistemas mais produtivos do planeta. Inúme- treita relação entre o subsistema de produção e o
ras espécies arbóreas respondem pela surpreendente subsistema decompositor cujo nexo, por excelência, são
biomassa que, produzida ano após ano, triplica em geral as folhas das espécies arbóreas. Quando verdes, elas
aquela das florestas temperadas. Entretanto, uma parte da representam uma parte significativa da produtividade flo-
produtividade irá se acumular nos troncos das diversas restal; quando mortas, são recebidas pelo solo sendo seu
espécies que conformam o dossel e nos fustes das pou- destino final liberar os nutrientes nelas contidos.
cas e imponentes árvores que o coroam; outra, não menos
Para as florestas de regiões temperadas e temperadas
importante, corresponde à produção de folhas, flores e
frias, uma abundante literatura científica informa como a
frutos ou, ainda, raízes. No cerne deste processo, emerge
o paradoxo de estarem sustentadas pelos solos mais antigos quantidade e a qualidade dos aportes foliares ao solo
e mais pobres da biosfera submetidos à acentuada perda determinam a modalidade da decomposição da matéria
de nutrientes minerais que são transportados em profun- orgânica. Deste ponto de vista, as espécies florestais são
didade por chuvas continuadas e violentas. Os caminhos catalogadas em três grupos funcionais, sendo os extre-
da evolução conduziram a adaptações tais que a mos constituídos por espécies denominadas acidificantes
mineralomassa imprescindível ao processo produtivo se e melhoradoras. As primeiras correspondem a árvores cujo
concentra e permanece essencialmente nos próprios seres folhiço é pobre em nitrogênio e demais nutrientes e, por
vivos, ou seja fora dos horizontes pedológicos. conseguinte, com velocidade de decomposição lenta. As
outras, que produzem aportes foliares ricos em nutrientes
Mas, quando grande parte da matéria orgânica produ-
zida alcança a superfície do solo inicia-se um processo minerais e de rápida decomposição, podem por sua vez
complementar: a decomposição dos restos vegetais que melhorar a qualidade do solo. Entre ambos os extremos,
progressivamente vão liberar os nutrientes, os quais, uma terceira categoria de espécies aporta folhas mortas
absorvidos novamente pelas plantas, possibilitam reiniciar de qualidade intermediária cujo efeito benéfico ou não
um outro ciclo produtivo. Eles se acumulam, sobretudo, para a fertilidade vai depender do tipo do solo: são as
no topo do solo onde transita uma mineralomassa que é espécies indiferentes. Força é constatar que a questão da

50 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


diversidade de espécies sobre os mecanismos de decom- vegetação graminóide que, assentada no substrato
posição carece, em geral, de significação: a maioria dos quaternário, constitui as verdadeiras várzeas da região.
ecossistemas de floresta temperada e temperada fria são Hoje, tal imagem encontra-se praticamente restrita ao
constituídos por somente uma espécie ou, no máximo, maciço florestal formado sobretudo pela Reserva Bioló-
por duas espécies arbóreas. Assim, considerar as carac- gica de Sooretama e a Reserva Florestal de Linhares, no
terísticas qualitativas dos aportes foliares possibilita com- interior das quais predomina a Mata Alta e, secundaria-
parar diferentes tipos de floresta ou manejar maciços mente, a Mata ou Floresta Ciliar. Se a importância da
florestais distintos com objetivo de produção e corte de Mata Alta reside na qualidade de ser o ecossistema mais
madeira. Uma analogia com plantios arbóreos mono-espe- representativo do núcleo florestal dos Tabuleiros Terciários,
cíficos de regiões tropicais merece ser entrevista. a relevância da Floresta Ciliar resulta essencialmente dos
serviços ambientais ligados à regulação e manutenção dos
Nada se conhecia praticamente sobre estes aspectos para
recursos hídricos, o que é fundamental na região percor-
os ecossistemas de Floresta Atlântica. Ainda menos, qual
rida por numerosos córregos cujas águas possibilitam a
o papel da diversidade de espécies arbóreas sobre a mo-
sobrevivência da floresta e a produção agrícola.
dalidade da decomposição da matéria orgânica. Alguns tra-
balhos focalizaram a pesquisa num número extremamente A Floresta de Tabuleiros é uma floresta semidecidual
restrito de espécies visto a dificuldade maior que repre- na qual coexistem populações perenes semi-caducifólias e
senta a altíssima diversidade da comunidade arbórea em caducifólias em relação direta com três grupos funcio-
qualquer que seja a floresta tropical. Assim, concluir sobre nais: o primeiro reagrupa as árvores esclerófilas; o se-
o funcionamento do ecossistema como um todo é uma gundo, aquelas de folhas intermediárias e o terceiro gru-
extrapolação abusiva. Em contrapartida, o estudo detalha- po funcional está constituído por espécies não esclerófilas
do de centenas de espécies mostrou-se impossível na ou de folhas membranáceas. Quando instalada sobre os
prática. A meio caminho, nossos resultados demonstram Tabuleiros Terciários, um certo equilíbrio dos grupos
que a elaboração de indicadores funcionais, a partir de funcionais, inclusive representados pelos indivíduos que
um certo número de espécies escolhidas com critério emergem do dossel, caracteriza a Floresta Densa de
objetivo, representa uma alternativa. A diversidade de Cobertura Uniforme. Quando ela se instala na proximida-
grupos funcionais ou das características ecológicas de cada de de um curso d’água, se acentua o caráter esclerófilo
grupo funcional expressa como a diversidade de espécies, da cobertura arbórea e os claros resultantes de uma certa
propriedade fundamental das florestas tropicais, se orga- discontinuidade das copas favorece a vida das palmeiras
niza em uma diversidade funcional que determina a es- e de populações secundárias. Globalmente, as folhas das
trutura e o funcionamento do ecossistema. Eis a questão árvores são mais esclerófilas na Mata Ciliar que na Mata
tratada a seguir para a Floresta Atlântica de Tabuleiros Alta e consequentemente mais pobres em nitrogênio e mais
do norte do Espirito Santo. ricas em lignina (Fig. 32). Com a chegada do período
invernal, relativamente mais seco, a queda foliar torna-se
mais intensa, de forma que no final do ano a necromassa
Esboçando um modelo conceitual do originada pela cobertura arbórea totaliza da ordem de 7
funcionamento da Floresta Atlântica t/ha, ou seja entre dois e três vezes mais que os aportes
em florestas temperadas e temperadas-frias. Estes aportes,
de Tabuleiros
que correspondem a uma parte significativa da produtivi-
dade, são entretanto menores na Mata Ciliar que na Mata
As fácies de floresta primária: Mata Alta e Mata Alta. A esclerofilia parece ir de par com uma menor
Ciliar produtividade.
A Floresta Densa de Cobertura Uniforme, a Mata Alta, Os solos pobres e profundos da Formação Barreiras,
surge na paisagem instalada sobre os amplos topos apla- sujeitos ao intemperismo prolongado das condições tro-
nados dos tabuleiros terciários e abraçando as encostas picais, são recarregados em nutrientes e matéria orgânica
suaves, que conformam os antigos vales abertos e rasos pelos aportes epígeos da vegetação. As folhas mortas
pelos quais correm ainda numerosos córregos e rios. Na inteiras se depositam sobre o piso da floresta e, apesar
proximidade dos cursos d’água, a mata modifica sua das mudanças ocasionadas pela senescência e a rápida
fisionomia que aparece ao olhar mais aberta e semeada de decomposição de compostos solúveis de fácil degradação,
numerosas palmeiras; trata-se aí da denominada Mata estão marcadas pelas propriedades físicas e químicas de
Ciliar a qual, apesar de sujeita às flutuações de profun- quando vivas. Elas são proporcionalmente mais ricas em
didade do lençol freático, nunca é totalmente inundada. nitrogênio na Mata Alta que na Mata Ciliar e, pelo con-
Fica por conta dos fundos de vale o permanecer mais ou trário, mais esclerófilas na Mata Ciliar que na Mata Alta.
menos alagados; mas a floresta é substituída aí por uma A quantidade e a qualidade dos aportes foliares ao solo

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 51


espelha a importância relativa dos grupos funcionais do matéria orgânica e nutrientes se concentram em uníssono
estrato arbóreo, fator determinante das velocidades de com as raízes finas das árvores, é traço em comum tanto
decomposição (Fig. 32). da Mata Alta como da Mata Ciliar. Porém, ao se comparar
De fato, a velocidade de decomposição se manifesta ambas as fácies florestais, este horizonte apresenta pro-
pela intensidade do acúmulo orgânico de origem vegetal priedades contrastantes para a maioria dos parâmetros: na
no topo do solo. Ele resulta fundamentalmente da moda- Mata Alta, a matéria orgânica é mais rica em nitrogênio,
lidade de dois processos biológicos cujos componentes, a quantidade de bases de troca é maior, o acúmulo or-
microorganismos e fauna, se encontram em estreita gânico é menor e, logicamente, a saturação em bases é
interação: o primeiro, corresponde à fragmentação das superior. À base, o horizonte A12 ainda conserva carac-
folhas inteiras e o segundo, à transformação dos restos terísticas distintas: por exemplo, sob a Mata Alta, há um
foliares em matéria orgânica amorfa. Como resultado fi- menor conteúdo de carbono orgânico e maiores quantida-
nal, camadas orgânicas empilhadas recobrem os horizon- des de bases de troca que na Mata Ciliar. Além os pri-
meiros dez centímetros, o horizonte A se empobrece
tes pedológicos. Estas são mais conspícuas na Mata Ciliar
bruscamente em matéria orgânica e nutrientes que ficam
que na Mata Alta apesar das diferenças contrárias na
diluídos primeiro, numa matriz arenosa e, em seguida,
queda de folhas: a Mata Ciliar apresenta um acúmulo,
argilosa, com predomínio de argilas tipo caulinita com
notadamente, de matéria orgânica amorfa que, comparado
baixa capacidade de retenção de nutrientes. Em profundi-
com a Mata Alta, aumenta em mais de um terço o estoque
dade, um horizonte laterítico evidencia a deposição dos
superficial. A velocidade de decomposição dos aportes
óxidos de ferro liberados pela degradação das argilas. Tudo
foliares é de nove meses para a Mata Alta e de 19 meses
indica que a reciclagem de nutrientes e a mineralização da
para a Mata Ciliar.
matéria orgânica ocorrem no topo do solo.
Quais as características pedológicas que acompanham
a evolução dos aportes foliares nos dois sistemas? A O conjunto das características dos horizontes orgâni-
diferenciação de um pequeno horizonte de interface, onde cos de superfície, o que possibilita classificar as formas

Figura 32. Esquema sintetizando a dinâmica da decomposição da matéria orgânica em sistemas primários e
secundários de Floresta Atlântica de Tabuleiros. C/N: relação entre carbono orgânico e nitrogênio; IE: índice de
esclerofilia; AF: aportes foliares; AT: aportes totais; E: estoques orgânicos das camadas húmicas superficiais; VD:
velocidade de decomposição. O IEp das folhas mortas foi calculado segundo Kindel, 2001.

52 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


de húmus em mull mesotrófico tropical para a Mata Alta acumulados sobre os horizontes pedológicos devido sem
e mull oligotrófico tropical para a Mata Ciliar, sintetizam dúvida à lenta decomposição do material vegetal que é de
a dinâmica da decomposição da matéria orgânica oriunda 15 a 16 meses no lugar de nove para a Mata Alta (Fig.
da vegetação. Sob as mesmas condições climáticas gerais 32). As alterações ocasionadas há cinqüenta anos perdu-
e dada a similitude de Classe de Solo, o Argissolo ram tanto na organização da comunidade arbórea e sua
diversidade funcional que no funcionamento do subsistema
Amarelo, as diferenças na velocidade de decomposição
decompositor.
devem ser atribuídas ao caráter mixto com respeito à
esclerofilia da comunidade arbórea e a sua variabilidade. O conjunto dos resultados possibilita avaliar as modi-
Aportes mais pobres em nitrogênio e mais ricos em ficações da diversidade funcional ocasionadas pela utili-
compostos de difícil degradação ocasionam menores ve- zação dos recursos florestais nos remanescentes, eviden-
ciando a necessidade de se elaborar respostas adequadas
locidades de decomposição, um acúmulo orgânico super-
de manejo florestal junto aos diferentes segmentos da co-
ficial e uma maior oligotrofia dos horizontes superficiais. munidade local.
Em ambos os casos aqui sintetizados, o funcionamento e
a sustentabilidade do ecossistema depende estreitamente
da organização das populações arbóreas.
7. No futuro
As florestas secundárias: a mata após a queima e o
fragmento interferido pelo extrativismo Recortado no horizonte da Região dos Tabuleiros, o ma-
As “matas após a queima”, significado estrito de capo- ciço florestal das Reservas de Sooretama e Linhares re-
eira, não são um elemento dominante na região dos Ta- presenta mais uma lembrança dos tempos passados, que
buleiros Terciários; elas representam apenas vestígios da guarda de maneira velada os mistérios da vida de árvores
utilização tradicional da terra dentro mesmo da floresta e animais, que uma real riqueza destinada a melhorar a
limitada pelas Reservas cujo status de conservação não qualidade da vida da presente e futuras gerações huma-
remonta mais que a poucas décadas. No oposto, a flores- nas. No quotidiano, a diversidade da vida dá as costas à
ta foi amiúde interferida pela extração de madeira, atividade considerável diversidade social e cultural que rodeia a
que se perpetua nos dias atuais. Se no passado foi pri- Floresta.
vilegiado o corte das madeiras de lei, inclusive utilizadas
Portanto, entre as terras cultivadas reaparecem vestígios
com vistas ao desenvolvimento econômico do estado do
da Terra dos Animais da Mata sob a forma de numerosos
Espírito Santo e do País, progressivamente, os usos dos e pequenos fragmentos disseminados na paisagem. São
remanescentes florestais acompanharam as atividades os remanescentes florestais sujeitos a atividades
econômicas da região, em particular, a agricultura e as extrativistas. A Floresta bravia persiste e oferece ainda
necessidades domésticas. Em teoria, a avaliação de capo- diferentes recursos aos agricultores e à comunidade porém
eiras e de fragmentos interferidos por extração parece ser com risco de serem esgotados. Avaliar a intensidade destes
um problema menor; na prática, esta avaliação é funda- impactos e propor alternativas de recuperação e restauração
mental para a utilização sustentável dos recursos flores- florestal torna-se premente não somente para conservar a
tais, notadamente porque os fragmentos submetidos a floresta mas também para facilitar uma partilha eqüitativa
extrativismo seletivo constituem, em geral, os únicos dos benefícios dos recursos biológicos às comunidades
restos acessíveis à população da floresta outrora existente. locais e a melhora efetiva da qualidade de vida. Nesta
Confrontado com os ecossistemas primários, as capo- perspectiva, novas tecnologias de avaliação da
eiras diferem essencialmente no seu funcionamento pelas biodiversidade dos remanescentes e os avanços no
velocidades menores de decomposição da matéria orgâni- conhecimento da floresta primária representam uma
ca do solo, o que não pode ser explicado pelas diferen- contribuição frente à necessária economia de recursos
ças dos grupos funcionais da cobertura arbórea. Pelo con- humanos e materiais.
trário, a esclerofilia e os conteúdos médios de nitrogênio Em outra esfera, os Homens da Floresta que sobrevi-
são similares à Mata Alta. Neste sentido, os efeitos da veram às drásticas mudanças sociais e econômicas da
intervenção antrópica sobre a dinâmica da decomposição região possuem os segredos que a natureza foi entregan-
são contrastantes nos dois tipos de capoeira. Uma prová- do a seus antepassados. A elaboração científica do conhe-
vel lixiviação de nutrientes foi ocasionada pela queimada cimento encontra seu lugar enlaçada ao saber tradicional
de sorte que ainda atualmente, o solo é relativamente e as expectativas sócio-culturais da região. No cruzamen-
oligotrófico. Na floresta que sofreu extração seletiva, to das dimensões biológicas e humanas da biodiversidade,
existe acúmulo de matéria orgânica e nutrientes nos ho- o patrimônio da região dos Tabuleiros Terciários neces-
rizontes de superfície, resultado sem dúvida da alteração sita com urgência ser preservado. Ele vai ao encontro da
direta do solo e do acúmulo de galhos mortos e cipôs. vocação florestal e agrícola do Norte do Espírito Santo
Em ambos os casos, os restos foliares e os galhos ficam e ao desejado processo de Desenvolvimento Sustentável.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 53


Referências Bibliográficas

Agarez, F.V. 2001. Contribuição para gestão de fragmen- Pernambuco (Grupo Barreiras). Universidade de Recife,
tos florestais com vista à conservação da biodiversidade Arquivos do Instituto de Ciências da Terra, 2:2-14.
em Floresta Atlântica de Tabuleiros. Tese de Doutora- Bittencourt, A.C.S.P., Vilas Boas, G.S., Flexor, J.M. &
do em Geografia, PPGG/UFRJ, Rio de Janeiro, 237p. Martin, L. 1979. Geologia dos depósitos quaternários do
Agarez, F.V., Vincens, R.S., Cruz, C.B.M., Nogueira, C.R. litoral do Estado da Bahia. Salvador, Textos Básicos, 1:1-21.
& Garay, I. 2001. Utilização de índice de vegetação na Borgonovi, M.N. 1983. A reserva florestal de Linhares: Es-
classificação integrada de fragmentos florestais em Mata tado do Espírito Santo. Boletim Fundação Brasileira
Atlântica de Tabuleiros no Município de Sooretama, ES. para a Conservação da Natureza, Rio de Janeiro,
Anais do X Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Re- 18:32-43.
moto, Foz do Iguaçu, Paraná. CD-ROM.
Branner, J.C. 1902. Geology of de north-east coast of
Aguirre, A. 1947. Sooretama: estudo sobre o parque de re- Brazil. Geological Society of America, 13:41-98.
serva, refúgio e criação de animais silvestres, “Soore-
tama”, no Município de Linhares, Estado do Espírito Cody, M.L. & Mooney, H.A. 1978. Convergence in
Santo. Boletim do Ministério da Agricultura, Rio de mediterranean-climate ecosystems. Annual Review of
Janeiro, 36:1-52. Ecology and Systematics, 9:265-321.
Aguirre, A. 1951. Sooretama: estudo sobre o parque de Conservation International do Brasil, Fundação SOS Mata
reserva, refúgio e criação de animais silvestres, Atlântica, Fundação Biodiversitas, Instituto de Pesqui-
“Sooretama”, no Município de Linhares, Estado do Es- sas Ecológicas, Secretaria do Meio Ambiente do Estado de
pírito Santo. Ministério da Agricultura, Serviço de In- São Paulo, SEMAD/Instituto Estadual de Florestas-MG.
formação Agrícola, Rio de Janeiro, 50p. 2001. Avaliação e ações prioritárias para a conservação
da biodiversidade da Floresta Atlântica e Campos Sulinos.
Amador, E.S. 1982a. O Barreiras pleistocênico no Estado Ministério do Meio Ambiente, Brasília DF. 40p.
de Espírito Santo e seu relacionamento com depósitos
de minerais pesados. Anais do XXXII Congresso Brasi- DeFries, R. & Townshend, J. 1994. NDVI-derived land
leiro de Geologia, Salvador, 4:1462-1473. cover classification at global scales. International Journal
of Remote Sensing, 15:3567-3586.
Amador, E.S. 1982b. Depósitos relacionados à unidade in-
ferior do Grupo Barreiras no Estado de Espírito Santo. De Sloover, J., Lebrun, J. & Marynen, T. 1965. Quelques
Anais do XXXII Congresso Brasileiro de Geologia, Sal- paramètres foliaires liés au bilan d’eau des strates
vador, 4:1451-1461. ligneuses de trois types de forêts belges. Bull. CI. Sc.,
Acad. Royale de Belgique, 5a sér., 51:640-671.
Amador, E.S. & Dias, G.T.M. 1978. Considerações preli-
minares sobre depósitos do terciário superior do Norte Eamus, D. 1999. Ecophysiological traits of deciduous and
do Espírito Santo. Anais da Academia Brasileira de evergreen woody species in the seasonally dry tropics.
Ciências, 50:121-132. Tree, 14:11-16.
Egler, W.A. 1951. A zona pioneira ao norte do Rio Doce.
Barbault, R., Colwell, R.K., Dias, B., Hawksworth, D.L.,
Revista Brasileira de Geografia, 2:224-263.
Huston, M., Laserre, P., Stone, D., Younès, T. 1991.
Conceptual Framework and Research Issues for Species Esau, K. 1974. Anatomia das plantas com sementes. Edi-
Diversity at the Community Level. In: From genes to tora Edgard Blucher Ltda, São Paulo, 293p.
ecosystems: a research agenda for biodiversity, Solbrig, Fahn, A. 1982. Plant Anatomy. 3 ed. Pergamon Press, Oxford.
O.T. (ed.). IUBS-SCOPE-UNESCO, Paris, p.37-71.
Garay, I. 2001a. Avaliação do status da biodiversidade ao
Baruch, Z., Belsky, A.J., Bulla, L., Franco, C.A., Garay, nível do ecossistema. In: Conservação da Biodiversidade
I., Haridasan, M., Lavelle, P., Medina, E., Sarmiento, em Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e novas
G. 1996. Biodiversity as regulator of energy flow, water metodologias de avaliação e monitoramento, Garay, I.
use and nutrient cycling in Savanas. In: Biodiversity and & Dias, B. (orgs.). Editora Vozes, Petrópolis, p.399-411.
Savanna Ecosystem processes, Solbrig, O.T., Medina, E.,
Silva (eds.). Ecological Studies, Springer-Verlag, Berlin, Garay, I. 2001b. Diversidade de Ecossistemas e o uso de
Heidelberg, 121, p.176-194. novas técnicas de Sensoriamento Remoto e marcadores
Radioativos. In: Conservação da Biodiversidade em
Berthelin, J., Leyval, C. & Toutain, F. 1994. Biologie des Ecossistemas Tropicais: avanços conceituais e novas
sols: rôle des organismes dans l’alteration et metodologias de avaliação e monitoramentoGaray, I. &
l’humification. In: Pédologie 2: Constituans et propriétés Dias, B. (orgs.). Editora Vozes, Petrópolis, p.295-298.
du sol, Bonneau, M. & Souchier, B. (eds.). Masson,
Garay, I. & Kindel, A. 2001. Diversidade funcional em
Paris, p.143-211.
fragmentos de Floresta Atlântica. Valor indicador das
Bigarella, J.J. & Andrade, G.O. 1964. Considerações so- formas de húmus florestais. In: Conservação da
bre a estratigrafia dos sedimentos cenozóicos em Biodiversidade em Ecossistemas Tropicais: avanços

54 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)


conceituais e novas metodologias de avaliação e Kindel, A. & Garay, I. 2001. Caracterização de ecossistemas
monitoramento, Garay, I. & Dias, B. (orgs.). Editora da Floresta Atlântica de Tabuleiros por meio das formas
Vozes, Petrópolis, p.350-368. de húmus. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 25:
551-563.
Garay, I., Kindel, A., Barros, M.E.O., Callipo, A. & Jesus,
R.M. de. 1995a. Formas de húmus em ecossistemas de Kindel, A. & Garay, I. 2002. Humus form in ecosystems
Floresta Costeira Intertropical: 1. a Mata Atlântica de Ta- of the Atlantic Forest, Brazil. Geoderma, 108:101-118.
buleiros. In: Esteves F. (ed.). OEcologia Brasiliensis, Es-
trutura, funcionamento e manejo de ecossistemas bra- Körner, C. 1994. Scaling from species to vegetation: the
sileiros, Esteves F. (ed.). PPGE/UFRJ, Rio de Janeiro, usefulness of functional groups. In: Biodiversity and
1, p.1-18. ecosystem function, Schulze, E.-D., Mooney, H.A. (eds.).
Springer-Verlag, Berlin, p.117-140.
Garay, I., Kindel, A. & Jesus, R.M. de. 1995b. Diversity
of humus forms in the Atlantic Forest ecosystems Lima, D.A. 1966. Vegetação. In: Atlas do Brasil II-11.
(Brazil): the Table-land Atlantic Forest. Acta Oecologica, Conselho Nacional de Geografia, IBGE, 2, p.11.
16:553-570. Louzada, M.A.P. 1997. O aporte de matéria orgânica ao
Garay, I. & Silva, B.A.O. 1995. Os húmus florestais: Sín- solo em Floresta Atlântica de Tabuleiros, Linhares (ES):
tese e diagnóstico das relações vegetação-solo. In: ritmo fenológico e papel da diversidade arbórea. Dis-
OEcologia Brasiliensis, Estrutura, funcionamento e ma- sertação de Mestrado, PPGE/UFRJ, Rio de Janeiro,
nejo de ecossistemas brasileiros, Esteves, F. (ed.). 106p.
PPGE/UFRJ, Rio de Janeiro, 1, p.19-46. Louzada, M.A.P., Curvello, A., Barbosa, J.H.C. & Garay,
Gazeta Mercantil. 1997. Balanço anual - Espírito Santo. I. 1997. O aporte de matéria orgânica ao solo:
Ano II, no 2, 50p. quantificação, fenologia e suas relações com a composi-
ção específica em área de Floresta Atlântica de Tabulei-
Goldstein, G., Rada, F., Canales, M. & Azócar, A. 1990. ros. Leandra, 12:27-32.
Relaciones hidricas e intercambio de gases en especies
de sabanas americanas. In: Las sabanas americana; As- Transactions of the Royal Society (London), Series B, 334:
pectos de su biogeografia, ecologia y utilización, 95-106.
Sarmiento, G. (ed.). Programa Década de los Trópicos, Malagon D., Sevink J. & Garay I., 1989. Methods for soil
IUBS/UNESCO-MAB. Fundación Fondo Editorial Acta analysis. In: Manual of methods for transect studies:
Cientifica Venezolana, Mérida, p.219-242. comparative studies of tropical mountains ecosystems;
Grubb, P.J. 1986. Sclerophylls, pachyphylls and decade of tropics, Little, M.A. & Van der Hammen, T.
pycnophylls: the nature and significance of hard leaf (eds.). International Union of Biology Sciences, Paris,
surfaces. In: Insects and the plant surface, Juniper, B.E. p.29-40.
& South-Wood, T.R.E. (eds.). Edward Arnold, London, Marín, D. & Medina, E. 1981. Duración foliar, contenido
p.137-150. de nutrientes y esclerofilia en árboles de un bosque muy
Hamann, O. 1979. On climatic conditions, vegetation types seco tropical. Acta Cientifica Venezolana, 32: 508-514.
and leaf size in the Galapagos Islands. Biotropica, Medina, E. 1981. Nitrogen content, leaf structure and
11:101-122. photosynthesis in higher plants: a report to the United
Nations Environmental Program study group on
Heinsdijk, D., Macedo, J.C., Andel, S. & Ascoly, R.B. 1965.
photosynthesis and bioproductivity. Instituto Venezolano
A floresta do norte do Espírito Santo. DRNR, Boletim
do Setor de Inventários Florestais, 7:04-68. de Investigaciones Cientificas, Caracas, 47p.
Medina, E. & Cuevas, E. 1989. Patterns of nutrient
IBDF & FBCN. 1981. Reserva Biológica de Sooretama.
accumulation and release in Amazonian Forests of the
Plano de Manejo. Brasília, 70p.
upper Rio Negro basin. In: Mineral nutrients in tropi-
Jesus, R.M. de. 1987. Mata Atlântica de Linhares. Aspec- cal forest and savanna ecosystems, Proctor, J. (ed.).
tos florestais: a experiência da CVRD. In: Anais do Blackwell Scientific Publ., Special Publication number
Seminário sobre Desenvolvimento Econômico e Impac- 9, British Ecological Society, Oxford, p.217-240.
to Ambiental em Áreas do Trópico Úmido Brasileiro,
Medina, E. & Klinge, H. 1983. Productivity of tropical
Rio de Janeiro, 1:35-71.
forests and tropical woodlands. In: Physiological plant
Jesus, R.M. de. 1988. A Reserva Florestal da CVRD. In: ecology IV: encyclopedia of plant physiology, Lange, O.
Anais do 6° Congresso Florestal Estadual, Rio Grande L., Nobel, P. S., Osmond, C. B. & Ziegler, H. (eds.).
do Sul, Nova Prata, 1:59-112. New Series, Springer-Verlag, Berlin, 12D, p.281-303.
Kindel, A., Barbosa, P.M.S., Pérez, D.V. & Garay, I. 1999. Medina, E., Olivares, E. & Marin, D. 1985. Eco-
Efeito do extrativismo seletivo de espécies arbóreas da physiological adaptations in the use of water and
Floresta Atlântica de Tabuleiros na matéria orgânica e nutrients by woody plants of arid and semi-arid tropical
outros atributos do solo. Revista Brasileira de Ciências regions. Medio Ambiente, 72:91-102.
do Solo, 23:465-474.
Mittermeier, R. 1997. Diversidade de primatas e a floresta
Kindel, A. 2001. A fragmentação real: heterogeneidade tropical: estudos de casos de Brasil e Madagascar e a
de remanescentes florestais e valor indicador das importância dos países de megadiversidade. In:
formas de húmus. Tese de Doutorado, PPGG/UFRJ,
Biodiversidade, Wilson, E.O. (ed.). Editora Nova Fron-
Rio de Janeiro, 184p.
teira, São Paulo, 186-197p.

Diversidade Funcional em Floresta Atlântica 55


Montes, R. & Medina, E. 1977. Seasonal changes in nutrient Ruschi, A. 1950. Fitogeografia do Estado do Espírito San-
content of leaves of savana de la Estación Biológica de to. Considerações sobre a distribuição da flora no Esta-
los Llanos. Bol. Soc. Ven. Cienc. Nat., 27:477-524. do do Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia
Mello Leitão, sér. Botânica, 1:1-353.
Müller-Stoll, W.S. 1947. Der einfluss der ernährung auf die
xeromorphie der hochmoorpflanzen. Planta, 35:225-251. Santos, R.D. 2001. Levantamento expedito dos solos das
reservas florestais de Linhares e Sooretama no Estado
Myers, N. 1997. Florestas tropicais e suas espécies, do Espírito Santo. EMBRAPA Solos & Universidade
sumindo…sumindo. In: Biodiversidade, Wilson, E.O.
Federal do Rio de Janeiro (no prelo).
(ed.). Editora Nova Fronteira, São Paulo, 36-45p.
Seddon, G. 1974. Xerophytes, xeromorphs and sclerophylls:
Nicholson, S.E. & Farrar, T.J. 1994. The influence of soil the history of some concepts in ecology. Biological
type on the relationships between NDVI, rainfall and soil Journal of the Linnean Society, 6: 65-87.
moisture in semi-arid Botswana. Remote Sensing of
Environment, 50:107-120. SOS Mata Atlântica/INPE/ISA 1998. Atlas de evolução dos
remanescentes florestais e ecossistemas associados no
Olson, J. 1963. Energy storage and the balance of producers domínio da Mata Atlântica no período de 1990-1995.
and decomposers in ecological systems. Ecology, 44:321-331. SOS Mata Atlântica/INPE/ISA, São Paulo, 58p.
Peixoto, A.L., Rosa, M.M.T. & Joels, L.C.M. 1995. Dia- Suguio, K., Martin, L., Bittencourt, A.C.S.P., Dominguez,
grama de perfil e de cobertura de um trecho da floresta J.M.L., Flexor, J.M. & Azevedo A.E.G. 1985. Flutuações
de tabuleiro na Reserva Florestal de Linhares (Espírito do nível relativo do mar durante o quaternário superior
Santo, Brasil). Revista Brasileira de Botânica, 9:177-193. ao longo do litoral brasileiro e suas implicações na se-
Pellens, R. & Garay, I. 1999a. A comunidade de dimentação costeira. Revista Brasileira de Geociências,
macroartrópodos edáficos em uma plantação de Coffea 15:273-286.
robusta Linden (Rubiaceae) e em uma floresta primária Turner, I.M., 1994. Sclerophylly: primary protective?
em Linhares, Espírito Santo, Brasil. Revista Brasileira Functional Ecology, 8:669-675.
de Zoologia, 16:245-258.
Turner, I.M., Choong, M.F., Tan, H.T.W. & Lucas, P.W.
Pellens, R. & Garay, I. 1999b. Edaphic macroarthropod 1993. How tough are sclerophylls. Annals of Botany,
communities in fast-growing plantations of Eucalyptus 71:343-345.
grandis Hill ex Maid (Myrtaceae) and Acacia mangium
Wild (Leguminosae) in Brazil. European Journal of Soil Viana, V.M. & Tabanez, A.A.J. 1996. Biology and
Biology. 35:77-89. conservation of forest fragments in the Brazilian Atlantic
Moist Forest. In: Forests Patches in Tropical
Potter, C.S. & Books V. 1998. Global analysis of empirical Landscapes, Schelhas, J. & Greenberg, R. (eds.). Island
relations between annual climate and seasonality of Press, Washington DC, p.151-167.
NDVI. International Journal of Remote Sensing,
19:2921-2948. Viana, V.M, Tabanez, A.A.J. & Batista, J.L.F. 1997.
Dynamics and restoration of forest fragments in the
RADAMBRASIL 1978. Levantamento dos recursos natu- Brazilian Atlantic Moist Forest. In: Tropical Forest
rais. Folha SE.24, Rio Doce. Instituto Brasileiro de Geo- Remnants. Ecology, Management, and Conservation of
grafia e Estatística, Rio de Janeiro, 34, p.48-114. Fragmented Communities, Laurence, W. F. &
Rizzini, C.M. 2000. Diversidade funcional do estrato Bierregaard, R. O. (eds.). The University of Chicago
arbóreo como indicador do status da biodiversidade em Press, Chicago, p.351-365.
Floresta Atlântica de Tabuleiros (Linhares, ES). Tese de Vicens, R.S., Marques, J.S., Cruz, C.B.M., Argento, M.S.F.
Doutorado, UFRJ/PPGG, Rio de Janeiro, 1, 150p. & Garay, I. 2001. Sensoriamento remoto e SIG como
Rizzini, C.M., Aduan, R.E., Jesus, R. de & Garay, I. 1997. suporte ao desenvolvimento do subprojeto PROBIO
Floresta Pluvial de Tabuleiro, Linhares, ES, Brasil: Sis- “Conservação e Recuperação da Floresta Atlântica”. In:
temas Primários e Secundários. Leandra, 12:54-76. Conservação da Biodiversidade em Ecossistemas Tro-
picais: avanços conceituais e novas metodologias de
Rizzini, C.T. 1963. Nota prévia sobre a divisão fitogeográfica avaliação e monitoramento, Garay, I. & Dias, B. (orgs.).
do Brasil. Rev. Bras. Geografia, 25:03-64. Editora Vozes, Petrópolis, p.317-337.
Rizzini, C.T. 1976. Tratado de Fitogeografia do Brasil. 1
ed. Editora Universidade de São Paulo e Hucitec, São
Paulo, 1, 327p.
Rizzini, C.T. 1979. Tratado de Fitogeografia do Brasil. 1
ed. Editora Universidade de São Paulo e Hucitec, São
Paulo, 2, 374p.
Rouse, J.W.Jr., Haas, R.H., Deering, D.W., Schell, J.A. &
Harlan, J.C. 1974. Monitoring the vernal advancement
and retrogradation (green wave effect) of natural
vegetation. Greenbelt, MD: NASA/GSFC, Type III Fi-
nal Report, 371p.

56 Irene Garay & Cecília Maria Rizzini (orgs.)

View publication stats

Você também pode gostar