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As tecnologias de processo
Após percorrer todas as etapas do projeto de um novo produto, a empresa precisa denir como
produzi-lo, ou seja, precisa denir um projeto de processo de produção. O projeto de um produto ou
serviço está intimamente ligado ao processo de produção. Algumas vezes, uma pequena alteração em
uma característica do produto pode mudar todo o processo produtivo.
Slack et al. (1996, p. 252) armam que “as tecnologias de processo são as máquinas, equipamentos
e dispositivos que ajudam a produção a transformar materiais, informações e consumidores de forma a
agregar valor e atingir os objetivos estratégicos da produção”.
De acordo com essa denição, todo e qualquer equipamento utilizado para que a empresa transfor-
me matérias-primas e conhecimentos em um novo produto podem ser considerados como tecnologia de
processo. Um telefone, computador, torno mecânico etc., são exemplos de tecnologias de processo.
O projeto de processo é função do gestor de produção. Para desenvolver essa atividade, ele deve
ser capaz de entender como a tecnologia pode melhorar a ecácia da operação e deve se envolver na
escolha das tecnologias de produção. É sua função monitorar o desempenho das tecnologias utilizadas
pela empresa e substituí-las sempre que necessário.
Segundo Slack et al. (1996) podemos classicar as tecnologias utilizadas na produção em três
categorias: as que processam materiais, as que processam informações e as que processam consumi-
dores.
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Istockphoto.
nas quais ocorre a injeção do metal em um molde especial de
aço que tem a forma quase denitiva da roda, em um sistema
chamado de fundição a baixa pressão. Eixos eram torneados um
a um, em tornos mecânicos. Hoje, tornos CNC automatizados
produzem milhares de eixos. Operários furavam as chapas e co-
locavam rebites manualmente. Presentemente, robôs realizam
soldas automáticas em pontos pré-programados.
As inovações em materiais também levam a mudanças
nos processos de fabricação. Os fabricantes de bebidas sempre
utilizaram garrafas de vidro, que precisam ser lavadas, higieni-
zadas, e ter sua integridade vericada. A introdução das em-
balagens Pet mudou todo o processo produtivo desse tipo de
fábrica. Lavadoras e sistemas de vericação tornaram-se inúteis,
enquanto equipamentos necessários para se moldar as garrafas
precisaram ser introduzidos na linha de produção.
As máquinas ferramentas são utilizadas para transformar Robôs em uma linha de produção.
sicamente um corpo no sentido geométrico (forma), ou no
sentido dimensional (medida). A transformação física busca dar a um elemento uma forma diferente
da inicial. Para que as máquinas ferramentas possam fabricar peças com formas e dimensões precisas, é
necessário realizar um conjunto determinado de movimentos.
O movimento principal nas máquinas ferramentas pode ser dividido em dois tipos: rotativo ou
retilíneo. O movimento principal pode ser realizado tanto pela peça como pela ferramenta. Nos tornos,
o movimento principal é a rotação da peça trabalhada; já nas fresadoras e furadeiras, a ferramenta é que
gira. As máquinas ferramentas podem ser classicadas segundo a sua nalidade ou inter-relacionando
os movimentos principais da ferramenta e da peça a ser trabalhada.
As principais máquinas ferramentas utilizadas na indústria são:
:: Tornos – máquinas ferramentas que permitem transformar uma peça fazendo-a rodar em tor-
no do seu eixo geométrico.
:: Furadeiras – executam furos, abrem roscas etc., com uso de ferramentas cortantes.
:: Fresadoras – executam um trabalho no qual a ferramenta (fresa) gira com movimento unifor-
me, arrancando a apara.
:: Limadores – uma ferramenta monocortante se move com movimento retilíneo alternativo
sobre a superfície plana de um corpo.
:: Plainas mecânicas – executam um trabalho de aplainar com um movimento principal execu-
tado pela peça a trabalhar xada sobre a mesa.
:: Reticadoras – executam a correção das imperfeições em superfícies tanto de peças de ferro
fundido ou aço quanto de materiais não metálicos.
:: Mandriladoras – são máquinas ferramentas que executam diversas operações, em peças vo-
lumosas.
:: Serrotes mecânicos – permitem o corte de materiais de diferentes dimensões.
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Tecnologias de processamento
de informação
As tecnologias de processamento de informação são utili-
zadas tanto em operações industriais como em operações de ser-
viços. Qualquer dispositivo que colete dados, manipule-os, trans-
Sistema exível de manufatura.
forme-os em informações e distribua essas informações, pode ser
considerado como tecnologia de processamento de informação e envolve tanto as baseadas em com-
putadores quanto as baseadas nas telecomunicações.
A utilização da tecnologia de informação nas empresas começou em funções administrativas, e
migrou para a função produção, com o desenvolvimento das máquinas CNC, robôs e sistemas exíveis
de manufatura.
Inicialmente, os equipamentos utilizados para o processamento de informações, os computa-
dores, eram grandes e centralizavam todas as informações da empresa. Era comum existirem os Centros
de Processamento de Dados (CPD) nas empresas, nos quais cavam localizados os grandes computado-
res. Todas as atividades de processamento de informações eram centralizadas e realizadas pela equipe
de informática.
O desenvolvimento e o barateamento dos equipamentos permitiram que ocorresse a descentra-
lização dessas atividades: seja nas funções administrativas, seja na função produção, os computadores
estão presentes em quase todos os postos de trabalho. Com o auxílio da tecnologia de telecomunica-
ção, estão até mesmo fora da empresa com os vendedores, nos caminhões de entrega, com os fornece-
dores e com os clientes. Eles coletam dados e os transmitem em tempo real para serem analisados auto-
maticamente, permitindo a tomada de decisão.
O Electronic Data Interchange (EDI – Troca Eletrônica de Dados) é uma tecnologia de processa-
mento de informações que utiliza sistemas de telecomunicações entre empresas que se relacionem
comercialmente, substituindo o uxo de papéis e reduzindo os custos dos processos mercantis. Para
isso, os computadores das empresas precisam estar conectados por sistemas de telecomunicações. O
EDI permite ganhos de competitividade e de produtividade para ambas as empresas.
Já os Sistemas de Informações Gerenciais (SIG) são sistemas de transformação de dados em in-
formações necessárias ao processo decisório da empresa. Os sistemas de informações gerenciais tra-
zem benefícios, como: a redução de custos nas operações, a melhoria no acesso às informações, na
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produtividade e na tomada de decisões. Isso porque possibilitam informações mais rápidas e precisas,
reduzindo o grau de centralização de decisões na empresa e melhorando a exibilidade para enfrentar
acontecimentos não previstos. Exatamente por essas características, os sistemas de informação geren-
cial são muito utilizados pelos gestores de produção em suas atividades de planejamento e controle.
1 Processo utilizado pelas companhias aéreas para conrmar a chegada do passageiro ao aeroporto, reservando seu assento no voo desejado.
2 Via internet.
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Ingresso Online.
sumidor são aquelas nas quais o consumidor está em
contato físico com a tecnologia, mas não tem inuência
sobre as decisões. Um exemplo bem simples é uma esca-
da rolante. É uma tecnologia que processa consumidores
(leva-os de um andar a outro), com a qual o consumidor
entra em contato físico direto e sobre a qual não há o po-
der de escolha (ele não pode mudar o local da escada).
Aviões, ônibus, máquinas de diálise são outros exemplos
desse tipo de tecnologia.
As tecnologias com interação ativa do consumidor
são aquelas nas quais o consumidor opera os equipamen-
tos. Um caixa eletrônico de um banco, totens de auto- Sistema de reserva de assentos utilizado pela
empresa Ticket Master.
atendimento automático instalados em lojas, máquinas
Texto complementar
A utilização do EDI (Eletronic Data Interchange) como uma
ferramenta de integração entre os parceiros de negócios
(BITTAR, 2008)
A competição global evidenciou a necessidade do compartilhamento de informações entre os
projetistas do produto, fabricantes e distribuidores. Como resultado, muitas companhias necessi-
tam do uxo de informação através da cadeia de valores (suprimentos), desde a compra de matéria-
-prima e componentes, P&D, manufatura para distribuição e marketing, e suporte de produtos no
pós-vendas (CASH; KONSYNSK, 1985; CLEMONS; MCFARLAN, 1988; GURBAXANI; WHANG, 1991). O
estabelecimento dos sistemas de informação interorganizacionais (BARRET; KONSYNSKI, 1982) me-
lhoraram a dinâmica dos negócios através do fornecimento oportuno do compartilhamento das
informações. O EDI é uma nomenclatura universal para padronizar “Eletronic Data Interchange”,
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conforme a norma ISO 9735. Seus conceitos foram inicialmente desenvolvidos na França, desde
1987, sendo que o número de aplicações vem crescendo rapidamente.
O EDI foi denido pela padronização Francesa (MARCILLET, 1994), EDIFRANCE, como: “trans-
ferência de dados de computador para computador, entre parceiros de negócios (PRESTON, 1988;
HINGE,1988), usando mensagens eletrônicas de dados, estruturados e agrupados, na forma de men-
sagens padrões, dessa forma, favorecendo a diminuição de custos, e aumentando a produtividade
da companhia, melhorando os procedimentos, e reduzindo custos. Essa é uma nova forma de comu-
nicação entre parceiros econômicos, nos quais os documentos em papel não são mais necessários”.
Sendo de vital importância as normalizações, para que as transações via EDI sejam bem-su-
cedidas. Esse assunto é um dos principais problemas da Implantação do EDI ao longo da Cadeia de
Suprimentos, pois as companhias podem adotar padrões diferentes de EDI (MALO, 1996).
Para resolver os problemas de padronizações, muitas empresas utilizam as VANs (Value Added
Network Services). Os dados para uma transmissão via EDI necessitam estar estruturados, tais como:
número do produto, nome do cliente, quantidade etc. Devemos diferenciar o EDI do eletronic mail,
onde os dados devem ser transmitidos de um ad hoc enquiry, contendo forma não reconhecida. O
EDI pode ser visto como um sistema de cooperativa, requerendo a colaboração de pelo menos duas
partes, usualmente com diferentes objetivos de negócios.
Esse sistema de cooperativa pode envolver as corporações e seus fornecedores e clientes; cor-
porações e seus bancos, entre as join ventures de uma companhia, ou entre competidores (PRESTON,
1988). Para muitos, se não para todos os negócios, o EDI é uma etapa inicial radical, ele envolve não
somente um investimento em hardware e software, taxas de network e custos de desenvolvimento,
entretanto, mais signicante ainda, é um repensar do relacionamento entre cliente e fornecedor, uma
adaptação nas práticas de trabalho, e uma dramática alteração no ciclo de negócios (PRESTON, 1988).
Na reposição automática de estoques feita através do EDI, por exemplo, são enviados diaria-
mente para o fornecedor os dados do movimento de saída de seus produtos das lojas dos clientes.
O sistema vai controlando os dados do estoque até que, atingido um certo limite predeterminado,
ele próprio ordena a reposição dessa mercadoria automaticamente, enviando já uma nova remessa
de produtos e emitindo as notas scais. Dessa forma, elimina-se a necessidade do pedido, podendo
car a cargo do próprio fornecedor o controle do estoque do cliente (Tecnologística, set. 96).
O EDI oferece um grande número de vantagens, entre as quais pode-se citar:
:: a economia de tempo, devido ao aumento da velocidade na troca de informações;
:: reduções: de pessoal, de papel, de inventário, do tempo para o ciclo de transações comer-
ciais do lead time (WANG; SEIDMANN, 1995);
:: a qualidade da informação, pois diminui a possibilidade de erros de processamento, du-
rante a troca de informações;
:: permite uma ligação muito próxima com o fornecedor;
:: facilita a coordenação do uxo de material num ambiente JIT (SRINIVASAN et al., 1994);
:: a conabilidade e disponibilidade da informação, pois a circulação de informações não
depende do movimento físico de documentos, no qual somente o operador que possui o
documento tem acesso às informações (MARCILLET, 1994; PRESTON, 1988).
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O conceito do EDI não é novo, sua origem vem dos Estados Unidos, quando nos anos 1960
vários setores industriais (companhias aéreas, indústria automobilística e saúde) tentaram estabe-
lecer o EDI, mas se comparado com a tecnologia atual, os padrões eram insucientes e o sistema
de comunicação inexível. O primeiro caso prático de aplicação do EDI deu-se no LACES (London
Airport Cargo EDP Scheme), sistema para fretes no aeroporto Heathrow em Londres. Introduzido no
início dos anos 1970, esse sistema foi bem-sucedido e convenceu os descrentes de que segurança e
condenciabilidade não eram mais itens insuperáveis. De fato cou demonstrado que o EDI oferece
mais do que um método para manuseio de dados de negócios. Entretanto, tão importante quanto
o LACES, muitos fatos foram cruciais para a adoção do EDI (PRESTON, 1988).
O EDI no Brasil
Embora há muito tenha deixado de ser novidade, a prática do EDI encontra-se no Brasil, em
estágios distintos; a indústria automobilística e os bancos já utilizam intensamente; outros come-
çam a adotar, pressionados por seus grandes clientes, e muitos ainda mal sabem do que se trata.
Estes últimos que se cuidem, porque o EDI já é fator eliminatório na hora da escolha de um parceiro
(Tecnologística, set. 96).
As VANS, que prestam serviços no Brasil, são unânimes em armar que, se por um lado a pro-
cura pelo EDI vem crescendo em proporções astronômicas no Brasil – principalmente no segmento
mercantil – por outro lado ainda é grande o número de empresas que sequer ouviram falar dele.
Desconhecimento, curiosidade, receio, necessidade. Esses são os ingredientes básicos de quem
opera esse serviço pela primeira vez, não necessariamente nessa ordem.
O EDI é um tipo emergente de padronização de sistemas de informações interorganizacionais
(WANG; SEIDMANN, 1995). A adoção do EDI traz vantagens para os compradores e desvantagens
para outros fornecedores. Como resultado, os compradores dão um preço prêmio aos fornecedores
que adotam EDI, e incrementam seus volumes de vendas e compartilhamento de mercado. Em mui-
tos casos, onde, a adoção do EDI é essencial para o comprador conseguir os benefícios desejados, e
para os fornecedores essa implementação é cara, então, o comprador pode subsidiar o fornecedor
nessa implementação. Enquanto o EDI reduz os custos de transações dos compradores, tem tam-
bém como resultado um aumento dos custos diferenciais.
O rápido desenvolvimento do EDI e o impacto da sua documentação na manufatura mundial
despertaram a importância desses elementos. Deveria um grande comprador tal como o Walmart
(SCHILLER, 1992) mandar que seus fornecedores adotassem o EDI, ou deveria fornecer incentivos
através de subsídios, para encorajar seus fornecedores a adotarem o EDI voluntariamente? Esse
assunto é polêmico e foi evidenciado por Wang e Seidmann (1995).
O estabelecimento do EDI tem grande impacto nas políticas de inventário das empresas e prá-
ticas de manufatura. Kekre e Mukhopadhyay (1990) investigaram o efeito das transações de EDI no
inventário, qualidade dos produtos, e lead time de 65 fornecedores com um dos maiores produtores
de aço dos Estados Unidos. Suas descobertas foram no sentido do grande interesse da capacidade
do EDI para sincronizar a produção e abrandar os impactos negativos do processo de incertezas.
A boa vontade dos fornecedores para a implementação do EDI é relativa, e depende da quan-
tidade e preço comercializados, os custos da implementação do EDI, e o número e a individualidade
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dos participantes (WANG; SEIDMANN,1995), segundo Clark (1990), uma indústria descobriu que o
recrutamento para parceiros no comércio eletrônico é geralmente o elemento mais caro na implan-
tação do programa do EDI.
A utilização do EDI entre os parceiros de negócios traz muitas vantagens para todos, mas exis-
tem muitos problemas a serem sanados, para uma implementação completa do EDI, sendo um dos
principais problemas a falta de uma padronização internacional.
Atividades
1. Sobre as tecnologias de processo:
I. Máquinas, equipamentos e dispositivos que ajudam a produção a transformar materiais, infor-
mações e consumidores de forma a agregar valor e atingir os objetivos estratégicos da produ-
ção.
II. Um telefone, computador, torno mecânico etc. são exemplos de tecnologias de processo.
III. São as tecnologias embutidas em um produto. Exemplo: a tecnologia que permite que as câ-
meras tirem fotos e as guardem em formato digital em um cartão de memória.
2. Explique quais são as funções e conhecimentos que o gestor de produção precisa ter para desen-
volver um projeto de processo.
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c) Um projeto de processo de produção dene como o produto deve ser e todas as suas caracte-
rísticas.
d) O projeto de um produto ou serviço dene como a empresa irá produzi-lo.
Gabarito
1. B
2. O projeto de processo é função do gestor de produção. Para desenvolver essa atividade, ele deve
ser capaz de entender como a tecnologia pode melhorar a ecácia da operação e deve se envol-
ver na escolha das tecnologias de produção. É sua função monitorar o desempenho das tecnolo-
gias utilizadas pela empresa e substituí-las sempre que necessário.
3. A