Bol. Mus. Int. de Roraima v8(2): 42-46.

2014 Cavalcante

A sala de ciências SESC como espaço de aprimoramento tecnológico

e transformação social
Emilli de Lima Cavalcante1,2
1. Universidade Estadual de Roraima. Campus Boa Vista. Rua 7 de setembro, 231—Bairro Canarinho, Boa Vista,
Roraima.
2. Mediadora da sala de ciências SESC/RR. Rua João Barbosa, 143 A e B – Bairro Mecejana – Boa Vista-Roraima
CEP: 69.302.330. Autor para contato: emillilima@bol.com.br

Recebido em: 08/09/2014 Aceito em: 10/11/2014 Publicado online em PDF: 22/12/2014.

RESUMO

A sala de ciências SESC como espaço de aprimoramento tecnológico e transformação social. Este trabalho tem como objetivo
apresentar a sala de ciências como um espaço de experiências lúdicas nas diferentes áreas das ciências. A sociedade está em
constante mudança com o rápido avanço tecnológico, com isso, o contato com a ciência se faz de extrema importância, não
somente no sentido de saber utilizar, mas também para compreender e ser crítico quanto a sua função social, o conhecimento e as
novas descobertas trazem modificações no comportamento cultural, político e nas relações do homem consigo e com outros. Assim,
o grande objetivo da tríade, sala de ciências SESC (Serviço Social do Comércio), com o apoio de escolas públicas de ensino e a
Universidade Estadualde Roraima é levar o conhecimento cientifico e tecnológico aqueles que não têm acesso.Além de oportunizar
o contato com a ciência, centenas de crianças já puderam recriar e aprimorar as experiências trazidas pelos mentores através do
projeto “sala de ciência” a partir de práticas em oficinas e palestras. Essas atividades da sala de ciências possibilitaram o despertar
pela ciência em muitos alunos que diante da perspectiva, em que o conhecimento científico atrelado à tecnologia atinge sua
realidade vivencial, promovem um questionamento de seus saberes cotidianos, permitindo uma intervenção criativa e crítica da
realidade na qual os indivíduos estão inseridos.
PALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade, consciência, sociedade.

ABSTRACT
The SESC science room as technological improvement and social transformation. This work aims to present the SESC science
room as a space for playful experiences in different areas of science. The society is constantly changing with the rapid technological
advancement. Therefore, the contact with science becomes extremely important not only in the sense of knowing how to use, but
also to understand and be critical of its social function. The knowledge and new discoveries bring changes in cultural behavior, and
political relations of man with himself and others. The major objective of the triad, the SESC (Social Service of Commerce) science
room, with the support of public schools and the Roraima State University is the lead scientific and technological knowledge those
who do not have access. In addition to provide the opportunity for contact with science, hundreds of children could ever recreate
and enhance the experiences brought by the mentors through the project "science room" from practices in workshops and lectures.
These activities enabled the science room awakening in many science students at the prospect, in which scientific knowledge linked
to the technology reaches its experiential reality, promote a questioning of their everyday knowledge, enabling critical and creative
intervention of reality in which individuals are embedded.

KEYWORDS: sustainability, consciousness, society.

INTRODUÇÃO professor em vez de estimular essa curiosidade

Na sociedade do conhecimento e da
comunicação, a escola por meio do seu
currículo assume a responsabilidade de atender
as necessidades educacionais dos estudantes na
perspectiva da formação cidadã. Entretanto,
nem sempre é isso o que acontece, assim “O
quadro que temos hoje é da criança que chega à
escola cheia de questões e curiosidades e,
passado certo tempo, ela perde o interesse. O
acaba matando-a” (Prates 2006).
A participação, a troca de informação, de
saberes, de culturas perceptíveis na convivência
que ocorre no estudo das ciências, culmina com
as finalidades da sala de ciências SESC/RR
(Serviço Social do Comércio de Roraima). A
sala de ciências tem o compromisso de
contribuir com a promoção dos indivíduos
através da difusão do conhecimento e
possibilitar à construção em dimensão
individual e coletiva à formação do cidadão
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participativo, crítico e realizado.
Conforme afirma Veiga (2002) a ciência
deve estar sempre sendo reinterpretada para que
faça sentido para a comunidade que dela se
apropria [...] o conhecimento científico, saído
do seu contexto de produção, entra na esfera
pública, ou seja, num outro contexto
impregnado de fatores culturais, sociais,
econômicos e políticos, fatores que levam à
reinterpretação e renegociação desse
conhecimento em função de seu contexto de
produção e utilização.
A sala de ciências é um projeto itinerante
que organiza as ações em uma sala de aula ou
até mesmo no pátio da escola participante.
Conforme Marandino (2002) a preocupação de
quem está envolvido com as questões
educacionais em ciências/tecnologia é ao
mesmo tempo por uma demanda da sociedade
por esses novos espaços de informação.
O projeto SESCiência tem como objetivo
de tornar acessível à população a ciência de
forma agradável e simples, por meio da
inserção de novas metodologias de
aprendizagem, o que lhe deu o cunho de difusor
da prática brincando e aprendendo. Contudo é
preciso que haja parceiros sensíveis a proposta,
voltados aos temas ambientais, fontes de
energia renovável, reciclagem, entre outros.
Segundo Valente et al. (2005) ―Os
centros e museus de ciências são ambientes que
têm como um de seus objetivos educar
cientificamente a população, bem como
complementar a educação formal. Essa
educação se dá em função das atividades
interativas, possuidora de características
eminentemente lúdicas, ou seja, ao mesmo
tempo em que informa, entretém”. Assim, neste
trabalho apresento as atividades realizadas pela
sala de ciências nos espaços escolares e discuto
a importância deste projeto para a melhoria do
ensino de ciências.
SALA DE CIÊNCIAS DO SESC
Efetivado em 1987 o projeto SESCiência,
regido pelo departamento nacional do SESC,
busca por meio do desenvolvimento de
atividades práticas, contribuir para a melhoria
do aprendizado. Pretende também se tornar
referencia no aperfeiçoamento do ensino na
comunidade local, uma vez que a mesma
atende toda a comunidade sem restrição de
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idade ou conhecimento.
O primeiro contato entre a escola e o SESC
é realizado pela equipe do projeto SESCiência
que apresenta as propostas, seguido pelo
agendamento nas escolas. As atividades podem
ser desenvolvidas ao longo de todo dia ou
durante uma semana, conforme as necessidades
da escola proponente.
Na sala são realizadas atividades práticas
nas áreas de química, física, geografia e
biologia (Fig. 1). São feitos uma média de
12.000 atendimentos por ano, por visitantes
Figura 1. Parte do acervo da sala de ciências utilizado
nas escolas (Fonte: Arquivo da sala de Ciências)
.
predominantemente de Boa Vista-RR. Assim,
pode-se crer que a efetivação da sala de
ciências no ambiente escolar tem feito a
diferença no ensino, oportunizando o acesso a
uma ciência democrática.
As ações desenvolvidas na sala de ciências
estão correlacionadas ao cotidiano social, e são
trabalhadas de forma que haja um
conhecimento mais apurado das técnicas,
relacionando-as com as disciplinas existentes
na grade escolar. Esta intervenção é realizada
de tal forma que a interação nos diversos
ambientes da vida fora e dentro dos muros da
escola seja interligada e conectada. A seguir
são apresentadas as atividades mais realizadas
durante as visitas da sala de ciências nas
escolas.
Na atividade “Química no cotidiano”, totens
são posicionados com informações
relacionando à química e em tudo o que ela
interfere na vida dos seres humanos, é
composta por painéis divididos em módulos:
Energia e Sustentabilidade, Materiais,
Alimentos, Saúde e industrialização, com isso é
possível perceber as conquistas e contribuições
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possível perceber as conquistas e contribuições
para o bem-estar da social, fazendo com que
haja uma aproximação das crianças, jovens e
adultos, através desta atividade educativa. As
dúvidas que surgem durante a atividade são
respondidas. É possível perceber ainda neste
momento que sempre há novos
questionamentos, curiosidades o que torna está
atividade bem dinâmica.
Na geografia são trabalhadas questões sobre
a sustentabilidade, por meio da sensibilização
quanto à reutilização dos materiais recicláveis.
São propostas oficinas de brinquedos com
garrafas pet, reciclagem de papel entre outras
atividades como, a construção da “casa
ecológica” utilizando garrafas pet e caixas de
leite tetra park. O recolhimento destes materiais
é feito em conjunto, com os alunos, professores
e mediadores da sala de ciências, pois são
conseguidos dentro da própria escola. A "Casa
Ecológica" foi pensada com o objetivo de
demonstrar metodologias eficazes do ponto de
vista ecológico e abrigar atividades
relacionadas à educação ambiental.
Outra atividade realizada é referente ao
papel artesanal, na qual os integrantes fazem a
coleta uma grande quantidade de papel já
utilizado e descartado para a posterior
transformação em um novo papel. A produção
consiste em algumas etapas simples onde os
papeis são batidos em liquidificador com água,
produzindo assim uma massa, posteriormente
posta em molduras próprias e passa por um
processo de secagem, com isso é possível à
confecção de agendas, papel de anotações,
entre outras várias utilizações possíveis para
esse novo material.
Novas ideias são propostas também pelos
alunos durante a participação nas atividades,
com isso é possível fazer com que eles pensem
em alternativas sustentáveis para a melhor
manutenção do ambiente em que estão
inseridos como a escola. Desta forma,
proporciona-se não somente a conscientização,
como também a introdução de técnicas de
reaproveitamento de resíduos sólidos.
Na área de Biologia é possível trabalhar o
minhocário e produção de hortas e as técnicas
para o melhor desenvolvimento das mesmas.
No caso do minhocário são utilizados restos de
alimentos da cantina da escola, como cascas de
verduras e frutas que sobram da merenda. A
produção de húmus é feita por meio da criação
de minhocas que sãointroduzidas nas hortas
que utilizadas pelos mesmos. Ainda neste
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contexto é possível estudar a produção de solos
e a vida que há debaixo dos nossos pés.
Na Física é trabalhado o tema eletricidade
com as atividades do labirinto elétrico e a
utilização da energia produzida pelo
movimento de bicicletas. O labirinto elétrico
consiste em um desafio de passar com um por
um arame que ativa um sensor de som ao ser
tocado. A produção energética através da
geração de energia humana com o uso de
bicicletas, é um projeto novo e que está em fase
de experimentação, consiste em fazer com que
a energia produzida através do pedal em
funcionamento da bicicleta, forneça energia
para baterias que fazem com que lâmpadas se
acendem. Neste experimento as crianças são
estimuladas através de desafios a produzir a
mesma energia de outras formas, são inúmeras
a produção e transformação de energia a serem
trabalhadas pelos alunos.
Ainda na área da física é apresentado o
Caleidoscópio, cujo funcionamento é baseado
no efeito da reflexão da luz em espelhos. Este
objeto cilíndrico possui três espelhos planos
colocados de modo que formem entre si,
ângulos de 60 graus. No interior apresenta
alguns fragmentos de vidro colorido ou outros
objetos como miçangas, que ao direcionar a luz
produz um espetáculo de formas e cores que
impressiona principalmente as crianças. Nesta
oficina é possível ver como esse efeito óptico é
realizado e os participantes levam consigo a
realização de produzir um equipamento
artístico.
A prioridade nestas ações é trabalhar
questões relacionadas ao desenvolvimento
sustentável e cidadania, onde a criatividade
ganha força neste ambiente de descobertas. A
participação da sala de ciências no projeto de
itinerância científica pretende levar, de forma
lúdica e prática, atividades voltadas para o
ensino das ciências.
A sala de ciência organiza palestras e mini
cursos para o desenvolvimento sustentável e
idéias inovadoras, pois a manipulação de
objetos sem a teoria de como as coisas
funcionam, torna a atividade uma simples
experimentação. Desta maneira Furman (2009)
afirma que é preciso que a ciência passe pelo
intelectual para que não se limite a um mero
fazer físico, é preciso aprender a pensar
cientificamente.
É possível perceber durante as atividades o
olhar alegre dos participantes e que a interação
os torna seres mais críticos e participativos,
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favorecendo o entendimento de como a ciência
está relacionada ao nosso cotidiano. Além
disso, atividades desenvolvidas como a
reciclagem, propiciam uma conscientização
ambiental e a efetivação de teorias científicas
em um ambiente descontraído fora de sala de
aula.
A importância que a motivação assumiu na
educação emgeral é irrefutável. O ensino
baseado somente nas ideias, no abstrato, tem
contribuído para um desânimo e um desprezo
em relaçãoao conhecimento. A partir do
momento em que a comunidade se sente
estimulada a fazer algo ela mobiliza outros a
fazerem o mesmo. Isso é perceptível não
somente na educação, mas nas questões
políticas e de maneira geralde forma a se
tornarem agentes multiplicadores no seu lugar,
contribuindo de forma significativa para a
disseminação do conhecimento prático.
Em um nível prático, a função atribuída às
emoções na criação da racionalidade
temimplicações em algumas das questões com
que nossa sociedade se defronta atualmente (...).
Não é este o local para uma abordagem
adequadadessas questões, mas devo dizer que os
sistemas educativos poderiam ser melhoradosse
insistisse na ligação inequívoca entre as emoções
atuais e os cenários de resultados futuros [...].
(Damásio, 2001, p. 278)
Os participantes têm a oportunidade de
relatar e avaliar as atividades realizadas no
decorrer do dia através de questionários,
permitindo assim maior interação com o
público, que a cada dia com o saber mais
conhecimento torna-se mais exigente, este
movimento de busca pelo saber gera uma
vontade de fazer mais e cada vez melhor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vista como complemento educacional com
metodologias pedagógicas diferenciada da rede
escolar, a sala de ciências não deve ser vista
como substituta de tal, já que não é função do
projeto a alfabetização e escolarização dos
indivíduos participantes, trata se de uma forma
diferenciada de mediar o conhecimento.
Esta relação nos traz a questão sobre o
quanto a ciência contribui e afeta a sociedade e
seu cotidiano sempre reinventando um saber,
um conhecimento de que não se pode negar o
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vivido. Esta produção de conhecimento gerada
pelas experiências nos leva a outro patamar de
transformações, profundas e diárias e que cada
vez mais tem ganhado maior importância seja
ele pela tecnificação das coisas, informatização
e/ou investigação.
Conforme Veiga (2002), quando o
conhecimento sai do contexto de produção e
entra na esfera pública, onde se envolve com as
questões culturais e sociais há uma
reinterpretação do conhecimento em função da
sua utilização. Nas experiências de implantação
do projeto percebeu-se que alguns aspectos
receberam maior atenção, aqueles em que há
maior interação do publico alvo. Nesta
perspectiva Almeida (2005), evidencia um
modelo de experiência interativa que respeita o
ritmo de aprendizagem de cada indivíduo,
servindo como base para criação de novos
conhecimentos.
No âmbito das ações propostas pelo projeto,
o alcance dos objetivos se fundamenta na
capacitação e conscientização dos agentes a
serem alcançados de forma, que eles se tornem
sujeitos aptos a realidade social, no que diz
respeito aos seus impactos sociais, culturais e
ambientais. Esse projeto pretende difundir o
ideal sustentável nos participantes e
verdadeiramente formar indivíduos conscientes
e acima de tudo comprometidos com a causa do
meio ambiente.
Não se pode estimar a importância de um
espaço aberto à comunidade como um todo,
que proporcione o conjunto de articulações e
que faça a ciência acontecer, onde a prática e a
teoria se completam. A “sala de ciências”
estimula a formação de futuros pesquisadores
nas mais diversas áreas do conhecimento
humano e tecnológico. A experiência e as
sensações vividas contribuem para que os
alunos recorram aos aspectos concretos da
realidade, guardando coerência com as
características de interpretação do mundo.
A ciência e a tecnologia têm representação
social real, pois, enquanto sistema de
conhecimentos é como conjunto constituído
pelo saber/fazer, este pensamento é o que rege
a ciência itinerante. Diante desta perspectiva, a
ciência atrelada à tecnologia atinge sua
realidade vivencial e a apropriação do
conhecimento científico promovendo um
questionamento dos saberes cotidianos,
possibilitando uma intervenção criativa e
crítica da realidade na qual os indivíduos estão
inseridos .
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