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1.2. O MERCADO
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I) incentivos de mercado
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Este gráfico é de tal modo importante que podemos dizer que, com ele,
já sabemos «ler e escrever» em Economia. Vamos fazer alguns exercícios
com ele, para vermos o seu uso e interesse, mas antes devemos precisar
alguns detalhes importantes.
A constatação mais importante que se pode retirar do diagrama é,
como se disse, que em Economia temos sempre de ter em conta dois lados.
Os soberanos da decisão económica são o benefício e o custo, a procura e a
oferta, os gostos e a tecnologia. Esta ideia, muito simples, é de uma impor-
tância vital.
Dela resulta uma regra muito importante que nunca nos devemos es-
quecer, se não queremos ser enganados em Economia. Se alguém nos tenta
convencer que algo é muito bom (um certo bem que nos quer vender, um
projecto político concreto) e nos louva os benefícios dele, não nos devemos
esquecer de perguntar: que custos traz consigo?, quanto custa?, quem paga?
Inversamente, se nos descrevem os enormes defeitos, os custos de
certa entidade ou actividade, que alguém nos pretende convencer a aban-
donar ou a destruir, devemos sempre perguntar: para que serve?, quem
beneficia dela?
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NÃO HÁ ALMOÇOS GRÁTIS – O facto de numa decisão existirem sempre dois lados,
é um dos elementos mais simples mas mais importantes que resultam desta análise
de mercado; numa decisão há sempre um benefício e um custo. Os economistas
costumam utilizar uma frase célebre para significar este facto: não há almoços grá-
tis. Esta frase significa que nunca devemos cair no erro de considerar que uma coisa
que obviamente tem custos, pode ser obtida facilmente e de forma gratuita. O custo
correspondente a esse benefício existe e, naturalmente, acabará por se manifestar,
de uma forma ou de outra.
Nos dias de hoje, em que tantos gostam de nos convencer que nos vão oferecer
coisas, é bom não esquecer esta ideia simples mas sugestiva. Quem procurar sair
de um supermercado apenas com as múltiplas «ofertas» que essa loja nos desejava
entregar tão solicitamente sem comprar nada verá imediatamente o significado de
que não há almoços grátis.
IV) o equilíbrio
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Vale a pena referir desde já uma ideia que adiante será mais elaborada
e que toca, de novo, na conotação moral das leis económicas. Tal como a
racionalidade, também o equilíbrio não a tem. O ponto de equilíbrio não
tem, pelo facto de os produtores e consumidores estarem satisfeitos na sua
transacção, qualquer conotação valorativa ou moral. O ponto não tem de
ser «bom», «justo» ou «recomendável». Vejamos um exemplo:
Considere-se o mercado da alimentação. Se nesse mercado se der uma
catástrofe, cheia, guerra, fogo, etc., a economia pode sofrer efeitos nos
mercados alimentares, com severas consequências. Essas consequências
(representadas no gráfico abaixo) podem ser de vários tipos, conforme o
choque. Elas podem revelar-se por meio de uma forte queda do rendimento
dos consumidores (que gera recuo na curva da procura, de D1 para D2,
representado no painel A) ou uma descida da capacidade produtiva (recuo
da curva da oferta, de S1 para S2, representada no painel B). A situação
concreta depende da incidência particular da catástrofe em estudo. Fre-
quentemente, se a catástrofe for geral, a economia encontra-se perante um
misto das duas situações, reduzindo-se simultaneamente o rendimento dos
consumidores e a capacidade produtiva. Em ambos os casos a quantidade
transaccionada cairá do nível q1 para o nível q2.
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Mas almoços grátis é coisa que não existe, como os leitores deste livro
já sabem muito bem. Onde está então o erro? O problema é simples: quem
paga o subsídio são os Estados europeus, ou seja os consumidores europeus,
quando pagam os seus impostos. Por isso, o que os europeus pagam pelos
produtos agrícolas não é Pc, mas sim Pp, pois pagam Pc quando compram
os bens e o subsídio s quando pagam os impostos.
É por esta razão que alguns economistas dizem que seria melhor se o
subsídio não existisse (esta é uma opinião e não já um resultado científico).
Nesse caso, os consumidores europeus teriam produtos agrícolas mundiais
que (esses sim!) seriam mesmo mais baratos, enquanto os agricultores
europeus, que de qualquer maneira são menos produtivos que os do resto
do mundo, se poderiam dedicar a outras actividades mais lucrativas. Além
disso, como a produção é subsidiada, existe excesso de produção que tem
de ser conservado, o que aumenta enormemente o custo da política.
O problema é ainda mais grave se virmos que muitos dos produtores
agrícolas do resto do mundo são os pobres dos países pobres, que se vêem
incapazes de vender os seus produtos aos países ricos, devido à PAC. Além
disso, os europeus, como ajuda ao desenvolvimento, enviam muitos dos
seus excedentes como ofertas para os países pobres. E então é que os pro-
dutores agrícolas dos países pobres (a sua única esperança de um desen-
volvimento saudável) vão à falência, porque não só não os deixam vender
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Este facto teve como consequência uma subida no preço dos pro-
dutos agrícolas pago pelos consumidores, pois Pm é maior que o antigo
Pc. No entanto, tendo sido eliminado os subsídios aos preços, o preço
pago aos produtores desceu muito, de Pp para Pm. Deve dizer-se que se
mantêm os subsídios à produção agrícola, só que agora em vez de falsea-
rem os preços, são subsídios directos aos produtores, apenas pelo facto
de eles serem agricultores. No entanto, os novos subsídios, para não
terem as mesmas consequências produtivas de criar excessos, obrigam
a criar limitações ao uso das terras, para que o subsídio não seja usado
para produzir em terras não competitivas. Este facto tem criado muita
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V) valor e custo
Como é que uma coisa valiosa pode valer tão pouco e uma coisa pouco
valiosa valer muito?
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Note-se que esta ideia de que é a margem que comanda o valor de troca
já não é nova para nós. Atrás, quando vimos a cruz marshalliana, verificá-
mos que o preço de equilíbrio de mercado era definido pela última unidade
procurada e pela última unidade oferecida. O valor marginal dessa unidade
para o consumidor e para o produtor (que era igual) determina o preço a
que vão ser transaccionados todas as unidades anteriores (que têm um valor
superior para a procura e inferior para a oferta).
Agora se entende o significado da distinção de Adam Smith. A dife-
rença entre «valor de uso» e «valor de troca» queria dizer que a utilidade
total da água é muito superior à do diamante (valor de uso); mas como a
utilidade marginal do diamante é muito superior à da água, os «valores de
troca» invertem a situação. E porquê? Porque, como há muita água e pou-
cos diamantes então, pela lei da utilidade marginal decrescente, a utilidade
marginal daquela desceu muito em relação a este.
Vimos assim que o benefício, o valor de cada coisa, se mede pela utili-
dade que cada pessoa tira dessa coisa. Falta agora ver o conceito de custo.
Como se mede o custo em Economia?
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O que a ciência económica diz é que não existe uma teoria especial de
custo. A única teoria que existe é a teoria do valor. O custo, em Economia,
é medido pelo valor, mas pelo valor do que se teve de sacrificar. Este é o
conceito económico de custo, a que se chama «custo de oportunidade». O
custo de oportunidade representa o que de melhor se deixou de fazer para
fazer o que se fez.
O valor de um livro é o prazer que se tira da sua leitura. Como é nor-
mal, cada pessoa atribui valor diferente ao mesmo livro. O custo do livro é o
prazer que se tiraria daquilo que se faria com os recursos que se usaram para
comprar o livro. Se não tivesse comprado o livro, esta pessoa teria usado o
dinheiro para ir almoçar fora. O prazer do almoço que deixou de ter para
poder comprar o livro é o custo do livro. Se o agente é racional, e dado que
comprou o livro, então é porque ele pensa que o interesse da leitura é supe-
rior ao da refeição.
O custo de oportunidade mede o valor do sacrifício total, em qualquer
das formas possíveis, em que se incorreu para se conseguir um bem, uma
produção. E esse sacrifício é avaliado no único verdadeiro significado de
valor: a utilidade que as pessoas tiram dos bens. Assim, até os custos mone-
tários directos só são verdadeiramente custo porquanto o empresário, se não
tivesse produzido, teria utilizado esse dinheiro de outra forma, ganhando
algo com isso. Como decidiu produzir, ele não pode ter esse ganho alterna-
tivo. É esse o custo que teve.
Ao produzir, o empresário sofre vários custos monetários directos
(salários, juros, rendas, custos das matérias-primas, etc.). Se ele não tivesse
produzido, poderia ter feito muitas coisas com o dinheiro (investir noutra
produção, ir de férias, dar aos pobres, etc., etc.). Desses usos alternativos
do dinheiro, ele escolheria aquele que lhe desse maior utilidade. É esse
«máximo de utilidade alternativa» que é o custo de oportunidade.
Mas, para além dos custos financeiros directos com a produção, exis-
tem outros sacrifícios feitos com a produção, que não passam pela contabi-
lidade da empresa. Se, por exemplo, o dono da empresa trabalha na própria
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consumidor que compra. Isso quer dizer que não existe maneira de vender
esse produto a preço superior (senão o vendedor teria aproveitado), nem de
o comprar a preço inferior (senão o comprador teria aproveitado). Logo a
melhor alternativa tem de ser também de 5.
Assim, um mercado a funcionar bem fornece directamente os custos
de oportunidade através dos preços. Só existe necessidade de fazer o cál-
culo do custo de oportunidade para os bens que não passam pelo mercado
ou em que o mercado funciona mal. O custo do trabalho do patrão, o custo
do bricolage ou o custo de oportunidade do exército, tal como o custo de
oportunidade de estar na universidade, de construir uma central nuclear
ou de lutar pelo fim dos eucaliptos, são casos destes. A única maneira de
obter um valor é tentar avaliar directamente os sacrifícios e benefícios
envolvidos.
Por exemplo, o serviço militar obrigatório (que parece grátis, para
além dos custos da alimentação, vestuário e pequeno pré, registados no
Orçamento do Estado) tem um custo para o país, consubstanciado na pro-
dução que essas pessoas deixaram de fazer nos seus postos normais de
trabalho. A perda de produção (somada às despesas orçamentais) é o custo
que se tem de comparar com o benefício de ter um exército. E dizer que,
como existe desemprego, o custo do exército é nulo é uma falácia, que é
destruída pelo conceito de custo de oportunidade. Na verdade, existem for-
mas alternativas de combater o desemprego, algumas mais produtivas que
o recrutamento dos desempregados (e não só desempregados, nem todos os
desempregados, são recrutados).
Deste modo vimos que o valor das coisas, em Economia, é medido
pela sua utilidade para as pessoas, enquanto o custo é medido pelo valor do
sacrifício feito para as conseguir.
Neste primeiro capítulo foram discutidos, brevemente, os conceitos
fundamentais da ciência económica. Vimos como se faz a análise a partir
dos dois postulados base, a racionalidade e o equilíbrio, e quais as formas de
solução que as sociedades usam para os problemas económicos, a tradição,
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