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CASO CLÍNICO 1: Masculino, 76 anos, foi atacado por um pitbull quando caminhava na calçada. Sofreu
múltiplas mordidas pelo corpo sendo as mais graves no braço direito, rosto e na cabeça. Foi salvo por um
vira-lata que virou herói e enfrentou o enfurecido pitbull o qual foi morto a pauladas por vizinhos. O pitbull
era conhecido pois já havia mordido vários vizinhos e transeuntes, sem motivo aparente, em ocasiões
anteriores. O idoso registrou queixa e o dono do cão terá que responder judicialmente por omissão na
guarda de animais e por lesão corporal culposa. As lesões mais graves eram contusas, de formato
estrelado, profundas, sendo atendido em emergência 2 horas após. O dono do pitbull informou que o
animal era vacinado todo ano com vacina contra a raiva. O idoso era vacinado corretamente contra o
tétano, sendo o último reforço há cerca de 15 anos. Trata de cirrose hepática há vários anos, compensada
no momento e o seu estado nutricional é regular. Apresentou, 2 dias depois do episódio, febre de 39 º C e
celulite extensa no braço direito e adenite axilar do mesmo lado.
Avaliação do caso: Animal não passível de observação (período de 10 dias) para avaliar
● Risco de infecção pelo tétano e raiva adoecimento após possível período de incubação
○ Acidente de alto risco → lesão múltiplas, profundas, em várias regiões do corpo (braço, rosto
e cabeça)
○ Hospedeiro de alto risco → indivíduo idoso, cirrótico e com grau de desnutrição
○ Vacinação antitetânica há 15 anos → deve-se fazer um intervalo de 10 anos entre as doses da
vacina, porque com o tempo, a quantidade de anticorpos vai caindo
● Conduta do paciente:
○ Situação imunitária do paciente → vacinado corretamente, porém último reforço há 15 anos
○ Tipos de ferimento → alto risco de tétano e de infecção piogênica
○ Medidas indicadas → vacina DT ou dTPa de reforço + cuidados locais adequados
■ Deveria ter sido considerada profilaxia antibiótica por causa de mordedura, por ser um
paciente idoso, cirrótico e com desnutrição, tendo alto risco de infecção piogênica
↳ Preferência para amoxicilina + clavulanato → como os agentes mais comuns das
infecções piogênicas são os Streptococcus, Staphylococcus aureus e bactérias da
boca do animal (anaeróbios gram positivas, Streptococcus em geral…), esses
antibióticos tem espectro de ação sobre todos esses agentes
■ Recomendação de SAT ou TIG → paciente idoso, cirrótico e desnutrido
Soro antitetânico (SAT) // Imunoglobulina humana antitetânica (IGHAT ou TIG)
INTRODUÇÃO
● Epidemiologia:
○ EUA → 1-2 milhões de casos de mordeduras por animais ao ano
○ Brasil → > 600 mil atendimentos anuais para profilaxia da raiva
■ Cães (85%), gatos (10%), todos os demais animais (5%)
○ Mais comum no sexo masculino
○ Acomete mais adolescentes e adultos jovens
○ Mais comum no verão/férias
○ Principais sítios → extremidades, braços, rosto (rosto + comum em crianças)
○ Profissões mais expostas → veterinários, carteiros…
○ 5-10 óbitos por ano → acometimento de grandes vasos, pescoço
● Atendimento em emergências → deve ser feito nas primeiras 8 horas, para reduzir o risco
de contaminação e facilitar a abordagem da ferida!
○ Traumatologia produzida pelas mordeduras
■ O trauma causado pela mordedura é a primeira preocupação que deve-se ter no
atendimento, devendo-se avaliar:
↳ Lesão de vasos
↳ Sinais de choque/hipotensão
↳ Tamanho da extensão
↳ Lavagem exaustiva da ferida → essencial para evitar infecções secundárias
↳ Avaliação de perda tecidual
■ Após a avaliação, deve-se tentar a reconstituição do tecido → evita-se suturas,
porque a mordida de animais é de alto risco para infecções, preferindo apenas
aproximar as bordas da lesão
○ Profilaxia do tétano → doença de notificação compulsória!
■ Características de gravidade:
↳ Feridas múltiplas e profundas
↳ Lesões isquêmicas por perda de suprimento sanguíneo e grandes áreas de
necrose tecidual → os bacilos se multiplicam bem em locais de anaerobiose
(baixo teor de O2)
↳ Lesões com sujidade e corpo estranho → quanto mais risco de sujidade no
ferimento, maior é o risco de multiplicação do bacilo tetânico
○ Profilaxia da raiva
■ Pré exposição → importante ser feita para indivíduos que encontram-se em
constante contato com animais
■ Pós exposição → depende da gravidade do caso
■ Características de gravidade:
↳ Profundidade
↳ Número de lesões
↳ Localização → extremidades (mãos e pés), cabeça e pescoço
⤷ Maior chance de atingir o SNC, sendo considerada grave
↳ Hospedeiro de alto risco → idosos, doenças hepáticas, desnutrição…
● Tipos de lesões → esmagamentos, arrancamentos, lesões de ossos, nervos, vasos,
tendões, articulações, perda de substância, lacerações…
○ Cães → mais comum por Pitbull e Rottweiler
■ Mordida com pressão de 100-300 kg → mordem, fixam e sacodem a cabeça
○ Gatos → quando profundas, tem taxa de infecção de até 80%
■ Nas mordidas consideradas profundas com feridas puntiformes, há indicação de
iniciar antibiótico profilático, pelo risco de infecção
○ Morcego → deve-se sempre incluir soro ou imunoglobulina e vacina no tratamento
■ Soro/imunoglobulina → imunização passiva (anticorpo pronto)
↳ Em acidentes graves com alto risco de contaminação, deve-se
administrá-los
■ Vacina → leva um tempo para produzir os anticorpos
Cães Gatos Morcego
TÉTANO
● Profilaxia do tétano:
○ Tipos de ferimento → alto e baixo risco
■ Alto risco → lesões múltiplas, contusas, profundas, hospedeiro suscetível
○ Estado imunitário em relação ao tétano → deve-se avaliar a situação vacinal do
paciente
■ Esquema básico de vacinação contra o tétano do MS:
↳ 2, 4 6 meses de idade → deve-se iniciar a vacinação nessa idade, sendo um
dos componentes da pentavalente
↳ Aos 15 meses e aos 4 anos → vacinação de reforço com a DTP (difteria,
tétano e coqueluche)
↳ Reforço a cada 10 anos com a DT
↳ Particularidades:
⤷ Vacinação iniciada depois dos 7 anos → deve ser feita com a DT, uma
dose a cada 2 meses, seguida de reforço a cada 10 anos
⤷ Gravidez → existe risco de coqueluche, especialmente na gestante,
pela queda no título de anticorpos e, como nos primeiros 6 meses a
criança não está imune e recebe os anticorpos da mãe, existe uma
recomendação de toda gestante receber, além da DT (que já é rotina
para toda gestante a partir da 20ª semana), incluir uma dose do
componente acelular da coqueluche (dTPa), porque a forma não
acelular tem risco de toxicidade neurológica
⤷ Indivíduos com 1 ou 2 doses da vacina → devem completar o esquema
de 3 doses e, a partir daí, reforço a cada 10 anos
⤷
Pelo menos em uma das vacinações de reforço a cada 10 anos
recomenda-se usar a dTPa, para reforçar a imunidade contra a
coqueluche
⤷ Idoso rotina → atualizar dTPa independente de intervalo prévio com
DT
⤷ Idoso com esquema de vacinação básico completo → reforço com
dTPa a cada 10 anos
⤷ Idoso com esquema de vacinação básico incompleto → 1 dose da dTPa
e completar a vacinação básico com 1 ou 2 doses de DT
⤷ Idosos não vacinados e/ou histórico vacinal desconhecido → 1 dose
de dTPa e 2 doses de DT no esquema 0-2-4 a 8 meses
○ Imunização antitetânica frente ao ferimento → avalia-se de acordo com a
gravidade do ferimento e com a história vacinal
A penicilina G benzatina NÃO pode ser utilizada, pois seu MIC não é suficiente para combater o
clostridium tetânico
RAIVA
● Ciclo de transmissão:
○ O principal vetor é o morcego, que pode transmitir diretamente a doença para o ser
humano, assim como para outros animais, mamíferos e animais domésticos,
perpetuando a fonte de transmissão para o ser humano
○ Espécie animal envolvida → cães (85%), gatos (10%) e outros animais (5%)
■ Animais domésticos → médio risco de transmissão
■ Animais de interesse econômico ou de produção (risco de transmissão) →
bovinos, equinos, caprinos e suínos
■ Animais silvestres → morcegos (1ª causa de raiva humana)
○ Répteis, peixes e aves → não transmitem raiva
○ Animais de baixo risco → coelhos, hamster, rato, camundongo, porquinho da índia,
ratazana
○ Transmissão inter-humana (rara) → córnea, saliva, transplantes
PATOGENIA
o vírus penetra na mucosa ou na pele e se replica nas células musculares, chegando aos
nervos periféricos e, posteriormente à medula, indo para o cérebro, onde pode seguir
dois caminhos: acometimento do córtex cerebral, desenvolvendo a raiva paralítica, ou
acometimento do sistema límbico, desenvolvendo a raiva furiosa
○ Nesse momento, o vírus se dissemina, atingindo as glândulas salivares e outros
órgãos, sendo eliminado pela saliva, podendo ser transmitido e contaminando outros
animais ou humanos
Quando se avalia um acidente com risco de transmissão de raiva, é importante ver o grau de
inervação da área e a proximidade com o sistema nervoso central, pois dependendo da região,
mesmo um inóculo menor, é capaz de levar ao adoecimento. Logo, o tipo de lesão aumenta ou
não o risco de transmissão da raiva.
Diagnóstico
○ Histopatológico → através da biópsia e observação do corpúsculo de Negri
contendo o vírus da raiva
○ Imunofluorescência direta → capaz de identificar o vírus da raiva no tecido,
principalmente cerebral, a partir de um teste imunológico com anticorpos
monoclonais dirigidos contra o vírus da raiva
Profilaxia da raiva
○ Deve-se avaliar:
■ Condição do animal agressor
■ Espécie do animal
■ Natureza → mordedura, arranhadura, lambedura, contato com saliva
■ Ferimentos causados pelos animais
↳ Local do corpo → áreas muito inervadas próximas ao SNC
↳ Profundidade
■
● Uso do soro antirrábico (SAR) → deve ser administrado no dia 0, sendo indicado até o 7°
dia apenas
○ Infiltrar em volta das portas de entrada
○ Se sobrar SAR, deve-se injetar por via intramuscular
○ Ferimentos extensos ou múltiplos → pode-se diluir o SAR em soro fisiológico
○ Usar locais diferentes para fazer o SAR e a vacina
○ Dose → SAR 40 UI/Kg e soro homólogo (ideal) 20 UI/Kg
● Vacina contra a raiva → deve ser feita nos dias 0, 3, 7 e 14 por via intradérmica ou IM
○ Via IM 0,5-1 ml → usar via IM profunda, preferencialmente no deltóide ou vasto
lateral da coxa
■ Não deve ser aplicada na região glútea
○ Aplicar em local diferente do SAR
● Doenças raramente transmitidas por mordedura de cão e gato:
○ Cão → brucelose e leptospirose
○ Gato:
■ Doença da arranhadura do gato → comum em crianças
↳ Na área da mordedura pode aparecer uma linfonodomegalia, com febre de
difícil controle
↳ Causada pela bactéria Bartonella henselae
↳ Mais grave em imunodeprimidos
■ Tularemia, peste, blastomicose norte-americana
■ Esporotricose → pode ser inoculado na pele através de traumatismos por
contato com plantas ou pela arranhadura do gato
↳ O fungo segue o trajeto linfático, formando lesões nodulares, evoluindo
para supuração central e ulceração com drenagem
↳ Pode causar acometimento cutâneo, articular, ósseo ou disseminada
↳ Diagnóstico → coleta do material da lesão (raspado ou biópsia)
⤷ Exame direto de material das lesões com potássio a 10%
⤷ Cultura nos meios habituais com bom rendimento → padrão ouro
⤷ PCR de espécimes clínicos
⤷ Sorologia → ELISA, imunofluorescência e imunoblot
TRATAMENTO