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3.

0 DERMATOMICOSES

3.1 INTRODUÇÃO
● Vários fungos podem causar doença cutânea.
○ Algumas dessas infecções são superficiais, outras são profundas.
○ Micoses superficiais:
■ Infecções causadas por fungo que se localizam nas camadas mais
superficiais da pele e/ ou dos anexos cutâneos (pelos e unhas).
● As três principais são:
○ Pitiríase versicolor
○ Dermatofitoses
○ Candidíase

3.2 PITIRÍASE VERSICOLOR


● Causada por fungos do gênero Malassezia sp
○ Sendo a Malassezia furfur a espécie mais conhecida.
● Acomete:
○ Ambos os sexos
○ Maior incidência em adolescentes e adultos jovens
■ Pois é a época em que nossa pele apresenta maiores níveis de gordura.
○ Mais comum em países de clima tropical.

A Malassezia sp é um fungo comensal (presente na pele de todos os indivíduos) e


lipofílico (depende de um meio rico em lipídeos para se reproduzir).

● Apesar de ser um fungo comensal, acredita-se que o fungo se prolifera em maior


quantidade e causa a doença por:
○ Predisposição genética, fatores climáticos que aumentem a oleosidade da
pele (suor e calor, por exemplo), uso de óleos na pele, imunossupressão,
desnutrição e uso de corticoides tópicos

● Clinicamente:
○ Múltiplas máculas assintomáticas
■ Bem delimitadas
■ Tamanhos variáveis
■ Descamação fina (furfurácea).
■ Cores variadas (por isso, o nome pitiríase versicolor (de múltiplas
cores):
● Hipocrômicas
● Eritematosas
● Hipercrômicas
■ Predominam em áreas seborreicas (ricas em gordura)
● Como dorso superior, pescoço, ombros e parte proximal de
MMSS.
● A face pode ser acometida principalmente em crianças.
■ Por regra, o quadro clínico é assintomático
● No entanto, alguns pacientes podem queixar-se de leve
prurido.
● Nem sempre a descamação furfurácea está evidente.
○ Para que fique mais evidente, existem duas manobras semiológicas que
podemos utilizar, a saber:
■ 1 – Sinal de Zileri – fazemos um estiramento da pele onde há a
mácula
■ 2- Sinal de Besnier (ou da unhada) – passamos discretamente a
unha sobre as lesões

A Malassezia sp tem capacidade de produzir ácido azelaico.


● Essa substância possui a propriedade de inibir a tirosinas
○ Enzima chave na produção de melanina.
● Portanto, na presença do fungo, a tirosinase é inibida e não há produção de
melanina, o que explica as lesões hipocrômicas da pitiríase versicolor!
● Isso é muito interessante, pois o ácido azelaico é utilizado para tratar doenças em que
há hipercromia, como o melasma!!

● Principais diagnósticos diferenciais:


○ Vitiligo
■ Máculas acrômicas que surgem, principalmente, na face, mãos, pés e
áreas de trauma.
○ Pitiríase alba
■ Máculas hipocrômicas, mal delimitadas, com leve descamação
localizada principalmente na face
● Além disso, está associada a dermatite atópica.
○ Em nenhuma das duas condições há a típica descamação furfurácea
■ As manobras semiológicas descritas anteriormente são negativas.
● Diagnóstico
○ Na maior parte das vezes, é clínico.
○ Podemos utilizar a luz de Wood sobre as lesões que revelará uma
fluorescência róseo-dourada.
■ Aparelho que emite luz e é colocado sobre uma lesão dermatológica em
um ambiente escuro.
○ Exame micológico direto
■ Em que fazemos uma pequena raspagem da lesão e colocamos o
material em uma lâmina.
■ Na lâmina, aplicamos hidróxido de potássio para facilitar a
visualização do fungo e olhamos o material em um microscópio.
■ A Malassezia sp é vista como leveduras (estruturas arredondadas) e
pequenas hifas (estruturas alongadas) dando um aspecto de
“macarrão com almôndegas”.
● Tratamento
○ É realizado, predominantemente, com antifúngicos tópicos.
■ Os mais usados são:
● Azólicos (cetoconazol, isaconazol)
● Terbinafina tópica
● Ciclopirox.
■ Prescrevemos uma aplicação diária por duas semanas.
■ Outra opção é utilizar xampu de cetoconazol a 2%
● Esfregando-o nas áreas em que há lesões de pitiríase
versicolor.
■ Também utilizamos xampu de piritionato de zinco e sulfeto de
selênio.
○ Como a lesão da pitiríase versicolor é muito superficial, esfregar a pele com
bucha vegetal auxilia na melhora clínica.
○ O tratamento sistêmico
■ É reservado para casos muito extensos ou que são refratários ao
tratamento tópico.
■ Principais drogas utilizadas
● Itraconazol e fluconazol.
■ A terbinafina por via oral não tem efeito sobre a Malassezia sp e, por
isso, não é eficaz.
● 1 – Itraconazol: 200 mg/dia, por 5 dias.
● 2 – Fluconazol: 300 mg, uma vez por semana, por duas semanas.
● Obs.: o cetoconazol oral não deve ser utilizado para o tratamento de micoses
superficiais, pois é uma droga altamente hepatotóxica e pode levar à
insuficiência adrenal.
○ Os demais azólicos são mais efetivos e seguros.

● É importante orientar os pacientes que a hipocromia causada pela Malassezia sp


demora a repigmentar.
○ Orientamos o paciente a expor-se, por alguns minutos, ao sol para que
acelere o processo de repigmentação.
● A cura clínica deve ser baseada na:
○ Ausência de escamação.
● Quadros recorrentes de pitiríase versicolor.
○ É possível fazer:
■ Regime de profilaxia com xampu de cetoconazol a 2%
● Aplicado em todo o corpo, uma vez por mês
■ Ou uso de itraconazol 200 mg, uma vez por mês.
3.3 DERMATOFITOSES

3.3.1 INTRODUÇÃO


● As dermatofitoses são infecções fúngicas causadas por fungos filamentosos
chamados de dermatófitos.
○ Esses fungos têm por característica serem queratinofílicos
■ Isto é, dependem de um meio rico em ceratina para multiplicar-se.
■ Por isso, infectam, preferencialmente, a pele, os pelos e as unhas.
■ A invasão do fungo suscita uma resposta imunológica e inflamatória do
hospedeiro, o que leva ao surgimento da lesão dermatológica com
eritema e intenso prurido.
● Existem três gêneros de fungos dermatófitos.
○ Cada um desses gêneros possui uma predileção por diferentes classes de
ceratina e, por isso, causam infecção em locais diferentes.
■ 1 – Microscopurum:
● Predileção por pele e pelo.
■ 2 – Trichophyton:
● Predileção por pele, pelo e unhas.
■ 3 – Epidermophyton:
● Predileção por pele e unha.
● Não infecta pelos.

● Os dermatófitos podem ser divididos em geofílicos, zoofílicos e antropofílicos.


○ Os geofílicos vivem nos solos e ocasionalmente infectam o homem.
○ Os zoofílicos parasitam animais e raramente causam infecções no ser
humano.
○ Já os antropofílicos parasitam preferencialmente o homem.
● Como os geofílicos e o zoofílicos estão pouco adaptados ao homem, quando há
infecção, o quadro clínico costuma ser mais exuberante decorrente de uma intensa
resposta imunológica!!
● Com essa informação você consegue perceber que um indivíduo pode adquirir uma
dermatofitose após contato com outro indivíduo, com um animal ou com solo
infectado por dermatófitos!!

● Nós chamamos as infecções causadas pelos dermatófitos de “dermatofitose,


“tinea” ou “tínea”.
○ De acordo com o local da infecção, ela recebe um nome específico, a saber:
■ Tinea capitis – infecção por dermatófito localizada no pelo do couro
cabeludo.
■ Tinea pedis – infecção por dermatófito localizada nos pés.
■ Tinea cruris – infecção por dermatófito localizada na região inguinal
(crural).
■ Tinea unguium (onicomicose) – infecção por dermatófito localizada nas
unhas.
■ Tinea corporis – infecção por dermatófito localizada em pele que não
seja dos pés, da região inguinal e do couro cabeludo

● Sempre que estamos diante de uma suspeita clínica de uma dermatofitose, o ideal
é que possamos visualizar e isolar o fungo.
● Podemos visualizar o fungo através do exame micológico direto.
○ Nesse exame, realizamos uma raspagem da lesão, ou retiramos um fio de
cabelo no caso da tinea capitis, e colocamos o material em uma lâmina de
microscópio.
○ Aplicamos hidróxido de potássio a 10% (KOH 10%) para facilitar a
visualização do fungo e levamos o material ao microscópio.
○ Podemos visualizar, então, várias hifas septadas hialinas (claras), o que
confirma o diagnóstico de dermatofitose!
● Para saber exatamente a espécie, é necessário realizar uma cultura para fungo
no meio de cultura de Sabouraud!

3.3.2 TINEA CORPORIS


● Principal agente:
○ Trichophyton rubrum.
○ Adquirida através de:
■ Contato direto com outra pessoa infectada ou através de fômites.
● Clínica:
○ Placa circinada (em formato de círculo) ou anular
■ Pruriginosa
■ Eritematosa
■ Descamativa
○ Evolui com crescimento centrífugo.
○ A região central apresenta:
■ Clareamento central e a borda permanece eritematosa com
descamação e crostas.
● Diagnóstico diferencial:
○ Hanseníase tuberculoide
■ Há perda de sensibilidade na lesão!!
○ Eczema numular.
■ A lesão tem formato de moeda e não há clareamento central
● Tratamento
○ Maioria das vezes realizado com medicações tópicas.
■ As mais utilizadas são:
● Azólicos (cetoconazol, isoconazol)
● Terbinafina
● Ciclopirox.
○ Casos extensos ou refratários
■ Podemos utilizar terbinafina, itraconazol, fluconazol ou griseofulvina.
○ Geralmente, o tratamento não é longo
■ Sendo que, via de regra, duas semanas de tratamento é suficiente
para resolução completa do quadro.

● A terbinafina possui melhor atividade contra os dermatófitos do que os


azólicos.
○ Além disso, seu perfil de segurança é melhor.
■ Portanto, quando instituímos tratamento sistêmico para tinea
corporis, a terbinafina é a droga de escolha.

3.3.3 TINEA PEDIS


● Conhecida como “pé de atleta”
○ Dermatofitose mais comum em adultos.
● Principal agente:
○ T. rubrum
■ Adquirida pelo
● Contato direto com outro indivíduo infectado ou por meio de
contato com ambientes contaminados, como piscinas
públicas, por exemplo.
● Clínica:
○ Pode apresentar-se de várias formas diferentes.
■ Variante interdigital
● Há eritema, descamação e erosões entre os dedos dos pés.
○ Podem gerar desconforto e dor.
■ Forma escamosa
● Em que há hiperceratose (aumento da ceratina dando um
aspecto grosso à pele do pé), descamação e pouco eritema.
■ Variante vesicobolhosa
● Em que há eritema, descamação, vesículas, bolhas e pústulas
na região plantar.
○ Todas as variantes costumam ser quadros pruriginosos.
○ É muito comum que os pacientes com tinea pedis apresentem,
concomitantemente, onicomicose.

● Tratamento
○ Antifúngicos tópicos
■ Aplicados duas vezes por dia por quatro semanas.
■ Maiores taxas de cura:
● Terbinafina
■ Os azólicos também podem ser utilizados, por boa eficácia.
○ Em alguns casos
■ É necessário o uso de medicações sistêmicas
● Terbinafina, itraconazol, fluconazol ou griseofulvina.
○ Se houver onicomicose associada
■ Esta também precisa ser tratada, pois diminui o risco de recidiva.

● É importante, ainda, orientar o paciente sobre:


○ Necessidade de higiene com os calçados
○ Trocar meias todos os dias
○ Secar bem os pés após o banho.
● Todos esses fatores podem contribuir para a refratariedade do tratamento ou
recidiva da doença.

● O tratamento da tinea pedis é muito importante, principalmente em pacientes com


diabetes e/ou insuficiência venosa.
○ A tinea pedis é uma das principais portas de entrada de bactéricas que
causam celulite e/ou erisipela!!

3.3.4 ONICOMICOSE
● Refere-se à infecção fúngica do aparelho ungueal.
○ Maioria causadas por dermatófitos.
■ Principal relacionado:
● Também é T. rubrum.
○ Frequentemente associada à tinea pedis.
● Clínica:
○ Possuem quatro tipos com apresentações clínicas diferentes
■ 1 – Onicomicose distal e lateral:
● Forma mais comum.
● Há onicólise (descolamento da lâmina ungueal do leito
ungueal) com hiperceratose (aumento de ceratina) na região
subungueal distal.
● A onicólise é vista na clínica como uma mancha amarelada na
lâmina ungueal.
■ 2 – Onicomicose superficial branca:
● Há várias manchas brancas na lâmina ungueal.
○ Essas manchas apresentam descamação se você as
raspar com um bisturi.
● Por ser superficial, são mais fáceis de tratar.
■ 3 – Onicomicose proximal subungueal:
● Há uma mancha branca na região proximal da unha.
● Como ela é subungueal, não há descamação mesmo que você
as raspe com um bisturi.
● Ela pode progredir até que toda a unha se torne branca.
● Esse tipo é praticamente exclusivo de paciente com HIV
○ Portanto devemos realizar sorologia para esses
pacientes!!
■ 4 – Onicomicose distrófica total:
● Quando há destruição total da lâmina ungueal.
● É o estágio final de qualquer onicomicose de muitos anos
quando não é tratada.

● Tratamento
○ É demorado e difícil.
○ Quando há apenas uma unha afetada
■ Podemos tentar tratamento tópico com esmalte antifúngico.
■ As medicações mais utilizadas na forma de esmalte são:
● A ciclopirox olamina a 8%
● A amorolfina 5%.
■ Devem ser aplicadas na unha afetada uma a duas vezes por
semana, após o paciente lixá-las (para reduzir a hiperceratose
e facilitar a ação do medicamento)
○ Quando há mais de uma unha afetada
■ O tratamento sistêmico impõe-se e geralmente
administramos em pulsoterapia
■ A melhor droga é a terbinafina
● Administrada na dose de 500 mg/dia (dois comprimidos
de 250 mg), por sete dias
■ Mas também podemos utilizar itraconazol
● Administrado na dose de 200 mg/dia, por sete dias
também.
■ O tratamento é longo, variando de três meses a um ano
■ É importante monitorar a função hepática por meio de exames
laboratoriais desses pacientes durante o tratamento

3.3.5 TINEA CRURAL


● É a dermatofitose que acomete a região inguinal e a região genital.
● É três vezes mais comum em homens que em mulheres.
● O agente relacionado é o Epidermophyton floccosum ou o T. rubrum.
● Está relacionada a obesidade, DM e sudorese excessiva na região inguinal.
● Frequentemente, há tinea pedis associada e, por isso, o exame físico sempre precisa
ser completo.
● Clinicamente
○ As lesões são placas com crescimento centrífugo, cujas bordas são
eritematosas com algumas crostas, e há clareamento na parte central.
○ As lesões podem espalhar-se para a área perineal e perianal, no sulco
interglúteo e nádegas.

● No início da nossa discussão sobre dermatófitos, falamos que esses fungos


dependem da ceratina.
○ A pele da bolsa escrotal não apresenta uma quantidade grande de
ceratina.
○ Por isso, em homens que apresentam tinea crural, a bolsa escrotal costuma
ser poupada
■ Isso ajuda a diferenciar dos quadros de candidíase, já que a
cândida, frequentemente, leva ao surgimento de lesões na bolsa
escrotal!
● Viu como é importante saber algumas características dos fungos??

● Diagnóstico diferencial importante da tinea crural, o eritrasma!


○ O eritrasma é uma infecção causada pela bactéria Corynebacterium
minutissimum.
○ Apresenta-se como uma placa acastanhada, uniforme, em áreas de dobras,
principalmente axilas e região inguinal.

● Tratamento
○ Na grande maioria dos casos, o tratamento tópico com antifúngicos é
suficiente.
○ Podemos utilizar azólicos ou terbinafina tópica aplicados duas vezes por dia
por duas semanas.
○ É importante avaliar se o paciente é portador de tinea pedis
concomitantemente, pois, se não tratamos ambas as condições, há
grandes chances de o quadro recidivar!
○ Reiteramos novamente a necessidade de sempre ser realizado o exame
dermatológico completo!

3.3.6 TINEA CAPITIS

Atenção total a esse tópico!! Dentre as questões de dermatofitoses, é sobre esse assunto
que os examinadores mais gostam de perguntar!! Aprenda bem, principalmente, a
apresentação clínica e o tratamento!

● A tinea capitis (tinha do couro cabeludo) é uma infecção por dermatófitos que afeta
os pelos do couro cabeludo.
● É muito mais comum em crianças na fase pré-puberal, principalmente aquelas com
baixo nível socioeconômico.
● Os agentes mais comuns são:
○ Trichophyton tonsurans
■ É adquirido a partir de contato direto com um indivíduo infectado ou
através de fômites
○ Microsporum canis.
■ É adquirido pelo contato com animais infectados.
● Esses fungos possuem a capacidade de fragilizar os pelos e isso faz com que eles
se quebrem.
● Clinicamente
○ Há uma ou várias áreas de alopecia (diminuição da quantidade de fios) com
pelos tonsurados (pelos quebrados) associado a graus variados de eritema
e/ou descamação.
○ Geralmente há prurido associado

Quando o examinador falar de uma criança com alopecia e pelos tonsurados ou quebrados,
o diagnóstico só pode ser tinea capitis!!! Fique atento às palavras-chave

● Clinicamente, podemos inferir se o agente etiológico de uma tinea capitis é o T.


tonsurans ou o M. canis.
○ Nas tineas tricofíticas (causadas pelo T. tonsurans)
■ O paciente apresenta várias lesões pequenas.
○ Já nas tineas microspóricas (causadas pelo M. canis)
■ O paciente apresenta uma única lesão grande.
● Outra forma de diferenciar essas duas entidades é colocando a luz de Wood
○ Nas infecções por M. canis, a lesão torna-se verde!
○ Essas informações não são cobradas nas provas de acesso direto, porém,
como o assunto tinea capitis é bastante explorado, é bom que você já tenha
ouvido falar neles para não ser surpreendido!

● Em algumas ocasiões
○ Pode haver uma resposta imunológica intensa com uma exuberante
inflamação das lesões de tinea capitis.
■ A esse processo damos o nome de Kerion celsi
● Há o surgimento de um eritema intenso associado a pústulas,
crostas melicéricas e drenagem de secreção purulenta em
uma lesão de tinea capitis.
○ O paciente pode, ainda, apresentar linfonodomegalias cervicais e occipitais.
○ Se o Kerion celsi não for tratado precocemente, o paciente pode evoluir
com alopecia cicatricial
■ Isto é, destruição dos folículos pilosos, o que impede que o cabelo
volte a nascer naquele local

● O examinador apresentará o quadro de uma criança com alopecia com pelos


tonsurados associados a pústulas e saída de secreção purulenta.
● Tentará induzi-lo a pensar que se trata de uma infecção bacteriana secundária, porém
isso não é verdade!!
● O Kerion é uma resposta imunológica à presença do fungo e o tratamento deve ser
feito com antifúngicos, e não com antibióticos!! Não caia nessa pegadinha!!

● O principal diagnóstico diferencial é a alopecia areata.


○ A alopecia areata apresenta-se frequentemente como uma área arredondada
de alopecia
■ Porém não há pelos tonsurados, eritema ou descamação!
● Tratamento
○ Sempre é feito com medicação sistêmica!!!
○ Não se esqueça desse conceito, pois o tratamento da tinea capitis é um dos
assuntos mais abordados nas questões.
○ Não adianta realizar tratamentos tópicos com cremes ou xampus.
○ A droga de escolha é
■ A griseofulvina na dose de 20 a 25 mg/kg/dia
● Por seis a 12 semanas.
● A griseofulvina é um antifúngico sistêmico que se concentra de
forma efetiva no pelo e, por isso, é eficaz para esse tratamento.
○ A outra droga de escolha é a terbinafina administrada por via oral.
■ Após o tratamento, há crescimento normal do cabelo e recuperação
completa
● Existe um tipo raro e particular de tinea capitis chamada de tinea favosa
○ Cujo agente etiológico é o T. schoenleinii.
● É um tipo agressivo que ataca diretamente o folículo piloso e que, caso não seja
tratado precocemente, pode levar à alopecia cicatricial (deixa cicatriz no couro
cabeludo) sem possibilidade de repilação posterior!
● O quadro clínico
○ É marcado por pequenas lesões em forma de crateras amareladas, que se
localizam ao redor dos folículos pilosos (chamados de godet ou escútula
fávica).
○ Apresentam um odor desagradável descrito como “urina de rato”.

3.3.7 DERMATOFÍTIDE
● É uma reação de hipersensibilidade à presença de uma infecção por um fungo
dermatófito.
○ Acredita-se que seja resultante de prévia disseminação de produtos tóxicos
de natureza fúngica.
● O paciente apresenta um quadro pruriginoso com pápulas e vesículas em um local
distante da dermatofitose primária.
○ Isso quer dizer que, se fizermos um exame micológico direto na área de
dermatofítide, não encontraremos nenhum fungo!!
● O mais característico é
○ Um paciente apresentar um quadro de tinea pedis e evoluir com uma
dermatofítide com vesículas e pápulas nas mãos.
● O tratamento da lesão primária resolve o quadro à distância.
● Acredita-se que isso seja uma resposta de hipersensibilidade tardia aos antígenos dos
dermatófitos.
● Existem três critérios que devem ser preenchidos para o diagnóstico de uma
dermatofítide:
○ 1 – Dermatofitose em alguma parte do corpo.
○ 2 – Exame micológico direto negativo no local suspeito de dermatofítide.
○ 3 – Resolução da dermatofítide após o tratamento da dermatofitose
distante.

3.3.8 OUTRAS VARIANTES CLÍNICAS


● Existem outras variantes clínicas de dermatofitoses
○ Porém são vistas menos frequentemente.
● Durante toda nossa revisão de provas anteriores, não encontramos nenhuma questão
sobre essas variantes, porém é necessário que você saiba que elas existem para que
não seja surpreendido em uma eventual questão!!
● 1 – Tinea faciei:
○ Esse nome é reservado para as dermatofitoses que se localizam na face,
mas que não acometem a área da barba.
○ Há um pico de frequência em crianças
■ Pois estas podem ter um contato frequente com animais de estimação
infectados.
○ Apresenta-se como placas anulares eritematosas e pruriginosas.
○ O tratamento é semelhante ao da tinea corporis.
● 2 – Tinea barbae:
○ A tinea da região da barba é rara em nosso meio.
○ É a infecção dos pelos terminais da barba em adolescentes e adultos
jovens.
○ Pode ser causada por dermatófitos do gênero Trichophyton ou
Microscoporum.
○ Pode apresentar-se de
■ Forma semelhante a uma foliculite bacteriana com pápulas e
pústulas ao redor dos pelos da barba
■ Ou assumir a forma de lesões anulares de bordas eritematosas com
vesículas e escamas
● (forma chamada de herpes circinado).

● 3- Tinea manuum:
○ Essa é a denominação para a dermatofitose localizada nas mãos.
○ Os agentes mais comuns são T. rubrum e T. mentagrophytes.
○ A infecção pode apresentar-se como:
■ Uma placa eritematosa anular na região dorsal das mãos ou como
uma placa descamativa na palma da mão.
■ Muitas vezes, o acometimento é unilateral e está associado à tinea
pedis bilateral.
● A essa associação damos o nome de “síndrome uma mão, dois
pés”.
○ O tratamento é semelhante ao discutido para tinea pedis.
● 4 – Tinea imbricata:
○ Essa é uma variante da tinea corporis que acomete a população indígena da
América Central, Pacífico e Norte do Brasil.
○ É causada pelo T. concentricum
○ Sua apresentação clínica é bastante peculiar com lesões escamosas que
fazem desenhos bizarros e concêntricos na pele.
○ Os indígenas consideram que as lesões são verdadeiros adornos e um presente
divino.
● 5 – Granuloma de Majocchi:
○ Conversamos que as dermatofitoses são infecções superficiais,
localizando-se na epiderme.
■ Porém, em raras ocasiões, pode haver invasão dos dermatófitos
para a derme ou subcutâneo.
● Essa invasão pode ocorrer ou por um trauma
○ Por exemplo, o ato de depilar as pernas com lâmina, o que
facilita a invasão do fungo
● Ou em pacientes imunodeprimidos.
○ Clinicamente
■ Surgem pápulas e nódulos profundos que podem supurar.
○ Esse é um dos poucos casos em que o diagnóstico é feito através da
demonstração do fungo na derme por biópsia cutânea.
○ Devido à profundidade da infecção, tratamentos tópicos são ineficazes
■ Sendo necessário o uso de antifúngicos (preferencialmente
terbinafina) por via oral.
○ É importante que seja realizada sorologia para HIV em casos de granuloma
de Majocchi pela associação dessa doença com imunodepressão.

● Você sabe o que é tinea incógnita?


● É costume da brincadeira entre os médicos de falar que qualquer doença
dermatológica é tratada com corticoide.
● Claro que isso não é verdade!!
● Quando um creme ou pomada de corticoide é aplicado inadvertidamente sobre
uma lesão de dermatofitose, a lesão perde toda sua característica clínica
peculiar e o diagnóstico fica muito difícil.
○ Há redução do eritema, da descamação, perda da definição das bordas e
progressão da doença.
● A essa lesão de dermatofitose alterada pelo uso de corticoide tópico, damos o
nome de tinea incógnita!!

3.3.9 RESUMO DAS PRINCIPAIS DERMATOFITOSES


● Muita informação para gravar sobre dermatofitoses, não é? Não se preocupe! Visualize
nossa ilustração com as diversas formas clínicas de dermatofitoses com seus
respectivos agentes etiológicos. Depois, observe a tabela comparativa entre as
principais formas de dermatofitose para fixar o conteúdo! Essa é a hora!

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