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O PROCESSO DE DIGITALIZAÇÃO DA LEITURA NO BRASIL

ENTRE OS ANOS DE 2019-2021

Barbara Campos Mercez


Maria Vitória Teixeira e Silva

Resumo: A popularidade dos livros digitais ou como são popularmente chamados “e-books”
vem aumentando nos últimos anos devido à sua conveniência e praticidade. Esse artigo trata
sobre o processo de digitalização da leitura no Brasil, trazendo dados sobre o crescimento
desse setor no país e apontando pontos positivos e pontos negativos sobre o tema.

Palavras-chave: E-book; Livros digitais; Acessibilidade.

Abstract: The popularity of digital books or as they are popularly called “e-books'' has been
increasing in recent years due to their convenience and practicality. This article deals with
the process of digitization of reading in Brazil, bringing data on the growth of this sector in
the country and pointing out positive and negative points on the theme.

Keywords: E-book;Digital books; Accessibility.

1 INTRODUÇÃO

Os livros digitais ou livros eletrônicos, também conhecidos como e-books, vem


transformando a indústria literária, inovando a forma como lemos e acessamos os livros, não é
mais necessário carregar grandes volumes de papel, os livros digitais têm tornado a leitura
mais prática e acessível para os leitores, podendo ser acessados em celulares, tablets,
computadores e e-readers, e podem ser encontrados e grandes variedades de formatos de e-
books, AudioBooks e em plataformas online, como Wattpad, Kindle Unlimited e Apple
iBooks.
Nos últimos anos, entre 2019 e 2021, a indústria dos e-books vem crescendo
significativamente, com um maior número de usuários de smartphones. De acordo com a
Statista - plataforma online especializada em dados de mercado e consumidores -, o mercado
global de e-books até 2026 estará valorizado em $26.1 bilhões, enquanto em 2020 foi
valorizado em $23.2 bilhões.
Os livros digitais se popularizaram no Brasil, transformando a forma como os
brasileiros leem, hoje a cada 42 livros físicos vendidos no Brasil vende-se um e-book,
enquanto anos atrás se vendia um e-book a cada 95 livros físicos. Segundo a pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil, o país tem um baixo índice de leitura, sendo de 4,2 livros por pessoa.
Um dos motivos agravantes desse baixo índice é o preço dos livros físicos, o que faz os livros
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digitais serem tão atrativos para a população, sobretudo a mais jovem. Rafael Guimaraens
(Brasil de Fato, 2022):
Os leitores jovens, em geral, estão aderindo ao livro digital, portanto é natural que
essa relação se torne equilibrada. Além disso, o livro físico enfrenta um momento
delicado. Os custos gráficos aumentam em patamares superiores à inflação. No caso
do papel, estão vinculados ao dólar – e essa é uma vantagem dos digitais. O preço de
capa do livro físico não consegue acompanhar os custos, pois as vendas
diminuiriam.

Com a popularização dos livros digitais, as indústrias literárias têm se preocupado com
o futuro dos livros físicos, devido aos altos custos de impressão, e das livrarias independentes,
pela atual cultura de compras on-line, onde o e-book torna desnecessário o deslocamento até
uma livraria. Tendo também, vantagem no aspecto de acessibilidade para pessoas que
possuem alguma deficiência visual.
À vista disso, o objetivo deste artigo é apontar os pontos positivos e negativos dos
livros digitais, trazendo informações sobre o movimento de digitalização dos livros
eletrônicos.

2 CRESCIMENTO DO SETOR

Em 2019, o mercado de livros eletrônicos representava cerca de 4% do mercado total


de livros, de acordo com uma pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) de 2020, uma
quantidade relativamente baixa; entretanto, considerando-se desde 2016, essa participação
encontrava-se em ascendência constante de 10% ao ano, aproximadamente.
Em 2020, a pandemia do SARS-CoV-2 - período em que houve isolamento social e as
pessoas estavam confinadas em suas casas - impactou também o mercado editorial brasileiro,
afetando as vendas de livros, o que acabou favorecendo a leitura digital. Durante os primeiros
meses de isolamento houve um grande e repentino crescimento no número de vendas de e-
books, infelizmente essa alta não foi sustida ao longo do ano.
Considerando o ano de 2020, por completo, o número de unidades vendidas foi de
8,57 milhões, um aumento de 81% associado a 2019, conforme detalha a figura 1.

Figura 1 – Venda de conteúdos digitais 2020


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Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2021)

Neste ano a ocupação dos conteúdos digitais representou 6% do mercado editorial brasileiro,
aumento de 2% em relação a 2019, como demonstra a figura 2.

Figura 2 – Físico X Digital 2019 e 2020

Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2021)


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No ano de 2021, o número de vendas nesse setor foi de 9,4 milhões de exemplares,
obtendo um faturamento de 125 milhões de reais, apesar de parecer um grande avanço, esse
número não representa o crescimento esperado para o ano de 2021, já que no início de 2020
houve um pequeno “boom” na quantidade de vendas que se estabilizou ao final do ano;
Resultou que, em 2021 a quantidade de vendas foi de, apenas, 1o% maior que 2020. Foi tão
insignificante que a ocupação do mercado de livros digitais no mercado permaneceu nos
mesmos 6% (do ano antecedente) em relação ao físico, de acordo com a figura 3.

Figura 3 – Físico X Digital 2020 e 2021

Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2022)

Alguns dos fatores que impedem o desenvolvimento acelerado estão descritos no


tópico 4 - “Problemas” (pág. 6).
O fácil acesso aos livros eletrônicos, por meio de plataformas direcionadas para a
publicação de livros digitais, como a Amazon – loja virtual - com um catálogo com mais de
80.000 AudioBooks, disponíveis para compra com apenas 1 click, auxilia leitores que
possuem algum tipo de deficiência visual, o acesso a livros eletrônicos facilita o acesso dessas
pessoas a leitura. Em uma entrevista realizada para o artigo “AUDIOLIVRO: uma importante
contribuição tecnológica para os deficientes visuais; um estudo de caso no Setor Braille da
Biblioteca Pública do Estado da Bahia mostrou que, o uso de audiobooks é de grande auxílio
para crianças e idosos que ainda não se adaptaram a cegueira (AUDIOLIVRO, 2008).

3 CUSTOS

Uma verdade é que para sintetizar um livro, se é muito mais custoso e trabalhoso em
si, que quando se comparado a produção e distribuição de um e-book. (Buscapé, 2021)
Os ebooks carregam uma série de vantagens, sendo a maior delas a facilidade de
publicar um livro quando se é um autor independente. Isso acontece principalmente
pelo custo do livro impresso, que é alto e demanda de um investimento inicial.
Publicar um ebook, por outro lado, é simples e barato. Não há preocupação com o
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número de cópias a serem feitas e nem o número de leitores consumidores da sua


história.
Para a produção de um livro é necessário o pagamento de parte dos lucros a uma
editora. No geral isso tudo impacta no preço final do produto oferecido ao consumidor, então
quanto menor esse custo de produção, menor poderá ser o preço, também. A faixa média de
preço de um e-book em 2020 era de R$15,50, visto na figura 4; no ano de 2021 houve uma
queda de 25%, chegando ao valor de R$12,10 (Figura 5), isso se deve ao fato do aumento de
consumidores no setor dos livros digitais, mais tarde, no ano de 2021 (figura 6) o preço médio
do livro digital cresceu em 12% atualizando-se para R$13,50.

Figura 4 – Preço e-book 2019

Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2020)

Figura 5 – Preço e-book 2020


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Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2021)

Figura 6 – Preço e-book 2021

Fonte: Nielsen | Nielsen Book (2022)


O que se pode perceber é que, mesmo com esse aumento final de 2021, o preço de um
e-book não se assemelha ao livro físico. Vejamos um exemplo de um livro clássico brasileiro
em um site popular de compras online, na figura 7. Mesmo com um desconto de 10 reais e
frete grátis, a compra do livro digital reduz o valor para o consumidor em 60%.

Figura 7 - Livro Dom Quixote, preços por formato

Fonte: Amazon.com (2022)

4 PROBLEMAS

Alguns dos fatores que explicam o porquê desse setor não conseguir decolar tanto
quanto potencial permite são: a falta de internet estável, os altos custos dos aparelhos
eletrônicos no Brasil, além da cultura rica e histórica dos livros físicos que o povo brasileiro
possui.
De acordo com a pesquisa sobre o consumo de pirataria publicada pela empresa
Akamai "Piratas à Vista", dentre os quinze países analisados, o Brasil ficou em 5° no ranking
de acesso à produtos piratas, com mais de 4 bilhões de acessos a esses websites, sendo 955
milhões de acessos à conteúdos literários.
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Conforme dados da companhia antipirataria MUSO, os principais websites de


pirataria, são sites que se concentram fortemente na disponibilização de mangás e em outros
conteúdos baseados em livros.
Uma das plataformas que contribui para esse alto índice, é o app "Telegram", onde e
possível criar canais que permitem o compartilhamento de mídias com centenas de pessoas ao
mesmo tempo, espalhando esse conteúdo pirateado em alta velocidade. O app preza pela
privacidade dos usuários, garantindo a eles o anonimato, fazendo com que os usuários se
sintam confortáveis em compartilhar e fazer download de arquivos pirateados.
Atualmente os aparelhos eletrônicos mais usados como instrumento de leitura são os
smartphones, tabletes e e-readers. Os smartphones tem uma vantagem por atualmente ser um
dispositivo essencial na vida de todos, mas alguns leitores, optam pela compra de um e-
reader, entre seus principais modelos está o Kindle, da Amazon e o Lev, da Saraiva. Motivos
citados por usuários do aparelho Kindle é a duração de sua bateria, que dependendo da sua
rotina de leitura chega a durar um mês, e a tela com tecnologia de iluminação feita por meio
de LEDs, localizados na parte inferior da tela, tornando a iluminação menos agressiva à vista.
Outro problema importante a ser citado, é a conexão à internet disponível para esses
aparelhos, que para se tornarem funcionais, utilizam-se de uma rede wifi. Vale destacar que
em grande parte do país a internet é cara, e também se torna instável, em locais mais afastados
dos grandes centros das metrópoles do país.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Portanto, vimos que os e-books tem algumas vantagens em relação aos livros
impressos, como praticidade e acessibilidade, eles também apresentam algumas desvantagens
que podem afetar a experiência de leitura dos usuários. Logo cabe a cada leitor decidir qual
formato é o melhor para suas necessidades e preferências pessoais.
Em resumo, as maiores vantagens dos ebooks são: portabilidade, acessibilidade,
economia de espaço, preços acessíveis, sustentabilidade e a comodidade. Já os seus pontos
negativos consideram-se a dependência de energia, necessidade de dispositivos eletrônicos, a
falta de sensação tátil, restrições de empréstimo e compartilhamento, fadiga visual e as
limitações de compatibilidade.
Em geral, embora os e-books estejam certamente ganhando popularidade no Brasil,
eles ainda não superaram os livros impressos como o formato de leitura preferido para a
maioria dos brasileiros.
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REFERÊNCIAS

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Jornalismo, 2021. Disponível em: https://labdicasjornalismo.com/noticia/9171/o-avanco-da-
acessibilidade-a-leitura-a-evolucao-dos-e-books. Acesso em: 29 mar. 2023.
MENEZES, Nelijane; FRANKLIN, Sérgio. AUDIOLIVRO: uma importante contribuição
tecnológica para os deficientes visuais; um estudo de caso no Setor Braille da Biblioteca
Pública do Estado da Bahia.. UFBA, 2008. Disponível em:
http://www.cinform2008.ici.ufba.br/layout/padrao/azul/cinform/Documentos/Comunica
%C3%A7%C3%B5es/AUDIOLIVRO%20uma%20importante%20contribui
%C3%A7%C3%A3o%20tecnol%C3%B3gica%20para%20os%20deficientes
%20visuais....pdf. Acesso em: 29 mar. 2023.
REIS, Juliani; ROZADOS, Helen. O Livro Digital: Histórico, Definições, Vantagens e
Desvantagens. UFRGS, 2016. Disponível em:
https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/151235/001009111.pdf?sequence=1.
Acesso em: 29 mar. 2023.
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PAZ, Walmaro. No Brasil, 44% da população não lê: e 30% nunca comprou um livro, diz
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https://www.buscape.com.br/leitor-de-livro-digital/conteudo/como-fazer-um-ebook. Acesso
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