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TITULO I
ORDEM SOCIAL
no lo1
I ,l
§1. Ohomemeasociedade
Dir-se-á que viver com os outros (conviver) é o seu destino, a que não
pode fugir sob pena de deixar de ser homem (l).
Porém, a convivência postula regras que disciplinem os comporta-
mentos de cada homem e transmitam a segurança necessária à vida de
relação com os outros. Tais regras corporizam a ordem social que
importa estudar.
(t) Não passÍun de mera ficção as doutrinas correntes nos séculos XVtr a )OX
de que o homem começou por viver isolado num estado de natureza que teria pre-
cedido o estado social. Referimo-nos a Hoases para quem o homem é um ser
profundamente egoísta que a sociedade educa; e a Roussreu que vê no homem um
ser originariamente bom que a civilização corrompeu. A sociabilidade inata do
homem e as modernas investigações antropológicas desmentem aquelas doutrinas.
Vide lnocêncio GelvÃo Tslt-ps, Introdução ao Estudo de Direiro 1ll (Coim-
bra, 1999), 33-39; e José de OllvElRa AscpNsÃo, O Direito. Introdução e Teoria
G eralt3 (Coimbra, 2OO5), 23-24.
(t) Vide Oltvr.na AscrusÃo, o.c.,33-35.
(z) Vide João Barusra MecHe.po, Introduçõo ao Direito e ao Discurso lxgí-
timador3 (Coimbra, 1989), 14.
(3) V.9., o direito das obrigações, o direito de propriedade, o direito da famí-
lia, etc.
(a) Assim, a obrigação, a propriedade, a família, etc.
--J
§ 2. Ordens normativas
2.1- Preliminares
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-.,]
l
18 Ideia GeraL de Direito
§ 2. Ordens normativas
2.-1.. Preliminares
t..]
I
t.Geral de Direito Ordem Social 19
1lo1 V. g., não basta ter a intenção de visitar um doente ; é também moralrncnte
nccessário pôr em prática este propósito. Vide OLrvEtta AscENsÃo, o.c., 98-100.
(11) Bastará pensar, v. 9., no que as diferentcs formas de culpa e a boa fé
desempenharn nos direitos penal e civil. Vide Gustav Rapsnuctr, Filosofía do
Direiro, I (Coimbra, I96l), I 15-l 16.
(12) Vide Ba.rnsra Mecue»o, o.c., (fr-67; e OLtvetRa AscENsÁo, o.c., 102-103.
(13) Vide Mário Brcone CttonÃo, Introduçao ao Direíro,I (Coimbra, 1989),
200-20 1 .
li,ri*or, porém, 4. critério do motivo da acção: os preceitos morais têm a sua fonte
----J
ão satrstaz: des- na consciência de quem os deve cumprir que constitui, tam-
*lemento interno bém, a instância que decide sobre o seu cumprimento ou incum-
lu confere primento (17); o direito é fruto da vontade dum sujeito dife-
I -o.ul
ge que actuemos rente. Por isso, a moral ó autónoma (o autor da norma moral
,r5 propósitos (10); é a pessoa que Ihe deve obedecer) e o direito é heterónomo
p-u analisar (implica a sujeição a um querer alheio). Isto é, o cumprimento
[iu
I
rnto, este crlteno da norma moral-requer o assentimento do obrigado, enquanto a
.1la os diferentes norma jurídica se cumpre independentemente da opinião dos
seus destinatiírios- Também este critério, que foi utilizado por
lpane da atitude
--àa conduta (12). KANT, sofre de deficiências: o autolegislador de KaNr não é o
ga perfeição Pes- homem real, mas uma vontade pura cujas miíximas têm valor
hita-re a impor universal; por isso, não sendo criadas pela pessoa obrigada, as
Jsociais segundo normas morais não são autónomas. A sua obrigatoriedade não
imoõe deveres e pode fundar-se num querer empírico, mas em exigências ideais.
Ademais, se as nonnas morais fossem autónomas, sempre have-
$e* se fala de
4 t- ito: perante ria que reconhecer ao obrigado não só a faculdade de as criar,
ssoa autorizada a mas também de derrogar ou modificar segundo os seus capri-
chos, faculdade que nenhum moralista lhe atribui. É também
lq'.r"- se encon-
que tem a impossível elevar a vontade universal à dimensão de norma
-l*ttou
igação 1t+). Nem sem sabermos previamente o que é bom ou mau: o imperativo
ligaçoes naturais moral é a expressão de algo intrinsecamente valioso e não duma
--f1 itsl' em nor- vontade. Por outro lado, o direito tem também uma dimensão
de sanção; e em cle autonomia porque, sendo a vigência a base fárctica da vali-
dade, esta desvanece-se quando aquela desce a um certo grau.
J
l('9. Além de que uma "obrigação" heterónoma (isto é, imposta por
uma vontade alheia) envolve uma contradição: a obrigação
pressupõe o reconhecimento dum dever e urna vontade alheia
L** moralmente
só pode produzir, quando muito, um ter-de-ser, nunca um
o.c., 98-100'
-.hsao,
Ce culpa e a boa fé
dever-ser 1tt;. No entanto, não deixa de poder afirmar-se que
Filosofía do a dimensão de autonomia domina na moral; por isso, enquanto
lucn, a ignorantia iuris náo excusa do seu cumprimento (19), já releva
J
ENsÁo, o.c., 102-103.
I (Coimbra, 1989),
(n) Vide Javier De Lucas e Outros, o.c., 22; e José Hermano Sanatva., Moral
, o.c.,I, 177 . e Direito, em Filosofia Jurídica Portuguesa Contemporônea (Porto, s/d.), 302-303.
(tB) Vide Reonnucu, o.c., 126.
(te) Vide art. 6: do Código Civil.
Ideia Geral de Díreíto
-f,.eceito
moral círculos concêntricos: o mais pequeno representa o direito; o
-:l: categórico e, maior, as nornas morais que o direito não protege. Por isso,
: circunstâncias poder-se-á afirmar que tudo o que é jurídico é moral, mas nem
lnor-" jurídica tudo o que e moral é jurídico. Também este critério não satis-
* ou sua apli- faz. Desde logo, porque há normas jurídicas moralmente
indiferentes i27); depois, porque também as há contrárias à
ais sao incoer- moral (28).
J*ur-r" espon-
: coercibilidade: Referidos os principais critérios, nenhum fixa, de maneira certa ou
ft sejam obser- acabzda, os linrites que separam a moral e o direito, o que, aliás, se
-fiamente. Haja compreende se tivermos ern atenção que o seu relacionamento é pautado
rdo sem pensar- por atinências muito profundas a par de algumas situações de indiferença
e de colisão.
J3); tumbém, a
Jial das normas Quando o direito determina a nulidade das doações e das disposi-
há normas cuja ções testamentárias de pessoa casada ao cúmplice com quem cometeu
adultério (29) nl., atribui ao doador a faculdade de revogar a doação por
1 da moral ingratidão do clonaüírio (30). estamos perante soluções jurídicas foúemente
à cxistência da marcadas por una valoração moral. E não raro concordam os valores
-l Identifica-se, morais e jurídicos: v. g., náo matar, não difamar, não furtar, etc. são deve-
Jtais da convi- res igualmente lnorais e jurídicos.
moral. A rela- Persistem, no entanto, alguns pontos de vista valorativos que suge-
lntada por dois rem uma fronteira: a moral caracteriza-se pela autovinculação e pela
J importância prirnordial que atribui às motivações das condutas; o direito
acentua a imposição heterónoma das suas normas e os aspectos exter-
nos ou sociais cla conduta humana constituem o seu ponto de partida.
Mas convém assinalar uma ideia: o direito ordena o que é neces-
J^ ,,r"Btcon. sário ao fim tearporal do homem, enquanto a moral afecta o que de
mais íntimo há na pessoa. Sendo o fim, que é próprio da moral, supe-
e Gll-vÃo Telles,
-1.'e404.')ena 1zt1 V. g., as normas que ordenam a circulação automóvel peladiu:eita. Vide
Miguel REer-p, o"c.) 42; e OLrvenl AscENsÃo, o.c., 100-101.
:lla AscensÃo, r.c., çy V. g., a norÍna que declara nulas as disposições testamentárias a favor do
médico ou do enfermeiro que tratar o testador, se o testamento for feito durante a
1, 'rído de coer- doença e o seu autor vier a falecer dela (art. 2194."). Tais disposições podem ter
.[ ascerusÃo, o.c., sido motivadas pelo cumprimento de deveres de gratidão.
çzs) Vide arts. 953." e 2196." do Código Civil.
(30) Vide arts. 970." e 9'14." do Código Civil.
IJ
Z6 Ideía Geral de Direitct
rior ao fim que o direito rcaliza (31), a moral goza duma superioridade
que lhe permite intervir na criação, na intelpretação e na aplicação do
direito (influência material) e impor exigências formais, como o carác-
ter geral, a publicidade, a não retroactividade e a clareza das normas jurí-
dicas (32).
(31) Vide Ltstz y LACAMBRA, o-c., M3; e Javier De Luces e Outros, o.c.,27.
(32) Vide Javier De Lucas e Outros, o.c.,27-28.
(t) Vide Norberto Alve,n-Ez e MuNoz or Berrue, o.c.,8'/-88; GnncÍe MnyNrz,
o.c.,25-26; e Llcnz y Lacnvsn.A, o.c., M8.
(2) Difereptes, por não disporem de carácter normativo, são alguns usos (tam-
bém denominados simples hábitos) que não se impõem: y. g., passear ou comer a
uma hora determinada, etc. Vide Javier De Luc,qs e Outros, o.c., l9-2O; Norberto
AlveRez e MuNoz oe Ba.eNr, o.c.,92-93; eLeaez y Le.cavnx,q,, o.c.,451.
(3) Víde Javier De Lucas e Outros, o.c., 19.
(a) Geralmente, estes usos são exigências tácitas da vida colectiva: carecem
de formulação expressa, mas nada impede que sejam escritos e até codificados,
como observamos, y. 9., nos manuais de urbanidade . Vide G*cA Mayurz, o.c., 27 .
-J
-l Geral de Direito
Ordem Social 29
..como o carác- ção e de coacção (5). No entanto, há diferenças que as separam. Desde
Iogo, o direito prevê e quantifica as sanções que se aplicam a condutas
,ot-us jurí-
I, determinadas; e há órgãos especificamente criados pelo ordenamento
jurídico para as aplicar e impor segundo procedimentos adequados.
Fala-se, a propósito, da "institucionalização da sanção" que distingue o
direito dos usos sociais dotados de sanções e de meios de coacção inde-
terminados, informais e inorganizados (6). I)epois, enquanto as normas
-1 soci;tis, regras juídicas possuem uma estrutura bilateral ou imperativo-atributivo (7)
jtr."r, etc.) (l) as normas do trato social são unilaterais: obrigam, mas não facultam (8).
nar a c.onvivên- Não se trata, porém, de nomras morais: além do carácter coactivo,
as normas de trato social não exigem a rectidão da intenção que motiva
r*r,ir, ruu-
Jd* pessoas a conduta extema (9).
,rtas em Dir-se-á, portanto, que as normas de trato social não são morais
ÍFS aos familia- nem jurídicas. São usos sociais, costumes, convencionalismos ou decoro
,!,ra.s caracte- social que exercem, por vezes, uma pressão a que o direito não pode ser
J
insensível, transformando-os em normas jurídicas (10); d" contrário,
-{J"rorr,
tas (.");
mas em
..Ê,idapelo grupo (5) Esta semelhança levou Dst- VrccHto a sustentar que a actividade humana
só pode ser objecto duma regulamentação que umas vezes é moral e, outras, jurí-
| é punida com dica. E Reosnucu vê nos usos sociais a forma primitiva comum dentro da qual se
--âe ,iignidade, a encontram, no princípio, o direito e a moral, num estado ainda embrionrírio de
-l indiferenciação. Deste estado indiferenciado partem, em direcgões distintas, as
formas do direito e da moral. Vi.de Giorgio Det- Veccuto, Filosofía del Derechoe
-J (Barcelona, l99l),321-323; R.a»nxucH, o.c., 137: e Leatz v LncaÀaane, o.c.,
452-462.
y Outros, o.c.,27.
(6) Vide Javier De Lucas e Outros, o .c ., 2O-21 .
I
(7) Já vimos que perante uma pessoa juridicamente obrigada está outra que
-J GARctA. MevNrz,
tem a faculdade de lhe exigir o cumprimento da obrigação. Vide'supra, § 2.3.
(8) É um dever de cortesia ceder o assento a uma senhora que viaje de pé.num
Jalguirs usos (tam-
autocarro, mas não uma obrigação jurídica.
[tr"* ou comer a 1e; Há quem entenda que as normas de trato social também reclamam uma boa
7., tg-zo; NorbeÍo intenção. Porém, se a uma saudação amável não corresponde a verdadeira inten-
y, o.c., 451.
ção de saudar, não se violenta a noÍrna de cortesia: quem saúda não é descortês, mas
hipócrita. Vide GepcÍe, MnyNrz, o.c., 34.
Jol..tir", carecem
(r0) Manuel MantIN Fonnoze (Curso de Iniciación Juridica3 (Madrid,
l e até codificados,
1979),217) oferece-nos um exemplo dum uso social que adquiriu uma dimensão jurí-
MAYI.IEZ, o.c.,27.
I
J
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30 Ideia Geral de Direito
dica: durante algum tempo, foi uso social dar uma gorjeta aos serventes nos res-
taurantes, cafés, bares, etc. que não tinham salário. Se o cliente'não cumprisse
esse uso social, sujeitar-se-ia apenas a ser mal servido no futuro ou tratado com
alguma hostilidade. Mais tarde foi criada uma norna jurÍdica que concedeu aos ser-
ventes o direito a uma percentagem (líVo) sobre o valor do consumo. Assim se con-
verteu um uso social em noÍrna jurídica.
(1t) Vide Lecez v Lacet'lenR, o.c.,465.
(t) Vide Sebastião Cxuz, Direito Romano, cit., 20; Herbert L. A. Henr,
O Conceiro de Direitoz, trad. de A. Ribeiro Mendes (Lisboa, 1996),18-22; Menru't
FonNoze, o.c.,21; Femando José BnoNze, Lições de Introdução ao Direiroz (Coim-
bra Editora, Coimbra, 2006), 146-233; e Paulo Ferreira da CuNua, o.c., 45-46.
(2) Vide GnncÍa MRvNEz, o.c.,36.
(3) Vide Miguel Rsels, o.c., 67 .
(4) "O direito é uma proporção real e pessoal do homem para o homem que,
conservada, conserva a sociedade; comrmpida, corrompe". Vide Miguel ReRle,
o.c., 60.
I
I
lGeral de Direito Ordem Social 3l
de liber- iurís ab homine repetenda est natura" (s). »" todo o modo, a ideia de
fissão
brmas de vida direito postula uma ordem justa e, por isso, não é possível defini-lo
r). sem uma referência à justiça que lhe transmite validade (6). Poder-se-á,
portanto, dizer, com Sebastião CRUZ, que o direito "é tudo aquilo que tem
especiais atinências com o iustum" (7).
Depois, porque falta também uma noção de ordem juúdica que se
I tenha imposto sem discussão. Fala-se de "um complexo de regras, insti-
lsa, moral e de
I
tuições e órgãos" (8); de "conjunto de normas imperativo-atributivas que
i. Deparamos,
numa certa época e num determinado país a autoridade política consi-
I
dera obrigatórias" 19;' de "sistema de normas jurídicas in acto, compreen-
lmo observou.
dendo as fontes de direito e todos os seus conteúdos e projecções" 1to;'
lm filósofo do
duma "noção englobante em que se inscrevem as instituições, os órgãos,
ln4nlmgrnr.)ntê
I
as fontes do Direito, a vida jurídica ou actividade jurídica e as situações
lexplicar satis-
juídicas" (ll); de "um conjunto de normas, princípios, instituições e ins-
lo numa única
titutos jurídicos (direito positivo) trabalhados pela especulação científica
Cesde as ntais
(ciência jurídica)" (12); d" "institucionalizaçáo histórica do direito" (13); etc.
ldas de ccerci-
Ressalta, no entanto, a ideia nuclear de um direito relativamente
ir :l e bilate-
estável num certo tempo (la), constituído por um conjunto de normas cor-
ntegração nor-
relacionadas e harmónicas entre si (1s) que se denomina direito positivo
rE que fala de
(ius in civitate positum) ou-objectivo (16).
rc servata ser-
qvem "natura
(5) 'A nâtureza do direito deve ser retirada da natureza humana". Vide
:rventes nos res- Miguel Reem, o.c.,61.
:.não cumprisse (6) Vide BerrrsTa Mecnepo, o.c., 32-33; Lec ez y Lace.Nasna, o.c., 288-289;
ou tratado com e Dns Menevzs, o.c.,4748.
oncedeu aos ser- {7) Vide Sebastião Crvz, Direito Romarw, cit., 2A.
r.Assim se con- (E) Assirn a entende BARBERo, apud Ouvr;,ne. AsceusÃo, o.c.,43.
(e) Vide GaRcla MayNEZ, o.c., 37.
(to) Vide Miguel REALE, o.c., l9A.
:rt L. A. Henr, (tt) Vide OLrverne AscENSÃo, o.c.,48-5O.
, 18-22; Menru.t çrz1 Víde Carnat- »p Moxceoe, Lições de Direito Civil13 (Coimbra, 1959),55.
Direitoz (Coim- (t1) Vide António CesreNsetna Ns,vrs, Introdução ao Estudo do Direito
y.t, o.c., 45-46. (Coimbra, 1968-1969), 350.
(ra) Vide CnstaNHpne Nsves, o.c.,35O.
(ts) Vide João Casrno MBNpes, Introdução ao Estudo do Direito (Lisboa,
a cr homem que, 1984),42.
Miguel Rrele, (t6) Vide GelvÃo Telms, o.c., I, 52-55; Or-rvsrnn AsceNsÃo, o.c., 46-48; e
Femando José BtoNzE, ibidem,581 606.
32 Ideia Geral de Direito
1rt1 Vide Olrvptne AsceNsÃo, o.c., 56-59; Sebastião Cxuz, Direito Romano,
cit., ll; e GalvÃo TsLr-ES, o.c., I,32-39.
(rt)Vide Pedro Enó, o.c.,25.
çts1 Vide GelvÃo Trues, o.c., l, 124-125; e Pedro Etxó, o.c.,26.
(20) Valerá a pena distinguir os imperativos hipotético e categórico. Aquele
é condicional: subordina o imperativo a um fim e só tem valor se procurarnos
atingir esse fim. Não passa, portanto, dum simples conselho de prudência ou de habi
Iidade: v. g., se quiseres ter saúde, não cometas exageros. O imperativo categórico
é incondicional: não está subordinado a nenhum fim, tem valor em si e ordena
absolutamente sempre e em toda a paÍte, quaisquer que sejam as consequências: v. g.,
a proposição "não deves matar".
ía Geral de Direito Ordem Social JJ
l,i (2e) Vide Olrvsrna AscsNsÃo, o.c., 8l-82; e Brcorrs CuonÃo, o.c., 120.
|to1 Vide Lecrz y Lecevane, o.c.,387.
1tr1 Vide Lscez y Leceunne, o.c.,386; Migúél ReÁ,Ls, o.c.,47; Baprrsre
i."l
ill
MacHaoo, o.c.,32; Brcorrr CuonÃo, o.c., l2l-122; e GelvÃo Telles, húrodução
ii ao Estudo do Direito,lllo (Coimbra, 2000), 125-129.
ilr (32) Transcrevemos Baplsrn Macueoo , o.c., 3l-39.
irl
(33) Vide Barttsra. Mecua»o, o.c., 41-42; e Paulo Ferreira da CuNua, o.c.,
27-28.
itri
(34) Sucede, y. 9., com a ineficácia. Vide infra, § 31 .2.
ilti
(3s) Vide Or-rvetna AscENSÃo, o.c., 87-88.
il,i
la"'lo crrot de Direito Ordem Socíal
tricas se observam não funciona em alguns direitos por falta dum aparelho capaz
Jcibilidade é a Pos- de impor as suas normas (v. g.,o Direito Internacional
rção a quem violar Público) (36) o, absolutamente destituídos de coercibilidade
(v. g., o Direito Canónico) (37); nem pode existir em normas jurí-
lambém uma força
J (30). Esta atirude, dicas desprovidas de sanção (38). Todavia, embora a coercibi-
ercibilidade um ele- lidade não pertença à essência das normas jurídicas, há quem
Aes motivos de crí- entenda que "pode predicar-se da ordem jurídica globalmente
J-r" qr". "o direito considerada" (3e) e justifique com a função, que ao Poder per-
tem uma existência tence, de "necessariamente garantir a ordem jurídica da socie-
1na sua essência ou dade, defendendo-a de elementos anti-sociais" 1ao;-
Jrnçao da ideia de 5. Exterioridade: as nornas jurídicas disciplinam comportamen-
a-o, dá-lhe validade, tos que se manifestam exteriormente. É certo, o direito também
1 por isso, não Per- penetra no recinto da consciência para determinar os motivos que
J" u "o"t"ibilidade explicam as condutas sociais (41). Todavia, o ponto de partida
:ftcácia: contribuem são os actos exteriores: mera intenção, sem manifestação extema,
nclusão não menos não provoca direito (42).
ã- -esulta da coer- 6. Estatalidade: esta pretensa característica do direito está na base
:oe,.rbilidade só será duma questão que opõe o monismo jurídico estatalista ao plu-
{isto é, conforme à ralismo jurídico. Aquele, sobretudo representado por KeI-sEN que
considera o direito e o Estado dois aspectos distintos, mas inse-
.[o cabe legitimar e
der na sua vigência: paráveis, da mesma realidade (o Estado é o direito como acti-
a coercibilidade vidade normativa; o direito é o Estado como situação fixada
?e nas sançoes que pelas suas normas) (43),reduz a criação e a aplicação das nor-
la mas jurídicas ao Estado. O pluralismo jurídico sustenta, pelo
zel em normas regu-
1 Estado em relação contrário, que nem todo o direito é criado e aplicado pelos
custodit? ('ri); órgãos estatais («). Importa saber, portanto, se todo o direito
!ia*
]u cro*ao, o.c., r2o- çe1 Vide Blcorre CsonÃo, o.c., 127; e Or-rvslne AscENSÃo, o.c., 84-85.
çzt1 Vide supra, § 2.3s.
ALE. o.c., 47; BePlsre, (38) Vide supra, § 2.32a.
Inrrodução (3\ Vide Brcorrs CuorÃo, o.c., 127.
lto'rer-r-es, (4) Vide Ol.lverRe AscrusÃo, o.c., 85-88.
(41) Vide supra, § 2.3.
-a aa CutqHn, o.c., (42) Vide Pedro Ernó, o.c.,26-23.
y 1+t1 Vide Hans Ksr-sEN, Teoria Pura do Direito,Il2 (Coimbra, 1962), 163-182;
.2. Re»snucH, o.c., 126-127; e infra, § 19.1.
(a) Vide Brcorre CuonÃo, o.c., 211-212.
36 [deia Geral de Direito
dimana
lo normativa
lto e Governo) que
)uco se contesta que
lls concretos é feita
I
situações litigiosas,
lo não tem o mono- TÍTULO II
ldud" du sua aplica- ORDEM JURÍDICA
Íe outras proveniên-
iblico, cujas normas CAPÍTULO I
cional 1+5;' os direi-
ham uma autoridade
DIREITOS SUBJECTIVOS
lireito consuetudiná-
regiões autónomas e
'i SECÇÃO I
:urais, profissionais, PRrvADOS
o vários os tribunais
:em ao Estado, mas § 3. Noção
:: natérias de que
rcusar que a estatali- O direito subjectivo é a faculdade ou o poder, reconhecido pela
ito (48). ordem jurídica a uma pessoa, de exigir ou pretender de outra um deter-
minado comportamento positivo (facere) ou negativo (nonfacere)ou de,
:eito positivo, Parte por acto da sua livre vontade, só de per si ou integrado por um acto da
rormas necessárias à autoridade pública (decisão judiciai), produzir determinados efeitos
m na ideia de justiça jurídicos que inevitavelmente se impõem a outra pessoa (adversário ou
Ce eficácia. contraparte) (l).
Esta definição revela que a situação da pessoa, contra quem o titu-
lar do direíto dirige o seu poder jurídico, é diferente: se se trâta de exi-
gir ou pretender, o adversário tem um dever jurídico; se o poder produz
um efeito jurídico, está numa situação de sujeição.
Na primeira hipótese (poder de exigir ou pretender), o direito
subjectivo consiste no poder ou faculdade de domínio sobre bens mate-
§ 4. Natureza
I
irreno) e lmaterlars Impoe-se, lodavia, uma referência crítica às doutrinas que procuram
ôder de exigir uma determinar anatuÍeza dos direitos subjectivos. Destacamos a:
ie ser de facto (v. 9.,
'lentregar dinheiro). 1. teoria da vontade: tem a sua origem em SevtcNy que, apoian-
do-se na filosofia de KaNr da autonomia da vontade e reflec-
xigir uma prestação
tindo um ponto de vista jurídico-político liberal, concebeu o
:itos subjectivos em
t díreito subjectivo como um instrumento que permite a liber-
dade de acçáo, o livre desenvolvimento da vontade autónoma (a).
:,u, em alguns casos,
A sua expressão final pertence, no entanto, a WtNoscur,ID que
:os na esfera jurídica
entende ser o direito subjectivo o poder da vontade reconhecido
I pela ordem jurídica: é a vontade juridicamente protegida. Con-
tra esta teoria ergueram-se viírias críticas. Referimos:
t
a) há pessoas, como os menores e os deficientes mentais, que
-rluma concepção do carecem de vontade psicológica. São incapazes de querer
raízes encontram-se e, todavia, são titulares de direitos subjectivos. Se a natu-
b xrv, como Duns reza destes direitos exigisse a presença dessa vontade, tais
'r -ls séculos XVII direitos não podiam existir;
.Iatural, que se afir- b) as pessoas colectivas têm também direitos subjectivos e,
tão-pouco, têm uma vontade psicológica ou humana; logo,
I ou poder inato do
não poderiam ser titulares desses direitos;
5, deixou de ser uma
,oria "fundada" num
c) há direitos que não têm temporariamente titular (v. g., uma
herança jacenie, um crédito incorporado num título aban-
Iurídico positivo.(l ). donado); e há direitos cujo titular se aguarda que nasça
lnão como reconhe-
(nascituro). Tais direitos deveriam extinguir-se porque não
,, duma faculdade ou
há vontade:
d) pode o titular dum direito subjectivo não querer exigir o
seu cumprimento. Se dependesse da vontade, esse direito
devia extinguir-se, o que não sucede;
e) não se extingue um direito subjectivo se o seu titular o
5.2. ignorar e, portanto, faltar a vontade;
p.ção Jurídica. Seu Sen- f) há direitos cuja renúncia não produz consequências: v. g., se
e Outros, o.c., 125-126. um trabalhador renunciar ao direito a férias ou à greve, a sua
vontade não produz efeitos jurídicos (s).
,1 de At'ipnaoe, o.c.,3;
. Vliguel Ree.le, o.c.,
o attcc ión F ilo sófic a al
' (a) Por isso, a propriedade constitui o primeiro dos direitos subjectivos.
7; e Menttu FonNoze, (5) Cf. arts.23J.", n.o 3, e 530.o, n." 3, do Código do Trabalho, aprovado
pela Lei n." 712009, de 12 de Fevereiro.
40 Ideia Geral de Direito
Vloucape,, Lições de
NÁN»ez-G.a,Ll,qNo, {8) Vide art. 123." do Código Civil.
ucAs e Outros, o.c., (e) Vide CesrnNuerRe Neves, o.c., 383-384; More PrNro, o.c., 180-181;
C.qn«er ne MoNcane., Lições de Direito Civil, cit., I, 58; Miguel Re,qlr, o.c.,
251-252; FpnNÁnprz-GALrANo, o.c., 455-457; e GancÍe MRyNrz, o.c., l8l-184.
42 Ideia Geral de Direito
1to; V. g., umâ norma jurídica (direito positivo) determina que o devedor
deve clmprir a sua obrigação ao credor; de contrário, um órgão do Estado (o
tribunal) deve aplicar-lhe uma sanção. Se esta aplicação depender da declara-
ção de vontade do credor, dir-se-á que este tem um direito subjectivo. Também
o direito de dispor livremente das nossas coisas (direito de propriedade) não é
mais do que o reflexo subjectivo da norma que estabelece o dever jurídico de
os outros não interferirem (obrigação passiva universal). As coisas tornam-se
nossas, precisamente em virtude desse dever de abstenção que recai sobre os
outros.
Vide Gartcíe M,cyNmz, o.c., 184-187 .
(tt) Vide Norberto Alvanez e Muriroz pr, BasNa, o.c.,209.
1rz1 V. g., os direitos a que correspondem os deveres conjugais (art. 1672.\.
itr; V. g., a acçáo declarativa de simples apreciação. Víde art.4.' do Código
de Processo Civil.
(ta) Vide Norberto ALVAREz e Mut(roz DE BAENA, o.c.,710-215.
deia Geral de Direittt Ordem Jurídica 43
por ORLANDO DE tos subjectivos. Neste sentido, referimos a doutrina de Ducun que, ins-
) não arranque do pirando-se no pensamento sociológico e positivista de Augusto CourE,
:éfalo, um direito recusou a metafísica personalista (que afirma a existência do homem
ranque do homem como realidade substantiva e destaca a liberdade, o poder da vontade
to civil sem sen- e os direitos naturais e subjectivos) e só considera uma realidade posi-
:tivo, é um meca- dva: a solidariedade (consequência necessária do carácter social do
determinação que homem) que impõe uma lei que dirige e limita a actividade humana.
rhece apoiando-se Não há direitos subjectivos, mas "funções sociais" a cumprir. Uma
rs cornposições de ideia semelhante foi exposta por Karl Laneruz que, partindo do facto que
) como um meca- é a comunidade, começou por negar o direito subjectivo e a ideia abs-
:ito, que consiste tracta de pessoa: o homem é membro duma comunidade nacional que
]ce a uma pessoa determina a sua capacidade jurídica e esta não consiste em ter direitos
na esfera jurídica subjectivos, mas em estar numa determinada situação jurídica. O homem
tem deveres numa comunidade e só secundariamente tem certas facul-
dades (não direitos subjectivos) necessárias ao cumprimento desses
ntar outras (ditas deveres- As situações constituídas por relações jurídicas entre os indi-
j'^tlEID (teoria da víduos-membros têm que obedecer ao espírito da comunidade que as
u.ieito subjectivo determina e limita (21).
nteresse ora como A experiência oferece uma cítica demolidora a estas doutrinas: a
rnhece à vontade. de terem fundamentado cientificamente as legislações totalitiárias desde
as àquelas teorias. o direito nazi ao direito soviético. Os cidadãos só têm deveres e as
ninam a ideia de faculdades outorgadas nas situações jurídicas não podem chocar com o
)recem referência espírito colectivo, a honra do povo, o sentido do sangue e da raça, os
a jurídica pelo de superiores interesses do proletariado, etc. (22).
,ristência de direi- I
E necessiírio, portanto, dedicar uma atenção especial à pessoa dotada
duma unidade essencial que não se reduz à simples vontade nem se
identifrca com os seus interesses; por isso, não se afiguram satisfatórias
:ompreensão do seu
as teorias da vontade e do interesse. Também, constituindo o direito sub-
erRn NgvEs, Pessoa,
)6),9-43. jectivo uma manifestação ou projecção da pessoa no mundo jurídico, não
se reduz a um simples aspecto do direito objectivo sem especificidade
'ALHO que, supomos, (teoria normativista); e tão-pouco pode considerar-se uma simples fun-
re demos o título de
ção social ao serviço duma qualquer comunidade que não veja na pes-
973), s8-63. soa humana o sentido que a justifica.
o: a vida não é pas-
) para outra. Há,
cra da sua vontade.
:feitos, podemos falar LARENZ, apud Lecez y Leceusne, o.c-,725-721
(rr) Vide Karl
e2) Víde FanNÁNpez-GRr-rexo, o.c., 458-461.
Ideia Geral de Direito
§ 5. Modalidades
dica reconhece a 1. constifutivos: cria-se uma nova relação jurídica. Sucede. v- g.,
rminado compor- quando o proprietiário de um terreno encravado (predio dominante)
(non facere) (L). exerce o seu direito potestativo de exigir a constituição duma ser-
vidão de passagem através do terreno (prédio serviente) que se
), não obtendo a intelpõe entre aquele e a via pública e). O exercício desse direito
runal que aplique produz uma relação jurídica nova: uma servidão de passagern (3);
r (2) ou uma van- 2. modificativos: modifica-se uma relação jurídica pré-existente.
r um sacrifício ao Sucede, u.9., quando um dos cônjuges, em perigo de perder o
que é seu pela má administração do outro, exerce o seu direito
tender, quando o potestativo de pedir a simples separação de bens (4). A relação
Jversiírio que não matrimonial mantém-se, mas o regime de bens que existia
- 'bém de direito (comunhão de aquiridos (s) ou comunhão geral (6)) modihca-se:
passa a ser o da separação de bens (7);
3. extintivos: extingue-se uma relação jurídica anterior. Sucede,
v. g., quando um dos cônjuges requer o divórcio invocando a
separação de facto por um ano, sem interrupção (8): a relação
conjugal dissolve-se (e).
de, por acto livre
o judicial, produ-
contraparte. Cor-
(t) Vide More PlNro, o.c., 183-186; e Manuel de AN»tapr, o.c., 12-13.
(2) Cf. art. 1550.'do Código Civil.
(3) Cf. art. 1543.'do Código Civil. Outros exemplos de direitos potestativos
constitutivos são: a comunhão forçada a favor do proprietário ou do superficiário
to. Cf. art.
827." do confinantes com parede ou muro aiheio (art. 1370.'); o direito de preferência
mete) do Código de (arts. 1380.", 1409.', 1535.o e 1555."); etc. Vide More PrNro, o.c., 184.
(o) Cf. arÍ. 7767." do Código Civil.
, da obrigação. Cf. (5) Cf. arts. 1721.o e ss. do Código Civil.
>cesso Civil. (6) Cf. arÍs. 1732." e ss. do Código Civil.
;ados. Cf. arts. 483." (7) Cf. art. 1770.', n.' 1, do Código Civil, na redacção que lhe foi dada pela
Ler n-" 2912OO9, de 29 de Juúo. Outros exemplos (art. 1568."); a separação de pes-
pode exigir judi- soas e bens (arts. 1794." e 1195.'-A); etc.
lude repetir (reaver) (8) Cf. arts. 1773.o, n.o 3, e 1781.", al. a), do Código Civil.
(e) Cf.art. 1788." do Código Civil. Em consequência disso cessa a afinidade
(aÍ. 1585.). Subsiste, no entanto, o direito a alimentos (arts. 2016.', n.o 2, e 2016:-A,
48 Ideia Geral de Direito
na redacção que resultou da Lei n." 61/2008, cit.). Vemos outros exemplos de
direitos potestativos extintivos na resolução do mútuo (art. 1150."), na revogação do
mandato (art. l1?0.'), na extinção duma servidão por desnecessidade (art. 1569.",
fl.a'Ze3),etc.
(t0) Vide Miguel Reels, o.c ., 257 , 259 e 263 .
(tt)
Vide CnaR.eL DE MoNCADA, Lições de Direito Civil, cit., I, 68-69.
(tz) Vide Manuel de ANpR.epr,, o.c., 16-18', Mora Pr.lro, o.c., 185-186; e
CesreNuerna. Npvs.s, o.c., 403-404.
I
J
Ito, de referir a van- do nascimento que não é imediato, mesmo quando seja pos-
;ão da jurisprudência sível efectuá-lo na propria unidade de saúde onde ocorra o
se podem dar na nascimento (2). Assim, embora não inato, o direito ao nome
$ue - ''.n
j esquema Pre- é um direito de personalidade por ser uma manifestação do
direito à identificação pessoal;
lue separa os direitos á) o direito moral de autor: a pessoa tem um direito (inato) à
fivos: enquanto aque- criação pessoal (3), mas este direito só se actualiza quando
iu poder de exigir um cria alguma coisa, adquirindo, então, os direitos aos pro-
:nde, no lado passivo, dutos da sua criação pessoal. Deste modo, por se tratar
fo) a possibilidade de duma manifestação do direito (de personalidade) à criação
-l .
ues que a lel coÍruna); pessoal, o direito moral de autor, embora não inato, é tarn-
rir
t' e uma situacão de bém um direito de personalidade;
[e suportar as conse-
J
2. essenciais e rrão esserrciais: são essenciais os direitos indisso-
luvelmente ligados à pessoa, como os direitos de personalidade.
l I
Náo essenciais são os direitos concebíveis sem a pessoa, como
v. 9., os direitos de crédito, reais e sucessórios;
mos outros exemplos de
na revogação do
1150.),
-hecessidade (art. 1569.",
(t) V. S- o direito à vida, à integridade física, à liberdade, à inviolabilidade
pessoal, à identificação pessoal, à criação pessoal, etc.
I
lrv,r, cit., I,68-69. (2) Cf. arts. 96.o e 96.'-A, n." 1, do Código do Registo Civil.
JPr*ro, (3) Todo o ser é ontogénico: criador de seres, seja através da procriação, seja
o.c., 185-186; e
por meio da criação espiritual.
'1 4 - lot. ao Estudo do DiEito
.J
Ij
50 Ideia Geral de Direito
) i
1
l
52 Ideia Geral dc Direito
1tz; Cf. arts. 1047." a 1050.', 1079.",1080.', 1083." e 1084.' do Código Civil.
Enquanto, nos direitos reais, o título constitutivo esgota a sua função na sua cons-
tituição: no arrendamento, a posição jurídica do locatário fica permanentemente
ligada ao contrato que lhes deu origem, jamais adquirindo a autonomia que carac-
teriza os direitos reais. Vide HeNnrque Mesqurra, o.c., l7l; e CnnveLHo Fst-
NANDES, o.c., 170-177.
1ta; Cf. art. 1031." do Código Civil.
1tr; Cf. art. 1038." do Código Civil.
(2o) Vide Hrr.rmquE Mrseulre, o.c., 171-183.
(zt) São indisponíveis o direito de uso e habitação (art. 1488.') e os direitos
constituídos intuitu personae: v. 9., o usufruto, se o trespasse a terceiro for proibido
pelo título constitutivo (art. 1444.", n." 1, do Código Civil).
1zz; Cf. art. 1142." do Código Civil.
1zr; Cf. art.1129." do Códígo Civil.
1z+1 Cf . art. 1305." do Código Civil.
(25) Cf. art. 1878." do Código Civil.
120; Cf. art. 1935." do Código Civil.
'EÍ:q.iiji.
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54 Ideia Geral de Direitc
lma prestação, consi- attorização do Ministério Público para que tal seja possível (15); a obri-
J não de direitos sub- gaçáo de prestar contas (16); a responsabilidade do tutor por prejuízos cau-
praticar as funções da sados por dolo ou culpa (17); a remoção do tutor por incumprimento
lsponde uma presta- dos seus deveres ou inaptidão para o exercício do cargo (18); u acção de
_l vigilância do conselho de família (le); etc.
Beptrsre MecHeno, No plano dos interesses, ninguém questionará que os progenitores
-1e de Miguel Reele. defenderão os interesses dos filhos como se fossem seus, se é que, por
e a força que a vezes, não sacrificam os seus interesses para melhor proteger os dos
-fgal filhos: a interpenetração não pode ser mais perfeita. Dir-se-á, também,
-F que a lei protege o que se o titular dum direito subjectivo pode usar ou não o seu direito,
,"rporrabi]idades normalmente só náo usará se os seus interesses assirn determinarem.
-[,
rção (7); na proibição E ter-se-á também de ver um feixe de direitos dos pais e do tutor a
.1ação do Ministério que correspondem, fundamentalmente, prestações de terceiros. Quanto
-'l rimor (e); nos bens ao empres:írio, o seu interesse identifica-se com o da empresa que admi-
:smo cuidado com que nistra e a sua actuação dirige-se sobretudo a terceiros, junto de quem
{as responsabilidades adquire direitos e contrai obrigações.
t-,
_F ?am a necessana Assim, parece-nos mais adequada a doutrina defendida por Orlando
i a sua equiparação às de CaRvar-go e, portanto, consideramos os direitos de direcção, poderes-
qferecida aos pais de -deveres ou poderes-funcionais como verdadeiros direitos subjectivos.
I
_l
56 Ideia Geral de Direito
GencÍe MevNrz, o.c., 192-193; e José Carlos Vlema ne ANonaoe, A Justiça Admi-
nistrativa (Lições)e (Coimbra, 2007), 68-71.
(2) V. g., os direitos aos seguros sociais, o direito a sernomeado como fun-
cioniírio, o direito à passagem de reforma, à concessão de alvará de actividade
licenciada etc. Vide CesreruHelne Nsvss, o.c., 4A6z2s; e Vtrrna oe ANpneos,
o.c.,70-71.
(3) V. 5., o direito de acção judicial (ius actionis), à informação e consulta juí-
dicas, ao paúocínio judici:írio, ao segredo de justiça, etc. Cf. art.20: da nossa Cons-
tituição.
(a) Transcrevemos CasteNuelRe NEvss, o.c., 405.
(5) Transcrevemos Ruy de AraueueneLrs e Martim de Alnuquenqus, História
do Direíto Português, Ir0 (Lisboa, 1993), ll2-113.
(d) Vide Ruy de Auueueneus e Martim de At-sueueR.quz, o.c., 123.
() Voltamos a transcrever Ruy de Ar-sueueneue e Martim de At-sueurReue,
o.c.,517-522.
ir:
§ 9. Natureza
i -timi-
A natureza dos direitos subjectivos públicos relaciona-se intima-
i:o iun- mente com a limitação jurídica do poder político que "só pode consi-
derar-se existente na ordem positiva desde que os cidadãos tenham direi-
-?rnE tos a que correspondam deveres da parte do Estado" (1).
l- irrn--
, Corrs-
(8) São palavras de CaaRAÍ- os MoNcepa , Filosofia do Direito e do Estada,l
(Coimbra, 1947), 138-140.
i;t.7ria (e) Transcrevemos Miguel Rsem, o.c.,264, que vê nesta prerrogativa "um caso
típico de direito subjectivo público".
(to) Vide Marcello CaetaNo, Manual de Ciência Política e Direito Consti-
=1.-t-
É tucional, 16 (Coimbra, 1996), 3l l-320.
(r) Transcrevemos Marcello Caerexo, ibidem,28l .
*a1É
.:,
I:
§ 9. Natureza
; -7Ctni-
A natureza dos direitos subjectivos públicos relaciona-se intima-
r,: f'-:n- mente com a limitação jurídica do poder político que "só pode consi-
:;'i:ade derar-se existente na ordem positiva desde que os cidadãos tenham direi-
_rrntr
tos a que correspondam deveres da parte do Estado" (l).
1L(t1t\-
(8) São palavras de Ce.eRAL pe MoNcapa , Filosofia do Direito e do Estada, I
(Coimbra, 1947), 138-140.
(e) Transcrevemos Miguel Rrat-e, o.c.,264, que vê nesta prerrogativa "um caso
típico de direito subjectivo público".
(ro) Vide Marcello CaeraNo, Manual de Ciência Política e Direito Consti-
-i a_'- tucional, 16 (Coimbra, 1996), 31 1 -320.
(r) Transcrevemos Marceilo CeerlNo, ibidem,28l .
58 Ideia Geral de Díreito
'l
(z) Vide Cnarqar- oE MoNCaoa., Filosofia do Direito e do Estado, cit.,I,
203-222; FsnNÁNoez-GALIANo, o.c., 305-308; e SaNros Jusro. NótuLas de História
do Pensamento Jurídico (História do Direito) (Coimbra, 2005),46
58 Ideia GeraL de Direito
,,1
o iniciador do liberalismo e a sua influência foi grande no
l
movimento liberal que se seguiu na Europa e na America ();
rl b) Jean Jacques Roussr,eu idealizou um stotus naturalis, onde
l,,
ii os homens viviam felizes, em harmonía e paz, quer pela
i,: sua bondade natural quer porque a natüreza satisfazia gene-
i rosamente todas as suas necessidades. Os homens eram
't I
rsivamente se impu- terra com a exclusão dos demais. Surgiu, assim, a pro-
priedade privada e, com ela, a desigualdade e o desejo de
domínio dos homens. Para remediar este desequilíbrio e
--dade dos indivíduos as suas consequências, a humanidade teve que passar do
ldo de natureza", em status naturalis para o status civilis: através dum contrato
Íador de direitos que social, os homens cederam ao Estado os direitos que pos-
ã,§ garantir) deve res- suíam naquele status e o Estado devolveu-lhos transforma-
de RoussEAU que, dos em direitos civis, ou seja, garantidos e protegidos por
-e
t (o status naturalis) leis. Por isso, os direitos naturais, agora civis, conservam
<hegaram a soluções o seu carácter sagrado e inviolável que vemos consagrado
_Locx.e);
e à apologia na Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789.
RousseRu é considerado o inspirador do modemo conceito
de democracia e o seu Contrat Social constituiu o Evange-
aturalis, os homens lho da Revolução Francesa (3).
iestaque para os direi-
- No entanto, faltava A doutrina contratualista está desde há muito superada por-
)r -üegasse de diri- que tem, na sua base, uma pura ficção: o status naturalis nunca
iurr,anas) e de defen- existiu e, ademais, contraria a natureza sociável do homem (a).
4 contrato social cria- Como observa SoeRes M.e.RTrNEz, "a integraçáo do homem em
r o direito positivo sociedade é imposta pelo instinto genésico, pelo sentido da con-
-rntegridade de cons-
servação da espécie, que não pode assegurar-se no plano indi-
Çoc«r é considerado vidual, por exigências de segurança, de protecção e também
ência foi grande no por imperativos de divisão do trabalho, que torna este mais
ipa e na Améica (); produtivo". E conclui: "O isolamento do homem nunca é natu-
tatus naturalis, onde ral, nem originário, mas superveniente e os seus efeitos são,
ía e paz, quer pela compreensivelmente, destruidores " (5).
;eza satisfazia gene-
. Os homens eram
llvres, porque nao (3) No entanto, as suas contradições permitem leituras diferentes da sua obra
: entanto, um insen- que acentuam ora um aspecto autoritário ora uma tonalidade liberal da democracia.
a parte dum terreno Vide FsnNaNDEZ-Gaunxo, o.c.,309-313: CasnnL DE MoNCADA, Filosofia do Direito
'r, a dispor daquela e do Estado,I,cit.,222-247; Marcello CaB-reNo, o.c.,266-269; Gar-vÃo TeLLes, o.c.,
I, 34e; FennÁuonz-Gelrano, o.c.,309-313; e SeNros Jusro, ibidem,49-50.
(a) O próprio RoussEAU afirma que o estado de natureza é uma mera hipó-
tese que porventura nunca existiu. Vide FenNÁN»ez-Gaure.No, o.c.,3ll; e Ge.lvÃo
, do Estado, cit., I, Trues, o.c., 1,34e.
"
:o, Nótulas de História (s) Vide Pedro. Soenes MARrrNEz, Filosofia do Direito (Coimbra, 1991),
)0s), 46. 45-47.
60 Ideia Geral de Direito
- o poder de decidir actuação do monarca nos limites do direito positivo. Depois, o contra-
jusnaturalista reforçou a ideia de respeito dos direitos subjec-
-ue ao Estado cabe tualismo
rdolf von IHrnrNc, o dvos pelo Estado. E terminou com o seu reconhecimento nas consti-
-com profundidade, tuições políticas.
- vai discriminando No entanto, estamos perante um problema que transcende uma
; grupos e afirma ser teoria puramente jurídica: pertence à Teoria do Estado que o deve exa-
-ia foi desenvolvida minar sob aspectos sociológicos, jurídicos e políticos.
- iubjectivos públicos
ode deixar de traçar
CAPÍTULO II
-eito" (o).TamUém
_n da velha questão FIGURAS AFINS
stado se autolimita,
*1e que se autolimita § 10. Meros interesses jurídicos
_erva SoaRES MAR-
)r que se trata duma São interesses tutelados pela ordem jurídica a que não correspon-
-xistência dos direi- dem direitos subjectivos. Podem consistir na subjectiva pretensão a um
_ rsciência popu- bem susceptível de satisfazer uma necessidade (interesse em sentido
i oprnião pública, ou subjectivo) ou na relação entre a necessidade e o bem capaz (segundo
.ial. No entanto, o um critério geral) de a satisfazer (interesse em sentido objectivo).
_lico para se tomar Na vida social são inúmeros os interesses que a ôrdem juídica tutela
:ão é equívoca: "dá e em cuja protecção estamos individualmente interessados, sem que pos-
óprio os seus limi- samos falar de direitos subjectivos. Sucede, v. g., com o interesse do
de natureza his- automobilista na boa conservação das estradas; com o interesse na ordem
_;o
das ruas, que as entidades policiais garantem; com o interesse na vacina-
ção das pessoas com quem convivemos, protegida por uma lei que a tome
:os constituem um obrigatória, etc. Porém, falta-nos a faculdade ou o poder de exigir ou
aoarbítrioeàvon- pretender esses cornportamenios que definem os direitos subjectivos (l).
)nte, uma riquíssima
r a justiça o fim do
§ 11. Faculdades em sentido estrito
:iural; consagrou os
; e circunscreveu a São possibilidades de agir (facultates agendi) que a ordem jurídica
admite e garante sem, todavia, constituírem direitos subjectivos.
Estas faculdades (denominadas primárias) são alheias aos direitos
.mbém Marcello Cee-
subjectivos e, portanto, não se confundem com as faculdades jurídicas