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MUDANÇAS NA SINTAXE DO PORTUGUÊS BRASILEIRO

INTRODUÇÃO

 Gramática normativa

 Gramática universal

 Gramática internalizada

 Gramática particular

DA “LÍNGUA BRASILEIRA” À “GRAMÁTICA BRASILEIRA”

 Da Indepedência do Brasil até aproximadamente a década de 50 do séc. XX: “a questão


da língua brasileira” (José de Alencar X Pinheiro Chagas)

 Da década de 50 até a década de 90 do século XX: “a tese da unidade e do


conservadorismo da língua portuguesa no Brasil” (Serafim da Silva Neto)

 Década de 90 do século XX: “a tese da gramática brasileira” (Fernando Tarallo)

MUDANÇAS QUE TERIAM OCORRIDO NO PB NA PASSAGEM DO SÉCULO XIX AO SÉCULO XX

1) Na realização do sujeito referencial.

2) Na realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa.

3) Na colocação dos pronomes oblíquos átonos.

4) Nas estratégias de construção de orações relativas.

5) Na ordem dos constituintes, tanto nas sentenças declarativas, quanto nas


interrogativas.

MUDANÇA NA REALIZAÇÃO DO SUJEITO (VERSUS SIMPLIFICAÇÃO DA FLEXÃO VERBAL)

Duarte (1993) aponta como uma das mais significativas mudanças sintáticas por que estaria passando o
PB a evolução de “uma marcação positiva para uma marcação negativa dentro do parâmetro pro-drop,
[coincidindo] com uma significativa redução ou simplificação nos paradigmas flexionais [do verbo]”.

a) O que são princípios e parâmetros?


b) O que é o parâmetro pro-drop?
 É um dos aspectos destacados por Chomsky (1981) para distinguir as gramáticas das diferentes
línguas. Há línguas em que a realização do lexical do sujeito é obrigatória e há línguas em que
não o é.

PORTUGUÊS INGLÊS FRANCÊS


SUJEITO Ø Estou muito cansado. I’m very tired. Je suis très fatigué.
REFERENCIAL
SUJEITO Ø Chove muito durante o It rains a lot in the Il pleut beaucoup pendant l
NÃO REFERENCIAL inverno winter. ´hiver.

c) Que relação há entre a realização do sujeito e a morfologia verbal?

Caboverdiano PB – Helvécia PB rural-rurbano PB urbano Norma-padrão


n'tá fla eu fala eu falo eu falo (eu) falo
bu tá fla você /tu fala você /tu fala você fala ~ tu fala(s) (tu) falas
e tá fla ele(a) fala ele(a) fala ele(a) fala (ele) fala
nu tá fla nós / a gente fala nós / a gente fala a gente fala ~ nós falamos (nós) falamos
nhu tá fla vocês fala vocês fala vocês falam (vós) falais
es tá fla eles fala eles fala eles falam (eles) falam

O PE é bastante próximo à norma-padrão. A diferença mais significativa é que, de um modo geral, o vós
foi substituído por vocês. Em dialetos mais conservadores do Norte, porém, o vós é mantido, mesmo
entre os analfabetos.

Por que os paradigmas flexionais do verbo se reduziram ou se simplificaram no PB?

 Por causa da aquisição imperfeita do português como segunda língua por africanos, índios e
seus descendentes.
 Por causa da gramaticalização de você e a gente.

O PE é uma língua de sujeito nulo. PB estaria deixando de ser. A mudança no PB não foi concluída,
porque ainda preserva a existência de sujeito nulo não referencial. Ex.: __ Chove muito durante o
inverno/ __ Houve muitos manifestantes na passeata.

MUDANÇA NA REALIZAÇÃO DO OBJETO DIRETO ANAFÓRICO DE 3ª PESSOA

 Na norma-padrão, a realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa se faz com o


emprego do chamado pronome oblíquo átono o, a, os, as:

Ex.: Como Maria matou [o assaltante]? Maria [o] matou com uma faca.

O pronome oblíquo átono o, a, os, as já não faz parte da gramática do PB. A sua
ocorrência, sobretudo em textos escritos, é condicionada pela ação da escola.

 No PB, há formas variáveis de realização do objeto direto anafórico de 3ª pessoa:

a) Ocorrência do ele acusativo:

Ex.: Como Maria matou [o assaltante]? Maria matou [ele] com uma faca.
b) Ocorrência do objeto nulo:

Ex.: Como Maria matou [o assaltante]? Maria matou [Ø] com uma faca.

 A ocorrência do objeto nulo ou do ele acusativo é condicionada por fatores


extralinguísticos e por fatores linguísticos. Fatores linguísticos:

a) Objeto nulo: mais frequente quando o antecedente é [-animado], independentemente


do tipo de estrutura sintática.

Ex.: [A carne] (es)tá na panela de pressão. Deixa [Ø] cozinhar bastante antes de tirar
[Ø].

b) Ele acusativo: mais frequente quando o antecedente é [+animado] e, além disso, em


estruturas com predicativo do objeto ou com verbos causativos (p. ex., “mandar”,
“deixar”...) ou sensitivos (p. ex., “ver”, “ouvir”...)

Ex.: [O rapaz] que chegou cedo é o namorado da minha filha. Eu acho [ele] muito
simpático./* O rapaz que chegou cedo é o namorado da minha filha. Eu acho [Ø] muito
simpático.

Ex.: [O rapaz] que se chama Rodrigo é o namorado da minha filha. Eu vi [ele] saindo
cedo da festa./ [O rapaz] que se chama Rodrigo é o namorado da minha filha. Eu vi [Ø]
saindo cedo da festa.

1725 1775 1825 1880 1991


Sujeito 23.3% 26.6% 16.4% 32.7% 79.4%
Objeto Direto 89.2% 96.2% 83.7% 60.2% 18.2%
(Tarallo, 1991)

MUDANÇA NA COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍQUOS ÁTONOS OU CLÍTICOS

PE: diferentes contextos sintáticos condicionam diferentes formas de colocação do clítico na


frase:

Historicamente, podemos distinguir, nas orações finitas, duas grandes classes de contextos:

• os que não sofrem nem variação nem mudança ao longo do tempo;

• e os que apresentam uma importante variação, que redunda, finalmente, em


mudanças. Na primeira classe, encontramos as orações com verbo em posição inicial
absoluta (V1) como contexto que desencadeia categoricamente a ênclise ao longo da
história da língua:

1. a. Achou-os ditosamente, falou-lhes (André de Barros, n. 16752) /b. *Os achou


ditosamente, lhes falou

Existe, ainda, um conjunto de contextos em que só a próclise é possível, desde os primeiros


documentos até o PE moderno. São eles: as orações negativas (2), as orações subordinadas (3),
as orações em que o sintagma pré-verbal é um quantificador (4), um operador QU (5), um
sintagma focalizado (6) ou um advérbio de uma certa classe (7):

2. a. O Paulo não me fala /b. * O Paulo não fala-me

3. a. Todo mundo sabe que a viste /b. * Todo mundo sabe que viste-a

4. a. Alguém me chamou /b. *Alguém chamou-me

5. a. Quem me chamou? /b. * Quem chamou-me?

6. a. Só ele a entende. /b. *Só ele entende-a

7. a. Eu (sempre, ainda, já) a encontrei no mercado b. *Eu (sempre, ainda, já) encontrei-a
no mercado

PB: generalização da colocação pré-verbal. As mudanças atingiram tanto as sentenças com


formas verbais simples, quanto as que apresentam sequências verbais. Ex.: Ele tinha ME
dado um presente muito caro.

MUDANÇA NAS ESTRATÉGIAS DE CONSTRUÇÃO DAS ORAÇÕES RELATIVAS

 O menino caiu. O menino está chorando.

O menino [QUE caiu] está chorando.

 O rapaz é meu conhecido. Você deu o livro ao rapaz.

O rapaz [A QUEM você deu o livro] é meu conhecido.

 Pronome relativo:

a) Função anafórica: o pronome relativo retoma um antecedente.

b) Função sintática: o pronome relativo exerce uma função sintática na oração em que
ocorre.

c) Função conectiva: o pronome relativo, assim como as conjunções, “liga” orações.

 Funções sintáticas exercidas por pronomes relativos:

a) SU O cachorro [QUE avançou na criança] está solto.

b) OB DIR As roupas [QUE comprei] estão guardadas no armário.


c) COMP REL Ainda não juntei todo o dinheiro [de QUE preciso] para comprar a moto.

d) COMP NOM A pessoa [com QUEM fiz o primeiro contato] não trabalha mais na
empresa.

e) AG PASS A senhora ainda se recordava do nome do policial [por QUEM tinha sido
salva].

f) PRED SU Ninguém se esquece do jogardor extraordinário [QUE Pelé foi].

g) COMP CIRC A casa [ONDE Gilberto Freyre viveu] é hoje um centro de pesquisa.

h) ADJ ADV Eles embarcam na amanhã, [QUANDO saem de férias].

i) ADJ ADN A criança [CUJO pai faleceu] ainda está traumatizada.

Relativa cortadora e relativa copiadora:

 O vestido [com O QUAL eu saí ontem] está rasgado.

O vestido [QUE eu saí ontem] está rasgado.

O vestido [QUE eu saí ontem com ELE] está rasgado.

 Leia, atentamente, cada um dos enunciados abaixo. A seguir, para cada uma deles: (i) destaque
a(s) oração(ões) relativa(s); (ii) identifique a estratégia de relativização utilizada (padrão,
cortadora, copiadora); (iii) nos casos pertinentes, construa a relativa de acordo com a norma-
padrão e (iv) identifique a função sintática do pronome relativo.

a) “É preciso abandonar esse preconceito milenar e reconhecer, definitivamente, que a língua


falada e a língua escrita vivem entrelaçadas (...)” (BAGNO, 2004, p. 95)

b) “Pensando bem, eu ainda não vi a tal aparelhagem de som que você falou na sua carta.” (Luís
Fernando Veríssimo, Comédias da vida privada apud BAGNO, 2004)

c) O cofre em que ele havia guardado as joias estava vazio.

d) Propaganda de uma empresa de telefonia de São Paulo, no ano 2000: “10% de desconto de
verdade, automático na sua conta, para as três cidades que você liga mais a cada mês.”

→“10% de desconto de verdade, automático na sua conta, para as três cidades par as quais
você liga mais a cada mês.”

e) “Há circunstâncias da vida que, só quando passam, nos perguntamos como foi possível conviver
com elas.” (Rosiska D. de Oliveira. O Globo, 23.09.2004, apud AZEREDO, 2008)
→Há circunstâncias da vida com as quais, só quando passam, nos perguntamos como foi
possível conviver.

f) Estou desconfiado de que não haverá lugar para todos no auditório.

g) O funcionário que você se lembrou é esse aí?

h) A criança chorou ao reconhecer a mulher por quem foi abandonada e que a maltratou.

i) “Eu ando pelo mundo prestando atenção/ em cores que eu não sei o nome./ Cores de
Almodóvar, / cores de Frida Kahlo, cores (...)” (Adriana Calcanhoto, Esquadros apud BAGNO,
2004)

j) Eu tenho uma amiga que ela é ótima.

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