Você está na página 1de 1

SAULO FAGUNDES DIAS

Se individualismo for definido como «egoísmo», ou indiferença em relação ao social, pode-se


então dizer que o capitalismo é, de fato, individualista. Se coletivismo for definido como algo
que se preocupa com o bem coletivo, então o socialismo seria, de fato, coletivista. Porém, ao
se fazer uma análise mais detalhada, indo além de conceitos superficiais ou equivocados do
individualismo, a linha entre individualismo e coletivismo no socialismo se torna turva, e pode-
se perceber que o socialismo é mais individualista que o capitalismo, e pode-se ver o
capitalismo como sendo, na verdade, um sistema anti-individualista. Uma primeira definição
de individualismo pode ser a de individualismo como defesa dos direitos e liberdades
individuais.

Muito do discurso pró-capitalista se baseia no que seria a liberdade individual ou direito


natural à propriedade privada. Mas, enquanto a propriedade pessoal é realmente um direito
de todo indivíduo, a propriedade privada implica na restrição das liberdades individuais da
maioria da população. A diferença entre estas duas formas de propriedade pode ser vista
nesse texto. No capitalismo, há invariavelmente a separação entre aqueles que possuem a
propriedade privada e aqueles que não a possuem.

Como os meios de produção são essenciais à sobrevivência, a única opção restante é vender
sua força de trabalho àqueles que possuem a propriedade. Como exatamente um sistema
assim preza pelas liberdades individuais? É também dito que a propriedade e o poder
hierárquico seriam um direito dos capitalistas, por eles terem investido e se esforçado para ter
a propriedade. Esse argumento cai por terra já com a constatação de que muito da
propriedade e riqueza é conseguida através de herança, ou então de práticas como a
especulação financeira, algo que passa bem longe da definição de trabalho duro. O
proprietário pode ter investido seu dinheiro para conseguir a propriedade, mas isso não altera
o fato de os trabalhadores serem o motor primordial da empresa, que não existiria se não
fosse pelo seu trabalho. É curiosamente irônico o fato de liberais dizerem que um sistema com
a intervenção ou o planejamento central do Estado sobre a economia seria uma “tirania” sobre
os indivíduos e infringiria a “liberdade econômica”, mas defendem um sistema em que as
decisões nos locais de trabalho são tomadas centralmente por um proprietário (ou um
pequeno grupo de proprietários) e impostas sobre todos os outros indivíduos que compõem
aquela empresa. Muitos também exaltam a existência de um sistema (aparentemente)
democrático politicamente, mas defendem um sistema autoritário nos locais de trabalho.

Você também pode gostar