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MacKinnon
OUTROS
As mulheres, em contrapartida, tendem a vincular a justiça à busca do concreto, às
particularidades do caso, e não à formulação de regras abstratas. Por isso, a concepção
dominante sobre a justiça - que se desinteressa do concreto para privilegiar a defesa de
certas regras gerais - pode ser considerada enviesada em matéria de gênero.
Esse viés "masculino" nos estudos sobre a justiça - um viés próprio do liberalismo
aparentemente poderia ser encontrado refletido também na posição de Rawls.
Nesse sentido, algumas críticas preocuparam-se em mostrar de que modo a "posição
original" exposta na "teoria da justiça" de Rawls representa, mais uma vez, um reflexo
do ponto de vista masculino sobre a justiça, além de uma visão tradicional (não crítica)
sobre a organização familiar.
Tentativa de tornar a teoria de Rawls compatível com o feminismo: Susan Moller Okin.
“O trabalho de Okin consiste fundamentalmente em defender que os agentes da
“posição original” devem ser vistos como sujeitos dotados de empatia”, e não como
sujeitos meramente interessados em si mesmos. Em última instância, é absolutamente
certo que esses sujeitos, para poder escolher princípios válidos para todos os indivíduos
e grupos, devem "pôr-se no lugar dos demais", e sobretudo, como vimos, devem
assumir o ponto de vista dos que têm mais desvantagens.
De qualquer forma, alguns outros autores (e além das afirmações do próprio Rawls)
defenderam que uma interpretação razoável da "teoria da justiça" poderia mostrá-la
como plenamente compatível com as principais reivindicações e preocupações do
feminismo.
RAWLS REBATE AS CRÍTICAS
Se essa acusação fosse certa (que os princípios defendidos por Rawls não têm nenhuma
aplicação sobre a vida interna da estrutura familiar), ela permitiria que disséssemos que
os princípios de justiça não garantem uma justiça igual entre maridos e esposas. No
entanto, Rawls oferece outra interpretação de sua postura inicial: no esquema defendido
em "a teoria da justiça", a família, como qualquer associação, goza de uma margem de
liberdade muito significativa, mas sujeita a certas "limitações essenciais". Essas
limitações são as destinadas a garantir "os direitos e as liberdade básicas, e a liberdade e
as oportunidades de todos os seus membros".
Os princípios de justiça não nos dirão nada sobre como criar nossos filhos, mas, sim,
por exemplo, sobre a impossibilidade de abusar ou de descuidar deles. Esses princípios
também nos informarão sobre a necessidade de pôr fim a uma situação histórica na qual,
por exemplo, as mulheres tiveram que suportar "uma obrigação desproporcional na
tarefa de criar, alimentar e cuidar das crianças".