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A CRÍTICA FEMINISTA À TEORIA DE RAWLS

MacKinnon

ENFOQUE DA DOMINAÇÃO – PERMITIRIA DESCREVER E EXAMINAR


MELHOR A SITUAÇÃO DAS MULHERES NO MUNDO CONTEMPORÂNEO.
Consubstancia-se na ideia de uma distribuição desigual do poder entre homens e
mulheres, ao mesmo tempo em que rejeita a superioridade masculina e a subordinação
feminina.
Relegação sistemática de um grupo completo de pessoas a uma condição de
inferioridade, atribuindo-a a sua própria natureza.
Essa subordinação não tem nada a ver com a biologia, mas sim com a política.
PONTO DE PARTIDA: crítica a que o ponto de vista masculino sobre a vida social
tenha construído tanto a vida social como o conhecimento sobre ela.
Rejeição à ideia de autonomia. Problema: se o liberalismo valoriza essa noção, isso se
deve, entre outras causas, ao fato de que valoriza, tanto quanto Mackinnon, a ideia de
não dominação.

A primeira objeção que MacKinnon apresenta ao liberalismo destina-se a se opor


ao individualismo que caracteriza essa postura teórica. MacKinnon parece aderir à
clássica objeção antiliberal segundo a qual o liberalismo não reconhece que os
indivíduos são algo mais que átomos desconectados entre si.
CONTRA ESSA IDEIA: poderia ser dito que o liberalismos rawlsiano adota uma
postura metodologicamente individualista, mas que esta favorece mais do que impede a
defesa de direitos individuais e coletivos.
Por um lado, o liberalismo chama a atenção para o fato de que as pessoas são diferentes
entre si e têm urna existência separada umas das outras: essa distinção permite ao
liberalismo rejeitar certas concepções coletivistas às quais o feminismo também se opõe
e deve se opor.
A partir do que foi salientado, por exemplo, o liberalismo igualitário defende que o
direito de cada um dos membros da família deve prevalecer (por exemplo, os direitos da
mulher no caso de violência conjugal) sobre os direitos da própria família, na qual pode
ocorrer certa violação de direitos. . Nesse sentido, o liberalismo afirma que os direitos
individuais não devem nunca ser sobrepujados pelos direitos coletivos.
SEGUNDA CRÍTICA: MacKinnon critica o "naturalismo" que é atribuído ao
liberalismo, e segundo o qual certas "características sociais[ ... ] são reduzidas a
características naturais". Com essa objeção, a autora pretende assinalar que o
liberalismo "considera como dadas" situações que são, na verdade, produto da política
ou, talvez mais especificamente, da dominação masculina.
Como Rawls responde: Com efeito, a teoria da justiça rawlsiana baseia-se justamente
na ideia de que as desvantagens naturais e sociais não devem ser consideradas como
dadas. Recursos tais como a "posição original" ou o "véu de ignorância", por exemplo,
dão conta de um extraordinário esforço teórico destinado a não aceitar diferenças
construídas socialmente na tomada de decisões corretas. Por isso, no esquema
rawlsiano, cada agente que está na "posição original" é "cego em relação a sua riqueza,
posição social, educação e inclusive seus talentos”.

TERCEIRA CRÍTICA: MacKinnon quer dizer que o liberalismo considera como


escolhas irrepreensíveis escolhas que não deveriam ser consideradas de tal modo.
Exemplo: se uma mulher agredida não abandona o seu lar (temendo a opinião de sua
família..), ela escolhe permanecer nele. Considerar com o escolhas (mais ou menos)
autônomas aquelas realizadas sob coerções de distintos tipos.
Rawls: necessidade de analisar a voluntariedade das escolhas (de qualquer sujeito, mas
especificamente também) das mulheres.

QUARTA CRÍTICA: crítica ao idealismo presente no liberalismo, ressaltando que


nessa concepção a realidade material transforma-se em 'ideias sobre a realidade. Danos
a terceiros. Tendência liberal a descuidar da realidade material.
Exemplo: em matéria de pornografia (para tomar um caso relevante), os liberais tendem
a adotar uma postura, de preferência, tolerante. . Nesse sentido, poderia ser dito, deixam
de lado a consideração dos danos "reais" que provavelmente decorrem da pornografia,
para referirse a ela como uma forma particular de "discurso", protegidosda pela defesa
geral que a liberdade de expressão costuma receber no mundo liberal.

QUINTA CRÍTICA (última): MacKinnon critica o liberalismo por seu “moralismo”,


afirmando que, de acordo com essa postura, "as posições concretas de poder e falta de
poder são transformadas em juízos de valor relativos, em relação aos quais pessoas
razoáveis podem determinar preferências diferentes, mas igualmente válidas”.
Como Rawls responde: “A meu ver, e pelo contrário, o liberalismo do tipo defendido
por Rawls esteve particularmente preocupado com a ausência de poder dos grupos
menos poderosos”. O tipo de contra - tualismo defendido por Rawls - como vimos -
tende justa·· mente a outorgar uma proteção adequada à diversidade de grupos e
indivíduos existentes na sociedade, tenham ou não poder (político, econômico)
concreto. O liberalismo de Rawls propõe certos instrumentos teóricos destinados
justamente a prestar mais atenção aos interesses dos grupos com mais desvantagens.

OUTROS
As mulheres, em contrapartida, tendem a vincular a justiça à busca do concreto, às
particularidades do caso, e não à formulação de regras abstratas. Por isso, a concepção
dominante sobre a justiça - que se desinteressa do concreto para privilegiar a defesa de
certas regras gerais - pode ser considerada enviesada em matéria de gênero.
Esse viés "masculino" nos estudos sobre a justiça - um viés próprio do liberalismo
aparentemente poderia ser encontrado refletido também na posição de Rawls.
Nesse sentido, algumas críticas preocuparam-se em mostrar de que modo a "posição
original" exposta na "teoria da justiça" de Rawls representa, mais uma vez, um reflexo
do ponto de vista masculino sobre a justiça, além de uma visão tradicional (não crítica)
sobre a organização familiar.

Tentativa de tornar a teoria de Rawls compatível com o feminismo: Susan Moller Okin.
“O trabalho de Okin consiste fundamentalmente em defender que os agentes da
“posição original” devem ser vistos como sujeitos dotados de empatia”, e não como
sujeitos meramente interessados em si mesmos. Em última instância, é absolutamente
certo que esses sujeitos, para poder escolher princípios válidos para todos os indivíduos
e grupos, devem "pôr-se no lugar dos demais", e sobretudo, como vimos, devem
assumir o ponto de vista dos que têm mais desvantagens.

De qualquer forma, alguns outros autores (e além das afirmações do próprio Rawls)
defenderam que uma interpretação razoável da "teoria da justiça" poderia mostrá-la
como plenamente compatível com as principais reivindicações e preocupações do
feminismo.
RAWLS REBATE AS CRÍTICAS

Se essa acusação fosse certa (que os princípios defendidos por Rawls não têm nenhuma
aplicação sobre a vida interna da estrutura familiar), ela permitiria que disséssemos que
os princípios de justiça não garantem uma justiça igual entre maridos e esposas. No
entanto, Rawls oferece outra interpretação de sua postura inicial: no esquema defendido
em "a teoria da justiça", a família, como qualquer associação, goza de uma margem de
liberdade muito significativa, mas sujeita a certas "limitações essenciais". Essas
limitações são as destinadas a garantir "os direitos e as liberdade básicas, e a liberdade e
as oportunidades de todos os seus membros".

Os princípios de justiça não nos dirão nada sobre como criar nossos filhos, mas, sim,
por exemplo, sobre a impossibilidade de abusar ou de descuidar deles. Esses princípios
também nos informarão sobre a necessidade de pôr fim a uma situação histórica na qual,
por exemplo, as mulheres tiveram que suportar "uma obrigação desproporcional na
tarefa de criar, alimentar e cuidar das crianças".

CRÍTICA EM RELAÇÃO À DISTINÇÃO: PÚBLICO X PRIVADO:


A ideia é que não se pode considerar que há um exercício legítimo da coerção quando
por meio dela procura-se afetar a vida privada das pessoas. Nesse sentido, e por
exemplo, o liberalismo comumente criticou as tentativas de uma maioria ou de um certo
grupo no governo de impor ou proibir determina - dos modelos de excelência humana,
como as tentativas de incentivar ou desencorajar certas práticas.
Essa tentativa, tipicamente liberal, destinada a "blindar" a esfera da privacidade das
pessoas, refletiu-se em muitas das decisões mais importantes tomadas pela suprema
corte.
Se dissermos ao Estado tire suas mãos do privado: desse modo, excluiríamos do âmbito
das preocupações estatais ações como as vinculadas à violência conjugal, às injustiças
na distribuição de encargos e benefícios que se produzem dentro da estrutura familiar
etc. Mais grave ainda, a ênfase no "público"·- como esfera da participação, da política
etc. ·-seria feita à custa de uma deterioração da esfera do "privado", à qual a mulher
seria confinada. A esse respeito, Rawls preocupou-se em esclarecer, recentemente, que
concepções como a sua não implicam considerar a esfera do político e do não-político
como dois espaços separados, desconectados entre si, governados cada um a partir de
seus próprios princípios distintivos.
Os membros adultos das famílias e de outras associações são, em primeiro lugar,
cidadãos iguais: essa é sua posição básica. Nenhuma instituição ou associação na qual
estão envolvidos pode violar seus direitos como cidadãos. Dai que a esfera do político e
do publico, do nãopúblico e do privado incluem-se todos no conteúdo e aplicação da
concepção de justiça e de seus princípios.

CRÍTICA FEITA A RAWLS: relacionada às pretensas virtudes da posição originária


como ferramenta epistêmica capaz de nos ajudar a conhecer e tratar de modo
apropriados os pontos de vista dos demais. De acordo com esse tipo de objeção, o
procedimento escolhido por Rawls para pensar a imparcialidade é claramente
inadequado para a obtenção desse objetivo.
Aqueles que defendem a "posição original" e o "véu de ignorância" propostos por Rawls
dizem que, na verdade, tais instrumentos são muito exigentes, que eles exigem de nós,
no mínimo, uma forte empatia com os demais e um preparo para escutar com muita
atenção os pontos de vista diferentes dos demais.

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