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Direito Económico – Ano letivo 2021/2022

Ficha de trabalho n.º 2

1. Comente, localizando no tempo, cada uma das afirmações seguintes, referindo-se ao


tipo de relação entre o Estado e a economia vigente em cada um desses momentos.

«A obsessão pela ideia de liberdade leva não apenas a uma limitação interna do poder político
[…] mas também a uma limitação externa.»

«Estamos perante uma compreensão do Estado e do Direito essencialmente negativa […] e


formal […] e, por último, reitere-se, jurídica […]».

«[…] em consequência desta nova postura interventora do Estado, aparece uma


administração social ou de prestação […]».

«[É] o fim da reserva de lei enquanto reserva de Parlamento […] é o desaparecimento também
da reserva de lei enquanto reserva de criação do direito.»

«[…] não houve lugar a uma desregulamentação propriamente dita das atividades
económicas: ao invés, a retirada do Estado dos setores produtivos onde intervinha […] foi
compensada»

(todos os excertos retirados de: João Pacheco de Amorim, Direito Administrativo da Economia, vol. I,
Coimbra: Almedina, 2014)

«A Constituição de 1822 não nos surge, pois, como um documento contendo preceitos
avançados em matéria de regime económico – apesar dos enormes cuidados em questões
financeiras e das preocupações louváveis de descentralização. É, no entanto, espelho da
Revolução que a gerou e dos temores dos seus arautos».

Guilherme D’Oliveira Martins, Constituição Económica, 1.º vol., Lisboa: Associação Académica da
Faculdade de Direito, 1983/4
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2. Comente a «justificação» avançada pelo Autor, para a caracterização da Constituição


de 1822, em matéria de regime económico.

3. Defina e distinga os seguintes conceitos:


a) Privatização formal, material, orgânica e funcional
b) Constituição Económica estatutária e Constituição Económica programática

«[…] a Constituição económica portuguesa conserva ainda as características de uma


constituição típica de uma economia de mercado publicamente regulada e socialmente
preocupada. Distribui-se por diferentes partes do texto da Constituição da República,
ocupando cerca de 38 artigos. A sua principal localização é a Parte II dedicada à organização
económica.» (realce nosso)

Maria Manuel Leitão Marques, «Constituição Económica e Integração: a desnacionalização da


Constituição», Oficina do CES, n.º 141, junho 1999

4. Por que motivo se refere a Autora à «principal localização» da Constituição Económica


portuguesa?

A pedido de A, jornalista de profissão, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa (em


decisão confirmada pelo Tribunal Central Administrativo Sul e pelo Supremo Tribunal
Administrativo) intimou as sociedades B - Participações Imobiliárias, S.A. e C - Sociedade
Gestora de Participações Sociais Imobiliárias, a facultar o acesso do requerente aos
documentos que possuam ou detenham respeitantes à alienação, nos anos de 2005, 2006 e 2007,
de imóveis do Estado anteriormente sob tutela do Ministério da Justiça. Deste acórdão
interpuseram as requeridas recurso para o Tribunal Constitucional, visando a apreciação da
inconstitucionalidade da norma extraída da alínea d) do n.º 1 do artigo 4.º, em conjugação com
a alínea b) do n.º 2 do artigo 3.º da Lei n.º 46/2007, de 24 de agosto (‘LADA’), interpretada no
sentido de garantir a todos os cidadãos o acesso aos documentos das empresas públicas
constituídas sob forma societária cujo objeto seja a gestão e alienação do património
imobiliário público e que respeitem a essa sua atividade, com os limites que decorrem do artigo
6.º da mesma lei. Entendem as requeridas(1) que a referida interpretação normativa, ao não

(1) Considere os seguintes dados: a sociedade C foi criada pelo Decreto-Lei n.º 209/2000, de 2 de setembro,
como sociedade integralmente detida pela PARPUBLICA - Participações Públicas (SGPS) S.A., sociedade
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distinguir a particular situação das empresas públicas que se submetem à lógica do mercado e
da concorrência das restantes, sujeitando-as a obrigações totalmente diversas das restantes
empresas privadas fere, não só algumas dimensões dos direitos fundamentais consagrados nos
artigos 62.º e 61.º da CRP, como alguns dos princípios fundamentais da Constituição
económica, em particular, os previstos nos artigos 80.º, alínea c), e 81.º, alínea f) da CRP.

Vd., acórdãos do Tribunal Constitucional n.os 496/10 e 117/2015

5. Partindo do disposto naquelas normas e princípios, desenvolva e aprecie o mérito da


argumentação das requeridas.

anónima de capitais exclusivamente públicos que passou a ter como finalidade, além da gestão das
participações sociais públicas que integrem o seu património, a gestão, através de empresas participadas
de objeto especializado, do património imobiliário público que lhe seja afeto (cf. artigo 4.º dos Estatutos
constantes do Anexo I ao Decreto Lei n.º 209/2000). A sociedade C tem por objeto a gestão de
participações sociais de sociedades que exercem a sua atividade no setor imobiliário, incluindo as
sociedades gestoras de fundos de investimento imobiliário, como forma indireta de exercício de atividades
económicas (cf. artigo 4.º dos Estatutos constantes do Anexo III ao mesmo diploma legal). Uma destas
sociedades de "mão pública" é a sociedade B cuja missão, enquanto empresa instrumental do Grupo
sociedade C, é apoiar a gestão e valorização do património imobiliário público, mediante operações de
aquisição, alienação, promoção e arrendamento. Constitui o "veículo" terminal de uma cadeia de "fuga
para o direito privado" no desempenho de atividade administrativa no domínio específico de gestão e
alienação do património imobiliário público.

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