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CASO PRÁTICO

A sociedade de direito luxemburguês, ABC, é proprietária a 100%, desde 2010, das


sociedades de direito português, Alfa, SA e Beta, SA que exercem a sua atividade na área dos
seguros.

Em 31 de dezembro de 2013, ABC debitou (após apuramento do montante devido) Alfa a


título de royalties (“redevances) no montante de 1.000.000 euros pela utilização por parte
de Alfa de um logo publicitário (“ABC Group”) num edifício de que Alfa é proprietária. Em
marco de 2014, Alfa pagou a totalidade dos royalties a ABC. O Sr. Jean Jacques foi
administrador da Alfa e responsável pela área contabilístico-financeira desde janeiro de 2011
até outubro de 2014. A partir de 1 de novembro de 2014, inclusive, Maria Antónia sucedeu
ao Sr. Jean Jacques, que se manteve no Conselho de Administração da Alfa, mas com outro
pelouro.

Também em 31 de dezembro de 2013, a ABC vendeu a uma empresa portuguesa Ómega SA,
a empresa Beta obtendo em Portugal uma mais-valia fiscal de 3.000.000 euros, não tendo
havido qualquer pagamento de imposto (IRC) ao Estado português. O Sr. Jean Jacques era o
administrador responsável do pelouro contabilístico-financeiro da ABC na altura da venda da
Beta. Tanto os royalties como as mais valias fiscais, estão previstas nos ordenamentos
jurídicos luxemburguês e português.

A sociedade Alfa foi notificada, em 23 de abril de 2018, da liquidação adicional em sede de


IRC relativo aos royalties e mais valias fiscais acima referidas, com data de pagamento
voluntário em 22 de maio de 2018, resultante de uma inspeção fiscal aos exercícios de 2013
e 2014, que decorreu entre 1 de junho de 2017 e 15 de novembro de 2017.

Em 23 de julho de 2018, a Autoridade Tributária (AT) notificou Maria Antónia e o Sr. Jean
Jacques para o pagamento de IRC (imposto sobre o rendimento das pessoas coletivas)
referente a 2014 relativo aos royalties, cada um em 50% do IRC devido (montante total de
IRC devido 250.000 euros). O Sr. Jean Jacques foi notificado relativamente ao IRC (750.000
euros) correspondente às mais valias fiscais da venda de Beta pela ABC. A sociedade Alfa
entende que a AT procedeu bem ao notificar a Maria Antónia e o Sr. Jean Jacques, uma vez
que cada um foi responsável pelo louro financeiro desde 2013.

Maria Antónia, contestou a notificação da AT, afirmando que todos administradores,


gestores e acionistas deveriam ser notificados para o pagamento e não apenas ela. Maria
Antónia igualmente argumentou que, tratando-se de uma dívida referente a 2014, a AT já
não teria, face à legislação vigente, poderes para exigir o pagamento até 2018 .
Analise de um ponto vista jurídico-tributário as diversas questões suscitadas.

Pontos a analisar:

1ª Paragrafo: Questão de sujeitos. ABC é um sujeito passivo não residente em Portugal e Alfa e
a Beta são sujeitos passivos residentes em Portugal;

R: ABC é um sujeito passivo não residente. Sendo um sujeito passivo está obrigada a cumprir
duas obrigações, a principal é o pagamento de imposto e tem a obrigação acessória para
cumprir. Então se a ABC tem uma obrigação principal para cumprir que é o imposto então
temos que identificar que tipo de imposto, que nesta situação vai obter um rendimento,
portanto é um imposto sobre o rendimento. Como estamos a falar de uma sociedade de
direito luxemburguês é uma pessoa coletiva, logo é o imposto sobre pessoa coletiva, ou seja,
IRC. Para Alfa e Beta, são pessoas coletivas que podem estar ligadas ou não a um imposto
sobre o rendimento, nós ainda não sabemos. “ A sociedade ABC é um sujeito passivo de um
imposto sobre o rendimento, IRC. As sociedades Alfa e Beta, poderão estar ligadas a um
imposto sobre o rendimento, IRC.”

2ª Paragrafo: 2 factos relevantes: 1ª Facto: o débito efetuado de royalties a 31/12/2013 por


ABC sujeito passivo não residente a Alfa, ou seja, é um rendimento obtido em Portugal por um
sujeito passivo não residente em Portugal. 2ª Facto: pagamento dos royalties em 03/2014 3º
Facto: exercício de administração por parte de Jean Jacques e Maria Antónia –
Responsabilidade subsidiária;

R: Quem obteve rendimento em Portugal foi a empresa ABC. Então temos que fazer duas
perguntas: 1 Pergunta (quem): qual é a posição da ABC face ao ordenamento jurídico
português, isto é, é um sujeito passivo residente ou não residente? – Não residente, então
temos que ir ao IRC para fundamentarmos a resposta, na estrutura do imposto, então vamos à
incidência para verificar o quem. – art.º 2 do IRC, n.º 3, porque não tem sede ou direção
efetiva em Portugal.

Princípio da Universalidade – art.4, n.º 1 - 1 - Relativamente às pessoas coletivas e outras


entidades com sede ou direção efetiva (residentes) em território português, o IRC incide sobre
a totalidade dos seus rendimentos, incluindo os obtidos fora desse território. 2 Pergunta (o
quê): os não residentes em Portugal são tributados de acordo com o n.º 2 do art.º 4. “Então,
ABC é um sujeito passivo não residente por força do previsto no art.º 2, n.º 3 à contrário.
Assim, por força do art.º 4, n.º 2 (Princípio da Fonte) os rendimentos que ABC obtiver em
Portugal serão tributados em Portugal.” - Se obtém um rendimento em Portugal como é que
vai ser tributado? Se debitou Alfa então é Alfa que faz a retenção na fonte e estamos perante
uma substituição tributária prevista no art.º 20 da LGT: “Artigo 20.º Substituição tributária 1 -
A substituição tributária verifica-se quando, por imposição da lei, a prestação tributária for
exigida a pessoa diferente do contribuinte.

2 - A substituição tributária é efetivada através do mecanismo da retenção na fonte do


imposto devido.” O contribuinte é o sujeito da relação jurídica (entre ABC e Alfa) eu vai sofrer
no seu património o efeito do imposto, no nosso caso é ABC. (Não vai receber um milhão de
euros porque este valor vai reter na fonte.) Então no IRC no art.º 94, os royalties enquadram-
se na alínea a) “Por força do artigo 94, n.º 1 a) os royalties são obtidos em Portugal e sujeitos a
retenção na fonte” Sendo que o n.º 4, vai indicar a taxa que vai ser aplicável. A matéria
coletável é de um milhão de euros, e é sobre este valor que aplicamos a taxa de 25%. A Alfa
como substituto vai ter que aplicar 25% e terá que entregar esse imposto ao Estado Português
como substituto. Então vamos às responsabilidades, art.º 28 da LGT.

Quando é que tinha que fazer a retenção na fonte? (Sabemos que foi pago à ABC em 03/2014)
Então verificamos no art.º 94, n.º 6 Codigo IRC.

Então vamos ao IRS art.º 5, rendimentos da categoria E – art.º 5, n.º 2, m) + art.º 94, n.º1 a) IRC
. O mês que temos que fazer a retenção. Art.º 7 do IRS – momento partir do qual ficam sujeitos
a tributação os rendimentos da categoria E. alínea m) “A alínea m) diz-nos que a retenção na
fonte dos royalties deve ser feito no momento do apuramento dos royalties”
Raciocínio: Partimos do IRC para verificar o tipo de rendimento (art.º94), no 94º n.º 6 há uma
remissão para o IRC, porque no código do IRC não temos a regra como temos que fazer a
retenção na fonte, essa regra está no IRS. Então fomos ver o rendimento igual ao que
corresponde no IRC e vimo que é na alínea m) n.º 2 art.º 5. Depois fomos ver o momento em
que temos que fazer a retenção que é dada no art.º 7, nº 1 conjugado com o n.º 3 a) que é
quando apuramos os royalties.

Então no caso prático o momento quando forma apurados os royalties foi em 31/12/2013,
quando Alfa recebe o débito, é nesse momento que é o apuramento dos royalties. Então Alfa
em Dezembro deveria ter reconhecido a retenção na fonte. Uma coisa é quando é feita a
retenção outra é quando temos que entregar ao Estado. A exigibilidade (entrega) da retenção
é 20 de Janeiro, é quando Alfa tem que entregar ao Estado. “Conclui-se que Alfa no dia
31/12/2013, deveria ter retido na fonte um milhão de euros a 25%, e em Março de 2014,
Alfa deveria ter pago o valor de 75000 euros e não um milhão de euros. “ Ou seja. Não
entregou ao Estado o devido e pagou a mais a ABC, ou seja cometeu uma infração, a não
retenção e entrega da mesma. Como Alfa não fez a retenção o prejuízo financeiro é de Alfa,
porque o Alfa como substituto deveria ter feito a retenção na fonte e não fez. A divida perante
o fisco português iniciou-se em 21/01/2014, porque deveria ter entregue até 20 de Janeiro e
começa a contar-se no dia seguinte. Então o Estado a partir desta data pode exigir o imposto.

3º paragrafo: Facto: mais-valia fiscal em Portugal, não houve IRC Facto: jean Jacques –
responsabilidade subsidiária

ABC vendeu Beta que é uma empresa portuguesa e obteve a mais-valia em Portugal. A
questão que se coloca é se vai ser tributada em Portuga ou não? Aqui entra a convecção de
Portugal-Luxemburgo. A mais valia localiza-se em Portugal, mas a ABC é um sujeito passivo não
residente. Aqui não há substituto nesta operação. Não vem ninguém do Luxemburgo pagar o
imposto em Portugal. Vamos ao tratado verificar as mais-valias, no art.º 13, n.º 1 e n.º 4.

4ª Paragrafo: Facto: inspeção tributaria (se correu dentro da normalidade, prazos) Facto:
liquidação adicional Aqui é relevante o aspeto da caducidade.

5ª Paragrafo: Responsabilidade subsidiária

6ª Paragrafo: Responsabilidade, Prescrição. Caducidade. Como é que a ABC é tributada em


Portugal? Conjugar art.º 94 e 114 do IRS com o art.º 5 (esta definido o que são rendimento de
capitais) e 6 (momento que ficam sujeitos) do IRS. – Royalties (tributados em Portugal) e Mais-
valia apurada por um não residente, situação plurilocalizada, temos que ver na convenção
Portugal – Luxemburgo. Quer jean Jacques quer maria ocupavam órgãos sociais de Alfa, pelo
que vai haver responsabilidade tributaria, aplicando-se o art 24 da LGT.
2.

O Governo aprovava o decreto-lei que procedia à alteração do imposto sobre a venda de


imóveis, pondo termo à imensa fraude que se tinha instalado no setor da construção civil.

O imposto passava a ser calculado de acordo com o “o valor objetivo” de cada imóvel, um
valor a fixar pelos serviços de finanças atendendo à sua “localização”, “equipamentos” e
“antiguidade”, bem como a “outros fatores relevantes” que a lei em si mesma não
especificava. Por portaria do Ministro das Finanças haver-se-iam de precisar melhor estes
elementos e o peso relativo de cada um no cálculo do valor tributável.

Ao valor assim determinado aplicar-se-ia uma taxa única de 1,5% nas grandes cidades,
podendo fora delas oscilar entre a taxa de 0,7% e 1,3% consoante a deliberação das
assembleias municipais, uma solução que a Associação dos Municípios Portugueses sustenta
ser inconstitucional por reduzir em demasia a autonomia financeira local violando o
princípio da autonomia do Poder Local. A proposta dos Municípios era antes a de que na
generalidade dos municípios a taxa pudesse oscilar entre as 0,3% e os 2,5% e que por
deliberação das assembleias municipais se pudessem isentar de imposto todos os imóveis
situados em “zonas degradadas” a “pessoas abaixo do limiar da pobreza”, sendo definidos
pelos próprios municípios as “zonas degradadas” e a Segurança Social as “pessoas abaixo do
limiar da pobreza”.

Quid iuris?

1º paragrafo:

Existem dois factos relevantes: tipo de decreto-lei e qual é o âmbito material do decreto-lei, ou
seja, qual é matéria que o decreto-lei vai analisar.

Decreto-lei autorizado?
Âmbito material: alteração do imposto.

2º paragrafo:

1º facto relevante é o cálculo do valor a fixar, ou seja, a fase correspondente do imposto a que
o cálculo do valor pertence é à determinação de matéria tributável: incidência?

2º facto relevante- conceitos indeterminados, ou seja, margem de livre apreciação, isto é,


quando a lei não identifica taxativamente um conceito quem for aplicar a lei tem uma margem
de livre apreciação para dar a sua opinião, isto é, neste caso a administração tributária tinha
margem para definir quais eram os outros fatores relevantes.

3ºfacto relevante- portaria: Princípio da legalidade?

3º parágrafo:

1ºfacto relevante: a taxa do imposto é proporcional?

2 facto relevante: isenções fiscais: Pr. Legalidade?

Resposta: O objeto do decreto-lei é um tributo relativo ao imposto sobre a venda de imóveis.


Na hipótese não esta definido se estamos perante um decreto-lei (DL) autorizado ou não.
Iremos admitir que este é um DL não autorizado, pelo que, ao abrigo do artº 103, nº2 da CRP,
este DL é inconstitucional do ponto de vista orgânico e material, assim como ilegal. Todas as
questões levantadas na hipótese não serão respondidas pois sendo inconstitucional, todas elas
terão o mesmo caminho. Caso estivéssemos perante um DL autorizado, não havendo questões
de inconstitucionalidade e ilegalidade a analisar.
Quando na hipótese se refere “localização, equipamentos e antiguidade” estamos a falar de
aspetos ligados à determinação da matéria tributável.
Na doutrina há quem entenda que estes aspetos fazem parte da incidência em sentido amplo,
assim, tenho que verificar se o princípio da legalidade material e formal se verifica ou não.
Atendendo ao acima dito- DL autorizado- não há questões quanto à legalidade material e
formal, estando cumpridos os artº 165, nº1 aliena i) e o artº 103 nº2, ambos da CRP.
Por outro lado, se considerarmos a incidência em sentido estrito, ou seja, identificar em
abstrato quem está sujeito ao imposto e ao que está sujeito o imposto, assim sendo, nada
obriga a que os aspetos da determinação da matéria tributável tenham que constar num DL
autorizado. Deste modo, admitindo que no DL autorizado também havia questões ligadas à
determinação da matéria tributável ,não há que discutir o Pr. Legalidade material e formal
pois, essa fase do imposto não está abrangida por esse princípio.
Como no início se admitiu que era um DL autorizado, estamos a admitir que do PR legalidade
formal foram cumpridos todos os passos e uma vez que matéria tributável faz parte da
incidência em sentido amplo, a portaria é legal e constitucional se no Dl autorizado estiver
previsto que através de uma portaria se fará o desenvolvimento das matérias relativas à
determinação da matéria tributável.
Relativamente à taxa de imposto, a questão que se levanta está relacionada com o valor da
taxa.
Por força da lei 73/2013, este tipo de impostos( imposto transmissão de imóveis), as AM têm
que indicar qual o montante da taxa de imposto à autoridade tributaria e aduaneira(AT).

De acordo com a lei 73/2013 as Assembleias Municipais até ao dia 31 de dezembro têm que
comunicar quais as taxas de imposto a vigorar para o ano seguinte. Neste caso vamos admitir
que o governo pretende impor uma taxa do imóvel para as grandes cidades de 0,7 e 1,3 para
fora das grandes cidades e que a associação dos municípios portugueses sustenta a sua
inconstitucionalidade fundamentado para tal, a desproporcionalidade entre as taxas propostas
pelo governo e as taxas propostas por si. Atendendo aos dados da hipótese, sou da opinião
que poderá haver uma inconstitucionalidade devido à desproporcionalidade das taxas
propostas pelo governo e pela associação de municípios. Adicionalmente, conforme dito
acima quem tem competência para fixar as taxas são as Assembleias municipais, de acordo
com o artº 16 da lei 76/2013 logo, se o governo mantiver as taxas do imóvel de 0,7 e 1,3
estamos perante uma inconstitucionalidade orgânica.
Atendendo aos critérios definidos n se verifica qualquer inconstitucionalidade e ilegalidade,
uma vez que, no art 16 está previsto que os benefícios fiscais sobre a forma de isenções seja
concedido pelos municípios através da AM.

1. "O pagamento em prestações prevista na LGT ao suspender o prazo de


prescrição não viola o princípio da igualdade prevista na CRP porque o que
está em causa é a sustentabilidade das finanças públicas dum País"
O pagamento em prestações, previsto no artº 42 da LGT, ao suspender o prazo de
prescrição (artº 48 LGT) não viola o princípio da igualdade, que consta do art 13 da
CRP dado o que irei referir em seguida.
O princípio da igualdade não implica um tratamento absolutamente igual, antes impõe
que situações diferentes sejam tratadas de modo diferente. No direito fiscal, o princípio
da igualdade é configurado como o princípio da capacidade contributiva (todos devem
contribuir consoante a sua capacidade económica), artº 103 nº1 e artº104 da CRP.
Isto significa que, as exceções da capacidade contributiva devem ser justificadas por um
outro princípio constitucional que deve prevalecer sobre o primeiro.
Logo, a tributação da capacidade contributiva apenas de alguns sujeitos, tem de ser
justificada por outro princípio que no caso concreto legitime a violação do princípio da
igualdade, que é o que acontece no seguinte comentário pois, como está em causa a
sustentabilidade das finanças publicas do país, não se verifica a violação do princípio da
igualdade pois, este fica devidamente justificado.
2. “Em direito tributário o elemento literal é o ponto de partida para reconstituir
o pensamento legislativo, mas, se os elementos não literais conduzirem a
resultados diferentes daquele a que conduz o elemento literal, devem
prevalecer os primeiros e daí ser admissível uma interpretação extensiva e
restritiva da lei fiscal”
Nos termos do artº9 nº1 do CC, a interpretação da lei deve ter em conta os elementos
literal, histórico, sistemático e teleológico.
Caso os elementos não literais conduzam a resultados diferentes dos elementos literais,
o artº9 nº1 do CC consagrou que deve ser então aplicada a interpretação extensiva e
restritiva da lei fiscal. Contudo, deve ter sido em conta os limites da interpretação da lei
fiscal pois, segundo o princípio da legalidade fiscal e o princípio da tipicidade, resulta
uma proibição da analogia.

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