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Universidade de São Paulo

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”


Casa do Produtor Rural

Produção de
Vinho de Qualidade
Aline Marques Bortoletto
André Ricardo Alcarde
Camila Carazzato
Jéssika Angelotti Mendonça
João Alexio Scarpare Filho
Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 - Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br

Comissão de Cultura e Extensão Universitára


Presidente Prof. Dr. Pedro Valentim Marques

Serviço de Cultura e Extensão Universitária


Chefe Administrativo Maria de Fátima Durrer

Coordenação editorial Marcela Matavelli


Revisão técnica Fabiana Marchi de Abreu
Fotos e figuras Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho
Casa do Produtor Rural
Juliana de Oliveira Hello

Fluxogramas Luiz Carlos Rodrigues


Layout de capa José Adilson Milanêz
Editoração eletrônica Maria Clarete Sarkis Hyppolito
Impressão ESALQ/USP - Serviço de Produções Gráficas
Tiragem 3000 exemplares • 1ª Impressão (2015)

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:


Casa do Produtor Rural
Av. Pádua Dias, 11 • Cx. Postal 9 • Bairro Agronomia • Piracicaba, SP
CEP 13418-900 • Fone: (19) 3429-4178/3429-4200 • cprural@usp.br
Distribuição Gratuita • Proibida a comercialização

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação


DIVISÃO DE BIBLIOTECA - DIBD/ESALQ/USP

Produção de vinho de qualidade / Aline Marques Bortoletto ... [et al.] - - Piracicaba:
ESALQ, 2015.
90 p. : il.

Bibliografia.
ISBN: 978-85-86481-37-6

1. Uva 2. Vinho - Produção - Qualidade I. Bortoletto, A. M. II. Alcarde, A. R.


III. Carazzato, C. IV. Mendonça, J. A. V. Scarpare Filho, J. A. VI. Título

CDD 663.2
P964
Aline Marques Bortoletto1
André Ricardo Alcarde2
Camila Carazzato3
Jéssika Angelotti Mendonça4
João Alexio Scarpare Filho5

1
Aluna de Doutorado - Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP
2
Professor Doutor - Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP
3
Aluna de Graduação em Ciências dos Alimentos - ESALQ/USP
4
Aluna de Mestrado - Departamento de Produção Vegetal - ESALQ/USP
5
Professor Doutor - Departamento de Produção Vegetal - ESALQ/USP

Produção de
Vinho de Qualidade
Piracicaba
2015
Agradecimentos
• Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
• Programa Aprender com Cultura e Extensão
• Casa do Produtor Rural
• Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição - ESALQ/USP
• FAPESP
• Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho

Apoio
• Fundo de Fomento às Iniciativas de Cultura e Extensão da Pró-reitoria de
Cultura e Extensão Universitária
• Diretoria da ESALQ
• Comissão de Cultura e Extensão Universitária - CCEx
• Serviço de Cultura e Extensão Universitária - SVCEx
Índice
Histórico 7
Definição e Padrões de Identidade e Qualidade 10
Quanto à classe 20
Quanto à cor 22
Quanto ao teor de açúcares totais (g/L) 22
Quanto à qualidade 23
Padrão de identidade 24
Rotulagem 26
Defensivos agrícolas 27
Resíduos 27
Higiene 28
Transporte 28
Engarrafamento 28

Cultura da Videira 29
Ciclo de vida da videira 29
Clima 30
Fatores edáficos 32
Variedade copa e porta-enxerto 33
Implantação do vinhedo 34
Tratos culturais 35
Colheita 38

Técnicas de Vinificação 39
Generalidades em vinho tinto, rosado e branco 41
Particularidades da vinificação de vinhos tintos 49
Particularidades da vinificação de vinho rosado ou rosé 52
Particularidades da vinificação de vinho branco 54
Particularidades da vinificação de espumantes 58
Particularidades na produção de vinho licoroso/ 64
fortificado
Controle de Qualidade e Composição do Vinho 68
Ponto de maturação, colheita e classificação da uva 68
Vinhos no Brasil 72
Produção 72
Regiões produtoras 73
Classificação de vinhos finos brasileiros 76
Mercado brasileiro 77
Qualidade Sensorial 80
Cor 81
Limpidez 81
Aroma 82
Sabor 83
Detecção de defeitos 83
Definições sensoriais 85
Glossário 86
Bibliografia Consultada 89
Produção de vinho de qualidade 7

Histórico
O vinho é uma das bebidas mais descoberta acidental do vinho, as pri-
antigas da humanidade, contendo re- meiras safras foram produzidas inten-
gistros de seu consumo nos anos que cionalmente.
antecederam a existência de Cristo. O desenvolvimento do vinho acon-
Sua presença na história desempe- teceu após o cultivo das videiras e a
nha grande importância econômica e invenção dos meios para conservar a
cultural através da influência exercida bebida. Indícios arqueológicos apon-
sobre variados reinos, impérios, po- tam que as videiras foram cultivadas
vos e civilizações da antiguidade até pela primeira vez no Oriente Médio,
os dias de hoje. por volta de 4.000 a 6.000 a.C. Ásia,
Os historiadores e os arqueólogos Mesopotâmia, Oriente Médio e Egito
acreditam que o vinho foi descober- são regiões consideradas como pio-
to por acaso. A história conta que neiras na produção desta bebida. Pos-
uvas frescas guardadas em uma jar- teriormente, a tecnologia de produção
ra certo dia não estavam mais do- do vinho propagou-se para os países
ces, elas haviam fermentado, trans- localizados ao longo da bacia do Mar
formando-se em uma bebida alcoó- Mediterrâneo, como França, Itália,
lica. Porém, mesmo sob a crença da Alemanha, Espanha e Portugal.
8 Casa do Produtor Rural
A partir de 1854, o cientista Louis eficaz para o controle dos microrga-
Pasteur foi o primeiro a demonstrar nismos na conservação de diversos
que a produção do vinho envolvia a alimentos e bebidas.
ação de microrganismos, especifica- Mais recentemente, a propagação
mente leveduras, um tipo de fungo que das videiras deu início a produção de
transformava os açúcares do suco da vinho na África do Sul e em países da
uva em álcool etílico. Pasteur iniciou América do Sul, América do Norte e
suas pesquisas sobre a fermentação Oceania. No Brasil, a história da
e trabalhou com produtores de vinho vitivinicultura tem início logo após o
na França, auxiliando-os no proces- descobrimento do país pelos portu-
so de fabricação do vinho. Sua maior gueses, em 1532, quando Martim
descoberta partiu de um experimento Afonso de Sousa introduziu as primei-
muito simples: ao ferver um vinho em ras videiras na província de São
fermentação, a ação das leveduras Vicente. Porém as condições climáti-
cessava, assim como a produção do cas e o solo do litoral paulista eram
álcool. O processo era monitorado inadequados para o cultivo das uvas,
pelo microscópio no qual era possí- o que fez com que as vinhas fossem
vel ver as leveduras mortas após o transferidas para a região que hoje
aquecimento do vinho. corresponde ao centro da cidade de
Na época os produtores enfrenta- São Paulo. Na sequência, as planta-
vam um problema com as exportações ções difundiram-se pela maioria dos
de vinho, já que a maioria azedava estados brasileiros, mas somente no
nas garrafas antes de chegarem ao Rio Grande do Sul que o desenvolvi-
consumidor. Pasteur observou as mento da vitivinicultura alcançou re-
amostras em microscópio e constatou sultados satisfatórios.
que quando o vinho estava azedo, Em pouco tempo, o vinho brasilei-
havia muitas bactérias. Como solu- ro apresentou forte concorrência com
ção, Pasteur desenvolveu um proce- os vinhos de Portugal e a corte portu-
dimento eficaz de conservação me- guesa ordenou a destruição das vi-
diante o aquecimento do produto, a nhas existentes no Brasil. Assim, a
pasteurização. A proposta de Pasteur cultura vitivinícola brasileira cessou e
foi aquecer as garrafas com o vinho à permaneceu extinta até 1870, data
temperatura de 55oC para que as pro- que marcou a chegada dos imigran-
priedades do vinho fossem preserva- tes italianos e o recomeço do plantio
das e as bactérias eliminadas. A pas- de videiras na Serra Gaúcha. Os imi-
teurização é até hoje o método mais grantes usaram videiras portuguesas,
Produção de vinho de qualidade 9
espanholas, francesas, alemãs e ita- dificações benéficas para o progres-
lianas. Porém, as videiras americanas so em busca de uma bebida de quali-
foram as que se estabeleceram e pre- dade. Hoje é possível encontrar mi-
dominaram devido a sua maior resis- lhares de vinícolas ao redor do mun-
tência ao clima e ao solo da região. do, produzindo vinhos de tipos varia-
O vinho brasileiro tem se aperfei- dos, produções direcionadas para
çoado nas últimas décadas, melho- públicos e gostos diversificados, com
ras que podem ser atribuídas ao ampla faixa de preços. Tamanha
crescimento de recursos tecnológicos, abrangência acompanha a atual
incentivo financeiro aos produtores, globalização da informação, que traz
maior investimento em marketing, inte- consigo o intercâmbio facilitado de
resse pelo estudo e conhecimento da culturas e a qualificação do profissio-
enologia, e procura por parte dos con- nal do setor.
sumidores. Atualmente, o Brasil en- Dessa forma, o vinho deixa de ser
contra-se entre os vinte maiores pro- uma bebida exclusiva e seu consumo
dutores da bebida, produzindo vinhos torna-se reflexão de uma época con-
finos capazes de se igualarem a vinhos temporânea, em que os setores
estrangeiros de ótima qualidade. gastronômico e turístico atraem cada
Pesquisas científicas e experimen- vez mais, pessoas despertadas pelo
tações foram realizadas ao longo dos desejo de explorar novas experiên-
anos, resultando em inovações e mo- cias e apreciar novos sabores.
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Definição e Padrões de
Identidade e Qualidade
Para que o vinho produzido possa 2014, é o regulamento que dispõe
ser comercializado, os estabeleci- sobre a produção, circulação e
mentos produtores, estandardi- comercialização do vinho e deriva-
zadores (padronizadores) e engar- dos da uva e do vinho no Brasil. Os
rafadores deverão ser registrados produtores devem adequar-se às
no Ministério da Agricultura, Pecuá- normas fixadas por esta Lei e Pa-
ria e Abastecimento (MAPA). O re- drões de Identidade e Qualidade
gistro tem validade em todo o terri- (PIQ), estabelecidos pelo MAPA.
tório nacional, porém é necessária a Art. 1º A produção, circulação e
análise e fiscalização do produto para comercialização de vinho e deriva-
garantir os parâmetros da produção dos da uva e do vinho, em todo o
de vinho. A classificação dos vinhos Território Nacional, obedecerão às
no Brasil foi regulamentada quanto normas fixadas por esta Lei e Pa-
à classe, ao tipo e à qualidade. drões de Identidade e Qualidade
A legislação brasileira, Lei nº 7.678, que forem estabelecidos pelo órgão
de 08 de Novembro de 1988, poste- indicado no regulamento.
riormente regulamentada pelo Decre- Art. 2º Os vinhos e derivados da uva
to nº 8.198, de 20 de Fevereiro de e do vinho, nacionais e estrangeiros,
Produção de vinho de qualidade 11
somente poderão ser objeto do co- obtido pela desidratação parcial de
mércio ou entregues ao consumo den- mosto não fermentado.
tro do território nacional depois de pré- § 2º Mosto sulfitado é o mosto sim-
vio exame de laboratório oficial, devi- ples estabilizado pela adição de
damente credenciado pelo órgão in- anidrido sulfuroso ou metabissulfito
dicado no regulamento. de potássio.
§ 1º Os produtos nacionais de que § 3º Mosto cozido é o produto resul-
trata este artigo deverão estar acompa- tante da concentração avançada de
nhados da respectiva guia de livre trân- mostos, a fogo direto ou a vapor, sen-
sito, expedida pelo órgão fiscalizador. sivelmente caramelizado, com um con-
§ 2º A avaliação físico-química e teúdo de açúcar a ser fixado em regu-
organoléptica ou sensorial dos vinhos lamento.
e derivados, para fins de concurso ou 4º Ao mosto em fermentação pode-
competição pública, com ou sem di- rão ser adicionados os corretivos ál-
vulgação, deverão contar com a pré- cool vínico e/ou mosto concentrado e/
via e expressa autorização dos pro- ou sacarose, dentro dos limites e nor-
dutores eventualmente interessados mas estabelecidos em regulamento.
em participar, sendo obrigatória a fis- § 5º O Poder Executivo poderá de-
calização por organismos e serviços terminar, anualmente, considerada a
específicos do órgão indicado no re- previsão de futura safra, qual ou quais
gulamento, que fixarão as normas e dos corretivos previstos no parágrafo
métodos a serem empregados. anterior deverão nela ser usados, bem
Art. 3º Vinho é a bebida obtida pela assim estabelecer sua proporção.
fermentação alcoólica do mosto sim- § 6º Fica proibida a industrialização
ples de uva sã, fresca e madura. de mosto e de uvas de procedência
Parágrafo único. A denominação estrangeira, para a produção de vi-
vinho é privativa do produto a que se nhos e derivados da uva e do vinho.
refere este artigo, sendo vedada sua § 7º Ficam proibidas a industriali-
utilização para produtos obtidos de zação e comercialização de vinhos e
quaisquer outras matérias-primas. derivados da uva e do vinho, cuja re-
Art. 4º Mosto simples de uva é o pro- lação de proporcionalidade entre ma-
duto obtido pelo esmagamento ou téria-prima e produto não obedeça
prensagem da uva sã, fresca e madu- aos limites tecnológicos estabelecidos
ra, com a presença ou não de suas pelo órgão indicado no regulamento.
partes sólidas. Art. 5º Suco de uva é a bebida não
§ 1º Mosto concentrado é o produto fermentada, obtida do mosto simples,
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sulfitado ou concentrado, de uva sã, c) fino;
fresca e madura. d) espumante;
Art. 6º Filtrado doce é a bebida de e) frisante;
graduação alcoólica de até 5 o G.L. f) gaseificado;
(cinco graus Gay Lussac), provenien- g) licoroso;
te de mosto de uva, parcialmente fer- h) composto;
mentado ou não, podendo ser adicio- II - quanto à cor:
nado de vinho de mesa e, opcio- a) tinto;
nalmente, ser gaseificado até 3 (três) b) rosado, rosé ou clarete;
atmosferas. c) branco;
Parágrafo único. O mosto de que III - quanto ao teor de açúcar:
trata este artigo poderá ser conserva- a) nature;
do até o respectivo processamento, b) extra-brut;
por métodos físicos, sulfitação ou con- c) brut;
centração. d) seco, sec ou dry;
Art. 7º Mistela é o mosto simples não e) meio doce, meio seco ou demi-
fermentado e adicionado de álcool sec;
etílico potável até o limite máximo de f) suave; e
18o G.L. (dezoito graus Gay Lussac) e g) doce.
com teor e açúcar não inferior a 10 § 1º teor de açúcar e a denominação
(dez) graus por 100 (cem) mililitros, para classe serão fixados, para cada
vedada a adição de sacarose ou ou- produto, no regulamento desta Lei.
tro adoçante. § 2º As bebidas definidas nesta Lei,
Parágrafo único. Mistela composta com graduação alcoólica expressa
é o produto com graduação alcoólica em graus Gay Lussac, terão o seu teor
de 15o a 20o G.L. (quinze a vinte graus alcoólico expresso em percentual (%)
Gay Lussac) que contiver o mínimo de por volume, à razão de um para um
70% (setenta por cento) de mistela, e (v/v) a 20oC (vinte graus Celsius).
de 15% (quinze por cento) de vinhos Art. 9º Vinho de mesa é o vinho com
de mesa adicionado de substâncias teor alcoólico de 8,6% (oito inteiros e
amargas e/ou aromáticas. seis décimos por cento) a 14% (cator-
Art. 8º Os vinhos serão classifica- ze por cento) em volume, podendo
dos: conter até uma atmosfera de pressão
I - quanto à classe: a 20oC (vinte graus Celsius).
a) de mesa; § 1º Vinho frisante é o vinho com
b) leve; teor alcoólico de 7% (sete por cento)
Produção de vinho de qualidade 13
a 14% (catorze por cento) em volume, por cento) em volume, obtido exclusi-
e uma pressão mínima de 1,1 (um in- vamente da fermentação dos açúca-
teiro e um décimo) a 2,0 (dois intei- res naturais da uva, produzido duran-
ros) atmosferas a 20oC (vinte graus te a safra nas zonas de produção, ve-
Celsius), natural ou gaseificado. dada sua elaboração a partir de vi-
§ 2º Vinho fino é o vinho de teor al- nho de mesa.
coólico de 8,6% (oito inteiros e seis Art. 11º Champanha (Champagne),
décimos por cento) a 14% (catorze por Espumante ou Espumante Natural é
cento) em volume, elaborado median- o vinho cujo anidrido carbônico pro-
te processos tecnológicos adequados vém exclusivamente de uma segun-
que assegurem a otimização de suas da fermentação alcoólica do vinho em
características sensoriais e exclusiva- garrafas (método Champenoise/tradi-
mente de variedades Vitis vinifera do cional) ou em grandes recipientes
grupo Nobres, a serem definidas em (método Chaussepied/Charmad),
regulamento. com uma pressão mínima de 4 (qua-
§ 3º Vinho de mesa de viníferas é o tro) atmosferas a 20oC (vinte graus
vinho elaborado exclusivamente com Celsius) e com teor alcoólico de 10%
uvas das variedades Vitis vinifera. (dez por cento) a 13% (treze por cen-
§ 4º Vinho de mesa de americanas to) em volume.
é o vinho elaborado com uvas do gru- Art. 12º Vinho moscato espumante
po das uvas americanas e/ou híbri- ou Moscatel Espumante é o vinho cujo
das, podendo conter vinhos de varie- anidrido carbônico provém da fermen-
dades Vitis vinifera. tação em recipiente fechado, de mos-
§ 5º Nos rótulos dos vinhos será per- to ou de mosto conservado de uva
mitida a utilização de expressões clás- moscatel, com uma pressão mínima
sicas internacionalmente usadas, pre- de 4 (quatro) atmosferas a 20oC (vinte
vistas no regulamento desta Lei, bem graus Celsius), e com um teor alcoóli-
como alusões a peculiaridades espe- co de 7% (sete por cento) a 10% (dez
cíficas do produto ou de sua elabora- por cento) em volume, e no mínimo
ção. 20 (vinte) gramas de açúcar remanes-
§ 6º No rótulo do vinho fino será fa- cente.
cultado o uso simultâneo da expres- Art. 13º Vinho gaseificado é o vinho
são ‘de mesa’. resultante da introdução de anidrido
Art. 10º Vinho leve é o vinho com carbônico puro, por qualquer proces-
teor alcoólico de 7% (sete por cento) so, devendo apresentar um teor al-
a 8,5% (oito inteiros e cinco décimos coólico de 7% (sete por cento) a 14%
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(catorze por cento) em volume, e uma d) vinho composto com jurubeba;
pressão mínima de 2,1 (dois inteiros e) vinho composto com ferroquina; e
e um décimo) a 3,9 (três inteiros e nove f) outros vinhos compostos.
décimos) atmosferas a 20 oC (vinte Art. 16º Jeropiga é a bebida elabo-
graus Celsius). rada com mosto de uva, parcialmente
Art. 14º Vinho licoroso é o vinho com fermentado, adicionado de álcool
teor alcoólico ou adquirido de 14% etílico potável, com graduação máxi-
(catorze por cento) a 18% (dezoito por ma de 18o G.L. (dezoito graus Gay
cento) em volume, sendo permitido, Lussac) e teor mínimo de açúcar de 7
na sua elaboração, o uso de álcool (sete) gramas por 100 (cem) mililitros
etílico potável de origem agrícola, do produto.
mosto concentrado, caramelo, mistela Art. 17º Os produtos resultantes da
simples, açúcar e caramelo de uva. destilação do vinho com teor alcoóli-
Art. 15º Vinho composto é a bebida co até 14% (catorze por cento) em vo-
com teor alcoólico de 14% (catorze por lume, e de seus derivados, somente
cento) a 20% (vinte por cento) em vo- poderão ser elaborados em zonas de
lume, elaborado pela adição ao vinho produção sob controle específico do
de mesa de macerados ou concentra- órgão fiscalizador, classificando-se
dos de plantas amargas ou aromáti- em: aguardente de vinho, destilado al-
cas, substâncias de origem animal ou coólico simples de vinho, destilado al-
mineral, álcool etílico potável de ori- coólico simples de bagaço, destilado
gem agrícola, açúcar, caramelo e alcoólico simples de borras e álcool
mistela simples. vínico.
§ 1º O vinho composto deverá con- § 1º Aguardente de vinho é a bebi-
ter no mínimo 70% (setenta por cento) da com um teor alcoólico de 36% (trin-
de vinho de mesa. ta e seis por cento) a 54% (cinquenta
§ 2º O vinho composto classifica-se e quatro por cento) em volume, a 20oC
em: (vinte graus Celsius) obtida exclusi-
a) vermute, o que contiver losna vamente de destilados simples de vi-
(Artemisia absinthium, L) predomi- nho ou por destilação de mostos fer-
nante entre os seus constituintes mentados de uva.
aromáticos; § 2º Destilado alcoólico simples de
b) quinado, o que contiver quina vinho é o produto com teor alcoólico
(Cinchona e seus híbridos); superior a 54% (cinquenta e quatro por
c) gemado, o que contiver gema de cento) e inferior a 95% (noventa e cin-
ovo; co por cento) em volume, a 20oC (vin-
Produção de vinho de qualidade 15
te graus Celsius), destinado à elabo- graus Celsius), obtido pela destilo-re-
ração de bebidas alcoólicas e obtido tificação de mostos provenientes uni-
pela destilação simples ou por desti- camente de matérias-primas de ori-
lo-retificação parcial seletiva de mos- gem agrícola, de natureza açucarada
tos e/ou subprodutos provenientes ou amilácea, resultante da fermenta-
unicamente de matérias-primas de ção alcoólica, como também o produ-
origem vínica, resultante de fermen- to da retificação de aguardente ou
tação alcoólica. destilados alcoólicos simples. Na de-
§ 3º Destilado alcoólico simples de nominação de álcool etílico potável de
bagaço é o produto com 54,1o a 80o origem agrícola, quando feita referên-
G.L. (cinquenta e quatro graus e um cia à matéria-prima utilizada, o pro-
décimo a oitenta graus Gay Lussac), duto resultante será exclusivamente
obtido a partir da destilação do baga- dessa matéria-prima.
ço resultante da produção de vinho e Art. 18º Conhaque é a bebida com
mosto. teor alcoólico de 36% (trinta e seis por
§ 4º Destilado alcoólico simples de cento) a 54% (cinqüenta e quatro por
borras é o produto de 54,1o a 80o G.L. cento) em volume, obtido de destila-
(cinquenta e quatro graus e um déci- dos simples de vinho e/ou aguarden-
mo a oitenta graus Gay Lussac), obti- te de vinho, envelhecidos ou não.
do da destilação de borras fermenta- Art. 19º Brandy ou conhaque fino é
das, provenientes dos processos da a bebida com teor alcoólico de 36%
industrialização da uva, excluídos ou (trinta e seis por cento) a 54%
resultantes da colagem azul. (cinquenta e quatro por cento) em vo-
§ 5º Álcool vínico é o álcool etílico lume, obtida de destilado alcoólico
potável de origem agrícola, com teor simples de vinho e/ou aguardente de
alcoólico superior a 95% (noventa e vinho, envelhecidos em tonéis de car-
cinco por cento) em volume, a 20oC valho, ou de outra madeira de carac-
(vinte graus Celsius), o qual é obtido terísticas semelhantes, reconhecida
exclusivamente por destilação e reti- pelo órgão competente, de capacida-
ficação de vinho, de produtos ou de máxima de 600 (seiscentos) litros,
subprodutos derivados da fermenta- por um período de 6 (seis) meses.
ção da uva. § 1º O período de envelhecimento
§ 6º Álcool etílico potável de origem será composto pela média pondera-
agrícola é o produto com teor alcoóli- da de partidas com diferentes idades.
co mínimo de 95% (noventa e cinco § 2º A denominação “conhaque”
por cento) em volume, a 20oC (vinte usada isoladamente, e as denomina-
16 Casa do Produtor Rural
ções Brandy ou Conhaque Fino são Art. 23º Licor de bagaceira ou
privativas das bebidas obtidas exclusi- grappa é a bebida com graduação al-
vamente de acordo com o caput dos arts. coólica de 18o a 54o G.L. (dezoito a
18 e 19 desta Lei, sendo vedada a sua cinquenta e quatro graus Gay Lussac),
utilização para conhaques obtidos de tendo como matéria-prima a bagaceira
quaisquer outros destilados alcoólicos. definida no art. 20 desta Lei.
§ 3º O Brandy ou Conhaque Fino Art. 24º Vinagre é o produto obtido
serão classificados por tipos, segun- da fermentação acética do vinho.
do o tempo de envelhecimento de sua Parágrafo único. O vinho destinado
matéria-prima, conforme disposições à elaboração de vinagre será ace-
do órgão indicado no regulamento. tificado pelo órgão fiscalizador, na ori-
Art. 20º Bagaceira ou grappa ou gem de embarque, onde será anali-
graspa é a bebida com teor alcoólico sado, devendo ser lacrado o respecti-
de 35% (trinta e cinco por cento) a 54% vo recipiente no momento da emissão
(cinquenta e quatro por cento) em vo- da nota fiscal e da guia de livre trânsi-
lume, a 20oC (vinte graus Celsius), ob- to, devendo o órgão fiscalizador fazer
tida a partir de destilados alcoólicos a respectiva conferência no destino.
simples de bagaço de uva, com ou Art. 25º O órgão indicado no regula-
sem borras de vinhos, podendo ser mento fixará a metodologia oficial de
retificada parcial ou seletivamente. É análise e tolerância analítica para o
admitido o corte com álcool etílico controle dos produtos abrangidos por
potável da mesma origem para regu- esta Lei.
lar o conteúdo de congêneres. Art. 26º Somente poderão efetu-
Art. 21º Pisco é a bebida com gra- ar a importação de vinhos e pro-
duação alcoólica de 38 o a 54o G.L. dutos derivados da uva e do vinho
(trinta e oito a cinquenta e quatro estabelecimentos devidamente re-
graus Gay Lussac), obtida da destila- gistrados no órgão indicado no re-
ção do mosto fermentado de uvas aro- gulamento.
máticas. § 1º Os vinhos e os derivados da
Art. 22º Licor de Conhaque Fino de uva e do vinho de procedência estran-
Brandy é a bebida com graduação al- geira somente poderão ser comercia-
coólica de 18o a 54o G.L. (dezoito a lizados no País, se forem observados
cinquenta e quatro graus Gay Lussac), os Padrões de Identidade e Qualida-
tendo como matéria-prima o conha- de fixados para similares nacionais,
que ou Brandy, consoante definição ressalvados os casos previstos pelo
do art. 19 desta Lei. Ministério da Agricultura.
Produção de vinho de qualidade 17
§ 2º Para os efeitos deste artigo, o Território Nacional, pelo prazo de
será obrigatória a apresentação dos 10 (dez) anos.
certificados de origem e de análise Art. 29º Os viticultores, vitivinicul-
expedidos por organismo oficial do tores e vinicultores deverão declarar,
país de origem, além de análises de anualmente, ao órgão indicado no
controle pelo Ministério da Agricultura. regulamento:
§ 3º Os produtos referidos neste ar- I - Viticultores - no prazo de 10 (dez)
tigo somente serão liberados à comer- dias após a vindima, as áreas cul-
cialização em seu recipiente original, tivadas, a quantidade da safra por
sendo vedada qualquer alteração de variedade e a uva destinada ao
marca e classe, devendo ser acondi- consumo in natura;
cionados em vasilhames de até 5 (cin- II - Vitivinicultores - no prazo de 10
co) litros de capacidade. (dez) dias após a vindima, as áre-
§ 4º Os vinhos e derivados da uva e as cultivadas, a quantidade da sa-
do vinho, quando destinados à expor- fra por variedade, a uva destinada
tação, poderão ser elaborados de ao consumo in natura, a quantida-
acordo com a legislação do país a que de de uva adquirida e vendida, por
se destinam, não podendo, caso es- variedade e, até 45 (quarenta e
tejam em desacordo com esta Lei, ser cinco) dias após a vindima, a quan-
comercializados no mercado interno. tidade de vinhos, derivados da uva
Art. 27º Os estabelecimentos produ- e do vinho produzidos durante a
tores, estandardizadores e engar- safra, com as respectivas identi-
rafadores de vinho e derivados da uva dades;
e do vinho, deverão ser registrados III - Vinicultores - no prazo de 10 (dez)
no Ministério da Agricultura. dias após a vindima, a quantidade
Parágrafo único. O registro de que de uva recebida e vendida, por va-
trata este artigo terá validade, em todo riedade e, até 45 (quarenta e cin-
o Território Nacional, pelo prazo de co) dias após a vindima, a quanti-
10 (dez) anos. dade de vinhos, derivados da uva
Art. 28º Os vinhos e os derivados da e do vinho produzidos durante a
uva e do vinho, quando destinados à safra, com as respectivas identi-
comercialização e consumo, deverão dades.
estar previamente registrados no Mi- § 1º Os vinicultores e vitivinicultores
nistério da Agricultura. deverão apresentar até o dia 10 (dez)
Parágrafo único. O registro de que de janeiro do ano subsequente, de-
trata este artigo terá validade, em todo claração das quantidades e identida-
18 Casa do Produtor Rural
des dos vinhos e derivados da uva e (cinco) litros, podendo este limite ser
do vinho de safras anteriores em de- ampliado até 20 (vinte) litros, a crité-
pósito. rio do órgão competente, desde que
§ 2º Para efeito de controle da pro- os produtos conservem integralmen-
dução, o órgão competente fixará as te suas qualidades originais.
margens de tolerância admitidas no Parágrafo único. Os limites fixados
cálculo do rendimento da matéria-pri- neste artigo não se aplicam a estabe-
ma. lecimentos produtores, estandardi-
§ 3º Os vinicultores e vitivinicultores zadores e engarrafadores.
deverão comunicar, ao órgão indica- Art. 33º É proibido todo e qualquer
do no regulamento, cada entrada de processo de manipulação emprega-
álcool etílico, bem assim manter um do para aumentar, imitar ou produzir
livro próprio de registro das entradas artificialmente os vinhos, vinagres e
e empregos do produto. produtos derivados da uva e dos vi-
Art. 30º No prazo de 75 (setenta e nhos.
cinco) dias após o término da vindi- Parágrafo único. Os produtores resul-
ma, será efetuado, pela autoridade tantes de processo de manipulação ve-
competente, um levantamento quan- dado por este artigo serão apreendidos
titativo e qualificativo da produção de e inutilizados independentemente de
vinhos e derivados da uva e do vinho. outras sanções previstas em lei.
Art. 31º Os estabelecimentos estan- Art. 34º As normas de fiscalização
dardizadores e engarrafadores de vi- da produção, circulação e comercia-
nhos e de derivados da uva e do vi- lização do vinho, derivados da uva e
nho são obrigados a declarar em do- do vinho e vinagres, nacionais e es-
cumento próprio, que entregarão à trangeiros, constarão na regulamen-
autoridade competente até o dia 10 tação desta Lei.
de cada mês, as quantidades de pro- Art. 35º A execução desta Lei e seu
dutos existentes em estoque no dia regulamento ficará a cargo do órgão
1º, as entradas e saídas que ocorre- indicado no regulamento, que pode-
ram durante o mês e o estoque rema- rá celebrar convênios, ajustes ou acor-
nescente no último dia do mês cor- dos com órgãos e entidades da Admi-
respondente. nistração Federal, Estados, Distrito
Art. 32º É permitida a venda fracio- Federal e Territórios.
nada de vinhos e de suco de uvas Art. 36º A infração às disposições
nacionais acondicionadas em reci- desta Lei será apurada em processo
pientes adequados contendo até 5 administrativo e acarretará, nos ter-
Produção de vinho de qualidade 19
mos previstos em regulamento, a apli- § 1º Fica permitida a venda ou doa-
cação das seguintes sanções: ção do bagaço de uva ao agricultor.
I - advertência; § 2º A “Enocianina” não poderá ser
II - multa no valor de até 5.000 (cinco extraída dentro do estabelecimento
mil) OTNs - Obrigações do Tesou- vinificador.
ro Nacional, ou outro valor cuja Art. 40º A circulação de vinhos em
base venha a ser fixada por lei; elaboração, borras líquidas, bagaço
III - inutilização do produto; e mosto contendo ou não bagaço, só
IV - interdição; é permitida nas zonas de produção,
V - suspensão; e entre estabelecimentos da mesma
VI - cassação. empresa, ou para estabelecimentos
Parágrafo único. As sanções pre- de terceiros quando se tratar de sim-
vistas neste artigo poderão ser apli- ples depósito.
cadas isolada ou cumulativamente, Parágrafo único. No caso de comer-
quando for o caso. cialização de vinho e/ou mostos con-
Art. 37º A administração pública po- tendo borras e bagaços nas zonas de
derá adotar medidas cautelares que produção, deverá haver prévia auto-
se demonstrem indispensáveis ao rização do órgão fiscalizador.
atendimento dos objetivos desta Lei. Art. 41º Para produtos envasados, so-
Art. 38º O detentor do bem que for mente poderá ter a denominação de de-
apreendido poderá ser nomeado seu terminada uva o vinho que contiver, no
“depositário”. mínimo, 75% (setenta e cinco por cen-
Parágrafo único. Ao depositário in- to) dessa variedade, sendo o restante
fiel será aplicada a penalidade de de variedades da mesma espécie.
multa no valor de até 5.000 (cinco mil) Art. 42º O órgão indicado no regula-
OTNs - Obrigações do Tesouro Na- mento fixará as normas para o trans-
cional, sem prejuízo da aplicação de porte de uva destinado à industriali-
outras sanções previstas nesta Lei. zação.
Art. 39º A circulação e a comercia- Parágrafo único. Para os efeitos
lização de borra e/ou bagaço só se- desta Lei, o Poder Executivo definirá
rão permitidas quando destinadas a e delimitará, por decreto, as zonas de
estabelecimentos credenciados para produção vitivinícolas no País, bem
efeito de filtragem ou para a produ- assim regulamentará o plantio de vi-
ção de ácido tartárico e/ou seus sais, deiras e multiplicação de mudas.
rações, óleo de sementes, enocianina Art. 43º O registro de estabelecimen-
e adubo. to e produto, a classificação, o contro-
20 Casa do Produtor Rural
le, a inspeção e a fiscalização do vinho Art. 48º Para efeito e controle dos
e dos derivados da uva e do vinho, sob órgãos fiscalizadores, os recipientes
os aspectos sanitário e tecnológico, se- de estocagem de vinhos e derivados
rão executados de conformidade com da uva e do vinho a granel, nos esta-
as normas e prescrições estabelecidas belecimentos previstos nesta Lei, se-
nesta Lei e em seu regulamento. rão obrigatoriamente numerados e
Art. 44º O órgão indicado no regula- com respectiva identificação.
mento definirá e classificará outros Art. 49º É vedada a comercialização
produtos derivados da uva e do vinho, de vinhos e derivados nacionais e
ou com base em vinho, não previstos importados que contenham no rótulo
nesta Lei. designações geográficas ou indica-
Art. 45º O órgão indicado no regula- ções técnicas que não correspondam
mento elaborará a estatística da pro- à verdadeira origem e significado das
dução e comercialização da uva e do expressões utilizadas.
vinho e seus derivados, diretamente § 1º Ficam excluídos da proibição
ou por convênio com entidades públi- fixada neste artigo os produtos nacio-
cas ou privadas. nais que utilizem as denominações
Parágrafo único. A estatística de que champanha, conhaque e Brandy, por
trata este artigo será elaborada com serem de uso corrente em todo o Ter-
base nas informações de que tratam ritório Nacional.
os arts. 2º, § 1º, 29, 30 e 31 desta Lei. § 2º Fica permitido o uso do termo
Art. 46º A elaboração e a fiscaliza- “tipo”, que poderá ser empregado em
ção de vinhos e derivados são atri- vinhos ou derivados da uva e do vi-
buições específicas de profissionais nho cujas características correspon-
habilitados. dam a produtos clássicos, as quais
Art. 47º Nas zonas de produção, é serão definidas no regulamento des-
facultado ao vinicultor elaborar, en- ta Lei.
garrafar ou envasar vinhos e deriva-
dos em instalações de terceiros, me- Quanto à classe
diante a contratação de serviços, por Vinho leve: com graduação alcoólica
locação ou qualquer forma de arren- entre 7% e 8,5%, deve ser obtido ex-
damento ou cessão, cabendo ao pro- clusivamente pela fermentação dos
dutor a responsabilidade pelo produ- açúcares naturais da uva, produzido
to, desobrigado de fazer constar no durante a safra na região produtora,
rótulo o nome do engarrafador, ou do podendo ser fino ou comum, desde
envasador. que identificado na rotulagem.
Produção de vinho de qualidade 21
Vinho de mesa: deve possuir gradua- Vinho moscato espumante ou Mosca-
ção alcoólica de 8,6% a 14% em volu- tel espumante: é o vinho cujo gás
me, podendo conter 1 atmosfera (atm) carbônico provém de uma única fer-
de pressão a 20oC, com teor de açúcar mentação alcoólica do mosto de uva
calculado em, no máximo, 3 g/L para da variedade Moscatel, em recipien-
secos e, no mínimo, 3,1 g/L para sua- te fechado. Sob pressão mínima de 4
ves ou doces. Os vinhos de mesa são atmosferas a 20oC , e com um teor al-
aqueles produzidos a partir de uvas do coólico de 7% a 10%, e no mínimo 20
grupo das americanas, das espécies g/L de açúcar remanescente.
Vitis Iabrusca (Isabel, Bordô, Niágara Vinho frisante: o vinho frisante pode
etc.) e Vitis bourquina (Herbemont e ser seco ou doce, com graduação alco-
Jacquez), produzidos para consumo ólica de 7% a 14% e conteúdo de gás
imediato. carbônico de 1,1 até 2 atm de pressão
Vinho fino: é o vinho de teor alcoólico a 20oC (natural ou gaseificado).
de 8,6% a 14% em volume, mas que Vinho gaseificado: resultante da in-
difere-se do vinho de mesa por ser ela- trodução de gás carbônico puro me-
borado a partir de uvas do grupo das diante diversos processos, devendo
europeias da espécie Vitis vinifera apresentar graduação alcoólica de
(Cabernet, Merlot, Riesling, Chardon- 7% a 14% e pressão entre 2,1 e 3,9
nay, Gewurztraminer, Moscato, etc.) e atm a 20oC. O teor de açúcar deve
mediante processos tecnológicos ade- ser de no máximo 20 g/L para se-
quados que assegurem a otimização de cos, 20,1 a 80 g/L para meio doces
suas características sensoriais. e no mínimo 80 g/L para doces.
Vinho espumante, Espumoso natural Vinho licoroso: vinho com gradua-
ou Champanha (Champagne): vinho ção alcoólica natural, ou adquirida
cujo gás carbônico (bolhas) é resultado pela fortificação, de 14 a 18% em
unicamente de uma segunda fermenta- volume sendo permitido uso de ál-
ção alcoólica do vinho em garrafa (mé- cool etílico potável, mosto concentra-
todo Champenoise/tradicional) ou em do, caramelo, mistela simples, açúcar
grandes recipientes (método Charmat). e caramelo de uva. O teor de açúcar
Com graduação alcoólica de 10% a para secos é de no máximo 20 g/L e
13% e pressão mínima de 4 atm a para doces, de no mínimo 20,1 g/L.
20oC. O teor de açúcar vai de no máxi- Vinho composto: é o vinho aromati-
mo 7 g/L para brutos, 7,1 a 20 g/L para zado de graduação alcoólica de 14%
secos, 20,1 a 80 g/L para meio doces a 20% em volume, obtido pela adi-
e mínimo de 80,1 g/L para doces. ção de macerados ou concentrados
22 Casa do Produtor Rural
de plantas amargas ou aromáticas, subs- nho de mesa.
tâncias de origem animal ou mineral, Segundo a Lei nº 10.970 de 12 de
álcool etílico, açúcar, caramelo e Novembro de 2004, as especificações
mistelas simples ao vinho de mesa. estão apresentadas nas Tabelas 1, 2,
Deverá conter no mínimo 70% de vi- 3, 4, 5, 6 , 7 e 8.

Tabela 1. Limites da graduação alcoólica


CLASSE MÍNIMO (% V/V) MÁXIMO (% V/V)
Vinho leve 7,0 9,9
Vinho de mesa 8,6 14,0

Vinho licoroso 14,0 18,0


Vinho composto 15,0 18,0
Vinho espumante 10,0 13,0

Vinho espumante moscatel 7,0 10,0


Fonte: BRASIL, 2004

Quanto à cor
As cores são definidas em: Tinto; Rosado, Rosé ou Clarete e Branco.

Quanto ao teor de açúcares totais (g/L)


Tabela 2. Teor de açúcares totais em vinhos de mesa, leves e frisantes
NOMENCLATURA MÍNIMO MÁXIMO
Seco - 4,0
Meio-seco ou Demi-sec 4,1 25,0
Doce ou Suave 25,1 80,0
Fonte: BRASIL, 2004

Tabela 3. Teor de açúcares totais em vinhos espumantes ou gaseificados


NOMENCLATURA MÍNIMO MÁXIMO

Nature - 0,3

Extra-brut 3,1 0,8

Brut 8,1 1,5

Seco ou Sec 15,1 20,0

Meio-seco, Meio doce ou Demi-sec 20,1 60,0

Doce 60,1 80,0


Fonte: BRASIL, 2004
Produção de vinho de qualidade 23
Tabela 4. Teor de açúcares totais em vinhos licorosos
NOMENCLATURA MÍNIMO MÁXIMO

Seco ou Dry - 20,0

Doce 20,1 80,0


Fonte: BRASIL, 2004

Tabela 5. Teor de açúcares totais em vinhos compostos


NOMENCLATURA MÍNIMO MÁXIMO

Seco - 40,0

Meio-seco o Meio-doce 40,1 80,0

Doce 80,1 100,0


Fonte: BRASIL, 2004

Quanto à qualidade
A legislação declara os itens abaixo: produto que não conste das respec-
• O vinho não poderá apresentar alte- tivas práticas enológicas lícitas.
rações nas suas características • Fica proibida a industrialização de
organolépticas normais. mosto e de uvas de procedência es-
• O vinho não poderá ser comer- trangeira, para a produção de vinhos
cializado se atacado por micror- e derivados da uva e do vinho.
ganismos e outros agentes que
provoquem turvações e transforma- A legislação declara legal os itens
ções nas suas propriedades bioló- abaixo:
gicas, tais como azedias e outras al- • A adição de ácido tartárico, meta-
terações, exceto para destilação. tartárico, cítrico, lático, ascórbico (e
• O vinho e mosto não poderão apre- seus sais), sórbico (e seus sais),
sentar substâncias ou produtos es- anidrido carbônico, anidrido sulfu-
tranhos aos seus constituintes na- roso (e seus sais), carbonato de cál-
turais, salvo os previstos nestes pa- cio, tartarato neutro de potássio e
drões. carbonato de potássio.
• O rendimento do mosto, em relação • Tratamento pelo frio e pelo calor.
à matéria-prima uva, após a sepa- • Emprego de leveduras, carvão ati-
ração da borra, não poderá ser su- vo, goma arábica e cinzas.
perior a 80%. • Emprego de nitrogênio anidrido
• Será proibido adicionar ao mosto carbônico, para conservação do vi-
destinado à vinificação, qualquer nho.
24 Casa do Produtor Rural
• Adoçamento com sacarose na for- • Correção com mosto concentrado,
ma sólida no próprio vinho ou com álcool vínico e/ou sacarose.
mosto de uva (chaptalização) que • Adição de ácidos cítrico, ascórbico,
corresponda a, no máximo, um au- tartárico e lático.
mento de 3% no teor alcoólico. • Emprego de fosfato, carbonato e bi-
• Adoçamento com mosto de uva, ape- carbonato de amônia, carbonato de
nas na zona de produção. cálcio, anidrido sulfuroso (e seus
• Mistura de dois ou mais vinhos pro- sais), carbonato, bicarbonato e
venientes de qualquer safra. tartarato neutro de potássio, sulfato
• Emprego de clarificantes inertes que de amônia e composto vitamínico.
não transmitam ao vinho sabores ou • Tratamento pelo frio e calor.
aromas estranhos e não deixem re- • Uso de leveduras.
síduos tóxicos. • Emprego de clarificantes inertes que
• O emprego de ferrocianeto de potás- não transmitam ao mosto sabores e
sio (colagem azul), desde que o esta- aromas estranhos e não deixem re-
belecimento possua responsável téc- síduos tóxicos.
nico (RT) devidamente qualificado e • Uso de carvão ativo.
credenciado pelo Ministério da Agri-
cultura, Pecuária e Abastecimento. Para estabelecimentos com atividade
• Controle da colagem azul - (ver Téc- de padronização é permitido:
nicas de Vinificação) o estabeleci- • Filtração.
mento que efetuar a colagem azul • Colagem, excluindo-se a azul.
deverá manter um livro de registro • Emprego de anidrido sulfuroso, ácido
dos tratamentos efetuados com os ascórbico, ácido sórbico e seus sais.
seguintes dados: nome do técnico • Pasteurização.
responsável por cada tratamento, • Corte de vinhos de procedências di-
data do tratamento, volume e iden- versas.
tificação do vinho tratado, quantida- • Suavização ou adoçamento dos vi-
de de ferrocianeto de potássio utili- nhos, mediante adição de sacarose.
zada e testes no vinho tratado
indicativos da presença de ferro Padrão de identidade
(positivo) e ferrocianeto (negativo). Para vinho de mesa
Ingredientes básicos: uvas frescas, sãs
Para o mosto (exclusivamente), é per- e maduras.
mitido: Ingredientes opcionais: sacarose e/ou
• Emprego de enzimas. mosto de uva para adoçamento.
Produção de vinho de qualidade 25
Para vinho espumante Para vinho gaseificado
Ingredientes básicos: uvas frescas, sãs Ingredientes básicos: vinho de mesa;
e maduras. anidrido carbônico puro.
Ingredientes opcionais: sacarose e/ou Ingredientes opcionais: sacarose
mosto de uva para adoçamento; licor e/ou mostos de uva para adoça-
de expedição elaborado unicamente mento.
de substâncias naturais.

Tabela 6. Padrões estabelecidos para vinhos de mesa, espumante e gaseificado


COMPONENTE MÍNIMO MÁXIMO
o
Álcool etílico a 20 C 7% (v/v) 14% (v/v)
Acidez total 55,0 meq/L 130,0 meq/L
Acidez volátil (corrigida) - 20,0 meq/L
Sulfatos totais - 1,0 g/L
Anidrido Sulfuroso total - 0,25 g/L
Cloretos totais - 0,20 g/L
Álcool metílico - 0,35 g/L
Fonte: BRASIL, 2004

Para vinho licoroso Ingredientes opcionais: álcool etílico


Ingredientes básicos: uvas fres- potável; sacarose e/ou mosto concen-
cas, sãs, maduras e/ou vinho de trado; caramelo de uva, de açúcar ou
mesa. de milho.

Tabela 7. Padrões estabelecidos para vinho licoroso


COMPONENTE MÍNIMO MÁXIMO
Álcool etílico a 20oC 14% (v/v) 18% (v/v)
Acidez total 50,0 meq/L 120,0 meq/L
Acidez fixa - 30,0 meq/L
Acidez volátil (corrigida) - 20,0 meq/L
Sulfatos totais - 1,0 g/L
Anidrido Sulfuroso total - 0,35 g/L
Cloretos totais - 0,20 g/L
Álcool metílico - 0,35 g/L
Fonte: BRASIL, 2004
26 Casa do Produtor Rural
Para vinho composto
Ingredientes básicos: vinho de mesa; Ingredientes opcionais: sacarose e/
álcool etílico potável; concentrado, ou mosto de uva para adoçamento;
macerados e/ou destilados de plan- caramelo de uva, de açúcar ou de
tas amargas ou aromáticas. milho.

Tabela 8. Padrões estabelecidos para vinho composto


COMPONENTE MÍNIMO MÁXIMO

Álcool etílico a 20oC 15% (v/v) 20% (v/v)

Acidez total para tintos 50,0 meq/L 50,0 meq/L

Acidez total para brancos e rosados - 40,0 meq/L

Acidez fixa para tintos - 40,0 meq/L

Acidez fixa para brancos e rosados - 30,0 meq/L

Acidez volátil (corrigida) - 20,0 meq/L

Sulfatos totais - 1,0 g/L

Anidrido Sulfuroso total - 0,35 g/L

Cloretos totais - 0,20 g/L

Álcool metílico - 0,35 g/L


Fonte: BRASIL, 2004

Rotulagem
O rótulo é o local onde devem estar Obrigatórias
impressos a marca, o volume da em- • Nome e marca do vinho
balagem e a designação completa do • Classe, tipo e natureza do produto
produto. Não há limitações específi- • Classificação quanto a cor do vinho
cas para a formação da marca. Ela • Classificação em relação ao teor de
deve atender a critérios merca- açúcar
dológicos e não pode induzir o con- • Teor alcoólico
sumidor a erro sobre a natureza e/ou • Volume do conteúdo líquido
origem do produto, nem atribuir qua- • Aditivos utilizados, seus códigos
lidade ou característica que o vinho indicativos e, por extenso, a respec-
não possua. tiva classe
As indicações relativas à rotulagem • Nome e endereço do produtor e do
são: engarrafador
Produção de vinho de qualidade 27
• Endereço do local de produção e composta por algarismos que repre-
acondicionamento sentam a quantidade de produto en-
• A expressão “Indústria Brasileira” contrada na embalagem e pela res-
• O texto “não contém glúten” pectiva unidade de medida ou seu sím-
• Responsável técnico bolo. Embalagens com conteúdo líqui-
• Número de registro no Ministério da do menor que 1 litro devem apresen-
Agricultura tar o volume em mililitros (mL) e as
• Número de lote demais em unidades de litro (L).
• Prazo de validade A designação é o mais importan-
• Composição do produto te item da rotulagem, informa a na-
• Informações que atendam ao Códi- tureza do produto definindo a clas-
go de Defesa do Consumidor, como se, cor e conteúdo de açúcar. Se-
as condições ideais para prolongar gundo o MAPA, a designação cons-
a vida do vinho e as expressões “be- titui item distinto, destacado das
ber com moderação” e “proibida a demais inscrições, impressa com
venda para menores.” letras em negrito, em cor única e
contrastante com a do fundo do
Facultativas rótulo, com tamanho proporcional
• Nome da variedade de uva ao da embalagem.
• Ano de colheita ou safra O uso do termo “tipo” em vinhos,
• Procedência cujas características correspondam a
• Processo de vinificação produtos clássicos internacionalmen-
te conhecidos, somente é admitido se
Proibidas o produto é elaborado com a mesma
• Indicação de origem geográfica que tecnologia de origem.
não corresponde à verdadeira pro-
cedência das uvas e do vinho Defensivos Agrícolas
• Denominação de determinada uva Os resíduos de defensivos rema-
se o vinho não contiver no mínimo nescentes no vinho só poderão resul-
75% dessa variedade tar daqueles autorizados na cultura da
uva, observados os limites estabele-
A forma de apresentar a indicação cidos pela legislação específica.
quantitativa de volume é definida por
legislação promulgada pelo Inmetro Resíduos
(Instituto Nacional de Metrologia, Qua- A circulação e a comercialização de
lidade e Tecnologia). A indicação é borra e/ou bagaço só serão permiti-
28 Casa do Produtor Rural
das quando destinadas a estabe- Transporte
lecimentos credenciados para efei- A uva transportada fora da zona de
to de filtragem ou para a produção produção deverá ser acondicionada
de ácido tartárico e/ou seus sais, em caixas de madeira ou plástico,
rações, óleo de sementes, com capacidade máxima de 25 kg,
encianina e adubo. Segundo a Le- contendo orifícios laterais para o areja-
gislação, fica permitida a venda ou mento do produto. Durante o transporte
doação do bagaço de uva ao agri- a longa distância, será obrigatório o uso
cultor, porém a enocianina não po- de coberturas atóxicas (lonas dos tipos
derá ser extraída dentro do estabe- encerados, impermeabilizados, plásti-
lecimento vinificador. cos ou vinil), para proteção da uva.

Higiene Engarrafamento
Os estabelecimentos que elabo- Segundo o Decreto nº 4.544, de 26
ram vinho deverão apresentar as de dezembro de 2002, nas zonas de
condições higiênicas fixadas nas produção é facultado ao vinicultor en-
normas sanitárias em vigor. O vinho garrafar ou envasar vinhos e deriva-
não poderá conter substâncias tóxi- dos em instalações de terceiros, sob
cas, elaboradas por microrganis- sua responsabilidade, mediante a
mos, em quantidade que possam contratação de serviço, por ação tem-
tornar-se perigosas para a saúde porária ou permanente, cabendo ao pro-
humana. dutor à responsabilidade pelo produto.
Produção de vinho de qualidade 29

Cultura da Videira
Ciclo de vida da videira
A videira é uma planta perene, da lização das reservas de carboidratos,
família Vitaceae, gênero Vitis que é provocada pela atividade enzimática,
composto por várias espécies, e e pela mobilização dos açúcares para
pode ser explorada por vários anos, nutrir as pontas de crescimento (ge-
por meio de uma sucessão de ciclos mas), provocando a brotação.
anuais que são interdependentes,
Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho

pois a condição de vegetação ao lon-


go do período, impostas pelo am-
biente ou pelo homem, tem influência
no ciclo seguinte.
Esses ciclos, vegetativo e reprodutivo,
são simultâneos e competem entre si
pela seiva bruta e elaborada. O vege-
tativo compreende respectivamente
as fases: mobilização de reservas,
crescimento e acúmulo de reservas. A
primeira é caracterizada pela solubi- Figura 1. Vitis labrusca
30 Casa do Produtor Rural
Pode-se considerar que esta fase co antes da mudança de coloração
se inicia com o “choro” (secreção de das bagas, início do amadurecimento
açúcares pelos ferimentos de poda) ou Veraison. A partir daí é iniciado o
e tem duração até depois do perío- período de acúmulo de reserva, que
do de brotação. Após a mobilização ocorre até a queda completa das folhas.
de reservas é iniciada a etapa de- Nesta terceira etapa há intensa pro-
nominada de crescimento dos ór- dução de açúcares pelas folhas, que
gãos (raízes, brotações, folhas etc). são divididos entre os frutos e acú-
mulo de reserva em outras partes da
Casa do Produtor Rural (ESALQ/USP)
planta. Neste momento ocorre tam-
bém a maturação dos frutos, período
em que se desenvolvem devido à ex-
pansão celular e não mais pela divi-
são das células. Findado a queda das
folhas, a videira inicia a denominada
fase de repouso vegetativo ou dor-
mência, a qual corresponde a um pe-
ríodo de inatividade na planta, esta
fase inicia-se com a queda das folhas e
termina com a percepção do “choro”.
As fases de desenvolvimento da vi-
Figura 2. Choro da Videira deira, tanto do ciclo vegetativo como
do reprodutivo, estão intimamente re-
Inicialmente o crescimento é depen- lacionados a determinados ambien-
dente exclusivamente das reservas tes. Modificações nesse ambiente
acumuladas e de sua mobilização. podem afetar tanto a produção quan-
Com o desenvolvimento das brota- to a qualidade dos frutos produzidos.
ções e folhas, os órgãos verdes se
tornam a principal fonte de energia Clima
para o crescimento dos ramos e ca- A interação do meio natural, princi-
chos. Nesta fase ocorre também o palmente o solo, com os diversos ele-
crescimento herbáceo dos frutos, o mentos meteorológicos, como a tem-
qual acontece devido à intensa divi- peratura e umidade do ar, radiação
são celular. A duração total da fase de solar, precipitação pluvial e vento, pra-
crescimento pode ser observada en- ticamente definem as potencialidades
tre o período de brotação até um pou- das regiões para o cultivo da videira.
Produção de vinho de qualidade 31
A videira tem algumas exigências para produção de frutos de coloração
climáticas bem específicas, principal- uniforme, uma vez que é a diferença
mente em relação à temperatura, sen- de temperatura que promove a sínte-
do sensível a geada e exigente em se de antocianinas, que conferem a
condições ótimas de temperatura, coloração característica dos frutos
não apenas durante seu crescimen- destinados à produção de vinho tinto.
to, mas também no período de A produção de vinhos mais alcoóli-
maturação de frutos, uma vez que pre- cos e de baixa acidez é favorecida em
cisam de luz e de temperatura para locais de elevada temperatura, en-
se desenvolver com qualidade. De quanto que em regiões de tempera-
modo geral, consideram-se tempera- turas mais baixas tendem a produzir
turas médias anuais não inferiores a vinhos de maior acidez e menos gra-
9oC ideais para o cultivo da videira, duação alcoólica. Além disso, outros
sendo que a faixa ótima de tempera- fatores de qualidade do vinho são
tura está entre 11oC e 18oC, podendo definidos pela temperatura, principal-
atingir um máximo suportável de 40oC. mente com alterações térmicas no
Durante o período de crescimento, a período de maturação, como o aroma
planta suporta temperaturas de -1,5oC e sabor.
a 1,0oC, e durante o período de re- A videira é considerada uma planta
pouso vegetativo, as gemas sobrevi- muito resistente a falta de água, po-
vem a temperaturas próximas a -12oC. dendo vegetar em locais cuja dispo-
A temperatura é um dos elementos nibilidade hídrica é mínima. De forma
climáticos de maior influência na geral, o excesso de chuva promove o
maturação da uva e consequente- desenvolvimento de doenças, o que
mente, na composição do vinho. A prejudica todo o desenvolvimento da
qualidade de sabor e aroma dos fru- planta. No período de maturação,
tos é dependente de uma série de além da excessiva precipitação plu-
compostos como, ácidos, açúcares, vial aumentar a incidência de doen-
pH, compostos fenólicos e nitro- ças, a mesma altera os teores de sóli-
genados, minerais e orgânicos etc, dos solúveis nos frutos, o que tem in-
estes por sua vez tem sua síntese afe- terferência direta na qualidade do pro-
tada pela temperatura. Além disso, a duto final. Portanto, considera-se que
amplitude térmica (diferença entre a uma pluviosidade de 350 a 600 mm é
temperatura máxima e temperatura adequada para a produção de vinhos
mínima registradas em um mesmo de qualidade, sendo variável de acor-
período de tempo) é preponderante do com a variedade adotada, sistema
32 Casa do Produtor Rural
de condução e tipo de poda. Deve-se favoráveis ao desenvolvimento de
destacar que no fim da maturação e plantas de altas produções, ao passo
na sobrematuração é benéfico que que solos rasos, de baixa fertilidade e
ocorra um período seco para melho- de baixa capacidade de retenção de
rar a qualidade dos frutos. água, não permitem elevadas produ-
Outro elemento climático deter- tividades, mas os frutos produzidos
minante na produção de uvas de qua- nestes locais tendem a ser de melhor
lidade é a luz, mensuradas em horas qualidade.
de sol acumuladas pela planta

Fabio Vale Scarpare


(heliofania). Acredita-se que sejam
necessárias no mínimo, de 1500 a
1600 horas anuais de sol, sendo em
torno de 1200 horas durante o perío-
do de crescimento vegetativo, o que
varia de acordo com a latitude em que
o vinhedo está localizado.
De forma geral, pode-se dizer que
a produtividade e a qualidade dos fru- Figura 3. Vinhedo

tos são dependentes da precocidade


na brotação, resultante da elevação Quanto à textura do solo, pode ser
de temperatura no fim do inverno, e de composição variável de acordo
de umidade suficiente, mas não ex- com as proporções de areia, silte e
cessiva, em conjunto com um longo argila presentes no solo. Dessa for-
período de maturação, seco, ensola- ma, os solos ideais para o cultivo de
rado, e quente e com colheita tardia. videira são os franco-arenosos, sol-
tos e profundos, mesmo que apresen-
Fatores edáficos tem cascalhos, que são especialmen-
A produção de uva pode ser feita te favoráveis a produção de vinho
em tipos variados de solo. A profundi- branco de qualidade, unindo finura,
dade é o primeiro fator de interferên- aroma e leveza. Os solos com maior
cia na produtividade e qualidade das teor de silte e argila são menos favo-
uvas, uma vez que determina o espa- ráveis a produção de uvas de quali-
ço disponível para o crescimento do dade, conferindo características não
sistema radicular. Solos profundos, desejáveis aos vinhos.
com satisfatória disponibilidade A fertilidade do solo é outro fator
hídrica e fertilidade adequada, são determinante no sucesso da produ-
Produção de vinho de qualidade 33
ção de uvas de qualidade. Além da qualidade de bagas e consequente-
realização de adubação e operações mente de mosto.
de correção do pH do solo (calagem)
é importante sempre observar se há Variedade copa e porta-enxerto
equilíbrio entre os nutrientes essen- O gênero Vitis possui uma grande
ciais como, nitrogênio, fósforo, potás- variedade de espécies, sendo a Vitis
sio, magnésio, enxofre, cálcio, neces- vinifera a mais cultivada em todo o
sários em maiores quantidades, e fer- mundo, devido a elevada qualidade
ro, boro, manganês, molibdênio, zin- de frutos, que podem ser consumidos
co e cobre, cujas aplicações são em in natura ou processados. De acordo
baixa concentração. O equilíbrio en- com a classificação comercial, têm-se
tre esses nutrientes pode ser atingido as uvas de mesa, vinhos, sucos e para
por meio da adubação e calagem, passas.
sendo que o excesso ou deficiência As uvas para produção de vinho
pode ser caracterizado pela observa- devem apresentar características es-
ção de sintomas visíveis em folhas, pecíficas tais como, coloração inten-
flores e frutos, ou ainda por meio de sa, elevado teor de açúcares e acidez
análise química do tecido vegetal. equilibrada. A qualidade do vinho de-
Dentre os compostos químicos presen- penderá também das características
tes no solo, o cloreto de sódio (NaCl) edafoclimáticas da região produtora,
em determinadas proporções pode que conferem o aroma e sabor carac-
apresentar limitação ao cultivo de videi- terístico de cada vinho. A uva para a
ra, sendo fundamental a realização de produção de vinho pode ser, ameri-
análise de solo para verificar se o mes- cana (Vitis labrusca, Vitis bourquina) ou
mo está presente em quantidade sufi- híbrida interespecífica, que dará ori-
ciente para apresentar-se limitante. gem a um vinho de mesa comum,
A matéria orgânica presente no solo como a Isabel, a série Seibel e a série
também atua como fonte de nutrien- Seyve, ou podem ser viníferas, per-
tes para as plantas. De forma geral, tencentes à espécie Vitis vinifera. Este
solos ricos em matéria orgânica, prin- último grupo é representado por vari-
cipalmente argilosos, não são ade- edades especiais, denominadas de
quados ao cultivo de videira para pro- “castas nobres”, introduzidas da
dução de vinho de qualidade, uma vez europa, como as variedades italianas,
que plantas desenvolvidas nesses “Trebbiano”, “Moscatéis” e “Malva-
locais tendem a produzir grande quan- sias”, e as francesas como “Cabernet
tidade de frutos, no entanto de baixa Sauvignon”, “Merlot”, “Syrah”,
34 Casa do Produtor Rural
“Tannat”, para produção de vinho tin- alterar a composição dos frutos e,
to e as “Sauvignon Blanc”, “Moscato consequentemente do vinho a ser pro-
Canelli” e “Chenin Blanc” para a pro- duzido.
dução de vinho branco.
As variedades descritas acima são Implantação de vinhedo
denominadas copa, as quais dão ori- Densidade e disposição das plantas,
gem aos ramos e frutos do vinhedo. sistema de condução
Adicionalmente, existem variedades A densidade de plantio e o sistema
de porta-enxerto que são responsá- de condução adotado estão direta-
veis pela formação do sistema radi- mente relacionados com a produção,
cular das plantas, e podem conferir qualidade e possibilidade de meca-
resistência a determinadas doenças, nização. Vários fatores influenciam a
assim como interferir na conformação tomada de decisão para a escolha de
da parte aérea. um sistema de condução: o objetivo
O uso de porta-enxerto na viticultu- da produção (qualidade x quantida-
ra passou a ser necessário desde o de); a variedade; as condições do solo
fim do século XIX, quando houve a e do clima; a topografia do terreno; o
introdução de filoxera (Daktulos- método de colheita (manual ou mecâ-
phaira vitifoliae Fitch) nos vinhedos, nico); o custo de instalação e de manu-
impossibilitando o cultivo em pé tenção dos postes e fios; e a tradição.
franco (sem porta-enxerto). A partir O espaçamento adotado ditará a
daí a prática da enxertia se tornou densidade de plantas na área. Dessa
imprescindível, uma vez que a ado- forma para a escolha do espaça-
ção de porta-enxertos de variedades mento, diversos fatores devem ser
tolerantes é a principal forma de con- considerados, tais como: necessida-
trole dessa praga. de de mecanização, vigor das cultiva-
A introdução de porta-enxertos no res copa e porta-enxerto, fertilidade
sistema de produção provocou uma natural do solo e sistema de condu-
série de alterações, entre as quais se ção adotado. A densidade de plantio
destacam a redução do período pro- influencia diretamente o desenvolvi-
dutivo da videira, o aumento da pre- mento da planta, devido a maior com-
cocidade de produção, a resistência petição que se estabelece entre elas
a pragas e doenças, a tolerância a pela luz, água e nutrientes. O aumen-
estresses abióticos e a influência do to da densidade resulta em maior
porta-enxerto no vigor da copa e nos competição do sistema radicular, po-
componentes de produção, podendo dendo reduzir o vigor da planta e sua
Produção de vinho de qualidade 35
produtividade. A densidade de plan- atentar-se para não realizá-la de for-
tio é inversamente proporcional ao ma antecipada e com isso prejudicar
vigor das cultivares, ou seja, culti- o acúmulo de reservas para o próxi-
vares pouco vigorosas podem ser mo ciclo. Além disso, o atraso também
adensadas, enquanto que para cul- é prejudicial ao ciclo produtivo, uma
tivares mais vigorosas, o espa- vez que é caracterizado pela poda de
çamento deve ser maior, para que pós-brotação, o que significa consu-
não haja sombreamento excessivo mo das reservas que seriam destina-
das folhas, e redução da fertilidade das às brotações do ciclo produtivo.
das gemas. De forma geral a poda para produção
A videira é uma planta de hábito de uvas de qualidade deve ser reali-
trepador, dessa forma se faz neces- zada entre o período de queda das
sário o uso de suportes para susten- folhas e o “choro”.
tação de seus ramos, folhas e frutos. Em algumas regiões de clima tropi-
Juntamente com a poda, o sistema de cal é possível deslocar a época de
condução dá forma ao vinhedo, per- produção com o manejo da poda. No
mitindo o desenvolvimento uniforme estado de Minas Gerais, por exemplo,
de ramos no espaço. os produtores alteram a época de pro-
O que diferencia os sistemas de dução com a realização de duas po-
condução são as formas de orienta- das. A primeira poda é feita no fim de
ção dos ramos, folhas e frutos, que inverno, para formação dos ramos de
podem ser classificados em três ti- produção, e a segunda poda ou poda
pos principais: espaldeira, no qual de produção é feita no verão, assim a
os ramos das plantas crescem na colheita é realizada no início do in-
direção vertical; latada ou pérgula, verno, período de menor precipitação
na qual a orientação dos ramos é pluvial, e com maior amplitude térmi-
horizontal e manjedoura ou Y, onde ca, o que contribui com a produção
os ramos crescem obliquamente em de frutos de qualidade para a fabrica-
relação ao caule. ção de vinho.
A intensidade na realização da
Tratos culturais poda é dependente de alguns fatores,
Poda de produção tais como: o vigor da variedade copa
A princípio, a poda de produção é e do porta-enxerto; as condições cli-
realizada após o início da fase de re- máticas posteriores à poda, sempre
pouso, visando o início de um novo buscando evitar períodos de dias com
ciclo produtivo. Na poda é importante temperaturas baixas; o sistema de
36 Casa do Produtor Rural
condução do vinhedo; o clima da re- gos causados pelo vento e para abrir
gião, como tropical ou temperado; e o o dossel vegetativo de maneira a ex-
método de execução, podendo ser por as folhas mais favoravelmente à
manual ou mecânico. luz e ao ar, evitando também a umida-
de excessiva no dossel que pode fa-

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vorecer o desenvolvimento de doen-
ças. As operações de poda verde con-
sistem em: desbrota, desponte, des-
folha, desnetamento e remoção de
gavinhas.
A desbrota consiste na eliminação
de brotos herbáceos que se desen-
volvem no tronco e nos braços e os
ladrões que se desenvolvem no por-
ta-enxerto. Essa prática tem como prin-
cipais objetivos promover maior
aeração do dossel, evitando sobre-
posição de folhas e potencializando
os tratamentos fitossanitários; redução
do risco de infecção de doenças; e
melhorar a distribuição e o desenvol-
vimento dos ramos não eliminados,
Figura 4. Poda de videira promovendo a produção de frutos de
melhor qualidade.
Operações que complementam a poda O desponte compreende na remo-
de produção ção da extremidade das brotações
Dá-se o nome de poda verde às dos ramos. De modo geral recomen-
operações realizadas durante o pe- da-se a diminuição de 15 a 20 cm do
ríodo de crescimento vegetativo da ramo, supressões maiores podem re-
planta. A poda verde é realizada com duzir excessivamente o número de
o objetivo de melhorar o equilíbrio folhas no dossel e promover um
entre a vegetação da copa e os ór- depauperamento na planta, prejudi-
gãos produtivos. Sendo assim, faz-se cando a produção e qualidade dos
a poda verde para direcionar o cres- frutos.
cimento das partes que formarão o A desfolha é definida como a remo-
tronco e os braços, para reduzir estra- ção de folhas que encobrem ou que
Produção de vinho de qualidade 37
estão em contato direto com os ca- açúcares nas bagas e conse-
chos e que podem causar danos fí- quentemente produção de mosto de
sicos nas bagas. Também pode ser menos qualidade. Isso ocorre, devido
realizada com o objetivo de equili- ao atraso da maturação das bagas,
brar a relação área foliar e número pelo prolongamento do período vege-
de frutos, melhorando a aeração e tativo, o que atrasa a fase de matu-
incidência de raios solares no inte- ração, na qual é definida a qualidade
rior do dossel. dos frutos que serão produzidos.
O desnetamento consiste na remo- Além da irrigação, a produção de
ção de brotações laterais originárias uvas também é variável de acordo
de gemas prontas, localizadas nas com a adubação. Como o solo adota-
axilas foliares. Estas brotações funcio- do para produção de uvas para
nam como órgãos vegetativos, com- vinificação, de forma geral são areno-
petindo pelos carboidratos e nutrien- sos e de baixa fertilidade, pode-se
tes que poderiam ser direcionados às manejar o solo de tal forma a obter as
brotações principais e aos frutos. A características desejáveis. Neste caso
eliminação de gavinhas também deve é sempre importante atentar-se as
ser realizada, principalmente daque- características climáticas da região e
las situadas próximas ao cacho, que ao tipo de solo a ser manejado, além
devem ser eliminadas durante a fase da realização de análises foliares que
de pré-floração para favorecer a fixa- permitem diagnosticar a quantidade
ção dos frutos. de nutrientes absorvida pela planta e
assim fazer a adição equilibrada de
Adubação, Irrigação e nutrientes. Adicionalmente, o pH do
Tratamento Fitossanitário solo influencia na tomada de decisão,
Outros tratos culturais são ne- sendo que para o cultivo de videira, o
cessários para a produção de uvas ideal é que esteja próximo da neutra-
para vinificação, como a realiza- lidade, não sendo menor que 6 em
ção de adubação equilibrada, irri- solos arenosos ou menor que 6,5 em
gação e tratamento contra pragas solos argilosos.
e doenças. Outro ponto importante na manuten-
A videira é uma planta de sistema ção do vinhedo é o combate a pragas
radicular profundo e eficiente na cap- e doenças. Para que se tenha uma
tação de água. O uso da irrigação du- produção de uvas de qualidade é ne-
rante período de maturação das uvas cessário que se faça controle de pra-
tem demonstrado menos acúmulo de gas e doenças que surjam durante o
38 Casa do Produtor Rural
ciclo produtivo, sempre buscando das bagas. Nesta fase o crescimento
adotar técnicas referentes ao Manejo das bagas se deve ao acúmulo de
Integrado de Pragas (MIP) e Manejo substâncias nutritivas e de água. Du-
Integrado de Doenças (MID), para que rante a maturação, a uva amolece
se tenha uma produção de qualidade cada vez mais e ocorre aumento na
e sustentável. Essas duas técnicas concentração de açúcares (glicose e
consistem na adoção de métodos de frutose). A fase de sobrematuração é
nível de controle, os quais são reali- iniciada no momento em que não há
zados apenas quando a intensidade mais síntese notável de açúcares nem
de ataque da praga ou doença for decréscimo apreciável de acidez. As
próximo do suficiente para provocar flutuações dos teores de açúcares e
perdas na cultura. Além disso, ácidos nesta fase se devem ao fenô-
ambas as técnicas incentivam a ado- meno de diluição ou murcha das ba-
ção de métodos de controle alterna- gas, ocasionados por ocorrência de
tivos, como o uso de inimigos natu- chuvas ou de períodos de seca, res-
rais e plantas repelentes, enquanto pectivamente. Por outro lado, os teo-
que o controle químico utilizado de res de polifenóis das cascas aumen-
forma controlada, visando à manu- tam nesta fase.
tenção do equilíbrio entre as popu- A colheita de uvas para vinificação
lações de pragas/patógenos e seus pode ser realizada seguindo critérios
inimigos naturais. que determinam o ponto ótimo de
maturação, visando à obtenção de vi-
Colheita nhos de qualidade. No Brasil, esses
A colheita é um dos fatores de maior critérios são variáveis de acordo com
interferência na qualidade do vinho. a região produtora, podendo ser me-
Geralmente é baseada na experiên- didos pelo teor de açúcar (oBrix) e áci-
cia do viticultor e nas condições cli- dos (pH) e pelas medidas de
máticas específicas de cada região. polifenóis. O acompanhamento do
Na colheita de uvas para vinificação processo de maturação, independen-
é importante que haja o processo de te do tipo de medida a ser adotado, é
maturação e sobrematuração dos fru- fator preponderante para a realização
tos. O processo de maturação dos fru- da colheita visando produção de vi-
tos é iniciado após a mudança de cor nhos de qualidade.
Produção de vinho de qualidade 39

Técnicas de Vinificação
A vinificação consiste na realização tradicionais da vinificação. Porém, in-
de diversas etapas. São técnicas e dependentemente da variedade, a
procedimentos necessários para ob- qualidade química e sensorial da be-
tenção da bebida mediante fermenta- bida baseia-se também na ausência
ção alcoólica do mosto simples de de defeitos tecnológicos, e para tan-
uvas. O processo é direcionado de to, algumas etapas devem ser minu-
acordo com o tipo de produto final que ciosamente controladas e obrigatoria-
se deseja obter. Devido à grande va- mente executadas. O fluxograma a
riedade de uvas disponíveis, é possí- seguir representa as principais etapas
vel conduzir métodos variáveis na ela- na vinificação de tintos, brancos e
boração da bebida, além dos padrões rosés ou rosados (Figura 5).
40 Casa do Produtor Rural

Figura 5. Fluxograma dos diferentes processos de vinificação


Produção de vinho de qualidade 41
Generalidades em vinho tinto, Transporte
rosado e branco O transporte deve proporcionar que
as uvas cheguem do campo até a vi-
Colheita nícola em ótima qualidade. O esma-
A colheita das uvas pode ser rea- gamento e deterioração precoce das
lizada de duas maneiras, manual ou uvas podem ocorrer na ausência de
de forma mecânica. A colheita ma- cuidados específicos desde a colhei-
nual permite a seleção dos cachos ta até o transporte. O tempo interme-
com mais cuidado e observação da diário entre a colheita e o transporte
qualidade, porém demanda maior para a vinícola deve ser reduzido ao
tempo e mão de obra. Já a colheita máximo, assim como a exposição ao
mecânica é uma operação rápida e sol e elevadas temperaturas, quando
de alto rendimento, indicada para as efetuado durante o dia.
produções maiores. A forma mecâ-

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nica pode ser realizada durante a
noite e por isso permite que as uvas
sejam colhidas e transportadas em
temperaturas mais baixas. Esse fato
reduz os níveis de deterioração do
fruto e retarda a podridão, o que
possibilita maior qualidade das uvas
até a preparação do mosto para fer-
mentação.
Figura 7. Transporte das uvas
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Desengace
O cacho da uva é composto pela
baga e por ramificações denomina-
das engaces. Quando não usados
na vinificação, os engaces servem
de adubo para as próximas vinhas e
devem ser devolvidos ao campo
logo após sua retirada. A introdução
das ramificações na fermentação da
bebida resulta em grande liberação
Figura 6. Colheita de uva de tanino, fenol presente em maior
42 Casa do Produtor Rural
ou menor quantidade dependendo uso de grades ou redes, ou por
da variedade de uva. Altas concen- desengaçadores mecânicos como o
trações de taninos reportam sensa- filtro prensa (Figura 8). Os desen-
ções adstringente e herbácea ao vi- gaçadores apresentam regulagem
nho, o que pode ser evitado ou de- da velocidade de rotação do tambor
sejado pelo produtor. O desengace e são facilmente desmontáveis e
pode ser feito manualmente e com higienizáveis.

Luiz Carlos Rodrigues - LAN/ESALQ/USP

Legenda:

1 - Bomba;
2 - Recolhendo o filtrado;

3 - Bandeja com suas pinturas;

4 - Estrutura de aço;
5 - Filtro de pano;

6 - Tanque pneumático com tampão;

7 - Fornecimento Central filtro líquido.

Figura 8. Funcionamento do filtro prensa


Produção de vinho de qualidade 43

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Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho

Figura 9. Processo de desengace Figura 10. Esmagamento das bagas

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Esmagamento
O esmagamento caracteriza-se
pelo rompimento da película da uva
e com liberação do suco contido na
polpa da baga e o início do que será
a fermentação alcoólica. A pressão
aplicada no processo deve ser leve
o suficiente apenas para romper a
casca das bagas e liberar o mosto.
Pressões muito fortes podem dila- Figura 11. Separação da parte líquida e sólida das
uvas após esmagamento
cerar as ramificações, amassar as
sementes e as cascas, componen-
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tes responsáveis pela liberação de


excesso de tanino. Os esmagado-
res de rolo são recomendáveis para
realizar essa etapa, onde a regu-
lação da distância entre os rolos
permite melhorar a qualidade do es-
magamento. Ao final, as uvas com
suas partes líquidas e sólidas, são
encaminhadas para tanques de fer- Figura 12. Limpeza das partes sólidas da uva restantes
mentação mediante uso de bombas. na máquina esmagadora
44 Casa do Produtor Rural
Sulfitagem antecedendo o engarrafamento. Essa
Após o transporte das uvas até os correção está relacionada com o pe-
tanques de fermentação, a próxima eta- ríodo de estabilização e longevidade
pa é a sulfitagem, representada pela adi- do vinho produzido. No entanto, os
ção de ácido sulfuroso (H2SO3), forma teores devem ser constantemente
hidratada do gás dióxido de enxofre monitorados para que não haja au-
(SO2). O ácido sulfuroso é geralmente sência ou excesso da substância.
adicionado às uvas recém-esmagadas Não é indicado que o produtor adi-
e possui efeito bactericida, antioxidante cione soluções de SO2 com concen-
e conservante de ação seletiva; evita a tração superior a 5%, pois a elevada
proliferação de microrganismos respon- volatilização pode provocar reações
sáveis pela oxidação do vinho (acidi- tóxicas ao manipulador. As doses a
ficação excessiva da bebida). O dióxido serem utilizadas dependem do esta-
de enxofre pode ser aplicado também do sanitário da uva e pH do mosto ou
diretamente na uva madura horas an- do vinho. Em uvas saudáveis e em
tes da colheita. Esse procedimento re- mosto que apresenta baixo pH a con-
duz os riscos de proliferação de micror- centração indicada varia entre 30 a
ganismos indesejáveis desde o início 50 mg/L de SO2. Em uvas saudáveis e
do processo de vinificação. pH elevado é aconselhado o uso de 50
a 90 mg/L de SO2. Em uvas em mau
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estado sanitário indica-se de 90 a


120 mg/L de SO2. É indicado o uso de
bomba dosadora para melhor aplicação.
O processo de homogeneização do
mosto, denominado remontagem, é
uma prática muito importante na etapa
de sulfitagem, pois proporciona me-
lhor ação do sulfito. A utilização do gás
inerte azoto (nitrogênio) pode substituir
Figura 13. Sulfitagem em uvas recém esmagadas a prática habitual de circulação do mos-
to, geralmente realizada por bombas em
Grande parte do SO2 é eliminado tanques fechados. A introdução do gás
durante a fermentação alcoólica, por é feita mediante uso de um difusor no
transformação química ou evapora- interior do tanque, permitindo a entra-
ção. Portanto, pode haver necessida- da do gás no mosto e a consequente
de de correção da quantidade de SO2, agitação do líquido (Figura 14).
Produção de vinho de qualidade 45

Luiz Carlos Rodrigues (LAN/ESALQ/USP)


Figura 14. Mecanismo de adição do gás azoto (Nitrogênio) para remontagem do mosto

Fermentação alcoólica
(ou tumultuosa)
A fermentação alcoólica é marcada A fermentação alcoólica é um pro-
pela alta atividade das leveduras, fun- cesso exotérmico (libera calor). Para
gos unicelulares que, através da ação cada 17g/L de açúcar haverá o au-
biológica, transforma os açúcares do mento de temperatura de aproxima-
mosto (frutose e glicose) em álcool damente 1oC, durante o processo no
etílico (etanol) e gás carbônico (CO2). tanque de fermentação. Temperatu-
A levedura utilizada no processo de ras mais elevadas propiciam a mul-
vinificação é a Saccharomyces cere- tiplicação de microrganismos con-
visiae, e deve apresentar um ótimo ren- taminantes ao processo, podendo
dimento (conversão de açúcares em causar danos ao produto final. Por-
etanol) e alta produtividade (conclu- tanto, o produtor deve dispor de mé-
são da fermentação em menor tem- todos de resfriamento do tanque e/
po). As vinificações em tinto podem ou operar com menores quantida-
ocorrer em temperaturas entre 27oC a des de mosto. A manutenção da fai-
30oC. Porém, durante a vinificação de xa de temperatura ideal permite
vinhos brancos, a fermentação deve maior rendimento alcoólico e redu-
ocorrer em temperaturas mais baixas, ção da perda de etanol por evapo-
entre 15oC e 18oC. Elevadas tempe- ração, interferindo também na qua-
raturas, acima de 40oC, podem causar lidade sensorial e formação de com-
a inativação e morte das leveduras. ponentes aromáticos.
46 Casa do Produtor Rural
O mosto que possuir déficit de oxi- utilizando-se concentrados comer-
gênio terá uma fermentação mais len- ciais compostos por bactérias liofili-
ta e incompleta, apresentando a ne- zadas (desidratadas/granuladas). A
cessidade de adição de oxigênio no reativação e a multiplicação dessas
segundo ou terceiro dia após o início bactérias antes da introdução no
da fermentação. Embora o mosto seja mosto fermentado são procedimen-
previamente composto com altos ní- tos aplicados pelos produtores. A
veis de nitrogênio, há a possibilidade reativação é a operação de adicio-
de que seja deficiente também quan- nar uma parte do vinho nas bactérias
to a essa substância e, neste caso, é liofilizadas e aguardar o tempo indi-
indicado a adição do nutriente para cado para adicioná-la ao tanque.
correção. Na fermentação malolática, o vinho
O final da fermentação alcoólica pode ser oxidado e é exigido maior
ocorre no momento em que não há controle quanto à exposição ao oxi-
mais açúcar para ser fermentado, ou gênio. É desejável o fechamento do
quando a temperatura se aproximar tanque de fermentação e a instalação
dos 33oC e o teor alcoólico atingir 15% de um batoque hidráulico que permi-
(v/v), impedindo a atuação das leve- ta a saída do gás carbônico sem a en-
duras. trada de ar. Em condição favorável
(temperatura aproximada de 20oC e
Fermentação malolática baixo teor de SO 2) a fermentação
(ou lenta) malolática completa-se em torno de
A fermentação malolática caracteri- 12 dias. Em condições desfavoráveis
za-se pela transformação do ácido (pH abaixo de 3,2; teor de SO2 maior
málico em láctico e formação de CO2, que 50mg/L; temperatura inferior a
permitindo a redução da acidez do vi- 18oC) o processo tende a ser mais lon-
nho, estabilidade de atividades micro- go, em torno de 30 dias, ou pode ser
bianas e interação de compostos quí- interrompido completamente.
micos que acentuam o aroma. Ao final da fase malolática, as bac-
Essa etapa pode ocorrer esponta- térias permanecem no vinho durante
neamente, pois bactérias lácticas es- algumas semanas em fase estacioná-
tão presentes naturalmente no mos- ria (sem atividade), porém a bebida
to, porém há casos em que podem ser apresenta perigos de contaminação
introduzidas de maneira artificial. A in- por outras bactérias que estragam o
trodução destas bactérias, (Leuco- vinho, sendo recomendada uma nova
nostoc oenos) no vinho pode ser feita sulfitagem.
Produção de vinho de qualidade 47
Atesto partículas suspensas encontradas no
O atesto consiste em preencher os vinho sejam eliminadas, deixando a
tanques periodicamente, com vinho bebida límpida e cristalina. As partí-
de mesma qualidade, à medida que o culas a serem eliminadas podem ser
nível do vinho recém-fermentado di- de diversos tipos, tais como detritos
minui, devido à evaporação ou mu- minerais e microrganismos. O tipo de
dança de temperatura durante a fer- filtro utilizado deve ser adequado de
mentação do mosto. Dependendo do acordo com a porosidade e permea-
tamanho do tanque onde se encontra bilidade necessária. São classifica-
o vinho recém-fermentado, o atesto dos em quatro categorias: filtro de
deve ser feito semanalmente para re- terra (diatomáceas), filtro de mem-
duzir ao máximo o contato do vinho brana (polímeros sintéticos), filtro de
com o ar, inibindo a multiplicação de placa (celulose) e filtro tangencial
microrganismos nocivos. (alta pressão).
O vinho utilizado no atesto deve ter
da mesma qualidade que aquele que Rotulagem e Engarrafamento
está nos tanques de fermentação. O engarrafamento consiste em pre-
Deve estar límpido e, de preferência, encher o recipiente com uma quanti-
estabilizado. Se não tiver esses cui- dade de vinho e deixar espaço vazio
dados, todo recipiente pode ser con- para eventual evaporação de consti-
taminado por acidificação ou azeda- tuintes e aplicação do sistema de
mento. vedação. Há uma série de cuidados
a serem tomados na prática do en-
Filtração do vinho garrafamento para que não ocorra o
O papel fundamental da filtração, contato do vinho com o oxigênio e o
além da clarificação do vinho, é asse- depósito de impurezas no fundo da
gurar sua estabilidade físico-química garrafa. As garrafas devem ser lava-
e microbiológica. Normalmente os das em máquinas próprias, sendo um
consumidores preferem vinhos claros requisito imprescindível também para
e brilhantes. Por conta desta exigên- as garrafas novas. Quando a lavagem
cia comercial, o vinho requer a elimi- é feita adequadamente, a garrafa usa-
nação de partículas visíveis após a da, depois de limpa, apresenta as
estabilização. A filtração é um proces- mesmas condições de uso que a gar-
so de separação que faz com que as rafa nova.
48 Casa do Produtor Rural
vinho. É um defeito que atinge de 1 a

Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho


5% das garrafas seladas, promove
defeito sensorial do vinho, com desa-
gradável aroma de mofo. A cortiça, por
ser um material de origem natural,
possui condição de extração finita,
podendo não suportar a demanda
mundial atual de produção e consu-
mo de vinho. Com a problemática,
surgem então, os vedantes artificiais,
Figura 15. Engarrafamento indicados para engarrafar vinhos de
consumo imediato, ou seja, vinhos
A rolha é o elemento que preserva jovens (para serem consumidos em
a bebida até o momento de ser até 2 anos após a produção). Porém,
consumida, devendo ocupar o máxi- até o momento, nenhum material sin-
mo de comprimento do gargalo da tético é capaz de proporcionar a qua-
garrafa. lidade de selagem que a cortiça pos-
Deve ser inserida sem danificá-la sui. Deste modo, a rolha natural de
para evitar a formação de fendas que cortiça é mais utilizada em vinhos
possibilitam a entrada de ar e conse- nobres e de guarda.
quente oxidação e acidificação do vi- Outra possibilidade é a vedação
nho. Pode ser feita de diversos mate- com tampa de rosca, material metáli-
riais, porém o tradicionalmente utili- co que proporciona uma ótima sela-
zado é a cortiça (material natural), gem, ausência de TCA, podendo con-
com qualidades biodegradáveis e de servar um vinho por até 20 anos (de-
contribuição para o amadurecimento pendendo de demais fatores de qua-
do vinho, elasticidade e selagem, tor- lidade). No entanto, a tampa de rosca
nando-se ideal para a conservação da também apresenta algumas desvan-
bebida por até 30 anos ou mais. Infeliz- tagens: a) a preferência dos consu-
mente a cortiça apresenta uma desvan- midores pela rolha e o ritual de abrir
tagem que movimentou a indústria a uma garrafa dessa forma, b) podem
procurar alternativas a esse material. estimular o desenvolvimento de odo-
O TCA (2-4-6-Tricloroanisol) é uma res e aromas desagradáveis e c) es-
substância química liberada pela cor- tão suscetíveis aos danos causados
tiça quando contaminada por um fun- durante o transporte, como amassa-
go que compromete a qualidade do mento e/ou rompimento da tampa.
Produção de vinho de qualidade 49
A cor das garrafas é também um tó- quido denomina-se “chapéu”. O res-
pico importante a ser considerado, tante do produto, localizado na parte
pois a incidência da luz é um fator que inferior ao “chapéu”, permanece com
pode ser prejudicial para a conserva- fraca coloração. Para que haja cor ho-
ção do vinho. É necessária, então, a mogênea, realiza-se a operação de
utilização de garrafas escuras, verdes remontagem: um constante movimento
ou acastanhadas, cores que suportam de bombeamento e circulação do lí-
melhor a intensidade luminosa do quido que facilita a extração de cons-
exterior. Como finalização ocorre a tituintes da parte sólida.
capsulagem, feita em uma esteira onde A maceração ocorre simultanea-
a cápsula de plástico ou metal é coloca- mente à fermentação. A permanên-
da sobre a rolha, encobrindo a boca da cia das cascas em contato com o
garrafa para inibir a entrada de ar e, suco possibilita a formação de sa-
consequentemente, a oxidação do vi- bores e aromas e a extração de com-
nho e melhora a estética do recipiente. postos que definem a qualidade da
Em seguida é colocado o rótulo, que bebida. Esse processo pode ser de
representa o conjunto das informações curta duração (três a seis dias), mé-
do vinho e da marca, além de ilustra- dia (sete a dez dias) ou longa (aci-
ções. O contra rótulo, inserido no verso ma de dez dias), diferenciando em
da garrafa, é considerado extensão do maior ou menor complexidade de
rótulo, e contém informações adicionais aromas.
sobre o produto. Entre a primeira (fase tumultuosa)
e a segunda (fase malolática) da fer-
Particularidades da vinificação mentação ocorre a descuba, proces-
de vinhos tintos so em que as partes sólidas (bagaço)
Na fermentação alcoólica de vinhos são separadas do vinho líquido (su-
tintos, a maceração das cascas com o perior) através de uma válvula de sa-
líquido promove a extração de anto- ída do tanque de fermentação. O lí-
cianinas (pigmentos vermelhos) pre- quido é encaminhado para outro tan-
sentes nas cascas das uvas que são que e o bagaço é prensado para ex-
responsáveis pela coloração do vinho tração do vinho-prensa, no qual pode
tinto. O gás carbônico produzido pela ser comer-cializado como bebida de
fermentação faz com que as partes qualidade inferior ou incorporado ao
sólidas do mosto flutuem formando tanque que contém o líquido primá-
uma camada de cascas na superfície. rio, caso apresente características
Essa camada de cascas acima do lí- vantajosas e benéficas para tal.
50 Casa do Produtor Rural
Ao final da descuba inicia-se a fer- realização de trasfegas, filtrações e
mentação de fase lenta (malolática). estabilização tartárica, com a finalida-
A liberação de gás carbônico, forma- de de garantir estabilidade desejada.
do durante a fermentação alcoólica, A borra decantada deve ser extraída
ajuda no equilíbrio dos nutrientes e por filtração ou centrifugação. Podem
na manutenção da temperatura no in- ser utilizados demais agentes, tais
terior dos tanques, através da corren- como as colas, substâncias proteicas
te de convecção produzida. que floculam, e ao precipitarem, ar-
O bagaço, depois de prensado, po- rastam consigo as partículas respon-
derá servir para diversos fins, tais sáveis pela turvação do vinho. Duran-
como adubo ou alimento para gados, te este tipo de estabilização, denomi-
além da produção de bebidas desti- nada colagem, há também a redução
ladas a partir do bagaço de uvas do amargor, da adstringência e tanici-
(grappa, marc, orujo e bagaceira). dade geral do vinho, transformando-
os em mais macios e harmoniosos.
Estabilização do vinho tinto Alguns vinhos são colocados em
Após a saída dos tanques de fer- tanques de aço inoxidável após a sua
mentação, inicia-se a fase de estabili- produção. O aço é inerte e, portanto,
zação. A ação do CO2 produzido du- não irá agregar compostos à bebida
rante a ação das leveduras impede a ou transferir sabor estranho, porém
decantação dos depósitos e eleva a estende o processo de estabilização
turbidez do vinho. Elementos da uva e de componentes e acentuam carac-
das leveduras, como ácidos, polifenóis, terísticas sensoriais.
proteínas e polissacarídeos precisam
ser retirados para que o vinho torne-se Envelhecimento
límpido. Assim o mosto fermentado de- O amadurecimento dos vinhos tin-
verá ser bombeado para grandes tan- tos é normalmente realizado em toneis
ques e permanecer em repouso por de madeira com a finalidade de pro-
aproximadamente três meses, período mover reações químicas que transfor-
necessário para a deposição da borra mam e agregam qualidade sensorial.
no fundo do tanque. Os taninos fortes e adstringentes são
O vinho tinto não deverá permane- transformados em suaves e aveluda-
cer em contato com esses depósitos dos, mediante interação com os com-
por muito tempo, pois as partículas postos extraídos da madeira e per-
depositadas podem transmitir sabores meabilidade seletiva do oxigênio pe-
e aromas indesejáveis. É indicado a las aduelas.
Produção de vinho de qualidade 51
Diversos aromas são incorporados nhos. Diversas espécies são utiliza-
pela extração de constituintes da ma- das no mundo todo, porém as princi-
deira pelo álcool presente no vinho. pais são o carvalho americano
Quanto maior o barril, menor é o im- (Quercus alba) e o carvalho europeu
pacto da madeira no sabor da bebi- (Quercus petraea e Quercus robur).
da, e quanto mais novo, maior o im- Cada espécie possui potencial dife-
pacto de sabores e aromas transmiti- rente de fornecer compostos que con-
do pela madeira. tribuirão para o perfil sensorial da be-
O carvalho é a madeira mais utili- bida, e cabe ao produtor decidir o car-
zada para o envelhecimento de vi- valho ideal para seu vinho.

Luiz Carlos Rodrigues - LAN/ESALQ/USP

Figura 16. Estabilização do vinho tinto e sedimentação das partículas descartáveis


Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho

Figura 17. Armazenamento do vinho tinto em toneis de madeira


52 Casa do Produtor Rural
Maturação na garrafa do um vinho tinto. O seu sabor resulta
Após alcançada a maturação no es- do equilíbrio entre as características
tágio em toneis de madeira, o vinho do vinho branco e do tinto, nas quais
continuará se transformando na gar- sobressaem aromas frutados, espe-
rafa. A qualidade já adquirida será cialmente de frutas vermelhas e ad-
complementada ao longo do tempo. quire leveza e suavidade. A elabora-
Todo vinho amadurece e transforma- ção de vinhos rosados segue a técni-
se, mantém a maturidade por um tem- ca da elaboração em tinto, porém a
po e decai até tornar-se impróprio para obtenção da cor rosada é provenien-
consumo, com seu valor de mercado te da técnica de elaboração em bran-
seguindo proporcionalmente essa as- co durante a fase de fermentação. A
censão e declínio. uva utilizada na produção dos rosa-
A expectativa de vida do vinho é dos depende das variedades predo-
variável, de poucos meses até mais de minantes em cada região produtora.
um século, com exemplos que alcan- O verdadeiro rosado é elaborado a
çam com qualidade os 200 anos de partir do método de maceração de
idade, porém depende de diversos uvas tintas. Durante a fermentação, as
fatores relacionados com a varieda- cascas permanecem em contato com
de da uva e o processo de vinificação. o mosto por um curto tempo, a fim de
Após o engarrafamento, as garra- transferir a leve coloração desejada.
fas são transportadas para o setor de Outro método indica que o rosado
armazenamento e empilhadas hori- pode ser obtido pela mistura de vinhos
zontalmente para manter a rolha úmi- provenientes de diferentes variedades
da e entumecida, evitando assim a de uvas (corte ou assemblage), de um
entrada de oxigênio. O armazena- vinho branco com um vinho tinto. Po-
mento deve ser realizado em local rém, quando produzido dessa forma
arejado, com pouca incidência de luz, não caracteriza o típico rosado.
umidade moderada e temperatura Os rosados classificam-se de acor-
baixa e constante. do com a intensidade da presença da
cor e taninos. Três elementos deter-
Particularidades da vinificação minam a cor do vinho rosado: a uva, o
de vinho rosado ou rosé método de elaboração e a idade da
Durante o processo de fabricação, bebida.
o vinho rosado incorpora a cor prove- Quanto maior o tempo de contato
niente das cascas das uvas tintas, mas do mosto com a casca, intensifica-se
não o suficiente para ser considera- a obtenção da cor, corpo e aromas tí-
Produção de vinho de qualidade 53
picos das variedades tintas. Além dos Rosados Médios
pigmentos, os taninos fornecem estru- Para prolongar a extração de cor
tura e corpo, porém devem ser dosa- por mais tempo, os rosados mais tona-
dos para manter o frescor dos rosa- lizados são produzidos por um médio
dos. A classificação está relacionada período (aproximadamente 12 h) do
com o tempo de contato da casca com mosto em contato com as cascas. Os
o mosto, e é definida em rosados le- tons variam de rosa-pálido, até rosa e
ves, médios e intensos. castanho. Esses vinhos são os mais
produzidos no mundo.
Classificação de vinhos rosados
Rosados Leves Rosados Intensos
São produzidos em curto período Podem-se produzir rosados como se
(aproximadamente 6h) do mosto em fossem quase tintos. O maior contato
contato com as cascas. O vinho ad- das cascas (aproximadamente 24 h)
quire frescor e notas frutadas, com e a prática de remontagem garantem
baixa presença de taninos. Esse é o a presença de cor e taninos acentua-
estilo da maioria dos vinhos france- dos. Com tonalidades vermelho-cla-
ses rosados da Provence, delicados e ros, possuem riqueza aromática, sa-
aromáticos. bores mais intensos e frescor.

Figura 18. Coloração dos vinhos rosados


54 Casa do Produtor Rural
Método de maceração
Com desengace e esmagamento da tensifica a extração da cor e taninos
uva, inicia-se a maceração a frio para nos tintos. O líquido descartado (se-
extração da cor. Em seguida, a uva deve parado) por este procedimento é um
ser prensada e o mosto é decantado mosto leve e rosado e pode dar ori-
para início da fermentação alcoólica. O gem ao vinho rosados de sangria.
processo de elaboração dos vinhos ro- Os rosados obtidos pela sangria têm
sados segue idêntico ao processo clás- grau alcoólico superior a 13% e aci-
sico de elaboração dos vinhos brancos dez reduzida, porém possuem qua-
(fermentação em baixa temperatura), lidade inferior aos rosados de mace-
com o objetivo de preservar as caracte- ração.
rísticas de frescor e aromas leves que
esse processo possibilita. Particularidades da vinificação
Outro tipo de maceração é a deno- de vinho branco
minada carbônica. As uvas tintas de- A presença das cascas da uva du-
vem ser colhidas em sub maturação, rante a fermentação é o que determi-
com açúcar até 23,7o Brix, e com aci- na a diferença entre a produção de
dez natural para que o vinho final re- vinhos tintos e brancos. O vinho bran-
sulte uma bebida refrescante e fru- co pode ser elaborado tanto com uvas
tada. Neste processo, as uvas não brancas como com uvas tintas. A colo-
esmagadas são acondicionadas em ração contida no vinho provém da
uma atmosfera de CO2 e a fermentação casca, elemento retirado para a vini-
inicia-se lentamente, permitindo a con- ficação em branco. Contudo, o sabor
centração de compostos de aromas. e os aromas do produto final serão
diferenciados de acordo com a esco-
Método de sangria de massas tintas lha do produtor.
Na produção de vinhos tintos en- A casca da uva possui altas con-
corpados, a sangria é uma técnica de centrações de compostos fenólicos,
concentração de cores e componen- antioxidantes que favorecem o proces-
tes. O vinho rosado pode ser produzido so de produção e dificultam a contami-
a partir do subproduto desta técnica. nação. A ausência da casca em vinhos
A sangria ocorre com a retirada de brancos ocasiona maior vulnerabi-
parte do líquido (menos concentrado) lidade à oxidação, sendo sua elabora-
pelo fundo do tanque, horas após o ção um processo mais delicado, que ne-
início da fermentação. O aumento da cessita de mais intervenções tecnoló-
concentração de cascas no mosto in- gicas e não tolera erros de processo.
Produção de vinho de qualidade 55
Operações pré-fermentativas sorial, como acidez equilibrada e aro-
Prensagem mas estáveis. A escolha do método de
A prensagem na pré-fermentação, clarificação a ser utilizado dependerá
processo realizado na produção de vi- da estrutura e orçamento disponível
nhos brancos, pode ser aplicada na uva pelo produtor, do volume e composi-
inteira ou desengaçada e esmagada, ção do mosto, do tipo e safra da uva.
com opções de equipamentos variados. Os métodos de clarificação a serem
A prensagem da uva inteira permite utilizados na produção de vinho bran-
trabalhar com baixas pressões na ex- co podem ser sedimentação, centrifu-
tração do mosto-flor, líquido de alta gação, filtração e flotação ou flu-
qualidade enológica que corres- tuação.
ponde a 50% do mosto total e escorre
livremente como simples resultado do Sedimentação
peso das uvas antes de se aplicar A sedimentação é possível caso o
qualquer pressão mecânica com uma mosto não tenha entrado em fermen-
prensa. Após essa primeira extração, tação e as borras não se elevaram pelo
a pressão é aumentada e a pren- borbulhar do CO2. A velocidade da se-
sagem realizada até o esgotamento dimentação aumenta conforme o diâ-
da uva (procedimento que ao contrá- metro das partículas sólidas, ou seja,
rio da obtenção do mosto-flor), que li- as borras mais grossas serão sedi-
bera substâncias de amargor e mentadas mais rapidamente. Normal-
adstringência. Na prensagem da uva mente o tempo de duração da sedi-
desengaçada e esmagada é possível mentação oscila entre 24 e 48 horas.
aplicar níveis de pressão maiores, ob- A adição de enzimas pectolíticas
tendo outros mostos-prensa (extraídos (liofilizadas ou em preparo líquido)
por prensagem, após a retirada do aceleram o processo. Os tanques
mosto-flor). Os mostos obtidos em onde ocorrerá a sedimentação não
pressões mais elevadas e classifica- devem ter altura elevada, para que as
dos de qualidade inferior são normal- borras depositem-se por completo até
mente fermentados e engarrafados se- o início involuntário da fermentação
paradamente. alcoólica.
Agentes clarificantes que auxiliam
Clarificação do mosto a sedimentação:
É necessária a clarificação do mos- 1. Origem animal: gelatina, caseína,
to, pois é através dessa etapa que o albumina de ovo, caseinatos e
vinho branco adquire qualidade sen- ictiocola (cola de peixe);
56 Casa do Produtor Rural
2. Origem vegetal: ágar-ágar, celulo- depositada continuamente, formando
se e alginato de sódio; sobre as lonas uma camada cada vez
3. Origem biológica: enzimas e leve- mais espessa. O bombeamento sob
duras; alta pressão faz com que as partícu-
4. Origem sintética: PVP (polivinilpir- las se acomodem de forma a gerar
rolidona), PVPP (polivinilpolipir- borras compactas e com baixo nível
rolidona) e poliamida; de umidade no final do processo. Com
5. Origem mineral: bentonita (mistu- a abertura do equipamento, as borras
ras de argilas impuras), sais de são retidas para descarte ou reapro-
sílica, carvão e terras filtrantes veitamento. O filtro rotativo a vácuo
(perlita e diatomáceas). funciona pelo movimento de rotação,
permitindo que a borra vá de encon-
Centrifugação tro a uma lâmina que a corta em pelí-
A centrifugação atua pelo princípio culas finas e promove a renovação da
da rotação em alta velocidade (força camada filtrante.
centrífuga), um método de separação
muito mais rápido do que a sedimen- Flutuação/Flotação
tação estática, porém com uso de A flutuação age de acordo com a ten-
equipamento específico. Ao entrar em dência à união que as partículas do
rotação, as partículas mais pesadas mosto apresentam em relação as bo-
são conduzidas para as paredes e lhas gasosas, normalmente provenien-
para o fundo da centrífuga. tes do gás azoto (nitrogênio). Formam
agregados com massa volumétrica in-
Filtração ferior a do líquido. As partículas agrega-
A filtração consiste em uma técnica das são conduzidas para a superfície e
de separação mecânica através de podem ser eliminadas.
um meio poroso, o filtro. Apesar de Pesquisas comparativas comprovam
haver vários modelos, o filtro-prensa a vantagem da sedimentação clássica
e o filtro rotativo a vácuo são os que ao uso de enzimas pectinolíticas. Os
proporcionam os melhores resultados. mostos mais clarificados realizam fer-
No filtro-prensa, a passagem do mos- mentação com mais dificuldade, pois
to é forçada por elementos filtrantes contém maiores índices de esteróis e
permeáveis pelo bombeamento des- ácidos graxos de cadeia longa. Em
tas soluções contra as lonas filtrantes contrapartida, os vinhos resultantes
que só permitem a passagem da par- apresentam melhores características
te líquida da solução. A parte sólida é sensoriais.
Produção de vinho de qualidade 57
Fermentação
O controle da temperatura duran- sagem. A depuração deve ser reali-
te a fermentação permite conferir ca- zada em tanques de aço inoxidável,
racterísticas diferentes ao vinho com temperatura controlada em tor-
branco. Mantendo-se a ocorrência no dos 9oC, através da adição de SO2
da fermentação em temperaturas (50-100 mg/L ou doses mais eleva-
mais baixas (até 15oC), ocorre a pro- das, quando necessário) que acele-
dução de brancos mais frutados e ram e facilitam o depósito das bor-
com vida mais curta. Ao elevar a ras, juntamente com a ação da tem-
temperatura os vinhos tornam-se peratura baixa. O método de “bica
mais resistentes. Poucos produto- aberta”, realizado com uvas sem
res optam pelo uso de barris de car- cascas, resulta em vinhos brancos
valho para a fermentação, onde a menos intensos, com aromas finos
oxigenação promovida pelo barril e delicados.
reduz o frescor do vinho. Dois méto-
dos de fermentação são utilizados, Técnicas fermentativas - “maceração
denominados “bica aberta” e “mace- peculiar”
ração peculiar”. A maceração peculiar foi desenvol-
vida pela indústria que estava à pro-
Técnicas fermentativas - “Bica aberta” cura de um vinho mais estável ao lon-
A extração do mosto para a produ- go do tempo, encorpado e persisten-
ção de vinhos brancos pode ser reali- te. Esse processo ocorre na presença
zada de diferentes formas. A fermen- das películas da uva, mas na ausên-
tação conhecida como “bica aberta” cia de engaços, e pode ser conduzi-
é o processo mais tradicional entre do em temperaturas mais baixas, que
as opções de vinificação de vinhos variam de 5oC a 15oC, para evitar o
brancos e ocorre quando há separa- início da fermentação alcoólica duran-
ção das partes sólidas (cascas e se- te o tempo de 2 horas a 24 horas. A
mentes) e líquidas da uva, realizada duração da maceração peculiar de-
através da prensagem. Durante o pro- termina o grau de extração dos
cesso poderá haver depuração, que polifenóis presentes nas películas e
é o retardamento da fermentação em das substâncias responsáveis pelo
24 a 48 horas, para que haja o depó- sabor e aroma da bebida (polis-
sito das impurezas e partes sólidas sacarídeos totais, aminoácidos e
que não conseguiram ser anterior- terpenóis livres). Caso o produtor opte
mente separadas durante a pren- pelo método da maceração peculiar,
58 Casa do Produtor Rural
a hiperoxigenação do mosto é uma Charmat, onde ocorre em tanques de
técnica que pode ser aplicada, apre- aço inoxidável.
sentando vantagens ao vinho branco
derivado de uvas tintas. Na produção Produção do vinho base (primeira fer-
de vinho branco a presença de mentação)
polifenóis não é desejável, pois quan- Todos os espumantes surgem de
do há contato com o ar, provocam o um vinho “tranquilo” (sem bolhas de
escurecimento do vinho e alterações CO2), chamado vinho base. A produ-
do aroma. A hiperoxigenação trata-se ção do vinho base segue quase os
de uma técnica que induz a precipi- mesmos processos do vinho branco.
tação de polifenóis para o fundo do As variedades de uva mais utilizadas
tanque, permitindo a sua fácil elimi- são a Chardonnay e Riesling/Mos-
nação e clareamento do mosto. A catel (variedades brancas) e Pinot
hiperoxigenação causa também a Noir, Cabernet Franc (variedades tin-
possibilidade de conservação do tas), entre outras.
mosto com doses muito baixas de O vinho base deverá apresentar as
SO 2, não sendo, no entanto, dispen- características:
sável o uso de SO2. • Preservação do CO2 produzido na-
turalmente durante a fermentação
Particularidades da vinificação alcoólica;
de espumantes • Menor utilização de substâncias
O espumante é um vinho que pos- clarificantes;
sui maior concentração de gás CO2 • Realização obrigatória da fermenta-
(dióxido de carbono) e portanto, pro- ção malolática;
move a percepção de bolhas, pro- • Teor de açúcar residual menor que
venientes da segunda fermentação 2 g/L;
(espumante natural) das uvas ou da • Teor alcoólico entre 10% e 11,5%;
adição realizada artificialmente (es- • Teor do SO2 menor que 50 mg/L.
pumante gaseificado). Dois métodos O vinho base pode ser varietal (pro-
de produção são utilizados, o méto- duzido a partir de apenas uma varieda-
do Champenoise, onde a fermentação de de uva) ou de corte/assemblage (com-
secundária do vinho base ocorre binação de vinhos de diferentes varie-
dentro da garrafa; e o método dades de uva), de uma ou mais safras.
Produção de vinho de qualidade 59

Luiz Carlos Rodrigues - LAN/ESALQ/USP

Figura 19. Processo de vinificação de espumantes


60 Casa do Produtor Rural
Produção do espumante (segunda fer- Ao término da segunda fermenta-
mentação) ção, as garrafas são armazenadas e
A produção do espumante caracte- a maturação do espumante é realiza-
riza-se principalmente pela ação de da através da autólise (morte) das le-
leveduras na fermentação do vinho veduras, processo microbiológico que
base, caracterizando a segunda fer- libera substâncias e acrescentam qua-
mentação. Três métodos de produção lidade no sabor e aroma do espuman-
de espumantes são abordados, o te. Como neste método não há filtra-
Champenoise, Charmat e Moscatel. ções, toda substância sedimentada
deve ser retirada na própria garrafa,
Método Champenoise para isso é fundamental que as leve-
É o método tradicional de produção duras sejam de linhagens que possi-
de espumantes e o único permitido na bilitem a sedimentação facilitada. A re-
região de Champagne, na França. To- tirada das borras deve ser efetuada
das as etapas que caracterizam o pro- com sua condução até o bico da gar-
cesso de produção acontecem dentro rafa. A rémuage facilita a condução das
da garrafa champanheira, com exce- borras até a tampa e caracteriza-se
ção da mistura inicial do vinho base pela rotação manual e constante da
com o açúcar e leveduras (licor de garrafa, com o bico para baixo em
tirage), a qual pode ser realizada em estrados de madeira dispostos em
tanques possuidores de agitador, posição de V invertido (Figura 20). Pri-
tornando melhor a homogeneização. meiramente as garrafas são coloca-
Após a mistura, o vinho base é direta- das em posição quase horizontal e
mente engarrafado. A garrafa é vedada diariamente movidas com giros que
e colocada horizontalmente em uma provocam posições mais inclinadas,
sala onde seja possível o controle da até atingirem um ângulo quase verti-
temperatura. A segunda fermentação (a cal. A rémuage dura aproximadamen-
do vinho base) deve ocorrer em am- te 15 dias e é imprescindível que seja
bientes com temperatura entre 12oC e feita lenta e cuidadosamente. Normal-
15oC, onde as garrafas devem ser dis- mente a rémuage é manual, porém,
postas horizontalmente. O período da quando é realizada de forma mecâni-
segunda fermentação no processo ca, um sistema chamado Giro Pallets
Champenoise varia de 15 a 30 dias, de promove a rotação de grande número
acordo com a temperatura que, abai- de garrafas ao mesmo tempo, dimi-
xo de 10oC ou acima de 20oC, podem nuindo o tempo do processo para apro-
causar defeitos fermentativos. ximadamente 5 dias.
Produção de vinho de qualidade 61
mento, ou champagel, a -30oC. Assim,

Núcleo Tecnológico EPAMIG Uva e Vinho


o sedimento concentrado na parte su-
perior do gargalo é congelado e ex-
pulso por pressão com a abertura da
cápsula coroa, ficando o espumante
livre do depósito.
Ao final do dégorgement o espu-
mante engarrafado perde volume e
é necessário atestá-lo. É o momen-
to de adição do licor de expedição.
Figura 20. Garrafas de espumante armazenadas de A partir deste momento, o espuman-
forma a facilitar a retirada das substâncias
sedimentadas te está pronto para receber a rolha
definitiva, a gaiolinha, o rótulo (após
Após a rémuage, com as borras equalização da temperatura da gar-
conduzidas para o gargalo da garrafa rafa com o ambiente) e ser comer-
realiza-se o dégorgement, que é retira- cializado.
da simultânea da cápsula de coroa e O licor de expedição é elaborado
da borra depositada nela. Para tal pro- pelo produtor com açúcar refinado na
cesso, as garrafas são colocadas em proporção necessária para atingir a
posição vertical invertida (de “boca” característica desejada ao produto fi-
para baixo) em uma câmara fria a 0oC nal. O teor de sacarose adicionado
e congeladas apenas na região do classifica a categoria em que o espu-
gargalo, com uso de um equipamento mante se encaixa, como mostrado na
que promove um banho de congela- Tabela 9.

Tabela 9. Categoria do espumante


CATEGORIA SACAROSE
Brut Nature < 3 g/L
Extra Brut < 6 g/L
Brut < 15 g/L
Extra Sec 12 - 20 g/L
Sec 17 - 35 g/L
Semi Sec 33 - 55 g/L
Doce > 50 g/L
Fonte: BRASIL, 2004
62 Casa do Produtor Rural
Método Charmat As leveduras utilizadas nessa
O uso de tanques de aço inoxidá- vinificação diferem-se das utilizadas
vel que suportam alta pressão du- nos vinhos tranquilos. São utilizadas
rante a segunda fermentação do vi- leveduras selecionadas específicas
nho base é um método mais econô- para realizarem a segunda fermen-
mico para produzir as borbulhas de tação. A forma de introdução destas
CO 2. Os tanques possuem tecnolo- leveduras no vinho base através do
gias de controle da temperatura, licor de tirage pode ser:
agitador para a mistura das maté- • misturar a solução de sacarose a
rias-primas e manômetro para con- 50% (m/v);
trole do aumento da pressão. Como • inserir as leveduras em água morna
a pressão é um fator essencial de em volume dez vezes maior do que
qualidade no produto final, todos os o peso das leveduras;
processos devem ser realizados em • agitar e deixar repousar por aproxi-
condições isobáricas. madamente 20 minutos (início de
Uma quantidade de açúcar na intensa produção de espuma);
forma de sacarose (licor de tirage) • incorporar o preparado ao vinho
deve ser adicionada aos tanques base.
contendo o vinho base, provocan- Após mistura do licor de tirage com
do o início da segunda fermenta- o vinho base, o processo da segun-
ção. A adição do açúcar é respon- da fermentação deverá ter a tempe-
sável pela formação de CO 2 atra- ratura monitorada. Temperaturas de
vés da atividade das leveduras, 10oC a 14oC produzem espumantes
causando o desenvolvimento de de aromas mais leves e frutados, já
pressão e produção de espuma. as temperaturas de 14 oC a 18 oC re-
Assume-se que, com o vinho base sultam um espumante de aromas
a 10 oC, são necessários adição de mais intensos. Durante o período de
4 g/L de sacarose para atingir 1 atm 20 a 30 dias será necessário con-
de pressão, concluindo-se que trolar a população de leveduras e
para atingir 6 atm é necessário a acompanhar a evolução sensorial da
adição de 24 g/L de sacarose. A bebida. É importante evitar a perda
elevação do teor alcoólico causa- de pressão adquirida durante a se-
da pela adição de sacarose deve gunda fermentação.
ser calculada e considerada como O licor de expedição é que deter-
características do seu produto fi- mina em qual das diferentes cate-
nal. gorias o espumante será classifica-
Produção de vinho de qualidade 63
do, de acordo com o teor de açúcar ampliar a formação de aromas. Esse
apresentado. O licor de expedição é procedimento é adotado na Itália e em
preparado com base em uma solu- outras regiões vitivinícolas, como, na
ção de sacarose a 75% (m/v) e deve Serra Gaúcha (estado do Rio Grande
ser adicionado após a segunda fer- do Sul, Brasil). No caso do Vale do
mentação. São Francisco (estado de Pernam-
Ao término da filtração o espuman- buco e Bahia, Brasil). Portanto, pode-
te é encaminhado para o engarrafa- se elaborar espumante moscatel utili-
mento, realizado em tanques isobá- zando o mosto obtido diretamente
ricos (compartimento selado que após a colheita da uva.
permite manter a pressão interna A fermentação alcoólica é execu-
constante e controlada) e tempera- tada a temperatura de 10oC até atin-
tura aproximada de 0 oC, para con- gir a graduação alcoólica de aproxi-
servar o teor de CO 2 e a espuma que madamente 6,5%, permitindo a saí-
foi adquirida nos processos anterio- da do CO2 formado durante o pro-
res. cesso. A seguir, inicia-se a tomada
de espuma, impedindo a saída de
Método Moscatel CO2 do tanque de fermentação. As-
Proveniente da uva tipo moscato sim, a pressão pode atingir cerca de
ou moscatel, o método utiliza exclu- 6 atm, e o mosto possui em torno de
sivamente essa variedade da fruta. 7,5% (v/v) de etanol. O líquido deve
Assim como o Champagne, é ser esfriado bruscamente até -3oC, o
nominado de acordo com a região que provoca a paralisação imediata
onde é elaborado, a cidade de Asti da fermentação alcoólica. Deve-se
na Itália (e Moscatel quando produ- manter essa temperatura por apro-
zidos fora desse local). Ao contrário ximadamente 15 dias para que haja
dos outros métodos citados, o a precipitação das leveduras e par-
Moscatel é submetido a apenas uma tículas contidas no mosto. Após esse
fermentação parcial. Para sua ela- período, o espumante moscatel é fil-
boração, parte-se do mosto da uva trado em condições isobáricas (sem
e não do vinho base. perda de pressão) e imediatamente
Após a extração, o mosto é filtra- engarrafado. Como a fermentação
do e conservado em tanque dentro alcoólica não é completa, ele torna-
de câmara fria para que a fermenta- se doce e com baixo teor alcoólico.
ção não se inicie. Normalmente uti- Por isso, esse tipo de vinho espu-
lizam-se enzimas pectolíticas para mante deve ser consumido novo, de
64 Casa do Produtor Rural
preferência no mesmo ano de sua tivo, a colocação da rolha deve ser
elaboração, para conservar seu aro- realizada com máquinas de opera-
ma floral e frutado. ção manual ou automática, que in-
troduzem a peça com pressão sufi-
ciente para que ocorra a redução do

Luiz Carlos Rodrigues - LAN/ESALQ/USP


COLHEITA E RECEPÇÃO
seu diâmetro.
Após o engarrafamento e rotula-
SEPARAÇÃO DAS BAGAS E ESMAGAMENTO
gem do produto, é indicado manter
o controle sobre a pressão interna
CLARIFICAÇÃO
por 30 dias antes de comercializá-
lo, pois existe o risco de quebras de
FERMENTAÇÃO
algumas garrafas durante esse pe-
ríodo.
FILTRAÇÃO

Particularidades na produção de
ENGARRAFAMENTO
vinho licoroso/fortificado
O vinho fortificado caracteriza-se
FECHAMENTO (ROLHA)
pelo alto teor alcoólico (14 a 18%) e,
Figura 21. Produção de espumantes moscatéis normalmente, elevado dulçor. Nes-
te processo o vinho recebe adição
de aguardente vínica ou outra bebi-
Engarrafamento de espumantes da destilada, que eleva o teor al-
O engarrafamento do espumante coólico e possui também a função
requer o uso de garrafas que supor- de inibir as leveduras existentes no
tem até seis vezes a pressão da be- mosto, interrompendo o processo de
bida. Essas garrafas são chamadas fermentação, para que parte do açú-
champanheiras e após o enchimen- car continue presente na bebida. O
to recebem a colocação da rolha e sabor adocicado provém do açúcar
da coroa (conjunto de arames que residual da fermentação das uvas
protege a rolha de possível estouro altamente maduras, o que pode ser
precoce ao consumo). O diâmetro da adquirido pela sobrematuração das
rolha destinada ao engarrafamento uvas (colheita tardia), pela pas-
de espumantes difere das outras, sificação (desidratação das uvas),
variando de 28 a 31 mm e mede ou também um processo chamado
mais do que o diâmetro interno do de “podridão nobre”. A podridão no-
bico da garrafa (18 mm). Por tal mo- bre ocorre quando o fungo Botrytis
Produção de vinho de qualidade 65
cinerea instala-se na fase final de As diversas maneiras de se pro-
amadurecimento da uva e age so- duzir licorosos é que faz do tipo lico-
bre sua película, desidratando-a e roso uma categoria à parte do res-
aumentado a concentração de açú- tante dos vinhos, pois cada escolha
car. Contudo, ao contrário do que se feita durante suas etapas de vinifi-
imagina, nem todo vinho licoroso é cação resulta em produtos únicos.
doce, podendo ser também seco ou No Brasil, os poucos licorosos pro-
semi seco, pois mesmo que seja duzidos seguem a técnica da colhei-
elaborado com uvas contendo alto ta tardia, e geralmente o mosto é forti-
teor de açúcar (aproximadamente ficado no início da fermentação quan-
600 g/L), não há definição específi- do ainda contém alta concentração de
ca quanto às concentrações de açú- açúcar e pouco teor alcoólico.
car residual, podendo variar de 0 a
200 g/L. Sobrematuração ou colheita tardia da
Os vinhos licorosos podem ser uva
brancos, rosados ou tintos, e não Para a elaboração de vinhos lico-
devem ser confundidos com os cha- rosos, a uva tem sua concentração
mados vinhos suaves, de qualidade de açúcar potencializada pela desi-
considerada inferior, pois ao contrá- dratação da baga no estágio deno-
rio destes, seu açúcar é provenien- minado de sobrematuração. Pode-
te de forma exclusiva e natural das se considerar que o início da sobre-
uvas e não por adição de altas con- maturação seja o momento a partir
centrações de açúcar ao mosto do qual a uva atinge seu tamanho e
(chaptalização) ou ao vinho final. peso máximos.
As variações de vinhos licorosos A característica genética do culti-
e seus respectivos nomes são defi- var determina o potencial de acúmu-
nidos de acordo com o local de ori- lo de açúcar e outros componentes. Ou-
gem. Também conhecidos como “vi- tros fatores também podem influen-
nhos de sobremesa”, são geralmen- ciar na maturação, como é o caso
te encorpados dado suas caracte- do sistema de condução de nutrien-
rísticas de complexidade e estabili- tes até a planta, a produtividade do
dade. Para o produtor é importante vinhedo e a temperatura no período
notar que no caso de licorosos do- de amadurecimento. Altas tempera-
ces a alta acidez deve ser evitada, turas, baixa umidade e boa ventila-
mas também não é desejável que ção são ótimas condições para a
esteja em teores muito baixos. sobrematuração bem sucedida.
66 Casa do Produtor Rural
Passificação (desidratação)
Geralmente as uvas são colhidas estufas de dessecamento e secado-
ao término da maturação. Em segui- res, com o uso de ar quente para di-
da, os cachos são deixados para se- minuir a umidade relativa do ar. Nes-
car em ambientes naturais ou artifi- te caso, o tempo de passificação é
ciais. Isto causa uma desidratação reduzido aproximadamente a 10-
progressiva, num processo similar 15% do tempo necessário para a
ao da produção de passas. Como passificação natural.
resultado, a perda de água causa
maior concentração do açúcar nas Podridão nobre
uvas. Em ambiente natural ocorre a A podridão nobre é a conse-
exposição dos cachos, sobre palhas quência positiva do aparecimento
e outros suportes apropriados, ou de um fungo nas vinhas. O desen-
também a suspensão dos mesmos volvimento do fungo Botrytis cinerea
durante um determinado tempo. A em condições únicas de clima (tem-
técnica de passificação atinge perío- po seco) e na fase final de maturação
do crítico nos primeiros dias, quan- das uvas, ocasiona o amolecimento
do a umidade ainda é elevada, com da casca da uva e a perda de água.
perigo de podridão comum e conta- As bagas murcham e tornam-se ri-
minação excessiva. Quando suspen- cas em açúcar, produzindo a chama-
didos em arames, há melhor contro- da podridão nobre. Porém, em con-
le sobre as podridões dos cachos, dições onde a umidade é elevada, o
pois quando uma das bagas é infes- mesmo fungo manifesta-se na sua
tada com fungos esta pode ser reti- forma destrutiva, chamada podridão
rada antes de contaminar as outras cinzenta, que pode arruinar colhei-
bagas sadias do cacho. tas completas, reduzindo a qualida-
O tempo necessário para a passifi- de e quantidade da produção.
cação depende da variedade de Para o desenvolvimento do Botrytis
uva, do grau de maturação e sobre- cinerea na sua forma benéfica, as
tudo das condições climatológicas, uvas devem estar plenamente ma-
variando desde alguns dias até qua- duras, e não podem apresentar feri-
tro ou cinco semanas. mentos. Com uma umidade inicial
Nas regiões vitícolas onde as con- de 90% durante 24 horas, os esporos
dições atmosféricas não são propí- de Botrytis cinerea germinam e o fun-
cias para permitir a passificação na- go cresce sobre e no interior das
tural, o produtor deverá recorrer às películas das bagas. As bagas se-
Produção de vinho de qualidade 67
cam como passas adquirindo um aro- perda de água por evaporação rela-
ma associado ao sabor de caramelo. cionada à alteração da película da uva
Quando o fungo se desenvolve pro- pelo fungo. O desenvolvimento do fun-
longadamente, a baga da uva torna- go na uva causa profundas modifica-
se murcha e enrugada, características ções na composição química do mos-
da podridão nobre. to e consequentemente ao seu vinho,
As bagas reduzem seu peso consi- sendo responsável pela formação de
deravelmente, em até 50% da sua novos compostos e degradação de al-
massa inicial, como consequência da guns componentes, conforme Tabela 10.

Tabela 10. Composição do mosto de uvas sadias e com podridão nobre


PESO DE ACIDEZ ACIDEZ ÁCIDO ÁCIDO
CONDIÇÃO ÁÇÚCARES GLICEROL
100 BAGAS TOTAL TARTÁRICO MÁLICO GLUCÔNICO
DA UVA (g/L) (mmol/L)
(g) (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L) (mmol/L)
Sadias 218 199 100 91 35 205 0
Podridão
nobre 117 341 145 78 41 8807 2872
Fonte: FLANZY, 2000
68 Casa do Produtor Rural

Controle de Qualidade e
Composição do Vinho
Ponto de maturação, colheita e
classificação da uva
O estágio de maturação das uvas refratômetro ou na vinícola com o au-
deve ser aferido pelo produtor antes xílio de um densímetro, também co-
de realizar a colheita, através da veri- nhecido como mostímetro. Deve-se,
ficação dos valores de Brix, ácidos, para tanto, colher amostras represen-
pH (maturação tecnológica) e poli- tativas das uvas (bagas de diferentes
fenóis (maturação fenólica) com o videiras) de todo o vinhedo, colocar o
mosto a 20oC (temperatura referência). mosto em uma proveta e efetuar a
A medição do teor de sólidos solúveis, medição. Quanto mais açúcar o mos-
representado pela concentração de to contiver, mais denso ele será, e as-
açúcares (glucose e frutose) contido sim torna-se possível calcular o teor
no suco das uvas, é realizada através alcoólico potencial do vinho que será
da escala em graus Brix. A medição produzido. A Tabela 11 apresenta os
pode ser feita diretamente no vinhe- principais compostos dos mostos, as-
do, com um equipamento chamado sim como suas concentrações.
Produção de vinho de qualidade 69
Tabela 11. Concentrações médias da composição do mosto
CONSTITUINTES CONCENTRAÇÃO (g/L)
Água 700 - 850
Glicídios (açúcares) 140 - 250
Polissacarídios 3-5
Álcoois -
Poliálcoois -
Ácidos Orgânicos 9,0 - 27,0
Polifenóis 0,5
Compostos Nitrogenados 4-7
Minerais 0,8 - 2,8
Vitaminas 0,2 - 0,8
Fonte: FLANZY, 2000

Considerando que para se obter 1% corresponderá a um aumento de 3


(v/v) de álcool etílico durante a fer- pontos percentuais no teor alcoólico
mentação alcoólica são necessários do vinho.
aproximadamente 17,0 g/L de açúcar A acidez total do mosto, ao contrá-
proveniente da uva, os vinhos devem rio dos açúcares, diminui ao longo do
proporcionar uvas que contenham ao tempo. Sua medição é realizada por
menos 12,6% (126 g/L) de açúcares método titulométrico, procedimento
fermentescíveis. Com esse valor os baseado na quantidade necessária de
vinhos podem atingir o grau alcoólico um reagente básico de concentração
final entre 7,4% (v/v), dependendo da conhecida (solução padrão) para neu-
variedade desejada. Assim, quanto tralizar outro de concentração desco-
maior o teor de açúcares do mosto, nhecida. A titulação consiste em adi-
mais elevado será o grau alcoólico do cionar controladamente, por intermé-
vinho. dio de uma bureta, uma solução
Quando a uva não apresentar o Brix (titulante) sobre outra solução (titula-
mínimo ideal, a prática da chapta- do), que normalmente está em um fras-
lização (adição de açúcar no mosto) co Erlenmeyer até que a reação se
é comumente empregada dentro dos complete. Durante o processo faz-se
valores estabelecidos pela legislação reagir um ácido com uma base para
brasileira, não devendo ultrapassar a que se atinja o ponto de equivalên-
correção máxima de 51g/L, o que cia (fim da reação). À medida que é
70 Casa do Produtor Rural
adicionado o titulante ao titulado, o nícola. Tradicionalmente, a colheita
pH da solução (titulante + titulado) manual ocorre na maioria das produ-
varia, sendo possível construir um grá- ções. Durante a colheita, alguns fato-
fico desta variação, ao qual se dá o res influenciam diretamente na quali-
nome de curva de titulação. O ponto dade do vinho, são eles: o período do
de equivalência pode variar depen- dia, a temperatura, a uniformidade da
dendo da concentração inicial do maturação da uva, a higiene na reti-
titulante e do titulado. A titulação ter- rada de cachos podres e outras suji-
mina quando é evidenciada a mudan- dades, o treinamento da equipe e o
ça de cor da solução do Erlenmeyer. acondicionamento dos cachos.
A medição da acidez total do mosto O ideal é colher logo ao amanhe-
é empregada juntamente com a me- cer, com o tempo seco, a temperatura
dida da concentração de açúcares, amena e a fruta perfeitamente madu-
pois o equilíbrio entre esses dois teo- ra. Os recipientes contendo os cachos
res é determinante para sua qualida- devem ser imediatamente e cuidado-
de do processo e do produto final. samente transportados até a vinícola,
Diretamente relacionado com a sempre protegidos do sol, da poeira e
medida da acidez, o valor do pH do da chuva. Na vinícola as uvas devem
mosto de uvas aumenta durante sua ser selecionadas, pesadas e classifi-
maturação. Esta é a característica cadas para imediatamente seguirem
química que dita as condições de con- ao processo de amassamento.
servação, pois, quanto menor o pH, É indicado o acompanhamento da
maior a resistência à contaminação por fermentação mediante retirada de
bactérias. Portanto, a correção do pH duas amostras diárias do mosto, uma
(correção ácida) age como um podero- de manhã e outra no fim da tarde.
so fator de seleção da flora microbiana Além da temperatura, as amostras in-
de acordo com as necessidades do dicam o teor de açúcar, que pode ser
mosto, controlando sua sanidade. determinado diretamente ou indireta-
O valor ideal esperado para cada mente através da massa volumétrica
característica do mosto muda de acor- e densidade relativa do mosto.
do com a variedade de vinho que se A composição final depende do tipo
deseja produzir. Tais valores podem ser de vinho produzido, devendo respei-
consultados no capítulo de Legislação. tar os parâmetros determinados pela
Confirmada a maturação ideal da legislação (ver capítulo 2). A Tabela
uva, os cachos devem ser colhidos 12 apresenta parâmetros gerais e
com cuidado e transportados até a vi- ideais da composição do vinho.
Produção de vinho de qualidade 71
Luiz Carlos Rodrigues - LAN/ESALQ/USP

Figura 22. Método titulométrico para determinação da acidez

Tabela 12. Concentrações de componentes do vinho


CONSTITUINTES CONCENTRAÇÃO (g/L)
Água 750 - 900
Glicídios 0,1 - 5
Polissacarídios 2-4
Álcoois 69 - 121
Poliálcoois 5 - 20
Ácidos Orgânicos 3 - 20
Polifenóis 2-6
Compostos Nitrogenados 3-6
Minerais 0,6 - 2,5
Vitaminas 0,2 - 0,7
Fonte: FLANZY, 2000
72 Casa do Produtor Rural

Vinhos no Brasil
Produção
A produção de vinhos brasileiros Com cerca de 1,1 mil vinícolas no
iniciou-se na época da colonização. país, a maioria é instalada em peque-
O Brasil é considerado o quinto maior nas propriedades familiares com cer-
produtor vitivinícola da América do ca de 2 hectares (Ibravin, 2013-2014).
Sul. A maior parte dos vinhos produ- Em 2014 as exportações atingiram
zidos no país é classificada como vi- maior volume, contando com a recei-
nhos de mesa (cerca de 80%) e são ta de 7,16 milhões de dólares. Essa
produzidos a partir de variedades de expansão representa aumento de 35%
uvas americanas (Vitis lambrusca). em relação à 2013. O instituto Wines
Atualmente, as vinícolas brasileiras of Brazil é um projeto criado e lide-
contam com grandes investimentos rado pelo Instituto Brasileiro do Vi-
em inovações tecnológicas do pro- nho (Ibravin), e auxilia em pesqui-
cesso de vinificação e manejo dos vi- sas de mercado e expansão das re-
nhedos. lações comerciais em parcerias com
A obtenção de vinhos de melhor Agência Brasileira de Promoção de
qualidade indica reconhecimento no Exportações e Investimentos (Apex-
mercado nacional e internacional. Brasil).
Produção de vinho de qualidade 73
Regiões produtoras os vinhos produzidos entre Bento
A área de produção vitivinícola no Gonçalves e Farroupilha.
Brasil compreende cerca de 83,7 mil Em Pinto Bandeira, a poda é realiza-
hectares, divididos em três principais da em julho-agosto e a colheita ocorre
regiões: Rio Grande do Sul, Santa nos meses de janeiro a março e a maior
Catarina e Pernambuco - Bahia. Ou- produção é variedades de uvas ameri-
tras regiões vitivinícolas possuem canas (Vitis labrusca, Vitis bourquina) e
expressividade em seus vinhos, tais híbridas. As variedades americanas
como: Norte e Sul de Minas Gerais, mais abundantes são: Isabel, Bordô
Norte do Paraná e Centro-Oeste. (Ives), Niágara Branca, Concord, Niá-
gara Rosada, Jacquez e Seibel 1077.
Rio Grande do Sul As uvas europeias (Vitis vinifera) plan-
A viticultura tradicional do Rio Gran- tadas na região são representadas pe-
de do Sul representa cerca de 88% las variedades brancas: Moscato Bran-
da área de vinhedos brasileiros e 98% co, Riesling Itálico, Chardonnay e
da uva utilizada para processamento Trebbiano (Ugni Blanc); e as tintas:
de vinhos, sucos e derivados. Duas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet
sub-regiões de importância são des- Franc, Tannat, Ancellota e Pinotage.
tacadas, a Serra Gaúcha e a Campa- A produção total da Serra Gaúcha
nha e Serra do Sudeste. compreende entre 10 a 30 toneladas
por hectare. A variedade da uva e as
Serra Gaúcha condições climáticas são fatores que
É a maior e mais importante região influenciam na produtividade. Normal-
vinícola do Brasil. Compreende cerca mente, as variedades americanas são
de 85% da produção nacional de vi- destinadas a elaboração de suco e de
nhos. A Serra Gaúcha reúne as áreas vinho de mesa. A produção de vinhos
de produção certificadas do país, finos está crescendo devido à alta
como Denominação de Origem e In- tecnologia enológica aplicada pelos
dicação de Procedência. O Vale dos produtores da região.
Vinhedos foi a região pioneira na De-
nominação de Origem (D.O.) compre- Campanha e Serra do Sudeste
endendo a região de Bento Gonçal- A região conta com os mais anti-
ves, Garibaldi e Monte Belo do Sul, gos vinhedos do Brasil, situados em
com cerca de 72,45 quilômetros. A re- pequenas planícies e colinas da
gião de Pinto Bandeira conquistou a fronteira com o Uruguai. Com inves-
Indicação de Procedência (I.P.) para timentos da indústria do vinho, a re-
74 Casa do Produtor Rural
gião da Campanha, com 1.500 hecta- Santa Catarina
res, consolidou-se como produtora de A região é considerada pólo emer-
vinhos finos na década de 1980. Na gente da vitivinicultura brasileira de
região da Serra do Sudeste, a vitivini- clima temperado. Possui como princi-
cultura ganha importância econômi- pal sub-região o Planalto Catarinen-
ca mais recente, mediante investimen- se, zona produtiva com a maior altitu-
tos efetuados por vinícolas localiza- de do país (entre 900 e 1.400 metros
das na Serra Gaúcha. acima do nível do mar).
O cultivo das videiras é caracteri-
zado por dias longos, com grande Planalto Catarinense
período de luminosidade e variação A região é caracterizada pelo solo
de temperatura entre o dia e a noite. basáltico que confere complexidade
O solo é rico em granito e calcário, o aos vinhos produzidos. No clima tem-
que promove condições favoráveis perado e úmido, as temperaturas são
para o desenvolvimento da planta. muito baixas, principalmente à noite.
O clima é responsável pela pro- Esse fator influencia no calendário de
dução de uvas que originam vinhos colheita e as videiras apresentam de-
com diferentes características de sempenho tardio. A colheita ocorre
tipicidade dentro da própria região, entre março e abril. Este pólo produ-
de acordo com os microclimas de tor é excluso na viticultura de varie-
cada zona de produção. Em ambos dades europeias (Vitis vinifera) para
os pólos, produtores cultivam exclu- a produção de vinhos finos. Os pri-
sivamente variedades Vitis vinifera, meiros vinhedos da região foram plan-
com predominância das uvas tintas tados em 2001, e atualmente atinge a
Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, área aproximada de 180 hectares.
Cabernet Franc, Pinot Noir; e entre as Entre as principais variedades culti-
uvas brancas: Chardonnay, Sauvi- vadas encontram-se as tintas:
gnon Blanc, Pinot Griogio e Ugni Blanc Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet
(Trebbiano). A produtividade dos vi- Franc, Pinot Noir e Malbec e as bran-
nhedos na região situa-se entre 8 e cas: Chardonnay e Sauvignon Blanc.
12 toneladas por hectare, dependen-
do da cultivar e das condições climá- Pernambuco e Bahia
ticas da safra. As uvas produzidas ori- A viticultura tropical alcançou evo-
ginam principalmente vinhos tranqui- lução tecnológica significativa no Bra-
los e espumantes com as variedades sil devido principalmente às tecno-
Chardonnay e Pinot Noir. logias que viabilizaram a produção de
Produção de vinho de qualidade 75
cultivares americanas e híbridas para atuam em escala empresarial. Cerca de
vinhos de mesa. 95% da área plantada com vinhedos
destina-se à produção de uvas de mesa
Vale do São Francisco objetivando, principalmente, a exporta-
Caracteriza-se como a principal re- ção. A produção de vinhos concentra-
gião vitivinícola tropical brasileira, com se no cultivo de castas de Vitis vinifera,
cerca de 10.500 hectares de vinhe- com destaque para as cultivares Syrah,
dos, distribuídos nos Estados de Cabernet Sauvignon e Ruby Cabernet,
Pernambuco e Bahia. Neste local, o entre as tintas, e Moscato Canelli e
produtor aproveita o clima seco do Chenin Blanc, entre as brancas.
nordeste, com sol abundante, escas- Atualmente estima-se a existência
sez de chuvas e com grandes diferen- de uma área de 500 hectares de
ças de temperatura entre o dia e a parreirais que dão origem a aproxi-
noite. Os vinhedos são irrigados de madamente, 7 milhões de litros de vi-
forma controlada para obter mais de nho/ano, sendo 80% de vinho tinto e
uma safra por ano. A viticultura do 20% de branco.
semi-árido tropical possui capacida-
de produtiva das videiras determina- São Paulo
da pelo manejo local. As videiras ge- No Estado de São Paulo, produto-
ram duas safras por ano, em ciclos de res estão dispostos a resgatar a cultu-
120 a 130 dias. O período de repouso ra da produção de uvas e vinhos, por
das vinhas é induzido pela irrigação meio de investimentos e ações coo-
artificial e dura de 30 a 60 dias. O perativas de órgãos agrícolas para a
solo, irrigado com água do rio São qualificação dos vinhos paulistas. O
Francisco, apresenta o benefício da interesse proporciona a união de três
presença de depósitos de sedimen- áreas do conhecimento para definir as
tos rochosos. A grande insolação melhores zonas paulistas para o cul-
produz uvas com alta concentração tivo de uva. Entre algumas áreas
de açúcar, resultando em vinhos com paulistas de destaque para a cadeia
relativo alto teor alcoólico e bastan- vitivinícola, destacam-se Campinas,
te frutados. Campos de Jordão, Ilha Solteira e
A estrutura produtiva da região com- Jales. Porém, quando intenciona-se
põe-se de pequenos produtores, vin- produzir vinhos finos, é preciso que
culados aos projetos de colonização os produtores invistam na substituição
e associados em cooperativas, e de da variedade de uva americanas (Vitis
médios e grandes produtores que labrusca) para as variedades euro-
76 Casa do Produtor Rural
peias (Vitis vinifera). São Roque e Vinhos de Mosaico
Jundiaí são locais tradicionais na pro- Esta denominação compreende o
dução de uva e vinho, e possuem ele- maior volume de vinhos finos brasi-
vado potencial para a produção de leiros, produzidos na Serra Gaúcha.
bebidas de qualidade, com ênfase A produção vitivinícola situa-se en-
para os vinhos brancos. Para a pro- tre 400 e 800 metros de altitude, em
dução de vinhos finos na região, al- solos de origem basáltica, que for-
guns parâmetros de produção devem mam um mosaico de paisagens, so-
ser ajustados, tal como, a poda da los e condições particulares para o
videira, que deve ser realizada em mar- cultivo da videira. Deste solo origi-
ço, com a previsão de colheita para nou a expressão “Vinhos de Mosai-
agosto, promovendo o ciclo de produ- co”. Os Vinhos de Mosaico com-
ção semelhante ao encontrado na Fran- preendem os vinhos tranquilos e es-
ça e ideal para as variedades europeias. pumantes.

Classificação de vinhos finos Vinhos de Altitude


brasileiros Essa classificação denomina-se
A classificação dos estilos de vinhos os vinhos produzidos nos planal-
finos brasileiros é determinada em tos de altitude de Santa Catarina
função dos fatores naturais predomi- e Rio Grande do Sul. Os planaltos
nantes nas principais regiões vitiviní- são caracterizados por conter so-
colas e baseia-se em resultados de los de origem basáltica e com in-
pesquisas conduzidas nos últimos fluência oceânica variável sobre o
dez anos. O estudo da caracterização clima. Nessas condições, o ciclo
do potencial enológico de uvas finas de produção das videiras é mais
cultivadas em diferentes polos longo e o período de maturação
vitivinícolas, proporcionou a qualidade das uvas pode alcançar quatro
e a tipicidade dos vinhos obtidos, e o meses. Os vinhos produzidos pos-
cruzamento desses resultados com as suem caráter encorpado, maduro
características climáticas predominan- e normalmente assumem teor al-
tes em cada local de produção. Desse coólico moderado. Os tintos pos-
modo, podemos considerar que os esti- suem altos teores de taninos. Com
los dos vinhos finos brasileiros mais en- predomínio da produção em tintos
contrados estão divididos entre: Vinhos e brancos tranquilos, há expansão
de Mosaico, Vinhos de Altitude, Vinhos significativa da produção de espu-
do Pampa e Vinhos Tropicais. mantes finos e de vinhos licorosos.
Produção de vinho de qualidade 77
Vinhos do Pampa los e espumantes tipo moscatel. Con-
Vinhos produzidos nas regiões da tudo algumas vinícolas elaboram vi-
Serra do Sudeste e da Campanha, no nhos com uvas de diferentes regiões
estado do Rio Grande do Sul, sobre e obtém produtos diferenciados pelo
solos de origem granítica ou sedi- método de assemblage (cortes).
mentar, são denominados vinhos do
Pampa. As regiões fazem fronteira Mercado brasileiro
com o Uruguai e a Argentina, apre- No Brasil, cerca de 80% do consu-
sentando relevo suave ondulado, cli- mo é de vinhos com valor de até
ma caracterizado por verões quentes R$ 20,00. O grande entrave para o
e secos e invernos frios e úmidos. Os consumo e crescimento do setor de
Vinhos do Pampa assumem definição vinho é o elevado valor dos vinhos no
de encorpados, maduros, com teor Brasil. Os impostos em um vinho na-
alcoólico relativamente elevado. Com cional são calculados em aproxima-
predominância na produção de tintos damente 50% do valor final. O consu-
e brancos tranquilos, apresenta ten- mo de bebidas alcoólicas entre adul-
dência de crescimento na produção tos atinge 70% da população, porém
de espumantes. com baixa frequência de consumo. O
mercado do vinho brasileiro é dividi-
Vinhos Tropicais do em dois segmentos principais, sen-
A região brasileira do Vale do Rio do vinho de mesa, que representa
São Francisco possui características 69% do volume total (em média 217
singulares para a classificação de vi- milhões de litros/ano) e vinhos finos,
nhos tropicais. O clima possui varia- com 31% do volume total da produ-
bilidade intra-anual, que indica a re- ção. A análise dos períodos evolutivos
gião que, sob condição climática na- da vitivinicultura brasileira indica a ca-
tural, muda de classe de clima vitícola racterização da produção de vinhos
em função da época do ano na qual a com qualidade diferenciada ao longo
uva é produzida. Essa definição é dos últimos 120 anos. Três gerações
aplicável às regiões onde é possível de vinhos podem ser descritas:
mais de um ciclo vegetativo por ano. • Vinhos de 1ª Geração (1870-1920):
A vantagem sobre esse sistema é o Implantação da vitivinicultura no
aumento das possibilidades de ela- Brasil com vinhos produzidos de
boração de produtos, no que se refe- uvas americanas.
re a tipos e estilos. Os vinhos tropicais • Vinhos de 2ª Geração (1930-1960):
predominam em tintos secos tranqui- Período marcado pela diversifica-
78 Casa do Produtor Rural
ção de produtos com o surgimento ternativa para o aumento da compe-
do cultivo das variedades de uvas titividade do vinho brasileiro. A alter-
viníferas e híbridas. nativa de implementação de indica-
• Vinhos de 3ª Geração (1970-1990): ções geográficas tornou-se concreta
Incrementação da qualidade dos no Brasil a partir do advento da Lei
vinhos produzidos. nº 9.279 - “Lei de Propriedade Indus-
Os “Vinhos de 3ª Geração” consoli- trial”, de 14 de maio de 1996 (Brasil,
dam-se a partir dos anos 1970, atra- 1996). Pela primeira vez a legislação
vés da expansão da superfície culti- brasileira contemplou o reconheci-
vada com uvas das variedades Vitis mento das indicações geográficas
vinifera, destinadas à elaboração de para seus produtos vitivinícolas. De
vinhos finos. As variedades viníferas acordo com o que estabelece a lei
de origem francesa assumem espaço brasileira, considera-se “Indicação de
de algumas uvas de origem italiana Procedência (IP) o nome geográfico
(ex.: Barbera, Bonarda, Sangiovese). do país, da cidade, da região ou da
Outro fator importante para o avan- localidade do seu território, que se
ço da indústria vinícola brasileira foi o tenha tornado conhecido como cen-
investimento de capital estrangeiro, tro de extração, produção ou fabrica-
que propiciou transformações impor- ção de determinado produto ou de
tantes de modernização. prestação de determinado serviço”.
A modernização ocorreu em diver- Contudo, a Denominação de Ori-
sos setores e etapas da cadeia de pro- gem (DO) do nome geográfico “desig-
dução de vinhos. A combinação de na produto ou serviço cujas qualida-
técnicas de processo possibilitou au- des ou características devem-se ex-
mento da qualidade. clusiva ou essencialmente ao meio
Com a vitivinicultura implementada geográfico, incluindo os fatores natu-
e modernizada em diferentes regiões rais e humanos”. Assim, a origem de
brasileiras, cada zona produtiva de- um produto se refere à amplitude da
senvolveu identidade própria para influência que o local de produção
seus vinhos. O crescimento da quali- exerce na avaliação de um produto e
dade dos vinhos brasileiros é notório é utilizada como informação em diver-
e reconhecido. sas condições, principalmente para
A implementação de indicações inferir sobre a qualidade de um produto
geográficas, com a produção de vi- ou na decisão de compra do mesmo.
nhos de qualidade produzidos em re- As importações brasileiras de vi-
giões determinadas, tem sido uma al- nhos europeus dividem-se entre vi-
Produção de vinho de qualidade 79
nhos portugueses (12,3%), franceses mente o Chile (38%) e Argentina
(4,5%) e os italianos (14,6%). Os vi- (19,6%), que lideram devido à proxi-
nhos do Mercosul ganham a maior midade, facilidade em transporte e me-
fatia do mercado brasileiro, principal- nores taxas de importação (Tabela 13).

Tabela 13. Importações brasileiras de vinhos (milhões de litros)


ANO CHILE ARGENTINA ITÁLIA FRANÇA PORTUGAL OUTROS TOTAL
2004 11,2 11,2 7,2 2,8 4,2 2,5 39,2
2005 11,7 12,0 7,1 2,6 5,2 2,4 40,9
2012 30,3 15,6 11,6 5,0 9,8 7,2 79,5
2013 38,0 19,6 14,6 4,5 12,3 9,6 98,6
Fonte: FLANZY, 2000
80 Casa do Produtor Rural

Qualidade Sensorial
Qualidade sensorial refere-se às nho é promovida desde o tipo da uva,
propriedades detectadas via sentidos safra, localização do vinhedo, condi-
humanos frente à apresentação e de- ções climáticas, elementos do solo,
gustação de um produto. Visão, tato, técnicas de vinificação, até o envelhe-
paladar e olfato promovem nossa per- cimento e conservação do vinho.
cepção e determinam a aceitação e Geralmente, os vinhos são avalia-
consumo de um determinado produ- dos para indicação de qualidade e ca-
to. Segundo a ISO (Organização In- racterização do produto. A avaliação
ternacional para Padronização), a sensorial é o exame das proprieda-
qualidade de um produto é “o conjun- des de um produto, realizado por
to das propriedades e das caracterís- degustadores profissionais. A análise
ticas que lhe conferem aptidão para consiste em observar a bebida em
satisfazer as necessidades explícitas seus múltiplos aspectos e detectar os
e implícitas de uma pessoa”. principais atributos positivos e nega-
O vinho é um produto que apresenta tivos. São utilizados parâmetros pré-
composição química complexa e conse- estabelecidos e que possuem finali-
quentemente, características sensoriais dade de descrever e julgar a qualida-
distintas. A qualidade sensorial do vi- de e eventual presença de defeitos.
Produção de vinho de qualidade 81
A avaliação sensorial é composta do classificá-los como rosado, clarete,
por quatro etapas designadas por exa- rosa, cereja, rosa-alaranjado e sal-
me visual, exame olfativo, exame mão. Os vinhos tintos podem apresen-
gustativo e exame tátil. tar colorações de violeta, púrpura,
• Exame Visual: avalia a intensidade rubi, vermelho-alaranjado e telha.
e tonalidade da cor, limpidez, textu-
ra e borbulhas (no caso de vinhos Limpidez
espumantes). A limpidez em um vinho pode ser
• Exame Olfativo: avalia os aromas definida como a ausência de partícu-
agradáveis e eventuais desagradá- las em suspensão. A maioria dos vi-
veis (defeitos aromáticos). nhos são límpidos, porém alguns vi-
• Exame Gustativo: permite detectar nhos que permanecem longo período
os gostos doce, salgado, amargo e em garrafa podem apresentar decan-
ácido. tação de partículas, denominada de
• Exame Tátil: permite detecção da borras. Vinhos que concluem a fer-
estrutura do vinho no paladar, por mentação na própria garrafa ou que
meio do contato com a mucosa bu- não foram filtrados também costumam
cal. não ter limpidez. Contudo, a presen-
Algumas definições relacionadas à ça de partículas não é considerada
qualidade sensorial dos vinhos guiam defeito da bebida. Por outro lado, vi-
o produtor para a avaliação do seu nhos com problemas de processo ca-
produto, de acordo com as caracterís- racterizam defeitos e podem apresen-
ticas requeridas para comercialização tar partículas em suspensão e eleva-
e consumo. da turbidez. Nesse caso, o julgamen-
to será necessariamente negativo. Os
Cor termos utilizados pela AIS (Associa-
A coloração do vinho demonstra ção Internacional de Sommeliers)
muitas características sobre o produ- para descrever a limpidez de um vi-
to. Em tintos e brancos, quanto mais nho são:
viva e brilhante for a cor, mais jovem é
o vinho. Os vinhos brancos podem ser Velado
classificados como: amarelo-claro, Considerado sempre um aspecto
amarelo-esverdeado, verde-amarela- negativo. O vinho velado é turvo e
do, amarelo-palha, amarelo-dourado, opaco, e possui partículas em suspen-
dourado e âmbar. Os rosados apre- são. Normalmente são vinhos que
sentam diversas tonalidades, poden- sofreram problemas na fermentação.
82 Casa do Produtor Rural
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Dicas: Dicas:
Para análise visual, o vinho não deverá ultra- Para analisar a limpidez do vinho, coloque uma
passar a medida de 2 dedos na taça, caso con- folha de papel branco contra a taça e dê prefe-
trário a quantidade em excesso irá dificultar a rência para ambientes mais iluminados.
inclinação do líquido para que o teste seja reali-
zado. Aroma
Devido à sua composição rica e com-
Abbastanza límpido plexa, o vinho apresenta grande varie-
Quando o vinho possui partículas dade de aromas, formados ao longo do
em suspensão mas que não compro- processo de produção. Estes aromas
mete a qualidade. Geralmente passa- são organizados em diferentes grupos,
ram muito tempo na garrafa ou não tais como: floral (violeta, rosa e flor de
foram filtrados. laranjeira); especiarias (anis, cravo e
pimenta-preta); frutado (cítricos, frutas
Límpido vermelhas, pêssego, maçã, abacaxi,
É o vinho que não possui partículas melão, banana e frutas secas); herbá-
em suspensão e nenhum depósito no ceo/vegetal (aspargo, azeitona verde e
fundo da garrafa. preta, alcachofra, grama verde ceifada,
pimentão, eucalipto e menta); seco
Cristalino (feno/palha, chá e tabaco); noz (nozes,
Indicativo de qualidade, é quan- amêndoa e avelã); caramelizado (mel,
do o vinho não apresenta partículas açúcar mascavo, manteiga, chocolate
em suspensão e possui luminosi- e melaço); amadeirado (defumado, tor-
dade muito forte. A maior parte dos rada, café, carvalho, cedro e baunilha);
vinhos brancos e rosados, e alguns terroso (cogumelo e rolha mofada); quí-
tintos, podem ser definidos com esse mico (dióxido de enxofre, etanol, ácido
termo. acético, fósforo queimado, repolho e
alcatrão); microbiológico (borra, fermen-
Brilhante to de pão, iogurte e chucrute).
É qualidade promovida pelo má- A origem dos aromas pode ser
ximo da luminosidade apresentada explicada em categorias, sendo os aro-
por um vinho. É característica que mas primários oriundos das diferentes
pode ser encontrada em espuman- variedades de uva, os secundários são
tes, pois a presença do gás carbô- formados durante o processo de fermen-
nico na bebida ajuda a refletir os tação, pela ação da levedura, e os
raios de luz. terciários são os aromas de evolução,
Produção de vinho de qualidade 83
formados durante o envelhecimento presença de taninos que podem es-
e após o engarrafamento. tar presentes devido ao uso de uvas
Na avaliação do aroma deve-se imaturas ou pela presença do engace
considerar a intensidade e persistên- durante a vinificação. Quando a ads-
cia. Num mesmo vinho podemos iden- tringência é elevada, o vinho é cha-
tificar até 4 aromas predominantes e mado de tânico, que por sua vez pode
mais intensos. não ser uma característica negativa,
variando de acordo com o gosto do con-
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Dicas: sumidor. A adstringência, portanto, não


Para avaliação olfativa, gire a taça lentamente é considerada um defeito no vinho.
para que os aromas do vinho sejam liberados A acidez é percebida ao longo da lín-
mais facilmente. O aroma também é sentido após
gua após os primeiros contatos com a
a deglutição. Essa sensação é chamada de
mucosa bucal e a reação do nosso or-
retrogosto.
ganismo é a salivação mais intensa.
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Sabor
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Dica:
Na análise gustativa, alguns parâ- Logo após comer, beba um gole de vinho. Isso
fará com que as papilas de sua língua fiquem
metros podem ser analisados. As sen-
limpas e prontas para sentir o sabor da comida
sações bucais de “corpo” (encorpa-
novamente.
do), adstringência, acidez, teor al-
coólico e equilíbrio são perceptíveis
quando o vinho é colocado em conta- Detecção de defeitos
to com a mucosa bucal e deglutido. Os vinhos podem apresentar defei-
O “corpo” é relacionado à estrutura tos que são originários da própria uva,
do vinho. Os tintos, em geral, são mais ou do processo de produção, engar-
estruturados que os brancos e os rosa- rafamento e envelhecimento. A rejei-
dos, pois possuem taninos em sua com- ção do vinho devido ao defeito sen-
posição, que atribuem esta característi- sorial é imediata. Neste caso, qual-
ca. Os vinhos com mais “corpo” são quer pessoa é capaz de perceber e
marcantes e densos. O contrário do vi- rejeitar a bebida. Dentre os defeitos
nho encorpado seria um vinho “leve”, mais comuns estão:
chamado de vinho “com pouco corpo”.
A adstringência é a sensação per- Vinho Oxidado
cebida quando a língua fica áspera e O contato excessivo com o oxigê-
seca, como quando comemos uma fru- nio, seja durante a vinificação ou após
ta verde. Esta sensação está ligada à o engarrafamento, provoca alterações
84 Casa do Produtor Rural
químicas nos vinhos, deixando-os bactéria denominada Acetobacter, que
com gosto mais ácido e “avinagrado”. em contato com o vinho produz o áci-
do acético. O defeito sensorial também
Aroma de Rolha (TCA) causa aroma e sabor de “avinagrado”.
O TCA (2,4,6 Trichloroanisol) resul-
ta da atividade de microrganismos Presença de Espuma
denominados Brettanomyces, causan- A presença de espuma nas pare-
do assim o defeito sensorial no vinho, des do copo é sinal de fermentação do
como aroma e sabor de bolor ou mofo. vinho depois de ter sido engarrafado,
quando o vinho não é espumante.
Aroma Sulfídrico (dióxido de enxofre)
O enxofre pode ser naturalmente pro- A contaminação pode ocorrer de
duzido pela fermentação das leveduras diversas formas: região do vinhedo,
ao longo do processo. Combinado com falta de higiene no recebimento da
hidrogênio, possui aroma que lembra uva (e consequente aumento da po-
ovos estragados ou borracha queima- pulação da levedura Brettanomyces,
da. O envelhecimento em madeira e durante o desengace e esmagamen-
pequenos arejamentos na bebida pode to), grandes espaços de tempo entre
ajudar a eliminá-lo por evaporação. a colheita e o início da elaboração do
vinho, amadurecimento em barricas
Aroma de Suor de Cavalo contaminadas (onde as leveduras fi-
Aroma existente principalmente em cam depositadas nos poros da madei-
vinhos velhos, provocado pela molé- ra e embaixo das borras), corte com
cula 4-etil-fenol, que revela falta de vinhos contaminados (antes de se fa-
higiene na adega e são originadas zer qualquer mescla é necessário sa-
pelos mesmos microrganismos noci- ber a origem e efetuar análises quími-
vos capazes de desenvolver patolo- cas, sensoriais e testar em pequenas
gias no vinho. Vinhos submetidos à escalas para verificar o resultado pre-
maceração carbônica, e os que pas- viamente), entre outros.
sam por barricas utilizadas diversas Como modo preventivo, devemos
vezes, costumam ter maior tendência ter cuidado com os tratamentos na uva,
a exibir esta característica. não adicionar SO2 em excesso, ajustar
adequadamente o pH e não trabalhar
Gosto ácido (ácido acético) com temperaturas muito elevadas. Por-
Promove aroma azedo semelhante tanto, limpeza no recebimento das uvas
ao vinagre. É provocado por uma e nos equipamentos usados na vinifi-
Produção de vinho de qualidade 85
cação e análises físico-químicas perió- tas vermelhas, tais como groselha, fram-
dicas são indispensáveis. Outro ponto boesa, amora e morango. Quando mais
importante está na necessidade de co- velhos, apresentam aromas de especia-
nhecer o comportamento microbiológico rias, flores, castanhas e frutas secas. O
de cada uva e da levedura usada na sabor deve ser equilibrado em gosto
fermentação alcoólica. ácido, gosto adstringente e amargo.
Vale lembrar que um mesmo com- Os vinhos chamados tintos de guar-
posto encontrado em vinhos diferen- da, com grande potencial de envelhe-
tes, mas na mesma concentração, cimento são atualmente apenas 10%
pode configurar defeito em um tipo de da produção mundial, enquanto os
vinho, porém ser considerado carac- vinhos jovens, produzidos para serem
terística peculiar de outros vinhos. consumidos imediatamente, consti-
tuem os outros 90%. Uma das razões
Definições sensoriais para isso é que, para que um vinho su-
Vinho branco porte certo período de guarda, ele deve
Em geral, tendência para coloração ter alta concentração de compostos
palha, de tom amarelo ou esverdeado. fenólicos, o que ocorre em vinhas com
Quando envelhecidos por longo pe- baixa produtividade de uva por planta.
ríodo, tendem a apresentar cor ama- Dentro da vinícola, o vinho de guarda
relo-ouro ou branco pálido. O aroma passa por cuidadosos processos de pré-
pode ser bastante variado, mas aque- maceração à baixa temperatura, fermen-
les que ocorrem com mais frequência tação à temperatura controlada, e acom-
são os de frutas (pêssego, maçã, panhamento contínuo extremamente
pêra, limão, etc.), e florais. Vinhos en- cuidadoso. Todos esses fatores agre-
velhecidos acima de 2 anos podem gam maior valor ao produto.
apresentar aromas de nozes (avelãs,
amêndoas), vegetais e especiarias. Rosé
No paladar de vinhos brancos o gos- As principais características obtidas
to ácido é predominante e dá origem são o frescor e os aromas e sabores
a sensação de frescor. de frutas vermelhas (cereja, framboe-
sa, groselha, morango) devido à pre-
Vinho tinto servação da acidez natural das uvas
Apresentam coloração vermelho-vio- frescas, marca inconfundível dos rosés.
leta ou púrpura, intensa. Quando jo- Os rosés têm sabor e aromas frescos e
vem apresenta maior concentração servem para serem consumidos no ve-
de aromas frutados, geralmente de fru- rão e harmonizam com pratos leves.
86 Casa do Produtor Rural

Glossário
Acidez (sensorial) - sensação de retamente transformados em álcool
picância provocada pelos ácidos do pela ação das leveduras (frutose,
vinho e que resulta em salivação. A glicose e sacarose).
acidez equilibrada é agradável e
considerada atributo de qualidade. Adstringente - sensação descrita como
A acidez excessiva é considerada “amarrar a boca”, derivada da alta
um defeito e é resultante de conta- concentração de tanino no vinho.
minação bacteriana e oxidação dos
constituintes do vinho, com forma- Assemblage - palavra francesa que de-
ção do ácido acético (aroma e sabor signa mistura de vinhos diferentes; o
de vinagre). mesmo que corte.

Acidez volátil - acidez desagradável Avinagrado - adjetivo dado ao vinho


provocada pelos maus ácidos do vi- com odor e sabor de vinagre e impró-
nho (acético, propiônico e butírico). prio para o consumo.

Açúcares fermentescíveis - denomina- Brix - quantidade de sólidos solúveis


ção dos açúcares que podem ser di- em uma solução.
Produção de vinho de qualidade 87
Cápsula - invólucro da rolha moldado Enófilo - apreciador e estudioso de vi-
em plástico, lâmina metálica ou alu- nhos.
mínio. Material que protege o gargalo
da garrafa. Enologia - ciência que estuda o vinho.

Cepa/cepagem - variedade da uva. Enólogo - indivíduo que tem conheci-


mentos de enologia (cadeia produti-
Chaptalização - processo de acrescen- va do vinho).
tar açúcar de cana ou de beterraba
ao mosto do vinho, antes ou durante Fenóis - compostos fenólicos, estrutu-
a fermentação (do francês, “Chapta- ra química com anéis aromáticos. São
lization”). abundantes na casca da uva e agem
como antioxidantes que combatem
Corpo - sensação tátil de densidade radicais livres (benéficos para a saú-
perceptível a partir do contato do vi- de humana).
nho com as papilas gustativas e a
mucosa bucal. Fermentação alcoólica - processo
bioquímico pelo qual leveduras con-
Corte - mistura de vinhos diferentes. vertem o açúcar (glicose, frutose) prin-
O mesmo que assemblage (francês). cipalmente em etanol e gás carbônico.

Decantação - ato de transferir o vinho Fermentação malolática - processo de


da garrafa para uma jarra, com o pro- transformação do ácido málico (de
pósito de separar os sedimentos ori- sabor intenso e desagradável) em
ginários do envelhecimento e oxige- ácido lático (mais suave e agradável)
nar o vinho para melhor consumo. pela ação de bactérias. Esta fermen-
tação pode ocorrer naturalmente, ou
Dégorgement - operação que consis- ser induzida por adição de bactérias.
te em eliminar o sedimento de vinhos
espumantes, depositado no gargalo Herbáceo - com notas aromáticas que
da garrafa a partir do seu congelamen- lembram ervas.
to a -30oC.
Maceração carbônica - processo pelo
Desengace - procedimento de sepa- qual as uvas são acondicionadas em
ração do engace (parte herbácaea do um tanque antes do desengace, man-
cacho) das bagas de uva. tendo a integridade do fruto. O tanque
88 Casa do Produtor Rural
então é saturado com gás carbônico Persistência - sensação do gosto dei-
e pressurizado. xado pelo vinho na boca (retrogosto)
após ser deglutido ou cuspido. Quan-
Maturação fenólica - ponto de matura- to melhor o vinho, maior o tempo de
ção da uva a qual se designa ideal persistência, retrogosto.
para determinada safra ou região de
cultivo. pH - símbolo que indica acidez. Quan-
to mais baixo o pH, maior é a acidez.
Mosto - líquido resultante da prensa-
gem das uvas e preparado para a fer- Sommelier - profissional que trabalha
mentação. em restaurantes, elabora cartas de vi-
nhos e orienta clientes na escolha do
Organoléptico(a) - sensorial, que sen- vinho ideal para harmonizar com o
sibiliza os sentidos. prato.

Oxidado - que sofreu ação do oxigê- Vindima - período de colheita das uvas.
nio do ar, ocasionando a quebra e
degradação de constituintes origi- Vinho jovem - vinho produzido e en-
nais. garrafado dentro de até um ano.
Produção de vinho de qualidade 89

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