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Fichamento: Bourdieu, P. O Poder Simbólico. trad. Fernando Tomaz.

Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,


2001.

Capítulo II – Introdução a uma sociologia reflexiva (17-23)

Ensinar um ofício

“Entre as várias atitudes que eu desejaria poder inculcar, se acha a de ser capaz de apreender a
pesquisa como uma actividade racional – e não como uma espécie de busca mística, de que se fala com
ênfase para se sentir confiante – mas que tem também o efeito de aumentar o temor ou a angústia: esta
postura realista – o que não quer dizer cínica – está orientada para a maximização do rendimento dos
investimentos e para o melhor aproveitamento possível dos recursos, a começar pelo tempo de que se
dispõe” (18).
No estado embrionário, a pesquisa apresenta-se confusa, mas o homo academicus gosta do
acabado. Bourdieu conduz essa idéia fazendo uma analogia de cunho negativista acerca do “retoque”. “O
cume da arte, em ciências sociais, está sem dúvida em ser-se capaz de pôr em jogo ‘coisas teóricas’ muito
importantes a respeito de objetos ditos ‘empíricos’ muito precisos, freqüentemente menores na aparência,
e até mesmo um pouco irrisórios tem-se demasiada tendência” para crer em Ciência Sociais que a
importância social ou política do objeto é por si mesma suficiente para dar fundamento à importância do
senso que lhe é consagrado” (20).
“O que conta, na realidade, é a construção do objeto, e a eficácia de um método de pensar nunca
se manifesta tão bem como na sua capacidade de constituir objetos socialmente insignificantes em objetos
científicos, ou, o que é o mesmo, na sua capacidade de reconstruir cientificamente os grandes objetos
socialmente importantes, apreendendo- os de um ângulo imprevisto” (20).
Neste sentido, o sociólogo encontra-se numa situação perfeitamente semelhante – mutatis
mutandis que, para exercerem em pleno o modo de construção da realidade que estavam a inventar, o
aplicavam a projetos tradicionalmente excluídos da arte acadêmica: “o sociólogo poderia tornar sua
fórmula de Flaubert; pintar bem o medíocre” (20).
Faz-se necessário converter problemas muito abstratos em operações científicas inteiramente
práticas. É preciso pôr em causa os objetos pré-construídos. A prática científica não é exceção – “que não
seja a de a praticar ao lado de uma espécie de guia ou de treinador, que protege e incute confiança, que dá
o exemplo e que corrige ao enunciar, em situação, os preceitos diretamente aplicados ao caso particular”
(21). Em relação à direção da pesquisa, Bourdieu compreende apenas o detentor da responsabilidade
direta dele como o agente/sujeito capaz de dirigi-la HABITUS CIENTÍFICO. “O
ensino de um ofício ou para dizer como Durkheim, de uma ‘arte’, entendido como ‘prática pura sem
teoria’, exige uma pedagogia que não é de forma alguma a que convém ao ensino dos saberes” (22).
Segundo Bourdieu, um bem indicativo da posição do sociólogo em relação à disciplina é o da
“idéia – maior ou menor – que ele tem daquilo que precisaria dominar para estar realmente à altura do
saber adquirido” (22). Pois não se pode confiar nos automatismos de pensamentos ou nos automatismo
que suprem o pensamento ou ainda nos códigos de uma boa conduta científica – métodos, protocolos de
observação etc. – que constituem o direito aos campos científicos mais codificados. Deve-se pois contar
sobretudo, para se obterem

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