Você está na página 1de 4

Atualidades/Actualities

AÇÃO PREVENTIVA EM PROBLEMAS VISUAIS DE ESCOLARES*

Edméa Rita Temporini**

TEMPORINI, E. R. Ação preventiva em problemas visuais de escolares. Rev. Saúde públ., S.


Paulo, 18: 259 - 62, 1984.
RESUMO: Apresenta-se abordagem preventiva de problemas visuais de escolares, consi-
derando os níveis de prevenção em Saúde Pública (Leavell e Clark). É destacada a importância
da atuação em educação para a saúde na escola, dirigida à promoção da saúde ocular e à pre-
venção de distúrbios oftalmológicos, buscando a adoção de condutas acertadas do indivíduo,
em termos pessoais e coletivos. A linha geral da programação é descrita sucintamente, conclu-
indo pela necessidade da manutenção dos seus propósitos e bom nível, embora já implantada
como rotina de serviço.

UNITERMOS: Oftalmologia sanitária. Saúde escolar. Educação em saúde pública.

Programas de prevenção da cegueira vêm senta, bem como do nível de saúde da comu-
recebendo ênfase nas últimas décadas, em nidade da qual ele faz parte. O simples fato
muitos países, por parte de órgãos e institui- de colocar serviços de saúde ao alcance da
ções do setor saúde. população, por si só, não assegura níveis de-
Dados apresentados pela Organização sejáveis de higidez. A saúde decorre, de um
Mundial da Saúde (OMS) apontam cerca de lado, da decisão pessoal, que se baseia em
40 milhões de pessoas cegas no mundo, das conhecimentos e valores sócio-culturais, on-
quais dois terços seriam compostos de casos de interfere, de maneira decisiva, o comple-
preveníveis ou curáveis. A situação mos- xo família-sociedade, por meio de fatores
tra-se mais grave nos países em desenvolvi- restritivos ou impulsionadores; de outro la-
mento, onde se localizam 80% dos casos de do, depende de medidas facilitadoras em rela-
cegueira6. ção a:
Se examinarmos os problemas oculares à 1) acesso ao conhecimento científico,
luz dos níveis de prevenção de Leavell e 2) desenvolvimento de atitudes favoráveis
Clark2, verificaremos a importância da à saúde e
conduta individual ou coletiva como fator 3) meios que permitam ao indivíduo a
condicionante na obtenção de resultados prática desse conhecimento.
adequados. A atuação nos níveis de preven- Em relação a problemas oftalmológicos,
ção primária, secundária ou terciária exige reveste-se de suma importância a formação
ações do indivíduo e da comunidade para a de mentalidade preventiva na população, re-
sua efetivação. lativa às causas da cegueira e à maneira de
É sobejamente conhecido que o compor- evitá-las.
tamento do indivíduo se torna fator determi- A OMS, já há algum tempo, vem incenti-
nante das condições de saúde que ele apre- vando a organização de esforços conjuntos

* Apresentado ao V Congresso Brasileiro de Prevenção da Cegueira no Grupo de Trabalho: O Deficien-


te Visual e a Sociedade - Curitiba, junho/1982.
** Do Departamento de Prática de Saúde Pública da USP - Av. Dr. Arnaldo, 715 - 01255 - São Paulo,
SP - Brasil.
de grupos de especialistas e da comunidade, de educação em saúde, além de desenvolver
com a finalidade da prevenção de problemas atividades de investigação da problemática
oftalmológicos, buscando criar uma cons- oftalmológica existente3. Tais procedimen-
ciência preventiva ao lado da ação correspon- tos estão voltados precipuamente para a pre-
dente. Segundo a OMS, "programas efetivos venção primária e secundária - promoção da
requerem ação comunitária sistemática para saúde ocular, proteção específica, diagnósti-
eliminar a cegueira e os distúrbios visuais"5. co precoce e pronto tratamento.
Evidencia-se, então, o papel fundamental Essa programação já se encontra integra-
da área de Educação em Saúde na Oftalmo- da nas atividades de rotina das escolas esta-
logia Sanitária, como processo dinâmico, cu- duais e das unidades sanitárias. O professor
jos objetivos se direcionam no sentido da orientado aplica teste de acuidade visual
população vir a adotar condutas acertadas, nos seus alunos e realiza a observação de
em termos pessoais e coletivos, em todos os sinais e sintomas indicativos de problemas. O
níveis de prevenção. encaminhamento a exame médico-oftalmo-
A cegueira na infância é particularmente lógico baseia-se nessas duas fontes de infor-
importante, seja pelos índices com que se mação, sendo utilizadas, de forma coorde-
apresenta nos países em desenvolvimento, se- nada, as agências de saúde existentes na co-
ja por representar um encargo sócio-econô- munidade (estaduais, municipais e demais
mico mais grave. órgãos de prestação de serviços) para o aten-
Os especialistas são concordes quanto à dimento especializado4.
importância que a visão assume, desde a mais O papel do educador em saúde é básico
tenra idade, no processo de aprendizagem, para o desencadeamento de todas essas
bem como quanto à necessidade da desco- ações:
berta e tratamento precoces dos distúrbios 1) quando transmite o conteúdo técnico-
oculares, como formas de minimização e científico e administrativo da programa-
solução de tais problemas1. ção ao professor, incentivando-o a assu-
Na maioria dos países desenvolvidos é mir a parcela que lhe cabe, ou seja, a iden-
obrigatório o exame da acuidade visual ao tificação do seu aluno portador de distúr-
redor de 3-4 anos, realizado por oftalmolo- bio visual, mediante a aplicação de teste e
gista, pediatra, ortoptista, enfermeiro ou a observação dirigida de saúde;
outro elemento devidamente treinado. 2) quando mantém o entrosamento com
Considerando a limitação de recursos dos as agências de saúde envolvidas no atendi-
países em desenvolvimento, a verificação pe- mento dos casos encaminhados;
riódica da acuidade visual em crianças e adul- 3) quando coordena e supervisiona a atua-
tos é recomendada como parte significativa ção dos professores-multiplicadores, a ní-
de programas preventivos5. Informe da OMS vel de região;
ressalta que "a acuidade visual é o indicador 4) quando busca soluções em conjunto
mais pronto da função visual. A aplicação com a família e a escola para a correção
desse teste não requer treinamento prolon- ou minimização dos problemas detecta-
gado dos examinadores, nem grande esforço dos.
para obter a cooperação ou a compreensão Existe um componente educativo intrín-
dos pacientes, nem requer o uso de equipa- seco a tais ações para que sejam levadas a
mento sofisticado"5. cabo, uma vez que pressupõem a adoção de
Coerente com essas diretrizes, vêm-se de- comportamentos do pessoal da escola, em
senvolvendo desde 1973, no Estado de São especial do professor, família, pessoal das
Paulo, atividades sistematizadas de oftalmo- agências de saúde e comunidade, na busca
logia sanitária junto às escolas da rede esta- de solução dos problemas visuais do escolar.
dual de ensino, com os propósitos de identi- Tendo em vista a importância da identifi-
ficar distúrbios oculares em alunos e prover a cação precoce dos distúrbios oculares, é
devida assistência, respaldando-se em ações considerado prioritário o grupo populacio-
nal dos escolares mais jovens, ou seja, de agências de saúde e pessoal técnico, no sen-
pré-escola e de 1.ª série do 1.° grau. tido da promoção da saúde ocular, preven-
A nível da Secretaria de Estado da Edu- ção de agravos e recuperação de problemas
cação (SE) a verificação da acuidade visual visuais da criança.
nas escolas vem sendo prevista anualmente,
Concluindo, o escolar está sujeito a dis-
inserida no "Cronograma de Atividades" da
túrbios visuais que interferem no seu rendi-
SE, publicado no Diário Oficial do Estado, mento e que, futuramente, poderão trazer
o que confere cunho de realização obriga- limitações a sua vida profissional e social. A
tória à atividade.
escola, instituição que consegue aglutinar
Ainda, a fim de prover assistência oftal-
grande número de crianças, permite uma
mológica às crianças carentes de recursos
ação programada e maciça de cunho preven-
e excedentes à possibilidade de atendimento tivo, no que se refere à promoção da saúde
das agências de saúde governamentais, o De- ocular ou no diagnóstico precoce e pronto
partamento de Assistência ao Escolar — DAE
tratamento dos casos identificados. Deve-se
(Secretaria da Educação), desde 1976, vem
destacar que, no Estado de São Paulo, o
dispondo anualmente de verba para paga-
educador de saúde pública que atua no siste-
mento de consulta especializada. ma de ensino, vem sendo o elemento catali-
Além disso, o material de apoio para a sador para que tais ações ocorram.
execução das ações — tabela de Snellen,
manual de orientação e instrumentos de É absolutamente fundamental que se
encaminhamento e controle — vem sendo mantenham vivos os propósitos e o bom ní-
distribuído sistemática e efetivamente às vel da programação de oftalmologia sanitá-
escolas, mediante orientação. ria nas escolas, evitando o desinteresse e pos-
Observa-se que se tem mantido o esfor- sível desgaste que poderiam decorrer da pró-
ço conjunto do pessoal da escola, pais, co- pria condição de rotina de serviço já implan-
munidade em geral, Prefeituras Municipais, tada.

TEMPORINI, E. R. [Preventive action with regard to the visual problems of schoolchildren].


Rev. Saúde públ., S. Paulo, 18: 259 - 62, 1984.

ABSTRACT: The preventive approach to schoolchildren's visual problems is presented,


taking into consideration the levels of Public Health prevention (Leavell & Clark). The impor-
tance of health education in schools with regard to the promotion of eye health and the pre-
vention of ophthalmological problems is indicated in the attempt at the adoption of appro-
priate individual behavior both on the personal and the collective level. The general outline of
the program is briefly described with a concluding appeal for the maintance of its objectives
and continued effective functioning, though already established as a routine service.

UNITERMS :Sanitary ophthalmology. School health education.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. KARA-JOSÉ, N. & TEMPORINI, E. R. Avalia- 3. PLANO de Oftalmologia Sanitária Escolar;


ção dos critérios de triagem visual de elaborado por Comissão Conjunta da
escolares de primeira série do primeiro Secretaria da Saúde e Secretaria de Edu-
grau. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 14: cação. São Paulo, Serviço de Oftalmolo-
205-14, 1980. gia Sanitária do Instituto de Saúde, 1976.

2. LEAVELL, H. R. & CLARK, E. G. Medicina 4. TEMPORINI, E. R. O plano de oftalmologia


preventiva. São Paulo, McGraw-Hill do sanitária escolar do Estado de São Paulo:
Brasil, 1976. aspectos técnico-administrativos. São
Paulo, 1980. [Dissertação de mestrado — 6. WHO urges massive support for the prevention
Faculdade de Saúde Pública da USP]. of blindness. Int. J. Hlth Educ., 21(2):
120,1978.
5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guideli-
nes for programmes for the prevention Recebido para publicação em 17/02/1984
of blindness. Geneva, 1979. Aprovado para publicação em 26/03/1984

Você também pode gostar