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Introdução ao Pensamento Contemporâneo

CORRECÇÃO DO SEGUNDO TESTE

INDICAR / IDENTIFICAR = uma palavra basta


DEFINIR / EXPÔR = escrever todos os termos, conceitos e juízos de valor afins

Identifique os principais Paradigmas Culturais da Humanidade por ordem


cronológica documental (0,25v)

Ao longo dos tempos, a Humanidade registou as suas respostas às Questões Primordiais


(Q.P.) sob três grandes modelos mentais:
1º segundo o MITO/ originando o paradigma mitológico
2º segundo a RELIGIÃO / originando o paradigma religioso
3º segundo o CRITICISMO/ originando o paradigma crítico

Pode ainda referir-se um quarto paradigma, a mentalidade ecléctica (geradora do


ECLECTICISMO) que, sem ser original, surge como progressiva mistura incongruente
de todos os outros paradigmas, e se considera uma outra chave interpretativa e mental
vigente (sobretudo na cultura presente).

Defina etimologica e conceptualmente o primeiro Paradigma Cultural da Humanidade


(1v)
Etimologia: a palavra MYTHOS vem do grego e significa literalmente «OBSCURO».
Derivação semântica: OBSCURO PODER DA MATÉRIA.
Conceito: a essência, a origem e a finalidade da vida humana (as Q.P.) encontram-se
respondidas no obscuro poder da matéria. O poder da matéria é incognoscível no plano
racional e só se capta a nível sensorial. A vinculação íntima do SH com o mundo
material é uma relação que começa nas suas operações sensoriais (sensações,
percepções, emoções e imagens) e não vai mais além. A imaginação é a última forma de
compreensão de si próprio. Há, portanto, aqui um reducionismo antropológico (SH é
destituído de duas importantes competências suas, a racionalidade e a escolha livre).
Este desequilíbrio das competências humanas acentua na mitologia o valor da fantasia,
da magia, da ficção, das emoções positivas, das sensações encantatórias, dos rituais
ilusórios ou dos gestos e seres inventados, poética ou artisticamente.

Defina a primeira característica do Primeiro Paradigma.(0,5v)

1ª : NATUROCENTRISMO material ou materialista


Para as primeiras comunidades humanas, tudo o que acontece (beleza ou maldade,
catástrofes ou sorte, vida ou morte) não tem explicação racional. A matéria elementar
do universo obscuro é poderosa, sem regras racionais e nela se dissolvem ciclicamente
as vidas de tudo o que existe. O SH está centrado neste enigma. O foco central da vida

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humana está no obscuro poder da matéria (sinónimo de natura, natureza, cosmos,
mundo, universo). O SH responde às Q.P. centrado na impossibilidade de conhecer a
causalidade real de tudo o que existe: ele só se relaciona com a sua própria origem,
essência e finalidade através da competência sensorial. Esta competência esclarece-o
muito pouco e fá-lo permanecer numa atitude de fragilidade e necessidade perante
natureza material obscura, todo poderosa e incognoscível.

Defina a segunda característica do Primeiro Paradigma (0,5v)

2ª: IMANENTISMO ETERNO


A teoria da imanência (imanência = «aquilo que emane de dentro da matéria») responde
à pergunta: qual a origem de tudo o que existe? com a afirmação de que a matéria
(poder central e maior) é geradora de tudo. A matéria obscura (MYTHOS) não foi
criada, não tem origem nem tem fim: sempre foi, sempre continuará a ser. É eterna, é
um poder permanente e não-alterável. Tudo se reduz a matéria, em qualquer estádio
dela. Tudo é matéria e não há nada fora da matéria.
Esta teoria opõe-se à noção de um Deus fora e além da natureza (um Deus sobrenatural)
que só é própria das religiões (opostas ao mito). O sobrenatural não existe na mitologia
porque o maior poder é natural (e não fica fora / sobre /além do natural). A mitologia
nega o que transcende a natureza e repugna o nível sobrenatural.

Defina a terceira característica do Primeiro Paradigma. (0,5v)

3ª: ANTROPOMORFIZAÇÃO DEMIÚRGICA


Precisamente porque não há transcendência no mito mas só imanência, o SH imagina ou
inventa (pela antropomorfização= processo psicológico possível e transversal a todos
os SH: ou seja, há possibilidade de transferir sentimentos, finalidades ou aspectos
humanos a objectos, sítios ou gestos que passam a revestir-se assim de mais significado
e potência), Fabula seres inexistentes na realidade, mas poderosos na lenda e no
imaginário popular. Os demiurgos são os intermediários que o SH ficciona (FICÇÃO,
MAGIA OU SUPERSTIÇÃO) e nos quais projecta as suas necessidades: esses seres
mediadores com o obscuro poder da matéria simbolizam pedagogicamente os desejos
do SH em afastar-se do que o prejudica (os anti-heróis) e obter (mesmo sem
compreender racionalmente) o que o favorece (os heróis). Por demiurgos também se
entendem objectos demiúrgicos (objectos supersticiosos), rituais demiúrgicos (rituais
mágicos), crenças demiúrgicas (crenças imaginárias), etc. Todos são uma forma
infantilizada ou ingénua de procurar o controle causal da natureza obscura ou
desconhecida.

Defina etimologica e conceptualmente o segundo Paradigma Cultural da


Humanidade(1v)
Etimologia: a palavra RELIGIO vem do latim e significa literalmente «RELAÇÃO» e
ainda «LIGAÇÃO» ou «LAÇO».
Derivação semântica: LIGAÇÃO A UM SER SUPERIOR ESPIRITUAL

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Conceito: a essência, a origem e a finalidade da vida humana (as Q.P.) encontram-se
respondidas na relação íntima do SH com o Ser Superior ao Mundo material, seu
Criador. Há aqui uma ampliação antropológica, ou seja, o SH é considerado em ordem a
uma quarta dimensão (para além das três essenciais: sentir, raciocinar e escolher), a
dimensão da relação com Deus. A relação a esse Ser é simultaneamente uma relação de
filiação (o Ser Superior é Criador das criaturas e o SH reconhece aí o papel de Pai e
filhos): essa consciência da filiação divina é um quarto dom, o dom da fé sobrenatural,
que nega qualquer poder fora de Deus. A mentalidade religiosa opõe-se à mentalidade
mitológica, porque esta diviniza a matéria mundana (que, no entender dos religiosos,
não tem poder algum).

Defina a primeira característica do Segundo Paradigma. (0,5v)

1ª : TEOCENTRISMO ESPIRITUAL ETERNO


Os religiosos respondem às Questões Primordiais de modo centrado em Deus (Theos);
são, por isso, teocêntricos. O teocentrismo significa a consciência de uma Presença
Superior e o ser humano deriva à sua volta, “à volta de Deus”. O SH é obra (criatura) de
Deus, sustentado e providenciado por Deus, regressando a Deus no fim da vida. Esta
circularidade prova a sua qualidade existencial: o SH é de Deus, vem de Deus e
regressará a Deus. Deus é o Ser Superior, Causa de tudo o que existe, mas separado da
sua obra da criação (mortal) porque Ele é eterno, não tem princípio nem fim, não teve
criação nem terá morte. Ele é a justificação essencial para a explicação existencial do
crente. Esta é a mentalidade religiosa, altamente presente no século 21.

Defina a segunda característica do Segundo Paradigma. (0,5v)

2ª: TRANSCENDENTALISMO CRIACCIONISTA


A teoria ou Princípio da Transcendência é a oposição ao Princípio da Imanência da
mitologia. A mentalidade religiosa considera que «a origem de tudo o que existe» reside
fora (trans) do mundo e da matéria. Há uma Causa Transcendente ao mundo, Essa
Causa é Deus. A origem de tudo o que existe está «fora» e é superior à NATURA (ou
seja, é sobrenatural, é transcendente). Tudo o que é mundano é inferior: o Espírito
criador é superação dos limites do tempo e do espaço e não possui. O divino é
totalmente espiritual, sem composição da matéria corruptível: é todopoderoso. A
criação (do tempo, do espaço e das criaturas) faz parte desse poder que vem de fora do
mundo (criado). A relação com o Criador é uma relação filial na qual o SH se apoia: a
filiação divina é a identidade do crente que se sente filho de Deus (fé = convicção de ser
filho).

Defina a terceira característica do Segundo Paradigma. (0,5v)

3ª: ASCETISMO ESCATOLÓGICO


Todas as religiões –embora nomeiem os seus ascetas de modo diferente (umas chamam
santos, outras monges, irmãos, faquires, profetas, eremitas, missionários, etc).– possuem
uma proposta de salvação. Essa salvação (do erro, da matéria, do pecado, etc) realiza-se

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mediante uma ascese (subida), que inclui práticas de vida o menos mundanas possível.
Aquele que ascende (asceta) eleva-se (sobe a Deus) através dos meios que escolher para
tal: a oração, o jejum, a mortificação, o silêncio, a solidariedade, o voluntariado, a
pobreza, etc. Estes meios afastam-no da matéria (que não é Deus) e aproximam-no do
espírito (que é Deus). Os ascetas das várias religiões são seres humanos mortais mas, ao
mesmo temo, são exemplo de santidade para os seus irmãos na fé e abrem caminhos
ascéticos de maior união a Deus.

Defina etimológica e conceptualmente o terceiro Paradigma Cultural da Humanidade


(1v)
Etimologia: a palavra KRISIS vem do GREGO e significa literalmente «PÔR EM
CRISE» ou «FAZER CRÍTICA».
Derivação semântica: desconstruir e construir, deitar abaixo e refazer, criticar e propôr
Conceito: o criticismo é a terceira tentativa de resposta às Questões Primordiais que se
regista na História da Humanidade por documentos comprovados. Esta corrente
pretende «fazer a crise», «fazer uma crítica», ou seja, analisar e fazer a destruição (ou
queda) do modelo anterior, para re-construção e proposta de um novo modelo, com
respostas mais apropriadas, colmatando lacunas. Nesta corrente, a essência, a origem e a
finalidade da vida humana (as Q.P) vão ser respondidas pelo próprio SH e não pela
matéria (mythos) nem pelo espírito (theos). O SH, através das suas competências
cognoscitivas (a sua sensorialidade, a sua inteligência e a sua vontade) vai ser o
protagonista das respostas. A unidade tridimensional do SH é o suporte de um caminho
de pesquisa, de inovação e de progresso (o caminho crítico).

Defina a primeira característica do Terceiro Paradigma. (0,5v)

1ª: ANTROPOCENTRISMO ou HUMANISMO


Esta corrente centrada no ser humano (grego: antropos; latim: homo/ humanum)
defende que as respostas às Q.P. serão dadas de modo genuíno pelo SH através do seu
conhecimento tridimensional. O SH ainda nada sabe ao certo e de modo seguro: é
humilde e não dogmático, e sabe apenas que deve pensar por si mesmo.
Antropocentrismo (ou humanismo, em sentido lato) significa esta convicção de Tales e
de toda a cultura helénica (Hélade /Grécia), convicção em que o ser humano responderá
às suas próprias Questões Primordiais de modo autónomo, independente e responsável.
Tudo fica agora confiado e centrado na atitude e acção humana. O SH é o responsável
por si mesmo e pelas respostas que dê, correndo o risco do seu erro e da sua liberdade.

Defina a segunda característica do Terceiro Paradigma. (0,5v)

2ª: ATITUDE REFLEXIVA E MÉTODO CRÍTICO


O lema de Tales de Mileto é o lema de todos os cientistas contemporâneos no sentido
em que não se pode chegar a nenhuma sabedoria sem se passar pela reflexão, pela
observação, pela ponderação, pelo estudo profundo. A essa atitude chama-se
FILOSOFIA e é ela «a mãe» de todas as áreas de estudo desde há 28 séculos quando

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propõe a luta contra o preconceito vulgar e o opinativo através de um caminho
(METHODOS) seguro e progressivo. A Escola de Atenas, com Tales a chefiar os
filósofos da altura, inicia um método crítico que é hoje universal: 1ºpasso do método:
observação directa do fenómeno; 2ºpasso: levantamento de uma hipótese explicativa do
fenómeno observado. O 3º (testar) e o 4º passo (validar ou recomeçar) só serão
completados no século 17 com Galileu (igualmente, humanista e cientista). Da atitude
filosófica (crítica) nasce portanto o método que todas as ciências contemporâneas
seguem.

Defina a terceira característica do Terceiro Paradigma. (0,5v)

3ª: SER HUMANO COM EQUILÍBRIO ONTOGNOSEOLÓGICO


(ÉTICO, LIVRE E AUTOCONSCIENTE)
O humanismo grego, e hoje europeu, defende (concretamente, desde a Segunda Geração
da Escola de Atenas) que o SH é uma unidade tridimensional de competências. Todos
nascemos livres e iguais na essência; apenas as escolhas (éticas ou morais) acentuam as
diferenças entre indivíduos. A corrente crítica não aceita diferenças desumanas
derivadas da posse, da etnia, da riqueza ou da religião: o livre arbítrio de cada SH é
intocável. Por isso, os direitos humanos básicos são o alicerce do humanismo grego e
europeu, marcando a diferença com aqueles sistemas de pensamento que reduzem o SH
(reducionismos antropológicos) ou aqueles que ampliam o SH (com dons imerecidos).
Para o Paradigma Humanista, cada SH vale o que valer a sua consciência ética
equilibrada em situações limite.

Quem é o fundador do Paradigma e/ou Pensamento Crítico? (0,25v)


TALES DE MILETO

Quem é o fundador da Escola de Atenas? (0,25v)


TALES DE MILETO

Qual é o lema ou divisa do fundador do Criticismo? (0,25v)

«PENSA POR TI MESMO, NADA ACEITES SEM PENSAR»

Quais as descobertas mais marcantes da Primeira Geração de pensadores da Escola


de Atenas? (1v)
A PRIMEIRA GERAÇÃO (SÉC.7 A 5 A.C.) DISTINGUE-SE NA ÁREA DA
FILOSOFIA DAS CIÊNCIAS, COLOCANDO TEORIAS NATURAIS COMO
RESPOSTAS ÀS QUESTÕES PRIMORDIAIS: TEORIA dos QUATRO
ELEMENTOS, TEORIA DA ENERGIA, TEORIA ATÓMICA, TABELA
PERIÓDICA, ETC..

DÃO INÍCIO ISENTO E SISTEMÁTICO ÀS FUTURAS CIÊNCIAS AUTÓNOMAS


DA GEOMETRIA, MATEMÁTICA, MEDICINA, FARMÁCIA, BIOLOGIA,
ASTRONOMIA, COSMOLOGIA, ETC.
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A resposta pessoal de Tales, entre os Sete Sábios (e primeiros Físicos) reside na água,
na molécula de água. Outros são Anaximandro, Anaxágoras, Pitágoras, Euclides,
Ptolomeu, Arquimedes, Hipócrates, Demócrito, Heraclito, Galeno, etc.

Quais as inovações mais marcantes da Segunda Geração de pensadores da Escola de


Atenas? (1v)
A SEGUNDA GERAÇÃO (SÉC.4 A 2) DEDICA-SE À FILOSOFIA SOCIAL E
HUMANA.
DISTINGUEM-SE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES, QUE INVESTIGAM A
ESSÊNCIA DO SER HUMANO E DA SOCIEDADE EQUILIBRADA.

Esta geração é responsável por ideias revolucionárias como: o livre pensamento, a


cidadania, a democracia, a política, a dignidade humana transversal e, concretamente, a
grande ciência normativa universal da Ética.

O livro de Aristóteles «Ética a Nicómaco» assinala a grande viragem, afirmando pela


primeira vez a igualdade radical dos seres humanos no plano natural, à nascença; e
ainda o poder da consciência inteligente como única sede da expressiva essência
humana. Aí propõe a mais difícil das conquistas: a felicidade pessoal como um processo
de escolha de bens autónomos.

Porque é que a Escola de Atenas é considerada «berço originário da cultura crítica»?


(1v)
SEGUEM 3 RESPOSTAS POSSÍVEIS, TODAS ELAS BEM EXPOSTAS PELOS
ALUNOS QUE AS SUGERIRAM
A crítica às sociedades mitológicas e religiosas anteriores é realizada por Tales de
Mileto, em Atenas, onde ele funda a incipiente «Escola de Atenas», por volta do século
7 a.C.. Esta escola virá a ser berço do pensamento crítico, também conhecida como
Paideia grega («formação do homem grego»), génese do pensamento dito humanista.
Este pensamento foi depois considerado «europeu» (dada a fundação das primeiras
Universidades, recipientes sistemáticos desse saber) e, finalmente, conhecido como
«pensamento ocidental». Gradualmente, nesta escola inicialmente informal, surgirá um
novo paradigma mental que revoluciona a forma de pensar até então estabelecida,
provocando uma verdadeira ruptura epistemológica com o mito e com a religião
–ruptura que continua desde há 27 ou 28 séculos atrás. Todos somos hoje, de um ou
outro modo, devedores da «Escola de Atenas», modelo inspirador ao longo de séculos
da mentalidade crítica dos defensores do ser humano e da vida humana, livre e ética.

A Escola de Atenas É BERÇO DE TODA A CULTURA QUE NÃO SE REGE POR


TRADIÇÕES E CORPORATIVISMOS MITOLÓGICOS OU RELIGIOSOS.
É A PRIMEIRA ESCOLA QUE ACEITA HOMENS LIVRES E SEM LAÇOS COM
OS PARADIGMAS ANTERIORES, PRIVILEGIANDO A AUTONOMIA CRÍTICA,
O LIVRE PENSAMENTO E A PESQUISA RESPONSÁVEL E ÉTICA DA
ESSÊNCIA HUMANA. A HERANÇA QUE A Escola de Atenas NOS LEGOU
MARCA AINDA HOJE TODOS AQUELES QUE APRENDERAM ESTES
VALORES.

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As duas gerações da Escola de Atenas deixaram ideias fantásticas, completamente
inovadoras na altura. Aos filósofos gregos devemos, séculos depois, noções como: o
estado de direito, a humanidade como igualdade, a soberania do espírito, a liberdade de
pensamento, os direitos humanos das minorias, etc. Mediante esses homens, Atenas
gerou um capítulo «único» na história do pensamento universal (como afirmará no
século XX o historiador alemão Werner Jaegger), numa qualidade e intensidade de
produção que jamais se repetiu. Ela é o berço ou origem do melhor que fez a
humanidade através das suas ideias e competências.

Houve alguma revolução de mentalidades depois de conhecidos e transmitidos os


conteúdos da Escola de Atenas? (0,25v)

SIM.

Se houve essa revolução ou ruptura, em que consistem essas principais mudanças face
aos valores preconizados pelas duas mentalidades ou paradigmas anteriores? (1v)

A revolução que a Filosofia Crítica originou pôs em causa todas as anteriores respostas
civilizacionais às Q.P.
Essas respostas eram a mentalidade mitológica e a mentalidade religiosa. Embora o
mito e a religião sejam muito diferentes entre si (nos conceitos), mostram-se porém
similares em costumes e valores defendidos. Por isso, a revolução e a consequente
ruptura epistemológica que a Filosofia provocou, levou às principais propostas
humanistas:

FACE À TRADIÇÃO, PROPÕE INOVAÇÃO.


FACE AO CORPORATIVO E AO COLECTIVISMO, PROPÕE O VALOR DE CADA
INDIVÍDUO.
FACE AO HOMOGÉNEO, PROPÕE O VALOR DA DIFERENÇA E DAS
MINORIAS.
FACE À ACEITAÇÃO, PROPÕE O PENSAMENTO CRÍTICO.
FACE À ESTABILIDADE, PROPÕE O PROGRESSO CIENTÍFICO.
FACE AO NORMATIVO, PROPÕE O LIVRE ARBÍTRIO
FACE AO HÁBITO, PROPÕE A POSSIBILIDADE DE PENSAR POR SI MESMO
FACE ÀS REGALIAS, PROPÕE O MÉRITO
FACE À CORRUPÇÃO, PROPÕE A TRANSPARÊNCIA DAS VIRTUDES
PÚBLICAS
FACE À INJUSTIÇA, PROPÕE A ÉTICA DA CONSCIÊNCIA

Há alguma relação ou passagem da Cultura Crítica à depois denominada Cultura


Ocidental? (0,25v) SIM ou NÂO?
SIM

Se há (essa relação ou passagem), quais são os nomes das fases ou períodos marcantes
dessa relação? (0,5v)

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A passagem de testemunho e de ensinamentos da Escola de Atenas (Cultura Crítica) até
à denominada Cultura Ocidental segue QUATRO grandes períodos marcantes na
História Universal: helenização, romanização, colonialização e globalização.

Se há (essa relação ou passagem), defina e caracterize cada uma dessas fases de


relação entre a Cultura Crítica e a depois denominada Cultura Ocidental (1v)

A Grécia (Helade) educou paulatinamente todo o mundo latino, mediante a


helenização. Ela vem a ser procurada durante toda a Idade Antiga pelos próprios
romanos, admiradores da grande capacidade intelectual dos gregos (helenos). Uma vez
instruído e preparado, o fenómeno da romanização explica a passagem de testemunho
agora feito pelo Império Romano. Os povos conquistados pelo império (ao longo de
uma Idade Média ambiciosa e enérgica) conhecerão a hipótese do Direito (chamado)
Romano (porém grego de raiz), a jurisdição clara e consequente, a organização social
meritória pelo trabalho, a escolarização, a possibilidade de cidadania, da democracia,
etc.

Séculos depois, entrando na nascente Idade Moderna, narcísica e racionalista, e no, por
vezes desastroso, fenómeno da colonização, será por sua vez feita a expansão da
mentalidade crítica e antropocêntrica aos povos do Novo Mundo. Protagonista dos
Descobrimentos e das descobertas, o Velho Mundo instruirá a condução de novas
nações, desejosas da democracia (grega) e dos direitos humanos universais (a ética
aristotélica, em suma).

Como fenómeno ulterior, já na reacção Pós-Moderna europeia, vemos que a


globalização (particularmente efectuada pela Rede ou Sociedade do Conhecimento),
por um lado facilita a célere transmissão deste paradigma cultural de modo mais directo
e eficaz que a marcha lenta dos soldados romanos ou a viagem das naus e caravelas;
mas por outro lado, pela ignorância das fontes, pela pressa ou pela superficialidade,
coloca este património como presa frágil do eclecticismo preponderante do nosso
tempo.

Significa o mesmo «Cultura Ocidental» e «Pensamento Contemporâneo»? (0,25v)


RESPOSTA LIVRE / SIM ou NÃO /
dependendo da justificação livre a dar na resposta a seguir: porquê?

Porquê? (1v)

Alternativa SIM: porque o pensamento do século 21 tem raízes humanistas ainda hoje
muito visíveis e eficazes (ver a justificação completa feita na última resposta deste
Teste)

Alternativa NÃO: porque o pensamento do século 21 já se distancia e distingue


demasiado das raízes humanistas da civilização ocidental

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Nesta alternativa (NÃO), o pensamento contemporâneo deve ser apresentado como
«não contemporâneo» mas sim HERDEIRO DE TODAS AS MENTALIDADES
ANTERIORES, numa mistura eclética, relativista, hedonista, consumista, narcisista,
facilitista, multiculturalista (…) com o humanismo, a filosofia, a ciência, a inovação,
etc.

Qual é a principal tendência do Pensamento Contemporâneo? (0,5v)

ECLECTICISMO

Defina a principal tendência do Pensamento Contemporâneo.(0,5v)

O eclecticismo é uma reunião de elementos doutrinários de origens diversas que não


chegam a articular-se numa unidade sistemática consistente. Implica mistura de
conceitos contrários e contraditórios entre si, originando certa confusão intelectual mas
também diversidade e novidade aparente.

O pensamento eclético nasce da ignorância, do desprezo e ou do desinteresse pelos


temas genuínos de cada paradigma cultura da Humanidade. Não conhece bem nenhum
deles, mas faz uma mescla do que considera, epocalmente, mais relevante.

Ao longo dos últimos 27 séculos todas as culturas (da mitologia e da religião) ditaram
as suas morais, as suas etiquetas, os seus protocolos, os seus legítimos códigos
normativos, as suas legislações jurídicas. Porém, só a civilização (humanista) que nasce
na Escola de Atenas e se solidifica na Universidade de Bolonha (portanto, uma cultura
inicialmente europeia, hoje dita ocidental) definiu uma ÉTICA UNIVERSAL, inata e
natural, igual e transversal a todos os indivíduos. Por ironia, sabemos que hoje, nem os
povos (ditos) ocidentais seguem essa «eticidade humanista», pactuando com poderes
instituídos, mentalidades fechadas e pseudo-qualidade de vida… As democracias
ocidentais recebem «jovens democracias» que persistem, debaixo de uma capa
tecnológica e económica superior, sendo ancestrais ditaduras étnicas, arraigadas
servidões religiosas ou misturas mitológicas conspirativas. O eclecticismo globalizado,
misturado com crenças mitológicas e religiosas sem identificação na rede, levou a um
certo vazio de sentido da sociedade ocidental, adormecida num caldo de consumismo
frustrado e culto da trivialidade, preguiça e ignorância, que se traduz no alvo vulnerável
de todo o obscurantismo, manipulação e barbárie, onde germina latente uma recusa de
tudo a troco de nada. Instalou-se o vírus do relativismo, do «tudo vale».

Está em crise de identidade o intitulado «Ocidente» (que não é uma área geográfica,
mas sim uma área de influência mental e cultural). Talvez por essa fragilidade interna os
ocidentais estejam tão permeáveis ao intitulado «Oriente», e essa relação seja hoje um
paradoxo.

Quais as marcas, eventos ou fenómenos mitológicos que permanecem no


Pensamento Contemporâneo e/ou que nele foram aparecendo ultimamente? (1v)

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1º fenómeno: permanecem as clássicas mitologias antigas (e o seu padrão de mentalidade
sensorial). Legendárias civilizações como as Maia, Azteca, Fenícia, Suméria, Celta,
Chinesa, Persa, Egípcia e Grega, não estão ainda completamente extintas,
encontrando-se gerações tardias dos seus descendentes.
2º fenómeno: existem as comunidades mitológicas novas ou recém registadas (séc.XX)
na Sociedade das Nações (povos antigos, mas hoje melhor conhecidos nas suas origens
étnicas e dispersos por vários continentes). Referimo-nos a naturais de povos indígenas
(esquimós, índios sioux, apache, comanche, cheyene, guaranis, aborígenes, etc.), hoje
melhor conhecidos e protegidos pela humanidade em geral.
3º fenómeno: ultimamente, é sobretudo real, estendida e em todo o lado visível as
«novas mitologias globais», uma mitologia contemporânea e habitualmente urbana ou
cosmopolita. No século 21, o pensamento contemporâneo e as relações interpessoais
que se baseiem na submissão e centramento ao poder da matéria (o consumismo
contemporâneo) são herdeiras deste naturocentrismo materialista. Esta «nova mitologia
global» (particularmente apetecível às nações e indivíduos recém-chegados ao mundo
intelectual e científico) centra-se num absurdo consumismo.
4º fenómeno: a superstição generalizada, elevada a perda ou anulação do livre arbítrio,
é característica do século 21. O ser humano transfere à matéria (objectos, lugares,
pessoas, gestos) um poder imaginário mas considera-o real e, até, controlador da sua
própria existência.

Quais as marcas, eventos ou fenómenos religiosos que permanecem no Pensamento


Contemporâneo e/ou que nele foram aparecendo ultimamente? (1v)
Persistem no pensamento contemporâneo:
1. as maiores e tradicionais comunidades religiosas (religiões confessionais
oficiais);
2. as suas derivações em «igrejas» diferenciadas (sub-divisões familiares internas
de cada uma das grandes religiões);
3. a proliferação dos NMR (novos movimentos religiosos) que, por três motivos
técnicos principais (juventude, documentação e eclecticismo ilegítimo, não são
considerados propriamente igrejas nem religiões pela História das Religiões,
mas sim NMR (parte e parcela –seita- do povo de Deus).
4. irrompem os movimentos fundamentalistas (minorias religiosas levadas ao
fanatismo religioso, sobretudo as derivadas do Islão onde faça uma interpretação
radical abusiva do Corão).
5. cresce a religiosidade individual, difusa e aconfessional, sendo este fenómeno
sociológico alho novo, dado que a espiritualidade (num mundo simultaneamente
supersticioso e consumista) poderia tender a desaparecer.
6. Sublinha-se o vazio espiritual dos indivíduos (seja por ateísmo, seja por
indiferença).

O traço religioso mais negativo no nosso tempo é o do fanatismo religioso, sobretudo


quando se alia ao poder (seja territorial, seja económico, seja político). Tal deixa
perplexos e mais distantes aqueles que supõem a espiritualidade da religião (que é,
aliás, sua característica definidora) mas que a vêem como manipulada e
manipuladora. A par disto, e de modo paradoxal talvez, permanece uma cada vez

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maior sensibilidade ecuménica e o respeito universal pelos credos, sem que este
limite, porém, a livre expressão.

Quais as marcas, eventos ou fenómenos do Criticismo que permanecem no


Pensamento Contemporâneo e/ou que nele foram aparecendo ultimamente? (1v)

SEGUEM 3 RESPOSTAS POSSÍVEIS, TODAS ELAS BEM EXPOSTAS PELOS


ALUNOS QUE AS SUGERIRAM

A maior marca humanista do nosso tempo é a atitude crítica, a liberdade de expressão e


de opinião que não se deve perder. Também se nota o Paradigma Humanista nas
sociedades abertas, que promovem a educação, a ética e a ciência, e nas sociedades que
politicamente garantem um genuíno sistema democrático.

No mundo actual, embora mais frágeis pela globalização e pelo ecleticismo,


permanecem as seguintes conquistas do Paradigma Humanista:
1. A defesa dos direitos humanos, desde os básicos, a todos os outos direitos e
deveres que deles decorrem, a saber: a dignidade, a propriedade, a liberdade, a
expressão, a equidade, a paridade, a paz, a educação, etc.
2. A promoção da atitude crítica e do método científico, ambos sob a divisa:
«pensa por ti mesmo, nada aceites sem pensar».
3. A confiança na unidade tridimensional e na consciência ética natural

O criticismo tem agora de lidar com novos dogmatismos e efectuar novas rupturas
epistemológicas face ao ecleticismo e suas consequências:
1. Criticar o consumismo global, o culto do eu, da imagem, do entertainment, do
light, do cool, do easy (as novas formas do hedonismo e do materialismo)
2. Criticar as novas superstições globais como formas de anestesia da
intencionalidade do indivíduo e manutenção de mercados ilícitos
3. Criticar o relativismo social, político e económico, o falso multiculturalismo, as
demagogias e as infantilizações da sociedade
4. Criticar a inferiorização da ciência (e da atitude crítica que a fez nascer)
subordinada a interesses políticos e económicos
5. Criticar a rendição ao orientalismo quando este ainda contém mito e religião

Qual a parte desta disciplina que considera mais valiosa para si como pessoa e como
profissional futuro? E menos valiosa? (0,25v)

RESPOSTA TOTALMENTE LIVRE.


FOI COTADA COM VALOR TOTAL A CADA ALUNO = 0,25, independentemente
do seu conteúdo crítico, positivo ou negativo

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