Instituição: Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Programa de Pós-Graduação em Psicologia

Disciplina: Seminários Avançados em Estudos Interdisciplinares
Supervisora: Graciana Sanchotene Valandro
Supervisionada: Thércia Tamilles de Souza Mota
Título do Seminário: Aplicações da Psicologia Cognitiva no Desenvolvimento e Validação
de Medidas Psicológicas
Palestrante: Dr. Wagner de Lara Machado
Instituição do Palestrante:Universidade Federal das Ciências da Saúde de Porto Alegre
Data de Entrega: 27/04/2023
Número do Relatório: 2

Durante sua palestra, o professor Wagner de Lara Machado apresentou parte de sua
pesquisa em parceria com a aluna Marcela Alves Sanseverino. A pesquisa teve como objetivo
principal traduzir e adaptar duas escalas psicométricas, uma delas sendo a "The impact of
non-labelled response categories of rating scales: An example with cross-cultural adaptation
of two self-regulation scales for exercise", escala confeccionada pela professora
norte-americana Liza S. Rovniak, e a outra sendo a "Development of the Meaning in Life in
Physical Exercise Scale (MiLES)". Além disso, a pesquisa buscou avaliar a efetividade da
entrevista cognitiva no processo de construção e adaptação de instrumentos.

A entrevista cognitiva é uma técnica utilizada principalmente na área da psicologia,

que objetiva identificar e analisar o pensamento e raciocínio do indivíduo durante uma tarefa
ou experiência, sendo uma ferramenta útil em processos de construção e adaptação de
instrumentos. É essencial destacar que, embora as perguntas sejam estruturadas, nesse modelo
de entrevista, a pontuação se refere ao julgamento clínico do entrevistador em relação à
presença ou não de determinado critério, e não à resposta dada pelo avaliando (Del-Ben et al.,
2001). Assim, a utilização da entrevista cognitiva na pesquisa do professor Wagner e da sua
orientanda Marcela Alves Sanseverino foi apresentada como uma ferramenta importante para
a construção e adaptação das escalas psicométricas.

O palestrante apresentou três tipos de escalas utilizados na área da psicometria:

Thurstone, Likert e Guttman. A escala de Thurstone, baseada em um modelo de pontuação
 ponderada, é utilizada para medir atitudes e pode ser definida como a quantidade de afeição
ou sentimento a favor ou contra um certo estímulo (Bermudes et al., 2016). Já a escala Likert,
composta por uma série de afirmações ou perguntas que devem ser respondidas em uma
escala de concordância, é uma das mais utilizadas na psicometria, possibilitando a realização
de análises estatísticas (Curado et al, 2014). A escala de Guttman é composta por uma série de
itens que progridem em dificuldade, e os participantes são solicitados a responder "sim" ou
"não" para cada item, sendo possível calcular a pontuação de um indivíduo e classificá-lo em
uma escala de acordo com sua habilidade. Além desses três tipos de escalas, o modelo
probabilístico de Rasch é utilizado na psicometria para medir a habilidade ou traço de um
indivíduo em relação a um conjunto de itens.
O professor Wagner comentou sobre duas pesquisas que realizou, ambas relacionadas
à adaptação de escalas psicométricas. Na primeira, intitulada "The impact of non-labelled
response categories of rating scales: An example with cross-cultural adaptation of two
self-regulation scales for exercise", a equipe trabalhou com dois fatores, metas e atividades de
exercício, para entender como as atividades físicas afetam o bem-estar e a saúde mental de
uma pessoa. O resultado foi a criação do Questionário de Experiência Transformativa (QET),
que apresentou uma análise estatística robusta mas com a limitação de não considerar como
os respondentes se adequaram aos itens do teste.

Para resolver essa questão, o professor e sua equipe adotaram a entrevista cognitiva no
segundo estudo, solicitando que os participantes respondessem à escala usando a técnica
"think aloud", ou seja, falando em voz alta. Os resultados obtidos sugerem que a entrevista
cognitiva é um instrumento que permite bons índices de confiabilidade, já que a concordância
geral da entrevista, medida pelo Kappa ponderado, foi bastante satisfatória (Del-Bem et al.,
2001). Esse processo resultou em dados ainda mais fortes, com índices acima de 90% na
análise de validade e fidedignidade, mostrando a importância da entrevista cognitiva na
construção e adaptação de testes.

Referências
Aini, Q., Zuliana, S. R., & Santoso, N. P. L. (2018). Management measurement scale as a reference to
determine interval in a variable. Aptisi Transactions on Management (ATM), 2(1), 45-54.
Bermudes, W. L., Santana, B. T., Braga, J. H. O., & Souza, P. H. (2016). Tipos de escalas utilizadas
em pesquisas e suas aplicações. Revista Vértices, 18(2), 7-20.
Curado, M. A. S., Teles, J., & Marôco, J. (2014). Análise de variáveis não diretamente observáveis:
influência na tomada de decisão durante o processo de investigação. Revista da Escola de
Enfermagem da USP, 48, 146-152.
Del-Ben, C. M., Vilela, J. A. A., Crippa, J. A. D. S., Hallak, J. E. C., Labate, C. M., & Zuardi, A. W.
(2001). Confiabilidade da" Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-IV-Versão Clínica"
traduzida para o português. Brazilian Journal of Psychiatry, 23, 156-159.
Reise, S. P., & Waller, N. G. (2009). Item response theory and clinical measurement. Annual review
of clinical psychology, 5, 27-48.