Você está na página 1de 16

Implantação de Sistema de Gestão da Qualidade em Empresas de

Projeto: estudo de caso na cidade do Rio de Janeiro.

Mônica Santos Salgado, Prof. Associado, D.Sc monicassalgado@ufrj.br


GEPARQ- Grupo de Pesquisa Gestão de Projetos em Arquitetura
http://www.proarq.fau.ufrj.br/pesquisa/geparq/
Resumo
A melhoria da qualidade na indústria da construção civil brasileira ganhou novo impulso a
partir de 1998 com a implementação pelo do Governo Federal do PBQPh – Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade no habitat – particularmente o Sistema de Avaliação
da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras (SiAC). Este sistema propõe um
método que auxilia as empresas na organização dos seus sistemas de gestão através do
atendimento gradativo aos requisitos da norma ISO 9001. Os resultados obtidos pelas
empresas que aderiram a esse método incluem a redução no desperdício de material de
construção, a melhoria da qualidade na execução de edifícios e a melhoria da qualificação
da mão-de-obra com o conseqüente aumento da produtividade no canteiro de obras. O
setor de desenvolvimento de projetos foi o último a aderir a esta iniciativa com a criação, em
2008, de um sistema de avaliação de conformidade criado especificamente para as
empresas de projeto. O atraso na criação de um sistema específico para este setor é uma
conseqüência da grande resistência dos profissionais envolvidos (arquitetos e engenheiros)
que não compreendiam o valor de um sistema de qualidade que não pudesse garantir a
qualidade do edifício em si, mas apenas do processo de gestão do desenvolvimento do
projeto. Este trabalho apresenta os resultados obtidos com o projeto de colaboração entre
os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e escritórios de
arquitetura. As empresas foram selecionadas considerando o seu interesse pelos sistemas
de gestão da qualidade, particularmente pelo método proposto pelo PBQPh. Entre os
resultados parciais obtidos, destaca-se a importância da gestão das informações para a
melhoria da qualidade dos projetos.
Palavras-chave: gestão de projetos, gestão da qualidade, qualidade do projeto.

Abstract
The improve of quality on Brazilian’s civil construction industry have been stimulated after
1998 through the Federal Government with implementation of PBQPh – Brazilian Program
for Quality and Productivity in the habitat. This program proposes the progressively comply
with the requirements of ISO 9001. The encouraging results obtained with this program can
be testified by the construction enterprises which had incorporated the routines and
improved their quality management systems. The reduction of constructive material waste,
the improvement of buildings quality, the increase of productivity on construction site and the
improvement of the qualification of hand-to-workman are some of the results obtained during
the past ten years. The design sector was the last to join this initiative with the
establishment, on 2008, of a quality management system program created specifically for
design offices. The delay on the establishment of a quality management system for the
design sector is related with the great resistance of professionals involved (architects and
engineers) that couldn’t comprehend the value of a quality program that could not assure the
quality of the building itself. However, the experience of some architecture offices had
proved that the establishment of a quality management system could also collaborate for the
quality of the product. The purpose of this paper is to present the partial results obtained
through a pilot-experience with a collaborative project among the researchers of Federal
University of Rio de Janeiro (Universidade Federal do Rio de Janeiro - Brasil) and
architecture offices. The firms have been selected considering their interest on quality
management systems. Among the partial results obtained, it is important to emphasize the
impact of knowledge management for the implementation of a quality management system.
Keywords: design management, quality management, quality control

1. O esforço brasileiro para a melhoria da qualidade da construção civil


A definição de qualidade como adequação a determinados requisitos é aquela que
melhor expressa o movimento que, na construção civil brasileira, ganhou maior impulso na
década de 90, quando as empresas entenderam que deveriam buscar caminhos para
incorporar novos conceitos de gerenciamento da produção às suas práticas diárias. O foco
dos trabalhos concentrou-se nas questões ligadas especificamente à execução da obra e as
construtoras iniciaram um processo que incluiu:
- a adoção das normas de especificação e controle da qualidade no recebimento dos
materiais de construção;
- a definição dos procedimentos operacionais e de execução de serviços a serem
praticados nas obras;
- a sensibilização e treinamento da mão-de-obra operária nos procementos padronizados.
Considerando a importância da indústria da construção civil na economia do País,
o Governo Federal instituiu em 1998 o PBQP-h – Programa Brasileiro da Qualidade e
Produtividade no Habitat. O objetivo geral desse programa é apoiar o esforço brasileiro de
modernização da construção civil através da promoção da qualidade e produtividade na
construção habitacional.
O PBQP-h foi estruturado em projetos a partir de um modelo matricial. Cada
projeto corresponde a um conjunto de ações que contribui diretamente para o
desenvolvimento do Programa, e busca solucionar um problema específico na área da
construção civil.
Cada projeto é desenvolvido pelo Governo Federal em conjunto com especialistas,
entidades do setor, consultores e setor privado, além do apoio de um técnico da
Coordenação Geral e do GAT (Grupo de Assessoramento Técnico), que exerce a função de
facilitador do processo sendo responsável pela compatibilização das ações entre os
projetos do Programa.
Um dos projetos propulsores do PBQP-H é o Sistema de Avaliação da
Conformidade de Empresas de Serviços e Obras (SiAC). Este tem como objetivo avaliar a
conformidade do sistema de gestão da qualidade das construtoras brasileiras tomando por
base os requisitos da norma de Sistemas de Gestão da Qualidade – ISO 9001. O Sistema
de Avaliação de Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil –
SiAC, Especialidade Técnica Execução de Obras e ganhou sua versão definitiva em 2005,
acompanhando a atualização de 2000 da norma ISO 9001 (PBQPH, 2005), aprovado pela
portaria no. 118, de 15 de março de 2005. Ressalte-se que a ISO 9001 sofreu nova
atualização em 2008, mas a versão 2005 do Sistema de Avaliação de Conformidade
continua em vigor uma vez que as alterações na norma não chegaram a impactar
negativamente a proposta do Sistema.
O sistema de avaliação de conformidade das empresas construtoras está dividido
em quatro estágios: D, C, B e A. Para cada estágio foi estabelecido um referencial
normativo a ser cumprido pelas empresas interessadas na certificação. Para cada
referencial normativo são indicados quais requisitos da ISO 9001 devem ser atendidos.
Dessa forma, as empresas vão elaborando gradativamente seus sistemas de gestão da
qualidade, evoluindo até a obtenção da qualificação no “nível “A” do SiAC - Obras. (PBQPH,
2005)
O PBQPh ganhou impulso em 2010 com a assinatura em março do acordo setorial
entre A União, a Caixa Econômica Federal (CEF) e a Câmara Brasileira da Indústria da
Construção (CBIC) cujo objetivo é o estabelecimento de critérios e prazos para aplicação da
Especialidade Técnica Execução de Obras do SiAC – PBQPh na execução de serviços e
obras no âmbito dos Programas Habitacionais e de Infra-estrutura geridos pelo Ministério
das Cidades e operados pela Caixa. (ACORDO SETORIAL, 2010)
Também em 2010 ocorreu o evento intitulado PBQP-H - Os Desafios da Qualidade
e Sustentabilidade no Habitat e o Papel da Política Pública. O objetivo do encontro foi
debater o PBPQ-H 2015 Objetivos Estratégicos - metas do milênio, qualidade nas obras
públicas, a sustentabilidade no habitat, além de premiar as construtoras que mais se
destacaram na implementação do Sistema de Gestão da Qualidade com o “Prêmio PBQP-H
Edição 2010” (PBQPh, 2010). As empresas premiadas na categoria de edificações foram:
- Asa Incorporadora;
- CHL Desenvolvimento Imobiliário;
- Construtora Caparaó;
- Construtora Fractal;
- RMA Engenharia Integrada;
- Supricel Construtora e Incorporadora.
Somente 10 anos após o lançamento do SiAC – Obras o setor de desenvolvimento
de projetos foi contemplado com um sistema para auxiliá-lo na melhoria da qualidade do
processo de projeto. Em 2008, foi lançado o Sistema de Avaliação de Conformidade de
Empresas que atuam na Especialidade Técnica Elaboração de Projetos (SiAC-Projetos),
aprovado pela portaria no. 473, de 26 de setembro de 2008. Este sistema tem como
características básicas (PBQPh, 2008):
- Quatro estágios de implantação;
- Existência de Quatro Referenciais Normativos – um para cada estágio;
- ESTÁGIO 1 –Declaração de Adesão ao Referencial Normativo do Estágio 1;
- ESTÁGIOS 2, 3 e 4 – Certificação por Organismos de Certificação (OC), ou Organismos
de Certificação Credenciados (OCC) com auditorias in loco.
Para compreender as dificuldades encontradas pelo setor de desenvolvimento de
projetos na adesão ao sistema de avaliação proposto pelo PBQP-h é necessário
caracterizar sua evolução, particularmente nos últimos 20 anos.

2. Caracterização do setor de desenvolvimento de projetos para a construção


civil e a preocupação com a qualidade
A preocupação com a qualidade no desenvolvimento dos projetos aumentou a
partir da constatação de que a maior parte dos problemas identificados nas obras era em
decorrência de falhas nos projetos. No final do século XX, Helene (1992) afirmou, com base
em seus estudos, que cerca de 40% das patologias que ocorrem nas edificações tinham
sua origem nas fases de planejamento e projeto do edifício. Em consequencia dessa
constatação, os profissionais do setor se interessaram pela discussão referente à gestão do
processo de projeto na construção do edifício.
Em 1999, pesquisa realizada por Tzortzopoulos (1999) destacou a importância de
se desenvolver um modelo que pudesse auxiliar na gestão do processo de projeto
constituindo-se num plano para o seu desenvolvimento, onde seriam definidas as principais
atividades e suas relações de precedência assim como os papeis e responsabilidades dos
principais intervenientes do processo e o fluxo principal de informações. Em sua pesquisa, a
autora constatou que os projetistas em geral, apresentam uma abordagem do processo
restrita à sua área específica de atuação, fato que demonstrava desconhecimento do
processo de forma global.
Em 1994 destaca-se o trabalho desenvolvido por Melhado (1994), que introduziu o
conceito de “projetos para produção”, conjunto de elementos de projeto elaborados de
forma simultânea ao detalhamento do projeto executivo para utilização no âmbito das
atividades de produção em obra, contendo as definições de: disposição e seqüência das
atividades de obra e frentes de serviço; uso de equipamentos; arranjo e evolução do
canteiro entre outros itens vinculados às características e recursos próprios da empresa
construtora.
A partir dessa discussão, surgiu uma nova proposta, apresentada por Fabrício
(2002), que defendia a lógica da engenharia simultânea aplicada ao processo de projeto.
Em seu trabalho o autor destaca a carência de modelos capazes de tratar globalmente a
integração do projeto com o cliente, com o processo de produção e com todo o ciclo de vida
dos empreendimentos. A questão que se levantava era a necessidade de mapear o
processo de projeto e organizar as empresas de forma a garantir o adequado fluxo de
produção no desenvolvimento de projetos.
Em 2006, Ferreira desenvolveu uma investigação nas empresas de arquitetura
certificadas pela norma ISO 9001, e constatou que, para aquelas empresas, a certificação
pela norma não era considerada um diferencial de mercado e que o alto custo financeiro
constituiria um empecilho para a manutenção de um sistema de gestão certificado. Todas
as empresas pesquisadas reconheceram, entretanto, a importância do SGQ na organização
dos seus processos de produção.(FERREIRA, 2006)
Uma das dificuldades citadas pela autora era conciliar o desenvolvimento das
tarefas do dia-a-dia de cada funcionário com a produção dos documentos necessários ao
sistema, bem como a necessidade de se empreender uma mudança na cultura da empresa.
Na verdade as empresas que vinham buscando implantar o sistema da qualidade, não raro
cometiam erros tais como (SALGADO, 2004):
- descrever nos procedimentos o processo “ideal” e não o “real”;
- descrever detalhes que não impactam na Qualidade, porém enrijecem o processo;
- prever verificações no início, durante ou final do processo sem detalhar os parâmetros
que devem ser observados;
- prever a utilização de documentos de referência para aplicação dos
procedimentos/instruções de trabalho, mas não considerá-los plenamente na execução
dos processos; entre outros.
Cabe destacar que o sistema de gestão da qualidade da empresa de projetos deve
auxiliar o gerenciamento das informações, facilitando o trabalho e contribuindo,
indiretamente, para a melhoria da qualidade da edificação (ou conjunto de edificações)
projetada.

3. O momento atual: modelos de gestão para as empresas que desenvolvem


projetos para a construção civil brasileira
A gestão do processo de projeto dos edifícios tem despertado o interesse não
apenas entre os pesquisadores do país, mas também entre os profissionais que atuam no
setor, e que vêem nessa discussão uma possibilidade de aumentar sua produtividade com
qualidade e eficiência.
Entre os profissionais de arquitetura que se manifestaram sobre o tema, Mahfuz
(2003) fez uma severa crítica aos modelos de gestão, ressaltando a importância de se
distinguir a diferença entre a certificação do processo de projeto e a certificação de um
produto. Segundo o autor, alguns escritórios de arquitetura estariam utilizando a certificação
ISO 9001 como propaganda enganosa, uma vez que a certificação dos sistemas de gestão
da qualidade numa empresa de projetos não garante a qualidade dos projetos realizados
por aquela empresa. Nessa discussão, confrontam-se as duas visões do projeto:
- projeto como produto – referente ao edifício ou conjunto de edificações que se pretende
construir;
- projeto como processo – referente à seqüência de atividades necessárias para
transformar a idéia original da edificação (concepção) em diretrizes a serem obedecidas
pela construtora para realizar o produto – construir o edifício.
Outro aspecto que dificulta o processo de implantação de um sistema de gestão da
qualidade nas empresas de projeto é a resistência dos profissionais em relação aos
requisitos exigidos pela norma ISO 9001 que, segundo alegam, não são aplicáveis às
pequenas empresas – típicas no setor de desenvolvimento de projetos de edifícios.
Foi a partir da necessidade de se estabelecer um sistema de gestão que fosse
adequado à realidade das empresas que desenvolvem projetos que os pesquisadores da
área decidiram desenvolver alguns modelos de gestão que considerassem as
especificidades desse setor produtivo.
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) apresentou em
1992 um roteiro básico para o desenvolvimento de projetos de arquitetura, com o objetivo
geral de estabelecer informações, subsídios, condicionantes, procedimentos e produtos
finais para cada fase ou etapa de trabalho. Cinco anos depois o Centro de Tecnologia de
Edificações em parceria com o Sindicato da Indústria da Construção Civil de São Paulo
(SINDUSCON-SP) elaborou um Programa de Gestão da Qualidade no Desenvolvimento de
Projeto na Construção Civil que visava a auto-implantação de melhorias no processo de
projeto de forma gradual, através da compreensão do fluxo de atividades para o processo
de projeto, com destaque para a necessidade de elaboração do planejamento estratégico
das empresas de projeto (Tzorzopoulos, 1999).
Na busca apresentar um modelo mais voltado às pequenas empresas de projeto,
Oliveira (2005) elaborou uma proposta onde se apresentam orientações para a gestão dos
principais processos e funções das pequenas empresas de projeto de edifícios, tais como:
estrutura organizacional, planejamento estratégico, planejamento e controle do processo de
projeto, gestão de custos, gestão comercial, sistema de informações, gestão de recursos
humanos, serviços agregados ao projeto e avaliação de desempenho. Oliveira tentou
estabelecer um modelo diferente daquele proposto pela norma porque, segundo ele, a
implantação e manutenção dos sistemas da qualidade com base na norma ISO 9000
apresentam altos custos, geram grande burocratização de processos, necessidade de
pessoal com dedicação exclusiva para às questões relacionadas ao gerenciamento
específico do sistema da qualidade tornando-se praticamente inviável, especialmente nas
pequenas empresas.
A Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA) novamente se
dedicou ao tema da gestão do processo de projeto, publicando, em 2006, um conjunto de
manuais que tem como objetivo estabelecer o dos serviços relacionados com o
desenvolvimento e coordenação de projetos. Os assuntos tratados envolvem desde a
contratação dos serviços até o escopo dos projetos a serem apresentados. O trabalho
divulgado pela AsBEA não propõe nenhum modelo específico de gestão, mas aponta
quanto às questões a serem consideradas pelas empresas na organização da sua forma de
atuação.
Finalmente, em 2008 foi lançado o Sistema de Avaliação de Conformidade de
Empresas da Especialidade Técnica Elaboração de Projetos. (PBQPh, 2008)
Tabela 1 – Estágios do SiAC – Projetos
SiAC Elaboração de Projetos Estágios
Processos REQUISITOS 1 2 3 4
P1 Caracterização da P1.1 Caracterização geral da empresa X
empresa e de seus P1.2 Definição de representante da direção da empresa X X X
processos de planejamento P1.3 Planejamento e estabelecimento de política da qualidade X X X X
e de gestão da qualidade e de objetivos e metas
P1.4 Análise crítica e descrição dos processos de gestão X X X X
P2 Gestão das relações com P2.1 Identificação e análise de requisitos para o projeto X X
os clientes (contratante e P2.2 Programa de necessidades X
usuários finais)
P3 Gestão da P3.1 Classificação, identificação e rastreabilidade dos X
documentação documentos de projeto
P3.2 Elaboração do Manual da Qualidade e procedimentos do X
sistema de gestão e seus controles
P3.3 Documentação do Sistema de Gestão da Qualidade e seu X
controle
P3.4 Controle de registros X
P4 Gestão da Comunicação P4.1 Registro, encaminhamento e retorno de comunicação X
(interna ou externa interna ou externa
P5 Gestão de P5.1 Diagnóstico e plano de capacitação X
competências e recursos P5.2 Provisão de recursos X
P5.3 Infra-estrutura e ambiente de trabalho X X
P5.3.1 Infra-estrutura
P5.3.2 Ambiente de trabalho
P6 Gestão do processo de P6.1 Planejamento do projeto X
projeto P6.2 Análise crítica, verificação e validação X X
P6.2.1 Análise crítica
P6.2.2 Verificação
P6.2.3 Validação
P7 Terceirização P7.1 Processo de terceirização X
P7.1.1 Processo de qualificação de terceirizadas
P7.1.2 Processo de avaliação de terceirizadas
P7.2 Informações para terceirização X
P7.3 Verificação do serviço contratado X
P8 Gestão da satisfação dos P8.1 Avaliação dos resultados pelo cliente (contratante) X
clientes (contratantes e P8.2 Assistência técnica às obras X
usuários finais) P8.3 Avaliação da satisfação do cliente (usuário final) X
P9 Avaliação e melhoria P9.1 Avaliação de resultados e do atendimento a metas X
P9.2 Avaliação e melhoria dos processos X
P9.3 Auditoria interna X X
P9.4 Controle de projeto não-conforme X
P9.5 Ações corretivas X
P9.6 Ações preventivas X
P9.7 Controle de dispositivos de medição e monitoramento X
Nota: A letra “X” da coluna “estágios” indica os requisitos aplicáveis.
A empresa de projetos que desejar adotar o modelo proposto pelo PBQPh será
certificada conforme o estágio de qualificação alcançado. Nessa proposta, as empresas de
projeto podem se qualificar até o “estágio 2” sem obrigatoriamente terem que atender aos
requisitos de um sistema de gestão conforme a norma ISO 9001 – o que facilita a adesão
de empresas de projeto de pequeno e médio porte.
Até 2010 poucas foram as empresas de projeto que buscaram a certificação
proposta pelo PBQP-h. As dificuldades enfrentadas pelas empresas, entretanto, já podem
ser identificadas.

4. Implantação do sistema de gestão conforme SiAC – Projetos: relato de uma


experiência
Com o objetivo de identificar quais seriam os principais problemas a serem
enfrentados pelas empresas de projeto que desejassem certificar seus sistemas de gestão
conforme a proposta do Governo Federal, realizou-se uma experiência-piloto com três
empresas de projeto sediadas na Cidade do Rio de Janeiro. O projeto de colaboração
Universidade-empresa teve como objetivo preparar as empresas para a qualificação
atendendo aos requisitos definidos pelo estágio 2 do SiAC-Projetos (PBQPh).
Após essa fase, conforme o andamento dos trabalhos, as empresas poderiam
permanecer no estágio 2 ou ampliar o sistema de gestão implantado, expandindo os
documentos e registros de forma a atender às exigências dos níveis seguintes até atingirem
a certificação ISO 9001, se assim desejassem.
Além das características indicadas na Tabela 2, as empresas selecionadas tinham
as seguintes semelhanças:
- interesse em participar de um projeto colaborativo;
- atuação profissional no desenvolvimento, coordenação e compatibilização de projetos;
- não existência de sistema de gestão da qualidade implementado.
A dinâmica para realização do trabalho foi proposta considerando a realização de
reuniões quinzenais. Por solicitação das empresas o trabalho inicialmente ocorreu em
reuniões mensais. Após 6 meses de trabalho, entretanto, o grupo entendeu a necessidade
de intensificar a periodicidade das reuniões voltando à proposta original com reuniões
quinzenais.
Tabela 2 – Caracterização das empresas participantes do projeto.
Empresas A B C
Ano de
fundação 1987 2006 1986
Número de
funcionários 6 33 39
Nicho de Projeto de Mercado imobiliário, . Projetos de Arquitetura:
atuação arquitetura, em todas escolas, projetos coordenação e desenvolvimento de
as suas etapas e especiais projetos executivos
Coordenação de (concessionárias, . Projetos de Engenharia: infra-
Projetos tanto stands, praças, etc) estrutura de loteamentos e
residenciais como grupamentos (implantação,
comerciais. terraplenagem, drenagem, esgoto,
água potável, suprimento
energético, iluminação e outros).
Qual a sua Melhorar o Organizar o sistema Padronizar os procedimentos
expectativa desempenho da de gestão da realizados pela empresa (desde
com a empresa; registrar o empresa, com o processos administrativos internos
implantação funcionamento e estabelecimento de até a entrega dos serviços aos os
de um organização rotinas para o clientes) visando garantir a
Programa adotados; melhorar cumprimento de qualidade (prazos, custos e
de Gestão o fluxo de trabalho e contratos, redução qualidade técnica) dos serviços
da gestão de de erros e diminuição prestados aos nossos clientes.
Qualidade informações. do retrabalho.
em sua
empresa?
NOTA: Dados em dezembro de 2008

4.1 Diagnóstico das empresas e roteiro do trabalho


Antes de iniciar o projeto foi necessário realizar o diagnóstico de cada empresa
em relação ao sistema de gestão existente e as tarefas a serem implementadas para
implantação do sistema de gestão conforme proposto pelo SiAC-Projetos (PBQPh).
A partir do diagnóstico apresentado na Tabela 3, teve início o processo de
implantação do sistema de gestão com a discussão dos procedimentos e instruções
referentes à Gestão da Documentação, uma vez que esse requisito foi considerado como
parcialmente atendido pelas três empresas sendo, dessa forma, escolhido como prioridade
na construção do sistema de gestão da qualidade.

Tabela 3 – Diagnóstico das empresas de projeto em relação aos


requisitos do Estágio 1 – SiAC Projetos

REQUISITOS A B C

Requisitos da
Fase 1 Plenamente atendido.
(Caracterização
da empresa)
Requisitos da
Fase 2 (Gestão Existiam alguns procedimentos implantados para o processo, mas eles ainda
das relações com não estavam documentados.
o contratante)
Requisitos da Parte dos Ainda faltava a Parte dos procedimentos já
Fase 3 (Gestão da procedimentos já definição de parte estavam implantados faltando o
Documentação) estavam implantados dos procedimentos registro formal
faltando o registro necessários.
formal.
Requisitos da Os procedimentos Os procedimentos Os procedimentos relacionados
Fase 4 [Gestão da relacionados com a relacionados com a com a gestão da comunicação
Comunicação gestão da gestão da existiam, e estavam totalmente
(interna e comunicação comunicação documentados e implantados
externa)] existiam mas existiam mas ocorrendo retroalimentação e
estavam estavam melhoria contínua. De acordo
parcialmente parcialmente com sua avaliação, essa
documentados. documentados. questão estava resolvida na
empresa
NOTA: Dados obtidos em dezembro de 2008

4.2 Importância da gestão das informações nas empresas de projeto


Na discussão sobre o controle dos documentos e dados foram colocadas dúvidas
referentes à criação dos documentos. Identificou-se a necessidade de estabelecimento de
rotinas para as seguintes situações:
a. controle dos documentos e dados técnicos (projetos);
b. controle dos documentos e dados administrativos (folha de pagamento, notas
emitidas, protocolos, etc);
c. controle dos documentos e dados do Sistema de Gestão da Qualidade;
d. realização das cópias dos documentos e dados – backup;
e. cadastramento dos usuários no sistema (acesso à rede);
f. controle e segurança dos dados digitais.
A opção por iniciar a discussão sobre o sistema de gestão da qualidade das
empresas de projeto pela organização do sistema de gestão das informações merece
destaque uma vez que, conforme relato de outras experiências realizadas no Brasil, esse
tem sido o principal desafio a ser enfrentado pelas empresas de projeto que desejam
organizar o seu sistema de gestão.
As tecnologias de informação e comunicação vem ao encontro dessa necessidade,
oferecendo possibilidades de organização das informações através de redes de
colaboração. Essas redes podem auxiliar o contato entre os profissionais da mesma
empresa ou de empresas distintas que passam a atuar de forma colaborativa no
desenvolvimento de projetos.
4.3 Dificuldades na implantação de um sistema de gestão da qualidade
Embora as três empresas envolvidas reconheçam a importância de se estabelecer
um sistema de gestão da qualidade e as vantagens de sua implantação, em meados de
2009 uma das empresas envolvidas decidiu abandonar o projeto. Acredita-se que as causas
para essa decisão reflitam os principais problemas enfrentados por essas empresas na
definição dos seus modelos de gestão. Conforme relato do representante da direção, os
motivos que levaram à interrupção do projeto foram:
- pouco TEMPO dedicado à organização do sistema de gestão da empresa: o
representante da direção da empresa entende que a implantação de um sistema de
gestão da qualidade não pode ser realizada nas horas vagas, quando “sobrar um
tempinho”. Deve ter alocado tempo de trabalho da empresa para a realização dessa
tarefa e, naquele momento, a empresa não estava conseguindo disponibilizar esse
tempo;
- necessidade de definir a implantação do sistema como PRIORIDADE: de acordo com o
depoimento, se não for encarado como prioridade, o assunto acaba ficando em segundo
plano e é esquecido. Considerando que a implantação de um sistema de gestão da
qualidade é uma atividade que inicialmente gera custo e não gera receita para a
empresa a prioridade acaba sendo a realização dos projetos da empresa e não a
organização do seu sistema de gestão;
- necessidade de designar um profissional da empresa que possa se dedicar
EXCLUSIVAMENTE ao acompanhamento das tarefas necessárias à organização do
sistema de gestão da qualidade. Esse aspecto está muito relacionado aos demais. Nas
empresas menores os recursos também são mais limitados, e nem sempre é possível
designar uma pessoa para realizar exclusivamente esta tarefa.
- O mercado AQUECIDO leva ao aumento na demanda de serviços nas empresas e,
consequentemente, o tempo para realização das atividades referentes à implantação de
um sistema de gestão da qualidade fica reduzido. Além disso, num mercado aquecido,
as empresas enfrentam dificuldades para manter os profissionais e contratar outros. Em
consequência, estão trabalhando em ritmo intenso para poder cumprir com os prazos
conforme definidos nos contratos.
Um aspecto particular no depoimento da empresa que optou por abandonar o
processo de implantação do sistema de gestão da qualidade conforme o modelo proposto
pelo PBQPh, é o fato de constituir uma empresa FAMILIAR. De acordo com o relato do
representante da direção, em empresas familiares é comum a estrutura organizacional não
estar formalizada - especialmente no que se refere à direção da empresa. Nessa
configuração informal, quando divergências ocorrem o processo de implantação do sistema
acaba sendo prejudicado.

5. Considerações finais
Com base na experiência relatada, pode-se concluir que a informalidade é ainda o
principal problema na organização das empresas de projeto. Não existe uma lógica aplicada
a todos os processos de trabalho ficando normalmente a cargo de cada profissional
estabelecer sua forma de trabalhar, muitas vezes independentemente das necessidades e
desejos da empresa. Mesmo quando existe alguma proposta de organização, observa-se
que os dirigentes da empresa, normalmente sobrecarregados com outras tarefas
relacionadas com as atividades-fim, não conseguem treinar seus colaboradores e passam
as informações de forma inapropriada. O resultado é que cada profissional trabalha
conforme sua compreensão do método e não necessariamente conforme esperado pela
direção da empresa.
A adoção de listas de verificação, planilhas e formulários que auxiliem o
profissional na realização de projeto é uma prática adotada pelas empresas analisadas,
sem ser, entretanto possível considerar que essa prática seja adotada por todas as
empresas de projeto.
Entende-se, portanto, que a gestão das informações deve ser o primeiro passo a
ser adotado pelas empresas de projeto interessadas no aprimoramento de suas práticas de
trabalho e, conseqüentemente, na qualidade do projeto em si. Esse processo deve ocorrer
concomitantemente à formalização dos procedimentos de trabalho que devem ser
registrados (redigidos) e organizados num manual onde os profissionais terão acesso às
práticas de trabalho da empresa.
Ressalte-se que, apesar da existência de diversos modelos de gestão para o setor
de projetos, entende-se que cada empresa (particularmente as empresas que desenvolvem
projetos de arquitetura) possui características específicas e formas de atuação distintas.
Dessa forma, entende-se que a adoção de modelos prontos para a gestão do processo de
projeto provavelmente não será eficiente para todas as empresas indistintamente.
A proposta do PBQPh, mais flexível, parece ser a que melhor se adequa às
características do setor de projetos, uma vez que cada empresa poderá alcançar o nível de
organização compatível com suas próprias necessidades sem o ônus dos muitos requisitos
exigidos pela norma ISO 9001 – que nem sempre são aplicáveis à realidade do setor de
desenvolvimento de projetos
Finalmente, cabe destacar que a primeira fase da discussão sobre a gestão do
processo de projeto nas empresas brasileiras, relativizou a importância de aspectos tais
como: qualidade na concepção do produto edificação, satisfação dos usuários, entre outros.
Isso ocorreu devido à urgência em reduzir problemas tais como os erros de projeto, as
incompatibilidades entre as diferentes especialidades, os desencontros entre a última
revisão do projeto e aquela que efetivamente está sendo executada na obra e as
dificuldades em rastrear as decisões de projeto, entre outros.
Cabe ressaltar, portanto, que a valorização dos projetos deve considerar a
priorização de aspectos relacionados com a qualidade dos espaços projetados, que não
devem nunca ser suplantada pelas necessidades relacionadas com a gestão.

Referencias bibliográficas
ACORDO SETORIAL Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal e Câmara
Brasileira da Indústria da Construção, visando à Implementação do Sitema de Avaliação de
Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção Civil – SiAC, do Programa
Brasileiro da Qualidade e Produtividade no Habitat – PBQPh, 17 de março de 2010
ASSOCIAÇÃO Brasileira dos Escritórios de Arquitetura, Manual de Contratação dos
Serviços de Arquitetura e Urbanismo, Ed. PINI, São Paulo, 1992
FABRÍCIO, Márcio Minto Projeto Simultâneo na Construção de Edifícios Tese de
Doutorado. Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola Politécnica/USP,
2002
FERREIRA, C. Contribuição aos Estudos para a Implantação de um Sistema de Gestão da
Qualidade em escritórios de Arquitetura.2006. 122 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura)
– PROARQ/FAU/UFRJ, Rio de Janeiro, 2006.
MELHADO, S. B. Qualidade do projeto na construção de edifícios: aplicação ao caso das
empresas de incorporação e construção. 1994. Tese (Doutorado) - Escola Politécnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo.
OLIVEIRA, Otávio José. Modelo de Gestão para pequenas empresas de projeto de
edifícios. Tese de Doutorado. Departamento de Engenharia de Construção Civil, Escola
Politécnica/USP, 2005
PBQPH - PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE NO HABITAT
Sistema de Avaliação de Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção
Civil – SiAC, Especialidade Técnica Execução de Obras, Ministério das Cidades, Brasília,
2005
PBQPH - PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE NO HABITAT
Sistema de Avaliação de Conformidade de Empresas de Serviços e Obras da Construção
Civil – SiAC, Regulamentação da Especialidade Técnica Elaboração de Projetos, Ministério
das Cidades, Brasília, 2008
PBQPH - PROGRAMA BRASILEIRO DA QUALIDADE E PRODUTIVIDADE NO HABITAT ,
Ministério das Cidades, (http://www4.cidades.gov.br/pbqp-h/imprensa_noticia.php?cd=249),
2010
SALGADO, M. S. Apostila para a disciplina Gestão da Qualidade e Administração de
Equipes. PROARQ/FAU/UFRJ, 2001.
______________. Produção Arquitetônica e Interdisciplinaridade: uma discussão sobre o
processo do projeto e a ISO 9001/2000. In: Anais da I Conferência Latino-Americana de
Construção Sustentável e 10º. Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído.
São Paulo: ENTAC, 2004
TZORZOPOULOS, Patrícia Contribuições para o desenvolvimento de um modelo do
processo do projeto de edificações de empresas construtoras incorporadoras de pequeno
porte Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, UFRGS, 1999
Agradecimentos
A autora agradece aos diretores das empresas envolvidas que participam dessa
experiência: ART5 Planejamento e Projeto, FEU Arquitetura e SEICOR Engenharia e
Planejamento.

Você também pode gostar