A qualidade é um conceito subjetivo que está relacionado diretamente à percepção de
cada pessoa, influenciada por diversos fatores, como cultura, modo de pensar, tipo de produto ou serviço prestado. As necessidades e expectativas também influenciam diretamente nessa definição. De uma forma ou de outra, podemos afirmar que a satisfação do cliente é uma condição primordial de qualquer organização, para que a empresa sobreviva e desenvolva-se em um ambiente competitivo e de rápidas mudanças. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresenta periodicamente dados que demonstram o constante crescimento do segmento de Construção Civil, revelando um mercado extremamente competitivo e essencial à estruturação da infraestrutura, peça chave no suporte ao desenvolvimento do nosso país. Com a estabilização econômica e o aumento da competitividade gerada pela globalização, tornou-se visível um problema que até então se escondia: o nível de qualidade e de produtividade na Construção Civil. Nisso já pensam também, com grande preocupação, as grandes empresas da indústria da Construção Civil que sentem de perto essas dificuldades e gargalos, entre elas, também a falta de qualificação de profissionais. Não é preciso mencionar o papel estratégico desse segmento para o desenvolvimento econômico do país. Para atender a todas essas questões e como forma de melhorar a qualidade e a competitividade na Construção Civil, o Governo Federal instituiu, em 1998, o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H), que busca ampliar o acesso à moradia de qualidade para a população de menor renda, por meio da elevação dos patamares de qualidade e produtividade da indústria da Construção Civil, com o uso de procedimentos ambientais, sociais e economicamente sustentáveis. O programa conta com a chancela do Governo Federal e com a organização do Ministério das Cidades, que regula o segmento da Construção Civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva. Esse processo traz muitos benefícios para empresas, setor público, revendas e consumidor. Para as corporações, revela grandes oportunidades no aumento da sua competitividade, a redução de desperdícios, uma melhor formação dos profissionais, acesso a projetos e relatórios; materiais de melhor qualidade e adequação às normas técnicas. Por outro lado, as empresas têm a oportunidade, também, de se ajustarem ao Código de Defesa do Consumidor, evitando tanto algumas penalidades previstas quanto o lançamento no mercado de produtos que não atendam às normas brasileiras. Para o setor público é uma oportunidade para utilizar o seu poder de compra como forma de selecionar os fornecedores que produzem com maior qualidade, otimizando os recursos disponíveis e solicitando no processo licitatório os atestados de qualificação. A utilização de produtos fora das normas técnicas pode causar prejuízos como vazamentos, infiltrações e contaminação do solo. O ideal seria que estes materiais não chegassem às revendas, que não atingem nem mesmo uma maior lucratividade pela comercialização irregular e faz com que consumidor possa se indispor com o estabelecimento e não voltar ao local para fazer uma nova compra. Para se ter ideia da força e importância do PBQP-H, o projeto “Minha Casa Minha Vida” utiliza apenas produtos de empresas aprovadas em suas obras. Além disso, os relatórios gerados no PBQP-H são ferramentas essenciais para auxiliar tanto o consumidor que quer construir ou reformar quanto as revendas (assim como os fabricantes, as lojas de materiais de construção também têm responsabilidade jurídica pelo produto comercializado). O PBQP-H tem como meta nacional de mobilização elevar e manter em 90% o percentual médio de conformidade com as normas técnicas dos produtos que compõem a cesta de materiais de construção. Isto significa garantir a qualidade na obra em construção, economia de dinheiro e maior produtividade no setor. O Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat gera relatórios setoriais a cada trimestre. O acompanhamento do desempenho, bem como a evolução de produtos e fabricantes pode contribuir para melhorar efetivamente a qualidade do segmento, onde sai ganhando a sociedade com um todo, consumidor, indústrias, o Brasil. A necessidade de tratar o tema surgiu porque muitos engenheiros, que inclusive trabalham em empresas construtoras com sistemas de gestão da qualidade, não conhecem as origens e os princípios do que realmente é qualidade. Antes de continuar reflite: o que você pensa sobre qualidade?
DE ONDE VEIO A FILOSOFIA DA QUALIDADE?
Muito antes de se falar em PBQP-H, ou mesmo nas normas da série ISO 9000, no Japão, na década de 50, surgiu um movimento de reconstrução do país, o qual estava destruído após a segunda guerra mundial. Esse sentimento de nacionalismo, patriotismo e executar com excelência com muita disciplina criou a filosofia da Qualidade Total (Total Quality) nas indústrias. Nesse período, o conceito de qualidade se estendeu não só ao produto, mas ao processo. Sabemos que os carros japoneses são famosos pela sua qualidade, o que muitos não sabem é que essa reputação foi conquistada por conta de décadas adotando os princípios da qualidade total. Muitos consultores de várias nacionalidades estudaram os princípios japoneses e replicaram para organizações do mundo todo. A Qualidade, então, tornou-se uma mentalidade incorporada nos processos e cultura das empresas, visando fornecer produtos ou serviços em conformidade com requisitos. Para isso, é preciso entender e detalhar as características do produto ou serviço para, então, executá-lo comparando com estes requisitos. Quando uma empresa decide melhorar sua qualidade, ela pretende também atender, encantar e até superar as expectativas do cliente. Mas esse é um processo evolutivo e dinâmico, porque os desejos e anseios do público alvo sempre se alteram. Assim, a mentalidade da Qualidade precisa manter uma rotina que se retroalimente buscando melhorar sempre. Ao longo do tempo, percebeu-se que mais qualidade não significava mais custo. Em muitos casos, a otimização e padronização de processos melhorou financeiramente o desempenho das companhias, e foi assim que a Qualidade ganhou o mundo. Qualidade é produzir produtos ou prestar serviços em conformidade com requisitos; Qualidade é atender, encantar e até superar as expectativas do cliente; A qualidade se estende ao processo e não só ao produto; Mais qualidade não significa mais custo. O PDCA É impossível se aprofundar no tema qualidade sem citar o PDCA. Ele é um método interativo de gestão em 4 passos que foi criado por Shewart na década de 20 e difundido por Deming na década de 50. É um processo que se retroalimenta e se otimiza a cada ciclo. O principal objetivo é a melhoria contínua. Acompanhe as 4 etapas do PDCA: Plan – Planejar Definir com clareza como será feita a execução Treinamento dos envolvidos Definir a meta, o plano e os recursos Do – Executar Por o plano em prática Monitorar os problemas também Ação imediata – atacar a causa raiz Check – Verificar Checar se há continuidade dos resultados Identificação de problemas Act – Agir Determinar suas causas Tomar ações corretivas Aplicar as mudanças que incluem a melhoria do processo
E A ISO 9001, O QUE É ?
O termo “ISO” vem de “International Standard Organization”, um órgão internacional de padronização de normas. O número 9000 é a série de normas relacionadas aos Sistemas de Gestão da Qualidade (nela há a 9001 e 9004 porque as 9002 e 9003 foram extintas). Em 1987, muitos estudiosos e membros do ISO ligados à temática da Qualidade resolveram estruturar esse documento com base no consenso e na experiência profissional desses profissionais de primeira linha. A versão brasileira da norma internacional ISO 9000 é publicada pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. Aqui no Brasil, ela foi publicada em várias séries onde a “ABNT ISO 9001” é a norma mais utilizada em certificações mais reconhecida pelos profissionais, porque define os requisitos para uma companhia ser certificada. Isso é, a ABNT ISO 9001 define quais os princípios e as exigências mínimas para implantar e manter um Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) num setor ou na companhia inteira. Os requisitos para um sistema de gestão da qualidade são divididos em 8 capítulos: 1. Escopo 2. Referência normativa 3. Termos e definições 4. Sistema de gestão da qualidade 5. Responsabilidade da direção 6. Gestão de recursos 7. Realização do produto 8. Medição, análise e melhoria
O INÍCIO DA APLICAÇÃO DOS CONCEITOS DE QUALIDADE NA CONSTRUÇÃO
CIVIL BRASILEIRA Até a década de 1980, quando se falava em “qualidade”, os engenheiros brasileiros pensavam que estávamos falando de “fazer teste em corpo de prova” ou coisas semelhantes. O conceito era limitado ao “atendimento aos requisitos”, e não em todos os princípios difundidos pelos gurus da qualidade. Pensando em aproveitar a organização e padronização que a implantação do sistema de gestão da qualidade proporciona, o Governo do Estado de São Paulo criou na década de 90 o QUALIHAB, um programa para estimular as empresas construtoras a adotar a metodologia segundo a ABNT ISO 9001 aplicada na construção civil. O QUALIHAB é aplicação da norma no segmento de construção de habitações populares do CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo. Uma empresa ser qualificada significa que ela possui um sistema de gestão da qualidade nos moldes da norma internacional. O programa foi bastante questionado, uma vez que empresas não certificadas tentavam impugnar os editais que favoreciam empresas certificadas.
E O QUE É O PBQP-H ?
No âmbito nacional, e pouco tempo depois do QUALIHAB, o Ministério das Cidades
juntamente com técnicos e entidades do setor organizaram o Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Obras (SiAC) para estimular e padronizar a certificação das empresas nacionais ligadas à construção civil. O SiAC foi criado no âmbito do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H), e você tem um conteúdo valioso disponível no site do Governo Federal: Nele é possível ver os requisitos para se cadastrar no programa, o procedimento, as empresas certificadas, os órgãos participantes, entre outros dados. Para consultar a ABNT ISO 9001, você precisa adquirir a mesma junto a ABNT. Mas o regimento do SiAC é 100% gratuito e o conteúdo é muito semelhante (você percebe até que os capítulos tem o mesmo nome!). A certificação do SiAC pelo PBQP-H nada mais é do que a aplicação da ISO 9000 no setor de construção e hoje mais de 1.000 construtoras são certificadas pelo programa.
Questionário: Descreva em no máximo 15 linhas como deve ser a gestão de qualidade