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ENQUALAB-2006 – Congresso e Feira da Qualidade em Metrologia

Rede Metrológica do Estado de São Paulo - REMESP


30 de maio a 01 de junho de 2006, São Paulo, Brasil

A IMPLEMENTAÇÃO DA GARANTIA DA QUALIDADE PELA NBR ISO/IEC


17025: 2005 E SEUS FATORES CRÍTICOS
Luiz Gonzaga Mezzalira, Prof. 1, Sílvio Francisco dos Santos 2
1
São Paulo, Brasil, lmezzalira@terra.com.br, (11) 3231-0834
2
Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro
Rio de Janeiro, Brasil, sfsantos@inmetro.gov.br

Resumo: O item 5.9 “Garantia da Qualidade de Resultados Organismo Acreditador. Estas referências serão feitas com a
de Ensaio e Calibração”, da NBR ISO/IEC 17025:2005 – identificação do requisito entre parêntesis.
Requisitos gerais para a competência de laboratórios de
3. COMENTÁRIOS AOS REQUISITOS
ensaio e calibração[1], juntamente com o item 5.10 –
“Apresentação dos Resultados”, se constituem na síntese de A Figura 1 representa o requisito 5.9 da 17025, no contexto
toda esta Norma. do ciclo PDCA (plan, do, check and action)ii, ou seja,
obedecendo uma lógica em que o planejamento deve ser
Em função desta importância, este trabalho pretende considerado prioritário e que as demais ações acontecem em
apresentar subsídios para aplicação, nos laboratórios, deste ciclos bem estabelecidos. O item 5.9.1 apresenta três
requisito 5.9, através de comentários, sugestão de ações para requisitos e cinco exemplos de atividades. (A versão
sua implementação, originados da experiência obtida, pelos brasileira apresenta sub itens de a) até c), depois repete
autores, nas avaliações para acreditação e manutenção da erroneamente as duas primeiras letras).
acreditação em laboratórios de ensaios e calibraçõesi
Planejar
Planejar
Palavras-chave: comparações interlaboratoriais, garantia da Procedimento
Procedimentode
decontrole
controleda
daqualidade
qualidade
qualidade, NBR ISO/IEC 17025. para
paramonitorar
monitoraraavalidade
validadedas
dascalibrações
calibrações

1. INTRODUÇÃO
PLANO
PLANODE DEMONITORAMENTO
MONITORAMENTO
O produto final de um laboratório é a apresentação dos Disponibilidade
Disponibilidadededeprogramas
programasdedeensaios
ensaios
resultados de calibração ou ensaios, materializada no Comparações
Comparaçõesobrigatórias
obrigatórias
Outras
Outrasatividades
atividadesde
demonitoramento
monitoramento
Certificado de Calibração, Relatório de Medição ou ainda no
Relatório de Ensaios.
O requisito 5.9, com o título “Garantia da Qualidade de Fazer
Fazer
Resultados de Ensaio e Calibração”, sintetiza todo o Sistema Implementar
Implementarooplano
plano
de Gestão da Qualidade, formulado para garantir a
satisfação do cliente, que deseja receber os resultados dos
Dados
Dadosdodo
ensaios e calibrações com a qualidade necessária. controle
controle
Esta visão torna evidente a importância que deve ser dada a Checar
Checar
este requisito. Técnicas
Técnicasestatísticas
estatísticas
Significativo número de laboratórios, seja por motivos Análise
Análisecrítica
críticados
dos
resultados
resultados
econômicos, seja por desinformação, tratam-no de maneira Critérios
Critériospredefinidos
predefinidos
por vezes insatisfatória, como se pudessem garantir a
qualidade de seus serviços apenas com alguma ação
Resultados
Resultados
esporádica. satisfatórios?
satisfatórios?
2. METODOLOGIA
Para cada sub-item do requisito 5.9 são apresentados Agir
Agir
comentários, fatores críticos que impactam na sua Ações
Açõespara
paracorrigir
corrigiros
os
implementação, sugestões e conforme relevante, o problemas
problemaseeevitar
evitarrelato
relato
relacionamento com algum outro requisito da 17025 e/ou do de
deresultados
resultadosincorretos
incorretos

i
As observações aqui expostas não devem substituir a 17025, nem Fig. 1 Garantia da qualidade dos resultados
os demais requisitos da acreditação definidos pela Coordenação
Geral de Credenciamento/Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Cgcre/Inmetro).
ii
planejar, fazer, checar e agir

1
3.1. Procedimento de controle para monitorar a validade trabalho não-conforme (requisito 4.9) devem ser utilizados
dos serviços realizados (item 5.9.1) para garantir que as ações corretivas necessárias sejam
adotadas. O planejamento deve abranger detalhadamente
Nesta primeira frase do item entende-se procedimento, para
como serão realizadas as atividades, como serão controlados
a 17025, como algo documentado formalmente e controlado
os fatores de influência para que os resultados não se tornem
pelo laboratório, sendo parte integrante do seu sistema de
totalmente aleatórios, sem condições de serem aproveitados.
gestão.
O procedimento é para monitorar a validade dos ensaios e O planejamento deve considerar o escopo dos serviços
calibrações realizados. O que significa monitorar? Qual o prestados pelo laboratório, de forma a cobrir todas as
período adequado para monitoração? Este termo fica mais atividades realizadas, considerando as similaridades das
bem entendido quando se pensa nas condições de calibrações ou ensaios.
temperatura no laboratório. Para monitorar a temperatura A análise crítica compreende o estudo em busca de indícios
são necessárias repetidas ações no decorrer do dia. de tendências, seja de estabilidade ou de evolução para
Numerosos laboratórios efetuam registros contínuos de melhor ou pior, e busca das possíveis causas de tais
temperatura, outros o fazem duas ou mais vezes no decorrer comportamentos, de ações corretivas e ou preventivas que se
do dia, em horários mais significativos. Monitorar significa, fizerem necessárias.
pois, uma ação mais continuada, mais freqüente.
Pelo exposto, fica claro que, para cumprir o requisito 5.9,
não é suficiente simplesmente possuir um documento que
3.2 Registro dos dados resultantes de modo que as trate das comparações, especialmente quando sequer são
tendências sejam detectáveis (item 5.9.1) realizadas as necessárias análises críticas e conclusões
Esta segunda frase do parágrafo apresenta o requisito de pertinentes. É necessário que tenham significado prático e
registro dos dados resultantes, tal forma que as tendências que, efetivamente, contribuam para garantir a qualidade dos
sejam detectáveis. resultados emitidos pelo laboratório e permitam que o
laboratório avalie seu desempenho.
Tomando ainda como exemplo o caso do controle da
temperatura, mesmo um simples registro contínuo deve ter As atividades de auditoria interna, devem compreender e
um significado prático para o laboratório. Os dados devem valorizar todas as fases do atendimento a este requisito.
ser trabalhados para fazerem sentido e provocarem ações.
4. EXEMPLOS E COMENTÁRIOS SOBRE
Este item acrescenta que os registros devem ser feitos de ATIVIDADES PARA IMPLEMENTAÇÃO DE
modo que indiquem as tendências do sistema, permitindo MONITORAMENTO, INDICADOS NO ITEM 5.9.1
observar quanto os resultados estão de acordo com o “nível
de serviço do laboratório”, declarado pela direção (4.2.2 b). 4.1 Comparações interlaboratoriais e ensaios de
E mais, é fundamental que as tendências sejam detectáveis, proficiência/auditoria de medição (item 5.9.1 b)
pois esta observação deve servir como indicador de quando Este exemplo da 17025 está sendo abordado
e onde são necessárias ações corretivas (4.11), ações
prioritariamente por sua importância e pelo fato de ser um
preventivas (4.12) e permitir o aprimoramento contínuo da requisito específico do Organismo Acreditador.
eficácia do sistema de gestão (4.10).
Comparação interlaboratorial [2], é a “organização,
Cartas ou gráficos de controle são as ferramentas mais
desempenho e avaliação de ensaios nos mesmos itens ou em
usuais e simples para a apresentação de registros de modo itens de ensaio similares, por dois ou mais laboratórios, de
que as tendências sejam detectáveis. acordo com condições predeterminadas”.
Estes recursos são largamente utilizados na produção
O termo ensaio é aplicável também para calibração de
industrial por manifestarem intuitivamente as possíveis instrumentos de medição. Pode ser realizada por mútuo
tendências., entretanto, são ferramentas ainda pouco acordo ou através da compra de serviço, entre laboratórios
utilizadas na rotina diária dos laboratórios.
acreditados ou não. Evidentemente na participação de um
laboratório não acreditado poderia ser questionada a
3.3 Planejamento e a análise crítica da monitorização
competência do laboratório.
(item 5.9.1)
Esta terceira frase do parágrafo aborda dois aspectos: o Ensaio de proficiência [4] “é a determinação do
desempenho de ensaios de laboratórios, através de
primeiro trata da elaboração de um plano para a realização
das ações definidas para o controle da qualidade; o segundo comparações interlaboratoriais”
da obrigatoriedade da análise crítica do monitoramento da Estas atividades são utilizadas internacionalmente pelos
qualidade dos resultados. organismos de acreditação para avaliar o desempenho do
Planejar significa apresentar, com antecedência, as ações a laboratório, incluindo ensaios de proficiência [4],
serem realizadas. Essas ações dizem respeito tanto ao comparações interlaboratoriais e auditorias de medição.
processo de planejamento dos procedimentos de garantia da Para o INMETRO [6], “as atividades de ensaio de
qualidade, quanto às ações para implementar as correções proficiência, aceitas, são as realizadas por cooperação de
necessárias quando os dados de controle estiverem fora dos organismos de acreditação, ou pelos próprios organismos de
critérios predefinidos. Os procedimentos de controle de acreditação, por provedores do governo, da indústria ou

2
comerciais”. (Baseado e, ILAC P1 – 2.12, ILAC/IAF A2 e competência técnica. Isso pode ser feito através da
ILAC P9 – 4.1). Essas atividades de ensaios de proficiência, implementação das atividades de monitoramento da
em algumas áreas (p. ex.: laboratórios clínicos) são algumas qualidade dos ensaios e calibrações exemplificadas pela
vezes denominadas controles externos da qualidade. No Norma.
item 8.5 deste mesmo documento são apresentadas as
NOTA 2: Ao implementar essas atividades, é importante observar
instituições consideradas aceitáveis pela Cgcre/Inmetro. que as comparações realizadas com unidades “filiais”, ou entre
Auditoria de medição [7]. “é a comparação técnicos, da mesma organização podem apresentar resultados
interlaboratorial realizada com o objetivo de avaliar a tendenciosos, correlacionados, que prejudicam sua eficácia. Isto
pode ser gerado pela similaridade de treinamento, padrões
competência de um laboratório de calibração, acreditado ou calibrados nos mesmos laboratórios, possibilidade de mesmos
postulante à acreditação pela Cgcre/Inmetro, para realizar “vícios” operacionais.
uma determinada calibração.”
4.2 Uso regular de materiais de referência certificados
As comparações trazem benefícios importantes para o e/ou controle interno da qualidade, utilizando materiais de
laboratório, entre outros, é uma forma do laboratório referência secundários (item 5.9.1 a)
comparar seu próprio desempenho em relação a outros De acordo com o VIM [9] (6.13 e 6.14), “material de
laboratórios, o grau de exatidão de seus resultados, a referência é um “material ou substância que tem um ou
compatibilidade das incertezas declaradas com seu mais valores de propriedades que são suficientemente
desempenho real e informações para implementação de homogêneos e bem estabelecidos para ser usado na
ações corretivas/ preventivas e ou de melhorias. calibração de um aparelho, na avaliação de um método de
medição ou atribuição de valores a materiais”.
Ainda no mesmo documento, item 8.2, é colocado como
quantidade mínima de atividades de ensaios de proficiência: Um material de referência pode ser uma substância pura ou
uma mistura, na forma de gás, líquido ou sólido. Exemplos:
- Uma antes da acreditação
a água utilizada na calibração de viscosímetros, a safira
- Uma atividade relacionada com cada grande sub-área como um calibrador da capacidade calorífica em
de escopo de acreditação a cada quatro anos, no mínimo. calorimetria, e soluções utilizadas para calibração em
A Cgcre/Inmetro é bastante rigorosa, caso o laboratório análises químicas...”
apresente resultados insatisfatórios em atividades de
Existem materiais de referência também em áreas como na
proficiência, a acreditação pode ser suspensa ou cancelada
mecânica: os padrões de dureza, corpos de prova para
[8].
calibração indireta de máquinas de ensaio.
NOTA 1: para conhecer a disponibilidade de comparações
interlaboratoriais em nível nacional e internacional, pode ser É possível, de acordo com a definição do VIM [9], que o
consultada a base de dados EPTIS (http:\\www.eptis.bam.de), entre laboratório possa providenciar seus próprios materiais de
outros provedores relacionados às bases de dados mantidas por referência, para efeito de garantia da qualidade de seus
organismos de acreditação signatários de acordos de serviços. A exigência, neste caso, é que o material ou
reconhecimento mútuo com a Cgcre/Inmetro. substância possua um ou mais valores de propriedades
A par da obrigatoriedade descrita acima para os laboratórios suficientemente homogêneos e bem estabelecidos.
postulantes da acreditação ou já acreditados, esta pode ser O laboratório pode preparar, por exemplo, corpos de prova
uma das formas para implementar atividades de para ensaios de tração ou impacto, a partir de barras de boa
monitoramento da garantia da qualidade. Isto pode ser feito qualidade, efetuar a usinagem dos corpos de prova de
seja participando de comparações organizadas por outros maneira a minimizar as influencias devidas às dimensões e
laboratórios, seja por iniciativa própria, inclusive forma. Isto vale de modo semelhante para outras atividades.
adquirindo, de outro laboratório, serviços de calibração ou
ensaios. 4.3 Ensaios e calibrações replicadas, utilizando-se os
mesmos métodos ou métodos diferentes (item 5.9.1 c)
É fundamental que nas comparações seja realizada Este tipo de atividade é facilmente utilizado nas atividades
cuidadosa preparação dos itens para se evitar influências de ensaios, ou talvez, com mais facilidade ainda, nas
indevidas que inviabilizem a interpretação dos resultados, calibrações. Um mesmo objeto é calibrado por diferentes
isto significa, a existência de cuidadoso procedimento de operadores e ou em diferentes equipamentos. As mesmas
preparação e realização da comparação. amostras, ou semelhantes podem ser ensaiadas por
Por exemplo, em comparação com corpos de prova de diferentes equipamentos e ou pessoas. Nessa situação, é
tração, se os corpos de prova não forem suficientemente possível avaliar a coerência dos resultados produzidos pelo
homogêneos na composição, tratamento térmico, laboratório nas condições de repetitividade e de
conformação superficial (dimensões, acabamento reprodutibilidade das atividades, exatidão e incertezas
superficial), os resultados poderão ser de tal forma dispersos resultantes.
que não permitam avaliação adequada. O mesmo se diga de De acordo com o VIM [9] (3.6) as condições de
materiais não homogêneos em análises químicas. repetitividade incluem: mesmo procedimento de medição,
Caso o laboratório, por algum motivo justificado, não tenha mesmo observador, mesmo instrumento de medição,
acesso às atividades externas de ensaios de proficiência, utilizado nas mesmas condições, mesmo local e repetição
deverá demonstrar que possui o nível necessário de em curto período de tempo.

3
As condições de reprodutibilidade, VIM [9] (3.7), plotadas indicarão as tendências, seja de estabilidade ou de
incluem: princípio de medição, método de medição, desvio na direção de algum limite crítico. A partir delas
observador, instrumento de medição, padrão de referência, podem ser mais bem definidos os intervalos de calibração
local, condições de utilização e tempo. dos instrumentos, possíveis contribuição para incerteza, seja
referente à faixa em que se processam as variações ao redor
Uma prática mantida por alguns laboratórios, principalmente
da média, seja proveniente de algum desvio sistemático.
de ensaios, consiste em determinar “amostras fantasmas”.
Essas ferramentas podem estar relacionadas aos
Por esse mecanismo, amostras com resultados conhecidos
instrumentos ou aos operadores, que também podem
são introduzidas na rotina diária do laboratório sem que os
participar como contribuintes para as incertezas.
técnicos envolvidos tenham conhecimento. Após o ensaio
pessoas devidamente autorizadas realizam a análise dos Um modo bastante interessante de se monitorar os
resultados. Desta forma, o desempenho é avaliado com base resultados, que pode ser visto em alguns certificados de
em critérios predefinidos, abrindo espaço para correções calibração, é a apresentação de gráficos com os valores
necessárias. esperados das contribuições de incerteza e os realmente
obtidos. Esta visualização possibilita análise rápida da
procedência ou não das diferenças, da necessidade de
4.4 Reensaio ou recalibração de itens retidos (item 5.9.1 d) avaliação mais profunda das causas e conseqüências
Nesse tipo de atividade, amostras já ensaiadas ou possíveis.
instrumentos já calibrados são submetidos a novo ensaio ou As ações a serem implementadas devem ser tomadas de
calibração. É uma das maneiras mais simples de forma planejada, onde devem ser definidos responsáveis por
implementar esse requisito. De certo modo semelhante ao
interromper (4.9.1 a) e retomar os trabalhos (4.9.1 e), além
item anterior. (ver NOTA 2 do item 4.1 deste trabalho). de prever a realização da avaliação da importância da não-
4.5 Correlação de resultados de características diferentes conformidade (4.9.1 b), da correção a ser efetuada (4.9.1 c)
de um item (item 5.9.1 e) e notificação aos clientes (4.9.1. d).
Utilizando o mesmo exemplo apresentado no final do item Devem ser estabelecidas ações de melhorias, (4.10; 4.11;
4.2, poderiam ser preparados também, do mesmo material, 4.12) ou preventivas, ou corretivas conforme o caso,
suficientemente homogêneo, corpos de prova para tração,
segundo os respectivos conceitos expressos nestes itens da
impacto, dureza, metalografia e análise química. Os 17025.
resultados de todos estes ensaios deverão ser coerentes. Não
seria admissível uma fratura frágil no impacto, e na tração 6. FATORES CRÍTICOS NAS ATIVIDADES DE
um escoamento bem definido. Alta dureza, não estaria MONITORAMENTO DA VALIDADE DOS
compatível com granulometria grosseira (material recozido). RESULTADOS
A composição química indicando maior presença de A garantia da qualidade dos resultados, assim como a
carbono e alta dureza não seria compatível com maioria dos requisitos da 17025, são parte de um contexto
granulometria grosseira no ensaio metalográfico. Ou seja, em que sua implementação depende ou está, em algum grau,
todas estas propriedades são de algum modo relacionada aos demais requisitos. De algum modo,
correlacionadas, podendo servir para avaliação da conforme apresentado no início deste trabalho, toda a 17025
consistência/qualidade dos resultados de cada ensaio. De está voltada para a Garantia da Qualidade dos resultados,
modo semelhante, outros materiais de referência, item 5.9. Esta seção, apresenta como outros capítulos da
certificados ou não, podem ser utilizados em “referência 17025 se constituem em fatores críticos, que impactam
circular”, uns para conferir outros. sobre o estabelecimento, implementação e manutenção deste
requisito. Estes fatores estão representados na Figura 2.
5. ANÁLISE DOS DADOS DO CONTROLE DA QUALI-
DADE E TOMADA DE AÇÕES (5.9.2) Pessoal
O monitoramento deve ser projetado de tal forma que Rastreabilidade Métodos
possibilite a interpretação e análise dos dados, de acordo
com critérios predefinidos.
Reclamações,
As técnicas estatísticas utilizadas devem servir para se Equipamentos
Garantia da ações corretivas e
qualidade preventivas,
avaliar tanto as comparações de forma isolada, como suplementos
aquelas realizadas ao longo do tempo.
A literatura [4] disponibiliza várias ferramentas estatísticas Confidencialidade Condições
que podem ser utilizados para analisar os dados gerados nas e conflito de interesse ambientais
comparações, entre elas: o z-score, Elipse de Youden, e erro Outros fatores
normalizado (En). Os critérios podem ser os mais diversos
desde a determinação estatística de escores, até consenso de
especialistas ou participantes [4, 10]. Fig. 2 Fatores críticos que impactam a garantia da qualidade

Gráficos apresentando valores médios, erros e incertezas Por não ser objetivo deste trabalho esgotar o assunto, são
máximos, limitados pelos valores estabelecidos como apresentados apenas os fatores considerados mais críticos.
critérios de aceitação podem ser utilizados. As linhas

4
Nas auditorias internas e na análise crítica pela direção esses 6.4 Condições ambientais
aspectos devem ser devidamente analisados.
Dependendo das características dos laboratórios, se de
ensaios ou de calibração e das grandezas envolvidas, entre
6.1 Pessoal outras, os laboratórios devem prover instalações adequadas
que permitam a realização das atividades do seu escopo, em
Esse, provavelmente, é o fator mais crítico, porque, afinal de
geral, e das atividades de garantia da qualidade, em
contas, o laboratório é formado por pessoas que precisam particular.
dispor do conhecimento necessário para desempenhar as
atividades. As instalações adequadas constituem uma das premissas
necessárias e mais importantes que garantem as condições
Conforme requerido pela 17025, o pessoal envolvido nos de repetitividade e reprodutibilidade, necessárias para o
aspectos técnicos relacionados às calibrações e ensaios sucesso das atividades de garantia da qualidade dos ensaios
devem ter sua competência assegurada. A qualificação pode e calibrações.
ser baseada na formação, mas também pode ser adquirida
por meio de experiência e treinamentos externos ou No caso das comparações, as condições de preparação,
desenvolvidos internamente, sob a supervisão da gerência manuseio e armazenamento dos itens, é um fator crítico,
do laboratório (5.2.1). pois têm influência direta na segurança dos itens. A garantia
dessas condições e seu monitoramento permitem a
As comparações podem ser utilizadas para avaliar o
continuidade das comparações ou realização de atividades
desempenho de técnicos ainda não qualificados em relação de calibração e ensaios complementares (5.8).
àqueles já qualificados.
Ao pessoal gerencial e técnico devem ser dados a autoridade
6.5 Rastreabilidade e padrões
e os recursos necessários e suficientes, permitindo sua
atuação, principalmente onde seja necessária a tomada de De acordo com o VIM [9] rastreabilidade é a “propriedade
ações para correção das não-conformidades encontradas do resultado de uma medição ou do valor de um padrão estar
durante o processo (4.1.5). relacionado a referências estabelecidas, geralmente a
padrões nacionais ou internacionais, através de uma cadeia
Outros aspectos tais como influências indevidas que possam
contínua de comparações, todas tendo incertezas
afetar negativamente a qualidade dos serviços (4.1.5 b),
estabelecidas”.
conscientização do pessoal sobre a importância de suas
atividades (4.1.5 k), envolvimento em atividades que A participação em programas de comparações
possam a confiabilidade do laboratório (4.1.5 d), devem ser interlaboratoriais apropriados e o estabelecimento de uma
considerados. cadeia ininterrupta de calibrações são as formas mais usadas
para estabelecer a ligação às unidades do Sistema
Internacional de Unidades [11] (SI) (5.6). Por via de regra,
6.2 Métodos esses meios são os mais utilizados, tanto nas atividades de
A implementação adequada dos métodos estabelecidos pelo calibração quanto nas atividades de ensaios.
laboratório fornece uma das condições necessárias mais Os padrões de referência devem ser calibrados por um
importantes que possibilitam a obtenção de resultados
organismo que possa prover rastreabilidade. É o caso dos
satisfatórios nas comparações. Institutos Nacionais de Metrologia (caso do Inmetro), e dos
Os métodos utilizados pelo laboratório devem considerar, laboratórios acreditados por organismos de acreditação –
como serão realizadas as amostragens, o manuseio dos itens, que façam parte de um acordo de reconhecimento mútuo –
a estimativa da incerteza de medição e a aplicação das como é o caso da Cgcre/Inmetro.
técnicas estatísticas para análise dos dados de controle, bem
como as ações a serem tomadas.
6.6 Equipamentos, softwares
Somente a documentação necessária, justificativas técnicas
Para atender aos requisitos necessários para o desempenho
válidas e notificação aos clientes, tonam aceitáveis os
do laboratório, os equipamentos, juntamente com seu
desvios aos métodos estabelecidos (5.4.1).
software, têm que ser capaz de alcançar os níveis de
exatidão requeridos (5.5.1). Nesse caso, duas situações
6.3 Reclamações, ações corretivas e preventivas, podem ocorrer: ou o laboratório define os níveis requeridos
suplementos e adquire os equipamentos, de outra forma, adquire os
equipamentos, para, em seguida definir os níveis de
O número de reclamações (4.8), de não-conformidades (4.9, exatidão.
4.11 e 4.12) e de suplementos (5.10.9) emitidos, entre outros
indicadores, fornecem informações importantes que podem
ser utilizadas para melhorar a qualidade dos resultados e do 6.7 Confidencialidade e conflitos de interesse
desempenho do laboratório. Essas informações podem ser
Para implementar comparações interlaboratoriais o
também úteis para a definição ou retroalimentação do plano
laboratório deve estabelecer mecanismos que assegurem a
de garantia da qualidade.
proteção das informações confidenciais e os direitos dos
clientes ou outros laboratórios (4.1.5 c).

5
Deve ser estabelecida uma estrutura organizacional que seja [3] NIT-DICLA-005 Condução da avaliação de laboratório,
capaz de identificar e evitar potenciais conflitos de interesse, item 6.3. Out/2005. Disponível em:
bem como assegurar que o pessoal esteja livre de pressões <http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso: 20 fev. 2006
que possam interferir nas atividades técnicas (4.1.4 e 4.1.5 b [4] ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
e d). TÉCNICAS. ABNT ISO/IEC GUIA 43-1: 1999. Ensaios de
proficiência por comparações interlaboratoriais, Parte 1.
desenvolvimento e operação de programas de ensaios de
7. CONCLUSÃO proficiência.
[5] ABNT ISO/IEC GUIA 43-2: 1999. Ensaios de proficiência
Todo o sistema de Gestão de um laboratório deve estar
por comparações interlaboratoriais, Parte 2. Seleção e uso de
voltado para a Garantia da Qualidade dos resultados dos programas de ensaios de proficiência por organismos de
ensaios e calibrações. O item 5.9 não pode ser visto credenciamento de laboratórios.
isoladamente, não pode se restringir a atividades
esporádicas, regulamentadas ou voluntárias, em atitude [6] INMETRO. NIT-DICLA-026: Requisitos sobre a
participação dos laboratórios de ensaios e calibrações em
passiva, aproveitando apenas aquelas em que são procurados
atividades de ensaios de proficiência, item 6.1. Dezembro de
para participar. O Sistema de Gestão é voluntário, mas 2005. Disponível em: <http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso:
aceito requer o comprometimento de todo o pessoal 20 fev. 2006
envolvido, inclusive da Alta Direção (4.2.2 e 4.2.3), com
respeito à QUALIDADE. [7] NIT-DICLA-026: Requisitos sobre a participação dos
laboratórios de ensaios e calibrações em atividades de
A evidência de que o Sistema funciona está na qualidade ensaios de proficiência, item 6.2. Dez/2005. Disponível em:
dos resultados obtidos no dia a dia do laboratório. <http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso: 20 fev. 2006
[8] NIT-DICLA-031 Regulamento da acreditação de
laboratórios. Item 9.1d) . Out/2005. Disponível em:
REFERÊNCIAS <http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso: 20 fev. 2006
[1] ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS [9] VIM - Vocabulário internacional de termos fundamentais e
TÉCNICAS. NBR ISO/IEC 17025:2005. Requisitos gerais gerais de metrologia. INMETRO/SENAI. Instituto Nacional
para a competência de laboratórios de ensaio e calibração. de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial/Serviço
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas.. Rio de Nacional de Aprendizagem Industrial.. 2 ed. Brasília,
Janeiro, 2005. SENAI/DN, 2000. Disponível em:
<http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso: 20 fev. 2006.
[2] INMETRO. NIT-DICLA-005 Condução da avaliação de
laboratório, item 6.8. Out/2005. Disponível em: [10] ISO 5725 Accuracy of measurement methods and results,
<http:\\www.inmetro.gov.br>. Acesso: 20 fev. 2006 partes 1 a 6
[11] Conferência Geral de Pesos e Medidas. Decreto Legislativo
57 de 27 de junho de 1953. Resolução do Conmetro 12/1988.

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