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REGISTRO INDIVIDUAL: A HORA É AGORA!

Vamos conversar sobre o registro individual das observações que fazemos das
crianças? Mas… por que é importante fazer um registro particular de cada criança?
Para que o professor faça uma ESCUTA GENEROSA, é necessário acompanhar os
movimentos individuais e coletivos das crianças, e, assim, intervir pontualmente nas
necessidades e demandas de cada uma. O avanço do todo – do coletivo – depende dos
avanços individuais. O registro pedagógico é, então, um eixo da atuação intencional e
qualificada do professor que, ao refletir e avaliar, possibilita embasar suas decisões e
planejamentos futuros. Para Madalena Freire, o registro é um ato de consciência que
distancia o professor das ações espontaneístas.

Registros Individuais e o Relatório Individual

Além disso, os registros individuais alimentam os Relatórios Individuais, importante


instrumento de avaliação e compartilhamento das trajetórias escolares com as famílias,
que são parceiras na missão de educar as crianças. Atualmente, os relatórios
individuais são instrumentos de avaliação recomendados pela maioria das secretarias
de Educação.

Avançando nessa reflexão, a angústia do registro e dos relatórios desperta outro


questionamento: na prática já é difícil conciliar as atividades diárias, o planejamento de
propostas, os registros do coletivo, o cuidado, as provocações… e ainda por cima
precisamos cuidar da observação individual?!? Como realizar este tipo de registro com
turmas numerosas (e nenhum outro professor para dividir os afazeres)? Como
organizar este processo?

O Caderno de Registros Individuais: uma experiência para inspirar!

Aqui vai uma experiência interessante que construímos em uma creche de São Paulo.
Quando a coordenadora nos expôs sua aflição (terror, melhor dizendo!) em relação à
hora dos “Relatórios Individuais”, por sorte estávamos no início do ano. Conversando
com a equipe, propusemos testar um método que, agora, compartilho com os leitores
do Tempo de Creche: o Caderno de Registros Individuais.
Para colocar a ideia em prática, foi preciso garantir alguns pilares:
Montar um caderno como se fosse uma antiga agenda telefônica, com os nomes das
crianças organizados como índices, reservando algumas folhas para cada nome. Isso
facilita a organização dos dados e a agilidade para anotar os fatos.
Amarrar uma caneta no caderno e deixar o conjunto sempre visível e disponível para as
anotações.
Levar o Caderno de Registros Individuais onde quer que a turma esteja: nas propostas
de sala, no parque, no almoço, no lanche, na entrada, na saída…
Ter em mente que este registro não precisa ser um romance! Palavras-chave e
questões objetivas facilitam e favorecem o ato de registrar no Caderno de Registros
Individuais.
Fazer um cronograma de observação individual, porque não é possível observar todas
as crianças, em todos os momentos e ao mesmo tempo! A Educação Infantil brasileira
não facilita esta situação, uma vez que, em geral, sua estrutura conta com um número
alto de crianças por professor.
Apesar do cronograma, não deixar de registrar situações de destaque, que possam
ocorrer mesmo quando a criança envolvida não é o foco da observação individual
daquele momento.
Assim, durante o processo formativo da equipe, construímos um cronograma com cada
professora, selecionando momentos importantes da rotina para que as crianças fossem
observadas. Também pensamos num rodízio de 1, 2 ou 3 crianças a serem observadas
individualmente em cada situação. No final de um ciclo, todas as crianças seriam
observadas em todos os momentos da rotina. É importante ressaltar que o tempo do
ciclo depende do contexto. Por exemplo, se todas as crianças forem observadas em
todas as situações num período de 60 dias, cada criança contará com 4 observações
específicas de cada momento da rotina até o final do período letivo.
Desse modo, garante-se que o professor acumule informações organizadas sobre
diversos aspectos do desenvolvimento e verifique os avanços individuais ao longo do
ano.
E a pauta de observação individual?

Além dos objetivos de desenvolvimento propostos nos currículos, alguns indicadores


podem orientar a observação e ajudar o professor a experimentar o registro no
Caderno de Registros Individuais. Veja no quadro abaixo algumas dicas:

Durante a formação, percebemos que a coordenadora e as professoras da creche


consultaram o caderno periodicamente, procurando organizar as anotações e
buscando informações específicas sobre as crianças. Desse modo, o instrumento de
registro passou a apoiar diversas tomadas de decisão da escola e das famílias:
Fulano tem chegado cansado, desanimado e está brincando menos. O que está
acontecendo em casa?
Em casa a criança está fazendo birra para tudo, então, como ela age aqui na escola?
Cuida das suas coisas? É organizada?
Fulano tem reclamado que sicrano não quer mais brincar com ele. Aconteceu alguma
coisa? Houve uma “mudança” nos grupinhos de amigos?
Fulana está reconhecendo letras e até sílabas. Que tal enviar para casa um livro com
texto simples e orientar a mãe para fazer a leitura vagarosamente, dando espaço para a
participação da menina?
Estes são alguns exemplos de situações comuns que surgem no dia a dia da Educação
Infantil e que podem ser resolvidas com base nas informações registradas no Caderno
de Registros Individuais.
Com o passar do tempo, as professoras da creche foram contribuindo com listas de
“dicas” sobre aspectos fundamentais a serem observados em cada momento da rotina.
Desse modo, além do imprevisível, cada professora contou com uma pauta de
observação como ponto de partida.
Por fim, você pode imaginar como foi o processo de elaboração da parte individual dos
relatórios semestrais das crianças! Foi mais simples, legítimo e coerente. A equipe
contou com dados concretos e exemplos reais para falar sobre os avanços conquistados
e as fragilidades a serem superadas. E o melhor de tudo, a ESCUTA GENEROSA foi
aprofundada: as professoras e a instituição como um todo conheciam todas e cada
uma das suas crianças.

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