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MACABRATONE: ENTENDA
O USO DAS CORES NOS
FILMES DE TERROR
As cores podem contar muitas
histórias, dependendo de como forem
empregadas em cena. Conheça as
atmosferas macabras criadas por
diferentes tons.
21 de abril de 2020 Aula Macabra
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Sabe aquele filme que te dá


arrepios, mesmo quando a
história não é tão obviamente
assustadora? Recursos visuais como
design de produção e fotografia são
os culpados por esta sensação de
pavor. Um dos truques amplamente
utilizados nos filmes de terror (e
em outros gêneros) é o emprego
de cores específicas, que
manipulam o espectador para o
sentimento que ele deve despertar
em certas cenas.

LEIA +: DICK SMITH, O


PODEROSO CHEFÃO DA
MAQUIAGEM

Choque, desolação, estranheza e


apreensão são apenas algumas das
sensações que as cores podem
provocar. Para os filmes de terror
esta “manipulação do bem” (ou do
mal, depende da sua interpretação)
é crucial, uma vez que, assim como
a comédia, este gênero causa
reações extremas no público:
se te assustou o filme é bom, se não
causou medo você provavelmente
vai achar péssimo. Não há meio
termo.

Por causa desta subjetividade,


diretores e produtores de terror
devem jogar com todas as armas
que têm à disposição para não
apenas assustar, mas envolver o
máximo de pessoas possível.
Entender de psicologia das cores é
crucial para atiçar os medos e
sensações mais profundos e
naturais do ser humano.

HISTÓRIA DAS
CORES NOS
FILMES
As cores fazem parte do cinema
desde a década de 1900. Mesmo na
época das produções em preto e
branco, algumas técnicas
rudimentares permitiam a
coloração, envolvendo até
películas pintadas com
aquarela. Foi só pela década de
1930 que a tecnologia do
Technicolor permitiu que as
produções ganhassem cor de forma
mais fácil e em ampla escala.

Desde o psicodélico O Mágico de


Oz, de 1939, as cores já eram bem
valorizadas e davam o seu recado: o
fascínio pelos sapatinhos
vermelhos, o alerta da estrada
de tijolos amarelos e o
misticismo em torno da Cidade
das Esmeraldas. Isso sem contar
o jogo entre o mundo real em sépia
e o colorido universo de Oz, dando
ainda mais magia à aventura de
Dorothy.

Desde então, diferentes técnicas de


coloração são aplicadas na
produção de filmes. Boa parte já é
concebida no design de
produção e valorizada pelo
diretor de fotografia. Efeitos
mais dramáticos podem ser
enaltecidos por meio da pós-
produção, através do realce de
tons específicos. 

Algumas das técnicas utilizadas


para esta manipulação de cores são:

Correção de cor: é o processo de


alterar as cores de uma imagem de
forma geral. Normalmente é feito
ao balancear os níveis de preto e de
branco para se alcançar uma
temperatura consistente de cor ao
longo de todo o filme.

Gradação de cor: neste processo


a cor é digitalmente alterada ou
realçada em uma imagem ou vídeo.
O objetivo é atingir o impacto
emocional ao qual o filme se
propõe.

Filtros de lentes coloridas: são


utilizados tanto para corrigir
deficiências de cor ou para
adicioná-las com o objetivo de
atingir determinado efeito.
Diferentemente da gradação de cor,
os filtros coloridos não adicionam
ruído a uma imagem ou vídeo.

Para muitas produções, o uso da cor


deixa de ser um recurso técnico e
passa a compor um personagem
inteiro, contando uma história
por conta própria. Um exemplo
bem famoso e fácil de entender é o
da trilogia Matrix: tons esverdeados
são restritos aos acontecimentos
dentro da Matrix, enquanto o azul
predomina no mundo “real”.

OS
SIGNIFICADOS
E AS EMOÇÕES
DAS CORES

Tais conotações coloridas não


foram criadas e muito menos são
exclusividade do cinema. Muitas
delas têm associação vinda da
própria natureza (o calmo céu azul,
o assustador sangue vermelho, os
perigosos animais amarelos) e
outras criadas por convenções
sociais.

Antes de mergulharmos no uso de


cores nos filmes de terror,
vamos relembrar as principais
associações a cada cor:

Vermelho: raiva, paixão, ira,


desejo, empolgação, energia,
velocidade, força, poder, calor,
amor, agressão, perigo, fogo,
sangue, guerra, violência.

Laranja: humor, energia,


equilíbrio, calor, entusiasmo,
vibrante, expansivo, extravagante.

Amarelo: desonestidade, covardia,


traição, inveja, cobiça, trapaça,
doença, perigo, sabedoria,
conhecimento, relaxamento,
felicidade, alegria, otimismo,
idealismo, imaginação, esperança,
luz solar, verão.

O amarelo em Parasita empresta a aura de doença,


perigo, cobiça e desonestidade.

Azul: fé, espiritualidade, satisfação,


lealdade, paz, tranquilidade, calma,
estabilidade, harmonia, unidade,
confiança, verdade, confiança,
conservação, segurança, limpeza,
ordem, céu, água, frio, tecnologia,
depressão.

Cor-de-rosa: amor, inocência,


saudável, feliz, contente, romântico,
encantador, brincadeira, suave,
delicado, feminino.

Roxo: erótico, realeza, nobreza,


espiritualidade, cerimônia,
mistério, transformação, sabedoria,
elucidação, crueldade, arrogância,
lamento, poder, sensibilidade,
intimidade.

A combinação de roxo e rosa em Cam carrega as cenas


de erotismo e sedução.

Preto: negativo, poder,


sexualidade, sofisticação,
formalidade, elegância, riqueza,
mistério, medo, anonimato,
descontentamento, profundidade,
estilo, mal, tristeza, remorso, raiva.

Branco: positivo, amor,


reverência, pureza, simplicidade,
limpeza, paz, humildade, precisão,
inocência, juventude, nascimento,
inverno, neve, bem, estéril,
casamento, morte, frio, clínico.

Verde: cura, calmante,


perseverança, tenacidade,
autoconsciência, orgulho, natureza
imutável, meio-ambiente, saudável,
sorte, renovação, juventude, vigor,
primavera, generosidade,
fertilidade, inveja, ciúmes,
inexperiência.

A tenacidade de Beetlejuice expressa pelos tons de


verde em muitas cenas.

Marrom: materialismo, sensação,


terra, casa, espaços abertos,
confiabilidade, conforto,
persistência, estabilidade,
simplicidade.

Prateado: riquezas, glamour,


distinto, terrestre, natural, lustroso,
elegante, tecnológico.

Dourado: precioso, riqueza,


extravagância, calor, tesouros,
prosperidade, grandeza.

Isso vale para cinema, publicidade,


decoração de ambientes, definição
de marcas e outras áreas. Sabendo
destes significados dá pra entender
um pouco melhor os nossos
sentimentos em relação a filmes,
lugares e várias outras situações.

CONHEÇA O
MACABRATONE
E O USO DAS
CORES NOS
FILMES DE
TERROR

Se você acompanha o nosso


Instagram (se ainda não, aproveita
o link
https://www.instagram.com/macab
ratv) já deve ter visto alguns dos
tons que formam o Macabratone,
o pantone macabro dos filmes de
terror. Conheça um pouco mais
sobre estes tons assustadores e
exemplos de filmes em que eles são
empregados:

SANGUE FRESCO

Associado rapidamente à violência,


o tom vermelho facilita a
identificação do público com o
perigo e, consequentemente, com
o terror. O vermelho tem o poder
de deixar plateias tensas,
esperando que o pior aconteça.
Associada instintivamente ao
sangue, esta cor se tornou uma
convenção clássica para filmes de
terror, principalmente aqueles
guiados pela violência. Exemplos:
Twin Peaks, Carrie, a Estranha,
Suspiria, Nós, O Iluminado, It: A
Coisa.

BLACK PHILLIP

Filmes de terror em preto e branco


eram a única opção nos primórdios
do cinema, mas hoje esta escolha já
dá uma mensagem sobre o que o
filme quer transmitir. A filmagem
em preto e branco permite explorar
diferentes texturas e principalmente
o balanço de luz e sombra,
deixando tudo com um ar um pouco
mais fúnebre. Fortes referências
do cinema preto e branco vêm da
época do Expressionismo
Alemão, que pesava nos
contrastes, e no Cinema Noir,
com seus plots de investigação que
envolviam ambientes sombrios.
Filmes de terror em preto e branco
ou cores pouco saturadas evocam
introspecção e dão um ar
naturalmente pesado à história.
Exemplos: O Gabinete do Dr.
Caligari, Psicose, Frankenstein, O
Farol, A Bruxa.

WHITE FOLK
HORROR

Se o preto representa algo negativo,


o branco necessariamente indica
algo bom, certo? Não nos filmes de
terror. O uso do branco tem
algumas finalidades aqui: alertar
para perigos escondidos, como
um lobo na pele de uma ovelha. Ele
é frequentemente utilizado para a
vestimenta de cultos, contraste da
luz do sol, neve em ambientes
traiçoeiros e ambientes
hospitalares, por exemplo. O branco
também é uma ótima solução para
aumentar o contraste com o
sangue, dando a ideia de que algo
puro foi maculado pela
violência. Exemplos:
Midsommar: O Mal não espera a
noite, Dexter, Piquenique na
Montanha Misteriosa, O Homem
de Palha, Colheita Maldita,
Laranja Mecânica.

VERDE
EXORCISTA

Apesar de possuir várias conotações


positivas, o verde nos filmes de
terror indica ameaça,
normalmente envolvendo forças
sobrenaturais ou seres
alienígenas. Até a Disney já usa a
associação da cor verde para os
momentos em que seus vilões
planejam algo tenebroso, como em
O Rei Leão, A Bela Adormecida e A
Princesa e o Sapo. O verde também
pode estar associado à inveja e a
venenos. Exemplos: O Bebê de
Rosemary, O Exorcista, Alien: O
Oitavo Passageiro, Beetlejuice.

LEIA +: 15 CURIOSIDADES
MACABRAS SOBRE TWIN
PEAKS

AZUL
POLTERGEIST

O azul é uma cor que evoca uma


atmosfera obscura, fria e
desolada. Costuma ser usado
tanto para cenas diurnas como para
as noturnas, representando uma
suposta luz bruxuleante do luar. A
cor ainda representa melancolia e
pode estar associada ao mundo
espiritual, como assombrações,
por exemplo. Exemplos: O
Chamado, Atividade Paranormal,
Jogos Mortais, A Hora do
Pesadelo, Nós, O Enigma de Outro
Mundo, Poltergeist.

TERRA
BACURAU

O tom laranja dos filmes de terror


pode indicar tanto uma conotação
ao sol, fogo e calor (que
transforma tudo em cinzas), como
um alerta aos personagens que
entram em mundos e situações
além de sua compreensão. Em
tons mais amarelados, ajuda na
desolação dos ambientes áridos e
desertos, onde nenhum tipo de
ajuda deve chegar tão cedo. Em
alguns casos, os tons quentes
servem de contraste aos mais frios,
indicando que o pior já passou ao
final de um filme. Exemplos: O

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