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RESUMO
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O objetivo deste trabalho é apresentar o contexto da origem da palava sustentabilidade.
Apresentar a história da Tragédia dos Comuns, exposta por William Forster Lloyd, em 1833,
para contradizer a ideia de Adam Smith da “mão invisível” na qual, os interesses individuais
correspondiam ao bem comum, popularizada pela releitura apresentada pelo ecologista
Garrett Hardin, em 1968, que expõe que a coletividade não possui capacidade de gerir o bem
comum sem exauri-lo, propõe que sejam transferidos ao particular, e ao Estado fica a
responsabilidade de vigilância do uso, mesmo que não conheça a realidade próxima,
regulamenta o uso. Expor que há bens de uso comum que, por sua grandiosidade, envolver
um número maior de indivíduos e coletividade transnacional, não são contemplados na teoria
exposta. Apresentar a nova governança econômica, proposta por Elionor Ostrom, de gestão
compartilhada pelos usuários realizada de forma não concorrencial, onde as normas
regulamentadoras são elaboradas pelos usuários comuns e para os usuários, por participarem
pro processo normativo, tendem a cumprir o estabelecido, o que traz benefícios por estarem
próximo da realidade e apresentar soluções efetivas e eficazes para o caso regulado. Por
último, apresentar o fundamento constitucional da sustentabilidade.
Palavras chaves: sustentabilidade, tragédia dos comuns, Garrett Hardim, máximo uso
individual, Elionor Ostrom, gestão compartilhada de bens comuns
ABSTRACT
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The objective of this work is to present the context of the origin of the word sustainability.
Present the story of the Tragedy of the Commons, exposed by William Forster Lloyd, in 1833,
to contradict Adam Smith's idea of the "invisible hand" in which individual interests would
correspond to the common good, popularized by the reinterpretation presented by ecologist
Garrett Hardin, in 1968, which exposes that the collectivity does not have the capacity to
manage the common good without exhausting it, proposes that they be transferred to the
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individual, and the State is left with the responsibility of monitoring use, even if it does not
know the immediate reality, regulating use. Expose that there are goods of common use that,
due to their grandeur, involve a greater number of individuals and transnational collectivity,
are not contemplated in the exposed theory. Present the new economic governance, proposed
by Elionor Ostrom, with shared management by users carried out in a non-competitive
manner, where regulatory norms are drawn up by common users and for users, as they
participate in the normative process, they tend to comply with what is established, which
brings benefits for being close to reality and presenting effective and efficient solutions for the
regulated case. Finally, present the constitutional foundation of sustainability.
Keywords: sustainability, tragedy of the commons, Garrett Hardim, maximum individual use,
Elionor Ostrom, shared management of commons.
Sumário:
1 - INTRODUÇÃO
Um uso sustentável é aquele que não coloca em risco os elementos do meio ambiente,
assim uma atividade sustentável, é aquela que a exploração do recurso natural é realizada de
uma maneira que o mesmo não se esgote, mas que perdure, desta forma, possibilita uma
melhor qualidade de vida aos seres humanos na Terra e o respeito à capacidade de produção
dos diversos ecossistemas existentes.
Observa-se que a relação entre o uso dos bens comuns advêm, primeiramente, do
entrelaçamento de duas ciências da economia e da ecologia. A primeira, Economia, definida
como o conjunto de atividades desenvolvidas pelos homens visando a produção, distribuição e
o consumo de bens e serviços necessários à sobrevivência e à qualidade de vida. 1 A Ecologia,
por sua vez, origina-se do grego oikos = casa, e logos = estudo, é o campo da biologia que
estuda as interações entre os seres vivos com o ambiente e os impactos resultantes dessas
interações. A ecologia compreende o entendimento de toda a natureza e como esta afeta os
seres vivos nela inseridos. Observa-se que o campo de estudo das duas ciências se entrelaçam
a economia quando definida tem como objetivo de estudo a necessidade de sobrevivência e da
qualidade de vida dos seres humanos. A Ecologia tem com foco principal, a interação do
homem com a natureza e os reflexos advindos desta interação. As ciências acima expostas não
atuam de forma concorrentes, caminham juntas e deste envolver científico resultará em
soluções das quais dependem a sobrevivência humana.
2 https://anchor.fm/ana-frazo/episodes/Economia-e-Sustentabilidade —com-Jos-Eli-da-Veiga--
professor-da-USP-e15ev65, publicado em 05/08/2021, acessado em 27/12/2022
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Neste viés pode ser lembrada história “ A Tragédia dos Comuns”, apresentada em uma
palestra no ano de 1833, pelo professor de economia política William Forster Lloyd 3 (1794-
1852), para contradizer a ideia de Adam Smith da “mão invisível”, na qual os interesses
individuais correspondiam ao bem comum. Conta a história da exploração de um campo de
pastagens compartilhado com um grupo de pessoas (do inglês Commons), para o qual
poderiam ser levados animais para pastar. Não havia limitação de pessoas que poderia fazer
uso do espaço, tampouco da quantidade de animais que poderiam se alimentar no campo
comum. Os indivíduos agiam de forma independente e de acordo com os seus próprios
interesses, e, para auferir maiores resultados financeiros, o acréscimo gradativo do número de
animais. Esta ação traz benefício individual, para cada proprietário de rebanho, sem se
preocupar com os outros proprietários, muito menos com os interesses da comunidade. A
exploração, funciona em um tempo razoável, havendo a limitação do número proprietários de
animais pelas guerras tribais, caça furtiva e até mesmo por doenças, que manteria o número de
animais, por um período de tempo, dentro do limite suportável pelo campo. Entretanto, a
tragédia é fato certo, ocasionada pela superexploração, o uso comum e indiscriminado de um
recurso natural finito, o campo comum, e, por consequência, em um dado momento, ocorrerá
seu esgotamento e a morte dos animais por falta de pastagens, nominada de A Tragédia do
Comuns.
3 William Forster Lloyd FRS foi um escritor britânico de economia. Ele é mais conhecido hoje por uma de
suas palestras de 1833 sobre controle populacional que influenciaram os escritores da teoria econômica
moderna.
4 HARDIN, Garrett, artigo publicado na revista Science, vol. 162, No. 3859 (13 de dezembro de 1968), pp.
1243-1248.
5 https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5603756/mod_resource/content/1/
A_TRAGEDIA_DOS_COMUNS_por_Garrett_Hardin.pdf, p. 04, acessado em 27/12/2022.
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Observa-se, que não há como falar em sustentabilidade e estar com o olhar voltado
somente para o interesse é individual, pois nesta visão, do máximo uso individual, pode levar
a um resultado igual à tragédia dos comuns. De sorte que é exigido um pensamento maior, no
qual, mesmo desenvolvendo uma atividade visando a satisfação individual, deve se ter fixo o
olhar no todo, observar o coletivo e, adiar ao máximo, a ocorrência da tragédia anunciada, a
aniquilação de todos, pelo esgotamento das fontes naturais. Ou ainda, em um outro pensar, de
forma otimista, até mesmo buscar evitá-la. Constituindo, o segundo pensamento, o
esperançoso, o objetivo macro a ser perseguido.
Garrett Hardin expõe que um bem de exploração comum, aquele que pertence a todos, e
não é de ninguém. Razão pela qual, cada indivíduo buscará usufruir deste bem, o máximo
possível, e, caso este for o pensamento de todos que usufruam deste bem comum, levará ao
seu esgotamento, a degradação do bem, até que não seja mais possível ninguém dele usufruir,
de tão grande seja a degradação. Tal fato ocorrerá por não pertencer a ninguém, de sorte que
pessoa alguma manterá as cautelas necessárias para a manutenção do bem os usuários
tenderão a utilizá-lo em excesso, contrariando a ideia “mão invisível” onde os interesses
individuais correlacionam ao bem comum, conforme pensamento exposto por Adam Smith.
Hardin afirma que para combater o uso até a degradação total, isto seria impedido
somente se houver o sentido de pertença, de propriedade individual, pois os indivíduos em sua
coletividade não possuem as características necessárias para a preservação daquilo que é
comum a todos. Na história apresentada, no campo “aberto a todos”, cada pessoa,
individualmente, busca usufruir ao máximo do campo. Assim, buscará a cada dia aumentar o
número do rebanho, para aumentar o seu ganho individual pela exploração de algo que é
coletivo.
Há, em nossos dias, muitos “campos comuns” a serem utilizados com muita cautela, de
forma sustentável, para que não se esgotem pelo exaurimento do bem ou até mesmo pela
inviabilidade do uso, causado pela poluição. Garrett Hardin propõe que uma das
possibilidades de se fazer a preservação é a transferência para o particular. Neste caminho,
poderia ser transferida a propriedade a um particular para que explore e cuide do bem sem
esgotá-lo. Sugere que aquilo que tem dono, proprietário, há alguém com capacidade para
zelar, cuidar para que bem usufruído não pereça, realize a necessária manutenção, a
continuação da existência do recurso explorado, justificando o interesse pessoal na constância
do que lhe gera dividendos. A responsabilidade do uso é transferida, pelo Estado, que fica
responsável pela observação, verificação, acompanhamento do uso, para que não haja o
exaurimento do bem que se busca proteger. Entretanto, a transferência do uso para o particular
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não é sinal que o bem não será usufruído até o seu exaurimento, mas, acredita-se que é mais
fácil fiscalizar um usuário, um indivíduo, uma empresa, que tem por objetivo explorar um
bem específico a longo prazo, que um número indeterminado de usuários que exploram um
determinado bem de uso comum ao mesmo tempo. Tal situação foi ilustrada no texto de
publicado pelos professores Wander Matos de Aguiar, da Universidade Estadual da Grande
Dourados, MS e Luis Carlos Vinhas Ítavo, da Universidade Federal de Campo grande, MS, ao
expor no texto “A tragédia dos comuns e a sua influencia para a sustentabilidade”:
A transferência para exploração de bem comum por particular é feita pelo Estado, por
meio de regulação, nas situações em que se é possível transferir o uso. O Governo, que não
conhece a vivência diária daquele que usufrui o bem, e ainda, se encontra distante da
realidade e das necessidades locais dos utilizadores, estabelece normas e regramentos para o
uso do bem. O distanciamento e o desconhecimento da realidade regulada, por vezes, são
apresentados regramentos que não são eficazes para o uso racional do bem. Acresce ainda,
como fator que dificulta a exploração sustentável, o tempo das respostas da regulação aos
regulados, devido às características próprias da administração pública, que é lenta por
natureza, dado aos princípios que a regem. Além do que, para a edição de regulamentos,
normas leis a serem cumpridas, o processo legislativo envolve, por vezes, não só o Poder
Executivo, mas também o Legislativo, para a edição de leis para regular o uso, neste processo
moroso quando as soluções apresentadas, em um dado momento, até que sejam efetivadas, é
possível que não estejam aptas a solucionarem as falhas de mercados para as quais foram
elaboradas, pois a realidade regulada a qual se destina, pode ter sofrido alterações no curso do
tramitar do processo normativo, desde a sua apresentação, pelo órgão competente até a
assinatura final do texto aprovado.
A grande questão é que quando falamos em sustentabilidade, em uso sustentável dos
recursos da Terra, estamos expondo que a realidade da tragédia dos comuns pode ser uma
realidade do Planeta, que pelo crescimento populacional e o uso indiscriminado dos recursos,
6 AGUIAR Wander Matos de; ÍTAVO, Luis Carlos Vinhas - A tragédia dos comuns e sua influência para a
sustentabilidade, 8º ENEPE Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão da Universidade Federal da Grande
Dourados 5º Encontro de Pesquisa Ensino e Extensão da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul.
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se não tomada as medidas necessárias para impedir que aconteça, e, em um dado momento, a
tragédia se tornará realidade. Sendo assim, é tarefa de todos que exploram, adiar ao máximo
que o evento não querido se torne realidade. Evitar que o sistema entre em colapso. Nesse
pensar, é relevante que a ideia de superexploração individual sobreponha ao interesse coletivo
seja repensada, para que haja a manutenção do bem explorado para todos, e não somente a
uma pessoa, uma empresa, se beneficie, obtenha lucro pelo uso exaustivo de um recurso, por
um período curto de tempo.
O desafio se apresenta, ainda maior complexidade, quando o uso do bem comum é
realizado por um número maior de pessoas, cidades, estados, povos e até países. Motivo pelo
qual, deixa de ser possível a regulação estatal quanto ao uso dos “bens comuns”, pois o uso é
realizado por além das fronteiras de um único país. Razão essa, que não permite a
transferência do uso a um indivíduo, a uma empresa, de forma exemplificativa pode aqui ser
referenciadas, bacias hidrográficas internacionais ou ecossistemas marinhos em as águas
internacionais, que pelo uso indiscriminado vem sofrendo degradação ano após ano,
ocasionando a extinção de espécies e não há como estabelecer quem deva cuidar, pois
pertence a todos e, como apresentado, é um “campo comum” pertence a uma coletividade e
igualmente, todos deveriam ser responsáveis e cuidar. Entretanto, o que é de todos, não é de
ninguém, e em regra, a ideia se aumentar os lucros, da máxima exploração concorrencial, se
impõe pela ação individual, o que, em um dado momento, o relato da Tragédia dos Comuns,
irá se repetir, visto que a máxima utilização individual, levará ao exaurimento do recurso
explorado e, chegará o dia em que ninguém mais poderá explorar, pois não há o que ser
explorado, pelo esgotamento do recurso.
A solução apresentada por Hardin não abarca todas as situações, como acima exposto, e
apresenta solução para parte do problema, ao visionar a transferência ao particular e fiscalizar
coloca o Estado como o centro de soluções, mas, como visto é limitado a algumas situações,
daí surgem críticas ao pensamento apresentado e a busca por novas soluções. Assim, uma
nova governança econômica mudando o viés de que o interesse particular sobreponha ao
coletivo, o que resulta na destruição dos bens públicos e dos recursos escassos, é apresentada
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por Elionor Ostrom7 que demonstra ser possível gerir os recursos comuns, em comunidade e
de modo sustentável. Comprova que os bens comuns a vários indivíduos não são,
necessariamente, mal geridos, quando realizada a gestão pelos usuários, e que a privatização
ou a regulação por entes externos não são as únicas e eficazes soluções para a gestão
sustentável dos recursos.
Os estudos realizados por Elionor Ostrom comprovaram que a gestão realizada
diretamente pelos usuários dos recursos comuns se apresentaram mais eficientes que a teoria
proposta por Hardin, com o afastamento da abordagem individualista, egoísta, e com a
implementação de regras construídas coletivamente sobre a utilização do bem comum. O
Estado, ao impor a regulação, a propõe segundo a sua visão e ninguém melhor para conhecer
a sua realidade que aqueles que a ela se vinculam diretamente. Nesse sentido, os usuários
conhecem todas as abordagens de sua área de exploração, mais que o Governo que está
distante, e, desta forma, podem construir regramentos mais efetivos, bem como, apresentar
soluções que sejam eficazes, e, caso haja o descumprimento das normas estabelecidas,
sanções que inibam o descumprimento do estabelecido. Importante lembrar que haverá uma
tendência de maior cumprimento aos acordos fixados, uma vez que os envolvidos
participaram da construção do que foi coletivamente ajustado, com a alteração de do foco do
interesse o objetivo exploratório individual não é o mais importante, a ele, sobrepõe o
coletivo, e, a isso, se deve a sobrevivência de todos.
Outro fator a ser notado é que há a quebra do paradigma de que o Estado tem potencial
para solucionar todas as demandas da sociedade, visto que na abordagem apresentada por
Elionor as comunidades locais, por elas mesmas, fazem de forma eficiente a gestão dos
recursos, mais que quando são obrigadas por autoridades exteriores. Se mostram empenhados
em gerir os recursos por meio de organização e em cooperação entre os envolvidos, entre
instituições que fazem uso do mesmo recurso de forma sustentável, comprometidos em
utilizar o bem, sem que aja o esgotamento, considerando o tempo de reposição do mesmo,
possibilitando que não se efetive a exaustão do recurso explorado, pelo excesso de utilização
do bem, o que levaria a ruína de todos.
O sucesso da nova governança dos bens comuns, a gestão eficaz dos bens e recursos
comuns escassos por meio da autorregulação, se apresenta com sucesso quando aplicado a um
pequeno grupo, onde se faz presente a interação entre os envolvidos, há o estabelecimento das
7 Elionor Ostrom (Los Angeles, 7 de agosto de 1933 - Bloomington (Indiana), 12 de junho de 2012) foi uma
economista americana. Em 2009, ela compartilhou o Prêmio Nobel de Ciências Econômicas com Oliver E.
Williamson por “sua análise da governança econômica, especialmente os comuns”. Foi a primeira mulher a
ganhar o Prêmio Nobel de Economia.
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regras e estas por sua vez, são respeitadas, cumpridas pelos diretamente envolvidos e também
por organismos e instituições que atuem de forma direta ou indireta no processo. O número
menor de pessoas envolvidas, resulta que o envolvimento maior dos envolvidos, pois de
forma prática os valores econômicos advindos da exploração são os responsáveis para suprir
as necessidades e bem-estar dos próprios exploradores, havendo um respeito e a necessidade
de uma gestão sustentável dos recursos e de fácil constatação e daí o maior respeito.
O desafio se impõe na composição para uso de um bem comum, utilizado por um grupo
maior de pessoas, como bacias hidrográficas pertencente a mais de um país e ecossistemas em
águas oceânicas internacionais. A solução, apresentada por Ostrom, para essa macro
utilização, é a mesma que se aplica às pequenas áreas de uso comum. A implementação que se
apresenta de forma mais complexa, por envolver instituições dos mais variados níveis,
internacionais, nacionais, regionais e locais, todos agindo juntos, e em colaboração,
explorando o bem comum, zelando para que o mesmo não acabe.
O fator complicado, e difícil a definição, é a taxa de extração, fundamento da
sustentabilidade, para se chegar ao valor, necessário a utilização do que se tem de mais
avançado no conhecimento prático e científico aliado ao uso tecnológico disponível para a
quantificação da taxa, de forma que se permita o uso sustentável, a renovação do bem sem
que o mesmo se acabe. Para isso, a cada indivíduo é permitida a extração de um valor
máximo, e este deve ser respeitado, e deixar de fazer a exploração individual máxima, como
no modelo apresentado por Garrett Hardim.
Ostrom, estabelece oito princípios necessários para uma gestão efetiva de recursos de
bem comum (Common Pool Resources – CPR), de forma que a exploração se faça de forma tal que
não leve ao exaurimento do recurso:
Devendo ainda ser exposto que existem bens de uso comum que não se adéquam ao sistema
proposto.
Contrapondo a este pensamento, uma nova governança econômica é apresentada por
Ostrom ao propor que existe uma outra forma de gestão, na qual, os recursos são usufruídos,
não exauridos. A gestão do uso é realizada pela comunidade local, diretamente interessada na
exploração e manutenção do recurso, de forma que os bens são mantidos a longo prazo por
meios colaborativos e com regras estabelecidas pela própria comunidade e para a
comunidade. O resultado é uma gestão de consumo partilhado, com a visão, primeiramente na
sustentabilidade do recurso. Diferente da primeira, o foco não é o uso individual máximo, e
sim o coletivo, restringindo o uso individual por regras apresentadas pela própria comunidade.
Ostrom apresenta em seus estudos que o gerenciamento da exploração feita por órgão
externo, o Estado, se demonstra ineficaz. Expondo os resultados obtidos da pesquisa realizada
da exploração da pesca costeira, no estado do Maine, EUA. Naquela Unidade Federativa, a
pesca é gerida pelo Estado, segundo as regras impostas. Foi constatada a que queda, e uma
curva descendente constante, na quantidade de peixes extraídas anualmente, fato próprio da
exploração concorrencial e da máxima exploração individual. Indicando que, se não tomadas
providências, a reserva de peixe, naquela região tende a se extinguir. Foi observado também
uma grande resistência, por parte dos exploradores da pesca, ao aumento das restrições, para
evitar que os cardumes venham a extinguir. Contrário à situação exposta, no mesmo período,
no estado pesquisado, a pesca de lagosta apresenta dados inversamente aos da pesca costeira.
Onde a curva do gráfico se apresenta de forma ascendente quanto ao número de lagostas
extraídas no mesmo período da pesca costeira. Tal fato se justifica pela forma de gestão da
captura das lagostas, que é feita por instituições locais e regionais, que por conhecerem cada
detalhe do processo que envolve a criação das lagostas, estabeleceram normas para a extração
das lagostas, inclusive, alterando as leis de caráter nacional e, os resultados deste processo
cooperativo de extração sustentável, foi o aumento da quantidade de lagostas extraídas. Vale
expor que não é suficiente a criação de normas para regular a atividade, para serem efetivas,
devem ser estabelecidas de forma tal que os envolvidos compreendam a necessidade do
cumprimento ao estabelecido e os resultados que isto trará a todos.
11 CUNHA, Nina Rosa da Silveira et al. A intensidade da exploração agropecuária como indicador da
degradação ambiental na região dos Cerrados, Brasil. Revista de Economia e Sociologia Rural, v. 46, p. 291-
323, 2008.
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serem multiplicadas por indivíduos que estejam dispostos na construção de um mundo mais
sustentável. Tanto, que o Papa Francisco, em maio de 2015, escreve a Carta Encíclica
Laudado Si’, Sobre o Cuidado da casa comum, conclamando aos destinatários, nos seguintes
termos:
7 – CONCLUSÃO
12 Para Francisco, Carta Encíclica Laudato Si’, Sobre o cuidado da casa comum. p.12. Disponível em
https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-
laudato-si.html, acessado em 30/12/2022
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8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HARDIN, Garrett, artigo publicado na revista Science, vol. 162, No. 3859 (13 de dezembro
de 1968), pp. 1243-1248, disponível em
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5603756/mod_resource/content/1/
A_TRAGEDIA_DOS_COMUNS_por_Garrett_Hardin.pdf, acessado em 30/12/2022.
https://anchor.fm/ana-frazo/episodes/Economia-e-Sustentabilidade—com-Jos-Eli-da-Veiga--
professor-da-USP-e15ev65, acessado em 27/12/2022
OSTROM, Elionor (1990): Governing the Commons: the evolution of institutions for
collective action, Indiana University, University Press, Cambridge, p. 90-102
SIMÕES, João; MACEDO, Marta; BABO, Pilar. Elionor Ostrom: “Governar os Comuns”.
Faculdade de Economia da Universidade de Porto. Portugal, 2011. Disponível em
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5505912/mod_resource/content/3/Obrigat%C3%B3ria
%20Simoes_Macedo_Babo_2011_Ostrom.pdf, acessado em 30/12/2022.