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RESUMO ABSTRACT
A busca de uma função para a Crítica da faculdade In face of the self-sufficiency of the theoretical and
do juízo frente à aparente distinção suficiente practical domains of reason, which is the outcome
dos domínios teórico e prático da razão suscita a reached by the critical philosophy. The search for
necessidade de alguma articulação. Há lugar nas a systematic function for the Critique of the Power
concepções sobre o belo e o sublime que coloca of Judgment calls for an enterprise accomplishing
a arte como a possibilidade de uma passagem the connection or the means for combining these
entre o domínio teórico da legalidade da natureza domains. The present scientific article presents the
e o domínio prático da legalidade da liberdade, connection between the Beauty and the Sublime
constituída pelo viés que a fruição livre que a opening to freedom by comum social sense.
experiência estética proporciona. O presente
trabalho apresenta a relação existente entre o Belo Keywords: Beauty; Sublime; Nature; Freedom;
e o Sublime, procurando entender o sentimento Aesthetic judgment.
de prazer ou desprazer, enquanto aponta para
possível atualização do senso de sociabilidade.
https://doi.org/10.18830/issn2238-362X.v10.n2.2020.07
CONTEXTONa Crítica da Razão Pura, Kant qualidade atribuída ao objeto não corresponde à 1
concentra-se nas condições de possibilidade exatidão do objeto experimentado. Logo, “o que KANT, apud Georges
do conhecimento dando ao pensamento a conta não é a existência do objeto representado, Pascal, O Pensamento de
mas o simples efeito de uma representação sobre Kant. Petrópolis, Editora
finitude. Não se trata mais, nesse contexto
Vozes, 1990, p. 160
da modernidade, considerar o conhecimento mim.” (DELEUZE, 1994, p. 54). A estética aí elabo-
metafísico de outro mundo, o filósofo se atenta rada não se associa às concepções de bom ou de
para o saber sobre a gênese do conhecimento. ruim, mas à qualidade, uma vez que o sentimento
A atenção se volta para a possibilidade de se ter de beleza ou de feiura é provocado no observador
limites, nesse ínterim, a tarefa é dar ao sujeito e vista de forma racional – considera-se o que se
cognoscente consciência no reconhecimento da pode encontrar de universal em todas as observa-
sua constituição específica, ele busca a gênese ções possíveis de modo formal.
da dicotomia sujeito-objeto. É considerado que
há conhecimento no mundo sensível, sob uma O que o juízo “isto é belo” exige de nós jamais
pode ser um interesse [...] para chamarmos
realidade fenomênica, no entanto, não há como algo belo precisamos deixar aquilo mesmo que
determinar os conteúdos das experiências. vem ao nosso encontro vir até diante de nós
puramente como ele mesmo [...] Não podemos
contabilizá-lo de antemão em vista de algo
Relacionando o particular e o universal, encontra- diverso, em vista de nossas metas e intuitos, de
se nos textos do filósofo dois tipos de juízo que um possível gozo e de uma possível vantagem.
“implicam sempre várias faculdades e exprimem (HEIDEGGER, 2007, p. 100)
o acordo destas faculdades entre si” (DELEUZE,
1994, p. 65). O leitor se depara com as concepções
de juízo determinante e juízo reflexionante;
sendo o primeiro aquele que exprime o acordo
das faculdades sob uma faculdade hegemônica, O SUBLIME
como o entendimento na Crítica da Razão Pura
e a razão na Crítica da Razão Prática e, segundo O sublime é o que causa espanto e admiração,
o que exprime, um acordo livre e indeterminado sendo considerado grandioso e até assustador; o
entre todas as faculdades, Crítica da Faculdade do sujeito se depara com objetos da natureza que lhe
Juízo. O juízo reflexionante é estático, “não legisla causam perturbação. O espírito não é atraído pelo
sobre objetos, mas somente sobre si mesmo; não objeto simplesmente: pode, por ele, ser repelido:
exprime uma determinação de objeto sob uma por aquilo que a natureza apresenta. Mesmo
faculdade determinante, mas um acordo livre que haja no belo e no sublime a atualização do
de todas as faculdades a propósito de um objeto sentimento de prazer, é apontado um sentimento
refletido” (KANT, 1993, p. 42-43). Existem duas diferente que no segundo se pauta por quantidade:
experiências que constituem o juízo reflexionante:
o belo e o sublime. O que é o belo e o sublime para
[...] é um prazer que surge apenas
Kant? “O sublime distingue-se do belo pelo fato de
indiretamente, ou seja, é produzido pelo
provocar perturbações filosóficas ligadas a uma sentido de um impedimento momentâneo,
mistura de dor e prazer” (JIMENEZ, 1999, p. 136). seguido de uma efusão mais forte das forças
vitais e, por isso, enquanto emoção, não se
apresenta de fato como um jogo, mas como
algo de sério no emprego da imaginação.
O BELO (REALE; ANTISERI, 2006, p. 425).
Os juízos sintéticos podem ser a priori, materiais Claro que seria estranho a existência de um
típicos da matemática e da física. São sintéticos conceito de belo universalmente aceito. Apenas
porque ampliam o conhecimento e são à priori seria necessário utilizar do sentimento individual
devido à universalidade. É a pretensão de sobre a beleza de algo, utilizar-se-iam razões
validade universal e necessária que suscita o objetivas para tal convencimento, regras se
empreendimento na terceira crítica de outro modo imporiam. Se existisse um conceito de belo,
reflexionante. poderia ser cunhada uma lógica em lugar de uma
estética. Sem o conceito de belo, está posta a
Segundo Kant, as faculdades cognitivas superiores impossibilidade de uma ciência própria. Mas, por
são três: a razão; o entendimento; a faculdade outro lado, se pode ter uma estética do juízo de
de julgar (CRP B170). A razão possui princípios gosto, de onde se pressupõe que todos os sujeitos
constitutivos para o uso prático ao legislar sobre possuem um senso comum estético, mesmo não
a liberdade. O entendimento possui princípios havendo a comunicação regulada que demonstre
constitutivos para o uso teórico, enquanto tem por o gosto em si. Não há como se falar objetivamente
objeto a natureza. A razão julga as ações a partir acerca da beleza dos girassóis.
Para Kant, o a priori do juízo de gosto está na que conta é o fervor e demais desdobramentos da
hipótese de que todos os sujeitos possuem senso comunicação feita, havendo simultaneidade com
comum estético: os demais observadores. A única finalidade é o
compartilhamento, não havendo interesse que o
corrompa. O gosto pelo belo é desinteressado e livre,
Este julgamento simplesmente subjetivo ficando assim exposto: i. Universal sem conceito; ii.
(estético) do objeto ou da representação Satisfação desinteressada; iii. Finalidade sem fim.
pela qual ele é dado, precede, pois, o prazer
no mesmo objeto e é o fundamento deste
prazer na harmonia das faculdades de Pode-se ainda questionar se há somente uma
conhecimento; mas esta validade universal espécie de belo. A resposta é negativa. Kant
subjetiva do comprazimento, que ligamos à diferencia duas espécies de beleza: a beleza livre
representação do objeto que denominamos (pulchritude vaga) e a beleza aderente (pulchritude
belo, funda-se unicamente sobre aquela
universalidade das condições subjetivas do
adherens). A livre não se refere a um objeto do qual
julgamento dos objetos. (KANT, 2012, p. 62). se pergunta sobre a perfeição, uma vez que o juízo
de gosto não possui finalidade. Doutro lado, quando
se fala em beleza aderente, há a ideia de que poderia
Assim está posto o conceito de gosto, é sintético ser o objeto experimentado algo melhor, existe
à priori. Entendido isso, se pode perceber o que alinhado à experiência certa idealização; este tipo de
é finalidade sem fim e satisfação desinteressada. juízo não é puro. Desta distinção se põe a diferença
Quando se declara que há beleza numa obra, o do juízo de gosto puro e aplicado, a beleza natural e