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ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA
FACULDADE ENSIN.E
ESPECIALIZAÇÃO EM ORTODONTIA
RESUMO
O transtorno do sono considerado mais comum e potencialmente grave é a síndrome da apneia
obstrutiva do sono (SAOS). O indivíduo com SAOS apresenta ronco intenso com pausas respiratórias
de 20 a 40 segundos. Sua causa é multifatorial decorrente de alterações anatômicas das vias aéreas
superiores (VAS), esqueleto craniofacial associados a alterações neuromusculares da faringe. O
objetivo deste trabalho consistiu em perceber as contribuições da ortodontia no diagnóstico e no
tratamento da SAOS. A ortodontia possui um papel importante no diagnóstico cefalométrico de casos
de SAOS associados à atresia maxilar, retrusão mandibular e maxilar, auxiliando no diagnóstico em
equipe multidisciplinar. A cefalometria oferece visualização das estruturas anatômicas, auxilia na
identificação de sítios obstrutivos faríngeos, avalia o espaço posterior das VAS, comprimento do
palato mole, posição do osso hioide e padrão de crescimento e posicionamento espacial da maxila e
da mandíbula. Alterações na postura da língua também pode estar associadas à atresia maxilar
resultando em estreitamento das vias aéreas retroglossais. A ortodontia pode contribuir de forma
significativa no tratamento da SAOS, tanto na análise cefalométrica para diagnóstico mais completo
dos fatores etiológicos envolvidos na SAOS, quanto na abordagem terapêutica ortopédica para
aumento da capacidade respiratória com melhora do fluxo aéreo através do tratamento de atresias
maxilares por meio da ERM – que amplia o espaço nasofaringeano e orofaringeano pela correção da
constricção da maxila e do arco dentário -, quanto pelo tratamento de retrusão mandibular através de
MAD, ou mesmo na preparação ortodôntica para cirurgia ortognática para avanço mandibular ou
maxilar combinados.
ABSTRACT
The most common and potentially serious sleep disorder is obstructive sleep apnea syndrome
(OSAS). The individual with OSAS presents intense snoring with respiratory pauses of 20 to 40
seconds. Its cause is multifactorial due to anatomical alterations of the upper airways (UAS),
craniofacial skeleton associated with neuromuscular alterations of the pharynx. The aim of this study
was to understand the contributions of orthodontics in the diagnosis and treatment of OSAS.
Orthodontics plays an important role in the cephalometric diagnosis of cases of OSAS associated with
maxillary atresia, mandibular and maxillary retrusion, aiding in the diagnosis in a multidisciplinary
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INTRODUÇÃO
agrava com o passar da idade e o aumento do peso, sendo mais frequente no gênero
masculino (POLUHA, 2015).
Os médicos otorrinolaringologistas e os cirurgiões-dentistas, especificamente
ortodontistas e cirurgiões bucomaxilofaciais, são profissionais que tratam das áreas de
cabeça e pescoço. Dentro cada área existem profissionais mais ou menos habilitados e
preparados para o diagnóstico e tratamento da SAOS. Muitos cirurgiões-dentistas tratam a
SAOS em nível sintomático através da instalação de aparelhos orais, com um foco
mercadológico na maioria das vezes (BERTOZ, 2012). Porém, esta síndrome é mais
complexa, podendo apresentar vários graus e consequências irreversíveis para o organismo
do paciente. Por este motivo, seu diagnóstico e abordagem também são complexos e
abordagens simplistas devem ser evitadas.
A terapia com dispositivos intra-orais na odontologia começou a ser utilizado em
1980, porém, esta terapia é indicada para casos de SAHOS (síndrome da apneia e
hipopneia obstrutiva do sono) classificadas como leve à moderada em pacientes que
recusem a cirurgia (CATÃO, 2014). Cirurgiões-dentistas, em especial ortodontistas, utilizam
a análise cefalométrica para dimensionar as estruturas craniofaciais. (CASAGRANDE,
2004). A ortodontia tem contribuído em casos de pacientes em idade de crescimento com o
objetivo de direcionar o crescimento facial no sentido de buscar um desenvolvimento com
harmonia de forma e equilíbrio de função (NUNES JR, 2012).
REVISÃO DE LITERATURA
retornando aos níveis basais com o reinício da ventilação; quando os episódios de apnéia
ocorrem numa sucessão rápida, os valores aumentam gradativamente. As repercussões
sistêmicas das apneias favorecem o risco de hipertensão arterial sistêmica, arritmia
cardíaca, hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio e acidentes
vasculares cerebrais (MELLO-FILHO, 2004).
A Classificação da SAOS é de acordo com os tipos de apneia, que pode ser central,
obstrutiva ou mista. A SAOS central caracteriza-se pela interrupção do fluxo respiratório por
no mínimo 10 segundos sem movimentos tóraco-abdominais com ausência de comando
neurológico central para que a respiração ocorra. Já na SAOS obstrutiva ocorre a cessação
do fluxo respiratório, também por no mínimo 10 segundos, com movimentos tóraco-
abdominais presentes, que recebem comando respiratório central, mas sem fluxo de ar
devido a obstrução das VAS. Enquanto que na SAOS mista ocorre uma combinação entre a
central e a obstrutiva, sendo o componente inicial central seguido de um obstrutivo. Os três
tipos, a apneia obstrutiva é a de maior prevalência. A SAOS também pode ser classificada
de acordo com a quantidade de episódios durante o sono em: leve (de 5 a 15 eventos por
hora), moderada (de 15 a 30 eventos por hora) e grave (acima de 30 eventos por hora)
(POLUHA, 2015).
Os mecanismos da SAHOS estão relacionados com características anatómicas e
funcionais dos músculos da faringe e com o estado do sistema nervoso central (SNC)
durante o sono. A faringe é o principal órgão responsável pela atividade respiratória, sendo
dividida em 4 partes: nasofaringe, velofaringe, orofaringe e a hipofaringe. A nasofaringe
localiza-se entre as narinas e o palato duro. As narinas são responsáveis pelo aquecimento
e umidificação do fluxo de ar que entra no sistema respiratório. Elas servem para guiar o
fluxo de ar até as válvulas, sendo considerada a região mais estreita do nariz. Os cornetos
são responsáveis pela dinâmica do fluxo de ar, não deixando que as narinas fiquem ao
mesmo tempo totalmente congestionadas. A velofaringe ou orofaringe retropalatal está entre
o palato duro e o final do palato mole. A anatomia do palato mole pode diminuir a passagem
do ar, como nos casos mais espesso ou longo. A orofaringe estende-se do palato mole até a
base da língua. A hipofaringe corresponde à região da base da língua até a epiglote, onde
começa a laringe. Esta última região da faringe é influenciada pela posição da mandíbula e
da língua. Em casos onde a mandíbula está retruída, durante o sono, tende a diminuir o
espaço para o fluxo de ar, já que as estruturas faciais estão relaxadas e a língua apresenta
uma posição ainda mais posterior. As obstruções ocorrem com maior frequência nas regiões
da velofaringe e orofaringe (BERTOZ, 2012).
Diagnosticar este distúrbio implica uma abordagem multidisciplinar. Quanto ao
exame clínico, este deve incluir uma minuciosa anamnese direcionada para as queixas
de ronco, relato de paradas respiratórias e sonolência excessiva durante o dia. O exame
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Quando se trata do avanço mandibular cirúrgico, alguns estudos têm relatado uma
maior recidiva devido a adaptação neuromuscular após a cirurgia. Entretanto, a tendência
de recidiva seria reduzida significantemente em avanços mandibulares menores que 8 mm,
e o avanço mandibular máximo entre 8mm e 10mm parece ser consenso (ROCHA, 2017).
As terapias cirúrgicas são imperativas para a resolução de casos severos. A cirurgia
ortognática por meio do avanço maxilomandibular está indicada para pacientes com SAOS
severa, com obesidade mórbida, apresentando deficiência mandibular severa e saturação
de oxigênio abaixo de 70%, além de fracasso após tentativa de outros tratamentos
(POLUHA, 2005). Sabe-se que a cirurgia de avanço mandibular provoca um avanço da
musculatura lingual e supra-hióidea inseridas na mandíbula, e que o avanço cirúrgico da
maxila leva ao reposicionamento do véu palatino e dos músculos velofaríngeos. Esse fato
acarreta um aumento do espaço aéreo retrolingual e retropalatal, melhorando a
permeabilidade da via aérea (MELLO-FILHO, 2004).
A terapêutica da SAOS é multidisciplinar e a gravidade do transtorno determina a
escolha do tratamento, que pode incluir medidas de higiene do sono (modificar hábitos
inadequados como uso de cafeína, álcool, tabagismo, atividade física longe do horário de
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DISCUSSÃO
Artese (2020) orienta que deve-se fortalecer ainda mais o olhar da odontologia
voltado para a respiração, principalmente no diagnóstico, pois, utilizando um
procedimento rotineiro como a expansão rápida da maxila (ERM), haveria a capacidade
de corrigir um problema muito grave, a SAOS.
Contribuições trazidas por Rocha (2017) menciona que alguns estudos relatam que a
diminuição dos valores de resistência nasal após a ERM resulta de um padrão respiratório
mais nasal, reduzindo a respiração oral. Na respiração oral, a língua assumiria uma posição
anteroinferior, deixando de realizar sua função de modelação no palato. Para criar uma via
orofaríngea para o fluxo de ar, o ramo da mandíbula rodaria no sentido horário,
influenciando o padrão de crescimento do côndilo. Estes mecanismos estariam relacionados
com o retrognatistmo mandibular e micrognatia, que pioram, por sua vez, a abertura estreita
já existente na região da faringe, aumentando o risco para o desenvolvimento de apneia.
Este mesmo autor também traz contribuições da literatura sobre aparelhos orais
como opção dentária disponível para tratamento da SAOS. Esses dispositivos intra-orais
são usados apenas durante o sono, e avançam a mandíbula ou a língua, aumentando o
tamanho da via aérea superior. O autor realizou uma revisão Cochrane que constatou que,
em adultos, aparelhos orais podem causar uma diminuição da IAH (Índice de Apneia e
Hipopneia), embora não sejam curativos naqueles com SAOS mais grave.
Capela (2020) ressalta que pressão positiva das vias aéreas é o tratamento
considerado mais eficaz na abordagem da SAOS em adultos, a chamada terapia com PAP,
que atua como uma tala pneumática que mantém a permeabilidade das VAS. É usada
através de uma interface de máscara como pressão positiva contínua nas vias aéreas
(CPAP), pressão positiva bi-nível nas vias aéreas (BPAP) ou autotitulação da pressão
positiva nas vias aéreas (APAP). O uso de CPAP é descrito como o tratamento padrão-ouro
pela AAMS, podendo diminuir o comprometimento cognitivo, além de melhorar a sonolência,
particularmente em pacientes com SAOS grave (IAH ³ 30/ h).
apresenta-se como um aparelho com custo elevado e rejeição considerável por parte dos
pacientes, com índice entre 29% e 83%, que queixam-se do desconforto do uso da
máscara, tais como sensações claustrofóbicas, aerofagia, rinorréia, congestão nasal,
vazamento de ar, entre outros fatores. Barreto e Lopes (2020) concordam que há diversos
relatos de dificuldade de adesão ao CPAP devido à claustrofobia, obstrução, irritação das
VAS e na face pela máscara e pressão do fluxo aéreo. O uso do CPAP é o tratamento
clínico mais indicado, porém a sua adesão seria insatisfatória.
CONCLUSÃO
A SAOS tem aumentado em prevalência de forma importante nos últimos anos. Uma
vez que sua etiologia é reconhecidamente multifatorial, seu diagnóstico e abordagem devem
ser realizados em equipe multidisciplinar, aumentando a possibilidade de resultados mais
eficazes no tratamento. O diagnóstico da SAOS deve ser realizado utilizando-se da
polissonografia como padrão-ouro e realizando exames complementares para investigação
da anatomia das vias aéreas superiores. A cefalometria pode ser considerada uma
importante ferramenta para diagnóstico das estruturas craniofaciais e regiões das VAS com
regiões de obstrução ou estreitamento.
REFERÊNCIAS
ARTESE, F. Breathing: old and fresh breezes in Orthodontics. Dental Press J Orthod. 2020 Sept-
Oct;25(5):7-8.