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COMO INTERPRETAR Á IDEIA DE DIREITO JUSTO

A noção de justiça é representada como uma “virtude dos


indivíduos”, conduta esta que é praticada em favor de seus semelhantes,
segundo os ditames das normas jurídicas e sociais. Se a conduta do
indivíduo for de encontro ao que preconiza a norma, caracteriza-se uma
conduta injusta. Tendo neste sentido, o entendimento de que a noção de
justiça está intimamente ligada à sociedade, ou seja, é baseada na conduta
social da pessoa, tendenciosa a uma “harmonia social”, como nos descreve
Hans Kelsen:

“A justiça é a qualidade de uma conduta humana


específica, de uma conduta que consiste no tratamento dado a
outros homens. O juízo segundo o qual uma tal conduta é justa
ou injusta representa uma apreciação, uma valoração da
conduta. A conduta, que é um fato da ordem do ser existente no
tempo e no espaço, é confrontada com uma norma de justiça,
que estatui o dever-ser” (Kelsen, 1998, pag.03).

A lei deve ser interpretada de forma teleológica! A aplicação da lei


como se a mesma fosse sinônimo de justiça carece de bom senso.
Momento ímpar para todo aquele que pretende exercer a árdua
profissão da advocacia é no momento de prestar juramento.
Como bem define PEDRO (2014) “valor é a qualidade abstrata
preferencial atribuída pelo sujeito suscitada pelas características inerentes
de determinado objeto que satisfazem as necessidades e interesses
daquele”. Logo, não existe valor sem um sujeito que o valore, pois esse
está presente no íntimo de seu ser, é o que o indivíduo enquanto ser
humano conscientemente registra como essencial ao seu viver.
Os valores têm papel ímpar na sociedade quanto ao ditame do que é certo
ou errado, uma vez que não são indiferentes ao sujeito, são apreciáveis,
motivo pelo qual trazem consigo um mau sentimento quando são
quebrados, descumpre-se o dever-ser embutido a eles e o sujeito que o faz
ou o vê sendo feito logo sente um dever moral de que aquilo não está
correto, não é justo. É o que está atribuído à característica da objetividade
axiológica, a qual nos diz que mesmo sem conseguirmos visualizar uma
representação clara dos valores, na maioria das vezes os intuímos a
condutas objetivas. Podemos visualizar um exemplo na situação em que A
faz sua avaliação escolar e tira nota máxima por ter estudado bastante; B
faz a mesma atividade e tira a mesma nota, porém, só tirou esta nota
porque olhou as respostas em um papel que levou escondido ao local da
avaliação. Ao analisar este exemplo a maioria concluirá que as notas
serem iguais é algo injusto, pois B não respeitou o valor da honestidade ao
fazer sua prova, enquanto na avaliação de A não houve vícios. Pensamos
assim por comparar as condutas do caso concreto com uma ideia objetiva
de Justiça que possuímos.
O exemplo acima é de algo que pode ser considerado pequeno, mas
podemos facilmente observar situação recente e polêmica e que envolve
em sua base os valores da sociedade em conflito: a aceitação pelo Estado
do casamento homoafetivo. Indivíduos contrários à posição final do
Estado exigem o respeito aos seus valores religiosos, os a favor ou
indiferentes defendem a superioridade aos valores básicos, como o da
igualdade e liberdade. A decisão tomada contrariamente ao que o sujeito
acredita ser o certo, mesmo que não aconteça com ele próprio, é vista por
ele como injusta.
Por mais que as grandes questões da humanidade possam ser universais, as
respostas para essas questões sempre serão locais. Precisamos encontrar
nossas respostas e não simplesmente importá-las do estrangeiro, como
aliás já se tornou comum em nossos tribunais. Um Direito justo, é antes de
tudo, um Direito culturalmente bem localizado. É dizer: um Direito que
reflita a identidade do nosso povo e não apenas a caricatura, pobre e
burlesca, das nossas classes dominantes. Precisamos redescobrir o Brasil.
O Brasil, obviamente, não dos burocratas e poderosos, que confundem a
ordem com a incapacitada do sonho e da criação, mas o Brasil “dos seus
poetas, dos seus fidalgos populares e sonhadores, dos cantadores, dos
vaqueiros e dos trabalhadores que genialmente improvisam e criam essa
grandeza. O Brasil Real de que nos falava Machado de Assis; “esse é bom
e revela os melhores instintos”.

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