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JUSTIÇA RESTAURATIVA E

MEDIAÇÃO PRISIONAL

Dra. Francisca Lozano Espina


psicóloga y mediadora
Porto Alegre, mayo 2023
JUSTIÇA
RESTAURATIVA

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JUSTIÇA RETRIBUTIVA
JUSTIÇA RESTAURATIVA

Essa forma alternativa de entender a justiça gira em torno dos


seguintes aspectos:

1.O crime não é apenas uma transgressão da lei: o


fato de os ofensores prejudicarem as vítimas, as comunidades e a
si próprios, bem como as relações entre todos os envolvidos.

2.A gestão de conflitos vem de “La Sala”: a vítima e a


comunidade participam ativamente; amplia a visão do Estado
frente ao infrator

3.Mudança de parâmetros: não se mede o quanto de


punição deve ser imposta, mas como chegar à reparação com
base na responsabilização
Justiça Restaurativa
● Oportunidade para as pessoas se testarem e se testarem
em outras funções
● Evolução do conceito de Jus ça da finalidade puni va
para a reparadora
● Caráter transformador da Jus ça
● Forma alterna va de entender o mundo, as relações, a
sociedade e a jus ça.
● A mediação como uma de suas ferramentas mais
poderosas
Os tres pilares

1 Responsabilizaçao pessoa ofensora

2 Reparaçao pessoa vítima

3 Corresponsabilizaçao comunidade

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Assimetria moral

A RESPONSABILIZAÇÃO
Processo
Brechas/alertas :
Tipos do responsabilidade (perspec va restaura va):
• Responsabilidade passiva
• Responsabilidade a va

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EXPERIÊNCIAS
RESTAURATIVAS
NA ESPANHA
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Asociación de Mediación para la Pacificación de Conflictos (AMPC)

Criada em 2004

● Início das a vidades em Março de 2005,


C.P. Valdemoro, Madri III

● Primeira prisão restaura va na Espanha

● Início da mediação penal em setembro


de 2005, Tribunal Penal nº 20, Madrid
Federación Española de Justicia Restaurativa (FEJR)
Criada em 2010

En dades e profissionais com sensibilidades e trajetórias paralelas


Prá ca da Jus ça Restaura va, diferentes fórmulas
9 en dades atualmente

• AMEDI (Sevilla)
• AMPC (Madrid)
• ANAME (Pamplona)
• Asociación APOYO (Madrid)
• Berriztu (Bilbao)
• CONCAES (Madrid)
• Concierta (Salamanca)
• GEUZ (Bilbao)
• Solucion@ (Málaga)
Mediação
Criminal

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Mediação
● Ferramenta de entendimento e encontro entre as pessoas.
● Permite que você assuma pessoalmente o papel de liderança no processo de
resolução do conflito.
● Requer sentar-se para dialogar para resolver as diferenças em um contexto
neutro.
● Obriga você a assumir a responsabilidade por suas próprias decisões e
permitir que o relacionamento continue no futuro, se as partes o
considerarem positivo.
● Ajuda a aprender a perceber e interpretar os conflitos a partir de outros
pontos de vista, tendo em conta o seu próprio interesse, mas também o da
outra pessoa; reconhecer erros em sua forma de se relacionar e
compreender os da outra parte.
● Exige redefinir preconceitos em relação ao outro e aceitá-lo como
colaborador na busca de soluções.
● É uma ponte para o crescimento pessoal.
● Necessidade de legitimidade no plano social e judicial como opção à
autoridade administrativa.
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Mediação Criminal
Sistema penal como confronto de perdedores:

○ Perdem as vítimas e seus familiares, por não se sentirem ouvidos sobre suas
reais necessidades e não obterem respostas sobre o ocorrido. Quando são revitimizados
em seu confronto com o processo judicial.

○ Perdem O ofensor e sua família, muitas vezes sofrendo silenciosamente, também


perdem. A pena não é só uma privação de liberdade, mas também de relacionamentos, de
saúde, de trajetória pessoal, que se abrevia, um desligamento com a vida real.

○ A sociedade perde um dos seus membros, aumentando o ressentimento deste


para com aquele que dela o expulsa, com o possível aumento do risco de reincidência do
crime por ressentimento e falta de oportunidades.

Processo restaurativo (mediação penal) que permite a responsabilização e também medidas


que impeçam a “perda do sujeito para a sociedade”, antes a sua inserção.
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Contribuições da mediação penal
Para a jus ça
• Alternativa à clássica pena retributiva
• Oferecer uma resposta pacificadora e inclusiva (vítima, ofensor e comunidade)
• Otimizar a Justiça (eficácia e eficiência)
• Para a sociedade
• Promover uma Justiça Criminal cada vez mais próxima
• Estabelecer e promover uma cultura de paz e diálogo
• A superação da ideia adversarial na regulação dos conflitos
• Para o ofensor
• Assuma um papel mais ativo na gestão do seu crime
• Ser capaz de reparar a vítima, entendendo seu crime a partir de sua perspectiva
• Sentir outras emoções ligadas a esta outra forma de enfrentar o crime
• Consequências penológicas.
• Para a ví ma
• Sentir-se ouvido na gestão do crime de que foi vítima
• Ser capaz de expressar suas emoções e experimentar variações nelas
• Obtenha respostas que são difíceis de obter através do processo ordinário
Tipos de conflito ámbito penal
Contra o patrimônio (furto, furto, furto, fraude,
apropriação indébita, furto e furto de uso de
veículo).
Ameaças e coação.
Dano.
Ferimentos.
Contra à honra.
Falsidades, golpes.
Abuso.
Violação dos deveres familiares, etc.

Estão excluídos
Violência de gênero
Crimes contra a liberdade sexual
Fases da mediação penal
● Seleção do caso.
● Fase de derivação.
● A fase de contato com a persona infratora.
● A fase de informação com a pessoa infratora (consentimento).
● A fase de contato com a pessoa vítima.
● A fase de informação com a pessoa vítima (consentimento).
● A fase de acolhida com a pessoa infratora (entrevista).
● A fase de acolhida com a pessoa vítima (entrevista).
● O encontro dialogado.
● O acordo e a ata de reparação.
● O encerramento pedagógico.
● O informe do mediador.
● As consequências jurídicas e o acompanhamento do acordo.

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Mediação
Penitenciária

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Prisão

● Possivelmente o contexto mais carente de espaços de


diálogo, autorresponsabilidade e paz.
● Hipervigilância, atitude hostil como defesa.
● Código carcerário contrário aos valores do diálogo.

A MEDIAÇÃO COMO CUNHA QUE QUEBRA E ABRE NOVAS


ALTERNATIVAS
Fases da mediação prisional

● Seleção de caso
● Derivação
● Recepção fase I
● Recepção fase II
● Fase de Aceitação e Compromisso
● Reunião de diálogo
● Seguir
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JR E CRIMES
DE EXTREMA
SERIEDADE
Encontros
Restaurativos entre
ex-terroristas e
vítimas de ETA

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Encontros Restaurativos

● Inicia va. Surpresa: faz parte de um grupo de ex-terroristas já


desassociados da organização terrorista
● Por que “encontro restaura vo”?
● Primórdios: criação de uma metodologia. Aventura no desconhecido,
falta de referências teóricas e prá cas
● Trabalho solo da mediadora Esther Pascual (Fase I)
● Equipamento. Fase II da experiência: novos mediadores, novos
protagonistas, fim do anonimato e silêncio midiá co

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Encontros Restaurativos:
entrevista em grupo victimarios (Nanclares)

Condições da experiência:
Assimetria moral como eixo do processo.
Encontros diretos e indiretos.
Falta de bene cios prisionais como consequência de sua
par cipação na experiência.
Perfil do perpetrador: dissociação absoluta do grupo
terrorista, não necessariamente do grupo de presos.
O dilema do “perdão”.
Eles aceitam 6 pessoas.
Encontros Restaurativos:
entrevista em grupo vítimas

Comparecem 8 pessoas selecionadas pela DGV do Governo Basco.


● Condições da experiência:
● Falta de bene cios prisionais como consequência de sua
par cipação na experiência.
● O dilema do "perdão" também nas ví mas.
● Perfil da ví ma: grande evolução no processo de luto.
● Mo vações pessoais: conhecimento de certas informações, deseja
deixar de lado o ódio e o ressen mento.
● Mo vações sociais: ser um exemplo e contribuir para a pacificação
de Euskadi.
● Conflito de lealdades. Pessoal e familiar.
● Eles também aceitam 6 pessoas.
Encontros Restaurativos:
preparación individual victimarios I

Análise da sua história de vida


antes de ingressar na ETA, durante
e depois
Encontros Restaurativos:
preparación individual victimarios II

● Responsabilidade
● Empa a
● Outras pressões?
● Capacidade restauradora
● Elaboração de emoções
● Trabalho resiliência?
● Expecta vas que atendo (necessidade de perdão?)
Encuentros Restaurativos:
preparación individual víctimas I

Análise de sua trajetória de vida antes


do assassinato de seu ente querido, o
impacto no momento e a vida após
Encontros Restaurativos:
preparación individual víctimas II

● Elaboração de emoções
● Resiliência de trabalho
● Empa a
● Possível pressão externa
● Próprias mo vações
● Reunião de expecta vas
Encontros Restaurativos:
o encontro
● O papel do mediador.
● Inicia va do agressor: explicação dos fatos, resposta às perguntas da ví ma. efeito
dessas respostas.
● Exposição da ví ma do que a perda e o assassinato supõem para si e para a
família. O perpetrador ouve com espanto.
● Aparição do perdão espontaneamente. Restauração da confiança no ser humano.
Obrigado à ví ma por recebê-lo, apesar das dúvidas.
● As necessidades de cada um
● Os processos: responsabilidade, empa a (mútua?), reparação
● Acordos?
● A par r daqui começam a falar do presente e do futuro, interessam-se pela vida
atual do outro. Processo de humanização (vida na prisão…)
● Abordagem sica da ví ma na despedida, vergonha do ex-terrorista.
Encontros Restaurativos:
despedida e seguimento

● Acompanhamento da ví ma após o encontro. As primeiras emoções: euforia?


confusão? vazio? Diferenças na gestão de acordo com o gênero.
● Acompanhamento de curto prazo. Estranheza nas emoções. Análise a par r do
processo de humanização da pessoa à sua frente, que deixou de ser (apenas) um
assassino.

● O perpetrador fica sozinho, afetado por tantas emoções e pela experiência


recente. Necessidade de elaboração emocional e cogni va de tudo o que aconteceu.
● A con nuidade da relação entre eles?
Encontros Restaurativos:
fase II

● Expansão da equipe quando mais pessoas são adicionadas à experiência,


tanto ví mas quanto ex-terroristas
● Bloqueio do Governo. Pressão das Associações de Ví mas. 14 EERR no
total nestas duas primeiras etapas. 2 deles permanecem suspensos.
Ruído da mídia
● Publicação Os olhos do outro
● Novo EERR "não oficial" quando eles saem de licença

https://www.ccma.cat/tv3/alacarta/30-minuts/el-perdo/video/3980170/
Encontros Restaurativos:
29 julio 2015. Aniversário Juan Mari Jáuregui
Encuentros Restaurativos:
29 julio 2015. Aniversário Juan Mari Jáuregui
Encontros Restaurativos:
29 julio 2015. Aniversário Juan Mari Jáuregui
Encontros Restaurativos:
29 julio 2015. Aniversário Juan Mari Jáuregui
Encontros Restaurativos
Fase III
Depois de diferentes inicia vas…

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Encontros Restaurativos
Fase III
Reabertura de processos:

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Encontros Restaurativos
Materiais audiovisuais

https://www.ccma.cat/tv3/alacarta/30-minuts/el-perdo/video/3980170/

https://www.cuatro.com/diario-de/redaccion-de-diario-de/programa-1-encuentros-
por-paz/La_Redaccion_de_diario_de-ETA-AVT-Rosa_Rodero-Josean-Mercedes_Mila_
0_1830150243.html
https://www.youtube.com/watch?v=F_t3QdGzMpU
Encontros Restaurativos

• A grandeza do ser humano


• Capacidade nossa e dos outros de nos
surpreender e nos surpreender
• O poder ilimitado do diálogo, o encontro
honesto e direto entre as pessoas
• A força do perdão
Justiça restaurativa no Brasil

● O que nós sabemos?


● Quais são os seus pontos
fortes?
● Quais são suas deficiências?
● O que seria bom para a JR no
Brasil?
https://
forms.office.com/Pages/ResponsePage.aspx?id=A8EYWP-0tkqMBdwvtpk7wNjbjj8G
-p1Jv0n1NbuTa4dUNkxFWjRJOENWUVFDUUpNOTJCTzBVQjk0Ri4u
OBRIGADA PELA SUA
ATENÇÃO

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