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Como falam os brasileiros?

Síntese de Callou e Leite (2002)


Introdução
• Relação entre unidade e heterogeneidade:
“ É de se esperar (...) que na extensão do território
brasileiro haja uma unidade linguística, a língua
portuguesa, mas também diversidade, os falares
brasileiros.” (p. 8)
• A questão da padronização para fins cultos (p. 9-10)
motivações históricas/geográficas/políticas favorecem a
preferência pela cidade do Rio de Janeiro: localização
geográfica central no eixo norte/sul, centro político
desde 1763 – quando se torna a capital da Colônia,
linguagem culta com um menor número de marcas
locais/regionais (tendência mais universalista, dentro
do país).
O mito da homogeneidade
• A história da colonização brasileira reflete e é a
principal motivação para a diversidade linguística
existente no país.
• A situação social e a história política do país
(dimensão territorial, história de ocupação
diferenciada entre as regiões, alto índice de
analfabetismo, concentração de renda nas mãos de
um pequeno grupo) não favoreceriam um quadro de
homogeneidade linguística.
Entretanto, ainda persiste a idealização de um país
monolíngue e de uma gramática pura,
imutável, o mais próxima o possível do
Português Europeu.
“Para o sociolinguista, cujo objeto de estudo é a língua
e os fatores sociais que condicionam sua produção, é
natural aceitar a ideia de que, se em termos relativos
se justifica a qualificação de ‘espantosa’ – que não
raro se atribui à unidade linguística do Brasil –, mais
espantoso pareceria negar a diversidade que ela
pressupõe, dadas as características pluriculturais
tanto do nosso passado quanto de nosso presente. O
uso de uma língua envolve, contudo, aspectos
ideológicos e o preconceito que existe em
relação a determinadas variedades é
equivalente a outros, como social, o religioso e
o racial. O domínio de um português padrão é
privilégio reservado a poucos membros de uma elite
econômico-social que, assim, assegura seu poder e
sua primazia políticio-cultural.” (p. 16)
Assumindo a diversidade
• O reconhecimento da heterogeneidade da fala
brasileira foi um primeiro passo para a
construção de propostas para a delimitação de
áreas dialetais no país.
• A proposta de Nascentes (1953) foi a primeira a
apresentar critérios linguísticos (a cadência e a
pronúncia das vogais médias pretônicas) como
índices para a delimitação de áreas dialetais.
Nascentes (1953: 19)
• A identificação de um indivíduo como falante de
uma determinada comunidade é complexa, uma
vez que:
existem semelhanças entre áreas dialetais
distintas entre si: determinados fenômenos não
se circunscrevem a uma norma específica;
os limites divisórios entre os falares brasileiros
não coincidem com os limites geográfico-
administrativos;
a variação dialetal não é privativa das normas
populares.
• O projeto NURC - Norma Urbana Culta – criado no
início da década de 70 teve por finalidade investigar
do segmento culto de cinco capitais brasileiras
(Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e
Recife).
• As cinco cidades que serviram como base de
elaboração da amostra “proporcionam uma amostra
relativa a uma população urbana concentrada em
quatro cidades fundadas no século XVI e uma –
Porto Alegre – no século XVIII, distribuídas por
nossa extensão territorial mais densamente
povoada, correspondendo, grosso modo, às regiões
geográficas do Sul (POA), Sudeste (SP e RJ) e
Nordeste (SSA e RE)”.
O falar carioca
• O falar carioca é uma variedade do subfalar
fluminense (que abrange também o Espírito
Santo e a Zona da Mata/Leste de Minas Gerais)
[p. 27].
• A cidade do Rio de Janeiro, tanto do ponto vista
geográfico quanto do ponto de vista histórico-social, é
uma área de grandes contrastes, o que a coloca como um
lugar de destaque no cenário internacional.
“O Rio de Janeiro representaria, por assim dizer, um
denominador comum da realidade brasileira, por ocupar
dentro do país uma posição privilegiada, com a menor taxa
de analfabetismo entre as 12 maiores capitais do país e
com um em cada cinco adultos, pelo menos, tendo iniciado
o ensino superior. A escolaridade média da população é de
8,2 anos, taxa insatisfatória para os padrões dos países
desenvolvidos, mas bem acima da média nacional de 5,5
anos. Esses dados (de 2001) poderiam servir como
argumento na defesa de que a linguagem do Rio de Janeiro
é o ‘padrão’ nacional. Ressalta-se, porém, que o bom nível
educacional não está igualmente distribuído pela cidade,
estando a população com nível superior concentrada na
Zona Sul e nos bairros ricos da Zona Norte(...)” – p.30-31.
Sexo, idade e variação linguística
• As diferenças entre a linguagem de homens e
mulheres estão associadas a outras identidades
culturais, não podendo ser analisadas
isoladamente, mas em conjunto com outros
fatores.
• No geral, o comportamento linguístico das
mulheres pode pender ora para o polo de
conservação, ora para o polo de inovação.
Para uma caracterização dos falares brasileiros

• Fenômenos variáveis no nível fonético-


fonológico (vocalismo átono, realização das
consoantes pós-vocálicas, padrão entoacional
nas estruturas de tópico) e sintático (artigo
definido diante de pronome possessivo e nomes
próprios, alternância ‘nós’ x ‘a gente’ e ‘ter’ x
‘haver’ em construções existenciais) revelam
que não há uma homogeneidade nos falares
brasileiros: há uma intensa variação, que ora
aproxima áreas próximas geograficamente, ora
as distancia por completo.
Vocalismo átono
R pós-vocálico
S pós-vocálico
L pós-vocálico
Artigo diante de possessivo e nomes
próprios
Alternância “nós” x “ a gente”
“ter” em estruturas existenciais
Para sintetizar ...

• A heterogeneidade não é sinônimo de


empobrecimento, mas sim de riqueza. O
comportamento variável da fala brasileira é fruto
da história plural de nossa sociedade.

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