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Masculinidades em Perspectiva: atravessamentos de gênero na prática em saúde mental

Eduardo Borges do Carmo, Psicólogo Profissional de Saúde Residente, Escola Superior de


Ciências da Saúde.

No modelo biopsicossocial a compreensão de saúde mental, evidencia a importância de


categorias como gênero para as intervenções tendo em vista que o modo como se dá o
sofrimento de homens e mulheres ocorre de modo distinto, isto porque que os “motivadores”
do adoecimento são diferentes. No campo das políticas públicas de saúde mental, ao analisar
o perfil dos usuários dos serviços de saúde mental, especificamente os Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) em suas diferentes configurações, se verifica um diferença significativa
quanto ao acesso dos usuários considerando o gênero. Em sua maioria, os CAPS voltados
para o atendimento de pessoas com necessidades em decorrência do uso de álcool e outras
drogas tem como público mais de 80% homens em diferentes estados brasileiros Partindo
disso, o presente trabalho tem como objetivo relatar experiência de intervenção em grupo para
homens em um CAPS AD III do Distrito Federal. O grupo acontecia semanalmente, com
duração de 1:30h, em formato de roda de conversa. As discussões eram conduzidas por um
psicólogo e um enfermeiro. Os materiais utilizados eram diversificados, sendo um quadro
branco e pinceis, vídeos e música e perguntas disparadoras. A escolha dos temas era feita
pelos profissionais com base nas demandas que os usuários verbalizavam ou eram
identificadas pelos profissionais. O grupo era realizado apenas por profissionais homens com
o intuito de criar espaço que permitisse que os pacientes ficassem a vontade para discutir
temas específicos, isso foi proposto a partir da experiência no serviço e do relato de vários
pacientes de que não sentiam-se a vontade de falar sobre assuntos como sexo com
profissionais mulheres. A estrutura básica do grupo consistia em: rodada de apresentação dos
participantes e profissionais; apresentação do tema proposto para o dia; discussão do tema;
avaliação do grupo e sugestão de temas para os encontros seguintes. Os dados que serão
apresentados referem-se à 6 encontros do grupo, realizados entre dezembro de 2018 e
fevereiro de 2019. A média de participantes foi de 10,3, os temas trabalhados foram: relação
entre masculinidade e uso de substâncias psicoativas; mapa de cuidado; sexualidade e
comportamento de risco; próstata; impotência sexual. Como resultados, pode-se salientar que
a abertura de espaço de diálogo de demandas latentes como a relação entre uso de medicações
e implicações sexuais como impotência; diálogo aberto sobre Infecções Sexualmente
Transmissíveis e apresentação de métodos de prevenção, antes não conhecidos pelos
pacientes, bem como possibilidades de discutir preconceitos sobre orientação sexual,
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identidade de gênero e sorologia; identificação e discussão de planejamento de cuidado,


identificando quais serviços os usuários acessam e permitindo assim levar tais dados para
discussões de equipe; identifica-se também o perfil de acompanhamento dos usuários que a
maioria de participantes, média de 48%, estava em Acolhimento Integral no CAPS AD, que
consistem em acolhimento 24h em enfermaria. Evidencia-se assim que intervenções que
consideram gênero apresentam potencial para criar espaços ricos de discussão e identificação
de demandas específicas, além de pensar o adoecimento considerando aspectos sociais
relevantes e que atravessam as vivencias e adoecimentos individuais.

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