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KARL MARX: LUTA DE CLASSES-19

Wanderson Ferreira de Sousa


wantso_br@hotmail.com
Ciências Sociais – Michael Melo Bocádio

Resumo
No decorrer deste artigo encontra-se exposições de conceitos por Marx conversados em seu
Manifesto Comunista, relacionando suas ideias sobre as relações de trabalho entre burgueses e
proletários e sua luta de classes. Tópicos também importantes de sua ideologia como divisões
de trabalho, alienação e exploração são relacionados com a atual crise mundial devido a
pandemia instaurada.
Palavras-chave: Luta de classes, alienação, exploração, pandemia.

Introdução
“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da
luta de classes” (MARX, 1848). Essa é uma de suas citações mais marcantes na história da
filosofia. Com isso, Marx queria dizer que a sociedade sempre esteve em guerra entre dois
grupos, os opressores e os oprimidos. Atualmente não é diferente, burgueses e proletariado
assumem esses papeis respectivamente na atual sociedade capitalista.
Essa diferenciação fica nítida quando se enxerga qual desses dois grupos tem sobre
sua posse os meios de produção, quem é o dono do maquinário necessário para que as
necessidades humanas sejam saciadas. Necessidades essas que não só são as biológicas, as
essenciais para sobrevivência humana, mas também as necessidades que são consequências da
existência social, produzidas pela própria interação do ser humano na natureza (trabalho).
A estrutura da sociedade depende do estado de desenvolvimento das forças de
produção da mesma, seu trabalho, que é a atividade humana básica. O conceito de forças
produtivas diz sobre as inovações na tecnologia, nos processos e modos de cooperação, na
divisão técnica do trabalho, nas habilidades e conhecimentos utilizados na produção, na
qualidade dos instrumentos e nas matérias-primas que estão à disposição da população.
Marx acreditava que essas transformações nos modos de se produzir resultavam em
mudanças nas relações econômicas principalmente, mas também interferia em várias outras
esferas da sociedade como a social, política, intelectual, cultural. Isso quer dizer que, a
infraestrutura da sociedade (condições materiais, meios e relações de produção) tem uma
relação de interdependência com a sua superestrutura (estado, religião, política, a moral, as
artes e a cultura).
Tendo isso em mente, percebe-se que os burgueses (donos de fábricas, terras e
tecnologias) dessa sociedade capitalista ocupam um papel na produção da vida material
humana, mas necessitam dos proletários (trabalhadores), pois sem sua mão de obra nada
produzem, nem sua própria existência.
Vê-se então a relação entre o empregador e o empregado é mediado pelo mercado,
onde o empregador fornece os instrumentos necessários para produção da vida material, mas
quem produz é o empregado que só tem como oferecer seu corpo e seu tempo de vida para
ocupar tal função, sem ter outra escolha pois sua sobrevivência depende do seu trabalho.
Embora aos olhos do mercado essa troca pareça justa, aprofundaremos ao decorrer deste
artigo para percebermos com mais clareza como se manifestam hoje em dia essas relações de
opressor e oprimido ainda em um cenário de terror pandêmico.
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1 COVID-19 e a burguesia
O Coronavírus é um vírus que causa síndrome respiratória de gravidade variável, do
resfriado comum à pneumonia fatal. Teve seus primeiros casos registrados em Wuhan, uma
província chinesa em meados de dezembro do ano passado (2019) afirma OMS (Organização
Mundial de Saúde). Acredita-se que seja originário de uma zoonose, ou seja, quando uma
doença infecciosa é transmitida de um animal para o homem, e essa transmissão se deu por
conta do consumo de uma iguaria feita com morcego, embora haja suspeitas em uma grande
variedade de animais na culinária chinesa que possam ter sido hospedeiros do vírus. O
morcego é considerado como um potencial reservatório para vírus possivelmente maléficos
para a humanidade, mas não é só ele, na longa caminhada da humanidade sobre o planeta
terra nos deparamos com diversas doenças transmitidas por zoonose, como é o caso da febre
amarela advinda dos macacos, do HIV vindo dos chimpanzés ou da influenza de aves
silvestres para as domesticas até chegar no ser humano. Essa é a prova viva que posso citar
para se tornar mais perceptível o pensamento de Marx, quando fala sobre como o homem em
um ciclo infinito de interferência na natureza, cria novas necessidades que estão além de suas
prisões biológicas.

A fome é a fome, que se satisfaz com carne cozinhada, comida com faca e garfo,
não é a mesma fome que come a carne crua, servindo-se das mãos, das unhas, dos
dentes. Por conseguinte, a produção determina não só o objeto do consumo, mas
também o modo de consumo, e não só de forma subjetiva. Logo, a produção cria o
consumidor (MARX, 1859, p.220).

A Constituição Federal de 1988 trouxe em seu art. 225, a previsão de um meio


ambiente equilibrado a todos os seres. Mas o capitalismo atual ignora todos os limites da
interferência do homem no meio ambiente, tanto na fauna como na flora. Sua intervenção sem
critério tem sido a causa de um desequilíbrio ecológico cada vez maior em todo globo, como
desmatamento florestal, poluição de rios e oceanos, desertificações, e vários outros exemplos
que são consequências da exploração irresponsável do que a natureza fornece. O consumo de
animais transformou-os em apenas mais um produto no mercado, ignorando qualquer limite
entre a vida e o objeto. Animais são criados, abatidos e vendidos em escalas cada vez maiores
com as vistas apenas nos maiores lucros, e esse vírus que já alcançou, com base nos dados da
OMS, 1.773.084 casos registrados no mundo inteiro com 111.652 mortes computadas é só
mais uma consequência desse capitalismo desequilibrado.
Embora pouco se fale sobre, mas existem vários tipos de Coronavírus que seu
histórico de manifestações também provocada através da zoonose. Síndrome respiratória
aguda grave (SARS) foi o primeiro a se manifestar e é o mais grave entre os Coronavírus.
Inicialmente detectado na província de Guangdong, também na China, em novembro de 2002,
se espalhou para outros 30 países. Nessa epidemia, até 6 de março de 2020 foram notificados
mais de 100.000 casos em todo o mundo, com 3.411 mortes. Já o MERS-Cov foi o menos
grave entre os Coronas, surgiu no Oriente Médio em 2012 e teve em contato com 27 países,
causou 2.500 infecções com pelo menos 850 mortes.
Esse enorme consumo de animais em busca de mais renda gerou para sociedade
capitalista uma bola de neve que nesse momento se encontra incontrolável, pois, enquanto
existir a propriedade privada dos meios de produção, as necessidades dos homens vão se
resumir ao dinheiro, e as novas necessidades criadas servirão apenas para os obrigar a maiores
sacrifícios e dependência.
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Os indivíduos que constituem a classe dominante possuem, entre outras coisas, uma
consciência, e é em consequência disso que pensam; na medida em que dominam
enquanto classe e determinam uma época histórica em toda sua extensão, é lógico
que esses indivíduos dominem em todos os sentidos, que tenham, entre outras, uma
posição dominante como seres pensantes, como produtores de ideias, que
regulamentem a produção e a distribuição dos pensamentos de sua época; as suas
ideias são, portanto, as ideias dominantes de sua época. (MARX, 1845, p. 56)

2 Proletários e seu trabalho


Como foi mencionado anteriormente neste artigo, o trabalhador nesse contexto
capitalista tem sobre sua posse apenas seu próprio corpo, e não lhe resta outra maneira de
sobreviver se não doando seu físico e seu tempo para quem tem os meios de produção. O
trabalhador vive para o capital. Se ele não trabalha, não tem salário e logo não sobrevive. Os
burgueses vivem do trabalho do proletariado porque esses últimos produzem mais do que
necessitam para sobreviver.
Antigamente quando o homem trabalhava apenas para si, se relacionava com o meio
ambiente para obter só o indispensável para se manter vivo, não existia nenhuma base
econômica, a divisão do trabalho era natural. Marx acreditava que foi o surgimento de um
excedente da produção que permitiu a divisão social do trabalho, e assim, alguns membros da
comunidade passaram a estabelecer um certo direito sobre o produto e ou sobre os próprios
trabalhadores.
A sociedade capitalista se baseia na ideologia da igualdade, homens são vistos como
iguais perante a lei e pelo mercado como foi afirmado anteriormente. Mas não é assim que
acontece no processo de venda da força de trabalho por um salário. O valor que o trabalhador
produz para seu empregador durante sua rotina de trabalho é muito superior ao valor que lhe é
retribuído pela sua função, ou seja, grande parcela do tempo que um funcionário se dedica ao
seu trabalho não é pago, é trabalho forçado. Exemplificando, se hipoteticamente em uma
função um funcionário tem o salário de mil reais, ele sozinho produz 5 mil ao mês para a
empresa. Na primeira semana de trabalho ele já produziu o equivalente à sua remuneração e o
valor excedente produzido é apropriado pelo dono da empresa, valor esse que Marx chamava
de “mais-valia”. O trabalhador, através de uma convenção contratual livremente aceita,
possibilita a acumulação de ganhos da burguesia, financiando sua permanência no domínio do
mercado.
Embora fique nítido a exploração da força de trabalho, Marx pensava que o
trabalhador não a percebe devido à sua alienação nesse processo. A divisão do trabalho
permite essa alienação, pois o indivíduo faz parte apenas de uma parte do processo de criação
de um produto, logo está alheio ao produto final e também ao seu valor. Pode-se enxergar isso
de um ponto de vista mais amplo. Todos oferecem o fruto de seu trabalho ao mercado em
troca de moeda. O marceneiro veste roupas, o metalúrgico vai ao cinema, a artista compra
remédios, a farmacêutica compra pão. Quem produz tudo aquilo que precisa?

O sistema capitalista é aquele no qual se aboliu da maneira mais completa possível a


produção com vistas à criação de valores de uso imediato, para o consumo do
produtor: a riqueza só existe agora como processo social que se expressa no
entrelaçamento da produção e da circulação. (MARX, 1867, p.573)

3 Corona-proletariado
Como consequência do crescimento do capitalismo, as aglomerações nas cidades
ficaram inevitáveis devido a busca pelo trabalho, submetendo o campo à cidade. Os
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trabalhadores inseridos nesse processo foram se multiplicando cada vez mais e se alocando
em espaços cada vez menores, reflexo das desigualdades sociais também mediadas pelas
formas de relações de trabalho. Durante esse período de pandemia que estamos enfrentando,
vários problemas vieram à tona, como a impossibilidade de prevenção através do
distanciamento social.

A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da


propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de
produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A consequência necessária
dessas transformações foi a centralização política. (MARX, 1848, p.14-15)

Corona pode ser transmitido de formas bem simples através do contato humano, como
o toque do aperto de mão, gotículas de saliva, espirro, tosse, ou superfícies contaminadas em
que o vírus resiste por horas. Como se controla a proliferação de um vírus como esse aqui no
Brasil quando se tem boa parte da população concentrada em pequenas regiões com casas
contendo em média cinco moradores? O contágio entre familiares fica muito facilitado, pondo
em risco aqueles que são os mais atingidos, os idosos. Outro ponto importante nesse cenário é
a precária situação do saneamento básico de muitos desses espaços, onde os indivíduos não
tem acesso nem a água encanada, item fundamental para manutenção da saúde da população.
Como se proteger do COVID-19 dessa forma?
Em meio a essa problemática da pandemia e a necessidade de evitar aglomerações, foi
decretado, capital por capital, o fechamento de vários pontos urbanos, como instituições de
ensino, restaurantes, estabelecimentos, postos de gasolina, etc. A economia do país
logicamente sofreu e sofre grandes complicações devido à quebra na rotatividade do capital,
grandes empresas fechadas e consumo drasticamente reduzido. Mas quem mais sofre com isso
tudo não são os donos das empresas com a redução do seu lucro exacerbado, mas sim
trabalhadores autônomos ou desempregados.
O Presidente Bolsonaro juntamente com sua equipe econômica apresentou algumas
medidas, que teve o foco apenas nos benefícios de burgueses. Propôs medidas que permitiam
as empresas pagar seus funcionários apenas metade do seu salário nesse período de
quarentena, ou suspender por quatro meses seus salários, ou até mesmo demitirem seus
funcionários temporariamente (porém sem trazer garantia alguma ao trabalhador de retorno ao
emprego) ignorando seus direitos trabalhistas. Estima-se que essa crise deixe certa de 12,6
milhões de desempregados.
Trabalhadores autônomos nesse contexto ou são obrigados continuar trabalhando
normalmente se expondo ao vírus, ou ficam totalmente a mercê do auxilio do estado para
manter suas famílias, pois, seu sustento depende unicamente de sua presença em suas funções,
onde sempre precisou driblar as barreiras para sobreviver que o próprio sistema lhe impôs.
Fica mais explícito o capitalismo desenfreado nesses tempos de crise quando o Presidente da
República põe como prioridade a economia do país em vez da saúde e bem-estar da
população, deixando claro que apoia o funcionamento dos comércios no país mesmo com
todo esse cenário de óbitos em massa.

4 Considerações finais
Marx acreditava que a razão humana não é apenas um instrumento de interpretação da
história, mas sim um meio de transforma-la, na busca de obter uma sociedade mais justa,
capaz de possibilitar a realização de todo o potencial existente na humanidade. Essa barreira
paralisadora precisa ser transcendida.

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A compreensão da realidade é um fato importante para a mudança, mas não nos
deixemos levar pelo comodismo. Conhecimento sem movimento é apenas mais sofrimento,
conhecimento com ação é sabedoria. Busquemos a justiça que tanto reclamamos.

5 Referências
MARX, K. O Capital: Crítica da Economia Política. 1867
MARX, K. Contribuição à Critica da Economia Política. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular,
2008
MARX, K.; Engels, F. O Manifesto Comunista. ed. Ridendo Castigat Moraes. 1848
MARX, K.; Engels, F. A Ideologia Alemã. ed. Ridendo Castigat Moraes. 1845
CORONA VIRUS E SINDROMES RESPIRATORIAS AGUDAS ( COVID-19, MERS E
SARS). Disponível em:
< https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/v%C3%ADrus-
respirat%C3%B3rios/coronav%C3%ADrus-e-s%C3%ADndromes-respirat%C3%B3rias-agudas-
covid-19,-mers-e-sars>. Acesso em: 13-abril-2020

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