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O PAPEL DOS FUNGOS NO CONTROLE DE FITONEMATOIDES

Fitonematoides

São seres:
• Vermiformes;
• Microscópicos. Com exceção das fêmeas com ovos, Meloidogyne e Heterodera;
• Endoparasitas ou ectoparasitas;
• Endoparasitas migratórios – nematoides móveis que se alimentam no interior
dos tecidos radiculares. Exemplo: Pratylenchus brachyurus.
• Endoparasitas sedentários – nematoides que, quando encontram um local de
alimentação no interior da planta, ficam imóveis e fixam-se num local para se
alimentarem. Ex: gêneros Meloidogyne spp. e Heterodera spp.;
• Ectoparasitas – nematoides que se alimentam no exterior da planta. Ex:
Helicotylenchus sp.
• Habitam o solo;
Na figura 1 podemos ver um nematoide juvenil das galhas (Meloidogyne
incognita) penetrando em uma raiz de tomate.
Apresentam:
• Corpo: cilíndrico e alongado;
• Extremidades afiladas;
• Principais gêneros: Meloidogyne, Heterodera, Globodera, Pratylenchus,
Rodopholus, Rotylenchulus, Nacobbus e Tylenchulus.
• Na figura 2 temos o corpo e as extremidades afiladas do nematoide gênero
Meloidogyne.

Sintomas
• Presença de reboleiras,
• Plantas atrofiadas e cloróticas;
• Galhas nas raízes;
• Alta população causa morte prematura de plantas.
Na figura 3 A) podemos ver o sintoma de reboleira de nematoide na soja; e B) o
agente causador que é o Nematoide-de-cisto-da-soja (Heterodera glicynes).
E qual o prejuízo acumulado em 10 anos?
Segundo o levantamento feito Syngenta em parceria com Agroconsult e
Sociedade Brasileira de Nematologia, o prejuízo por fitonematoides em diversas
culturas e espécies no ano de 2021 foi 65,3 bilhões de reais e para o ano de
2031 espera obter o prejuízo acumulado de 873,8 bilhões de reais.

Fungos nematófagos
• Organismos heterotróficos enzimáticos: Utilizam as enzimas para se alimentar
de substâncias orgânicas disponíveis;
• Eucarióticos (apresentam um núcleo delimitado por um envoltório nuclear)
unicelulares ou multicelulares;
• Grande capacidade de adaptação: sobreviver à trajetória do trato gastrintestinal
dos animais, germinar nas fezes e capturar as larvas infectantes e fitonematoides
no ambiente;
• Importantes agentes no controle biológico: controle de doenças e pragas
(insetos, nematoides);
Na figura 5 podemos ver Pochonia chlamydosporia parasitando ovos de
Meloidogyne incognita.
• Os fungos nematófagos são, em maioria, necrotróficos, pois vivem na matéria
orgânica morta, especialmente em restos de plantas em decomposição;
• É desse material morto que esses fungos retiram os seus alimentos;
• A grande maioria das espécies pode ser isolada em meios de cultura simples.
Na Figura 6. A) vemos Purpureocillium lilacinum incubado por 10 dias em meio
Czapek; e (B) seus conídios elípticos com ramificações divergentes.

Distribuição
Mais de 200 diferentes organismos são considerados inimigos naturais dos
fitonematóides, dentre os quais são encontrados fungos, bactérias, nematóides
predadores, ácaros, entre outros. Desses, cerca de 75% são fungos
nematófagos encontrados normalmente no solo; são inofensivos às culturas e
ao homem e parasitam ovos ou cistos, predam juvenis e adultos ou, ainda,
produzem substâncias tóxicas aos nematoides.
Processo de infecção
• Reconhecimento do hospedeiro: Físico por adesão através das hifas ou químico:
proteína ligadora de carboidratos (lectina) no fungo e um receptor de
carboidratos no nematoide;
• Especificidade do hospedeiro: Alguns fungos nematófagos mostram
especificidade ao hospedeiro e outros parecem ser generalistas. Contudo, um
fungo generalista pode mostrar maior virulência contra uma espécie de
nematoide em relação à outra;
• Processo de infecção: Adesão, penetração, digestão e translocação dos
nutrientes para partes do micélio. Ex: Os fungos endoparasitas desenvolvem-se
no interior do corpo do nematode, sendo o esporo a forma infectante. A infecção
inicia-se com a adesão do esporo à cutícula do nematode (esporo adesivo) ou
através da ingestão. Em seguida, o esporo germina, penetra na cavidade do
corpo onde produz o talo infeccioso que cresce e absorve o conteúdo corporal
do nematoide. Fungos produtores de armadilha desenvolvem um tubo de
penetração que perfura a cutícula do nematoide.

Obtenção
Os fungos nematófagos podem ser obtidos por aspersão do solo, sendo coletado
1 de solo, colocando em uma placa ágar água, adicionando a população de
fitonematoides como isca, e após por 5 a 6 semanas observa estruturas fúngicas
de captura ou esporos ou enzimas.

Forma de agir
São divididos em cinco grupos:
• Predadores;
• Oportunistas ou ovicidas;
• Endoparasitas;
• Produtores de toxina;
• Produtores de dispositivos de ataque especial.

Fungos predadores
A maioria das espécies são classificadas como fungos predadores de
nematoides, estes produzem um extensivo sistema de hifas no meio ambiente. A
intervalos ao longo da hifa são formadas armadilhas que capturam os nematoides
mecanicamente ou por adesão.
Figura 9. Armadilha do fungo Arthrobotrys envolvendo um nematoide.
Os fungos predadores utilizam armadilhas aderentes, a substância
adesiva pode cobrir toda a hifa ou apenas as estruturas especializadas e/ou as
redes. As estruturas de captura não aderentes são os anéis não constritores e os
constritores.
Figura 10. A) Ovo predado pelo Monacrosporium robustum e numerosos
ramos adesivos; B) Aspecto de um ramo adesivo do fungo com a porção
mucilaginosa e presença de bactérias tipo bastonete.
Os anéis não constritores são estruturas passivas (não tem
movimentação). Os nematoides, ao penetrar nesses anéis, enrolam-se e não
conseguem sair.
Figura 13. Helicotylenchus sp. portando dois anéis.
Figura 14. Anéis não constritores de um fungo nematófago.
Os anéis constritores têm ação ativa, geralmente têm três células, e
quando o nematoide penetra no anel, as células se expandem. Esse
intumescimento oblitera a abertura do anel, e o nematoide é, então, firmemente
apreendido através de um estrangulamento que ocorre em menos de 0,1
segundo.
Figura 15. Desenho esquemático de anéis constritores de Drechslerella.
A) Anel composto por três células hifais, B) Anel constritor fechado e C) Os anéis
atraem o nematoide para passar por dentro do seu lúmen. Ao penetrar, o anel se
constringe fortemente, inflando as suas três células.
Figura 16. Anéis constritores de um fungo nematófago.

Botões adesivos são células infladas com ramo hifálico curto ou longo,
espaçadas ao longo da hifa, e variam em morfologia com a espécie do fungo e
essas estruturas atraem os nematoides, e quanto mais o nematoide se esforça
para se libertar, mais substâncias adesivas são produzidas e este não consegue
escapar.
Figura 17. Botões adesivos de um fungo nematófago espaçadas ao longo
da hifa.
Figura 18. Desenho esquemático mostrando um espécime capturado por
botões adesivos de Nematoctonus sp.
Hifas são formadas a partir de conídios em germinação, entram por
orifícios naturais, apresentam velocidade menor, parasitam outros
(Micoparasitismo).
Figura 19. Pratylenchus coffeae com o corpo totalmente consumido pelas
vigorosas hifas assimilativas de Arthrobotrys dactyloides.
Rede Adesiva são ramos de hifas vegetativas, rede de loops com diâmetro
de abertura cerca de 20 µm, rede tridimensional, formados por conídios em
germinação.
Figura 20. Micrografia eletrônica de varredura de armadilha de rede
adesiva típica de Arthrobotrys oligospora.
Fatores de produção de armadilhas:
• Motilidade (capacidade de movimentação): Quanto maior a motilidade dos
nematoides, maior o estímulo ao fungo para a produção de armadilhas;
• Concentração: O aumento de fungos nematófagos nos solos foi atribuído a alta
concentração de nitrogênio, fósforo e potássio;
• Escassez de água ou nutrientes: Favorece o desenvolvimento de estruturas
fúngicas de captura;
• Ritmo endógeno: as hifas vegetativas ao crescerem, são ritmicamente
predispostas para a produção dessas armadilhas;
• Armadilhas espontâneas: fungos como Arthrobotrys spp. são mais saprófitas,
tendo uma capacidade única de mudar a sua morfologia e de aumentar a sua
habilidade parasitária.
Arthrobotrys
• Alvos: Formas móveis de nematoides (juvenis);
• Ação: Anéis constritores;
• Parasita facultativo: pode ser saprófita ou se alimentar de nematoides;
Figura 21. Arthrobotrys oligospora capturando Meloidogyne graminicola.
• Mais frequente nos solos;
• O mais conhecido;
• Diâmetro do nematoide: Depende do diâmetro do nematoide para ter sucesso
na sua captura.

Fungos ovicidas
• Parasitas de ovos;
• Formam ramificações miceliais (hifas);
• Hifas penetram os pequenos poros dos ovos dos nematoides;
• Colonização e morte do juvenil dentro do ovo;
Figura 23. Penetração de Purpureocillium lilacinus em um ovo de
Meloidogyne incognita.
• Utilização de enzimas: para o fungo penetrar com maior velocidade com as hifas
e se alimentar dos juvenis dentro dos ovos;
• Adesão: glicoproteínas (adesão e reconhecimento) e apressórios (extremidade
globosa (intumescida) de uma hifa ou tubo germinativo, a qual facilita a adesão
e a penetração do hospedeiro pelo fungo);
• Sobrevivência no solo: matéria orgânica.
Pochonia chlamydosporia
• Principais alvos: Nematoides das galhas, cisto, reniforme (Rotylenchulus
reniformis) e Nacobbus;
• Colonização dos ovos;
Figura 24. Penetração de hifas e colonização de P. chlamydosporia em ovos de
nematoides das galhas.
• Ação enzimática: Proteases e quitinases atuam na casca e dentro do ovo do
fitonematoide;
• Colonização superficial ou endofítica das raízes: Promove melhor
desenvolvimento e crescimentos das plantas através da relação simbiótica;
• Solubilização de fósforo: solubilizar formas não disponíveis de fósforo, o que leva
ao aumento da aquisição desse nutriente pela planta.
Figura 25. Ovos de Meloidogyne incognita infectados com P. chlamydosporia.
Maior formação de hifas nos ovos.
• Parasita facultativo;
• Pode tornar solos supressivos: Reduz a incidência de fungos fitopatógenos no
solo. Ex: Rhizoctonia solani (podridão, tomabamento).
Figura 26. Ovo de H. schachti infectado com P. chlamydosporia de testes em
estufa. Ação da protease sobre o juvenil dentro do ovo.
• Estrutura de resistência: Clamidósporos;
• Grande produção in vitro: Fermentação e microfiltração na fase saprófitica.
Figura 27. Cristais (setas) e clamidósporos de Pochonia chlamydosporia
variedade específica catenulata cultivada em meio BDA por 6 meses.

Purpureocillium lilacinum
• Alvos: Nematoide das galhas, cisto e reniforme;
• Nematoides migradores;
• Captura de formas móveis.
Figura 28. Purpureocillium lilacinus fungo parasitando de ovo de nematoide.

Fungos endoparasitas
• Infectam os nematoides através de esporos;
• Esporos: pequenos, finos e pouca reserva energética, e podem ser móveis
(zoósporos) ou imóveis;
• Eficientes;
Figura 29. Parasitismo de Phanerochaete chrysosporium isolado B-22 em
juvenis de segundo estágio (J2) de Meloidogyne incognita;
• Mais dependentes por nematoides;
• Hifas assimilativas: absorvem o conteúdo interno do nematoide;
• Hifas reprodutivas: formam tubo de evacuação e conidióforo;
• Produzem grande quantidade de conídios e clamidósporos (estrutura de
resistência);
• Ação enzimática e força mecânica através das hifas;
• Os fungos endoparasitas podem atacar a superfície do nematoide, conidióforos
com esporos desenvolvem através dos bulbos nas pontas das hifas tróficas a
partir do nematoide morto.

Catenaria sp.
• Encontrado em fontes de água e no solo;
• Alvo: forma móveis e imóveis;
• Ação: zoósporos uniflagelados;
• Aberturas naturais (boca, anus e vulva);
• Vesículas esféricas: presença de vesículas liberação de zoósporos.

Phanerochaete chrysosporium
• Basidiomiceto de podridão branca;
• Alvos: Ovos e nematoides das galhas;
• Ação: Esporos, enzimas, substâncias tóxicas;
Figura 30. Phanerochaete chrysosporium na madeira (realizando o processo de
decomposição).
• Remoção de poluentes tóxicos de águas residuais;
• Decomposição de matéria orgânica;
• Solos supressivos.
Figura 30. Parasitismo por Phanerochaete chrysosporium estirpe B-22 nos ovos
de Meloidogyne incognita.

Fungos produtores de toxinas


• Produzem toxinas nematicidas ou nematostáticas (imobilizam nematoides);
• O papel in vivo das toxinas não é bem conhecido;
• Os filos produtores de toxinas são: Ascomycota (Purpureocillium lilacinum –
toxina purlisin) e basidiomycota (Pleurotus eryngii – toxinas bisfenóis)
• Mecanismos envolvidos no controle de fitonematoides:
• Produção de toxinas;
• Competição por espaço e recursos nas raízes;
• Alteração do estado fisiológico do tecido radicular: acúmulo de compostos
fenólicos, hormônios e fitoalexinas dentro dos tecidos de plantas micorrízicas,
afetando a alimentação do nematoide. fenilalanina e serina, reduzir o
crescimento e a reprodução do nematoide das galhas. altos teores de açúcar
provavelmente afetam sua resistência a nematóides;
• Colonização de células de alimentação;
• Interferência com a localização de raízes de plantas: Redução da exudação;
• Indução da resistência e aumento da tolerância das plantas;
• Gêneros produtores de toxinas: Aspergillus, Pleurotus, Penicillium, Trichoderma
e Myrothecium.
Após o nematoide se instalar o fungo não tem espaço para colonizar as células
de alimentação, e com isso a sua população decresce.

Trichoderma
• Principais alvos: Nematoides das galhas;
• Modo de ação: glioxina, viridina e tricodermina;
• Alta capacidade reprodutiva;
Figura 34. Efeito de isolados de Trichoderma sobre ovos e J2 de Meloidogyne
enterolobii.
• Eficiência na utilização de nutrientes;
• Capacidade de modificar a rizosfera;
• Alta agressividade contra fungos fitopatogênicos.

Fungos produtores de dispositivos especiais


• Estruturas específicas de grupos ou gêneros de fungos;
• Possuem hifas ou pinos de penetração: perfuram os nematoides fazendo com
que extravasem o conteúdo destes.
Os dispositivos podem ser explicados como:
• 1)Crescimento das hifas em direção à cutícula do nematóide e pressão;
• 2)Um pino de penetração é formado e penetra no nematóide da cutícula;
• 3)As hifas colonizam o interior do nematoide;
• 4)Hifas se projetam do nematoide infectado.

Coprinus comatus
• Bolas espinhosas: cortes cumulativos na cutícula;
• Toxinas potentes: imobilizam e matam nematoides.
Figura 35. Imobilização e lesão mecânica de P. redivivus por bolas espinhosas.
Figura 36. Micrografia eletrônica de varredura das bolas espinhosas do fungo P.
redivivus.

Espécies de Stropharia
• Encontrados nas florestas, pastagens, pilhas de compostagem e esterco animal;
• Acantócitos são estruturas pontiagudas em formato de estrela que cortam a
cutícula do nematoide liberando o conteúdo celular. Diferente de Coprinus
comatus as estruturas são soltas.
Figura 37. Juvenil de M. hapla de segundo estágio imobilizado por acantócitos
S. rugosoannulata.

Hyphoderma
• Estefanocistos: adere à cutícula do nematoide e tem o mesmo efeito dos botões
adesivos;
• Hifas: penetram na cutícula e colonizam o interior do nematoide.
Figura 38. Estefanocistos de Hyphoderma com nematoide capturado.

Vantagens x Desvantagens
Vantagens:
• Baixo risco ao ambiente. E não afeta causa fitotoxidez nas culturas;
• Deixam os solos supressivos. Reduzem pragas e doenças no solo;
• Facilidade de registro: Custo e tempo para registro são menores que os
sintéticos.

Desvantagens
• Controle inundativo: Aplicação em grande quantidade para ter eficiência no
controle;
• Custo x eficácia: Maior a escala de produção maior o custo. Apresentam baixa
eficácia esperada devido a possíveis contaminações;
• Elevado risco de insucesso: Contaminações na produção e armazenamento,
reduzindo a qualidade e validade do produto.

Conclusão
Os fungos nematófagos eliminam vários estágios dos fitonematoides, e com isso
demonstram alto potencial no controle biológico dessa praga e serem uma
alternativa para solucionar resistência por químicos nas culturas.

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