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Adaptação (2003), Campos, D. (2000). O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade .

Petrópolis:
Editora Vozes; Cunha, J. (1993). Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas; Font, J. (1978). Test de la familia.
Cuantificación y análisis de variables socioculturales y de estructura familiar . Barcelona: Oikos-tau; Santos, P., Colaço, N.,
& Taborda, J. (1998; 1999). O Desenho Infantil. Lisboa: ULHT.
ÍNDICE

O DESENHO COMO PROVA ............................................................................. 3

TESTE DO DESENHO DA FAMÍLIA ............................................................... 5

1. DESCRIÇÃO ............................................................................................... 5

2. APLICAÇÃO .............................................................................................. 5

3. INTERPRETAÇÃO ...................................................................................... 6

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................... 8

ANEXOS ................................................................................................................ 9
CORMAN- 3 NÍVEIS DE INTERPRETAÇÃO NO DESENHO DA FAMÍLIA ....... 10

FONT- INTERPRETAÇÃO DO TESTE DA FAMÍLIA ...................................... 13

2
O DESENHO COMO PROVA

Factores Instrumentais: quando o nível do traço é inferior ao das outras provas.


Perturbações na estruturação espacial. Déficit em relação ao esquema corporal.

Factores Intelectuais/Cognitivos: através do desenho da figura humana pode obter-


se um Q.I.

Factores Afectivos: por vezes o nível é semelhante à idade cronológica, mas podem
observar-se sinais de regressão importantes.

------------------------------------------------------------------------

Impulsividade: traço mal controlado, falta de proporção, comportamento negligente.

Ansiedade: traço inseguro ou carregado, conteúdos agressivos ou assustadores.

Dificuldades Relacionais: recusa do todo ou de partes, má posição relativa ou


desproporção dum elemento em relação aos outros.

Traços Psicóticos: empobrecimento do desenho ou indução de atributos sexuais.


Bizarrias ou desorganização. Desvitalização. Retorno a temas arcaicos. Preenchimento

dos espaços brancos com formas esteriotipadas com significado muito pessoal.

Traços Fóbicos: inibição, desenho pequeno, traço pouco nítido, ausência de dinamismo,
conteúdos pobres ou regressivos, fascinação por certos elementos super investidos,

situações de desequilíbrio, quedas, sensibilização ao que está escondido.

Traços Obsessivos: meticulosidade, escrupuloso, detalhes numerosos. Tentativas de


integração num todo. Apagar e recomeçar. Simetria. Exagero nos elementos da parte

3
superior do corpo que podem lembrar dificuldades nas identificações. Escolha de

situações onde há deslocamento da agressividade. Expressão simbólica das defesas.

Castelos invadidos de acessórios tão mortíferos quanto defensivos. A Panóplia dos

justiceiros do Farwest.

Traços Histéricos: valorização de detalhes narcísicos, de adornos no vestuário, de


toda uma mise en scene. Sexualização de elementos neutros.

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TESTE DO DESENHO DA FAMÍLIA

1. Descrição

O teste do desenho da família é uma técnica gráfica, encontrando-se indicada

para a avaliação dinâmica, nomeadamente para a investigação de relações familiares,

atitudes e sentimentos do sujeito para com a sua família, autopercepção na constelação

familiar, etc. Assim, o objectivo deste teste é a expressão da criança através da

linguagem pictórica, da forma como vivência a sua família. A instrução a utilizar vai

permitir que a criança se exprima mais livremente, facilitando assim a projecção. O

tempo de administração é variável, mas é recomendável que não exceda uma hora.

Apesar de ser uma técnica mais frequentemente usada com crianças, também pode ser

utilizada com adolescentes e adultos. A administração é individual ou colectiva.

2. Aplicação

De acordo com a perspectiva de CORMAN (1967), são necessários uma folha de

papel e lápis preto para administrar o teste. Seguidamente, é dada a seguinte consigne:

"Desenha uma família, imagina uma família, e desenha-a".

Durante a administração do teste, o psicólogo deverá estar atento, sem parecer

vigilante, adoptando uma presença de encorajamento e de reforço. Deverá, igualmente,

anotar, de forma discreta, tudo o que vai acontecendo durante a prova, tal como: as

atitudes comportamentais da criança e verbalizações; o sitio da folha onde começou a

desenhar e qual a personagem; a ordem de execução dos diversos membros da família; o

cuidado dispensado aos detalhes, ou tendência para voltar a um elemento já desenhado;

o tempo dispensado a cada elemento, se for significativo; e o local de inibição traduzida

por paragens.

Após a criança acabar o desenho passa-se à fase de inquérito: " Agora vamos

falar sobre o desenho que fizeste e vamos saber quem eles são ". Para cada

personagem, pergunta-se qual é o seu papel na família, o seu nome, o sexo e a idade, e

escreve-se na folha, por cima de cada personagem. De seguida, faz-se o inquérito, do

qual constam algumas questões, como: de quem gostas mais, quem é o mais e o menos

5
alegre, qual é o pior e o melhor, o mais e o menos feliz. Quem seria se fizesse parte

dessa família e porquê, se alguém tivesse de ficar em casa quem seria, são algumas das

questões colocadas com um fim complementar.

3. Interpretação

Não existe um modo padronizado para a interpretação do desenho da família,

embora haja certa concordância entre autores sobre algumas hipóteses interpretativas.

CORMAN (1967) diferencia três níveis de análise de interpretação no desenho da

família:

- No nível gráfico, tem em conta:

- a amplitude do traçado,
- a força do traçado,
- o ritmo do traçado,
- a localização na página
- e o movimento do traçado;

- No nível das estruturas formais, considera-se:

- a representação da figura humana é pressuposta como o esquema corporal do


sujeito, sendo possível avaliar a sua maturidade (embora também haja influência
de aspectos emocionais, além dos cognitivos),
- e a presença de transtornos do esquema corporal;

- A nível de conteúdo são principalmente tidos em conta:

- os aspectos projectivos do desenho, notando-se que neste teste "as defesas


operam de forma mais activa, as situações geradoras de ansiedade são afastadas
mais resolutamente e as identificações regem-se, de bom grado, pelo princípio do
prazer" (CORMAN).

A significação detalhada destes três níveis de análise de interpretação propostos

por CORMAN (1967), encontra-se em ANEXO.

CORMAN, em 1967, exemplifica com o caso de uma criança que sente ciúme do

irmão mais pequeno e, então, pode omiti-lo no desenho, negando a sua existência, pode

trocar de papel com ele ou colocar-se no seu lugar, identificando-se com ele.

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Antes de qualquer interpretação em sentido projectivo, recomenda que se

examine de que maneira o desenho obedece ao princípio de realidade (com a

representação exacta da família real) ou resulta puramente da fantasia do indivíduo que,

então, projectará diversas tendências pessoais em personagens diferentes.

Deste modo, a maneira como se analisa varia segundo o nível de projecção, que deve ser

feito pela comparação da família desenhada com a família real.

Recomenda ainda, que não se deve fazer uma interpretação às cegas, mas buscar

uma "convergência de indícios" em dados vindos de outras fontes (testes e informações

clínicas), para a confirmação de hipóteses que serão levantadas a partir do desenho.

FONT (1978) apresenta também uma análise de interpretação do desenho da

família, mas de um modo mais detalhado (ver ANEXO).

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BIBLIOGRAFIA

Campos, D. (2000). O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da

personalidade. Petrópolis: Editora Vozes.

Cunha, J. (1993). Psicodiagnóstico-R. Porto Alegre: Artes Médicas.

Font, J. (1978). Test de la familia. Cuantificación y análisis de variables socioculturales y

de estructura familiar. Barcelona: Oikos-tau.

Santos, P., Colaço, N., & Taborda, J. (1998; 1999). O Desenho Infantil. Lisboa: ULHT.

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CORMAN - 3 níveis de interpretação no desenho da família

I. Nível gráfico
Se é maior ou mais restrita, associa-se com expansão vital
Amplitude do traçado 1
ou inibição.
Representa a força dos impulsos, com libertação ou
inibição dos instintos. Estes aspectos podem ser
Força do traçado 2 considerados relativamente ao desenho total ou podem
ser usados para enfatizar um personagem, por exemplo,
desenhando-o bem maior que os outros.
Refere-se ao modo como o sujeito desenvolve a tarefa de
modo mais espontâneo ou, pelo contrário,
Ritmo do traçado 3 esteriotipadamente, numa repetição simétrica de traços,
pontos, etc., até atingir um grau de minúcia que pode
chegar a ser compulsiva.
É considerada em termos do simbolismo do espaço, na
folha que o sujeito desenha, em que:
- A parte superior representa a expressão da fantasia e
a parte inferior, de ausência de fantasia, de energia,
Localização na página 4
como zona de depressão;
- O lado esquerdo relaciona-se com o passado e o lado
direito, com o futuro;
- os lugares que ficam vazios significam zonas proibidas
Da esquerda para a direita tem um sentido progressivo e,
Movimento do traçado 5
da direita para a esquerda, tem um sentido regressivo.

II. Nível das estruturas formais

Neste nível, leva-se em conta, uma diferenciação em tipos de representação das figuras

Figuras mais espontâneas 1 Predominam linhas curvas


Figuras mais rígidas 2 Salientam-se as linhas rectas.

Destaca, assim, um tipo sensorial (o mais espontâneo e livre) e um racional (o mais rígido), que
começa a ser mais frequente, nos desenhos, depois do ingresso na escola.

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III. Nível de conteúdo
O personagem principal é o mais importante no sentido em
que as relações do sujeito com ele são especialmente
significativas, ou porque o admira, inveja, teme, ou porque se
identifica com ele.

Evidencia-se:
- como a primeira figura a ser desenhada;
- pela colocação em primeiro lugar;
- pelo maior tamanho;
Valorização do personagem - por merecer um traçado mais cuidado, mais caprichado ou
1
principal com mais adornos;
- pela sua localização ao lado de uma figura importante, como
por ex.: do pai;
- por ser desenhado numa posição mais central, de maneira
que chame a atenção entre as restantes figuras ou concentre
a atenção dessas mesmas figuras;
- por ser a figura mais enfatizada nas respostas ao
questionário; ou, ainda,
- por representar o próprio sujeito, que com ela se
identifica.
Implica intentos de negação, que é frequentemente indicada
pela omissão de uma figura ou de detalhes da mesma.

Também pode ser suscitada:


- pelo tamanho menor, relativamente às outras figuras;
- pela colocação sequencial em último lugar;
Desvalorização de um
2 - por se localizar distante das restantes figuras, seja na
personagem
horizontal seja em plano inferior;
- Pela sua representação menos caprichada, cuidada ou
detalhada;
- Por se apresentar depreciada de alguma forma, quer pela
omissão do nome, quer por ser uma figura com que o sujeito
raramente se identifica.
Associa-se com dificuldades no relacionamento e pode ser
Distância entre as figuras 3 indicada quer pelo afastamento entre as representações dos
personagens, ou por um traço se separação.
Inclusão de animais (domésticos ou selvagens) - que servem
para a expressão mais livre de diferentes tendências
pessoais, que podem assim, ser mascaradas. Deste modo,
Presença de representações
4 desenhar irmãos como figuras de animais é uma forma de
simbólicas
desvalorizá-los como pessoas. Porém, como se tratam de
representações simbólicas, deve-se tentar analisar a sua
possível significação.

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FONT - Interpretação do Teste da Família

I. Características gerais dos desenhos

Os desenhos são considerados grandes quando ultrapassam claramente dois


terços do espaço disponível na folha, e são considerados pequenos quando
não ocupam uma quarta parte do mesmo espaço.
Na relação entre o tamanho dos desenhos e o espaço disponível, projecta-se
a vivência da relação dinâmica entre o indivíduo e o ambiente. A forma de
responder às pressões ambientais e o sentimento de auto-estima, são
também características bem evidentes.

Desenhos grandes - correspondem a pessoas que reagem habitualmente às


Tamanho 1 pressões ambientais com uma atitude agressiva e expansiva. Se são
demasiado grandes, com tendência a pressionar os bordos da página,
denotam "sentimentos de constrição ambiental, acompanhados de acções ou
fantasias sobrecompensatórias". O orgulho ou vaidade, o desejo de superar
os sentimentos de inferioridade, a necessidade de demonstrar algo, etc.,
poderiam ser outras das imensas características anexas a este tipo de
representações gráficas.

Desenhos pequenos - estão associados a uma insuficiente auto-imagem da


pessoa, a sentimentos de inferioridade, a formas autocontroladas de
responder às pressões ambientais, e ao retraimento.
Colocação 2
A colocação do desenho pode ser classificada em desenhos que estejam
colocados no terço superior da folha, desenhos colocados na zona média e
desenhos colocados no terço inferior da folha.

Terço superior - Representa o mundo das ideias, a fantasia e o espiritual.


Quanto mais acima se encontrarem os desenhos, maior será a probabilidade
de os sujeitos fugirem da realidade, procurando a satisfação na fantasia.
Quando colocados na zona superior da folha, especialmente se o tamanho
global do desenho é pequeno e se encontra deslocado para o lado esquerdo,
parece que existe uma tendência regressiva.

Terço médio - É a zona do coração, dos afectos e da sensibilidade. Quando


colocado na zona central da página, se o tamanho é normal, indica segurança.
Mas se esta colocação corresponde a um desenho pequeno, corresponde ao
indício de uma vivência de proibição da expansão vital sobre o meio ambiente,
problema este que teria as suas raizes num conflito entre o que é instintivo e
inconsciente por um lado, e o Eu e o Super-Eu por outro.

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Terço inferior - Significa o que é sólido, o firme e o concreto. Quando
situados na zona inferior do eixo vertical parecem revelar um maior contacto
com a realidade e correspondem a sujeitos mais firmemente enraizados. A
colocação numa zona inferior da folha corresponderia a sujeitos mais
maduros. No entanto, se os desenhos chegam ao bordo final da página,
parece que reflectem tendências depressivas, insegurança, necessidade de
apoio e dependência excessiva.

Os desenhos podem ser classificados em 2 tipos:


- os que não apresentam sombreado ou apresentam um sombreado
débil,
- e os que têm uma extensão notável e com uma intensidade superior de
sombreado.

Com Sombreado - A presença de sombreado numa certa extensão e


intensidade, alerta sobre a existência de conflitos emocionais como a
Sombreado 3 angústia, ansiedade, etc. Constitui um índice de ansiedade que, se for intenso
(neste caso vem acompanhado de um traço vigoroso e forte), reflecte uma
descarga da agressividade.

Sem sombreado - indica um menor grau de ansiedade e angústia que, no


entanto, pode estar presente noutras características do desenho.

O sombreado ajuda-nos a detectar a existência de problemas, mas não nos


proporciona informações sobre o conteúdo e o motivo desses mesmos
problemas.

(Borrões = quando o sujeito borra o desenho com o dedo, por exemplo na


tentativa de apagar algum detalhe)

Os borrões parecem ser indicadores importantes de conflitos emocionais. O


conhecimento da sua frequência contribui para interpretar correctamente a
Borrões 4 maior ou menor gravidade dos problemas que, eventualmente, possa reflectir.
Em adultos, os borrões observam-se especialmente em neuróticos de tipo
obsessivo-compulsivo e poucas vezes aparecem em crianças muito pequenas
ou em sujeitos com atraso global de desenvolvimento.
A ansiedade reflectida pelos borrões deve-se a uma insatisfação consciente,
por comparação com a projecção nos sombreados, que parecem mais de um
nível inconsciente.
Distância 5
entre os Desenhos em vários planos ou estratos - A representação dos personagens
personagens em estratos diferentes reflecte a falta de comunicação e algum nível, a não
ser que os distintos estratos se justifiquem pela presença de um elevado nº
de personagens, que não podem ser justapostos por razões de espaço, como
no caso das famílias muito numerosas.

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A distância emocional entre os diferentes personagens da própria família,
projecta-se em numerosas ocasiões pela distância física existente entre os
mesmos nos desenhos.

Incomunicabilidade - A distância física entre os personagens desenhados por


um sujeito, reflecte a distância emocional existente entre os mesmos.
Quando cada um ocupa o seu canto do papel, tem o seu próprio espaço ou
está ocupado numa tarefa individual, os elementos da família não
compartilham nada, nem se observa nenhum tipo de interacção ou diálogo.

II. Valorização e Desvalorização

Um dos indícios claros de valorização de um personagem consiste na sua apresentação em


primeiro lugar, geralmente à esquerda da página. A criança desenho primeiro o personagem que
considera mais importante, aquele que admira, inveja ou teme. O facto de pensar antes neste
personagem indica algum tipo de identificação consciente ou inconsciente.
Por vezes o personagem desenhado em primeiro lugar aparece no centro da página, ficando os
restantes elementos da família situados em ambos os lados ou ao seu redor, podendo-se
acentuar a valorização com outros indícios, como os olhares dos outros, um tamanho maior que os
outros, uma maior dedicação aos detalhes, etc.

Indica que o pai é percebido como o elemento mais importante da


família.
A identificação com o progenitor do mesmo sexo em crianças, é um
fenómeno frequente e, em princípio, positivo.
O pai desenhado No entanto, existe a possibilidade de que as diferenças referidas se
1
em primeiro lugar devam também à existência de uma estrutura mais autoritária e
rígida, principalmente nas classes mais desfavorecidas. Neste caso, o
pai desenhado em primeiro lugar não indicaria uma identificação
positiva, mas antes a existência de uma maior identificação pelo
temor.

Nos desenhos das crianças reflecte algum tipo de valorização, de


identificação ou de dependência. Em alguns casos pode tratar-se de
uma relação edipiana, se encontrarmos nos desenhos outros indícios a
esse respeito, como a desvalorização ou supressão do progenitor do
A mãe desenhada
2 mesmo sexo, a proximidade entre a representação da mãe e a sua
em primeiro lugar
própria representação, etc.
Desenhar a mãe em primeiro lugar, não deve considerar-se
necessariamente um factor de conflito ou de tensão, se bem que,
junto de outros indícios, pode projectar os conflitos edipianos dos
meninos.

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Não é muito frequente e, tal facto parece ser indicador de conflitos
emocionais de certa importância. Em tais casos, o sujeito pensa antes
num irmão do que nos próprios pais.
O irmão desenhado em primeiro lugar ou é admirado, ou invejado
Irmão desenhado
3 podendo, por vezes, ser o principal causador das tensões emocionais
em primeiro lugar
do sujeito que realiza este tipo de desenhos.
Por outro lado, começar a representação da própria família pelo
desenho do irmão, pode projectar também uma certa desvinculação
afectiva dos pais, que em muitos casos aparecem desvalorizados e
separados ente si, ficando dividido o bloco parental.

Quando isto acontece, geralmente desenham-se do lado esquerdo da


página. Em algumas ocasiões, representam-se a si mesmos na parte
central do espaço disponível e logo vão situando ao seu redor os
restantes elementos da família. estes desenhos costumam vir
acompanhados de outros indícios de auto-valorização, como um
tamanho maior em relação aos outros elementos, uma maior
Desenhar-se preocupação com os detalhes, maior tempo dedicado a si mesmo, em
primeiro a si 4 comparação com o resto dos personagens e, em geral, maior
mesmo perfeição.
A criança que pensa antes em si mesmo do que nos outros elementos
da sua família, projecta, certamente, algum tipo de egocentrismo
(patente nas estruturas formais dos desenhos bem como em
comentários que surgem durante as sessões). Os problemas de
egocentrismo guardam, no entanto, alguma relação com o lugar
relativo dentro da hierarquia de irmãos e com o tamanho global dos
desenhos.

São eles:
Outros indícios de
5 - o tamanho maior de determinada personagem,
valorização
- ou a representação de detalhes em quantidade e qualidade
(perfeição) superiores.

O/a pai/mãe
Desenhar um personagem em último lugar consiste numa das formas
desenhado/a em 6
possíveis de desvalorização, a não ser que isso seja justificado pela
último lugar
ordem lógica que deriva da hierarquia familiar.

Desenha-se a si Desenhar-se em último lugar, não sendo filho único ou o filho mais
mesmo em último 7 novo, deve interpretar-se como um sinal de desvalorização própria e
lugar é, sem dúvida, uma das formas de desvalorização que se pode
quantificar de modo mais objectivo.

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Corresponde a um mecanismo de defesa que consiste em negar uma
realidade que produz angústia. Perante o sentimento de incapacidade
de adaptar-se a essa realidade, o sujeito reage negando a sua
existência. Podemos pensar que a criança que suprime um elemento
da sua família, de uma forma inconsciente deseja a sua "eliminação".
A este respeito, devemos inferir que os sentimentos do sujeito
podem ser ambivalentes, podendo-se apreciar frequentemente a
coexistência de amor e ódio. devido aos sentimentos de culpa que tal
"eliminação" produz na criança, esta tende a racionalizar o seu
problema, como ocorre, por ex., quando na entrevista refere que não
teve tempo de desenhar um certo personagem, que não cabia ou,
simplesmente, que se esqueceu.
Eliminar um elemento da própria família é a expressão máxima de
desvalorização e indica sempre problemas relacionais importantes.
Supressão de
algum elemento da 8 O pai ou a mãe - o pai é suprimido com maior frequência do que a mãe.
família Algumas supressões devem-se, certamente, a uma problemática de
ciúme edipiano: por isso o sujeito elimina o/a pai/mãe, que considera
como rival.
No entanto, a eliminação pode também obedecer a outro tipo de
problemas relacionais.

Os irmãos - quando a existência de algum irmão causa, por motivos de


ciúme, uma sensação de angústia na criança, esta tenta proteger-se
negando a existência do rival e, por consequência, elimina-o dos seus
desenhos.

Qualquer tipo de desvalorização (pais ou irmão) é uma reacção


agressiva da criança face à personagem desvalorizada.

O próprio - A supressão de si mesmo constitui o grau máximo da


própria desvalorização.

Por vezes a desvalorização projecta-se através de uma


Outros indícios de
9 representação mais pequena, mais imperfeita, com menos detalhes,
desvalorização
ou distanciando o personagem desvalorizado do resto dos elementos
integrantes da família.

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A supressão das mãos nos desenhos, em parte ou na totalidade, é
relativamente frequente em crianças de 9 anos.
Em alguns casos, a supressão pode atribuir-se à insuficiente
capacidade analítica, dependendo do desenvolvimento intelectual. No
entanto, na maioria dos casos, deve-se a diferenças individuais no
âmbito da afectividade.
Alguns autores, apoiando-se no facto natural de que as mãos são os
A supressão das
10 órgãos de contacto, relacionam as alterações, deformações ou
mãos
supressões desta zona corporal, com dificuldades de contacto
ambiental. Se estão ocultas ou foram suprimidas é possível que o
sujeito projecte sentimentos de culpabilidade. Outros autores,
defendem ainda, que as alterações nas mãos são interpretadas como
expressão de dificuldades de contacto ou de sentimentos de culpa
relacionados com actividades manipuladoras ou de masturbação.
Deste modo, devemos ser extremamente prudentes na interpretação
dada ao desenho da família.

A supressão dos traços faciais nos personagens que representam a


própria família é outro indicador de desvalorização dos mesmos.
A supressão dos Provavelmente a supressão reflecte também algum tipo de
11
traços faciais perturbação nas relações interpessoais, já que a cara é a parte mais
expressiva do corpo e as feições representam os aspectos sociais por
excelência.

A adição de 12
outros elementos Algumas crianças representam no desenho da família, para além dos
pais e irmãos, outros elementos. As adições mais frequentes
encontram-se de seguida:

Avós - Geralmente aparecem visivelmente valorizados em relação aos


pais ou, pelo contrário, são desenhados num plano distinto do resto
da família e com sinais claros de desvalorização. Isto dependerá do
papel real que tenham dentro da família e do tipo de relações que a
criança tenha estabelecido com eles.

Tios e primos - A sua presença é bastante excepcional. Em geral,


estes desenhos são bastante conflituosos pelo que estes personagens
tendem a inferir nas relações afectivas da criança com os pais, de
modo que aparecem com frequência no lugar destes. As crianças que
desenham especialmente os tios, tendem a suprimir algum dos
progenitores.

Animais - A sua presença também é excepcional.


Em alguns casos, a presença de animais parece projectar uma reacção
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agressiva do sujeito, até ao ponto em que o animal assume um papel
justiceiro, ao ser encarregado de castigar os pais ou os irmãos.
Noutros casos, observa-se também uma identificação com o animal
desenhado, sem que apareça essa intenção punitiva. Assim, por ex.,
há crianças que indicam que gostariam de ser o cão ou o gato, porque
a estes animais nada os afecta e todos os acariciam. Nestes casos, o
que na realidade se projecta é a sensação de uma carência afectiva.

Paisagem - a adição de paisagem como o sol, nuvens, montanhas,


árvores, flores, etc., parece ser um reflexo de uma viva imaginação,
sem que esta característica possa relacionar-se de forma clara com
nenhum tipo de problemas.

Qualquer destas adições no desenho da família tem um significado


diferente, segundo os casos de que se trate, e não se devem fazer
inferências muito gerais. As interpretações acima referidas são em
função da valorização/desvalorização apreciável na representação
desses personagens.

III. Componentes Hierárquicos

Os pais podem ser desenhados um junto ao outro, formando um bloco ou,


pelo contrário, podem intercalar-se entre eles outros personagens. Neste
caso, sempre que não exista uma desvalorização clara de um dos
progenitores, o sujeito desenha entre eles algum irmão que considera
privilegiado, ou a si mesmo, expressando então um desejo de
superprotecção ou dependência. Quando não aparece o bloco parental, o
sujeito projecta a percepção de vínculos afectivos para com os pais que
O bloco
1 não são iguais para todos os irmãos, projecta a sua intuição de certos
parental
favoritismos, ou mesmo uma situação de luta entre os irmãos para obter
o afecto dos pais.
Representar o bloco pai-mãe em primeiro lugar é muito frequente e
corresponde, em geral, a casos que projectam nos desenhos menos
problemas de rivalidade fraternal.
No geral, a presença do bloco parental em primeiro lugar reflecte uma
menor ansiedade e um maior equilíbrio na vivência dos problemas
emocionais.
A hierarquia de 2
irmãos A alteração da hierarquia de irmãos nos desenhos da própria família é um
fenómeno muito frequente. Tal alteração projecta, em certa medida,
conflitos de rivalidade fraternal, pelo que na maioria dos casos parece
tratar-se de problemas leves. Apenas quando essa característica aparece
associada a outros indícios de conflito, como sombreado intenso, borrões,
tamanho e colocação extremos, estractos, separação dos pares,

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supressão de algum elemento, etc., é que podemos deduzir a existência
de problemas de certa importância.
Os problemas relacionais com os pais e os conflitos de rivalidade
fraterna interrelacionam-se. Por conseguinte, quanto mais visível é o
problema numa das áreas, mais conflituosa resulta a outra.

A ordem hierárquica normal consiste em desenhar o pai em primeiro


lugar, logo a seguir a mãe, e na continuação, os irmãos por ordem de
idade, do mais velho ao mais novo. São muitos os tipos de tensões
A hierarquia emocionais que conduzem a criança a alterar esta ordem hierárquica.
familiar Se aparece valorização ou desvalorização muito clara de algum elemento,
altera-se quase sistematicamente esta ordem.
3
A ordem hierárquica inversa consiste em representar ordenadamente os
Dextrismo e elementos da família, alterando o sentido direccional, ou seja,
surdez desenhando da direita para a esquerda.
Nalguns estudos sobre o teste da família tentou-se relacionar esta
inversão com os problemas de surdez. Tende-se a crer que a ordem
inversa é normal em casos de crianças surdas e que reflecte uma
tendência regressiva nos dextros.

19

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