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04_CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL_OBRAS UNICAMP_2021_GABRIELA.

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PERO VAZ DE CAMINHA

7. EXERCÍCIOS

Texto para as questões 1 e 2.

Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a estender
d’olhos não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia
muito longa.
Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro; nem o vimos. Porém a terra em si é de muito
bons ares, assim frios e temperados como os de Entre Douro e Minho,
porque neste tempo de agora os achávamos como os de lá.
As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa, que,
querendo aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve
lançar.
E que não houvesse mais que ter aqui Vossa Alteza esta pousada para
navegação de Calicute, isso bastava. Mais ainda, disposição para nela
cumprir-se – e fazer – o que Vossa Alteza tanto deseja, a saber: o acrescen-
tamento da nossa Santa Fé.
E desta maneira dou aqui a Vossa Alteza conta do que nesta Vossa terra
vi. E se me alonguei um pouco, Ela me perdoe. Porque o desejo que tinha
de Vos tudo dizer, me fez pôr assim tudo pelo miúdo.
(CASTRO, Sílvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha.
Porto Alegre: L&PM, 2017, p. 113.)

1. Indique a afirmação que se aplica ao trecho da Carta de achamento do


Brasil, de Pero Vaz de Caminha.
a) O excerto dialoga com elementos do mito do Eldorado a partir da visão
mercantilista que condiciona a era dos descobrimentos.
b) A natureza, no primeiro parágrafo, é vista a partir de suas possibilidades
comerciais, o que ilustra o espírito pragmático dos colonizadores
portugueses.
c) A nova gente é retratada com subserviência pelo escrivão, apesar da
hostilidade com que os portugueses são recebidos.
d) A descrição depreciativa do missivista condiz com a intenção referen-
cial-informativa que sustenta a carta.

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CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL


2. Nessa passagem da Carta, de Caminha, apresenta-se um elemento que
será constante na tradição literária brasileira. Assinale a alternativa cujo
fragmento ilustre essa tendência.
a) “... não pudemos saber que haja ouro...”
b) “... salvar esta gente.”
c) “E em tal maneira é graciosa...”
d) “... o acrescentamento da nossa Santa Fé.”

3. Segundo Alfredo Bosi, o “espírito observador, ingenuidade (no sentido


de um realismo sem pregas) e uma transparente ideologia mercantilista
batizada pelo zelo missionário de uma cristandade ainda medieval [são]
os caracteres que saltam à primeira leitura da Carta e dão sua medida como
documento histórico”.
(BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.
São Paulo: Cultrix, 2006, 14.)

Assinale o excerto que corresponde à “transparente ideologia mercantilista”


apontada pelo autor.
a) “E fomos desembarcar rio acima, contra o sul, onde nos pareceu que
seria melhor colocar a cruz, para melhor ser vista. E ali marcou o Capitão
o lugar onde haviam de fazer a cova para a plantar. E enquanto a iam
abrindo, ele com todos nós outros fomos recolher a cruz, rio abaixo,
onde ela estava.”
b) “Nela até agora não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro...”
c) “E não comem senão deste inhame, de que aqui há muito, e dessas
sementes e frutos que a terra e as árvores de si deitam. E com isso andam
tais e tão rijos e tão nédios que o não somos nós tanto, com quanto trigo
e legumes comemos.”
d) “Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala
e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem
crença alguma, segundo as aparências.”

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PERO VAZ DE CAMINHA


4. Segundo Luiz Roncari, apesar das belas imagens construídas com
poucos recursos, sem abuso nem exagero verbal, onde se mesclam as
riquezas dos objetos (das terras e os homens) com as projeções que traz da
cultura europeia da época, de paraísos terrestres e homens puros, livres do
pecado original, não se esgota aí o valor literário da Carta. Se fosse assim,
essas imagens seriam representações planas. O que dá vida à Carta – existe
dentro dela uma tensão resultante do encontro de duas forças que se
estranham igualmente – é o confronto entre duas visões de mundo
organizadas por valores contrastantes. O valor da Carta está na capacidade
que tem de revelar essa tensão, ainda que não a explore em todas as suas
possibilidades.
(RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira: dos primeiros cronistas aos
últimos românticos. 2. ed. São Paulo: Edusp, 2002. p. 45.)

Assinale a alternativa que corresponde ao comentário desenvolvido pelo


autor.
a) “Esse que o agasalhara era já de idade e andava por galanteria cheio de
penas pegadas pelo corpo, de tal maneira que parecia um São Sebastião
cheio de flechas.”
b) “Mais ainda, disposição para nela cumprir-se – e fazer – o que Vossa
Alteza tanto deseja, a saber: o acrescentamento da nossa Santa Fé.”
c) “Nela até agora não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
alguma de metal ou ferro; nem o vimos.”
d) “A feição deles é parda, algo avermelhada; de bons rostos e bons narizes.
Em geral são bem-feitos.”

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CARTA DE ACHAMENTO DO BRASIL


Textos para a questão 5.

O sonho, mais atrativo que a ciência, mais forte que o sopro do vento,
não deteve as velas alinhadas na rota do sol. Não sonhava apenas Cabral,
sonhavam também os portugueses, povo messiânico incumbido de levar
para terras estranhas a cruz de Cristo [...].
(SCHÜLER, Donaldo. Na conquista do Brasil.
São Paulo: Ateliê, 2001. p. 43.)

Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala


e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença
alguma, segundo as aparências. E, portanto, se os degredados que aqui
hão de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que
eles, segundo a santa tenção de Vossa Alteza, se farão cristãos e hão de
crer na nossa santa fé, à qual praza o Nosso Senhor que os traga, porque
certamente essa gente é boa e de bela simplicidade. E imprimir-se-á
facilmente neles todo e qualquer cunho que lhes quiserem dar, uma vez que
Nosso Senhor lhes deu bons corpos e bons rostos, como a homens bons.
E o fato de Ele nos haver até aqui trazido, creio que não o foi sem causa.
E, portanto, Vossa Alteza, que tanto deseja acrescentar à santa fé católica,
deve cuidar da salvação deles. E aprazerá a Deus que com pouco trabalho
seja assim!
(CASTRO, Sílvio. A Carta de Pero Vaz de Caminha.
Porto Alegre: L&PM, 2017. p. 108.)

5.
a) Indique a expressão que marca a referência direta ao receptor da carta.
Explique o fator que justifica a necessidade desse apelo.
b) Relacione os dois primeiros períodos do excerto de Caminha com os
comentários de Donaldo Schüler, considerando a ideologia que move a
era dos descobrimentos.

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