Você está na página 1de 9

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

DEPARTAMENTO DE MÚSICA

CIBELE BARTZ RODRIGUES


LUCAS DE MELO ROCHA
MAIARA MAYER
PENÉLOPE DEBORATH BEATRIZ TEIXEIRA

MODO MIXOLÍDIO

Porto Alegre, RS
2023
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 2

2 ORIGEM 3

3 CONFIGURAÇÃO INTERVALAR 4

4 CAMPO HARMÔNICO 5

5 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS SONORAS 6

6 DITADO MELÓDICO 7

REFERÊNCIAS 8
1. INTRODUÇÃO

A principal distinção entre modo e escala, está no fato de os modos


comportarem intervalos menores que o semitom, sendo eles dependentes do gênero
do tetracorde utilizado. A diferença marcante entre a escala e os modos gregos está
na junção de tetracordes, sendo gerado um sistema fixo, na qual os modos
conservam sempre a suas notas principais, não havendo transposição. Já a escala
é constituída a partir de um padrão intervalar fixo, que pode iniciar em qualquer nota.
Além disso, aos modos gregos são atribuídos ethos específicos – intrínseco e
extrínseco. Segundo David B. Monro (2012), estudioso inglês homérico, ele afirma
que na Grécia Antiga havia tipos e formas de música que eram conhecidas por
nomes de nações ou tribos (Dóricos, Jônios, Frígios, Lídios, etc.), e acreditava-se
que elas eram capazes de expressar certos tipos de emoções particulares e tinham
grande influência na formação do caráter humano. Atualmente os modos continuam
a ser usados na música moderna e contemporânea, pois permitem maior liberdade e
variadas possibilidades de criação harmônica e melódica, além da improvisação.
Neste trabalho, abordaremos um modo em específico, o modo Mixolídio,
desde a sua origem, seus fundamentos/conceitos principais, e exemplos no
repertório da música brasileira.
2 ORIGEM

Os modos são tipos/formas musicais que surgiram nas nações da Grécia


Antiga e que estabeleciam um "ethos" (traços de comportamentos que formam a
identidade de uma coletividade). Esse "ethos" implica no uso da música para a
"educação da alma" e, segundo Pitágoras, Platão e Aristóteles, acreditava-se que a
música tinha o poder de moldar o caráter humano.
Os modos são maneiras de se ordenar os sons em uma sequência de
intervalos. Essa ordenação passou a ser chamada de escala desde o período
Clássico (1730-1820). Os modos eram construídos a partir de dois tetracordes -
série de quatro notas que preenchem um intervalo de quarta justa - combinados.
Segundo Phillips Barry, acadêmico americano de Harvard em Folclore, Teologia e
Literatura Clássica e Medieval, se dois desses tetracordes fossem combinados de
modo que uma nota em comum servisse como a nota mais aguda do tetracorde
inferior e a mais grave do tetracorde superior, a escala resultante teria uma extensão
de sétima menor, originando o modo mixolídio.

[...]Esses povos eram oriundos das regiões Jónia,


Dória, Frígia, Lídia e Eólia. Por isso deram origem aos nomes que você
acabou de ver. O modo Mixolídio surgiu da mistura dos modos Lídio e
Dórico. O modo Lócrio surgiu apenas para completar o ciclo, pois é um
modo pouco utilizado na prática. Os modos Jônico e Eólico acabaram sendo
os mais utilizados, sendo muito difundidos na Idade Média. Mais tarde,
acabaram recebendo os nomes “escala maior” e “escala menor”
respectivamente.(Descomplicando a música)
3 CONFIGURAÇÃO INTERVALAR

Uma característica deste modo é a tensão gerada pelo 3º e 7º grau que se


torna um trítono, causando a sensação de necessidade de resolução para um
acorde (tônica). Esse acorde proveniente do modo mixolídio existe em todas
tonalidades e é chamado de dominante, pois ele necessariamente resolve na tônica
da tonalidade em questão.
A distribuição das notas neste modo é de :

C D E F G A Bb C
T T st T T st T

A principal característica deste modo é o 7º grau menor em uma escala maior


natural, pela distribuição das notas gerando tensão e gerando um estranhamento
aos nossos ouvidos, especialmente por estarmos acostumados com o 7º maior na
escala maior natural (Lobo, Phillipe).

[...]Um ótimo exemplo da aplicação do modo Mixolídio[...].É um baião


instrumental chamado O Ovo, composto por um dos maiores músicos
brasileiros de todos os tempos: Hermeto Pascoal. Embora muitas vezes
Hermeto seja visto como um compositor muito complexo e excêntrico, neste
tema, o bruxo dos sons usa de uma absurda simplicidade para compor um
tema que se revela ao mesmo tempo arrojado e divertido.(LOBO).
4 CAMPO HARMÔNICO

Devemos primeiro entender que quando se fala em tonalidade, logo se pensa


em um sistema de sons baseados na escala maior e menor com suas variações
(harmônica e melódica), com sensação de repouso em certas notas, especialmente
na tônica. Já nos modos gregos não cria-se relação ou vínculo entre os acordes
tornando mais difícil o direcionamento harmônico.
Sobre o modo mixolídio, estamos lidando com música modal e não tonal. A
música modal possui uma particularidade, ela não é composta baseada nas
progressões harmônicas e sim na característica melódica do modo. Isso se deve a
sequência de acordes gerada pelo modo, que diferente da escala maior por
exemplo, não estabelece um centro tonal claro e nem conexão entre os acordes.
Porém, se empilharmos intervalos de terças através do modo mixolídio, chegaremos
a uma sequência de acordes bem diferente do campo harmônico maior, o que nos
proporciona a utilização de alguns desses acordes através de empréstimo modal.

Campo Harmônico Gerado de Mixolídio:

C7 Dm7 Em7b5 F7M Gm7 Am7 Bb7M C7


I ii iii IV v vi VII I

[...] É certo que há controvérsias sobre o fato de procedimentos modais


possam ser transpostos ao nível da harmonia. Entretanto, alguns teóricos e
músicos como PISTON (1987, p.483) e JAFFE (1996, p.87) aceitam a ideia
desse tipo de transposição que poderíamos definir como uma priorização de
um grau em um campo harmônico que se dá sem o artifício de um acorde
de função dominante, o que pode ocorrer de diferentes maneiras. (TINÉ,
2014)

[...]A ideia de que “pode ser estabelecida uma série de acordes dentro dos
limites diatônicos de cada modo” é a mesma que nos permite montar
campos harmônicos modais específicos com tríades ou tétrades sobre cada
grau das escalas modais. A idéia da caracterização de cada modo através
da comparação com os modos maior e menor e do destaque da nota
característica (diferenciadora) aparece em formulações como mixolídio [...]
escala maior com sétimo grau abaixado [...]. A junção desses conceitos
(campo harmônico modal e nota característica) permite uma ideia de
funcionalização modal onde os graus possuidores da nota característica, se
diferenciando dos modelos de referência maior e menor, compõem junto
com I grau de cada modo um grupo de acordes com função primária. (P.ex.,
os acordes com funcionalidade primária em Dó mixolídio são o C7, o Gm7 e
o Bb7M. (FREITAS, 2008).
5 PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS SONORAS

Como já foi mencionado anteriormente, o modo mixolídio é caracterizado por


ser um modo maior com um intervalo de sétima menor. Este intervalo dá ao modo
Mixolídio uma atmosfera tensa, bastante utilizada na música nordestina, no blues e
no jazz, entre outros estilos.
Dentro da música nordestina, especificamente a melodia típica do baião,
apresenta uma extensão curta (não mais que uma oitava), e é predominantemente
sobre o modo mixolídio. Segundo Sônia Ray (1999), Isto explica, em parte, o fato
das melodias do baião serem facilmente assimiladas e exercerem uma atração, que
é quase um apelo emocional no músico brasileiro.
No blues temos a estrutura básica, que conseguimos tocar um blues em
qualquer tonalidade com este formato, apenas com acordes maiores com 7ª menor,
tornando o modo mixolídio muito utilizado neste estilo. Também podemos associar
este modo a fatores históricos como o surgimento do blues nas plantações de
algodão dos afro-norte americanos escravizados, trazendo essa tensão histórica
também à música.
Estrutura do blues:

No jazz temos algo muito característico que é a modulação, e para favorecer


a isso,o modo mixolídio é utilizado como “ponte” de uma tonalidade para outra,
especialmente através do acorde maior com 7ª menor.

[...]Ouça músicos como Pat Metheny, Mike Stern, Frank Gambale e observe
como eles trabalham as modulações (mudanças de tonalidade). Essa
fluidez vem do domínio completo dos desenhos dos modos gregos,
especialmente o modo mixolídio. (Descomplicando).
6 DITADO MELÓDICO

Eu só quero um xodó - Dominguinhos


Tom: E

1
Eu só que -ro um a-mor__________ que a - ca -be’o meu so-frer____

1
Aqui notamos que a melodia está em Mi maior, e nesta parte da música a melodia enfatiza o sétimo grau menor, deixando
evidente a característica deste modo, juntamente com a letra que ressalta a tensão e sofrimento.
REFERÊNCIAS

BARBOSA, Marcelo. Sonoridades dos modos gregos e suas


aplicações.<https://marcelobarbosa.com.br/website/sonoridades-dos-modos-gregos-
e-suas-aplicacoes/>. Acesso em 06 fev 2023.

DESCOMPLICANDO. Conheço os Modos Gregos. Disponível em :


<http:https://www.descomplicandoamusica.com/modos-gregos/>. Acesso em 15 fev
2023.

FREITAS, Sérgio Paulo Ribeiro. Dos modos em seus mundos: usos do termo modal
na teoria musical. 2008. XVIII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e
Pós-Graduação (ANPPOM) - Salvador, 2008.

JAFFE, Andy. Jazz Harmony. Tübingen: Advance Music, 2a ed.,1996

MONRO, David Binning. The Modes of Ancient Greek Music. London: Oxford
University Press Warehouse, (ebook disponibilizado online em) 2012.

PIMENTEL E FERREIRA, Tales e Antenor. O conceito na música da Antiguidade


Clássica grega. São Paulo, 2017.

PISTON, Walter. Harmony . New York : W.W.Norton & Company, 5a ed.,1987.

RAYMUNDO, Sônia Marta Rodrigues. A influência do baião no repertório brasileiro


erudito para contrabaixo. São Paulo, 1999.

TINÉ, P. J. S. O Modalismo em alguns compositores da música popular... Per Musi,


Belo Horizonte, n.29, 2014, p.110-116

Você também pode gostar